Será que nos divertimos?



Será que nos divertimos?

Finalmente Severo conseguiu se livrar do braço de Vanessa. Ele arrumou o paletó que ela amarrotara. Uma carranca estava estampada em seu rosto quando ele se virou para a bruxa e disse. “Madame, eu não tenho tempo para tais frivolidades. E a senhora não pode me chamar...”. As palavras morreram na garganta de Snape.

Vanessa sorria para ele, os olhos dela brilhavam. Ela segurava um cartão branco onde Severo podia ler o próprio nome escrito em letras douradas. “Ted”, ela chamou, “por que você não pede uma mesa para oito? Nos juntaremos a vocês em um minuto”.

Severo suspirou profundamente. Sua cabeça doía. “Quem é você? O que você deseja de mim?”

A risada de Vanessa era melodiosa. “Eu acredito que isso seja para você”, disse a bruxa enquanto estendia o cartão branco para ele.

Severo olhou para o cartão nas mãos dela. Com resignação muda ele aceitou o pedaço de papel. Hermione ainda estava separada do resto do grupo olhando para ele e Vanessa. Aquele era o mesmo tipo de cartão que ele havia entregue à Samantha na escola de dança algumas semanas atrás.

O cartão brilhou e aumentou de tamanho. Severo olhou para o pergaminho em suas mãos. Um parágrafo no meio do papel brilhava em letras cor de rosa e podia-se ouvir a voz de Alvo Dumbledore vindo do pergaminho. “Oh, Severo, meu rapaz. Obviamente você violou alguma das regras do contrato, de outra forma você não estaria recebendo esse cartão”. A voz do Diretor mostrava que ele estava se divertindo. “O Parágrafo 5, seção 7, sub-seção Z394 claramente estabelece que você está proibido de negociar o cancelamento das suas aulas através de força, intimidação ou chantagem”.

Severo levou o papel para perto do rosto. “Onde diabos está escrito isso?”

Uma risada pode ser ouvida vinda do cartão. “Está tudo no contrato. De qualquer forma você agora está sujeito a sofrer uma detenção. Como a senhorita Granger é sua professora no momento, ela poderá determinar qual será o seu castigo. Ou, se você preferir, pode voltar ao castelo e jantar com Remus, Harry e eu. Os dois estão visitando a senhorita Weasley, parece que ela teve uma folga na ala hospitalar essa noite.”

A voz de Severo era mortal, “Onde você está Alvo? Quando eu terminar com você não sobrará nada para contar a história”.

Dumbledore pareceu ignorar a ameaça. “Tente se divertir um pouco, meu rapaz e me traga as sobras. Eu adoro pizza. Senhorita Granger, Vanessa, boa noite”. As letras se apagaram e o papel se tranformou em pó.

Vanessa olhou para Hermione. “Você acha que será castigo suficiente obrigá-lo a nos acompanhar?”

Hermione fingiu não perceber o olhar de ira que o professor lançava a ela. “Eu estou faminta. Podemos ir?” As duas mulheres se viraram em direção à pizzaria e começaram a andar. A voz de Hermione chegou lentamente aos ouvidos de Snape. “De que tipo de pizza o senhor gosta, professor?”

Ele nunca entraria em outra aposta. Por que alguém simplesmente não o matava ao invés daquela tortura? Ele seguiu as bruxas à sua frente, sua mente ocupada com métodos de vingança.

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O interior da pizzaria parecia qualquer outro bar bruxo da Inglaterra. Drinques flutuavam no ar e pizzas apareciam em bandejas redondas da mesma forma que a comida aparecida em Hogwarts. Hermione procurava Ted e os outros.

Vanessa tocou o braço da bruxa mais jovem. “Eles estão ali no canto”. Havia exatamente três lugares vagos à mesa. Severo continuava emburrado quando sentou à uma das cabeceiras. Hermione ficou à sua direita e Vanessa à sua esquerda.

Severo olhou para as outras mesas. “Senhorita Granger, porque essas pessoas não estão usando talheres?”

Hermione riu. “Você nunca comeu pizza? Você não usa talheres, você come com as mãos”.

Severo estava espantado, “Você está brincando, não está?”

“Não. Normalmente come-se massa fina com as mãos e massa grossa com garfo e faca”.

Severo olhou para ela ainda mais alarmado. “Massa fina? Massa grossa? Que diabos é isso?”.

“Acho que então nem preciso perguntar qual é a sua pizza favorita... Vanessa o que você acha de pedirmos uma de mussarela e uma calabreza?”, perguntou Hermione enquanto olhava o cardápio.”E pão de alho também”.

“Parece ótimo. Severo, o que você quer beber? Vinho, cerveja amanteigada ou suco de abóbora?”, perguntou Vanessa sorrindo mais uma vez para o professor.

Severo devolveu um olhar frio para a bruxa, que pareceu não surtir nenhum efeito sobre a disposição dela. “Vinho”. Ele decidiu não perder seu tempo corrigindo-a em relação ao seu nome. De qualquer maneira parecia que ela estava determinada a chamá-lo pelo nome de batismo sem nenhuma cerimônia. Quem ela era e como ela conseguira aquele cartão?

Uma garçonete surgiu ao lado da mesa. “Prontos para pedir?”

Foi Vanessa quem fez o pedido, “Nós queremos uma pizza grande de mussarela, outra de calabreza e uma de entulho”. Severo arqueou uma sobrancelha quando ouviu o pedido. Não queria nem imaginar o que seria uma pizza de entulho.

”Traga também uma garrafa do vinho tinto da casa e água, por favor”.

A garçonete agitou sua varinha e as bebidas apareceram sobre a mesa. Por fim Vanessa completou, “E duas cestas de pão de alho, obrigada”.

Ted serviu o vinho para todos. Vanessa observava Severo que observava Hermione. Dumbledore havia pedido que ela lhe contasse tudo que acontecesse aquela noite. Justin, que estava sentado ao lado de Hermione contava alguma coisa engraçada e a garota explodiu em risadas. Severo lançou um olhar furioso para os dois.

Ted ergueu a taça em um brinde. “Quero agradecer a todos a apresentação gloriosa dessa noite. Nem posso imaginar o número de novos alunos que teremos. Devo tudo isso a vocês”. Todos brindaram, exceto Severo.

“Professor, dá má sorte não fechar o círculo”, disse Vanessa levantando a taça na direção dele. A cara amarrada ficou ainda pior, mas ele tocou sua taça contra a de Vanessa.

“Você vai me contar quem é e como obteve aquele cartão?”, perguntou Severo depois de provar o vinho. Ele olhou dentro dos olhos dela e continuou. “Não me diga que você é o Dumbledore usando algum tipo de poção polissuco”.

Vanessa riu. “Pode desistir dessa idéia. Você conhece bem o Alvo? A quanto tempo você ensina em Hogwarts? O Diretor parece ter um interesse especial por você”.

Aonde ela queria chegar? ”Eu preferiria que a senhora depositasse sua curiosidade sobre outra pessoa. Eu ensino turma após turma de alunos incompetentes há 20 anos. Mas isso ainda não responde a minha pergunta. Quem é você e de onde veio aquele cartão? E o que você quis dizer com interesse especial do Diretor?”, Severo rosnou.

Vanessa pensou um pouco como se pesasse sua decisão e olhou ao redor da mesa. Os outros estavam ocupados com assuntos paralelos e não pareciam se interessar neles. Severo sentiu uma onda de magia quando ela lançou um feitiço silenciador sobre eles. O que ela teria a dizer que precisava de tanto segredo? “Ajudaria se eu lhe dissesse que meu nome de solteira era Morgane? Vanessa Morgane?”

Severo encostou pesadamente na cadeira dura, completamente pasmo. Seus olhos estavam arregalados. Ele olhou ao redor e pensou que ela deveria ter lançado um feitiço de invisibilidade também. Sua mente voltou para outubro de 1980. Uma noite que ele nunca esqueceria.

Foi naquela noite que Severo contou a Dumbledore sobre dois ataques planejados pelos Comensais da Morte que aconteceriam nos próximos dias. O primeiro seria no final de semana seguinte em Hogsmead. Dumbledore manteve os alunos no castelo naquele sábado. Aurores e membros da Ordem foram espalhados por lugares estratégicos na vila a fim de evitar a ação. Tudo aconteceu segundo o planejado quando os Comensais aparataram até que duas bruxas entraram inadvertidamente no Três Vassouras e ficaram na linha de fogo. Uma das bruxas foi morta na hora e a outra ficou gravemente ferida. Dumbledore se culpou pelo que ocorreu às duas. Ele aparatou em St. Mungos com a segunda jovem enquanto os aurores capturavam os Comensais restantes.

Chegando ao hospital constatou-se que a bruxa estava à beira da morte e então Alvo doou três gotas do seu próprio sangue para a preparação de um poção extremamente rara que poderia salvá-la. O nome da jovem bruxa era Vanessa Morgane. Demorou vários meses até que ela se recuperasse completamente. Dumbledore a visitava regularmente no hospital. Várias vezes o Diretor lamentou a morte da outra jovem. Severo argumentou que ele salvou os alunos e também Vanessa. O que o Diretor respondeu naquele dia nunca mais seria esquecido: “Mesmo uma morte, é morte demais”. Ele não entendeu muito bem aquilo no momento, salvar tantos parecia muito mais importante do que uma única morte, mas ele agora entendia muito bem. Duas semanas após o ataque à Hogsmead, Líliam e Thiago Potter foram mortos criando uma cadeia de eventos que duraria os próximos dezessete anos.

Severo saiu do seu devaneio e olhou para Vanessa. Ela tinha ficado sentada calmamente olhando para ele. Ela sorriu e seus olhos brilharam mais uma vez. Será que ela recebeu algum dos dons do Diretor quando recebeu seu sangue? Severo engoliu em seco, “Quanto dos poderes de Alvo você herdou? Você é onisciente também?”

Vanessa riu, “Não como Alvo. Parece que eu exerço um efeito positivo sobre as pessoas que eu conheço e posso antecipar alguns eventos. Ted diz que é apenas intuição feminina. Eu não acredito que ele tenha me passado nenhum poder, mas eu devo minha vida a ele”.

Severo ainda não estava convencido. “Mas o brilho dos seus olhos...”

“Parece que isso foi um efeito colateral da poção”. O sorriso de Vanessa era gentil. “Ele me enviou o cartão hoje cedo, com instruções explícitas que eu o entregasse a você quando saíssemos da União de Estudantes. Eu não sabia o que iria acontecer”.

Severo ainda estava desconfiado, mas sua voz tinha perdido o tom sarcástico, “E o que ele fala de mim?”

Vanessa achou engraçada a curiosidade dele. Ela e Alvo ainda se encontravam uma ou duas vezes por ano. Eles tiveram uma longa conversa na última visita sobre Severo e a aposta. Dumbledore havia dito que Severo era um homem muito reservado, difícil de se conhecer, mas que tinha um bom coração. Ele considerava Severo como um filho. Alvo achava que ele era solitário e que ainda não havia se perdoado por seus erros passados. No final ele dissera que aprender o Tango seria uma forma dele se soltar e aproveitar mais a vida. “Ele não disse muito. Apenas que tinha certeza que você ficaria satisfeito por aprender o Tango. Ele o tem em alta estima”.

Severo recostou na cadeira. Ele sentiu novamente uma onda de magia quando ela retirou o feitiço.

As palavras dela pareceram surtir um efeito calmante sobre ele. Ou talvez fosse o vinho. A garçonete trouxe três enormes bandejas e as depositou sobre a mesa, magicamente três pizzas apareceram sobre elas.

“O que é essa aqui? Eu acredito que vocês a chamaram de...entulho?, perguntou Severo.

Hermione riu. “Entulho quer dizer, tudo: lingüiça, cebola, pimentão, presunto, cogumelos, azeitona, anchova, camarão, mexilhão, tomates e abacaxi”.

Severo visivelmente encolheu-se ao pensar na pizza de entulho e aceitou um prato com uma fatia de mussarela, outra de calabreza e um pouco de pão de alho.

“Na verdade, Alvo gostaria que você levasse para ele todas as sobras da pizza de entulho. É uma de suas favoritas”, disse Vanessa enquanto se servia de mais vinho.

“Você está me dizendo que eles não fazem pizza de bala de limão?” Ele olhou para os pedaços no seu prato relutante em pegar a comida com as mãos.

Hermione e Vanessa olharam uma para a outra e caíram na gargalhada. Hermione tinha os olhos molhados quando consegiu dizer, “Talvez eles pudessem acrescentar sapos de chocolate e feijõezinhos de todos os sabores. Ou bombons de licor e balas de goma. Eles poderiam chamá-la de Pizza Especial do Diretor”.

“O que você achou, Severo?”, perguntou Vanessa.

“O vinho está muito bom”.

“Eu acho que Vanessa perguntou sobre a pizza, professor”.

Severo virou-se para Hermione com um sorrisinho de desdém nos lábios. “Eu sei”. Ele tomou mais um gole de vinho. “A pizza é tolerável”. Ele nunca admitiria que havia gostado da refeição, enfim ele estava ali sob a mais sórdida coação.

A conta chegou e Ted a pagou. Com um movimento da varinha da garçonete o restante da pizza foi empacotado para viagem. Severo pagar a sua parte mas Ted recusou dizendo que era sua forma de agradecê-los pelo show.

Vanessa estendeu a Severo uma caixa gordurosa, “Você levaria isso para o Alvo?”

Severo olhou para o pacote com evidente desprezo. Ele retirou a varinha e balançou-a sobre a caixa. Imediatamente o pacote foi envolvido em plástico e depois diminuído a não mais que o tamanho selo. Certo de que a gordura não escorrreria, Severo colocou o caixinha no bolso.

O grupo deixou a pizzaria. Hermione virou para Snape, “Nossa próxima aula é na quinta. O senhor conseguirá chegar até o meu apartamento?”

Severo encarou a jovem, “Claro senhorita Granger, eu acredito que sou perfeitamente capaz de seguir suas instruções”.

“Senhorita Granger? Por que não tenta chamá-la de Hermione?”. Severo se virou para encarar Vanessa que acabara de fazer a sugestão.

Eles estavam parados do lado de fora da Pizzaria. Severo não sabia o que fazer. Ted e Vanessa estavam abraçando Hermione e os outros enquanto desejavam boa noite. Vanessa sorriu ao se virar para o professor e lhe estender a mão dizendo, “Foi muito agradável conhecê-lo, Severo”. O sorriso maroto não passou despercebido.

Severo pegou a mão da mulher e se curvou para beijá-la. A voz dele era suave quando ele disse, “Foi muito interessante, Vanessa”. O Professor poderia jurar que os olhos dela cintilaram de forma ainda mais intensa.

Ted e Severo se cumprimentaram com a cabeça. Com um ‘crack’ Vanessa e Ted desaparataram. Samantha se virou para Hermione e perguntou, “Você vem com a gente?”.

Hermione gritou para eles, “Vão andando, eu já encontro vocês”.

O Professor olhou interrogativamente para Hermione. “Eles moram na república de estudantes em frente ao meu apartamento. Boa noite, professor. Nos veremos quinta”.

Severo inclinou-se sobre Hermione. Por um instante a bruxa pensou que ele iria beijá-la, mas ele aproximou-se de sua orelha e sussurou. Um aroma de canela e pimenta-do-reino a invadiu. O hálito dele era quente. A voz era sedutora e produziu um arrepio no corpo dela quando murmurou, “Boa noite, Hermione”.

Severo se levantou. O ar ao redor deles parecia crepitar. Eles não desviaram os olhos. Severo balançou a cabeça num cumprimento de despedida, um leve sorriso brincando em seus lábios. E com um ‘crack’ ele se foi.

Hermione ouviu os amigos a chamando. Mas ela não se moveu, parecendo ter criado raízes naquele lugar, olhando para o espaço que o Mestre de Poções acabara de ocupar.

Hermione balançou a cabeça. “Oh, céus, eu estou com problemas”.

Continua...

***

Comentários da tradutora

Pessoal, desculpe a demora em postar esse capítulo. A minha única desculpa é que estava trabalhando na minha própria fic, "O Diário de Elizabeth" e acabei me descuidando da tradução. Prometo fazer um esforço extra para traduzir os próximos capítulos mais rapidinho.

Beijos para todos e MUITO obrigada pelos comentários.

Lu-black - muitas outras tiradas engraçadas virão nos próximos capítulos, espero que você se divirta.
Amanda- humor nunca é demais, certo?
Lara (que agora sei que não é Larinha)- esse capítulo é em sua homenagem

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