As Mosqueteiras em Londres

As Mosqueteiras em Londres



Capítulo 10. As Mosqueteiras em Londres


:McKinnon:


- Hum, eu adoro poder me esticar novamente - fez Andy, se espreguiçando largamente, a despeito do intenso tráfego de pessoas na Estação King's Cross.


- Preciso de um pouco de cafeína - resmunguei, sonolenta.


- Já estão se queixando - advertiu Lílian. - Procurem um banheiro, enquanto eu estudo nossa rota para a casa de Andy.


Andy pegou a mão de Aine e as duas caminharam em direção a uma porta com uma enorme placa azul com o símbolo universal que queria dizer "banheiro feminino". Eu não sentia a menor vontade de segui-las e fiquei esperando com Lily. Assim que elas voltaram, seguimos para um canto perto da plataforma oito, onde podíamos falar razoavelmente baixo e sermos entendidas.


- Hum, eu pensei em irmos de ônibus. É mais seguro que o metrô... - começou Lílian, desdobrando um mapa de Londres diante de nós.


- Mais seguro- indaguei, imaginando o que o metrô poderia ter de perigoso.


- Você ficaria surpresa com a quantidade de bruxos que anda de metrô - disse Lily, sem me dar muita atenção. - Podemos pegar a linha 233 ou a 789 - anunciou. - Ou podemos simplesmente estender as varinhas e pegar o Nôitibus.


- Qual é o melhor percurso- perguntei.


- O Nôitibus, claro- interveio Andy, pulando de ansiedade.


Aine se esticou na ponta dos pés para dar uma olhada no mapa.


- O Nôitibus seria legal - falou, olhando receosa para mim. - O chocolate deles é ótimo.


- O melhor é pegarmos a linha 233 - concluiu Lílian, para completa decepção de nós três, que já ansiávamos pela tumultuada viagem no ônibus bruxo. Ela percebeu nosso desagrado, pois logo acrescentou- Quanto menos pessoas nos virem e puderem nos reconhecer, melhor.


Com esse argumento definitivo, nós quatro puxamos os capuzes para cima das cabeças e levantamos as golas dos casacos, seguindo para o frio de fora da estação. Paramos junto a um ponto de ônibus e esperamos, todas juntas e muito próximas para nos mantermos aquecidas.


- Se Jones não contou a ninguém, ainda não sabem que sumimos - murmurou Lily, depois de alguns minutos de espera.


Todas concordamos, afinal, eram apenas nove horas da manhã. Não havia motivo para ninguém se preocupar com a nossa ausência - ainda.


O ônibus amarelo parou diante de nós e embarcamos. Lílian cochichava constantemente:


- Não dêem a impressão de que estão perdidas. Ajam naturalmente, como se já tivessem feito isso centenas de vezes.


O ônibus partiu e ficamos todas encolhidas, divididas duas a duas em dois bancos, cada uma demonstrando sua ansiedade de uma maneira. Eu estava constantemente mexendo nos cabelos e nas roupas, enquanto Andy, ao meu lado, balançava os pés molhados, espalhando pequenas gotas por todo o piso do ônibus. Lílian estava novamente examinando seus mapas e falando sozinha e Aine olhava para a janela com um ar um tanto quanto incrédulo.


Saltamos sem que nem mesmo a cobradora tivesse nos olhado duas vezes.


- Ela não podia mesmo se importar nem um pouco com quem somos - justificou Aine enquanto andávamos pela calçada escorregadia. - Deve ser um trabalho muito chato.


Andy nos acompanhava olhando para tudo com um ar maravilhado, arregalando os olhos para postes de luz e caixas de correio. Era difícil entender como uma pessoa poderia ficar assim andando pelas proximidades de sua própria casa.


- Ninguém me deixa andar por aqui - ela nos disse. - Eu não sabia que a Londres dos trouxas era tão... linda- exclamou, apontando para um anjo de plástico que guardava a entrada de um jardim.


Ela saltou na frente, correndo alvoroçada em direção a um enorme cartaz colorido que anunciava a temporada de uma companhia de teatro.


- Ah- fez, encantada.


É só o anúncio de um musical - resmungou Lílian.


Andy avançou um pouco mais e ameaçou escorregar, se apoiando pesadamente no meu ombro.


- Ai!


- Desculpe - fez ela, sem olhar para mim. Parecia hipnotizada pelo cartaz. - O que é um musical?


- Um tipo de teatro - falei.


- Oh, sim... - murmurou ela. Depois, como se tivesse lembrado de algo importante, se virou para Lílian, que estava novamente examinando o mapa, e perguntou- Mas o que é teatro?


Lily ergueu a sobrancelha e mirou o cartaz por alguns instantes antes de responder:


É como um filme.


- Ah... e o que é um filme?


Lílian olhou para mim esperançosa e Aine puxou meu braço querendo uma explicação também.


É um grupo de pessoas que encenam uma história - respondi, da maneira mais simplista que encontrei.


Mas isso pareceu satisfazer Andy, que voltou a mirar a propaganda, os olhos brilhando de admiração. Aine a acompanhou, estendendo a mão para dar um cutucão na imagem, talvez imaginando por que não se mexia.


- E quem são essas pessoas- indagou, apontando para a imagem de três mulheres fazendo beicinho abaixo do letreiro.


- São as atrizes - falou Lílian. - Atores e atrizes são as pessoas que encenam o teatro e os filmes. Nunca falaram sobre isso nas aulas de Estudo de Trouxas?


Andy balançou a cabeça negativamente.


- Eu quero ser uma atriz algum dia - murmurou ela, antes que finalmente conseguíssemos puxíla de volta para o caminho.


- Eu também - falou Aine, animada.


- E eu vou assistir vocês - completei.


Aine se virou para Lílian e indagou:


- E você?


- Ah... serei a empresária de vocês.


Todas rimos e continuamos andando.


:Andy:


Estávamos já muito perto da mansão Black e o sol começava a esquentar sob nossas cabeças. O gelo na calçada começava a derreter, o que tornava o caminho mais escorregadio. Lily não parava de repetir para andarmos devagar, usando aquele tom de entendida dela para explicar que tudo que não precisávamos era que uma de nós ficasse sangrando na calçada - dramática essa minha amiga.


Pouco depois de encontrarmos o lindo cartaz das atrizes (coisa mais bonita que eu já vi!), tivemos um sobressalto sobre a forma de um policial uniformizado muito alto nos abordado com o cacetete em riste. Trocamos olhares medrosos e eu murmurei um "Essa não...". O Largo Grimmauld fica bem próximo ao centro de Londres, há poucos quarteirões do prédio do Ministério da Magia. Se aquele guarda fosse um segurança do Ministério disfarçado, tudo estaria acabado para nós. Só teríamos chegado até Londres em nossa viagem.


- Não podemos dar informações, somos turistas - Lílian se adiantou em responder, numa pressa que eu achei que custaria nossa chegada à Escócia.


- Não... - fez o guarda, confuso. - Eu só queria saber que horas são.


Marlene mirou os ponteiros do próprio relógio e respondeu:


- Dez e quinze.


Satisfeito com a resposta o guarda se afastou e soltamos as respirações todas ao mesmo tempo. Voltamos a andar, com Lílian se virando para trás a todo minuto. Dobramos uma esquina e ela ainda passou um momento mirando a rua que deixáramos antes de nos seguir.


- Tudo bem - murmurou ela. - Ele não está nos seguindo.


- Francamente... como se os guardas de Londres não tivessem nada mais com que se preocupar além de garotas fujonas - falou Marlene.


É muito cedo para já terem uma descrição nossa no Ministério - avaliei.


- A menos que Héstia tenha nos entregado ainda ontem à noite - Aine tremeu levemente ao levantar a possibilidade.


- Eu só acho que temos que nos manter alertas - retrucou Lílian, voltando a desdobrar o mapa. - Só precisamos andar mais alguns minutos.


Faltava pouco para as onze horas quando paramos em frente a um terreno baldio. O Largo Grimmauld nº 12 se estendia diante de nós. Lílian mirou confusa o mapa e olhou para mim, provavelmente se perguntando se errara o caminho.


- Bem vindos à mansão Black - falei, sorrindo.


Aine se encolheu ao meu lado e Lílian passou o braço pelo seu ombro. Marlene riu dessa reação e esclareceu:


- A casa está desiludida.


- Oh, perfeito- Lílian nos lançou um olhar impaciente. - Não poderia ter dito isso antes? Como exatamente pretendem entrar?


Eu e Marlene trocamos olhares cúmplices e avançamos pelo jardim - um amontoado de mato, lixo e pneus velhos , contornando uma faia morta para seguirmos pela lateral do terreno. Lílian e Aine continuaram paradas na calçada.


- Vamos - chamei.


A contra gosto, elas nos acompanharam até onde deveria ser o quintal da casa, que fazia fronteira com um matagal mais fechado. Ali, junto a uma velha e mal cuidada cerca viva, se erguia um barracão de madeira.


- A moto está aqui dentro - anunciei e a primeira reação de Lílian foi mirar o cadeado enferrujado que trancava a porta do depósito.


- Hum - fez Aine - como vamos entrar?


- Podemos abrir com mágica- indagou Lily.


- Na verdade não - respondi. - O cadeado provavelmente ficaria bravo se tentássemos abri-lo sem a chave e faria um escândalo.


Todas elas me lançaram olhares curiosos e eu sorri encabulada. Obviamente minhas amigas não sabiam o quão inventivos Sirius e seus amigos poderiam ser.


- A chave fica com o meu pai. Esperem aqui que eu vou lá pegar - e já ia andando em direção à casa (que só eu e Marlene sabíamos onde estava), quando Lílian me agarrou pela gola das vestes e me conduziu para trás do barracão, chamando as outras para nos seguirem.


- Ficou maluca, Andy? Sua família não pode saber que estamos aqui!


Eu pisquei, percebendo que ela estava certa. Meus parentes podiam ser péssimos anfitriões quando queriam e, bem, não era segredo para ninguém que grande parte dos Black não se incomodava de discutir uma boa teoria racista no meio do jantar ("Sim, morte aos trouxas... me passe a salada, por favor").


- Onde seu pai guarda as chaves da casa- indagou Marlene, com uma expressão pensativa.


- Ele as deixa na capa de viagem pendurada no cabide perto da porta do quarto. Foi lá que eu o vi pôr as chaves quando Sirius foi embora. E, como ninguém nunca vem aqui, suponho que ainda estejam lí respondi.


- Vai entrar e roubar seu próprio pai- engasgou Aine.


- Vamos - Marlene respondeu por mim, fazendo aquela cara de determinação cega que me fazia lembrar o quão louca ela podia ser.


- Vão chamar a polícia - Lílian também estava apavorada. - Até agora não fizemos nada muito grave, mas roubar é...


- Calma, Lily - falei, tentando parecer confiante. - Duvido que alguém sinta falta da chave.


- Mas roubar... - Lily ainda nos fitava sem crer que estávamos mesmo querendo fazer aquilo.


Eu parei por um minuto, imaginando a cena de meu pai tentando explicar ao simpático policial que nos parara mais cedo que sua filha roubara uma moto de sua propriedade. "Não", pensei, meu pai nunca chamaria a polícia, nem mesmo agentes do Ministério. Não ia querer mais um escândalo. Provavelmente nem ia ligar, já que, por ele, a moto de Sirius já devia ter sido destruída depois que ele tinha se mandado.


Voltei à realidade com Marlene me puxando pelo braço em direção à frente da casa.


- Tomem cuidado - falou Lílian quando já tínhamos nos afastado delas bem uns dez passos. - Se pegarem vocês, desistam. Eu e Aine podemos ir para minha casa e vai ficar tudo bem.


- Não vamos desistir - assegurou Marlene.

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