Procuram-se Pares



— CAPÍTULO ONZE —
Procuram-se Pares




Quando acordou, Hermione teve a impressão de que dormira pouco e mal, e consultando o relógio viu que ainda era cedo. De qualquer maneira, sua prioridade era falar com Vítor Krum o mais rápido possível, portanto vestiu-se e desceu para o salão principal, ainda bastante vazio devido à hora.
Decidira na noite anterior que o melhor que tinha a fazer era aceitar o convite de Krum e acompanhá-lo ao baile de inverno, especialmente depois do que ele dissera sobre ir à biblioteca na esperança de vê-la. Além disso, ela não gostava de admitir que isso contara na decisão, mas não poderia pensar em um par que pudesse deixar Rony mais irritado.
Hermione sentou-se à mesa da Grifinória, atenta à chegada dos alunos de Durmstrang. Ela já terminara seu café da manhã havia algum tempo quando eles apareceram e sentaram-se à mesa da Sonserina, Krum afastado de todos a uma ponta da mesa, como de costume. Hermione tomou coragem e levantou-se. Deu a volta por entre as mesas das casas e aproximou-se dele, que sorriu apreensivo ao vê-la.
— Bom dia, Vítor — disse ela, encabulada. — Podemos conversar?
— Clarro, Hermy-on.
Ela sentou-se ao lado dele e começou, envergonhada:
— Bem... o que eu quero dizer é que, bem, sobre o convite que você me fez ontem à noite... Eu não respondi na hora, pois você realmente me pegou de surpresa. Na verdade, eu vim dizer que eu aceito, eu adoraria ir ao baile com você.
Ele abriu um sorriso enorme, que ela nunca teria imaginado naquele rosto, normalmente tão carrancudo. Ela descobriu inclusive que era um sorriso muito bonito. Sentiu suas faces esquentarem e a gravata do uniforme subitamente pareceu apertada demais.
— Que pom, fico realmente feliz... — disse ele, sem jeito.
— Bem... Era isso o que eu queria dizer. Acho que já vou indo...
Ela levantou-se, completamente encabulada. Despediram-se com um breve aceno e ela saiu correndo para fora do salão principal.
Durante a aula daquela manhã, Hermione ouviu conversas de Rony e Harry que davam a entender que eles pretendiam arranjar pares até o final do dia. Ela comentou isso com Gina na hora do almoço, quando já estavam sentadas juntas à mesa da Grifinória.
— Harry vai convidar Cho... — Gina disse, com desânimo. — E ela vai aceitar. Já reparei que ela também se interessa por ele.
Hermione franziu o cenho. Não sabia se Cho demonstrava interesse por Harry ou não, mas provavelmente Gina prestava mais atenção do que ela. Seguindo a linha de raciocínio da amiga, disse:
— Rony vai convidar Fleur Delacour, suponho. — ela empregou um desdém forçado no tom. — Gostaria de ver isso, porque ela certamente não vai querer nada com ele, não é?
— Mas será que ele não vai convidar você?
Ela lembrou-se do comentário do garoto: “não queremos ir com um par de trasgos”.
— Ora, mas se ele me convidasse eu não aceitaria de jeito nenhum.
Gina franziu o cenho, com incredulidade. — Até porque... já fui convidada por alguém.
— Quem? — Gina parecia muito mais animada agora.
— Vítor Krum. — ela contou mais detalhes sobre o convite.
— Nossa... Ele parece muito interessado. — disse Gina servindo mais suco de abóbora em seu copo. — Acho que o Rony é que não vai ficar muito feliz em descobrir que o ídolo dele vai levar você ao baile.
— Você acha? — Hermione perguntou com fingida inocência.
Alguém a cutucou no ombro naquele momento, e ela virou-se para olhar; Neville sorria, encabulado.
— Oi, Hermione...
— Oi, Neville, tudo bem?
— Tudo bem... Ahm... Bem, eu estive pensando, você sempre foi minha amiga, sempre me ajudou nos deveres de Poções e... bem, eu pensei se... enfim... Você quer ir ao baile comigo?
Hermione sorriu, comovida.
— Sinto muito, Neville... Eu iria, mas já tenho par.
Ele sorriu, um pouco desapontado, mas virou-se para Gina com novo ânimo.
— Você já tem par, Gina?
A garota sorriu.
— Na verdade, não...
— Bem... Será que... Será que você iria comigo?
— Claro... Claro, Neville.
— Ah, obrigado! — disse ele, muito animado agora. — Ahm, tchau, Gina, Hermione...
Ele afastou-se, e as duas sorriram uma para a outra.
— Pelo menos minha mãe não terá comprado aquele vestido em vão...

Naquela tarde, a aula de Poções foi especialmente longa e tediosa. Snape estava mais implicante do que nunca com os alunos da Grifinória, mas nem se importava que Draco Malfoy e Pansy Parkinson conversassem, totalmente alheios à matéria.
Hermione ainda surpreendia-se com a revolução que o baile estava promovendo na escola; desde que Malfoy convidara Pansy para acompanhá-lo, os dois andavam pela escola como se fossem casados. Ela, na verdade, nunca escondera seu interesse pelo garoto. Como alguém poderia ter tanto mau gosto? Entrementes, lançava olhares furtivos a Rony, imaginando-o humilhado por Fleur Delacour.
Quando o professor finalmente liberou os alunos, Rony e Harry separaram-se e foram cada um para um lado; Hermione imaginou que iam procurar seus “alvos”. Ela ainda subiu à torre da Grifinória para deixar seu material antes de descer para o jantar.
Esperou pelos amigos enquanto comia, no salão principal, mas eles não apareceram. Voltou sozinha à sala comunal, onde os encontrou rindo de alguma coisa, sentados, enquanto Gina estava em pé, com os braços cruzados.
— Por que vocês dois não foram jantar? — perguntou.
Como os dois continuassem a rir, Gina respondeu:
— As garotas que eles convidaram acabaram de recusá-los. — ela lançava-lhe um olhar cheio de significado. Ao som dessas palavras, os dois pararam imediatamente de rir.
— Obrigado, Gina — Rony disse, sarcástico.
Hermione sorriu; entendera exatamente o que Gina quisera lhe dizer com aquele olhar. Então Rony realmente tentara convidar Fleur. Aproximou-se dele, incapaz de se conter, e disse, ainda sorrindo:
— Quer dizer então que todas as garotas bonitas estão ocupadas, Rony? Heloísa Midgen está começando a parecer bem bonita agora, não está? — o garoto não a olhava; devia estar envergonhado, derrotado. — Mas tenho certeza de que vocês vão encontrar, em algum lugar, alguém que os queira.
— Mione... — disse ele, agora com os olhos fixos nela, mas não ofendido como ela esperava. — Neville tem razão, você é uma garota.
Ela franziu o cenho, incapaz de acreditar no que achava que ele estava prestes a fazer.
— Bem observado — disse, lentamente.
— Então, você poderia ir com um de nós!
"Um de nós", "você é uma garota". Por algum motivo, as palavras doíam nela.
— Não, eu não posso. Vou com outra pessoa. — disse, secamente.
— Não vai, não! — retrucou ele, com um súbito desespero. — Você só disse isso para se livrar de Neville!
— Ah, foi? — Ela perguntou, sentindo os olhos começando a lacrimejar, de pura raiva. — Só porque você demorou três anos para reparar, Ronald, não significa que ninguém mais tenha percebido que sou uma garota!
Ele arregalou os olhos por um momento, depois sorriu.
— Certo. Sabemos que é uma garota. Satisfeita? Vai com um de nós agora?
Havia ainda resquícios daquele desespero na voz dele, mas ele forçava um sorriso. Hermione conteve ímpetos de pular no pescoço dele.
— Já falei! Vou com outra pessoa! — gritou, saindo em disparada para o dormitório, onde trocou-se raivosamente e deitou para chorar algumas lágrimas cheias de ódio.


Praticamente todos os alunos se inscreveram para permanecer na escola durante as férias de final de ano, por causa do baile de inverno, que era ainda o assunto mais comentado entre os alunos. Havia boatos de todos os tipos sobre a festa, mas o único que fora confirmado era a contratação da banda As Esquisitonas, que era um grande sucesso, mas Hermione não conhecia pois nunca ouvira a RRB, Rede Radiofônica dos Bruxos.
Hermione ficou extremamente magoada com Rony por só ter tentado convidá-la como última opção; preferia que ele nem tivesse tentado. Soube depois por Parvati que, enquanto ela mesma iria com Harry, o par de Rony seria sua irmã gêmea, Padma. De qualquer maneira, depois da discussão, não deixaram de se falar. Rony inclusive desenvolvera uma obsessão por descobrir quem era o par de Hermione, e não parava de assediá-la, sempre com a mesma pergunta. Ele não parecia disposto a desistir; mesmo depois de todas as vezes que ela negou a resposta, na última semana antes do baile ele continuava perguntando.
— Mione, com quem você vai ao baile?
— Já disse mil vezes que não vou contar. Você iria caçoar de mim.
— Você deve estar brincando, Weasley — disse a voz fria e arrastada de Draco Malfoy. — Está dizendo que alguém convidou isso para o baile?
Rony e Harry viraram-se para o garoto, mas Hermione teve uma boa idéia; fingiu acenar para alguém logo atrás de Malfoy, dizendo:
— Olá, prof. Moody!
Malfoy empalideceu instantaneamente, pulando para trás. Rony e Harry gargalhavam. — Que doninha nervosa você é, hein Malfoy? — ela disse com desprezo, começando a subir as escadas com Rony e Harry logo atrás, os três dando boas risadas.
— Ei, Mione... — disse Rony, de repente. — Os seus dentes... estão diferentes.
— Claro que estão; você achava que eu ia ficar com eles daquele jeito que Malfoy tinha deixado? — disse ela, fingindo que não sabia do que ele falava.
— Não é isso... eles estão diferentes do que eram antes de ele lançar o feitiço. Estão menores e bem retos...
— Ah, sim — ela sorriu, contando como deixara Madame Pomfrey diminuí-los um pouco mais.
No instante seguinte Pichitinho surgiu com a resposta de Sirius, e os três correram para lê-la na torre da Grifinória.
Na carta, Sirius parabenizava Harry pelo sucesso na primeira tarefa, dizendo que o feitiço que ia sugerir era o Conjuctivitus, que tinha sido o que Krum usara. Por outro lado, lembrava ao afilhado que ele ainda tinha duas tarefas pela frente, e que se a pessoa que colocara o nome dele no cálice de fogo tinha realmente a intenção de machucá-lo, ainda teria muitas chances. Sirius ainda pedia que ele tomasse cuidado e continuasse a informá-lo de tudo o que estivesse acontecendo em Hogwarts. O garoto ficou um pouco irritado.
— Ele parece o prof. Moody falando... Vigilância constante! Eles pensam que eu ando por aí de olhos fechados, é?
— Mas Harry, — retorquiu Hermione — eles têm razão. Aliás, eu acho que você deveria tentar logo desvendar a pista do ovo.
O ovo de ouro que Harry obtivera na primeira tarefa tinha uma abertura, e Bagman tinha dito aos campeões que dentro deles havia uma pista para a realização da segunda tarefa. Tudo o que acontecia ao abrir o ovo, porém, era libertar um som extremamente estridente, parecido com centenas de unhas arranhando com força um quadro negro.
— Mas ainda falta um tempão para a segunda tarefa! — Rony disse.
— E eu não posso tentar me concentrar naquilo com esse barulho todo — defendeu-se Harry, indicando os colegas na sala comunal, que estavam falando muito alto.
Hermione suspirou, concordando, e a seguir assistiu aos dois enquanto jogavam uma partida de xadrez de bruxo.


Na manhã de Natal, Hermione foi acordada pelo barulho de batidinhas insistentes no vidro do dormitório. Virando-se para olhar, viu que era uma coruja e foi abrir a janela. A ave trazia uma caixinha, e tão logo a garota a pegou, a coruja retomou seu caminho em direção à rua gelada. Hermione tornou a fechar o vidro e voltou para a cama para abrir a caixa. Havia dentro dela uma linda pena azul-celeste e um bilhete, que dizia:

“Hermione
Queria mandar um recado a você e aproveitei para mandar junto um presente simples, pelo Natal.
O prof. Karkaroff pediu a mim e aos meus colegas que nos encontrássemos com nossos pares em frente ao navio, nos jardins, então gostaria de pedir a você que se encontrasse comigo lá, em frente ao lago, um pouco antes das oito horas, se não se importar.
Feliz Natal, nos vemos à noite.
V.K.”


Ela releu o bilhete. Imaginou Krum dizendo aquelas palavras, com os ombros encurvados e passando a mão pela cabeça, nervoso, o rosto vermelho como um pimentão. A pena era realmente linda, mas ela sentiu uma sensação estranha ao receber um presente do garoto, que afinal de contas mal conhecia. Guardou o bilhete e a pena de volta na caixa e guardou-a em seu malão. Trouxe para cima da cama os outros presentes que ganhara, e sentou-se para abri-los. Bichento, que estivera ao lado da cama lambendo-se, subiu em seu colo, enroscando-se em seus braços e ronronando.
Abriu primeiro o presente que viera de casa, reconhecível pelo pacote tipicamente trouxa. Eram livros, mandados pelos pais, que sabiam exatamente quem eram seus autores trouxas preferidos, além dos bruxos. Emocionou-se ao ler a carta saudosa deles que viera junto. O segundo foi o de Hagrid; um par de luvas de pele de dragão para ela usar no trato com explosivins, já que se queimara na última aula de Trato das Criaturas Mágicas, fazendo o amigo sentir-se imensamente culpado.
O terceiro presente que Hermione abriu foi o de Harry, um porta-retrato com desenhos de elfos domésticos na moldura. Embora tivesse um certo tom de brincadeira por causa dos elfos, ela achou lindo e pôs na mesa-de-cabeceira, para futuramente colocar uma foto. Ela ganhou ainda um suéter da Sra. Weasley, desta vez com um gato laranja bordado, que ela imaginou ser Bichento, já que a mãe de Rony tinha adorado seu gato. Por fim abriu o de Rony, que era uma caixa cheia com os doces da Dedosdemel de que ela mais gostava.
Já vestida, Hermione desceu para a sala comunal, pela qual Dobby passava, vindo do quarto dos meninos. Chamou o elfo antes que ele se fosse.
— Senhorita, como vai? — disse ele, sorrindo. — Feliz Natal!
— Feliz Natal, Dobby. Veio ver Harry?
— Sim, Dobby ganhou presentes de Harry Potter e de Rony Weasley, aquele grande bruxo amigo de Harry Potter. — ele mostrou, orgulhoso, dois pares de meias velhas e o suéter que Rony devia ter ganhado de sua mãe, pois era marrom e tinha bordada uma grande letra “R”.
Hermione censurou os amigos em pensamento pelas meias velhas. Tirou do bolso dois sapos de chocolate que tinham vindo na caixa que ganhara de Rony e entregou ao elfo.
— São sapos de chocolate.
— Sapos? Daqueles que pulam e ficam nos lagos e...
— Não, não são de verdade. Eles se mexem, mas porque são encantados. Aliás, quando abrir a embalagem, segure-o bem para ele não fugir. Prove um.
Um tanto receoso, Dobby abriu um dos sapos e segurou-o de mau jeito pela perna quando ele quase fugiu aos pulos. Hesitante, colocou-o na boca, mas assim que o mastigou, estampou no rosto um grande sorriso.
— É delicioso, senhorita! Muito obrigado!
— Não tem de quê, Dobby.
— Dobby já vai indo; precisa ajudar na cozinha.
O elfo acenou e, com um estalo, sumiu. Pouco depois, Rony e Harry apareceram e os três desceram ao salão principal para tomar café.
Aquele dia pareceu arrastar-se. Depois do café, os alunos voltaram às salas comunais para esperar o almoço, que como sempre nos Natais, foi magnífico. A decoração natalina da escola estava mais caprichada do que nunca, e a comida estava deliciosa.
À tarde, Hermione foi com Harry, Rony, Fred e Jorge para os jardins, que estavam cobertos de neve. Os meninos fizeram guerra de bolas de neve, da qual ela preferiu abster-se. Às cinco horas, informou-os de que iria voltar para o castelo e se arrumar.
— Você precisa de três horas? — perguntou Rony, distração essa que lhe custou uma bolada de neve na orelha. Como Hermione continuasse a se afastar sem responder, ele gritou, numa última tentativa: — Com quem você vai ao baile?
Ela virou-se, com um sorriso esboçado no rosto, e simplesmente acenou antes de retomar o caminho em direção ao castelo.

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