"In too Deep..."



Capítulo 2: “In too deep...”

Rony virou a terceira prateleira em busca da amiga... Tropeçando em um livro caído ao lado de uma pilha, praguejou em voz baixa. Ele deveria ter adivinhado que no fim das contas ela acabaria por arrastá-lo até ali. Não que ele estivesse perdendo alguma coisa passeando pelo Beco... O dia tinha sido terrivelmente chato e irritante. Dois aurores do ministério passaram a tarde inteira escoltando os dois, e como se isso já não bastasse, a atmosfera no, local não era das mais agradáveis...

A maioria das lojas estavam fechadas, e as poucas pessoas vistas no local pareciam extremamente apressadas e desconfiadas, com motivo, acrescentou Rony mentalmente. Era constante agora, a notícia não só de bruxos, mas perigosamente trouxas também sendo atacados por comensais e outros seguidores de Voldemort... Sem contar é claro com os dementadores, pensou sentindo um ligeiro calafrio...

- Eu estava te procurando... – disse ele ao encontrar a amiga encostada atrás de uma pilha de livros.

- Desculpe... – respondeu Hermione em voz baixa, parecendo meio sem-graça. Um momento em silêncio se seguiu. Mostrando um livro nas mãos ela continuou se justificando – Eu ouvi falar desse livro... Tava procurando faz um tempo... – disse com um pequeno sorriso, não muito convincente:

- O que houve? – disse ele sem esconder o tom enfadado na voz. Rony sabia o que era, e francamente, preferia não saber...

- Nada! –mentiu ela. – Eu já disse... – repetiu ela virando o rosto. Rony encarou a amiga por um tempo, até que a realidade da situação finalmente chegou até ele:

- Foi por isso que você veio não é? Por isso você insistiu...

- Rony... –começou ela com ar impaciente. Ela já havia tido essa conversa com ele mais vezes do que gostaria...

- Você achou que poderia encontrá-lo, não é? – retrucou Rony sem esconder a irritação.

- Você não? – retrucou a garota violentamente, com surpresa nos olhos. A prateleira de livros tremeu levemente ao soar das palavras de Hermione.

- Não foi isso que eu quis dizer. –rebateu Rony ofendido. Ele se preocupava com o amigo tanto quanto ela... – Eu... – recomeçou, mas logo foi interrompido pelo barulho da sineta anunciando a chegada de mais um cliente.

Rony encarou Hermione por mais um momento antes que a garota quebrasse o contato visual e seguisse apressada em direção à porta da loja, respirando fundo, ele observou a amiga parar do lado de fora da porta.

- O que houve? –perguntou um dos aurores que ladeavam a menina agora.

- Nada... – respondeu Rony sem tirar os olhos da amiga, que agora observava o final da rua, obviamente em busca de algo, ou melhor, alguém...

- Você tem certeza? – insistiu o segundo homem olhando os arredores com ar desconfiado.

- Sim eu tenho! – exclamou Rony exasperado e irritado. – Será que dá pra se afastar um pouco? Cinco minutos pelo menos! – a contragosto, ambos se afastaram razoavelmente dos garotos apesar de manterem ainda os dois sobre olhares desconfiados.

- Hermione... – disse ele fazendo menção de por a mão no ombro da amiga, que rapidamente se afastou alguns passos desviando os olhos para cima. – O que foi? – recomeçou ele agora com sarcasmo na voz. – Você achou que fosse ele?

- Rony...

- Espere... Não. Certo? Você queria que fosse ele...

- Pare. – falou ela rispidamente, fazendo o amigo se calar. – Não faça isso... Por favor... – Rony notou que agora a voz da amiga tremia ligeiramente. Sentindo os olhos arderem violentamente Hermione retrucou antes de caminhar de volta ao Caldeirão Furado. – Não me faça escolher...

Ele observou a amiga atravessar a rua sem olhar para trás. Com um dos aurores logo em seu encalço... Ela estava chorando obviamente, de novo. – pensou ele.

Ela andava assim ultimamente... Mais precisamente desde que Harry partira. Ele próprio se sentiu meio que atordoado ao saber da fuga do amigo na manhã seguinte. Por um momento ele literalmente não soube o que fazer, de fato, Harry cuidara para que não se houvesse muito que se fazer no fim das contas...

Algo acontecera antes dele partir, disso Rony sabia. Pode perceber logo de cara na expressão da amiga... Apesar da inteligência, Hermione nunca fora muito boa com mentiras... Tinha uma vaga idéia do que poderia ser, e sentia seu estômago revirar dividido entre ciúmes e culpa só de pensar naquilo novamente...

Ele se preocupava com Harry, com certeza. Mais do que gostaria isso era certo. Lera a carta algumas vezes, (não tanto quanto a amiga, mas algumas). Onde ele admitia, pondo um ponto final no faz-de-conta em que os três estavam vivendo atualmente. Então, em resumo, ele gostava sim de Hermione... E Harry também.

- Como se não pudesse ficar pior... – murmurou ele se adiantando sob o olhar mal encarado da sua escolta.

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- Você vai querer isso garoto? – retrucou o homem gordo e careca à sua frente.

- Hãn? – respondeu Harry saindo do transe em que se encontrava. – Ah... Não, pode levar... – disse empurrando a xícara de café intocada, que logo foi recolhida pelo barman. – Quanto é?

- Duas libras... – pondo a mão direita no bolso da jaqueta, Harry retirou duas moedas e jogou no balcão.

- Obrigado... – se levantando lentamente ele seguiu para o quarto em busca da mochila.

Era o segundo quarto que alugava aquela semana, e após ser reconhecido por um barman e ter que apagar a memória de duas arrumadeiras, Harry tomou o cuidado de se alojar em locais o mais trouxa possível... A sensação de não ser reconhecido trazia uma leveza que era rara atualmente... Inconscientemente, Harry pôs a mão esquerda dentro do casaco novamente em busca da chave do quarto. Puxando o pequeno chaveiro, Harry sentiu algo mais no bolso...

Com rapidez, Harry pegou o pedaço de papel nas mãos e abriu-o. O bilhete com caligrafia familiar e caprichada logo ascendeu sua memória. Era de Dumbledore.

Ele havia recebido logo antes de partir... Se surpreendendo por ter esquecido completamente do mesmo, Harry observou o conteúdo, dessa vez com mais atenção:

“Ulster, Lifford; Rua Springles; 1176 – O oráculo”. “Cata-ventos uluriantes”

Claramente era um endereço, disso Harry sabia. O que não significava que ele conhecia o local, de fato, nunca ouvira falar... Se perguntando o porquê de Dumbledore mandar aquele endereço para ele, Harry se achou sem resposta.

Verdade que Harry andara mais que perdido pelos últimos dias... Desde que partira para ser mais exato. Esse era o tipo de coisa do qual sua amiga ficaria encarregada de resolver... Pensou Harry sentindo uma pontada característica.

Era como se tivesse entrado num estado de letargia que ele próprio nunca conhecera... Vagava de hotel em hotel, tomando o máximo de cuidado para não ser reconhecido... Não sabendo o que fazer em seguida. Como ele deveria agir? Por um anúncio no Profeta? Dizer a Voldemort que ele o estava procurando? Talvez ajudasse... Apressasse as coisas...

Pelo menos ele não ficaria daquela forma... Pensando, lembrando...

Ele sabia que as coisas não eram tão simples assim... E ainda sim, mesmo se fossem, ele próprio não sabia se estava preparado para tal.

Talvez... Talvez ele precisasse disso. Saber o porquê de ter partido, por mais doloroso que fosse, era justamente o que fazia com que ele continuasse seguindo em frente, disposto a enfrentar o que quer que viesse, exceto que dessa vez, sozinho...

Olhando o bilhete estendido na mesa mais uma vez, Harry levantou-se da cama num salto. Não podia ficar parado. E já que tinha aquilo em suas mãos, o mínimo que poderia fazer era descobrir o que significava... Pelo menos era isso que a amiga faria, e Harry já sabia exatamente por onde começar...

Eram quase seis da tarde quando Harry alcançou a biblioteca da cidade. A sensação era de que já passava da meia noite. Ciente não só de que o prédio fechava As seis, mas também de que corria grande perigo vagando pelas ruas daquela forma, Harry se apressou ouvindo apenas seus passos ecoando na rua vazia e escura do centro de Londres.

Ele parou ao lado do prédio olhando a sua volta. Não havia ninguém, como sempre esses dias... Tirando a mochila das costas, Harry puxou a capa e jogou em volta de si.

Passara os últimos três dias procurando algo sobre aquele endereço, não fora muito bem sucedido... A única coisa que Harry descobrira (e para tal não precisou de biblioteca alguma) foi que a última sentença mais parecia uma senha que qualquer outra coisa... Pelo menos assim ele esperava que fosse...

Entrando em silêncio no saguão, Harry esperou até que as luzes se apagassem e a última pessoa partisse. Ouvindo o clique de a porta ecoar pelo local, Harry retirou a capa da invisibilidade olhando em volta. O local era imenso, e graças ao tempo fechado do lado de fora, ele não enxergava absolutamente nada.

- Lumus! – murmurou ao puxar a varinha do bolso da jaqueta. O local era enorme. Uma cúpula branca se estendia no teto, descendo pelas paredes com longos janelões que refletiam a luz azulada da varinha de Harry. Caminhando sem demora para a sessão que queria, estendeu a mão para pegar novamente o mapa da Inglaterra.

Não era possível! Era o segundo mapa que ele procurava, e ainda sim, não havia nada. Aparentemente o lugar não existia, pelo menos não na Inglaterra...

Harry parou por um momento, largando o mapa e pegando outro na estante, ele observou o papel estendido na mesa. Era um mapa não só da Inglaterra, mas também dos países próximos... Correndo os olhos pelas gravuras, um nome familiar saltou-lhe aos olhos:

- “Ulster”... –murmurou ele em voz baixa... Harry releu o mapa, ele estava certo? Era uma região... Ele estava procurando no lugar errado, todo esse tempo, o local não ficava na Inglaterra... Ficava na Irlanda! Norte da Irlanda, pra ser mais exato. –acrescentou Harry mentalmente. O que diabos Dumbledore queria mandando-o para Irlanda?

Largando o mapa na mesa de súbito, Harry vasculhou a prateleira novamente, dessa vez, em busca de um mapa do país certo. Não demorou muito para que Harry já tivesse o mapa estendido na mesa em busca da cidade certa...

Lifford... Harry nunca ouvira falar dessa cidade antes... De fato ele quase não a encontrara no mapa, duvidava que ela não passasse de um vilarejo, e se não o fosse, imaginava como ele iria encontrar o que quer que haja lá para ser encontrado...

Fosse o que fosse Harry ainda tinha muito que caminhar, e como a viagem prometia ser longa e cansativa, Harry não via muito mais o que se fazer exceto pegar a primeira balsa para fora do país... Presumindo que ele poderia fazer a travessia de balsa, certo?

Seis horas... Seis horas de viagem, era o tempo que ele perderia de Londres até Holyhead... Não estava reclamando, já estava acostumado a viagens de trem... –Pensou Harry ao jogar a mochila no canto da cabine na manhã seguinte. Supondo que o noitebus seria muito perigoso visto que poderia ser reconhecido, ele acabou por decidir-se pela viagem trouxa... Pelo menos até que deixasse o país...

- Algo para comer querido? – perguntou a senhora com o carro cheio de guloseimas. Harry levantou a cabeça rapidamente, mas o entusiasmo se esvaiu tão rápido quanto veio. Com uma rápida olhada, ele constatou que nada do que queria estava ali... Faziam mais de dois dias que ele desejava tomar buble-juice com uma enorme fatia de pumpkin-pie... Mas não qualquer uma, a que Sra. Weasley fazia todo domingo na Toca... Eles provavelmente estariam comendo-a agorinha mesmo...

- Não... Obrigado... – retrucou Harry encarando a paisagem do lado de fora do trem. As casas da periferia de Londres já haviam dado lugar aos campos e pastagens, o dia escurecia sob o olhar de Harry, mas ele já não enxergava mais nada, sua mente estava em outro lugar...

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- Oh! Eu sinto muito... – desculpou-se Hermione profusamente a Sra. Weasley.

- Tudo bem querida... Não se preocupe... – sem encarar a garota juntando os cacos do copo com um aceno da varinha.

- Você está bem...? – murmurou Giny do outro lado da mesa com expressão preocupada.

- O que? Estou! – retrucou Hermione com um aceno afugentando a conversa.

- Ela não parece bem... – comentou Giny ao observar a amiga subir as escadas.

- Ela não está. – concluiu Rony sério.

- Bem... Fale com ela! – insistiu Giny.

- Você acha que eu já não tentei? – se defendeu Rony. – Ela não quer conversar... –continuou parecendo mais preocupado que qualquer coisa. – É estranho... Eu nunca vi Hermione ter tanta dificuldade com... Bem, você sabe... Magia.

- Talvez seja por causa de... – Jorge se interrompeu ao perceber o olhar do irmão. – Oh Rony! Por favor... Você também pensou nisso!

- Todos nós sentimos falta dele, inclusive ela. Aceite. – acrescentou Fred.

- Eu não est...! – começou Rony, mas foi interrompido pela irmã.

- E-eu não acho que seja isso... – disse ela. – Bem... Ela talvez tenha mencionado algo sobre ter algumas dificuldades em Feitiços ano passado.

- Como assim?

- Eu não notei nada... – disse Rony.

- Por que você não disse nada?

- Bom, eu não achei que fosse importante... – se defendeu Giny sentindo-se culpada. – Eu estava perto dos exames! Pra ser honesta eu não prestei muita atenção... Além do mais, pelo que ela falou, mais parecia que ela estava tendo problemas em levantar uma xícara da mesa, que algo mais sério...

- Talvez agente devesse falar com alguém... – disse Rony.

- Quem? Eu acho que Dumbledore tem mais coisas na cabeça agora... – comentou Fred.

- Que tal Lupin? – sugeriu Giny. – Talvez ele pudesse falar com ela...

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- A filha de Arthur veio falar comigo essa manhã... – comentou observando a paisagem na janela.

- Sobre o que? – questionou Dumbledore com os braços cruzados e apoiados sobre a mesa.

- Ela disse estar preocupada com Hermione... – comentou ainda sem manter contato visual. A menção do nome pareceu chamar a atenção de Dumbledore:

- Ela parece estar tendo alguns problemas com os poderes dela... – e respirando pesadamente ele continuou. Você sabe o que isso significa não sabe Albus?

- Ela só tem dezesseis anos Lupin... – disse Tonks calmamente.

- Mais um motivo para se preocupar!

- Você está dizendo que ela é uma ameaça? – surpreendeu-se McGonnagal.

- Eu estou dizendo que se ela continuar assim pode acabar se tornando...

- Lupin tem razão. – comentou Snape em voz baixa. – Depois do... “Incidente”, envolvendo Black ela tem agido estranho ultimamente.

- Aquilo foi... – começou Minerva.

- Impossível. – retrucou Snape.

- Inesperado. –corrigiu Dumbledore. – Mas eu entendo o motivo da sua preocupação, e você tem razão... Breve o ano letivo vai começar, será mais fácil manter-la sob cuidados...

- Albus. – recomeçou Lupin medindo as palavras. – Você teve alguma notícia de... De Harry? – Dumbledore levantou os olhos e encarou o homem à sua frente por trás dos seus óculos meia-lua. Um momento de silêncio se fez, até que ele respondesse calmamente:

- Não... Não tive Remus... – respondeu ele. – Mas ele está bem... – acrescentou com um pequeno sorriso.

- Nós não sabemos. – disse Sirius que só agora se manifestou, sem sair do canto do escritório onde estava.

- Eu sei... Você não? – retrucou com um pequeno sorriso nos lábios. Ele estava certo... Harry estava bem, pensou Sirius consigo mesmo. Se algo o acontecesse saberia, ele saberia...

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