Com Quem Você Vai?



— CAPÍTULO DOZE —
Com Quem Você Vai?




Hermione encontrou-se com Gina na sala comunal, as duas tinham combinado de se arrumarem juntas. Como teria que se encontrar com Vítor Krum nos jardins, Hermione sugeriu que se vestissem no banheiro do primeiro andar. Além de ser mais perto da rua, ninguém aparecia por lá por causa do fantasma da Murta Que Geme, uma garota muito chata que chorava e se lamentava o tempo inteiro. As duas pegaram suas coisas e desceram.
Já no banheiro, Gina mostrou seu vestido. Era verde bem claro e muito bonito, com uma saia longa e rodada. Hermione, por sua vez, mostrou o seu. Era azul, cheio de babados e com um lindo decote abaixo da clavícula.
— Você precisava me ver comprando isso. — comentou ela, sorridente. — Fui à loja de Madame Malkin no Beco Diagonal, dizendo que queria vestes a rigor, e ela reclamou que estava quase em falta pois todos os alunos de Hogwarts de repente tinham começado a comprar vestes a rigor. Ela me mostrou todos os vestidos que ainda tinha, e foi realmente uma sorte ter achado este, porque os outros eram bem feios...
— Eu também tive sorte, — disse Gina. — porque este vestido é esplendoroso perto das vestes que a minha mãe comprou para o Rony... Simplesmente pavorosas...
— E Madame Malkin ainda me vendeu isto — Hermione comentou, tirando da caixa de onde tirara o vestido um pequeno frasco. — “Poção Capilar Alisante”, para o caso de eu querer dar uma mudada no penteado para quando fosse usar o vestido... — ela começou a ler os ingredientes na embalagem. — Que coisa mais simples; eu mesma poderia ter preparado.
Nas horas seguintes, as duas se vestiram, maquiaram e pentearam. A poção alisante teve um efeito fantástico; os cabelos de Hermione ficaram muito lisos e brilhantes, e ela os prendeu em um coque, com a ajuda de Gina.
— Nossa, Mione... Você está linda!
— Você também está, Gina...
— Não vão me convidar? — disse uma voz chorosa.
— Olá, Murta — Hermione cumprimentou. — Pensei que você não ia aparecer... Estava tão quieta...
— Eu acabei de chegar, na verdade. Sabe, eu tenho andado por outros banheiros do castelo ultimamente... Cada um é mais bonito que o outro! Aliás... Há banheiros em que há coisas muito mais interessantes para se ver do que vocês... — ela soltou uma risadinha aguda e sumiu dentro do boxe onde costumava ficar.
— Do que será que ela estava falando? — Gina perguntou.
Eram agora sete horas e quinze minutos, e Hermione não sabia se já deveria ir encontrar-se com Krum ou esperar um pouco mais. Gina ofereceu-se para espiar na porta da escola se já havia alguém da Durmstrang em frente ao lago, e voltou pouco depois dizendo que já estavam todos lá. As duas abraçaram-se antes de Gina seguir caminho para a torre da Grifinória e Hermione para os jardins.
Era ligeiramente complicado andar com o sapato que estava usando na neve, mas Hermione foi andando devagar, com cuidado, levantando a barra do vestido para que não ficasse molhada em contato com o gelo. Tão logo a viu, Krum adiantou-se à frente de seu grupo de colegas, sorrindo e com os olhos cintilando. Estendeu a mão para recebê-la quando ela aproximou-se.
— Você está linda, Hermy-on — disse ele, encantado.
— Obrigada — ela respondeu, corando.
Krum e seus colegas usavam vestes iguais; devia ser uma espécie de uniforme da escola para ocasiões formais. Consistiam em calças pretas e casacos grossos vermelhos, com uma faixa de pêlo transpassando o ombro.
— Focê não está com frrio? — disse Krum, desabotoando o casaco.
Hermione ia dizer que não, mas seria mentira. Com o frio que fazia, era loucura sair à rua apenas com aquele vestido leve que usava, com os ombros e os braços nus. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, porém, Krum estava vestindo nela seu casaco vermelho.
— Na horra de entrrar você tirra.
— Obrigada... — ela agradeceu, sem jeito.
Karkaroff vinha saindo do navio. Aproximou-se dos dois com um olhar frio e um sorriso forçado, dizendo:
— Mas que garota encantadora, Vítor! Apresente-nos, por favor...
Hermione notou uma hesitação breve de Krum, depois ele pousou a mão no ombro esquerdo dela e disse:
— Hermy-on, este é o prof. Karkaroff, dirretor de Durmstrang. Prrofessor, esta é Hermy-on Granger, estudante de Hogwarrts.
— Muito prazer, srta. Granger — disse Karkaroff, ainda fingindo mal sua empolgação.
O homem afastou-se, a seguir, ignorando completamente os outros alunos e seus pares. Hermione encarou os próprios pés, constrangida, com uma sensação ruim de estar em um lugar a que não pertencia. Krum deve ter percebido, pois tomou seu braço, dizendo:
— Vamos esperrar mais para lá, o prof. Karkaroff tem essa mania de... enfim, de me darr atençon a mais que os outrros, mas eu non gosto disso. Ele faz isso porrque eu sou jogadorr prrofissional de quadrribol, se o jogadorr da escola fosse outrro ele nem saberria que eu existo.
— Eu estava na final da Copa Mundial — Hermione comentou.
— Ah, focê estava? Torrcendo pela Irrlanda, imagino.
— É verdade... Mas você jogou muito bem.
— Pena que perrdemos...
— O Harry também é apanhador, ele adorou aquela sua manobra a... bem, não lembro o nome.
Os olhos de Krum anuviaram-se por um instante.
— Ele foa pem, o vi na prrimeira tarrefa. — comentou ele, com displicência; aparentemente Harry não era um assunto que o agradava.
Conforme o tempo foi passando, a noite começou a cair e a movimentação no saguão de entrada já era visível lá de fora. A decoração na entrada incluía estátuas de Papai Noel e suas renas, roseiras e fadinhas iluminadas sentadas sobre elas. Perto das oito horas, Karkaroff anunciou a todos que entrariam no castelo, e fez questão de pôr Krum e Hermione à frente de todos. Olhou torto para Hermione, e ela viu que Krum olhou feio para o professor, agarrando a mão dela numa atitude de defesa.
— Não esqueça do casaco, Vítor. — Karkaroff disse, como que para justificar-se.
Krum não olhou para Hermione nem fez menção de pedir o casaco de volta; olhava para a direção aonde Karkaroff fora com a expressão mais carrancuda que o normal e segurando ainda a mão dela com força.
— Ele tem razão — Hermione disse, tirando o casaco e entregando-o a um Krum contrafeito.
Tão logo os casais estavam todos enfileirados atrás de Hermione e Krum, Karkaroff se pôs a conduzi-los para a entrada. As portas de carvalho abriram-se e os alunos de Hogwarts e Beauxbatons que estavam no saguão viraram-se para olhar os de Durmstrang e seus pares entrando.
Hermione logo viu Rony, lembrando-se inevitavelmente do que Gina dissera sobre suas vestes; a roupa dele parecia um vestido, e na gola e na ponta das mangas estava desfiada. Padma Patil parecia bem infeliz ao lado dele, muito bonita em um vestido azul turquesa.
Num primeiro momento, Rony dirigiu a Hermione um olhar estupefato, uma mistura de surpresa com incredulidade. Logo depois, suas sobrancelhas e seus lábios crisparam-se em uma expressão de raiva muito semelhante à que fizera quando o nome de Harry surgiu do cálice de fogo.
— Campeões, por aqui! — disse a profa. McGonagall, que usava vestes vermelho-escuro.
Hermione e Krum aproximaram-se da professora junto com os outros três casais: Harry e Parvati, Cedrico Diggory e Cho Chang, e Rogério Davies, que jogava no time de quadribol da Corvinal, acompanhando Fleur Delacour, que Hermione teve de reconhecer que estava linda em suas vestes cinza-prateado. A professora ordenou que os oito esperassem ao lado das portas do salão principal enquanto as outras pessoas entravam, para que entrassem depois, em cortejo, quando todos já estivessem sentados.
Os olhos de Hermione encontraram os de Harry, que a olhava muito admirado. Parvati, ao lado dele e tão bonita quanto a irmã num vestido rosa-choque, também a olhava como se estivesse vendo a materialização de algo impossível.
— Oi, Harry! Oi, Parvati! — ela disse, sorrindo, e eles devolveram os cumprimentos.
As portas do salão principal foram abertas e todos começaram a entrar, passando por eles. Hermione viu passarem as fãs de Krum, olhando-a com desprezo; o casal Draco Malfoy, de vestes negras, e Pansy Parkinson, de rosa claro, seguidos de perto por Crabbe e Goyle, sem pares e vestidos de verde; Gina, que acenava, de braço dado com Neville; e até a colega Lilá Brown olhando-a torto, o braço enroscado no de Simas Finnigan. Viu ainda Rony, que passou reto por ela como se ela fizesse parte da parede, arrastando Padma pelo braço de má vontade.
Depois que todos já tinham entrado e se acomodado, os campeões entraram no salão com seus pares, recebidos por uma salva de palmas, indo sentar-se a uma mesa no fundo do salão, onde já estavam sentados os juízes: Ludo Bagman, Madame Maxime e Karkaroff, mas faltava Bartô Crouch. No lugar dele, estava sentado Percy Weasley, em vestes azuis. Hermione ouviu-o comentar que tinha sido promovido a assistente pessoal do patrão.
O jantar estava delicioso, mas Hermione comeu pouco pois estava absorta conversando com Krum. Ele contou-lhe detalhes sobre o castelo de Durmstrang, a pouca luz que tinham no inverno, o imenso frio que enfrentavam na Bulgária, entre outras coisas. Entrementes, ela tentou ensiná-lo a pronunciar seu nome corretamente.
— Her-mi-o-ne — dizia, claramente.
— Herm-on-nini — disse ele, fazendo o melhor que podia.
— Está bem parecido — ela disse, sorrindo.
Assim que todos terminaram de comer, Dumbledore levantou-se e ordenou que todos fizessem o mesmo. Com um aceno da varinha, fez as mesas afastarem-se até encostar nas paredes, e com outro fez surgir uma enorme pista de dança e um palco com instrumentos, onde As Esquisitonas subiram para tocar, usando vestes pretas propositalmente rasgadas. Começaram a tocar uma música lenta e triste, e os campeões tradicionalmente deviam ser os primeiros a dançar.
Krum parecia incomodado com a idéia, mas seguiu com Hermione e os outros três casais até a pista, onde começaram a dançar. Hermione pousou a mão esquerda no ombro de Krum, e a direita deu à mão esquerda dele, que com o outro braço envolveu-a pela cintura. Faziam movimentos circulares e lentos, sorrindo eventualmente um para o outro. Ela ainda observou os outros casais; Cedrico e Cho dançavam bem, mas Harry parecia apenas seguir desajeitadamente o comando de Parvati. Fleur tinha dificuldades, porque Rogério Davies parecia tão hipnotizado por ela que mal se movia.
A seguir outros casais juntaram-se a eles, enchendo totalmente a pista de dança. Hermione procurou furtivamente por Rony e Padma, mas não os viu dançando. Viu Malfoy e Pansy Parkinson, Gina levando pisões no pé de um desajeitado Neville, Moody e a profa. Sinistra, de Astronomia, e Dumbledore e Madame Maxime, muito desproporcionais um ao outro. A música seguinte era bem mais agitada, e Krum pareceu mais empolgado. Os casais desfizeram-se e as pessoas pulavam umas ao lado das outras, algumas até se empurravam. Quando terminou, Krum perguntou:
— Focê não está com sede?
— Estou sim — Hermione respondeu, ofegante de pular.
— Famos tomarr uma cerveja amanteigada? — ele perguntou, puxando-a pela mão, e ela concordou. — Esperre aqui que eu já volto.
Ao olhar para o lado, Hermione viu que estava parada bem perto da mesa em que Rony, Padma e Harry estavam. A cadeira de Parvati, ao lado de Harry, estava vazia. Sorrindo, ela andou até lá e sentou-se.
— Oi — Harry disse. Rony não demonstrou ter visto que ela estava ali.
— Quente, não acham? — ela disse sorrindo, abanando-se com a mão. — Vítor foi pegar bebidas, vocês...
— Vítor? — saltou Rony, subitamente virando-se para ela com uma expressão de fúria. — Ele ainda não pediu para chamá-lo de Vitinho?
Hermione ergueu as sobrancelhas, incrédula.
— O que com você?
Rony forçou um sorriso sarcástico.
— Se você não sabe, não sou eu que vou lhe dizer.
Ela não estava entendendo. Continuou olhando-o à espera de uma explicação, mas como ele continuasse calado, olhou para Harry, que deu de ombros, aparentemente tão surpreso quanto ela.
— Rony, o que...
— Ele é de Durmstrang! — Rony vociferou. — Está competindo contra Harry, contra Hogwarts! Você... você está... — ele procurava alguma palavra para dizer. — confraternizando com o inimigo! É isso que você está fazendo!
Hermione deixou o queixo cair. Do que ele estava falando? Rony ficara abismado quando Krum chegou, quisera até pedir um autógrafo, e agora o chamava de inimigo? Ele vibrara acompanhando a luta de Krum contra o dragão quase como se estivesse torcendo por ele! Comprara um boneco de Krum na Copa Mundial de Quadribol!
— Não seja tão burro! — disse, ainda confusa. — Francamente, quem é que queria um autógrafo dele e tem um modelinho dele no dormitório?
Rony não respondeu. Voltou a olhá-la no instante seguinte para perguntar, depreciativamente:
— Suponho que ele tenha convidado você quando os dois estavam na biblioteca?
Ela franziu o cenho. O convite dele na sala comunal teria sido melhor? Qual era a relevância de saber onde Krum a tinha convidado ou deixado de convidar?
— Isso mesmo, qual o problema?
— Como foi, você estava tentando convencê-lo a participar do fale, é?
O F.A.L.E., a biblioteca. Ele evidentemente queria criticá-la em cada aspecto que conhecesse sobre ela, e ela não conseguia entender o motivo.
— Não, não estava! Se você quer saber, ele disse que só estava indo à biblioteca por minha causa, para me ver. — ela sentiu o rosto corar, talvez num misto de raiva com vergonha.
— É... claro... — Rony disse, desdenhoso. — Isso é o que ele conta.
Havia uma insinuação no tom dele que o fazia assemelhar-se a uma velha fofoqueira.
— O que é que você quer dizer com isso?
— Não é óbvio? Ele está usando você para se aproximar de Harry, para prejudicá-lo ou conseguir informações! Karkaroff deve ter tido a idéia!
Hermione sentiu-se esbofeteada. Tremendo de raiva, disse:
— Para sua informação, ele não me perguntou absolutamente nada sobre o Harry!
— Então ele quer sua ajuda para decifrar a mensagem do ovo. Suponho que tenham andado juntando as cabeças naquelas sessõezinhas íntimas na biblioteca...
— Como é que você pode dizer uma coisa dessas? Eu nunca o ajudaria com o ovo; quero que Harry vença! Você sabe disso, não sabe, Harry?
— Você tem um jeito engraçado de demonstrar isso...
— Mas o torneio é justamente para conhecermos bruxos estrangeiros e fazermos amizade com eles!
— Não, é para se ganhar! — vociferou Rony, cada vez mais alterado.
Harry pôs a mão no braço do amigo e disse, em voz baixa:
— Rony, eu não tenho nada contra Hermione ter vindo com Krum...
Rony agiu como se Harry não tivesse dito nada; virou-se para ela com uma expressão de nojo e disse, desdenhoso:
— Por que você não vai procurar o Vitinho? Ele deve estar procurando você.
— Pare de chamá-lo de Vitinho!
Hermione ficou em pé, contendo ímpetos de avançar em Rony, que a olhava com um misto de ódio e satisfação, provavelmente por julgar que vencera a discussão. Ela afastou-se raivosamente, atravessando a pista de dança. Quando chegou ao outro lado, não era mais capaz de conter as lágrimas.

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