Uma Virada do Destino



Uma Virada do Destino
Hinge of Fate
Autora - Ramos
Tradução - Clau Snape
Beta reader - Bastetazazis
Disclaimer: Estes personagens são de propriedade de J.K. Rowling. Nenhum lucro foi obtido pelo seu uso.
Cap. 16

Noggy, a elfa-doméstica, deixou um almoço simples os esperando, para quando eles retornassem do passeio. Depois disso, Severo sugeriu que Hermione se deitasse para descansar, insistindo que sua saúde era mais importante que seus estudos.

- Isso soa suspeitamente como uma heresia, professor - ela respondeu atrevidamente. Tentando animá-lo, Hermione se encolheu na cama com o cobertor gasto sobre os ombros, esperando se levantar dentro de meia-hora e começar sua lição de casa. Acordou duas horas mais tarde, com os olhos ardendo, mas sentindo-se maravilhosa.

Desconfortável em espalhar seus trabalhos na escrivaninha de Dumbledore, ao invés disso Hermione se apropriou da mesa formal na pequena sala de jantar. Severo observou com algum divertimento como os livros e papéis dela obscureceram gradualmente toda a superfície. Com a intenção de deixá-la trabalhando sossegada, Severo vagou pelas prateleiras do escritório do Diretor e encontrou um texto antigo de alquimia. Acomodou-se numa poltrona que coincidentemente lhe possibilitava uma ampla visão através da porta larga para a sala de jantar e relaxou, folheando as páginas enquanto procurava por informações inesperadas ou interessantes, que complementassem seu próprio conhecimento. Uma ou duas vezes ele as leu em voz alta para Hermione, que, ao invés de ficar entediada, perguntava por mais detalhes antes de retornar aos seus próprios livros.

Observando Hermione enquanto ela cobria metodicamente as folhas de pergaminho com sua escrita redonda e eficiente, Severo se viu gastando mais tempo contemplando sua esposa que pesquisando no livro em seu colo. O cabelo dela fazia o possível para escapar do grampo na nuca, saltando livremente para moldar as maçãs do rosto com listras onduladas de mel escuro. Um franzir de concentração veio e partiu quando ela focalizou o trabalho diante dela, deslocando livros e murmurando sob sua respiração.

Que maravilha, ele pensou, que uma jovem tão notável estivesse disposta a se casar com um homem como ele. As poucas mulheres que ele alguma vez considerara tentar um relacionamento permanente eram razoavelmente inteligentes, mas ele não conseguia pensar em alguma que estivesse pelo menos remotamente interessada nas pequenas informações obscuras, mas fascinantes, que ele encontrara no velho livro. Assim como nenhuma delas teria força para sobreviver ao ataque que Hermione enfrentara no Halloween, ou a bravura para salvar eles dois.

Durante o passeio de volta à casa de campo de Dumbledore, Hermione e Severo continuaram a discutir sobre vários assuntos, tanto profundos como triviais. Quando ele perguntou, ela relatou os detalhes da sua fuga da casa de caça do Malfoy. Severo perdera a consciência antes de Hermione livrá-lo naquela noite, e não tinha nenhuma memória da fuga deles da propriedade de Malfoy. E embora ela não desse nenhuma grande importância ao fato de que ela salvara a vida dele junto com a dela, Severo com certeza se importava. De fato, ele começava a considerar tudo sobre Hermione como importante.

*****

Mais tarde naquela noite, quando Severo perguntou se ela estava pronta para dormir, Hermione foi inexplicavelmente submetida à timidez. Murmurando algo vagamente afirmativo, ela o precedeu até o quarto e fez o possível para continuar indiferente quando ele começou a se despir. Escovar os dentes foi uma boa desculpa para desaparecer no banheiro no exato momento, e Hermione anunciou suas intenções com suas costas voltadas para um Severo parcialmente nu. Ela não apareceu até que ouviu as molas da cama rangendo.

Quando saiu do banheiro, o quarto estava escuro exceto pelas velas nos dois lados da cama e o fraco fulgor vermelho da lareira. Severo se recostou nos travesseiros, um braço atrás da sua cabeça. Quando ele viu a longa camisola, sua expressou não vacilou nem um pouco.
Focalizou meramente a parede distante e esperou que ela chegasse à cama.

Ele está decepcionado - Hermione pensou. E mesmo que ele estivesse decepcionado, ela podia também sentir que ele não tinha nenhuma intenção de tocar no assunto. A idéia de que ele considerava os desejos dela antes dos dele próprio fez Hermione sentir-se curiosamente estimada.

Deitando-se sob as cobertas, ela se rolou um tanto embaraçosamente de lado e estudou o perfil dele. A luz dourada das velas amaciava suas características ásperas, embora acentuasse a protuberância em forma de diamante do nariz e do osso alto da face, e ela quis saber momentaneamente que linhas do rosto dele não apareceriam se ele não tivesse pegado à direção solitária e desastrosa que tomara.

- Que foi? - ele finalmente perguntou enquanto o olhar dela continuava fixo.

Hermione sorriu, divertida tanto pela irritação dele quanto pelo fato de que ela já não se intimidava mais com ele.

- Isto tudo é um tanto novo para mim - ela lhe disse. - Eu estou na cama com um homem pelado. - Ela tivera um vislumbre do quadril nu dele enquanto puxara as cobertas para cima. - Não posso dizer que isso aconteceu muitas vezes.

O canto da boca dele se contraiu.

- Como seu marido, eu devo aprovar. Não poderia deixá-la brincando com homens despidos.

- Você acreditaria que eu nunca tinha visto um homem nu antes? Muito menos fiz um tour completo em um?

- Jura? - ele murmurou, virando-se para ela, um lampejo sutil aparecendo em seus olhos de ébano. Antes que ela pudesse perguntar o que ele queria dizer com aquilo, ele inclinou-se mais perto e roçou beijos leves e provocantes no seu lábio inferior.

Assim que Hermione estava decidindo que gostava muito de ser beijada por aquele homem taciturno e encontrar a paixão escondida sob sua superfície vigorosa, ele rolou para o lado e deitou-se de costas uma vez mais. Com uma lenta deliberação ele empurrou os cobertores até seu tronco. Um hábil pontapé empurrou o resto dele.

Seu corpo estava inteiramente exposto, magro e quase tão pálido quanto os lençóis brancos nos quais ele descansava, com várias cicatrizes que marcavam seus braços e tórax. Os resquícios de um machucado cruel e profundo cruzavam sua bacia. Cruzando seus tornozelos casualmente, ele pôs um braço atrás de sua cabeça outra vez e deitou-se de costas, convidando-a a explorar.

Hermione engoliu a secura repentina em sua boca e respirou fundo. Observando o rosto em vez do longo corpo masculino esticado diante dela, ela pode apenas distinguir a tensão ligeira na pele em torno dos olhos e a imobilidade absoluta em que ele estava, não obstante a postura relaxada. Recordando a cautela da reação dele na primeira vez que ela tinha se esticado para tocá-lo, Hermione chegou à conclusão de que Severo estava testando a si mesmo, assim como ela.

A diferença entre ser pressionada e ser desafiada era uma distinção sutil, mas altamente importante, e uma coisa que Hermione sempre amou foi um desafio. Metódica como sempre, ela começou com as mãos dele.

Elas eram grandes e quadradas, com unhas bem aparadas e muitos calos. Alguém tão alto e magro como Severo deveria ter mãos parecidas com uma aranha, mas elas eram quadradas e sólidas, camuflando o controle e a sensibilidade delicada dos dedos longos. Ela não se demorou sobre a Marca Negra, que descansava como a sombra cinzenta de uma queimadura velha no centro do braço esquerdo, mas afagou a pele fina do lado interno do cotovelo e a textura das veias. Suas mãos correram sobre os braços e ombros dele, sentindo os músculos contraídos que tinham retornado após sua longa convalescença.

Movendo-se mais para perto da cabeceira da cama, Hermione seguiu as características aquilinas. O fogo escuro dos olhos desapareceu apenas nos momentos em que ele piscou, quando as pontas dos seus dedos deslizaram através das sobrancelhas pretas e do corte vertical entre a testa. Os lábios se abriram como se ele fosse dizer algo, e embora nenhum som tenha emergido, ela podia sentir a tensão nele, mudando da apreensão à expectativa.

Hermione continuou sua exploração para esta parte dele, beijando-o leve e repetidamente até que a boca se abriu sob a dela. Assim que ele lhe concedeu o acesso, ela aprofundou suas atenções o suficiente para descobrir uma lasca em um dos dentes. A sombra pesada da barba que crescia estava áspera sob seus dedos, e ainda mais áspera contra seus lábios quando ela beijou o caminho até a mandíbula e inspecionou o pomo de Adão e a pele lisa sobre o colarinho.

Ficando mais ousada, ela brincou com os pelos escassos do tórax como finos cachos de linha de seda. Ele fez um pequeno ruído quando suas mãos deslizaram sobre os mamilos, e outro quando ela provou um deles e o fez intumescer sob sua língua. Ele estava, ela também descobriu quando ele saltou ligeiramente, sensível sobre as costelas.

As mãos de Severo fecharam-se em punho quando ela seguiu o traço de pelos pretos abaixo do abdômen em direção ao umbigo. Hermione sorriu com o gemido dele quando passou pelo óbvio e moveu-se para pressionar um beijo delicado na cicatriz irregular em seu ilíaco. A viagem de descoberta continuou descendo pelas coxas longas e magras, e um pouco pelos ossos da tíbia e tornozelos afiados. Os pés eram exatamente como ela se recordava da cerimônia de casamento, embora não tivesse notado que ele tinha finos cabelos pretos no alto dos pés.

Ele estava desejoso e ereto quando ela finalmente se colocou entre as pernas. A primeira posição que ela tentou provou-se inábil com sua barriga de grávida no caminho, então ela se moveu até que pudesse pairar sobre ele em suas mãos e joelhos. Ela examinou a ereção, deliberadamente deixando que seu cabelo caísse sobre as coxas enquanto ela afagava a pele dele, intrigada pelas reações que induzia. Com dedos delicados, ela estudou o calor e as texturas aveludadas, observando que enquanto fazia isso, Severo fechara os olhos, o queixo não barbeado apontado para o teto enquanto ele mantinha um aperto firme nas bordas do colchão e no seu próprio autocontrole.

Hermione quis saber o que teria que fazer para que Severo perdesse a lendária compostura, e decidiu descobrir. Ela não compartilhara o quarto com Lilá Brown por seis anos sem aprender uma coisa ou duas, e fez alguns planos ainda enquanto se inclinava para frente.

Uma única arfada saiu quando sua boca desceu sobre ele, mas por outro lado Severo remanesceu quieto, embora as costas tivessem se arqueado para trás, seus calcanhares escavassem o colchão e os músculos marcados dos braços sobressaíssem conforme ela continuava. Extasiada pelo poder que detinha um ímpeto de excitação e poder passava por ela enquanto seu marido se retorcia sob seu toque. Ainda assim no calor do momento ela estava encantada pela rendição dele, apavorada pela confiança que ele mostrava ao se submeter a sua administração.

Apenas uma única coisa remanesceu, e sem respirar ela o incitou a entregar-se igualmente.

- Solte-se, Severo - ela implorou. - Permita-me.

Segundos mais tarde, sob seus redobrados esforços, as mãos dele deixaram os nós brancos dos dedos para segurarem seu cabelo enquanto ele estremecia e gozava com um grito.

Quando Severo pôde pensar claramente outra vez, ele levantou os olhos para o olhar convencido no rosto da sua esposa e riu abertamente pela primeira vez desde que começaram a conviver. Puxando-a para baixo em seu peito, ele envolveu seus longos braços em torno dela e beijou-a completamente.

- Faça alguma gracinha sobre ser monitora-chefe - ela o advertiu enquanto se colocava mais confortável dentro do círculo do braço dele e dobrava a cabeça sob o queixo dele.

- Não sonharia com isso - ele respondeu. - Assim como não vou perguntar onde você aprendeu essa habilidade particular.

Talento natural e uma pesquisa de segunda mão apenas - ela lhe disse maliciosamente. – Minhas fontes dizem que você deve engolir, mas é tão nojento.

- Hum... Se na verdade a Srta. Brown for apenas metade da sua reputação, você aprendeu com a melhor.

Hermione deu em seu peito um beijo indiferente.

- A reputação da Lilá é exagerada. Ela sempre amou o Simas Finnegan.

- Eu acreditarei na sua palavra. - Ele respirou fundo. - Obrigado. Isso foi maravilhoso.

- Disponha - ela murmurou, deslizando o braço através do seu tronco. Havia algo fascinante sobre a sensação da pele dele sob suas bochechas e os pêlos curtos e crespos sob sua palma. Quando seu polegar passou sobre um mamilo, seus dedos deslizaram na ligeira definição do músculo peitoral, a própria mão dele alisando o alto da dela, acalmando seu movimento.

- Hermione?

- Hum?

- Você conhece o conceito do libramentum?

Ela suspirou na pele dele.

- Uma poção que foi equilibrada, o meio ácido ou alcalino ajustados. Matéria do terceiro ano.

- Hum. E sobre o quid pro quo?

- Uma coisa pela outra - ela respondeu, os olhos ainda fechados, sentindo-se segura e apenas um pouco sonolenta.

- E sobre: O que é bom para mim é bom para você?

A sonolência desapareceu imediatamente quando os olhos de Hermione se abriram. Levantando o pescoço, ela pode sentir o calor nos olhos de Severo. O cabelo preto caía pendurado em tufos desordenados em torno do rosto, e ocorreu-lhe que estava tentando ficar ondulado. O composto que ele usava no cabelo deveria ser para mantê-lo sedoso ao invés de rebelar-se com o calor e a umidade de sala de aula.

Você é que é absolutamente insana, Hermione - ela disse para si mesma. O homem quer fazer AQUILO, e você está pensando em seu cabelo?

A expressão dele mudou, e quando ele abriu a boca ela tinha certeza que era para lhe dizer que estava tudo bem se ela não quisesse que ele retribuísse. Numa estocada, ela alcançou sua boca antes que um som saísse.

Apesar da posição passiva quando ela relaxou e permitiu que Severo fizesse o que tivesse vontade, Hermione sentiu-se muito mais envolvida neste ato de fazer amor do que estivera na noite anterior. No dia anterior, fora um ímpeto esmagador da paixão que os tinha arrastado ao longo da conclusão. Em contraste, hoje era uma parceria ativa; relaxando sob o toque dele, respondendo à boca e às mãos dele e comentários meio-sussurrados. Sentiu também um enorme espanto quando ela percebeu a própria inabilidade de permanecer em silêncio sob o violento ataque sensual.

Ela mal reconheceu sua própria voz enquanto arfava e implorava, gritando em êxtase enquanto ele a provocava e aprendia seus próprios segredos, uns que ela mesma nunca descobrira. Por fim ele afrouxou e moveu-se entre suas coxas, cobrindo seu corpo com o dele enquanto a penetrava uma vez mais. O último vestígio de sua modéstia desapareceu no rosto que queimava de desejo, as unhas enfiadas nos seus bíceps, os calcanhares enganchados em torno das suas panturrilhas quando ela o puxou para dentro de si.


*****

Embora a caminhada matutina tivesse se transformado rapidamente num hábito, Hermione e Severo a dispensaram alguns dias mais tarde e ao invés disso aparataram em Londres. A entrada traseira do Caldeirão Furado deixou-os entrar no Beco Diagonal e eles andaram casualmente através dos clientes matutinos assim como fizeram dois meses atrás.

Nervosamente lado a lado com Severo, Hermione manteve com cuidado seu casaco em torno do corpo com a capa por cima caso alguém de Hogwarts os visse juntos. A última coisa que eles precisavam era de boatos selvagens sobre sua gravidez girando em torno da escola quando as aulas recomeçassem. Planos cuidadosos foram traçados para essa revelação, e seriam inúteis se fosse revelada prematuramente.

Eles foram ao Gringotes sem ver ninguém, entretanto, e entraram nos domínios dos duendes sem incidentes. O duende mal-humorado atrás do balcão se apresentou à Hermione com o livro-caixa onde ela assinou como Hermione Snape pela primeira vez, usando uma tinta roxa que ficou verde na página. O duende então pegou a varinha dela e a pesou numa pequena balança dourada. No outro lado da balança havia somente um disco de cristal em vez da bacia de bronze padrão, mas sacudiu-se rapidamente para se equilibrar. Perscrutando a balança, o duende rabiscou embaixo alguma notação e então entregou de volta a varinha com um rude “bom dia” antes de se virar e dispensá-los inteiramente.

Despreocupadamente, Severo ofereceu-se para levar Hermione até seu cofre para verificar o balanço em sua conta; mas depois de um momento contemplando o passeio de virar o estômago, ela decidiu não aceitar. Ao invés disso, ela propôs esperarem até que a escola terminasse para que eles se preocupassem com dinheiro, o que Severo concordou com uma velocidade um tanto suspeita. Ele pediu para que ela o acompanhasse à pequena loja do alquimista onde tinha desmaiado durante a última visita deles. O alquimista de olhos aguçados se lembrou deles, perguntando sobre os experimentos que Severo discutira durante a primeira visita, e quando seu recente matrimônio fora revelado, tomou a liberdade de desejar-lhes felicidades.

Como se estivesse receoso que Hermione desmaiasse outra vez, Severo manteve uma mão sob seu cotovelo enquanto a transportava de volta ao Caldeirão Furado. Mesmo que ainda fosse cedo, conduziu Hermione a uma pequena mesa e anunciou sua intenção de pegar algo para ela comer. Atrás do balcão, Tom, o estalajadeiro desdentado, assentiu no movimento altivo de Severo para ser servido enquanto puxava uma cadeira para Hermione antes de sentar-se no lado oposto.

Começando a se irritar com a atitude protetora dele, Hermione retirou seu casaco e concordou com o chá e um lanche leve. Severo parecia um bocado distante, sem dúvida recordando-se da última vez em que estiveram no estabelecimento, e Hermione teve um sentimento da culpa por seu comportamento naquele dia. O comportamento severo dele era reforçado pela austera capa preta e o colarinho alto que ele costumava usar, lembrando-a da pior disposição do seu mestre de Poções.

Com algum temor, Hermione inclinou-se para frente e dirigiu-se a seu marido de três dias:

- Posso lhe fazer uma pergunta?

- Hermione - ele começou com suave aspereza -, nos quase sete anos que eu a conheço, nada perto de ser petrificada por um basilisco a impediu de fazer uma pergunta. Se nós vamos passar uma parcela significativa de nossas vidas na companhia um do outro, ganharíamos muito tempo se você simplesmente perguntasse.

A irritação suave que ela sentira antes cresceu na íntegra.

- Está bem - Hermione disse-lhe, em uma voz que soava como se estivesse pronta para uma briga. – Por que você é tão bastardo com seus alunos?

O canto da boca contraiu-se, apreciando sua sinceridade.

– Por diversas razões - ele respondeu francamente. – A primeira delas, eu detesto ensinar àqueles que não desejam aprender. É um desperdício do meu tempo e habilidade, embora, se você observar, os professores McGonagall e Flitwick são vastamente qualificados por suas posições também. Hogwarts é uma escola excelente, mas você nunca encontrará outra com professores tão hábeis e excepcionais.

Pausou quando um bule de chá e uma seleção de bolos e outros deleites sortidos chegaram. Quando os dois já tinham uma xícara de chá e um prato na frente deles, continuou:

- Segundo, eu tinha uma reputação a sustentar como Comensal da Morte no domínio de Dumbledore. Isso me permitiu manter uma posição sobre o largo contingente de alunos cujos pais eram prováveis seguidores de Voldemort. Favorecendo meus Sonserinos e sendo vil com os outros, eu apresentaria não somente um exemplo da pior forma de favoritismo que o resto deles poderia esperar quando fossem introduzidos à vida adulta, mas teria o benefício adicional de dar aos mais novos Comensais da Morte um choque desagradável quando eles se juntassem ao rebanho e percebessem que na verdade, era esperado que eles tivessem que se cuidar sozinhos.

- Você se diverte, não - Hermione acusou, embora seu divertimento fosse evidente. - Fazendo o papel de tirano, assustando os talentos dos seus alunos.

- Talvez - ele rodeou modestamente. - Aqueles poucos que tinham talentos. E use o passado, por favor. Meu sonho mais ardente é nunca mais pisar numa sala de aula de novo. Mas para a terceira razão, deixe-me fazer uma pergunta. Você percebe que Durmstang é a única outra escola bruxa que emprega um mestre de Poções?

Hermione balançou a cabeça.

- Beauxbatons e a Academia de Salem nas Américas, em média, têm dois alunos por ano escolar que são gravemente feridos nas aulas de Poções. Salem está considerando mudar seu currículo para deixar as poções mais avançados até que seus estudantes estejam mais velhos. Em minhas aulas, entretanto - ele continuou com orgulho sádico - os alunos que foram atemorizados por mim raramente tiveram a audácia de agir nas minhas aulas, e eles aprenderam bastante o que eu lhe ensinei.

Hermione deu um sorriso desdenhoso para a autoconfiança dele, recordando o que ela, Rony e Harry tinham aprontado.

- Se eu recordo corretamente - ele disse, em seu tom de barítono tornando-se afiado -, foi uma simples Poção para Aumentar o Tamanho que você sabotou. Diga-me, você tentaria tal coisa agora que você é mais velha, em poções mais elaboradas e perigosas?

- Deuses, Não. Se a poção não nos matasse, você o faria.

- Melhor eu do que a poção. Qualquer coisa que eu sempre fiz para aqueles pirralhos envolvia detenções e repreensões copiosas de sarcasmo. Mas deixe os pequenos monstros idiotas próximos de algumas das poções mais perigosas, e vidas poderiam ser perdidas.

Ele a considerou com uma expressão satisfeita, então estreitou seus olhos.

- Esta não é a pergunta que você iria fazer, é?

- Não, realmente - Hermione admitiu livremente. - Mas já que você está sendo tão terrivelmente honesto, eu não o deixarei escapar agora. Diga-me, por que você não gosta do Harry? Era por causa do pai dele?

- Não - Severo respondeu com um suspiro. - Embora eu desprezasse o pai dele, eu não desgosto do Harry Potter. Eu não confio nele. Há uma diferença.

- Não confia nele? Por que não?

- Quando eu tomei conhecimento de como os Dursley criaram o menino, acho que nunca fiquei mais preocupado em toda minha vida - Severo começou lentamente. - Um menino saindo de uma vida de repressão e de infelicidade para um mundo onde seria acarinhado e adorado por todos. Tiago Potter era excepcionalmente poderoso, e Lílian não devia ser subestimada - Severo continuou bruscamente. - A tentação para que Harry abusasse tanto do poder quanto da sua posição era uma consideração muito real.

- Harry jamais faria isso - Hermione protestou. - Ele odeia a publicidade e as pessoas que olham fixamente para sua cicatriz e tudo que vem com ela.

- Talvez - Severo continuou. - Mas… não seria a primeira vez que um aluno, excessivamente tolerado pelos professores que o consideravam brilhante, teria um mau fim porque se imaginou superior aos seus companheiros.

Com um estalo, Hermione compreendeu que Severo estava falando dele mesmo. Impulsivamente, ela se esticou e pegou na mão dele, apertando os dedos firmemente.

- Harry não é assim - ela lhe disse, falando tanto sobre seu melhor amigo e do homem diante dela. - É uma pessoa boa, honesta e honrada. A única coisa que Harry quer verdadeiramente é uma família. Você pode ver nos olhos dele, às vezes, especialmente quando está perto dos Weasley. Todos eles o amam como irmão.

- Com a possível exceção de Ginevra Weasley - ele observou num tom seco. - Não há nenhuma dúvida em que luz ela considera esse jovem.

- Então agora - Severo lhe disse, o humor restaurado em sua expressão. – Por que você não me diz o que você iria realmente perguntar?

- Eu ia perguntar se você percebeu que o Tom estava agindo um bocado estranho. Tem nos olhado fixamente do bar e sussurrado às pessoas desde que nós entramos. Provavelmente falando sobre a discussão inflamada que tivemos da última vez.

- Está fazendo apostas - Severo respondeu casualmente. - E não foi uma discussão. Eu duvido que se qualifique mesmo como uma briga. - Seus dedos apertaram, lembrando-a de que eles ainda estavam com as mãos dadas no alto da mesa de madeira surrada. - Uma coisa que eu sempre apreciei em você, Hermione, se não exatamente admirei, é que você dá o melhor de você. É algo que sem dúvida nenhuma veremos mais vezes, dado nossos respectivos temperamentos.

-Ele está apostando se nós vamos ou não discutir outra vez, não é? - ela perguntou, estranhamente encorajada pelo elogio e pelo insulto simultâneos.

- Muito provavelmente.

- Nós vamos? – ela perguntou, os olhos brilhando na tentação de fazer uma cena deliberada.

- Na verdade, eu estava pensando em quebrar a banca dele - Severo admitiu. - Imagine como as probabilidades inverteriam se, em vez disso, eu a beijasse.

Um calor expandiu-se pelo corpo de Hermione. Apesar da paixão que eles compartilharam na cama e o anel em seu dedo, Severo continuava a tratá-la de uma maneira civilizada e polida durante as horas do dia que passavam juntos, algo que ela achava especialmente frustrante às vezes. Não que ela mesma estivesse assim tão disposta.

- Eu não ligaria - Hermione lhe disse. – Na verdade, eu gostaria muito. Eu não tinha certeza se você se importaria com isso, realmente.

Severo observou os sugestivos tons de rosa que apareceram nas bochechas dela.

- Você está muito equivocada, Srta. Granger. Eu, certamente, me importo com isto. Realmente - enfatizou a última palavra muito pesadamente.

Perplexidade e excitação rivalizaram uma com outra quando Hermione compreendeu a visão tão incomum de Severo Snape flertando realmente com ela. Rony e Harry morreriam por isso, mas ela apagou seus amigos dos pensamentos enquanto um sorriso sensual crescia em seus lábios.

- Eu não sou mais Srta.Granger. Lembra-se?

- Eu tenho a tendência de me esquecer de uma porção de coisas, ultimamente - ele retornou lisamente. - Especialmente quando eu estou prestes a beijá-la.

Hermione podia sentir o rubor se intensificar em suas bochechas. Dez pontos para Sonserina, professor - ela pensou. E você poderia possivelmente dar uma aula sobre isso?

- Você terminou?

Ela assentiu, e quando ele levantou a mão, ela a aceitou e permitiu que ele a ajudasse a se levantar da cadeira. Ele não cedeu o aperto, mas puxou-a para mais perto.

- Pronta? - ele sussurrou, um divertimento diabólico persistindo na voz dele, os olhos cuidadosamente não caindo no aconchego dos bruxos e bruxas que disparavam olhares furtivos na direção deles.

Hermione assentiu outra vez, e levantou sua boca ligeiramente para encontrar-se com a dele.

O que ela esperava ser um beijo casual rapidamente se aprofundou, e seus olhos vagaram fechados na maré sensual da boca que movia-se sobre a dela. Morno e exigente, o beijo se intensificou até que, quando finalmente eles buscaram por ar, ela estava agarrada à capa dele, respirando irregularmente, e o próprio Severo parecia ligeiramente estupefato.

- Casa? - ele perguntou.

- Ah, eu acho que sim - Hermione concordou. Nenhum dos dois se incomodou em ver quem recebeu o pagamento no bar.

*****
Mais tarde, Severo teve o vigor de insistir que Hermione deveria permanecer na cama, já que ela precisava de todo descanso possível.

- Seu NIEMS serão exatamente sete semanas depois que você retornar à escola - ele a lembrou. - E eu tenho mais esperança de ser premiado com uma Ordem de Merlin do que ver você se cuidar melhor. - Sua repreensão austera poderia ter sido levada mais seriamente se ele estivesse usando mais roupas, entretanto.

Hermione sustentou-se nos travesseiros e dirigiu seu apetite à fruta cortada no prato que Severo trouxera para ela. Se Noggy achasse alguma coisa estranha sobre sua tarefa de levar o almoço deles no quarto, a elfa em questão jamais aparecera para protestar, e juntos eles começaram a diminuir seriamente a quantidade de comida roubada da cozinha.

- Eu tenho uma reputação a zelar - ela o lembrou, embora ele estivesse correto ao supor que o período final da escola seria exaustivo para alguém tão estudiosa quanto ela.

- Sua reputação mudará radicalmente assim que uma palavra sobre isto apareça - disse-lhe, afagando sua barriga nua reverentemente. O feto de seis meses em seu interior respondeu chutando energicamente, e ele pausou, um sorriso raro surgiu quando ele detectou o movimento ligeiro.

- Eu digo como a Monitora-Chefe. Eu absolutamente tenho que pontuar melhor que Draco Malfoy ou Pansy Parkinson. Ou qualquer outro - ela terminou com um olhar furioso.

- Você vai, tenho certeza. Especialmente Parkinson. O Sr. Malfoy pode realmente ter uma possibilidade de pontuar bem, mas certamente ele vai precisar estudar arduamente para conseguir notas perto das suas.

- Você vai me ajudar com meus deveres de casa? - Hermione perguntou, com um toque de descrédito.

- Você nunca provará isto - Severo advertiu-a, um sorriso subindo no canto da boca. - Não se preocupe. Suas notas foram na maioria as mais elevadas na história de Hogwarts. Você até ganhou de algumas minhas.

- E todo este tempo você tem agido como se eu fosse escória – ela disse com falsa severidade. - Eu espero que você aprecie o gosto da vitória, porque você certamente irá experimentá-lo agora.

A face de Severo caiu numa palidez inflexível. Quando isso acontecia freqüentemente, Hermione sabia que de algum modo se debatera nas profundidades despercebidas do relacionamento entre eles, pisando cegamente em algum pântano escondido propositalmente atrás de suas palavras inócuas.

- O que é isto? – ela perguntou delicadamente, tendo pouca esperança que ele realmente lhe dissesse. Para sua surpresa, ele pôs os restos de sua refeição para baixo e empurrou o prato para o lado.

- Você é uma nascida trouxa, Hermione, no entanto você é sem nenhuma dúvida a aluna mais brilhante que eu já tive. Você é tudo que Malfoy e sua alegre corja de assassinos declarados refutam. Isto me estarrece, às vezes.

- Então eu uma ameaça? – ela perguntou, com voz trêmula.

- Não, isso nunca. Pensar sobre o quão ameaçadora você é para eles. Apenas sua existência prova quão errada é a opinião deles.

- Então... foi por isso que ele quis me matar, não foi? - Hermione arriscou. – Foi por isso que ele fez aquilo.

- Malfoy tem sempre mais de uma carta na manga quando ele quer algo, mas sim, - Severo admitiu pesadamente.

- É por isso que você interveio? - ela perguntou quietamente. – Porque você pensou que eu era um símbolo? Porque eu sou mais esperta do que Pansy Parkinson? Ou Hannah Abbot?

Dando um longo suspiro, Severo rolou de costas e olhou fixa e pensativamente para o teto.

- Hermione… Se fosse qualquer outro que eu encontrasse lá, eu faria algum protesto sobre a estupidez de fazer algo em baixo das barbas de Dumbledore, mas não faria nenhum esforço adicional para impedi-lo. Eu ficaria por perto e observaria eles violentarem e destruírem uma de minhas alunas e, quando o corpo dela fosse encontrado, eu assinaria meu nome no cartão de condolências da equipe de funcionários sem pensar duas vezes.

Hermione estava quase sem palavras.

- Eu não acredito. Eu não sou diferente de nenhum outro aluno de Hogwarts.

- Claro que é, sua tola - ele revidou, e então rolou e a encarou com um olhar fixo e obscuro. - Você sabia, Hermione. Você estava lá, naquele assoalho imundo, olhando fixamente para mim e você poderia ter me denunciado com algumas palavras, negociando sua vida e me destruindo totalmente. Mas você não o fez. Você morreria sem lhes dizer.

- Talvez você devesse ter me deixado morrer - ela disse de forma imprudente.

-Não diga isso! – ele silvou furiosamente, sua mão disparando para agarrar seu braço.

- Quantas pessoas morreram desde que você perdeu seu lugar entre os Comensais da Morte? - ela pressionou. - Quantas pessoas poderiam ter sido poupadas se Voldemort ainda confiasse em você?

- Isso não importa, Hermione.

- Isso importa, sim. Você esfaqueou Lúcio Malfoy. Você poderia tê-lo matado.

- Era essa a intenção - ele disse sem rodeios, e ela se lembrou de como seu marido poderia ser perigoso, a voz profunda dele era toda a ameaça aqui, no quadro destruído da cama deles. Em vez de medo, entretanto, seu ultraje endureceu sua espinha e sua determinação em tirar isso dele.

- E então você os deixaria chutá-lo até a morte, porque você achava que não merecia nada mais que isso. Bem, eu estou lhe dizendo que você merece mais.

O silêncio dele a irritou, e ela rolou seu corpo desajeitado perto o suficiente para tocar nele.

- Eu quero lhe perguntar uma coisa - ela começou, e quando ele levantou uma sobrancelha em descrédito, ela estalou: - Ah, cale-se. Você foi apaixonado por Lílian Evans? - O pretenso ciúme era a teoria favorita que Rony e Hermione cogitavam, mas nunca se atreveram a compartilhar com o Harry.

Para sua surpresa, Severo riu.

- Não, - ele respondeu. - Não seria difícil me apaixonar por ela, mas eu tive mais juízo. Eu também não tinha muita paciência com os amigos ridículos dela assim como eu tenho com os seus. Pouca paciência com qualquer um, para esse assunto - ele acrescentou.

-Você já se apaixonou por alguém alguma vez? – Ela se virou para olhar para ele. – Eu não estou perguntando isso apenas para ser maldosa. Eu honestamente quero saber. Você já se permitiu amar alguém?

Seus olhos ficaram obscuros com tristeza e pesar, cuidadosos com a reação dela. Era sua vez de ser surpreendido, entretanto, como Hermione não mostrou nenhum sinal de estar ferida por sua inabilidade em professar uma emoção que ele não tinha nenhuma familiaridade.

- Eu compreendo que você não me ame, Severo - ela lhe disse pacientemente. Os olhos dele fugiram do rosto dela, mas ela não parou. - E enquanto eu jamais esperei casar e ter um bebê deste jeito, isto foi o que eu tive. E certamente eu nunca esperei me encontrar apaixonada por você, mas eu fui sincera na nossa noite de núpcias e eu estou sendo sincera agora. Eu estou me apaixonando por você.

- Eu acho - ele começou com cuidado - que você se deixou exagerar qualquer consideração que possa ter comigo. Seria mais sábio para você não sentir nada por mim.

- Tarde demais - ela retorquiu. - Isto não é um tempo para ficadas.

Severo piscou em descrédito.

– Um o quê?

- Minha prima, Lucy - Hermione explicou com um suspiro. – Ela ataca os homens como o professor Dumbledore ataca balinhas de limão, e ela sempre termina com eles após um intervalo de três dias. Ela os chama de ficadas. Mas nós não somos assim - ela insistiu.
- Hermione - ele gemeu numa voz baixa, mas ela colocou os dedos sobre os lábios dele para prevenir o que quer que ele estivesse a ponto de dizer, determinada a terminar o que vinha pensando por diversos dias.

- Havia um padre na minha escola fundamental - Hermione lhe disse - que me disse uma vez que o perdão não era dado porque é merecido, ou porque se tem direito, mas porque se necessita.

As pálpebras de Severo abaixaram, dispensando tudo que se relacionava ao perdão para os pecados passados, mas aquele não era essa a intenção de Hermione.

- Eu te amo – ela continuou. - Não porque você merece ou conseguiu, porque, na verdade, nós nem nos conhecemos de verdade muito bem. Mas eu te amo, porque você precisa disso. Eu não estou pedindo nada, Severo, e você não precisa dizer nada. Apenas aceite isso.

Por longos e ansiosos minutos, Severo Snape permaneceu calado, embora seus olhos procurassem por algo que somente o céu sabia o que no rosto dela, sua expressão cintilava através de um caleidoscópio de emoções, cada uma substituída por outra antes que Hermione pudesse dizer o que ele estava pensando. Finalmente, a tensão sangrou lentamente dele. Com uma formalidade gentil, ele alcançou a mão de Hermione, capturando os dedos nos dele próprio e pressionou um beijo em sua palma.

*****

Numa manhã, assim que Hermione estava começando a perder a noção dos dias da semana, Severo mostrou-lhe um pedaço de pergaminho de Dumbledore. Noggy tinha entregado a ele de manhã cedo e, irritada em ser usada como uma coruja, queimara cada pedaço de torrada na mesa do café da manhã.

- Seus pais estão nos esperando esta tarde - ele contou num tom baixo. - O Diretor deixou tudo arranjado.

- É quarta-feira, não é? - Hermione respondeu sem pensar quando examinou superficialmente o recado. – Eles geralmente só trabalham meio expediente nas quartas-feiras e aos sábados.

Ela pareceu resignada, mas tornou-se mais e mais inquieta com o passar do dia.

- Nós temos mesmo que visitá-los? - ela resmungou algumas horas mais tarde, vestindo nada além de sua roupa de baixo enquanto olhava fixamente na roupa pendurada no armário. Temia absolutamente esta reunião, e Severo deu-lhe um olhar austero.

- Eu enfrentei a Maldição Cruciatus, Hermione. Duvido que, de alguma maneira, um casal de dentistas de Surrey possa ser pior.

- Eles vão me censurar e me fazer sentir como uma criança.

- Os pais sempre tratam sua prole como crianças, não importa a idade que eles tenham. A última vez eu falei com minha mãe, ela insistiu que eu usasse minhas galochas e um suéter para que eu não ficasse com frio.

- Quantos anos você tinha?

- Foi há oito meses - ele declarou entre dentes.

- Posso me encontrar com sua mãe algum dia? – ela pediu inocentemente.

- Ele lhe deu um longo olhar em consideração. - Não. Vocês duas implicando comigo seria insuportável.

- Você não é engraçado - ela suspirou e puxou o único vestido trouxa de grávida que tinha comprado em sua incursão em Londres. - Eu não posso usar isto - Hermione declarou, mantendo o vestido trouxa de encontro a ela. Era amarelo pálido e não favorecia em nada seu cabelo ou pele. Ela olhou de cara feia para seu reflexo, desafiando o espelho a dizer alguma coisa. Era, ainda bem, um espelho não encantado e ele permaneceu quieto.

- Eles querem ver você, não seu guarda-roupa - Severo lhe disse, detectando uma total diferença hormonal em seu futuro. - Você vai parecer muito bem - ele prometeu.

- Eu pareço um Buda - ela retorquiu afiada, puxando o tecido de encontro à barriga.

- Hermione - ele reforçou, pondo o tom mais paciente que tinha em sua voz. - Você é encantadora, não importa o que você use.

Os olhos de Hermione estreitaram-se nele através do espelho.

- Eles ensinam você a mentir de maneira convincente na Sonserina, ou isso é uma habilidade inata?

Ele a pegou em seus braços e beijou seu ombro ao lado da alça do seu sutiã.

- Você não tem nenhuma idéia, tem? - ele murmurou.

- Do quê?

- De como você é sedutora. – Ela arfou, mas não se opôs quando ele moveu os lábios atrás da sua orelha e provou a pele em volta do cabelo. - Você toda, Hermione. Sua mente, seu corpo, seu cabelo…

- Meu cabelo - ela riu em descrédito.

- Sua pele... Meus deuses, Hermione. Sua pele… eu juro que é viciante. - Ele beliscava a curva macia do pescoço, dando beijos molhados em seu ombro, a língua provando-a e causando ondas profundas e nostálgicas nela.

- São apenas feromônios Severo - ela respirou, com problemas para recordar o que dizia enquanto as mãos dele puxaram o vestido da sua mão e os dedos longos se inclinaram deslizando por sua barriga arredondada, puxando-a de encontro aos quadris. - Meu corpo é uma fábrica de produtos químicos. - Olhando de cara feia para sua barriga redonda, Hermione puxou o elástico das enormes e horrendas calcinhas uma polegada acima. - Literalmente.

Um grunhido sem reservas foi sua única resposta, embora as mãos dele puxassem o elástico dela e o empurrassem para baixo dos quadris e, depois, mais para baixo.

- Nós nos atrasaremos - ela arfou, mesmo quando os dedos dele deslizaram entre suas coxas.

- Para isso que serve a magia - ele assegurou, imediatamente antes de pegá-la e carregá-la até a cama, onde ele se livrou da própria roupa e a deitou.

*****
Com um Pop, duas figuras apareceram na frente da casa de Frank e Cecília.

- Nós só estamos dois minutos atrasados - Hermione anunciou, suas bochechas ainda deliciosamente coradas, contrastando bem com a echarpe de seda colorida que Severo conjurou e amarrou em seu pescoço na última hora. Cobriu quase todas as marcas roxas que ele lhe infligira.

Snape soltou Hermione do seu abraço e checou acima e abaixo na rua para ter certeza que eles não foram vistos aparecendo do nada. A luz do entardecer cintilava nos automóveis estacionados na rua, e ele reprimiu sua reação aos feios veículos. Entretanto, não deveria se encontrar com seus sogros com desdém, e ele educou cuidadosamente suas feições para uma expressão mais suave. Hermione viu a expressão dele, de qualquer forma, e deu-lhe um olhar pensativo.

- Sabe, uma boa dose de do professor de Poções Severo Snape deve produzir algum efeito. Então nós poderíamos sair rapidamente.

- Eu vou me comportar, se você desejar - ele replicou com uma sobrancelha levantada, então pegou a mão dela e resolutamente tocou a campainha.

Os Granger deviam estar esperando por eles, porque a porta foi aberta rapidamente, e uma mulher de meia idade e rosto agradável cumprimentou Hermione com um rápido abraço, contendo-se quando sentiu a curva do bebê.

-Entrem, entrem - incitou a Sra. Granger rapidamente, e eles foram conduzidos ao lar que vira Hermione crescer de criança a adulto. As apresentações foram feitas, e Severo rapidamente formou uma opinião sobre seu sogro; um homem alto, saudável, mas ligeiramente barrigudo em seus quarenta. Seu aperto de mão era firme, e Snape teve que dar alguns pontos ao homem por balançar as mãos em vez de imediatamente atacar o libertino que corrompera sua pequena menina.

- Por que nós não nos sentamos? - a mãe de Hermione sugeriu nervosamente.

- Certo - disse Frank Granger firmemente. - Então acho que eu gostaria de uma explanação sua, por favor.

- Pai - Hermione começou, parando apenas quando Severo pôs a mão sob seu cotovelo. Ele empurrou-a delicadamente diante dele e tomou um assento ao lado dela no confortável sofá.

- Eu presumo que Hermione não o informou de todas as circunstâncias que conduziram à nossa união. - Não era uma pergunta, mas a mãe de Hermione tratou como se fosse.

- Não, ela não o fez. Eu devo dizer que eu não estou satisfeita de modo algum com o rumo dessa escola, onde uma aluna se envolve com um professor, e pior.

- Hermione e eu não nos envolvemos da maneira que está falando – Severo lhe disse, mantendo o limite de sua voz com esforço. - Na noite do último Halloween, sua filha foi seqüestrada por Comensais da Morte. Eles pretendiam violentá-la e assassiná-la naquela noite.

- Perdoem a minha aspereza - ele continuou, impedindo suas arfadas de ultraje e terror -, mas vocês precisam compreender que não há por que culpar a Hermione neste caso. Sua única falha é a abundância de misericórdia.

- Comensais da Morte? - questionou Cecília Granger. - São aqueles brutos que seguem Voldemort, não são?

- São eles - Severo lhe disse. - Como você soube deles?

Frank Granger deu a Hermione um olhar de desculpas. - Bem, nós convidamos os Weasley para jantar uma vez ou duas.

- Vocês o quê? - Hermione estava surpreendida. - E você nunca me contou?

- Bem - disse sua mãe -, você e Rony estavam namorando naquele tempo, querida. Eles são bem agradáveis, embora Arthur seja um bocado esquisito todas as vezes que eu ligo alguma coisa na tomada.

- Nós todos esperávamos muito que você e o Rony dessem certo. Sem ofensa, professor - Frank Granger adicionou a seu genro, soando não menos defensivo.

- Eu compreendo. Eu também cheguei a pensar que veria Hermione levar o nome Weasley. Embora eu admita que não tenha ficado empolgado com a idéia.

- Não me diga que você gostava de nossa menina mesmo naquela época -perguntou Cecília, alarmada.

- Não. Mas Rony Weasley não seria um bom parceiro para ela. É um jovem decente, mas não compreende uma mente como a de Hermione.

- Este bruxo, Voldemort. Arthur Weasley nos falou sobre ele. O que ele queria com a Hermione? - reclamou seu pai. - Ou de um professor, no que diz respeito ao assunto.

Numa narrativa inflexível, Severo esboçou os eventos do Halloween e das semanas seguintes. Hermione acrescentou detalhes onde ele encobriu sobre seus próprios ferimentos, e a causa deles. Entre os dois, eles conseguiram se revezar na enrolada trajetória até suas circunstâncias atuais.

- Então. Severo - começou Frank, quando eles se sentaram na sala de estar segurando copos com vários conteúdos. Na hora passada, eles progrediram a ponto de se chamarem pelo primeiro-nome. Frank oferecera uísque, e Severo aceitara previamente de bom grado; Hermione e sua mãe bebiam chá. - Você e Hermione… estão casados, então.

- Sim. Nós fizemos a celebração na semana passada.

- Celebrações têm as mesmas legalidades que um casamento, mãe. É só uma cerimônia bruxa, um tanto como a de uma igreja. Assim como ir a um magistrado.

- Eu entendo - concedeu sua mãe, sorvendo o chá. - Você terá que compreender, nós estamos muito chocados com a surpresa disso tudo, Severo. Nós sempre esperamos que Hermione terminasse a escola e fosse para à universidade…

- E ela irá - retorquiu Severo. - Hermione é uma das mentes mais brilhantes que eu tive o privilégio de instruir. Eu farei tudo que estiver em meu poder para ter certeza que ela continue sua instrução.

- Mas como você espera sustentá-la? - insinuou sua mãe. - Hermione me contou que você não é mais professor em Hogwarts. Como você poderá cuidar dela?

Snape soltou um riso macio, que surpreendeu tanto Hermione como seus pais.

- Sustentar Hermione não é um problema. Eu pensei em alugar uma casa de campo em Hogsmeade depois que Hermione terminar a escola, onde nós pudéssemos viver até que o bebê nasça e Hermione se decida para onde ela vai e o que vai estudar. Uma vez que nós resolvermos isso, faremos os arranjos para morar perto da escola de sua escolha. Eu preferiria que ela considerasse a l'Universite d' Arcanum em Roma, mas ela terá que relembrar seu italiano. Uma idéia impraticável eu sei, mas minha família tem uma vila encantadora nos arredores de Nápoles.

Inclinando-se para trás no sofá, ele viu Hermione franzir o cenho desconfiada e levantar uma única sobrancelha. Na verdade, ela esteve se perguntando como eles viveriam, mas os arranjos para seu apressado casamento se intrometeram e ela não quis interromper sua lua-de-mel com realidades ásperas. Agora ela o considerava com uma expressão confusa, e Severo começou a apreciar isso imensamente. Era muito agradável saber que tinha casado uma mulher que não conhecia suas verdadeiras posses após muitos anos evitando as oportunistas que se aglomeravam ao seu redor nas raras ocasiões em que ele se incomodou em aparecer em ambientes sociais.

- Uma vila? Em Nápoles? - Hermione repetiu e lhe deu um olhar suave.

- Apenas externa, na verdade, embora minha mãe viva lá atualmente, então eu acho que não servirá. - Ele franziu a testa pensativamente, como se escolhendo entre dois biscoitos numa lata. - Nós temos também um grande prédio numa propriedade em Kent, mas eu não vou lá há anos. Eu acho, afinal, que provavelmente seria melhor se nós simplesmente alugássemos uma casa. Eu mandarei minha mãe enviar um ou dois elfos-domésticos para trocar as fraldas e coisas parecidas enquanto você estiver em aula.

Os pais de Hermione trocaram um olhar, já haviam sido instruídos sobre a servidão dos elfos-domésticos e do status social daqueles que os possuíam, enquanto a própria Hermione simplesmente abria os olhos para seu marido. A menção casual das propriedades e vilas era uma prova a mais de que o homem em sua sala de estar não era nenhum professor itinerante.

- Você está me dizendo… - Hermione bradou, mais para o divertimento de Severo - você quer se sentar aqui e me contar que você é rico? Não apenas alguma coisa acumulada com o passar dos anos, mas podre de rico?

- Dez pontos para a Grifinória, Hermione. Embora você pudesse saber disso a qualquer hora, se procurasse por mim no registro social. - Ele riu enquanto ela o alcançava para dar um peteleco em suas orelhas, mas ele a arrastou rapidamente para o lado, envolveu o braço em torno dela e a beijou no topo da cabeça. Ela se arrumou, ainda desconcertada, e Snape examinou seus sogros, que não tinham perdido esta brincadeira paralela.

- Eu lhe asseguro, Frank, e a você, Cecília. Eu sou completamente preparado financeiramente para cuidar da Hermione e do nosso filho. Mesmo sem a fortuna da minha família, eu ainda sou um mestre de Poções. Como tal, eu posso me aproximar de qualquer empresa bruxa, em qualquer país, e oferecer meus serviços por qualquer quantia que eu quiser.

- Eu pensei que um mestre de Poções era assim como ser um químico - Cecília Granger arriscou, e sua filha sentiu o homem em questão se endurecer.

- Mãe, um químico é o que nós chamamos de um apotecário - Hermione corrigiu rapidamente. - Um mestre de Poções é mais como alguém com um doutorado em biologia, química ou qualquer outro.

- Entretanto, há ainda outro assunto que devemos discutir. - Ele torceu seus dedos com os de Hermione, e ela engoliu em seco de repente com a severidade com que ele a considerou.

- O mundo bruxo está atualmente em estado de guerra. Voldemort está juntando suas forças para alcançar tudo o que Hermione e eu valorizamos, e logo nós nos encontraremos lutando por nossas vidas.

- Não Hermione! - Cecília protestou, e Snape franziu a testa.

- Não. Hermione não. Embora se ela não estivesse grávida, eu duvido que qualquer um de nós pudesse mantê-la longe de Harry Potter. Mas a batalha está chegando, e todos nós iremos lutar muito em breve. Incluindo eu.

- Eu oficialmente sou um professor, ou fui. Mas por muitos anos eu fui também um agente duplo. Um espião, para dizer sem rodeios, e logo eu recomeçarei essa diligência. Eu posso lhes prometer que tomarei conta da Hermione o melhor que puder. Mas meu trabalho é perigoso, e é possível que eu possa não sobreviver para ver meu filho nascer.

Hermione não podia protestar em voz alta, mas fechou os olhos contra as lágrimas e inclinou a testa de encontro ao ombro de Severo. Ele pôs o braço ao redor de suas costas, mas continuou resoluto.

- Se nosso lado vencer, então terá valido a pena qualquer preço, mas Hermione vai precisar do apoio de vocês se eu morrer.

- Não diga isso - ela incitou com um ligeiro soluço. - Você prometeu.

- Eu prometi que tentaria - ele corrigiu suavemente.

*****

- É óbvio que ele se importa com você - Cecília comentou quietamente enquanto elas lavavam as xícaras algum tempo depois. - Ele é muito mais velho do que você, mas é bem óbvio, mesmo.

- Eu não tenho tanta certeza - Hermione admitiu, esquivando-se ao máximo através da passagem para a sala onde Severo e Frank discutiam as diferentes preparações para dores extenuantes que eles usavam. - Ele é uma pessoa muito difícil de se conhecer.

- Bem, eu lhe darei o único conselho que minha mãe me deu no dia do meu casamento - sua mãe ofertou.

-E qual foi?

- Aprenda a morder sua língua por dez segundos.

Ela piscou.

– Só isso?

- Sim, querida. Você ficaria surpresa como você pode fazer coisas erradas com freqüência quando você diz a primeira coisa que lhe vem à cabeça. - Cecília limpou as mãos com uma toalha. - Você terá tempos difíceis pela frente, querida. Severo parece ser um bocado difícil. Se ele está com essa idade e nunca se casou, ele terá que ser tratado com cuidado.

Hermione se controlou para não bufar com a frase lançada ao ar e a idéia de alguém cuidando do seu novo marido. - Mãe, ele nem completou quarenta ainda. Entre bruxos, isso não é considerado tão velho.

- E você é muito nova, também. Eu sei que você pensa que está crescida agora, mas você ainda tem muito à sua frente.

- Mãe, que idade você tinha quando aceitou se casar com o papai?

- Eu tinha dezenove, como você bem sabe, mocinha. - Sua mãe lhe disse com um toque afiado, mas seus olhos se encheram de lágrimas abruptamente. – Só que você não é mais a minha mocinha, não é?

Hermione abraçou sua mãe impulsivamente e deixou-a chorar sobre ela por alguns momentos antes que elas voltassem a secar os pratos, imaginando qual o problema com casamentos e bebês que deixava todo mundo tão emocionalmente incapaz.

Mesmo Frank Granger limpou a garganta repetidamente quando sua filha lhe deu um abraço de despedida, prometendo escrever e contar aos seus pais os seus planos para depois da escola. Ele deu a Severo um aperto de mão valoroso e fez algumas declarações de sogro, tais como: tome conta da minha menina. Para sua própria surpresa, Severo se viu prometendo fazer exatamente isso sem nem mesmo um pedaço de complacência que ele esperava quando previra este exato momento.

*****

Não obstante a evidência esmagadora que todos os serviços abrangiam a elfa-doméstica, Noggy permaneceu evasiva. Após encontrar a cama feita toda manhã quando ela saía do banho, os pratos do jantar feitos no momento em que ela dava às costas, Hermione determinou-se a encurralar a ajudante pequena e evasiva elfa.

Embora Severo lhe dissesse que ela estava perdendo seu tempo, ele ofereceu um pequeno conselho, que era brilhante e secreto. Hermione privou-se de complementar a idéia do Sonserino, mas a pôs em prática naquela tarde.

Procurando na pequena cozinha, ela finalmente encontrou os ingredientes para fazer um pudim, embora não tivesse certeza de como o cozinharia. No processo, ela fez uma bagunça que Pirraça, o poltergeist, apreciaria. Agitando os ingredientes na bacia com entusiasmo, ela quase perdeu o som estalado da elfa-doméstica aparatando na cozinha.

- Ah, Noggy. Estou tão contente de vê-la. Eu fiz um pouco de bagunça, eu receio, mas eu queria lhe pedir para me ajudasse a cozinhar isto.

A elfa doméstica resmungou em desânimo, mas fez o que Hermione pediu e, em pouco tempo, acendera o fogo do velho fogão cobreado. Um agito de seu pequeno dedo verde levou os pratos a se lavarem sozinhos, mas Hermione segurou firmemente a bacia cheia de massa.

- Eu queria agradecer por tomar conta tão bem de nós durante nossa lua-de-mel, Noggy.

- Patroa Snape é muito bem-vinda - Noggy gritou com uma voz nervosa, seus grandes olhos esbugalhados rolando como se julgasse a probabilidade de jogar a bacia longe de Hermione.

- Eu ajudarei a limpar isto - Hermione declarou.

- Ah não, patroa Snape. Noggy limpará tudo. É trabalho de Noggy limpar os pratos e cozinhar. A patroa necessita descansar - insistiu a elfa.

- Eu estou grávida, não doente - Hermione lhe disse. - E eu posso limpar minha própria bagunça. Você não quer minha ajuda?

As orelhas longas de Noggy oscilaram enquanto ela agitava a cabeça violentamente.

– Elfos-domésticos são para a limpeza, não bruxas, patroa Snape. Os elfos-domésticos cuidam dos bruxos e tomam conta das coisas.

Hermione pôs a mão no que restava do seu quadril, exasperada.

- Meu nome é Hermione - ela disse a elfa. - E eu prometo que não vou tentar lhe dar roupas. Eu só quero conversar com você.

- Noggy não tem medo de roupas - veio a resposta cautelosa.

- Então do que é que você tem medo?

Os ombros de Noggy caíram visivelmente.

- Noggy tem medo da patroa Snape.

Os olhos grandes como bolas de tênis se encontraram com os dela, e Hermione franziu o cenho confusa.

- De mim? Por que você estaria com medo de mim?

- Magia da Terra Poderosa. Noggy pode senti-la na patroa Snape.

- Eu não tenho a Magia da Terra, Noggy. Eu sou apenas uma bruxa.

- A Magia da Terra está na patroa Snape, assim como em seu bebê. É uma mágica poderosa, patroa Snape. A magia da terra é o que liga um elfo a seu mestre, assim como patroa Snape atou o professor a ela.

- Eu o quê? - Hermione exigiu. - Como você pode dizer isto? - Noggy retornou seu olhar horrorizado, caindo para trás com medo quando Hermione olhou fixamente para ela. A bacia na mão de Hermione caiu de seus dedos inertes, e ela hesitou enquanto a elfa atacou os cacos e começou a juntá-los.

*****

Com seus pés em cima da mesa de Dumbledore, os livros tirados das prateleiras todos espalhados ao redor, Severo estava perfeitamente relaxado até que Hermione estourou no estúdio.

- O que houve? - ele perguntou, sentando-se abruptamente com o olhar de terror e pânico no rosto dela. Seu interesse evaporou rapidamente, entretanto, porque Hermione relatou sua conversa com a elfa-doméstica. Sua recusa ante a angústia dela, entretanto, serviu somente para aumentá-la.

Hermione cruzou os braços, apertando seus cotovelos para baixo firmemente evitando qualquer gesto selvagem.

- Eu sei que você não me ama, Severo. Não - ela pausou, procurando as palavras certas, tentando e falhando em controlar suas emoções. - Não no sentido romântico da palavra. Sei que gosta de mim. Mas mesmo assim, eu não quero que seja só porque eu o iludi para isso.

- Hermione - ele protestou.

- Você mesmo disse - ela interrompeu. - Minha pele, meu cabelo - e ela pegou uma mecha dele e manteve levantada como uma evidência -, como se qualquer um pudesse se encantar por meu cabelo a menos que fosse realmente mágico.

- Acalme-se - Severo lhe disse, segurando-a delicadamente pelos braços. - A única magia que você está fazendo é aquela de uma mulher em um homem. Trouxa, bruxa, ou Veela, não importa. Eu a acho atraente. Nós somos amantes. Casados. Você não me quer enlaçado por seus encantos?

- NÃO - ela disse seca. - Eu quero que você me deseje por razões honestas, tangíveis, não por algo que desaparece com um Finite Incantatum ou uma boa noite de sono!

Com um suspiro, ele puxou a varinha de sua luva. - Finite Incantatum.

O olhar cauteloso nos olhos dela era ao mesmo tempo divertido e de cortar o coração assim que ele pôs de lado sua varinha e a puxou para os braços, seu corpo duro e resistente. Enterrou o famoso nariz no cabelo dela e o inalou deliberadamente.

- Você ainda cheira maravilhosamente - ele lhe disse. Deslizando em direção ao pescoço, sugou sua pele macia. - Ainda tem um gosto incrível. - Sua boca vagueou na dela, beijando a lenta, inteiramente, explorando seus lábios até que ela começou a se esquecer por que estava protestando. - Ainda beija como morangos no verão.

Hermione riu sem querer com a comparação intencionalmente doce, e ele sorriu enquanto inclinava a testa de encontro à dela.

- Use sua razão, querida. Eu posso ser conduzido por meus instintos masculinos, mas eu não estou reclamando, e eu resistiria se eu desejasse. Mas eu não desejo. Eu escolhi este encantamento, porque eu escolhi você.

Foi sua vez dele rir quando Hermione o olhou pensativamente antes de empurrar-se contra o peito dele, fazendo-o se apoiar na estante e inclinando-se ao máximo que sua barriga permitia. Com precisão delicada, ela beijou seus lábios, queixo e maxilar, então deslizou as bochechas ao longo das dele até enterrar o rosto na seda preta do cabelo dele. Sua boca explorou o tendão ao lado do pescoço dele, e ela inalou o aroma dele. Sua respiração saiu num longo suspiro quando descansou a testa contra os ombros dele.

- Isto deve produzir o mesmo efeito em mim, porque eu o escolhi - ela sussurrou.

- Hora de ir para a cama - Severo anunciou.

Duas horas depois, Hermione se esticou luxuriosamente e se inclinou sobre a borda da cama colocando seu livro no chão. Havia algo deliciosa decadente em estudar nua, seu corpo ainda morno de fazer amor, embora duvidasse que fosse uma observação que compartilharia com Harry e Rony. Reprimindo um bocejo, virou-se para ver os olhos do seu marido fechados, um sorriso saciado ainda demorado em seu rosto.

- Severo?

- Hum? - ele respondeu sonolento.

- O que você acha que nós faremos depois?

- Depois de quê?

- Depois que nós derrotarmos Voldemort.

Ele riu do otimismo dela, mas sem nenhuma dureza.

- Eu suponho que precisarei encontrar um trabalho, não acha? - ele disse seco. - Afinal, eu tenho uma esposa e um filho para sustentar. - Sob o cobertor, ele esticou e passou a mão carinhosamente sobre sua barriga.

- Você tem alguma idéia do que gostaria de fazer?

Severo rolou para o lado e olhou-a, rugas obscuras crescendo na testa.

- Você está perguntando o que eu quero fazer quando eu crescer?

- Eu acho que sim - Hermione respondeu. - Eu queria tirar meu certificado de Mestre em Poções em Aleford, mas tudo parece um tanto distante agora, com a guerra e tudo mais.

Ele descansou o queixo no braço cruzado.

- Eu não tenho idéia. Eu tinha pensado em pegar uma aprendiz brilhante e transar muito com ela quando não estivesse fazendo-a limpar caldeirões. - Deu-lhe um olhar lascivo teatral, e Hermione não pode deixar de sorrir com este lado especialmente bobo de um homem que ela uma vez achou que não tinha nenhum senso de humor.

- Que foi? – ele perguntou.

-Todos os dias que passamos juntos, eu aprendi algo mais sobre você. Estou me perguntando se algum dia eu realmente saberei quem você é. – Ela quis dizer isso levemente, mas a expressão dele tornou-se sóbria.

- Eu mesmo gostaria de saber - ele observou pensativamente. - Eu passei tantos anos interpretando um papel, que já não tenho certeza de quem eu sou afinal. Você casou com um desconhecido, Hermione, a não ser pelo fato que eu sou um desconhecido para mim também.

Hermione engoliu quando recordou da leitura de mão feita por Parvati. Tentando tranqüilizar tanto Severo quanto ela mesma, moveu-se mais perto e deslizou uma mão sobre o ombro dele.

- Você é Severo Snape. Você é um mestre de Poções - ela começou, se esforçando para manter seu tom casual. - Você tem um péssimo senso de humor, um rígido senso de honra, uma língua afiada e um temperamento horrível.

Ele bufou, seu bom humor restaurado.

- Que mais? - ele desafiou.


- Bem, você está desempregado - ela continuou, colocando uma nota da desaprovação em sua voz, como se ele fosse um preguiçoso sem perspectivas.

- Eu estou empregado - ele objetou. - Eu apenas não sou pago por isto.

- Um amante melhor do que a média…

- Isto, vindo de sua vasta experiência, sem dúvida - ele rosnou, puxando-a para ele.

- Meu marido - ela sussurrou enquanto seus olhos escuros fixaram-se nela e sua boca se deixou levar para mais perto da dela.

- Terrivelmente certa - ele a assegurou, e prosseguiu provando os dois últimos.

******

Na última noite deles, Severo acendeu o fogo na sala de estar de Dumbledore e sentou-se na poltrona com um último copo de conhaque roubado do estoque do Diretor. Do outro lado da sala, Hermione trabalhava nas suas últimas tarefas da escola, tendo pela primeira vez na sua vida terminado seu dever de casa quase no último minuto. Perdido no reflexo do fogo sobre os cães de bronze da lareira e do risco rítmico da pena dela, ele sorveu o conhaque e sentiu, por um momento na vida, completamente em paz.

Finalmente com seu dever de casa terminado, Hermione embalou os últimos pedaços do pergaminho e tampou seus frascos da tinta, armazenando tudo na mochila antes de se aninhar ao lado de Severo. Ele olhou de relance para ela, com uma expressão de boas-vindas suavizando as linhas do outro lado da sua boca.

- Finalmente acabou, não? - ele perguntou.

Ela assentiu e esticou suas mãos, suportando os músculos forçados nas suas costas, inconscientemente ostentando a curva de sua gravidez. Severo se esticou e pegou uma mão dela, puxando-a para si. Hermione amavelmente se colocou no colo dele, embora sua barriga proibisse qualquer graça e o fez grunhir.

- Desculpe - ela lhe disse, se deslocando a uma posição mutuamente confortável enquanto ele a puxava de encontro ao seu peito.

- Por ter cotovelos ossudos ou por me deixar sozinho a maior parte do dia? - ele perguntou com falsa severidade.


- Ambos, eu suponho. Embora você pareça ter sobrevivido às últimas horas sem minha atenção.

- Bem - ele começou -, eu tentei seduzi-la, mais cedo.

Hermione recuou.

- Você tentou?

- Sim. Ocorreu-me que eu provavelmente seria acusado de seduzi-la, cedo ou tarde, então eu poderia muito bem ser culpado por isto. – Ele franziu a testa pensativamente. - Entretanto, minhas habilidades em seduzir jovens mulheres parecem um tanto falhas. Você nem mesmo notou.

Hermione gemeu e enterrou o rosto no pescoço dele.

- Eu tenho a tendência de ser um bocado decidida quando eu estou estudando. Uma mantícora poderia vaguear através do quarto e eu não notaria até que ela comesse minhas penas.

Um fraco tremor de risada ecoou através do peito dele.

- Você a golpearia no nariz e diria para ela ir para o jardim.

- Você quer ir para a cama então?

- Ainda não - Severo lhe disse, descansando sua cabeça de encontro à dela. - Eu prefiro ficar aqui mais um pouquinho.

- Tem alguma coisa incomodando você? - Hermione perguntou como tentativa.

- Não, de modo nenhum. Meramente considerando o capricho infinito do destino.

Ela riu ligeiramente.

- Você já disse isso antes.

- Hum. Talvez eu devesse dizer apreciar este capricho. Nada mais poderia possivelmente ter previsto que eu me sentaria aqui com um bom conhaque do Alvo e um abraço da monitora-chefe de Hogwarts.

Ele a deixou mais confortável, e Hermione deixou sua cabeça inclinar-se no ombro dele, confortável e quente, sentindo-se de forma espantosamente caseira e realmente não se importando com isso.

*****

Umas vinte horas mais tarde, Severo seguiu o caminho para Hogwarts com a bagagem de Hermione numa mão e sua jovem esposa segurando na outra. O expresso chegara há mais de uma hora, mas os poucos estudantes que ainda vagavam no gramado se olharam para o professor há muito desaparecido com algum alarme, negligenciando completamente o fato de que ele estava na companhia da Monitora-Chefe. Uma carranca os fez se apressar.

- Eles estão apenas com receio de que você volte a ensinar - Hermione lhe disse. Nenhum sorriso respondeu ao dela, e ela desistiu de qualquer tentativa de melhorar o humor dele enquanto eles caminharam as últimas jardas em direção às escadas de pedra.

- Eu quero que você prometa que tomará cuidado com sua saúde, com NIEMS ou sem NIEMS - ele lhe disse quando colocou as malas nos degraus que conduziam à entrada principal.

- Eu tentarei… - Um olhar afiado daqueles olhos negros, e Hermione sorriu, apenas um pouco. - Eu prometo. Se você prometer ter cuidado.

- Tão cuidadoso quanto eu possa ser - ele respondeu.

Hermione olhou-o niveladamente. - Eu te amo, Severo.

- Hermione - ele começou, com uma expressão que quase não chegava à onda desdenhosa do lábio pelo qual era famoso. Parou, entretanto, e deu um suspiro curto. - Eu não tenho a menor idéia de como você pode se importar comigo, depois de tudo o que aconteceu - ele confessou. - Mas eu devo admitir que sou egoísta o suficiente para estar feliz com isto.

Os olhos dela estavam luminosos, e ele estava razoavelmente certo que ela choraria assim que alcançasse o refúgio do quarto da Monitora-Chefe, mas um sorriso cresceu nos lábios dela quando ele finalmente aceitou suas palavras sem nenhum argumento adicional. Severo quis beijá-la desesperadamente, carregá-la até seus aposentos e fazer amor com ela até que nenhum deles pudesse se mover. Em vez disso, pegou a mão dela, com a ponta dos dedos brincando com as pedras do anel de casamento, e levou-a delicadamente aos seus lábios.

-É tolo, mas eu não quero observar você se afastando - ela lhe disse, fungando ligeiramente.

- Estúpido - ele concordou, sentindo exatamente o mesmo.

- No três, então? - Ela se inclinou para cima e o beijou no rosto. - Um - respirou. Então, beijou-o na outra face. - Dois. - Sua boca aderiu-se docemente à dele por um breve instante. - Três.

Hermione se virou antes, pegando suas coisas e caminhando apressadamente para a porta aberta. Não olhou para trás. Severo se obrigou a virar também, caminhando a passos largos pelo gramado abaixo em direção os portões de Hogwarts. No último momento ele olhou de relance sobre o ombro, bem a tempo de ver Hermione olhar para traz sobre os ombros dela enquanto desaparecia nas sombras. O anel de casamento na mão esquerda brilhou com o último raio de sol quando ela deu um aceno de adeus.

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N/T – Espero que a espera tenha valido a pena. Esse capítulo é um bálsamo para todos que gostam e torcem por esse casal. A descoberta dessa intimidade é de uma doçura sem tamanho. Obrigada mais uma vez, pelo carinho que vocês dispensam a mim. Beijos no coração de todas. Clau.

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