Lição Quatro



Lição quatro

A noite de domingo encontrou Severo sentado em frente à lareira, lendo. Um copo de conhaque flutuava ao seu lado, refletindo as chamas do fogo no líquido âmbar. Uma batida à porta foi ouvida. Sem verificar quem batia Severo gritou, “Vá embora, não quero ser perturbado”.

Uma segunda batida ecoou nos seus aposentos. Severo retirou a varinha do bolso e lançou um feitiço silenciador em direção à porta voltando à atenção ao livro no seu colo. Severo suspirou profundamente quando percebeu que os feitiços de proteção da sua porta estavam sendo desfeitos por alguém. Uma brisa suave penetrou o quarto quando a porta se abriu. Severo deu um gole no conhaque ignorando aquele que acabara de invadir sua privacidade.

“Boa noite, meu rapaz. Eu não tive oportunidade de agradecê-lo pelo delicioso lanche que você me trouxe noite passada”. Alvo Dumbledore, o mais poderoso bruxo do mundo estava de pé no meio dos seus aposentos se desmanchando em sorrisos. “Você não se importa que eu descanse meus ossos cansados na sua cadeira, não é?” E sem esperar permissão, Dumbledore afundou na poltrona em frente ao Mestre de Poções.

“Na verdade, eu me importo sim. Vá embora antes que eu seja obrigado a lançar uma azaração. Já é ruim o suficiente saber que eu divido o mesmo teto com você, mas não há nada que me obrigue a dividir os meus aposentos. Adeus”. Severo continuou olhando para o livro nas suas mãos e não para o bruxo sentado.

“Que coisa feia...Talvez se eu o alimentar primeiro o seu humor melhore...Diga-me, você fica menos irritadiço depois que come?” O Diretor conjurara um serviço completo de chá e estava se servindo de uma xícara.

Exasperado, Severo deixou o livro de lado e deu um de seus famosos olhares para o Diretor. “O que você quer agora, Alvo?”

“Eu não quero nada. Apenas queria agradecer a sua delicadeza de me trazer a pizza ontem à noite”. O brilho dos olhos dele era exatamente o mesmo daquele nos olhos de Vanessa. Ao chegar no castelo Severo havia enviado um Elfo doméstico entregar as sobras de pizza para Dumbledore.

“Você sabe muito bem que foi a Senhora Prittchard quem lhe enviou a pizza. Definitivamente não foi minha idéia. E por que você não me disse que Vanessa Morgane estaria lá? E o que você quis dizer com infringir os termos da aposta?”

“Calma, Severo. Eu achei que seria bom você conhecer Vanessa. E como foi a apresentação? Você gostou da pizza?”, perguntou Alvo enquanto saboreava seu chá.

Severo balançou a cabeça de maneira cansada. “Vá embora, Alvo. Eu ainda tenho uma semana de tranqüilidade antes de ter de ensinar a arte de preparar poções para um bando de cretinos”.

“Eu sempre gostei do seu discurso para os alunos do primeiro ano. Posso ensinar-lhes a engarrafar a fama, a cozinhar a glória...Eu adoro as suas metáforas. Eu tenho certeza que você atrai a atenção dos garotos. Você ainda não me contou como foi a noite passada”. Vanessa tinha enviado uma coruja para Alvo com detalhes da noite anterior, incluindo as especulação que ela fez sobre a reação do professor a uma determinada bruxa. O Diretor tinha ceretza que Snape se recusaria a falar sobre a noite anterior. Mas ele também sabia que Severo precisava abrir-se para o mundo exterior e não ficar remoendo seu passado sozinho, nas masmorras. Alguns dias Dumbledore ficava furioso com o fato de que Severo não podia perdoar o seu passado, que ele continuamente se recusava a aproveitar a vida agora que o Lorde das Trevas estava exterminado. Severo era um homem jovem em termos de mundo bruxo. Apesar da sua reputação passada, a qual Severo era sempre bem rápido em lembrar a todos, o homem havia passado os últimos vinte anos lutando para salvar o mesmo mundo que ele agora se negava. Alvo estava determinado a fazer que Severo se perdoasse mesmo que fosse a última coisa que ele pudesse fazer. E a determinação de Dumbledore tinha uma força formidável.

Olhos negros encararam o bruxo idoso. Severo respirou fundo e inclinou-se para a frente. Seu tom de voz era zombeiro. Um imenso sorriso cobria seu rosto quando ele disse, “A pizza estava maravilhosa. Vanessa é fascinante e eu adorei a apresentação”. A voz de Severo voltou ao normal. Olhando para Dumbledore ele perguntou, “Agora você vai me deixar sozinho?”

Alvo riu enquanto Severo despencava na cadeira. “Você está se inspirando no Lockhart, agora? Talvez eu deva chamar a Sibila e vocês dois podem começar a ler folhas de chá...”

“Você está começando a me irritar. O que você quer afinal?”, perguntou Severo.

A voz de Dumbledore assumiu um tom sério que não era comum, “Apesar do que você diz, você fica tempo demais sozinho, Severo. Já é hora de você permitir-se viver um pouco. A guerra acabou. Esqueça o passado e junte-se ao mundo dos vivos. Saia, conheça gente”.

A voz do Mestre de Poções era amarga, “E fazer o que, Alvo? Destruir o Lorde das Trevas não devolveu as vidas que eu tirei. A linha entre luz e escuridão é muito tênue, e parece que eu a cruzei vezes demais”. Ele sentou-se e respirou profundamente antes de continuar. “Por alguma razão desconhecida você sempre teve uma confiança indestrutível no meu caráter. Minerva e eu chegamos a conclusão que o seu otimismo exacerbado se deve ao excesso de açúcar no seu sangue. Eu estou muito bem aqui, obrigado”.

Severo pegou novamente o livro. Ele olhou para Alvo sobre as páginas, um sorriso maroto no rosto, “Tem uma coisa que você pode fazer por mim, se você se preocupa tanto com o meu bem estar...”

Dumbledore soltou uma gargalhada alta. “Desculpe, Severo. Uma aposta é uma aposta. Eu odiaria negar a companhia da Senhorita Granger a você, ou a sua companhia a ela”.

O sorriso se apagou nos lábios de Severo, “E como você sabe que esse seria o meu pedido?”

Dumbledore não deu atenção à última frase. “Eu vou deixá-lo com seu livro. Pense no que eu disse, e tente se divertir um pouco”. O Diretor sorriu enquanto se levantava.

“É exatamente isso que eu planejo, assim que você se retirar”, e dizendo isso Severo retornou a atenção ao livro, ignorando completamente o visitante.

“Severo...”

O Mestre de Poções olhou para o Diretor que o encarava, “Alvo?”

“Eu me preocupo com você Severo. Eu não sou mais um homem jovem, mas eu ainda me lembro de como era ser jovem. Voldemort se foi. Pare de sentir-se um mártir. Você sabe que o mundo bruxo o considera um herói. Aceite o papel”.

“Eu estou bem, Albus”. Essa não era a primeira vez que eles discutiam aquele assunto. Severo sabia que o Diretor se preocupava com ele. Ele era uma das poucas pessoas que o Mestre de Poções podia chamar de amigo, mas ele não estava a fim de ter outra discussão sobre maneiras de viver sua vida. “Boa noite, Diretor”.

Dumbledore estudou o homem à sua frente. Com um pequeno aceno de cabeça ele disse, “Mande minhas lembranças à senhorita Granger”.

Os olhos do velho bruxo cintilaram mais uma vez e Severo sabia que ele estava arquitetando alguma coisa. Enquando saía Alvo se virou uma última vez e disse, “Dê um abraço nela por mim”.

Severo olhou para a porta, agora vazia, balançando a cabeça. Quanto mais as coisas mudavam, mais elas continuavam as mesmas. Ele voltou a ler o seu livro.

XXXXXXXXXX


Na noite de quinta-feira Severo aparatou segundo as instruções que Hermione dera a ele. Ele surgiu em um hall pequeno de um prédio antigo. Á sua direita estavam as escadas. Obviamente os apartamentos tinham recebido feitiços que impediam que se aparatasse diretamente dentro deles. Ela disse que morava no 21. Severo arrastou-se escada à cima. Ele parou no segundo piso e encontrou a porta onde estava pendurado um 21 dourado. Vozes podiam ser ouvidas atrás da porta. Ele lembrou de um tal de grupo de estudo que ela dissera encontrar-se no seu apartamento. Ele bateu à porta.

Severo ficou esperando no corredor até que Hermione abrisse a porta. Quando a porta finalmente se abriu, duas garotas saíram do apartamento e passaram rapidamente por ele. Uma delas tropeçou na pressa de ir embora.

Dois rapazes, outra garota e Hermione ainda estavam ao redor de uma mesinha de centro coberta de papéis. Eles estavam juntando as anotações e livros. Severo entrou e ficou parado no meio da sala cada vez mais irritado. Ele estava quinze minutos adiantado, mas o problema era que ele estava se sentindo um idiota, parado ali, no meio de todos aqueles jovens, que sem dúvida sabiam sobre o que aconteceria a seguir no apartamento. Um Snape irritado tinha uma tendência a ser um Snape mordaz.

Hermione olhou para Severo e sorriu. “Professor Snape, o senhor está adiantado. Talvez o senhor possa nos responder uma pergunta...”

O tom de voz com que Snape respondeu foi cortante, “Eu não acredito que minha função na vida seja agir como sua biblioteca pessoal, senhorita Granger”. Grosseiro e antipático. Severo ainda não sabia, mas estava para descobrir o que Ronny e Harry já sabiam a muito tempo, uma Hermione com raiva era alguém que você não gostaria de encontrar. Harry uma vez dissera que preferia encarar Vodemort outras cem vezes do que ter que ficar ao lado de uma Hermione irritada.

Hermione levantou-se e ofereceu um olhar penetrante para o homem alto à sua frente. Os outros estavam saindo do apartamento o mais rápido que podiam. Todos tinham estudado em Hogwarts e já tinham sofrido nas mãos do Mestre de Poções. Nem passou pela cabeça deles perguntar o que ele estava fazendo ali. Com as mãos na cintura e uma cara amarrada Hermione encarou Severo. “Será que você iria morrer se fosse humano pelo menos uma vez? Você não precisa ser sempre antipático. Eu fiz uma pergunta simples e você na sua infinita sabedoria decidiu que não mereço uma resposta. Você provavelmente saberia a resposta, considerando que esse é um grupo de estudo da classe avançada de poções. Ou talvez, você não soubesse afinal.”

Severo ficou sem fala, paralisado.

Bichento entrou na sala. O gato parou a alguns metros do professor e tranqüilamente começou a lamber as patas. Ele foi até onde Snape estava e começou a esfregar as costas nas pernas do professor. Um rastro de pelos laranja apareceu sobre as calças pretas de Severo.

“Tchau, Hermione”.

“Vejo você amanhã”.

“Tchau.” Os outros alunos saíram.

Snape olhou para o gato. O bichano o ignorou e continuou a passear ao redor das pernas do Mestre de Poções. “Que diabos é essa coisa? Eu sugiro que a senhorita o tire daqui antes que eu o use em uma poção”.

Hermione rapidamente pegou o gato no colo. “Você não se atreva a tocar no meu gato ou Hogwarts vai ter que procurar um novo Mestre de Poções quando as aulas começarem na semana que vem!”. Oh meu Deus. O que ela estava pensando? Ela acabara de ameaçar um dos mais poderosos bruxos do mundo, sem contar a bronca que ela lhe dera por não responder a questão. Bichento se mexeu em seus braços e saltou para o chão, ignorando os dois humanos que se encaravam.

Severo olhou para a jovem. Ele sabia que ela tinha um temperamento terrível, mas nunca havia sido o objeto da ira da bruxa. Ele lembrava de uma vez quando ela dera um soco em Draco Malfoy. Aquilo exigia mais coragem do que muitos bruxos adultos tinham, considerando que Lucius era um pai extremoso que faria qualquer coisa para protejer o filho. Severo estava impressionado. Ninguém jamais havia discutido com ele, exceto Alvo.

Os dois ficaram olhando um para o outro, esperando quem seria o primeiro a falar. Finalmente Severo perguntou, “Qual era a pergunta?”

“O que?”

“A sua audição está ruim? Qual era a pergunta que o seu grupo queria me fazer?” O meio sorriso que ele tinha no rosto diminuiu um pouco a rispidez das palavras.

“Ah, aquela pergunta”. O que era mesmo? Bem, se ele estivesse bravo de verdade ele já teria lançado uma azaração sobre ela. Bem, afinal ela não era mais sua aluna e além disso ele precisava dela para ensinar o Tango.

Severus andou até o sofá e se sentou, mas sem tirar os olhos dela. Era fácil ver que milhões de pensamentos conflitantes passavam pela cabeça dela. “Tantos pensamentos Sonserinos para uma Grifinória...”, ele disse com um ar de satisfação.

“Sem preconceitos entre casas, sim? Já estamos crescidinhos para isso, não?” Ele era impossível, mas ela sorriu para ele mesmo assim. “Nós tinhamos uma pergunta sobre as propriedades e ingredientes da poção Mata-cão. O senhor é um dos poucos Mestres de Poções no mundo que pode prepará-la corretamente”. Apesar do que ela estava sentindo, ela não podia negar que o homem tinha o seu valor. Ele tinha o dom e era muito melhor que todos os outros que tinham escolhido a mesmo profissão. Ele também era melhor que muitos em outras áreas.

“A pergunta?”

“Bem..”, Hermione sentou-se no chão, ao lado da mesinha e começou a procurar alguma coisa no meio dos papéis espalhados ali. A sua raiva foi esquecida assim que ela começou a explicar a sua teoria. “Eu sei que são usadas duas gotas de aconito para preparar a poção mas e se fosse usado belladonna em seu lugar? Ela poderia ser coada e preparada de forma a eliminar seu potencial venenoso da mesma forma que o aconito é. A belladonna combina muito bem com o hellebore em seu estado natural. O hellebore poderia ter um poder calmante maior...”

Severo olhou para ela admirado. Ele sabaia que ela era brilhante, mas aquela idéia era...tão simples. Tão simples que ele nunca tinha pensado nela, e entretanto ela era cheia de possibilidades. “Vocês estão estudando a Poção Mata-cão na sua turma avançada de Poções?”

Hermione corou. “O professor fez referência a ela, mas não chegamos a prepará-la. A idéia de usar belladonna no lugar de aconito e acrescentar o hellebore foi minha. Na verdade eu me baseei em medicina trouxa que ensina a alterar medicamentos baseado nas propiedades das substâncias. A mesma teoria poderia ser usada em poçoes, dessa forma teríamos uma gama maior de poções, cada uma eficaz para um problema específico”. Hermione prendeu a respiração sem coragem de ouvir o que Snape diria sobre sua idéia.

“Eu acredito que essa abordagem para a poção nunca foi tentada antes. Qual você imagina que seria o efeito final?” Severo viu os olhos de Hermione brilharem e ouviu enquanto ela falava com paixão sobre a poção.

Eles debateram as propriedades dos ingredientes para a pocão Mata-cão durante a hora seguinte. Em algum momento durante a conversa Severo tirou o casaco preto e o jogou no braço do sofá. Sem perceber ele dobrou as mangas da camisa que usava enquanto analisava a teoria. Uma bandeja de chá surgiu sobre a mesinha e Severo sorvia seu chá enquanto ouvia Hermione.

“Mas as lagartas picadas usadas na poção pacificadora não são tão potentes. Eu duvido que elas tivessem algum efeito sobre um lobisomem em transformação”. Hermione começou a rir sem motivo aparente.

Severo arqueou uma sobrancelha interrogativamente. “Posso saber o motivo do riso?”

“Bem, eu acabei de pensar como chocolate pode ter um efeito calmante, se consumido em grande quantidade. Por que não acrescentar chocolate à poção e ver o que acontece?”

“Eu acho que não quero estar presente quando você testar essa teoria em particular”.

Um relógio de cuco assustou os dois quando cantou a hora. “Por Merlin, já são oito horas. Nós deveríamos ter começado a sua aula à uma hora atrás. Eu sinto muito , Professor. Eu me empolguei com a nossa conversa. Não é todo dia que eu posso discutir Poções com alguém tão preparado quanto você. Eu me trocarei rapidamente e nós poderemos começar”. Hermione agitou a varinha nervosamente e a bandeja saiu voando em direção à cozinha. Outro movimento e os papéis se organizaram antes de serem armazenados em uma pasta.

Severo percebeu a agitação da bruxa. Ele detestava ter de admitir, mas tinha gostado da discussão acalorada. Ele raramente tinha oportunidade de conversar com alguém tão interessada e instruída em poções. A última hora tinha passado sem que nenhum dos dois percebesse. Ele acreditava que Hermione poderia habilitar-se como Mestre de Poções hoje mesmo, devido ao conhecimento que já possuía. Ela sem dúvida sabia muito mais do que vários Mestres que ele tivera o desprazer de conhecer. “Senhorita Granger, pare e respire fundo. Não é necessário tanta pressa. Você tem aulas amanhã cedo? Nós podemos pular uma semana se for mais fácil para você. Nós ainda temos tempo antes do Halloween para terminar as lições”.

Hermione ofereceu a ele um sorriso caloroso. “Minhas classes não começam muito cedo amanhã. Obrigada por se preocupar. Eu me trocarei num instante”.

Severo concordou com a cabeça enquanto ela desaparecia no outro aposento. Ela estava usando shorts jeans e uma camiseta. Ele havia reparado na roupa quando entrara no apartamento. A roupa e os pés descalços não faziam nada para esconder o corpo dela. Ele tinha ficado tão envolvido na conversa que tinha esquecido completamente aquele detalhe. Talvez Alvo tivesse razão. Talvez ele precisasse sair mais. Ela é sua ex-aluna, foi o pensamento que passou pela cabeça dele. Parecia que aquil era seu novo mantra cada vez que ele reparava nas curvas nela. Severo balançou a cabeça tentando evitar o pensamento e deu alguns passos ao redor da sala para esticar as pernas.

Uma cesta, no canto da sala chamou a atenção dele. Papéis enchiam a cesta até a boca. Um pequeno triângulo de tecido preto estava no meio dos papéis. Severo puxou o tecido no momento que Hermione voltava para a sala usando um collant preto, uma saia e sandálias de salto alto. Ele experimentou a textura do tecido entre os dedos enquanto o examinava. “Você decidiu fazer as nossas fantasias? Mas isso não é um tapa-sexo, senhorita Granger. O desenho deveria ser uma cobra e não uma rosa. E eu ainda diria que ele é muito pequeno”. Severo sorriu sarcasticamente ao óbvio desconforto dela.

Hermione corou profundamente. Ela pegou o tecido das mãos dele e o escondeu na cesta novamente. Com um movimento rápido do punho a cesta voou até o quarto. “Não professor, aquilo não era um tapa-sexo. Eu terei algumas sugestões para as nossas fantasias na semana que vem. Podemos começar a aula?”

Severo não se moveu. “Seria um tapa-olho para outra fantasia? Por que a rosa?”

Hermione cobriu os olhos com as mãos. “Não é parte de nenhuma fantasia. Podemos começar com a aula agora?”

“Se não é uma fantasia, o que é?”, ele ficou com os braços cruzados, esperando uma resposta.

“Professor, podemos dançar? O que importa o que é aquilo?”, Hermione chegou mais perto dele assumindo a posição do Tango. O perfume dela alcançou o nariz sensível do professor.

A voz dele agora era baixa e sedutora, “Senhorita Granger, o objeto em questão claramente a afetou profundamente. Ele parece não ser mais do que dois triângulos de tecido com um pedaço de fio entre eles, mas eu diria que uma maldição imperdoável não a deixaria mais perturbada. Eu gostaria de saber o que é aquilo que a abalou tanto”.

Hermione decidiu que ele já tinha se divertido o suficiente com o desconforto dela. “Esse pedaço de tecido, Professor, é um fio dental”. Será que ela poderia ficar mais envergonhada do que isso?

Severo olhou intrigado. “Um fio dental? Senhorita Granger, aquilo não se parece com um fio dental”.

Hermione olhou para ele. Ele só podia estar brincando. “Você não sabe o que é um fio dental?”

“Claro que eu sei o que é um fio dental. O que eu não sei é o que AQUILO é!”, ele resumiu.

Hermione riu. “AQUILO é roupa de baixo, Professor. Um tipo reduzido de calcinha”. Parecia que agora era a vez dele corar. Ela riu ainda mais animadamente quando as faces dele ficaram tingidas de rosa.

“Eu não tenho a noite toda. Podemos começar a aula, por favor?”, reclamou um mortificado Severo. Calcinha? Ela usava aquele minúsculo pedaço de tecido como roupa de baixo? Imagens de Hermione em mais nada exceto o “Fio Dental” povoavam a mente dele. Quando ela tinha se tornado Hermione para ele? Bem, a imagem dela usando aquele “acessório”, impediam que ele a chamasse de senhorita Granger. Ele tentou afastar a imagem. Haveria tempo para pensar naquilo mais tarde e a última coisa que ele precisava no momento era que seu corpo traiçoeiro respondesse àquela imagem enquanto ele mantinha Hermione nos braços. Talvez ele pudesse lançar um feitiço sobre o próprio corpo, exigindo que ele se comportasse adequadamente.

“Professor?”. Hermione estava de pé à frente dele. A música que eles haviam dançado anteriormente tocava suavemente. “Vamos começar com uma revisão do que já aprendemos. Não esqueça de dançar na ponta dos pés”.

Severo se aproximou e tomou Hermione nos braços. Ela é uma ex-aluna, ela é a sabe-tudo de Grifinória. Ele tentava se concentrar, mas estava perdendo a batalha para seus pensamentos. Ele ficou na ponta dos pés e sentiu o corpo dela se aproximar. Severo gemeu para si mesmo. Ele podia sentir os seios dela pressionados contra seu peito. A imagem de Hermione no “Fio Dental” emergiu mais uma vez. Sem conseguir concentrar-se na dança, Severo acabou errando os passos, fazendo com que os dois caíssem ao chão.

“Hermione!”, exclamou Snape.

“Professor, o senhor está bem?”. Ele acabou de me chamar pelo meu primeiro nome? Ela havia caído sobre ele. Eles estavam apenas a alguns centímetros de distância. Hermione rapidamente se recompôs e levantou-se. Bichento entava rondando os dois, atraído pelo barulho. Ele fugiu assim que Severo se levantou.

Severo estava ajeitando a roupa, tentando ganhar tempo. Por Merlim, ele acabara de chamá-la de Hermione? “Sim, eu estou bem, senhorita Granger. Você se machucou?”

Hermione sorriu. “Não, eu não acredito que esteja machucada, Professor. Vamos tentar novamente? Vamos fazer todos os passos exceto a sacada. Você precisa manter o foco na dança”. Hermione ignorou o olhar que ele lhe deu. Um movimento da varinha dela e a música recomeçou.

Snape se concentrou dessa vez e eles se movimentaram com uns poucos erros. Ele estava começando a relaxar quando a batida da música aumentou.

“Vamos tentar em um ritmo mais rápido?”. Ele havia praticado e mesmo no ritmo mais acelerado ele se saiu melhor do que da última vez. Eles estavam progredindo. “Você lembra do Tango durante o show? Você reparou como fizemos a sacada?”

“Eu consegui seguir alguns passos, mas depois a dança mudou. Aquela era uma forma mais avançada do Tango?”

“O Tango não tem uma fórmula definitiva. Ele deve se moldar à musica e alterar-se a cada parceiro. Os passos que estou ensinando a você são a base. Eles podem ser dançados de infinitas maneiras. Para dançar o verdadeiro Tango você nunca deve decorar uma seqüência de passos, tudo precisa ser improvisado. Como na vida, você precisa dar um passo de cada vez porque nunca saberá qual será o seguinte. Mas para o nosso objetivo será suficiente usar a mesma música e seguir uma lista de passos”. Ela sorriu de maneira travessa. “Isso se você não quiser continuar as suas aulas mais do que o exigido pela aposta, estou certa?”

Severo soltou uma gargalhada maliciosa. “Prittchard não lhe disse? O desconto que ele estava oferecendo era tão bom que não pude resistir. Eu contratei 36 meses de aulas, todas com você”.

Hermione jogou a cabeça para trás e gargalhou. “A probabilidade disso acontecer é a mesma do Chudley Cannons me contratar para jogar quadribol”.

Severo olhou para ela. “Sem possibilidade?”

“Eu não vôo, Professor”.

“A incrível senhorita Granger não voa?”, Severo se lembrava vagamente de algo sobre a pouca habilidade que ela possuía para voar. “Todas as bruxas voam”.

“Sim, e todas nós temos verrugas no nariz e somos mais feias que o demônio. Belo estereótipo, Professor. O que você está fazendo?”, perguntou Hermione quando ele colocou a mão sob o queixo dela virando a cabeça para um lado e para o outro.

Severo estava examinando o nariz dela, “Estou procurando as verrugas”.

“Muito engraçado. Podemos voltar ao Tango? Vamos tentar a sacada pouco a pouco. Devagar”. Foram necessárias quatro tentativas antes que ele conseguisse completar o passo sem pisar no pé dela. E foram necessárias outras quatro para que ele o fizesse no ritmo correto. Eles trabalharam mais um pouco nos passos.

“Já são quase 10 horas, então antes de terminar a aula eu quero mostrar mais um passo. Ele acrescenta mais graça à dança”.

Severo resmungou. Ele ainda não tinha dominado os passos que já aprendera. Ela estava obviamente o fazendo pagar pelos sete antos que a tinha atormentado.

Hermione riu. “Não é assim tão ruim. Esse é chamado de ‘o círculo’. É uma variação do passo que estávamos trabalhando. A única diferença é que você sempre vira para a esquerda, dessa forma faremos um círculo completo até o lugar onde começamos o passo”.

Severo parecia não acreditar muito na facilidade do novo passo. “Ambos giramos para a esquerda?”

“Não, você gira para a esquerda e eu o sigo, virando para a direita. Vamos tentar”. O círculo foi mais fácil do que ele imaginou que seria. Ele continuava querendo dançar em linha reta, executando os primeiros passos que tinha aprendido, mas ela o incentivava a tentar outras combinações. “Eu acho que por hoje é o suficiente, Professor”.

Severo seguiu até o sofá para pegar o casaco.

“Eu sinto muito pelo atraso dessa noite, eu prometo que na próxima semana nós iremos direto para a sua aula”. Eles estavam parados à porta.

“Na verdade, senhorita Granger, a sua teoria sobre a Poção de Mata-cão tem grandes chances de ser viável. Algum dos seus professores se interessou por ela?” Ele mesmo gostaria de tentar algumas das teorias dela. Ele achava que uma das idéias que haviam discutido anteriormente poderia funcionar com mínimas alterações.

O rosto de Hermione se iluminou. “Sério, Professor? Eu não acredito que nenhum dos meus professores prepare a Poção Mata-cão com a mesma freqüência que o senhor e nenhum deles está interessado em ouvir sobre as minhas teorias. Eles são Mestres e eu sou apenas uma aluna”.

Severo considerou a situação. Provavelmente ela estava certa. Eles podiam saber que ela era inteligente mas não mais do que isso. Ela era nascida-trouxa, mulher e aluna. A maioria dos professores olharia para ela cheios de preconceito. Apesar de Snape ser tão arrogante quanto qualquer um deles não deixaria que uma coisa tola como preconceito o impedisse de apreciar a inteligência dela. Severo nunca havia feito um elogio a ela, entretanto várias vezes tinha discutido com Alvo e Minerva sobre o intelecto privilegiado que ela possuía. Ela era também uma bruxa poderosa e tal combinação de raciocínio e poder era rara. “Eu acredito que você pode estar certa sobre alguns ingredientes e combinações, mas eu acho que terá de se preocupar muito com o processo para que as alterações dêem certo. Talvez nós possamos continuar a discussão semana que vem, depois da aula de dança. O que você acha?”

“Isso seria ótimo. Obrigada, Professor”. Hermione estava tão excitada que no seu entusiasmo abraçou Snape.

Ele ficou paralisado, sem saber o que fazer. Ele começava a levantar um braço quando Hermione pulou para trás se separando dele. Ela ficou horrorizada quando percebeu o que tinha feito. “Desculpe... eu...sinto muito”.

Severo parecia aflito. Ele fez uma mesura antes de sair, “Boa noite, senhorita Granger”.

Hermione se apoiou na porta fechada depois que ele saiu. Ela deu uma série de risadinhas. “Que noite”, ela pensou. “Primeiro eu ameaçei lançar uma azaração sobre ele, depois tive de explicar o meu fio-dental. Nós ainda caímos um sobre o outro e por fim eu o abracei. Que Merlim me ajude! Eu acho que não quero saber o que virá a seguir!”

Severo ficou alguns minutos do lado de fora do edifício olhando para a janela do segundo andar. Ele riu quando lembrou as últimas palavras de Alvo sobre abraçar Hermione. Um ‘crack’ quebrou o silêncio quando ele aparatou em direção a Hogwarts.

Continua...

Comentários da tradutora
Adorei traduzir esse capítulo, aliás a cena do "Fio Dental" foi uma das mais engraçadas que eu já li em uma fanfiction e o que me fez começar a traduzir "Dançando com Bruxas". Espero que vocês tenham se divertido tanto quanto eu.

Queridas Amanda e Lu-black, obrigada pelo incentivo. Espero que não as tenha feito esperar muito.

Hermione Langley, parece que você acabou de postar seu comentário pedindo a continuação, bem... aqui vai ele.

Beijocas para todos.



Primeiro

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