Uma Virada do Destino





Uma Virada do Destino

Hinge of Fate
Autora - Ramos
Tradução - Clau Snape
Beta reader - Bastetazazis
Disclaimer: Estes personagens são de propriedade de J.K. Rowling. Nenhum lucro foi obtido pelo seu uso.
Cap. 12



Sumário: A Corte

Março chegou frio e úmido como um cão mal educado. Em um calendário no seu quarto, Hermione marcou o número de semanas restantes antes dos feriados de Páscoa, quando embarcaria no expresso de Hogwarts no final do período letivo e iria para casa para uma visita de três semanas. Ela ainda tinha que escrever a seus pais sobre coisas mais sérias que as novidades da escola e as posições atuais das Casas, e eles ainda não tinham nenhuma idéia sobre o seu segredo. De algum modo ela pensou que eles poderiam não reparar se ela continuasse a disfarçar usando suas vestes largas da escola durante sua estadia em casa.

Neste ínterim, uma fonte constante de jornais trouxas começou a aparecer na mesa de Madame Pomfrey, entregues por uma variedade diversificada de corujas. Ela e Snape montaram um sistema para classificar as várias histórias, e juntos liam compenetradamente cada artigo de morte, destruição ou fenômenos simplesmente inexplicáveis, separando as histórias em três seções: Provavelmente relacionado à atividade dos Comensais da Morte, remotamente possível, e de jeito nenhum.

Algumas manchetes eram suficientes para fazer Hermione estourar de tanto rir. Ocasionalmente ela tinha que explicar o humor para Snape, mas para sua surpresa, o homem tinha uma compreensão notavelmente ampla da cultura trouxa. Em breve eles pegaram o hábito de ler em voz alta os boatos mais absurdos um para o outro e de fazer as suposições mais loucas e estranhas a respeito do porque, por exemplo, um homem crescido fora encontrado nú em uma cabine telefônica.

As tardes e noites ocasionais em que Hermione passava na companhia de Severo Snape permaneceram ligeiramente formais, mas a expectativa oculta remanescia nos pensamentos dos dois. Ele continuou a instruí-la nas poções mais avançadas e a envolveu nos projetos de pesquisa que ele desenvolvia no laboratório, enquanto continuava a dirigir-se a ela por seu primeiro nome. Após alguma prática, Hermione conseguiu de vez em quando chamá-lo de Severo sem esperar que ele retirasse pontos da sua Casa.

Seu tempo juntos continuou da mesma forma quando discutiam a atividade dos Comensais da Morte e o estado atual de negação que existia no nível mais elevado no Ministério da Magia. Eles comparavam o Profeta Diário com os vários jornais trouxas e encontravam pouca diferença em seus estilos jornalísticos. A única coisa que Hermione não esperava, entretanto, era que Severo Snape desenvolvesse uma nova obsessão.

- O que é isto? - ele perguntou numa noite de quinta-feira, quando ela tinha procurado o laboratório ao invés da biblioteca para trabalhar nos seus deveres em um lugar quieto.

Hermione olhou de relance para a grade de quadrados pretos e brancos. - São palavras cruzadas - ela lhe disse. - É um tipo de charada. - Apontou para a lista de pistas. - Resolva estas perguntas, e ponha as respostas nos quadrados. Todas as respostas devem se encaixar.

Severo fez um hum de não estar claro e começou a ler as pistas enumeradas. Um momento mais tarde, ele alcançou sua pena e começou a preencher a primeira fileira. Fez um rápido progresso, e quando ela verificou suas respostas, observou que ele tinha um sólido conhecimento da literatura trouxa. Sua memória para história parecia plena, e naturalmente seu domínio da língua e das ciências exatas era um dom. De qualquer modo…

- Por que, em nome de Merlin, eu quero saber quem foi o mordomo da princesa Diana? - perguntou em tons ácidos de descrença. - A mulher está morta, eu acho, e seus empregados deveriam procurar emprego, não ficar aparecendo em jornais.

Hermione explicou a controvérsia que cercava o antigo mordomo, que poderia ou não ter sido um ladrão, e que poderia ou não ser parte interessada nas informações potencialmente embaraçosas que estava disposto a usar como moeda de barganha.

Seu lábio superior ondulou enquanto escutava. - Certamente isso daria a alguém uma avaliação apropriada aos elfos-domésticos - ele falou lentamente. Hermione estreitou os olhos para ele numa irritação fingida, sabendo que ele estava provocando-a deliberadamente.

- Você quer saber a resposta ou não?

- Sim.

- Diga, por favor.

Ele pausou, pesando se valia ou não a pena. - Por favor - disse após um tempo considerável, com uma falta de sinceridade adocicada.

Ela lhe disse, e quando ele deu um pequeno grunhido, soube que as letras se encaixavam. Ela imaginou se aquilo era algo que poderia tolerar na mesa de café da manhã pelas décadas seguintes e decidiu que poderia ser pior. Um exame diário, aprofundado e detalhado das últimas partidas de Quadribol veio a ocupar sua mente.

Severo continuava fascinado com os enigmas das palavras cruzadas, mas geralmente, os dois precisavam combinar seus para resolver a coisa inteira. Era em momentos como este que ela pensava consigo mesma em considerar seriamente a proposta dele, quando a atmosfera entre eles era confortável, e o bebê em seu ventre chutava e se mexia satisfeito.

Por outro lado, entretanto, a mente lógica de Hermione dizia-lhe que a idéia de que o casamento resolveria todos os seus problemas era como uma bolha do sabão; bonita e insubstancial ao mesmo tempo. Hermione não acreditava em bolhas do sabão. Seu corpo, entretanto, insistia que havia uma terceira parte a considerar, quando a voz profunda dele acariciava seus nervos, agitando-a de maneiras que ela não poderia negar e fazendo-a consciente da presença dele todo o momento em que eles estavam no mesmo cômodo. Como agora, quando seu trabalho de casa fora esquecido, e ela parou ao lado dele, ajudando-o a decifrar os aspectos mais mundanos da cultura trouxa e gastando um tempo demasiadamente longo apenas o observando.

Inclinando um cotovelo na mesa de trabalho, a pena em seus dedos sujos de tinta, ele era a imagem da concentração. Um vinco fraco apareceu entre suas sobrancelhas, seus olhos que mal piscavam enquanto ele se estudava o texto. O único movimento que fez foi com seu lábio inferior quando foi perturbado por uma mecha solta de cabelo. Separada do resto, a ponta curvou-se apenas para tocar no lado de baixo da sua boca expressiva. Ele estava inteiramente focado no pergaminho diante dele, soprou-a sem pensar, mas a mecha voltou para descansar na mesma posição.

O lábio de Hermione comichou em simpatia, e sem pensar ela se esticou para afastar a mecha. Severo recuou imediatamente e ficou na retaguarda, com uma expressão vazia e desconfiada em seu rosto.

- Desculpe - ela conseguiu dizer, confusa com a reação dele. Sentiu-se um bocado tola com sua mão levantada e abaixou-a.

- Nenhum dano feito - ele respondeu com uma voz quieta e jogou seu cabelo para trás. A expressão desconfiada desvaneceu-se quando ele voltou à sua leitura, e Hermione continuou a observá-lo. Quando, ela se perguntou, foi a última vez que alguém levantara a mão para Severo Snape sem a intenção de causar-lhe nenhum dano? Ele tinha trinta e oito anos de idade, e jogava um jogo profundamente perigoso há mais de quinze anos.

- Você encontrou alguma coisa nos desastres de hoje?

- O desemprego está em baixa; o Primeiro Ministro e a minoria no parlamento estão cada um reivindicando por crédito - ele relatou em um tom seco.

- Honestamente. Entre o Ministro da Magia e os mais leais servos de Sua Majestade, é um milagre que o império britânico ainda esteja de pé. Só o céu sabe como seria ruim se eles trabalhassem sempre juntos.

- Eles tentaram uma vez - Snape disse ausente.

- Não! - Hermione exclamou. - Você está brincando!

- Foi chamada de Idade das Trevas por alguma razão - ele disse secamente -, seguida rapidamente pela Inquisição Espanhola e por um alvoroço de Obliviates.

- Eu não soube disso - ela refletiu. - O professor Binns deixa muita informação de fora nas suas aulas.

- O conhecimento não é tudo, Hermione.

- Eu pensei que conhecimento era poder - ela respondeu de forma atrevida, mas passou um longo momento antes que ele falasse outra vez.

- Uma vez eu pensei isso, mas é uma ilusão. Cognitio indifferns virtus malus.

- Aprender não é bom nem mau - Hermione traduziu hesitante.

- Bem próximo. Posto simplesmente, o conhecimento é somente conhecimento. O que importa é o que você faz com ele. - Ele pausou, olhando fixamente para seus papéis sem realmente vê-los. - Uma vez eu pensei que desejava poder. Respeito. O esplendor da erudição, na sua perfeição imaculada. Você deve saber o que eu quero dizer.

- Eu sei - Hermione admitiu. - E eu ainda quero aprender. Há tanto coisa que eu quero saber.

- Conhecimento por si só é meramente uma perseguição - ele advertiu. - Não o fim propriamente dito.

- Então o que deve ser? – ela perguntou. - Qual é o propósito de viver se você não aprender as coisas?

- Quem diz que há um?

Hermione deu-lhe um olhar longo, se perguntando se ele estava sendo derrotista ou se fazia o papel de advogado do diabo. O silêncio entre eles continuou, e ela percebeu que ele não tinha nenhuma intenção de fornecer uma resposta. Era, ela entendeu, uma daquelas perguntas filosóficas em que todos tinham que decidir por si próprios, e a resposta de cada um seria diferente.

Severo levantou uma sobrancelha quando ela olhou fixamente nele com um olhar pensativo, intensamente concentrado; o mesmo que ela fazia com uma nova receita de poção ou de um exercício de transfiguração.

Hermione fora frequentemente advertida por ser demasiadamente inteligente pela metade, seu intelecto a conduzia para situações onde o senso comum deveria tê-la advertido. Mas ela nunca foi capaz de resistir a um enigma desafiador, e Severo Snape era o homem mais surpreendentemente desafiador que ela já havia conhecido. O seu intelecto e destreza na magia que ela amava tanto o tornava interessante numa maneira que ela não poderia definir, enquanto seu senso de honra e disciplina eram indicações rígidas de um tipo original de coragem com a qual ela podia facilmente se identificar.

Com uma deliberação cuidadosa ela levantou a mão em direção ao rosto dele. Ele afastou-se um pouco, mas permaneceu firme enquanto ela tocava cautelosamente a sua bochecha, afastando as mechas do cabelo que obscureciam o lado do seu rosto. O polegar dela veio descansar na sua maçã do rosto enquanto os dedos deslizaram através da sua têmpora e em seu cabelo. O cabelo dele mostrou-se ser fino como o de uma criança pequena, escorregadiço com algum tratamento que parecia sedoso aos dedos dela.

Para sua surpresa, os olhos dele fecharam-se lentamente enquanto ele se inclinou ao carinho dela. Ocorreu a ela que, não importava que ele o escondesse tão profundamente, este era um homem carente por contato humano, por uma simples medida de compaixão e cuidado, que já não se sentia merecedor até mesmo de um pequeno toque físico.

A palma da mão dela deslizou sobre a borda fina do maxilar dele, e o espetar vago da barba emergente ficou registrado abaixo da pele lisa. Os olhos dele abriram-se outra vez, escuros e precavidos apesar do rosto cuidadosamente inexpressivo. Sabendo que ela tinha abusado da sorte quase quanto possível, agarrou-se ao o resto da sua coragem e roçou de leve seus dedos ao longo do lábio inferior dele, antes de retirar-se apressada do laboratório.

*****

O sinal da noite avisando a hora do jantar estava demorando atormentadoramente para bater enquanto Severo esperava Madame Pomfrey sair da ala hospitalar. Ele podia ter exagerado ao comparar a medibruxa com um guarda de Azkaban, mas não muito. Ela mantinha qualquer um em seu domínio sob um olho vigilante e desaprovava seriamente o hábito de Severo de escapar para galeria de quadros abandonada quando o confinamento nos seus aposentos se tornavam apenas isso: um confinamento.

Assim que o sinal tocou, entretanto, sua auto-designada guardiã saiu para a refeição e Severo foi imediatamente para as escadas abandonadas e subiu-as. Seus calçados fizeram pouco ruído até que alcançou a galeria, onde a penumbra fresca era geralmente tranqüilizadora quando ele andava de um lado para o outro. Sua insônia lendária tinha criado o hábito de vaguear por toda noite, para total pavor dos estudantes que ficavam fora da cama durante a noite. Agora, entretanto, estava confinado a estas partes não utilizadas do castelo e seu temperamento não tinha outro escape exceto retornar os olhares furiosos dos retratos enquanto andava por eles.

Os retratos, entretanto, estavam silenciosos, de uma maneira não característica, enquanto ele fazia seu caminho de uma extremidade à outra da longa sala, livrando-se da energia e do estado sério de nervos que Hermione Granger tinha deixado com um toque delicado.

A menina tinha desordenado totalmente sua vida. Talvez isso não fosse justo, contudo ele desejava de todo coração que nunca tivesse atendido ao divertimento do Malfoy. Mas se não tivesse feito isso, Hermione certamente estaria morta agora. Era também muito provável que Harry Potter e seu esquentado melhor amigo fossem atrás do Malfoy com a vingança em mente, e ambos seriam mortos imediatamente ou entregues à Voldemort com o mesmo resultado.

Em vez disso, ela carregava o seu filho. A única vez que ele sentira os movimentos do bebê fora a coisa mais surpreendente que ele já havia experimentado. A visão da forma ligeiramente arredondada dela, esboçada pelas surradas vestes azuis, que ele a fez substituir, o atravessara como uma lança. Mesmo agora, sabendo o que estava escondido sob a capa ou as vestes da escola, isso ocasionava nele um traço de possessividade.

Somente ocasionalmente ele recordou o cilício figurativo que deveria usar, e ultimamente vinha esquecendo-se dele completamente. Durante o tempo que trabalharam juntos no laboratório e especialmente na viagem ao Beco Diagonal, ele tinha descoberto que Hermione Granger era uma companhia decente. Ela não tinha se queixado nem amuado, mesmo que ele a tivesse apressado para dentro e para fora das lojas de uma maneira que a maioria de homens teria dificuldade para lidar. Ela seguira a passos largos, entretanto, e se irritou somente com a quantidade de dinheiro que ele estava gastando. E foi apenas quando ele viu o prazer dela na pequena aventura que lhe ofereceu, que ele percebeu que Hermione Granger tinha o sorriso mais encantador que ele jamais tinha visto.

Quando Hermione desmaiou, ele quase ficou louco e furioso consigo mesmo. Ele sabia que se ela persistisse com a determinação de seguir sozinha, ela continuaria a negligenciar suas próprias necessidades. Naturalmente, ela tomaria conta do bebê de maneira excelente, enquanto suas reservas estariam cada vez mais escassas porque ela se esforçaria para cuidar da criança enquanto adiaria sua instrução. Isto era algo que ele poderia, e iria, impedir.

Irritado com a luz que se desvanecia, mesmo que a galeria fosse uma das últimas partes do castelo a escurecer com o pôr do sol do inverno, retirou sua varinha e murmurou: - Lumus. - As velas nos suportes incrustados saltaram à vida, e ele ficou momentaneamente confuso ao ver o retrato vazio na parede ao lado dele.

Olhando de relance ao seu redor, viu que quase todos os retratos estavam vazios. Na extremidade distante da galeria, uma pintura maior, recentemente colocada, chamou sua atenção. Nela, um café francês mal reproduzido estava aglomerado pelos ocupantes dos retratos, atendidos por um garçom francês esnobe que aparecia quase mal-humorado para seus clientes.

Aproximando-se da moldura abarrotada com cuidado, os ocupantes levantaram suas xícaras de café ou taças de vinho, ou mal assentiram ao seu reconhecimento.

- Qual é o propósito disto? - Severo exigiu em sua melhor voz usada após o toque de recolher.

- E o que você tem a ver com isso? - zombou um cavalheiro com uma cara larga num colarinho Van Dyke. - Se você pensa que vai remover este café, você está extremamente enganado. Muitos de nós não tivemos nada mais para nos divertir a não ser nos falarmos por anos, a menos que você conte a si mesmo, o que eu não.

- De onde vocês vêm? - Severo pressionou. - Quem o trouxe aqui? - Se alguém tivesse interesse na galeria, ela já não seria seu refúgio dos cuidados autoritários de Madame Pomfrey.

- A jovem senhora que esteve aqui duas semanas atrás - forneceu um dos outros cavalheiros, que parecia a meio caminho de uma garrafa de vinho tinto comum. - Ela trouxe este lugar, uma vez que os outros retratos do andar de abaixo já não freqüentavam aquele Sapo com seus modos detestáveis. - O cavalheiro assoou seu nariz com cuidado e limpou o resultado na toalha de mesa de linho. - Malditos franceses, mas o que você pode fazer? - ele perguntou a ninguém em particular.

- A jovem senhora - Severo deduziu -, aquela com todo aquele cabelo?

- Essa mesma - disse um terceiro cavalheiro que usava um monóculo de ouro, parecendo um pouco mais novo que os outros. - Não me incomodaria de ter um quadro dela aqui em cima - disse com um olhar malicioso.

- Ela não está disponível.

- É o que os ventos de lá dizem - disse o primeiro personagem do quadro. - Deveria saber que uma moça tão pensativa tinha um namorado. É você não?

- Estou trabalhando nisso - Severo disse de forma opressiva.

- Ah, um sedutor - disse o malicioso. - Como está indo, então?

- Nada que seja do seu maldito interesse - informou-o. Severo tinha realmente considerado, e rejeitado, a idéia de tentar seduzir Hermione. Enquanto ele não tivesse quase certeza que ela não o achava repulsivo, ele não iria nem mesmo considerar a possibilidade de um casamento verdadeiro, carnal.

- Realmente, Boris, isso não se faz - falou um dos senhores mais velhos. - Ela é uma menina agradável, e veja como ela embelezou nossa galeria. Os elfos domésticos levaram dois dias para fazer isto. - Ele gesticulou para a galeria, e Severo virou-se para ver que o lugar tinha, certamente, sido limpo. A poeira no assoalho se fora, os pisos quadrados de mármore foram esfregados e os festões de teias de aranhas removidos.

Imediatamente, ele soube que ela não tinha feito aquilo inteiramente para os homens nos quadros, mas também para ele. O lugar era seu refúgio, e ela pedira aos elfos que o limpassem para ele, sabendo da sua aversão à poeira e à desordem.

- Você não é um bocado velho para ela? - questionou o homem com o monóculo.

- Absurdo - protestou o mais velho outra vez. – Ele está na flor da idade. Além disso, no meu tempo, nenhum homem considerava o casamento até que fizesse sua fortuna. Simplesmente não daria certo um homem novo se casar sem poder sustentar uma esposa. Suas finanças estão em ordem, senhor? – ele questionou Severo.

Irado, Severo deu ao homem um olhar furioso e ofereceu ao grupo um seco boa noite antes de girar em seu calcanhar. Não estava a ponto de discutir suas finanças ou a adequação de seu casamento com um grupo avermelhado do quadro.

******

- Lumus. - As velas nos suportes ramificados saltaram a vida em obediência à voz profunda de Snape, e Hermione tentou não recuar. A luz do sol fraco de inverno que chegava através das janelas tinha morrido enquanto ela lutava com suas redações dos deveres de casa, e o quarto tinha escurecido sem ela perceber.

A mesa de trabalho diante dela estava desarrumada com notas das últimas seis aulas de história da magia, mas ela estava tendo dificuldade em escrever uma redação com os fatos secos que Binns falara monotonamente dia após dia. Por três horas ela esteve comparando suas anotações e seus livros, tentando esboçar um artigo de comprimento razoável e tinha um rascunho não maior que suas mãos para apresentar. Na outra mesa, Severo estava absorvido rapidamente em suas próprias notas, e ela estava grata que o homem não estava inclinado a falar com ela hoje; ela realmente não achava que ela estava preparada para de qualquer argumentação verbal.

O chacoalhar fraco da pena de Severo em seu tinteiro não registrou quando Hermione releu uma passagem pela terceira vez. Friccionar suas têmporas não a ajudou, e ela puxou um suspiro mal-humorado e voltou-se mais uma vez à página impressa.

- Hermione!

- O quê?- ela resmungou, sem olhar para cima.

- Eu perguntei se teria mais alguma tinta? - Severo repetiu.

- Madame Pomfrey deve ter alguma em seu escritório, mas você não pode ir lá agora. Um sonserino bateu em um lufa-lufa na partida de Quadribol hoje e seu apanhador teve uma bela colisão na cabeça. Madame Pomfrey está examinando-o.

- Ah. Papoula me deve algum dinheiro, então - ele disse com uma expressão satisfeita.

- Eu tenho um frasco reserva na minha mochila, - Hermione ofereceu monotonamente, acenando para a mochila na extremidade da mesa. Não fez nenhum movimento de pegá-la para ele.

Severo deu um olhar suspeito para a mochila, então abriu-a cuidadosamente. Dentro estavam diversos livros, um rolo de pergaminho limpo, diversos blocos de papel dobrado com vários rabiscos coloridos de tinta, uma escova de cabelos, e uma variedade de bugigangas cuja finalidade ele não estava inteiramente certo. Procurando através de tudo aquilo, ele finalmente encontrou um frasco da tinta.

Fechou a mochila com um senso de alívio por ter escapado ileso, então olhou com desdém para a mochila saliente em sua totalidade. A alça gasta estava levemente pendurada sobre um lado, e ele levantou-a, suspendendo-a para avaliar o peso.

- Mas que coisa, Hermione! Esta mochila deve pesar uma tonelada ou mais!

- Sim. E daí? - ela queixou-se.

- Você já ganhou peso adicional com o bebê. Não pode ser bom para você carregar isto tudo também!

- Muito obrigada por me lembrar do quanto eu estou ficando gorda - ela rebateu.

- Eu não estou preocupado se você está ficando gorda. Eu estou preocupado com a sua saúde! - ele revidou de volta.

- Por favor, não grite comigo - ela sussurrou. Sentindo-se infeliz de repente, os olhos de Hermione encheram-se de lágrimas, e ela controlou a agitação no seu lábio inferior com dificuldade. - Eu estou cansada e minhas costas doem. Eu me sinto terrível, já não agüento mais o Malfoy, e o Binns, e-e-e…- Ela se controlou para calar o murmúrio gaguejante que irrompeu tão inesperadamente e fechou os olhos firmemente. Raios! Hormônios! Eu pensei que TPM era ruim - ela pensou consigo mesma enquanto enterrava o rosto nos braços e lutava contra as lágrimas que queriam escapar.

Hermione assustou-se ligeiramente quando duas mãos assentaram delicadamente em seus ombros, massageando-os levemente e relaxando-a. Os polegares dele encontraram um ponto em suas escápulas e ele pressionou, produzindo um suspiro de prazer doloroso.

- Eu não estou surpreso que suas costas doem - Severo replicou com cuidado. Anos observando adolescentes no furor da química de seus corpos tinham-no ensinado à reconhecer os sinais, embora raramente lhe concedesse algum auxílio. Hermione era um caso completamente diferente, entretanto.

- Relaxe - ele lhe disse, e realmente ela estava sem ação para fazer de outra maneira quando, surpreendentemente, as mãos fortes dele começaram a procurar os nós e as torções em seus ombros. Depois de um pequeno intervalo ele parou, mas o banquinho dele rangeu no assoalho quando ele se postou rapidamente atrás dela e recomeçou sua massagem.

- Retire isto - ele ordenou, e Hermione se desvencilhou das vestes volumosas da escola que protegiam seu abdômen de alguma vista ocasional. Abaixo delas, ela usava a bata de gestante preta que ele tinha comprado para ela no Beco Diagonal, e o calor das mãos dele foi absorvido através do fino material. Mais uma vez ele lhe disse para relaxar, e ela obedeceu sem perceber, pensando que certamente se houvesse um homem com sangue de Sereia em algum lugar, este seria Severo Snape. Sua voz profunda acariciava suas terminações nervosas assim como suas mãos, que trabalhavam cooperativamente em direção à sua coluna.

As palmas das mãos dele estenderam-se sobre suas costas pequenas, os polegares escavando os músculos e forçando suspiros inarticulados dela em intervalos regulares. Ele pausou ligeiramente quando alcançou a cintura dela.

- Ciática? - ele questionou suavemente.

Quando ela assentiu, os dedos dele começaram a fazer círculos rígidos na superfície plana das suas costas, aliviando os músculos sobre a região sacra e evitando cuidadosamente o inchaço nos quadris. Suas costas arquearam enquanto os nervos queimavam, mas ele não parou a massagem.

- Incline-se para trás - ele a persuadiu. Quando os ombros dela se recostaram contra o seu peito, ele avançou para acomodar os quadris dela com suas coxas, depois pensou se talvez aquilo fosse algo realmente sábio a se fazer. O som dos pequenos choramingos e gemidos dela faziam coisas extraordinárias nele, e o corpo dela caindo molinho contra o dele, totalmente relaxado como somente um mal necessário e uma massagem bem feita poderiam fazer a uma pessoa.

Hermione não conseguia se lembrar de quando tinha fechado os olhos, mas suas costas estavam mornas enquanto descansavam contra o peito dele. As mãos dele, que pareciam tão pouco notáveis quando paradas, eram as mãos de um escultor quando trabalhavam em seu pescoço e ombros, segurando a parte superior dos seus braços em contrações rítmicas para fazer seus músculos aliviarem a tensão. Ele encontrou o tendão no ponto de cada cotovelo, trabalhando com afinco até que seus dedos pequenos se contraíssem. Seus antebraços, desnudos sob o toque dele, foram pressionados e acariciados em ordem quando ele progrediu descendo para seus braços, pulsos e mãos. Os dedos dele prenderam eventualmente às suas palmas, friccionando cada osso e junta, até que Hermione pensou que ela derreteria como um pudim no assoalho.

Suas mãos frouxas foram deixadas soltas ao seu lado, e por um momento Hermione pensou que ele a deixaria. Provou-se que isto era falso, entretanto, quando as mãos dele fixaram-se na sua cintura, afagando-a delicadamente com uma leve, porém firme, pressão nas palmas dele, relaxando a pele tensa e esticada com o calor das mãos. Pontapés minúsculos e enérgicos irromperam quando ele fez pequenos círculos sobre sua barriga.

- Você pode sentir isso? - ela murmurou.

- Por "isso", eu suponho que você esteja falando do bebê. Não, eu não posso. - Suas mãos repousaram sobre umbigo dela, mas embora os pequenos movimentos continuassem, ele balançou a cabeça.

Hermione pensou no encanto sensitivo que ela lançara na mão dele anteriormente, mas na verdade, ela detestaria ter que se mover em busca da sua varinha. Sua cabeça tinha caído para trás para descansar no ombro dele, e o cheiro do corpo dele cercou-a com o perfume sutil de homem combinado com o aroma levemente picante de vários ingredientes de poções. Os braços dele a prendiam num santuário seguro e protegido, e uma parte dela queria remanescer neles para sempre.

- Você deve tomar cuidado consigo mesma - ele disse brandamente. - Sua saúde é a coisa a mais importante.

Sua garganta doeu de repente, numa explosão de ansiedades não identificadas. Não era a primeira vez que ela era inundada subitamente por emoções fora do seu controle, mas estar agarrada durante um acesso foi tanto melhor quanto pior. Era irônico que estar presa tão firmemente nos braços dele liberaria de repente os medos que ela pensava estarem sob controle.

- Eu estou com medo - ela sussurrou.

- De quê? - A boca dele arranhou a curva da orelha dela enquanto falava, e um arrepio atravessou-a.

- De tudo - ela admitiu, mordendo o lábio. - Ter um bebê está no topo da lista agora.

- Não tema - ele lhe disse, deslocando seus braços até que ela ficasse embalada neles. - Eu farei tudo que estiver em meu poder para protegê-la.

- Porque você deveria se importar?

Eu me preocupo porque essa situação louca é inteiramente minha culpa - ele disse firmemente. - Eu me preocupo, Hermione, que uma das mentes mais brilhantes da história de Hogwarts tenha que vender seu talento para sobreviver a uma situação em que não teve nenhuma culpa. Eu digo isso literalmente, é claro, apenas que você, sem dúvidas, será forçada a comprometer suas possibilidades surpreendentes. E eu me importo desesperadamente que a mãe do meu filho seja forçada a lutar quando eu posso impedir isso tão facilmente.

- E casar com você vai reparar tudo aquilo? – ela perguntou queixosamente.

- Nenhuma varinha mágica vai, Hermione. - Ela podia ouvir o sorriso na voz dele.

- Eu estou considerando isso. Eu não posso prometer nada mais que isso.

- Bom - ele murmurou.

Hermione ajustou-se ligeiramente até que cada polegada possível do seu corpo estivesse em contato com o dele. Sentiu-se segura, satisfeita e estimada e, por um momento, ela desejou, mais que qualquer coisa, que ele a beijasse. Ele não fez nenhum movimento para fazê-lo, entretanto, simplesmente apertou seus braços em torno dela enquanto ficaram sentados juntos, e só se afastaram relutantemente quando os sinos do jantar soaram algum tempo mais tarde.

*****

Dois dias depois, Hermione tomava seu café da manhã em seu lugar usual na mesa à frente de Rony e Harry. Ao lado dela, Gina estava conversando sobre nada em particular, enquanto os meninos discutiam a próxima aula. Hermione tinha mantido suas opiniões para ela mesma, mas os comentários que ela pensou eram geralmente sobre o que Severo teria feito. Mais e mais o homem dominava seus pensamentos e imaginação.

- Uau - exclamou Rony, chamando a atenção de Hermione de volta ao presente, a tempo de ver duas corujas carregando juntas um grande pacote. Para sua surpresa, elas desceram e aterrissaram na sua frente. Uma coruja levantou um pé com uma etiqueta presa, indicando que a entrega era para Hermione Granger. Pegando rapidamente uma pena e tinta, e assinou o papel. A coruja piou para seu companheiro e ambas levantaram vôo, deixando o pacote retorcido diante dela.

- Bem, vá em frente - Gina incitou-a. - Abra!

O papel grosso e branco e o laço foram rapidamente rasgados, deixando-a com uma mochila escolar de couro preto. Suave, mas de fabricação excepcionalmente fina, era grande o bastante para caber todos os seus livros e outros apetrechos da escola. A aba fechava com bonitos fechos de prata, e entre eles estavam iniciais de prata em um gracioso monograma. Seus dedos deixaram-se ficar sobre o “H G” por um momento, antes que Gina arrastasse a velha mochila de Hermione e começasse a lhe entregar seus pertences, um após outro.

Uma vez que todas as suas possessões foram transferidas para a mochila nova, Hermione fechou-a e acariciou-a afeiçoada. Não tinha uma serpente à vista, mas era óbvio quem a tinha mandado. Era um presente atencioso, apesar de não ser de todo romântico, mas então, novamente, eles concordaram que gestos românticos não eram necessários. Mas foi somente quando ela foi pegar a mochila do chão que descobriu o segredo.

- Mas como? – ela exclamou quando a mochila se moveu com uma facilidade surpreendente. Com uma mão, Hermione levantou a alça. A mochila se pendurou, com toda sua carga protuberante, mas não pesando mais quando cheia que quando estava vazia.

- É uma mochila auto levitante - ela disse aos amigos, maravilhada.

Quase qualquer um podia lançar um feitiço de levitação; era um dos primeiros feitiços ensinados. Entretanto, o encanto acabava rapidamente, especialmente com cargas mais pesadas. Para fazer uma mochila permanentemente encantada, o feitiço teria que ser introduzido em cada etapa da sua fabricação, e era terrivelmente caro.

- Hermione - Harry chamou, inclinando-se para ela sobre um cotovelo. - Isto caiu da embalagem. - Ele segurava um objeto pequeno embalado frouxamente em um pano preto. Ele obviamente já havia aberto e olhado. Um tanto apreensiva, ela abriu o pequeno quadrado de tecido e encontrou outro monograma. Desta vez, as letras de prata formavam um “H S.”

O metal frio aqueceu-se sob seus dedos, e Hermione rolou o pequeno broche e considerou a idéia de ser Hermione Snape. Embora não o tivesse visto por dois dias, podia recordar-se vividamente da sensação do peito dele atrás de seus ombros e a segurança afetuosa que tinha sentido ao estar presa nos braços dele.

Harry esticou-se através da mesa e deu um aperto em sua mão, seus brilhantes olhos verdes a olharam cheios de compreensão e empatia.

- O quê? - Rony interrompeu. - Então, de quem é, em todo o caso?

- É um presente - Harry lhe disse.

- Bem, eu imaginei que fosse. De quem? - ele perguntou.

Ela podia sentir o rubor crescer em suas bochechas, mas seu cérebro não parecia conseguir pescar uma resposta rápida o bastante para evitar as suposições de Rony.

- Não me diga que é de um namorado. Você tem um namorado? Uau! – ele exclamou enquanto Harry dava-lhe um tapa na parte de trás da cabeça.

- Eu tenho sim, - Hermione lhe disse, levantando-se. Puxou a encantadora e leve mochila para frente, escondendo qualquer revelação involuntária e deixou o salão.

- Idiota - sua irmã disse-lhe cruelmente enquanto se levantava para seguir a amiga.

Rony olhou para Harry, desconcertado. - Como ela não me disse?

- Porque - Harry lhe disse exasperado - você tem agido como um completo imbecil nos últimos meses. Ela não quis que você reagisse de forma inesperada. E não é exatamente assim, de qualquer forma.

- Eu? - Rony protestou. - Reagir de forma inesperada?

- Você, seu grande estúpido arrogante. Eu pensei que você fosse tentar resolver as coisas com a Hermione.

- Bom…- Rony começou. - Eu tentei, mas ela tem me evitado ultimamente.

- Ela não está evitando você, Rony. Ela tem algumas coisas a tratar, e você não está ajudando.

- Desculpe. - Rony caiu em seu assento, escolhendo indiferente as sobras do seu café da manhã. - Eu realmente sinto falta dela, você sabe?

- Eu sei - Harry disse compreensivamente. Olhou de relance ao redor, então inclinou-se ligeiramente mais perto e abaixou sua voz de modo a não ser ouvido. - Olhe, se eu lhe disser algo, você vai ficar de boca fechada?

Rony assentiu.

- Eu tinha uma queda pela Hermione - Harry confessou.

- Você jamais! Quando?

- Alguns meses depois que vocês ficaram juntos. Não durou por muito tempo, mas enquanto durou, eu tive todo o tipo de fantasias estúpidas sobre como impressioná-la e fazê-la me escolher no seu lugar. Eu me recuperei, entretanto, porque eu percebi uma coisa, Rony, eu jamais vou querer fazer a Hermione escolher.

- Escolher o que? - Rony perguntou, inocente.

- Olhe - Harry elaborou -, o que aconteceria se Hermione saísse com alguém você não gostasse. Digo, alguém como Marcos Flint.

Ron fez uma careta. - Ela jamais namoraria alguém com dentes tão ruins. Os pais dela são dentistas, lembra-se?

- Eu estou falando sério aqui! Você quer realmente que a Hermione tenha que escolher entre nós e alguma outra pessoa? Mesmo que você aprove com quem ela está saindo ou não, você quer realmente ter a possibilidade de perdê-la para sempre?

- Não - Rony respondeu, entendendo de repente o que Harry queria dizer. - Não, eu não quero.

- Lembre-se disso, então.

Harry alcançou seus livros sob a mesa e os recolheu, mas Rony pôs uma mão para pará-lo. - Algo está acontecendo, não é? Porque você não me conta?

- Não é minha obrigação. É da Hermione, e se ela não vai lhe contar se pensar que você vai agir como um bundão sobre isto.

- Ok - Rony resmungou não convencido, mas pegando seus próprios livros no chão. - Não serei mais um bundão, então.

- Nós veremos - Harry disse opressivamente, colocando seus óculos. - Vamos, chegaremos atrasados para a aula.

*******

Severo espiou pelas janelas do seu laboratório e observou os últimos estudantes que se apressavam para as aulas da tarde. Hermione estava atrasada, o que era bastante incomum. O som do cumprimento sem fôlego dela à Madame Pomfrey, portanto, causou-lhe uma sensação de alívio. Sua expressão permaneceu imutável, entretanto, quando ela entrou no laboratório e murmurou uma desculpa pelo atraso.

Hermione permaneceu um tanto quieta enquanto a tarde passou, e a preocupação de Severo continuou a crescer. Ela estava trabalhando em algum tipo de composto, e após um instante ele se deixou levar para investigar. Uma pilha de musgo irlandês e uma caixa de violetas doces frescas descansavam ao lado do pilão, junto com alguns cravos de defunto e camomila. Ele prestou atenção enquanto ela adicionava diversos blocos de glicerina e começava a moer toda a bagunça junto.

- Reação Alérgica? - ele arriscou.

- Não - ela disse. - Minha pele está coçando loucamente. - Seguindo o poder da sugestão, ela parou para coçar sua barriga em expansão.

- Estou vendo - ele comentou, ainda se perguntando sobre o atraso não característico dela e a falta de conversação. - Alguma coisa errada? - ele finalmente perguntou.

- Não, nada - ela respondeu, martelando com seu almofariz.

Os olhos de Severo estreitaram-se; agora ele estava certo que acontecera alguma coisa. Ele segurou uma mão e parou sua mistura energética.

- Conte-me - ele a persuadiu.

- Não há nada errado. Estou feliz como uma cotovia - ela insistiu.

- É um fato sabido que as cotovias são patologicamente deprimidas, com uma elevada taxa de suicídio - ele falou lentamente.

Hermione olhou para ele indignada. - Você acabou de fazer uma piada?

O rosto dele permaneceu sereno, mas ela virou os olhos exasperada. - Está bem, você ganhou. - Enfiou a mão em seu bolso e mostrou a carta que enfiou nas mãos dele.

- À Srta. Hermione Granger, estudante de Hogwarts… - Severo começou, então leu o resto em silêncio até que chegou ao fim. - Sinceramente, Steven G. Monahan, decano dos estudantes, Universidade de Salem, Massachusetts. - Dobrou a carta e colocou-a na mesa ao lado das coisas dela. - Parece ser uma oferta muito generosa.

- É - Hermione concordou, mordendo seu lábio. - Mas eu teria que viver numa república de estudantes, pelo menos no primeiro ano, e a bolsa de estudos não cobre todos os livros e o custo de vida também. Sem mencionar o que eu faria com o bebê.

- Quanto mais você precisa? - Severo perguntou opressivamente.

- Isso não vai acontecer - Hermione irrompeu. - Esqueça.

- Por quê?

- Apenas não é prático. Além das despesas financeiras, eu não vou sair da Inglaterra enquanto Voldemort estiver por perto. Para não mencionar o bebê - ela disse numa voz desanimada. - De que maneira eu conseguiria ir à escola e tomar conta de um bebê também?

Sem pensar, Severo pôs a mão sob o queixo dela e forçou-a levantar os olhos para ele. - De quanto você precisa?

- Eu não sei. Não importa, eu não vou. - Hermione reprimiu cruelmente a parte traidora dela que desejava que ele resolvesse todos os seus problemas. O aperto em seu queixo afrouxou, e a expressão rígida no rosto dele mudou.

- Case-se comigo, Hermione. Eu tomarei conta de você.

- Eu não sou um bichinho de estimação perdido, Severo.

- Hum. Eu sabia que ia lamentar em dizer isso dessa forma. Deu um longo suspiro e deixou sua mão cair do rosto dela. - Não sei como dizer o que eu quero sem ofendê-la.

- Você não está me ofendendo - ela lhe disse. - E eu me importo com o que você quer. - Um fraco rubor surgiu em suas bochechas, e ela pegou suas ferramentas outra vez, evitando o olhar dele. - De qualquer maneira, eu jamais partiria para a América sem falar antes com você. Você merece pelo menos isso.

- Mereço?

- Claro que sim - ela lhe disse. - Eu espero ver você no futuro muitas vezes.

- Eu estou contente de ouvir isto - ele murmurou, fazendo com que uma reação corresse por ela. Ela falou para seu corpo se comportar, certamente ele não teve a intenção de soar DAQUELE jeito.

- A oferta de ser minha aprendiz ainda está aberta, Hermione - ele continuou. - Se você mesma achar complicado se comprometer à carreira universitária, um aprendizado formal com um mestre reconhecido tem o mesmo, e em alguns casos até maior, peso que uma graduação universitária.

- Eu estou considerando isto também - ela lhe disse, concentrando-se em seu trabalho. Ela não viu o sorriso fraco que apareceu com seu comentário antes que ele retornasse às suas próprias tarefas.


*****

Um bilhete entregue por Madame Pomfrey chamou Severo ao escritório do Diretor na última semana antes dos feriados de Páscoa, e o toque de recolher daquela noite o encontrou uma vez mais lançando o encanto de encobrimento e andando furtivamente através dos salões até a escadaria em espiral. Dumbledore o convidou seriamente a sentar-se diante da lareira, onde um frasco de fino conhaque e duas doses estavam servidas. Como uma garrafa de conhaque do Diretor frequentemente durava uma década ou mais, Severo estabeleceu-se em uma das poltronas estofadas e deu total atenção ao seu superior.

- Eu tomei conhecimento por minhas fontes - começou Dumbledore -, que Voldemort ficou sabendo da sua aparição no Beco Diagonal e está querendo saber onde você está. Os boatos estão voando rápidos e abundantes fora dos nossos portões, tanto no Ministério quanto entre seus antigos companheiros, e Lúcio Malfoy está um tanto encrencado com os dois lados, dando satisfações para quaisquer boatos de que fora o responsável pelo seu desaparecimento. - Aquelas mesmas fontes haviam sussurrado em mais de uma orelha que Lúcio fora o responsável justamente por isso.

- Bom - Severo respondeu com um sorriso fino vicioso ao pensar que Malfoy responderia por sua ambição.

- O resultado disto, entretanto, é que agora ele colocou um preço substancial pela sua cabeça. Malfoy não está deixando pedra sobre pedra em sua busca.

- Hermione está em perigo?

- Eu ouso dizer que ele provavelmente esteja interessado nela, nem que seja apenas para descobrir aonde você foi. Se isto se transformar num problema, eu terei que removê-la da escola.

- Você terá dificuldade em convencê-la a deixar as tarefas escolares. Ou o Potter - adicionou como uma reflexão tardia, pelo menos não desprezando o nome do menino.

- Ela é uma jovem notavelmente sensível - Dumbledore disse. - Se nada mais for possível, a Casa dos Gritos poderia ser transformada num refúgio habitável. Talvez com um tutor pessoal para continuar sua educação, ela seria persuadida a ser razoável.

Severo não estava certo ele tinha ouvido o Diretor claramente e, refletindo, decidiu que o comentário sobre “um tutor pessoal” certamente não poderia ter sido um duplo sentido.

- Eu não estou preocupado sobre a segurança da Srta. Granger neste momento, entretanto. Até agora, Hogwarts permanece inviolável, apesar das tentativas do jovem Sr. Malfoy. - O velho bruxo inclinou-se para frente e serviu-se de um copo do conhaque âmbar escuro. - Alguma coisa, entretanto, mudou as coisas. Parvati Patil fez uma profecia outro dia.

- Que Merlin nos livre - Severo refreou.

- A menina tem o dom, Severo. Eu mesmo a avaliei mais de uma vez. Ela passou por mim no corredor segunda-feira e de repente deixou cair todas suas coisas. Eu pensei que estava tendo um ataque epilético antes que começasse a profetizar.

Severo balançou em seu conhaque fortemente e se ajeitou em sua cadeira. - Bem. Deixe-me ouvir isto - ele disse.

O Diretor não respondeu imediatamente. Em vez disso, seu olhar deslizou até seu mascote, que estava acomodado limpando sua plumagem vermelha e dourada, derramando centelhas no tapete. Fawkes contemplou seu mestre, e o bruxo e o pássaro pareceram assentir um para o outro. Ele respirou e começou:

- No dia que o Lorde das Trevas trair seu servo mais leal, a era da Fênix terminará.
Suas penas se queimarão sem renascer.
A espada da Grifinória quebrará.
O sangue de Harry Potter se derramará na terra.
E os Comensais da Morte assaltarão o mundo.

Severo abriu sua boca em uma arfada silenciosa, mas as palavras estavam além dele; até mesmo respirar parecia além dele.

- Eu sou a fênix, presumivelmente - Dumbledore continuou calmamente.

Severo forçou uma única palavra. - Quando?

- Logo. Para o final deste ano, certamente, mas mais provavelmente irá realizar-se antes do início do ano escolar em setembro.

- Merda - Severo disse sucintamente. - Eu não posso permanecer escondido tanto tempo, Alvo. Há tantas outras coisas que eu poderia fazer pela Ordem.

Dumbledore sorriu amorosamente, porém um bocado triste. - Eu admito que ia tocar neste assunto, mas sei que você tem outras coisas em mente. - Snape sentiu uma fraca decepção de que Dumbledore sabia do pouco do progresso estava fazendo para convencer Hermione Granger a se casar com ele.

Dumbledore alcançou seu bolso e começou a procurar por seu conteúdo. – Ah, - Declarou num triunfo calmo. - Eu tenho algo para você, Severo. Meu legado para você.

Como reflexo, Severo estendeu sua mão e aceitou a oferta, a seguir olhou-o em descrença. - É um cravo.

- Um cravo de ferradura - Dumbledore corrigiu animadamente. - É de um verso trouxa. Por querer um cravo, a ferradura foi perdida; por querer uma ferradura, o cavalo foi perdido.

- E então o cavaleiro, a mensagem, a guerra, sim, sim, eu o conheço. E qual é o motivo disso?

- Eu costumava carregá-lo em meu bolso para dar boa sorte quando comecei esta louca tarefa de me opor a Voldemort. Você verá que ele pode ser muito útil - ele assegurou à Severo, notando a expressão cética do homem. - Vai lhe dar alguma coisa para se ocupar quando você estiver pensando, e fará um bom trabalho limpando suas unhas. George Weasley até me mostrou como abrir uma fechadura com ele outro dia. Ou foi o Fred? – pensou, a seguir deu de ombros. - Não importa.

O Diretor olhou sobre seus óculos para seu velho amigo. - Guarde-o, Severo. Lembre-se que as pequenas coisas são, às vezes, tão importantes, se não forem mais, quanto às coisas grandes.Você nunca saberá em qual ponto seu destino vai virar, mas vai descobrir que, se você prestar atenção aos pequenos problemas, os maiores serão muito mais fáceis do que você pensa.

*****

A última sexta-feira antes do intervalo da Páscoa veio rápida demais para o conforto de Hermione. Os outros estudantes estavam todos zunindo aqui e ali com negócios de última hora antes de saírem para os feriados da Páscoa, e era com um sentimento de alívio que Hermione fez seu caminho até o pequeno laboratório e a ilha de tranqüilidade que ele representava. Entretanto, quando entrou no pequeno laboratório para terminar as poções de última hora para Madame Pomfrey, ficou chocada em ver que os projetos que estavam em andamento na mesa de trabalho de Snape foram todos cancelados. Nada cozinhando em nenhum dos pequenos caldeirões. Tudo polido, vazio, e empilhado ordenadamente nas prateleiras.

- Ah! - veio a voz profundamente familiar por trás dela, e ela girou para ver Snape em pé dentro da parede encantada. - Eu tinha esperança de vê-la antes de você partir.

- O que está acontecendo? - Hermione perguntou, confusa. - Todas as suas experiências, sua pesquisa… estão arruinadas!

- Realmente, Hermione - ele censurou-a delicadamente. - Você sabe assim como eu que tudo isto que eu fiz era nada mais que um exercício num estalar de dedos. Que me impediu de ser pisado por Alvo enquanto fiquei escondido.

Ela olhou fixamente nele, não querendo acreditar no que sabia ser verdade. - Você está partindo, não está?

- Sim. Há outras atividades que requerem meus talentos exclusivos, e está na hora de eu começá-las.

A ironia em sua voz a advertiu. - Espionar, você quer dizer.

- De certa forma, sim. Preparações a serem feitas, e outras coisas que eu não posso falar agora.

Uma contração repentina na garganta dela fez sua voz soar estranha a seus próprios ouvidos. - Quando? Quando você vai?

- Logo. Uma semana ou um pouco mais, não mais que duas semanas. Eu terei partido antes de você retornar dos feriados. - Sua voz soou igualmente estranha, e seus dedos longos brincavam vagarosamente com os pequenos frascos na mesa de trabalho. - Falando nisso, você decidiu o que, ou como, contar para seus pais?

Entorpecida, Hermione pegou sua adorável mochila nova e retirou um punhado de pedaços de pergaminho. Cada um tinha diversas linhas escritas à mão e estava salpicado generosamente com manchas e cruzes. - Não exatamente. Nesse momento estou inclinado à abordagem "adivinhe" quando chegar em casa e tirar meu casaco.

Severo piscou para ela. - Eu não ouço um plano tão mal-concebido desde que Ethelred, o Despreparado, disse "Coma-os, homens. São somente duendes".

Hermione sorriu palidamente ao comentário. Parecia ter passado muito tempo desde a época em que ela não conseguia discernir a diferença entre sarcasmo e o tipo original de humor seco dele.

- Você terá cuidado? – ela perguntou, responsabilizando os hormônios pela sensação de aperto em sua garganta.

- Eu tentarei ter cuidado - ele disse uniformente.

- Isso não é bom o bastante - Hermione lhe disse, lutando contra as lágrimas. - Eu quero que você me prometa que vai ter cuidado. Eu quero que você me prometa que vai voltar. - Ela poderia exigir mais, mas de algum modo estava nos braços dele, seu rosto abafado contra o ombro dele quando ele a puxou para perto. As mãos grandes e mornas esfregaram suas costas de forma tranqüila, e a proximidade dele oprimia seus sentidos. O corpo magro e contínuo que acomodava suas próprias curvas, a batida profunda da voz dele acariciava seus ossos quando ele murmurava seu nome.

Somente a pressão fraca dos dedos dele sob seu queixo trouxe sua boca de encontro à dele, num beijo doce e prolongado, mais intenso que qualquer um dos breves toques que tinham compartilhado.

- Prometa-me que você fará o seu melhor para voltar - ela sussurrou, seus lábios roçando nos dele.

- Então, me dê um motivo para voltar - ele exigiu suavemente.

Sua respiração travou com um nó. Hermione sabia que aquilo era uma chantagem, na forma mais Sonserina, ele estava tirando vantagem do momento. Naquele exato momento, ela não se importou. Com um suspiro, ela inclinou-se no peito dele, fechando os olhos e saboreando o perfume masculino morno dele que a fazia lembrar do armazém com todas as possibilidades inerentes.

- Está certo - ela lhe disse. - Sim.

- Sim? - ele repetiu questionadoramente.

- Sim, eu me casarei com você - ela esclareceu, e o repentino, alegre aperto dos braços dela à sua volta a fizeram sorrir. Ela não tinha certeza de que estava tomando a melhor decisão, mas isso devia trazer alguma felicidade para ele, o que lhe parecia certo.

- Quando? Quanto mais cedo melhor.

- Quão cedo isso pode ser arranjado? - Hermione tentou recordar se os bruxos observavam a velha prática dos proclamas publicados antes do casamento. Ela sabia mais do que esperava que isso atrasaria a partida dele, mas ela preferia casar-se agora que esperar por muito mais tempo.

- Pode ser feito hoje à noite, se nós nos apressarmos, ou talvez amanhã seja melhor. Eu falarei com Dumbledore. Ele é um Grão-Bruxo, pode celebrar a cerimônia. - Severo puxou-a para trás e envolveu o rosto dela com a mão, alisando distraidamente uma mecha dispersa de cabelo em seu rosto. - Nós vamos precisar de um anel e duas testemunhas. A tradição é que sejam um homem e uma mulher. Eu vou pedir a Remo se ele pode ser o meu. Você pode convidar quem você quiser.

- Poderia ser Gina Weasley? – ela perguntou numa tentativa. - Ela já sabe sobre o bebê. Eu venho pensando que… está começando a ficar difícil de esconder - ela disse, pondo a mão sobre sua barriga crescente. - Eu achei que poderia tornar isso tudo de conhecimento público de uma vez.

Um sorriso leve transpareceu sobre os lábios dele. - Então você está se casando comigo apenas porque não quer inventar uma mentira convincente?

- Você sabe que eu não mentiria sobre algo tão importante.

- Sim, eu sei. Talvez você possa ser ensinada. - Sua boca relaxou numa expressão mais séria, e ele tomou as duas mãos dela nas dele. - Eu não posso dizer eu te amo, Hermione. Eu me importo demais com você, mas eu disse essas palavras antes e jamais foram sinceras, e eu não a ofenderia assim.

- Eu compreendo - ela disse lentamente, concentrando nas mãos longas e fortes que prendiam as dela. - É um começo, eu suponho, e eu posso dizer honestamente que eu prefiro estar com você que sozinha.

- Acho que tomarei isso como um elogio - ele disse secamente.

Com grande deliberação, Severo trouxe as mãos dela a boca e beijou cada uma, os lábios mornos e macios percorriam seus dedos antes dele se inclinar e beijá-la delicadamente na testa.
________________________________________

Nota do autor: Por via das dúvidas, caso alguém nunca tenha ouvido.

Por querer um cravo, a ferradura foi perdida.
Por querer uma ferradura, o cavalo foi perdido.
Por querer um cavalo, o cavaleiro foi perdido.
Por querer um cavaleiro, a mensagem foi perdida.
Por querer a mensagem, a batalha foi perdida.
Por querer a batalha, a guerra foi perdida.
Por querer a guerra, o país foi perdido.
Tudo por querer uma unha.


N/T – Bem, mais um capítulo com excesso de fofura. Mais uma vez obrigada à minha beta, BastetAzazis que essa semana fez niver. Bjs linda, e a todos que vem acompanhando e deixando reviews, o meu muito obrigado. Clau

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