Lágrimas de Sangue



Capítulo 9
Lágrimas de Sangue


Tudo estava calmo no castelo, exceto que alguns professores marcaram aulas de última hora porque estavam atrasados com a matéria e queriam adiantar um pouco com os alunos que estavam passando as férias no castelo, tinha vontade de matá-los por isso, mas não poderia fazer nada mesmo...

Os horários especiais daquele dia foram entregues na hora do café da manhã, peguei o meu e vi que tinha dois tempos de Poções, um de Feitiços e dois de Transfiguração. Olhei para o relógio e vi que faltavam dez minutos para a primeira aula, engoli o restante do meu café e rumei para as masmorras, o que eu achei mais estranho, apenas eu e Hermione estávamos em frente à porta da sala de aula, olhei para todos os lados para ver se meu primo não chegava e perguntei:

- Como Harry está?

- Na mesma, nem um sinal de vida, até estou pensando que ele não sai dessa...

- Não seja tão negativa, é claro que ele vai sair! Harry é forte!

- Como você tem tanta certeza? Ele estava péssimo na hora que você o levou à Ala Hospitalar não estava?

- Estava, mas ele vai melhorar você vai ver! - dei uma última olhada para trás e vi um pedaço do cabelo de Draco.

- A partir de agora não te conheço.

- Certo...

- Já por aqui Helena? - Malfoy perguntou.

- Não costumo dormir muito.

- Chega de papo e vamos entrando - Snape falou rispidamente para nós.

Não sei porque a necessidade das aulas, apenas três pessoas estavam na sala, foi quando Snape falou:

- Sei que muitos de vocês estão se perguntando o porque destas aulas com tão poucas pessoas no castelo, eu também não sei o porque, mas como foram avisados, é para adiantar a matéria já que vocês estão se preparando para os N.I.E.Ms. Hoje lhes passarei uma poção que sempre é pedida nos exames, e se eu ficar sabendo que algum outro aluno que não está aqui sabe fazer a poção, darei detenções aos três entenderam?

- Sim senhor - eu, Draco e Hermione respondemos.

Snape nos passou a Poção do Morto-Vivo, um pouco complicada, mas nada impossível de se fazer, ao menos consegui deixá-la no tom exigido e acabei antes do sinal que anunciava o fim dos dois tempos de Poções.

Draco e eu seguimos para nossa aula de Feitiços, Hermione seguiu para sua aula de Transfiguração e antes que ela saísse da sala, me despedi discretamente.

Quando chegamos na sala de Flitwick apenas nós estávamos na frente da sala, o pequeno professor abriu a porta e disse:

- Apenas vocês? Bem, vamos entrando, temos muito que praticar.

Após uma breve explicação de feitiços locomotores para mover pessoas de lugar tivemos que praticar. Draco não me tirou do lugar, em compensação, eu o ergui uns dez metros do chão e fiz com que ele desse algumas cambalhotas, o professor adorou e deu vinte pontos para Sonserina e quando coloquei Draco no chão, ele estava mais pálido que o normal.

- Precisava ter feito tudo aquilo comigo?

- Sim... - respondi tentando evitar rir na frente dele.

Estávamos a caminho do Salão Principal para almoçar e quando chegamos tivemos uma surpresa, as mesas das casas foram substituídas por uma única mesa do tamanho da mesa das casas. Draco e eu nos entreolhamos, mas fomos nos sentar bem na ponta da mesa. Quando o restante dos alunos chegaram, o diretor se colocou de pé e disse:

- Sei que estranharam o fato de terem apenas uma mesa no Salão, mas é que com tão pouca gente no castelo não há necessidade das mesas das casas.

“Em segundo lugar vocês também devem estar se perguntando o porque das aulas extras, os professores e eu concordamos que ao invés do costumeiro jantar de Natal, nós faremos um baile com todos os alunos de Hogwarts...”

Um grande burburinho começou entre os presentes até que o diretor retomou a fala:

- E para compensar esse baile nós decidimos fazer estas aulas para ver se vocês realmente o mereciam, o que ficou decididamente provado, que merecem. E para os que perderam a aula de hoje, eles perderão um fim de semana para assistirem as aulas perdidas.

Os outros alunos bateram palmas de aprovação, eu apenas continuei contemplando a mesa e Draco ficou mexendo no seu cabelo.

- E agora sem mais delongas, bom apetite!

Servi-me com poucas coisas, estava sem apetite de tanto que eu estava pensando em Harry e se ele estava bem e também estava procurando um jeito de despistar meu primo durante a festa...

Enquanto estava perdida em meus pensamentos não ouvi Draco me chamando:

- Helena, você ainda está aqui?

- Quê? Ah, sim estou por quê?

- Já acabou de almoçar? Temos quinze minutos antes da aula de Transfiguração...

- Sim, já...

- Então vem comigo.

Ele agarrou meu braço e me arrastou para fora do Salão Principal, quando teve certeza de que estávamos sozinhos falou:

- Escute, estou tendo um plano pra finalizarmos nossa tarefa, vai ficar faltando apenas o Potter para você acabar com ele...

- E que plano é esse?

- Conquistar a Granger.

- Ela é esperta demais pra saber o que você vai estar tramando.

- Foi por isso que eu guardei a Poção do Amor, quando vi que com a Weasley eu não teria trabalho, resolvi guardar a poção para Granger.

- E quando você pretende começar?

- Agora mesmo - Hermione estava passando - Ei, Granger! Venha cá um instante, preciso falar com você.

Hermione encarou-me espantada, mas foi o tempo suficiente para eu balbuciar para ela “cuidado com ele” e pelo olhar que ela me lançou, acho que compreendeu o que eu quis dizer.

- Helena, te encontro na aula ok? - Draco falou.

Fui para a sala de Transfiguração, onde a professora McGonagall já nos aguardava, entrei depressa e fiquei pensando se Hermione entendeu o recado de verdade.

--

- O que você quer Malfoy? - Hermione perguntou zangada - Vou chegar atrasada a minha aula...

- Calma, só queria saber se você gostaria de ir ao baile comigo...

Ela ficou pensando se aceitava ou não e ficou pensando no que Helena lhe disse “cuidado com ele...” O que a amiga estaria querendo dizer com isso? Pensado ela respondeu:

- Tudo bem, eu vou...

--


Entrei na sala e fiquei esperando um bom tempo até que Draco finalmente chegou:

- Está atrasado senhor Malfoy... Menos dez pontos para Sonserina.

Ele sentou-se ao meu lado:

- E então? - perguntei.

- E então o quê?

- O que a Granger disse?

- Ela aceitou.

- O que você fez?

- Só convidei... - olhei para ele desconfiada - Juro!

- Sr. Malfoy e Srta. Lejan querem por favor prestar atenção a aula? Estão atrapalhando o restante da classe - ela apontou para Ernesto Macmillan da Lufa-Lufa.

- Sim senhora - respondemos juntos.

O restante do dia pareceu uma eternidade, com certeza alguém tinha enfeitiçado todos os relógios do castelo. Depois de algumas horas que pareceram séculos, o sinal tocou anunciando o fim dos dois tempos de transfiguração.

O baile seria na hora do jantar, tinha que pensar rápido para me livrar do meu primo e ir fazer uma visita a Harry na ala hospitalar e quem sabe, encontrar Hermione e alertá-la, uma idéia me veio à cabeça:

- Ai! - parei de andar segurando meu ombro.

- O que foi? - Draco perguntou.

- Meu ombro, acho que desloquei.

- Vamos até a ala hospitalar, Madame Pomfrey dará um jeito!

- Se liga Malfoy! Ela não vai querer examinar meu ombro com você lá! Não conhece a enfermeira não?

- Esqueci como aquela velha é cheia das manias...Então, será que você vai poder ir ao baile?

- Acho que não, porque creio que Madame Pomfrey terá um probleminha a mais, esqueceu que ela não pode me tocar?

- Tem razão, bem, sinto muito e boa sorte na enfermaria.

- Obrigada, e boa festa.

Ele se afastou, idiota, sempre caía nas minhas atuações, quando vi que ele não me veria mais, saí correndo para a enfermaria, quando cheguei lá encontrei Hermione saindo.

- Hermione, espera!

- Helena? Que susto você me deu! Vai visitar o Harry?

- Sim, mas antes eu preciso falar com você!

- O que foi?

- Malfoy! Ele tem um plano contra você, vai usar a Poção do Amor, não coma ou beba nada na festa a não ser que você mesma pegue, entendeu?

- Sim, mas...

- Mas nada! Mione, o caso é sério, faça o que eu digo, por favor!

- Está bem, eu farei e você, não vai a festa?

- Não, não quero, e só uma última coisa. Se você não fizer o que lhe recomendei - olhei para seus olhos - eu saberei, as notícias correm sabe...

Hermione me olhou com um olhar intrigado e eu entrei na enfermaria, estava meio escuro lá, mas foi fácil localizar Harry, apenas uma cama estava ocupada.

Madame Pomfrey logo apareceu e eu perguntei:

- Como ele está?

- Melhorando, acho que em breve ele acorda. Quanto tempo pretende ficar aqui mocinha?

- O tempo necessário - respondi.

A enfermeira olhou-me furiosamente e entrou na sua sala ao fundo da enfermaria. Sentei-me em uma cama ao lado da cama de Harry e fiquei observando-o, ele estava muito pálido.

De repente, comecei a me sentir extremamente culpada por tudo o que estava acontecendo de ruim naquele castelo observando o corpo imóvel de Harry, uma imensa vontade de chorar me invadiu, mas não podia, percebi que não resistiria, certifiquei-me de que a enfermeira não apareceria e de que a enfermaria estava totalmente vazia. Baixei a cabeça e chorei, passei a mão em meus olhos na esperança de haverem apenas lágrimas, enganei-me, continuava a chorar sangue, não me importei, havia tempos que eu estava triste e tinha que segurar as lágrimas para não espantar ninguém.

Não percebi e de repente ouvi uma voz conhecida:

- Pelo visto não fui o único que não se interessou pela festa...

- Professor Dumbledore? - perguntei ainda de cabeça baixa para ele não ver meu rosto.

- Que surpresa encontrá-la aqui srta. Lejan, creio que veio visitar Harry não?

- Sim senhor.

- Como ele está?

- Melhorando. Acordará daqui alguns dias.

- Entendo, e me desculpe a intromissão, mas como conseguiu despistar seu primo?

- Atuação...

- Sabe Helena - ouvi admirada, nunca um professor havia me chamado pelo primeiro nome - desde o dia em que você pôs os pés nessa escola, sabia que você tinha alguma coisa de especial, além de ser uma oclumente brilhante.

- A vida me ensinou isso professor.

- Entendo, e eu estou certo de que na sua família, você foi a única pessoa que me pareceu mostrar solidariedade com o próximo - ele apontou para cama de Harry.

- Era o mínimo que eu poderia fazer.

- No entanto, algo realmente me chamou atenção, durante a seleção das casas, se eu não estou enganado, ouvi muito claramente que o chapéu seletor iria colocá-la na Grifinória...

- Sim, ele ia.

- No entanto, ele a mandou para a Sonserina não? A srta. sabe o porquê disto?

- Porque eu pedi senhor...

- E foi isso que me fez concluir que você era uma garota diferente, assim como Harry.

Um longo silêncio se instalou durante alguns minutos, eu ainda mantinha a cabeça baixa, pois meu rosto deveria estar muito vermelho por causa das lágrimas, foi quando finalmente falei:

- O que Harry fez?

- Pediu ao chapéu para não colocá-lo na Sonserina, durante anos que dou aula nesta escola, apenas vocês dois pediram para o chapéu mudar sua decisão.

- Interessante.

- Agora se me permite perguntar Helena, porque você não olhou para mim durante toda nossa conversa?

Não respondi, apenas tive uma sensação de que seria seguro para mim se Dumbledore soubesse do meu segredo, apenas ergui o rosto.

O diretor me lançou um olhar particularmente difícil de se entender, mas percebi que havia surpresa e tristeza nele.

- O que houve senhor?

- Apenas me surpreendi, não sabia que isso era capaz de acontecer.

- Isso o que, senhor?

- Lágrimas de sangue, há anos ouvi falar delas, mas nunca achei que existiam, é algo realmente triste, suponho que se alguém a tocar ficará duas semanas desacordado não?

- Sim senhor, e o que as lágrimas de sangue e o fato de eu não poder ser tocada significam?

- Você não tem idéia?

- Não, sempre quis saber, nunca gostei deste poder.

- Helena, isso não é um poder, na verdade é, me desculpe a palavra, uma maldição.

- Como assim?

- Uma pessoa que não pode ser tocada e que suas lágrimas são sangue, significa que esta pessoa é capaz de amar, mas não é amada.

- Então quer dizer que quando eu adquiri este poder, nem minha família me amava mais?

- Receio que não...

- Isso...é...terrível - falei quase chorando - então, o que eles sentiam por mim? O que as outras pessoas que eu acreditava me amarem sentem por mim senhor?

- Por isso que eu acreditei que seria impossível existir alguém com essa maldição, a exceção está na minha frente, nem Lord Voldemort tem, como você diria, esse poder. As pessoas que te cercam não sentem nada mais que um profundo afeto por você, nada mais, mas amor não.

- Mas, professor Dumbledore, não há nada que eu possa fazer? Isso é horrível demais! Principalmente quando você descobre que nem a sua própia mãe te ama. - e quando eu disse isso algumas gotas de sangue rolaram dos meus olhos.

- Felizmente, há como reverter esta situação, mas creio que você terá de contar com a sorte.

- Por favor, me diga!

- A maldição apenas será quebrada quando alguém lhe disser que te ama, mas dizer não basta, esse sentimento precisa ser muito forte e verdadeiro, ou você continuará a ter esse “poder”. Perdoe-me a indelicadeza, mas receio que eu tenho que voltar para o baile, afinal o diretor tem que estar presente, uma boa noite para você.

- Boa noite professor, e obrigada por...Informar-me sobre o que realmente está acontecendo comigo.

- Não tem de que, se precisar de alguém, creio que Harry é uma pessoa de extrema confiança, com certeza ele a ajudará, é claro que isso só ocorrerá quando ele acordar.

Ele saiu da enfermaria e eu continuei a contemplar a cama de Harry, estava mais triste do que nunca na minha vida e não contive o choro, não me importava mais o que iriam pensar de mim se vissem aquelas lágrimas, ficar sabendo que eu era amaldiçoada foi algo chocante para mim, nunca pensei que aquele poder fosse algo tão...Cruel, era a palavra certa.

Uma guerra estava na minha mente, um lado dizia que meus pais gostavam de mim, o outro não sentia nada mais que um profundo ódio depois do que eu fiquei sabendo.

Ouvi passos, tratei de secar minhas lágrimas para disfarçar, quando ouvi a enfermeira falando friamente:

- O horário de visitas acabou.

- Já estava de saída senhora. E...Quando a senhora acha que ele acorda?

- Quarta-feira provavelmente. Agora vá, vou fechar a Ala Hospitalar.

- Boa noite Madame Pomfrey.

Saí da enfermaria e fui direto para o Salão Comunal, estava triste demais, não agüentaria falar com ninguém se encontrasse alguém pelos corredores. Fui direto para meu dormitório e tentei dormir - ou pelos menos fingir - para Draco não vim me importunar com todos os detalhes do baile.

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