Adeus à Rua dos Alfeneiros



Era fim de uma tarde de verão. Um jovem de cabelos pretos e revoltos, olhos verdes e penetrantes, estava de pé olhando pela janela de seu quarto, no número 04 da Rua dos Alfeneiros.
Seu nome era Harry Potter, ele era um bruxo e era véspera de seu décimo sétimo aniversário. Não que isso normalmente significasse alguma coisa para ele, que morava com seus tios trouxas (aqueles que não eram bruxos) os Dursleys, que não o suportavam e faziam questão de sequer mencionar esta data.
Mas este seria diferente. Harry estaria completando a maioridade dentro do mundo bruxo e poderia deixar para sempre a casa dos tios. Já teria feito isso antes, não fosse a promessa feita ao Diretor de Hogwarts Alvo Dumbledore, e ao fato de que havia um feitiço protetor que lhe garantia proteção até completar 17 anos se ficasse pelo menos um certo período por ano na casa da Rua dos Alfeneiros. À meia – noite, este feitiço terminaria e ele iria embora.

Em pé ali, em frente à janela, Harry se recordava dos últimos acontecimentos. Da morte do Diretor, nas mãos de Severo Snape, do funeral, de sua decisão de continuar à caça das Horcruxes de Voldemort, do rompimento com Gina... Sem dúvida, a decisão mais difícil que tomara fora esta, o rompimento do namoro com Gina Weasley, irmã de seu melhor amigo Rony. O namoro dos dois demorara tanto tempo para deslanchar, quando finalmente os dois se acertaram fora tão intenso que Harry não podia acreditar que tivera que terminá-lo. Mas ele não tinha escolha, sabia que era um risco para Gina permanecer ligada a ele, e ele não suportaria que ela corresse perigo por sua culpa.

Lembrava-se também da reação dos tios, quando foram buscá-lo na estação de trem quase um mês antes do esperado. Tio Valter estava em pé na plataforma esperando por ele, bufando de raiva. Quando Harry emergiu da passagem entre as plataformas 9 e 10, mal teve tempo de se despedir dos amigos e foi arrastado pelo tio para o carro.

- O que você aprontou desta vez, hein moleque? – Perguntou ele enquanto o carro saia da estação.
- Nada! – Respondeu Harry – A escola foi fechada pelo ministério devido um ataque de Comensais da Morte.
- Comensais? O que são Comensais? Ah! Esquece, não quero saber de nada... – Retrucou o tio.

Tia Petúnia, que nada falara até al.i permaneceu calada. Entretanto, seu olhar cruzou com o de Harry com uma expressão de horror, o que demonstrava que ela compreendia a gravidade da situação. Já há algum tempo, Harry percebia que a tia estava mais próxima de seu mundo, mas naquele momento ele não tinha ânimo para prolongar a conversa, de modo que permaneceram em silêncio até chegarem em casa.

Após o jantar daquela noite, quando Harry disse que iria se recolher, a tia o impediu.
- Harry, você poderia me explicar o que está havendo na sua escola? – Perguntara ela no tom mais amável que Harry ouvira ela usar quando se dirigia a ele em toda a sua vida.
- Houve um ataque à escola, tia. – Começou ele – Os Comensais encontraram uma maneira de driblar as defesas da escola e a invadiram. Feriram alguns alunos e mataram o Diretor.

Tia Petúnia levou a mão à boca e segurou um gritinho de surpresa. Tio Valter, que estava sentado próximo à esposa se assustou e perguntou.
- O Diretor? Não é aquele velho gagá que esteve aqui no ano passado?
- Ele não era gagá coisa nenhuma. – Disse Harry se levantando, irritado – Era o maior bruxo que eu conheci, o maior bruxo da nossa época.
- Mas se ele era tão bom, como foi morto? – Desdenhou o tio.
- Ele foi traído. – Disse Harry – Por alguém que ele achava que lhe era fiel, mas na verdade era um servo de Voldemort.
- Mas Harry... Sem Dumbledore, como vocês vão combater este bruxo tão poderoso? Porque, se ele não pode morrer, como poderá ser vencido? – Perguntou a tia, após se recuperar do susto inicial.
- Não sei, tia. Ainda não sei. – Respondeu Harry, olhando intrigado para a tia. Já havia algum tempo que ele estava curioso com o conhecimento que a tia possuía do mundo bruxo. Ela nunca havia dado sinais de interesse e agora, de uma hora para outra, aparentava possuir pelo menos um certo conhecimento.
- Espere aí. – Disse tio Valter de repente – Se aquela sua escola de esquisitos fechou, significa que você não vai voltar para lá em setembro e que vai ficar aqui? Negativo, não aceito isso!
- Pode ficar tranqüilo, tio. – Retorquiu Harry – Não vou ficar aqui muito tempo. Só até meu aniversário, como tinha prometido a Dumbledore. Depois disso eu vou embora e vocês nunca mais vão precisar me ver.
- Você vai embora? – Perguntou a tia – Precisa mesmo ir?
- Preciso, tia. Depois do meu aniversário vai ser perigosa para vocês a minha presença aqui. O feitiço protetor terá terminado e não será sensato ficar. Vou embora assim que fizer 17 anos.
- E já vai tarde moleque. É bom mesmo que você vá embora. Não quero que a minha família corra perigo por sua causa.
- Pode ficar tranqüilo. Já que estamos falando nisso, na véspera do meu aniversário meus amigos Rony e Hermione virão me buscar. Devem chegar no final da tarde e ficarão comigo, no quarto, até a hora de irmos. – Harry combinara sua saída de casa com os amigos durante a viagem de trem.
- Não quero saber de gente esquisita na minha casa, Potter. – Vociferou o tio.
- Não estou pedindo autorização, tio. Estou lhe comunicando o que vou fazer. Não me interessa se concorda ou não. – Respondeu Harry friamente, num tom baixo e controlado, que o tio não esperava e que o deixou arrepiado. – Eles virão e pronto. E se algum de vocês tentarem me impedir vão se arrepender amargamente.
- Não seja ridículo, garoto. – Disse tio Valter, recobrando-se rapidamente – Você não pode fazer magia fora daquela sua escola.
- Eu não podia fazer magia ou seria expulso da escola. – Disse Harry, sarcasticamente - Só que a escola está fechada, então não podem me expulsar, não é mesmo?

Aquilo fizera tio Valter se calar e não questionar mais nada. A partir daí, sua vida voltara à normalidade à qual já estava habituado na casa dos tios. Passava a maior parte do tempo no quarto, remoendo o que sabia sobre as Horcruxes, sobre R.A.B, definindo seus planos para a busca. Sua escrivaninha estava coberta de pergaminhos com suas anotações.
Durante a viagem de trem, ele combinara com os amigos de restringir ao máximo as mensagens. A única coruja que recebera fora naquela manhã, de Rony, confirmando que ele e Hermione chegariam no final da tarde para irem juntos à Toca, como era chamada a casa da família Weasley.

Ali em pé, em frente à janela, Harry esperava os amigos, e sentiu seu coração pesar quando pensou em voltar à Toca. Isso significava rever Gina, com quem ele não falara desde o Funeral de Dumbledore. Na viagem de volta ela, não ficara na mesma cabine que ele, nem se despedira dele na plataforma após o desembarque. Era óbvio que estava magoada com ele. Harry não sabia como reagiria ao reencontrá-la. Sentia muito a sua falta, mais do que pensara ser possível, mas tomara a sua decisão e não pretendia voltar atrás.

Era um homem amaldiçoado por uma profecia. Todos aqueles a quem amara estavam mortos. Seus pais, Sirius e, agora, Dumbledore. Só lhe restava Gina, e não a perderia por nada deste mundo. Mesmo que isso significasse que não poderiam ficar juntos, que teria de amá-la à distância. Não deixaria que a sina daqueles que lhe eram próximos se abatesse sobre ela. É claro que ele se preocupava com Rony e Hermione também, mas com eles a relação era diferente. Eram seus amigos desde os onze anos, enfrentaram juntos todas as aventuras, sabiam como pensavam sem precisar falar nada. Não podia deixá-los de fora nesta altura dos acontecimentos. Nem eles aceitariam ser excluídos. Mas ela não. Gina era o último e mais precioso bem que ele possuía, e ele não estava disposto a perdê-lo.

Além disso, pesava em sua consciência o fato de que estava fadado a ser executor ou vítima de um assassinato. E, embora tentasse ser otimista, ele sabia que a possibilidade dele conseguir derrotar Voldemort era mínima. Principalmente agora que Dumbledore se fora.

Por isso, não tinha o direito de dar esperanças à Gina. Ela era tão cheia de vida, alegre - e principalmente linda - que não merecia ficar presa a um amor sem futuro, a alguém que poderia morrer a qualquer momento em uma armadilha de Voldemort ou de algum de seus Comensais.

Ele levantou a cabeça e viu duas figuras surgirem no final da rua. Deu um sorriso, o primeiro em semanas e saiu correndo do quarto para atender à porta antes que tocassem a campainha. Lá estavam seus amigos, Ronald Weasley e Hermione Granger. Hermione já estava com o dedo próximo ao botão quando ele abriu a porta e os recebeu com um sorriso, prontamente correspondido por ambos. Hermione pulou em seu pescoço e o abraçou, sua vasta cabeleira castanha cobrindo sua visão. Deu-lhe um beijo estalado no rosto e disse.

- Harry. Que bom vê-lo. Estava morrendo de saudades. Como você está?
- Estou bem, Mione. E você?
- Estou ótima. – Respondeu ela, largando o amigo.
- E aí, cara. Tudo bem? – Perguntou Rony, abraçando o amigo.
- Tudo. E você? – Disse harry, dando um tapinha nas costas do amigo.
- Indo.
- Vamos subir? – Perguntou Harry – Não quero que meu tio pegue no pé de vocês.

Mas neste momento, apareceu Tio Valter vindo pelo corredor. Ouvira vozes de pessoas no hall e viera ver o que estava acontecendo. Ao ver os recém-chegados, fez uma careta de nojo e disse:

- Não quero saber de sua gente andando pela minha casa, moleque. Leve logo estes dois para o seu quarto e não saia de lá até a hora do jantar.
- Nossa, que simpatia, hein! – disse Rony, arregalando os olhos – Não precisa se preocupar conosco, não. Trouxemos a nossa refeição e jantaremos com o Harry no quarto dele. Minha mãe preparou um lanche para a gente comer enquanto esperamos a hora de ir embora.
- Ainda bem que ela pensou nisso, Rony. – Disse Hermione, olhando indignada para o tio de Harry – Não comeria nada que me dessem nesta casa por nada neste mundo depois de ouvir um absurdo destes. Venham, vamos subir.

Hermione subiu as escadas pisando duro, como tinha o costume de fazer toda vez que estava nervosa. Harry e Rony se entreolharam e deram aquele sorriso característico deles quando ela fazia estas coisas, deram de ombros e seguiram a amiga. Hermione esperava por eles no alto da escada, pois não sabia qual era o quarto de Harry. Este passou pela amiga e abriu a porta do quarto, entrando logo após os amigos.

Hermione fechou a porta e lançou um feitiço de impertubalidade, para que ninguém fora do quarto os ouvisse e desabafou:

- Arre, Harry! Sinceramente, não sei como você suportou isso por tanto tempo. Que pessoa mais antipática este seu tio...
- Não liga não, Mione. Falta pouco para eu me livrar disso para o resto da minha vida.– Respondeu Harry.
- Estou vendo que já arrumou as malas, cara. – Disse Rony, querendo mudar de assunto.
- É, já preparei quase tudo. Só falta guardar estes pergaminhos que deixei para vocês darem uma olhada enquanto esperamos. – Disse Harry.

O resto da tarde transcorreu sem maiores problemas. Os amigos estudaram os planos de Harry, discutiram sobre a missão, sobre o futuro. Lá pelas oito horas da noite, comeram o caprichado lanche que a Senhora Weasley havia preparado para eles e depois jogaram um poço de Xadrez de Bruxo.

Quando faltavam cinco minutos para meia–noite, eles pararam de jogar, guardaram o que faltava das coisas de Harry e se prepararam para desaparatar. Como nem Harry nem Rony tinham autorização para aparatar, eles só podiam aparatar e desaparatar acompanhados de alguém que tivesse esta autorização, como Hermione.

Hermione fez um feitiço e enviou a bagagem e a coruja de Harry, Edwiges para a Toca. Depois se posicionou entre os dois amigos, enlaçando os braços esquerdos de Harry e direito de Rony com um sorriso, que deixou o Ruivo mais vermelho do que já era e perguntou.

- Vamos, cavalheiros?
- Sim. – disseram os dois.

Harry ainda deu uma última olhada pelo quarto, respirou fundo e girou, conduzido pela amiga, desaparatando do quarto, logo após o relógio dar meia – noite.

No quarto do casal, Petúnia Dursley estava acordada. Ao som das badaladas do relógio, uma lágrima desceu pelo seu rosto. Ela sabia que o sobrinho já tinha ido embora de sua casa. Um sentimento de arrependimento lhe apertava o coração. Sequer se despedira de Harry! Uma angústia, que ela não sabia de onde surgira, também lhe afligia. Por que será que ela sentia que não veria mais o sobrinho? Soluçando baixinho para não acordar o marido, virou de lado e tentou dormir.



N.A:


É muito gratificante estar escrevendo esta Fic. Estou muito empolgado, talvez até demais. Não achava que tinha imaginação ainda para desenvolver algo desta natureza, mas depois de ler algumas estórias aqui na floreios e Borrôes, tais como Labirinto e A Arca dos Inseparáveis, da Karina, Harry potter e o último Horcruxes, Agora Percebi que ela Existe e várias outras, todas de ótima qualidade, achei que poderia desenvolver algo, e espero que vocês gostem.

Por favor, comentem, critiquem, enviem suas sugestões, para eu saber se estou no caminho certo ou se preciso mudar alguma coisa.


N:A: 23/07/07 - Em comemoração ao aniversário da FIC, estou repostando os caps, devidamente betados. Logo, estarei postando uma capa também.


Muito Obrigado.

Claudio

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Comentários (2)

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