Cruciatus



Hermione vagava pelos corredores frios e escuros de Hogwarts sentindo as lágrimas invadirem seu rosto. Há muito tempo tinha sua esperança reduzida, mas agora ela era praticamente inexistente. Não poderia mais ajudar seus amigos na busca por Voldemort, nem deixar aquele castelo vazio. E, para completar, era refém do homem que assassinara Alvo Dumbledore. Ela tinha medo.
Ao mesmo tempo, sentia-se estranhamente reconfortada. Antes de encontrar Snape, estava completamente sozinha e aquela sensação era terrível. Mas agora ela estava um pouco melhor, sentia-se protegida pelo seu professor. Havia também mais um detalhe a favor: pelo bem ou pelo mal, os ensinamentos de Snape poderiam ser mais do que úteis num futuro próximo, quando ela deixasse o castelo e finalmente se juntasse a seus amigos na guerra.
Ela passou pelos portões do castelo e suspirou. Já tinha tentado abri-los antes e, mesmo sem saber como, eles estavam trancados. Continuou seguindo pelo corredor até chegar numa grande janela. Sentou-se no chão e ficou observando o lindo pôr-do-sol de outono, imaginando como era feliz e não sabia na época em que corria por aqueles gramados.
- Está na hora. Siga-me.
Hermione tomou um grande susto quando foi arrancada de seus devaneios pela voz grave de Snape, que surgira de lugar nenhum. Ela sempre fazia isso; desaparecia por dias e noites, retornando subitamente, num passe de mágica.
Quando se recompôs, levantou e começou a andar atrás de seu novo mestre. Ele não fez o caminho habitual até o andar de seu esconderijo, mas subiu as escadas até chegar numa sala vazia e espaçosa.
- Pegue sua varinha.
Ela obedeceu e ele também tirou a varinha de suas vestes. Hermione percebeu que ele não olhara para ela sequer durante um segundo, parecendo profundamente aborrecido por estar ali.
- Faça exatamente o que eu disser e não me questione.
Snape seguiu até uma velha gaiola quase oculta pelas sombras e abriu sua portinhola enferrujada com um estrondo. Hermione sentiu seu sangue gelar, sem imaginar o que estava por vir. O professor retornou à parte iluminada da sala com um morcego de médio porte empoleirado em seu ombro esquerdo.

Ainda sem olhar para sua aluna, ele tirou o morcego do ombro e colocou-o no parapeito da janela. O pobre animal olhava para os dois humanos em sua frente sem imaginar o que estava acontecendo.

Tudo aconteceu muito rapidamente. Snape conjurou uma corrente que prendia a perna no animal à parede e deu alguns passos para trás, apontando sua varinha para o mesmo.

- Crucio!

Hermione soltou um grito de desespero e quis correr em direção ao morcego, mas Snape segurou seu braço com força e a reteve onde estava. Ela ficou olhando com profundo desgosto o animal se contorcer por alguns segundos, depois fechou os olhos com força e tapou-os com as mãos.

- Finite Incatatem!

Os guinchos do morcego cessaram. Snape virou-se de frente para Hermione e puxou suas mãos para longe dos olhos bruscamente.

- Em toda minha vida, nunca vi uma pessoa tão fraca. Esperava muito mais de você, Granger.

Ela se desvencilhou do professor cheia de fúria.

- Eu não sou cruel como você! Não me sinto bem por fazer os outros sofrerem!

Snape continuou sério. Foi até o morcego e tocou nele de leve com a varinha, verificando se ainda estava vivo. O bicho se mexeu lentamente, então Snape murmurou algum feitiço que fez com que ele se recuperasse um pouco, ficando de pé com alguma dificuldade.

O professor voltou para onde estava Hermione e olhou fixamente para ela sem falar nada. Apontou então com a varinha para o morcego, ainda olhando para ela.

- Sua vez.

Hermione abriu a boca de tanto espanto. Não podia acreditar que Snape realmente achasse que ela aplicaria uma maldição imperdoável, principalmente numa criatura inocente.

- Isso é loucura. Não vou lançar uma mald...

- Granger! – interrompeu ele rispidamente. – Eu deixei claro no início dessa aula que você não deveria me questionar.

- Você tem idéia do que está me pedindo?

- O que você achou que fosse aprender? Feitiços bobos que costumavam ensinar nessa escola? Não! Estou te ensinando tudo que você vai precisar saber quando sair daqui. Foi-se o tempo em que livros e notas altas significavam alguma coisa.

Os dois ficaram em silêncio por vários segundos. O único barulho que preenchia a sala era aquele que vinha do pobre morcego.

- Feche os olhos – disse Snape, finalmente.

Hermione olhou para ele com insegurança, mas suas últimas palavras faziam algum sentido. Achou melhor seguir a orientação do professor, talvez sua sobrevivência dependesse disso. Fechou os olhos.

- Erga sua varinha.

Ela levantou o braço direito trêmulo, sem saber para onde mirar. Snape segurou a mão da garota e a direcionou para que o feitiço acertasse no morcego.

- Agora pense em algo que te dê raiva. Muita raiva.

A garota tentou buscar algum momento de sua vida que tenha feito com que ela realmente sentisse raiva. Pensou na discriminação que os elfos domésticos sofriam, depois lembrou-se das brigas com Rony e dos insultos de Malfoy. Engoliu em seco.

- Diga o feitiço.

Ele sentiu uma gota de suor escorrer de sua testa apesar do frio. Tentou não pensar naquele pobre animal e mentalizar sua raiva.

- Crucio!

Sua voz estava fraca e trêmula. Snape observou com um profundo ar de desaprovação os tênues raios que saíram da varinha de sua aluna.

- Não, não! É muito pouco. Não está deixando o ódio fluir pelo seu corpo.

Ela continuava com os olhos fechados, mas não lembrava de mais nada que fizesse com que sentisse ódio.

- É difícil – sussurrou.

- Claro que é. Se fosse fácil, qualquer imbecil sairia amaldiçoando os outros na rua. Vamos, concentre-se.

Mas era inútil. Hermione pensou que talvez não tinha vivido muitos momentos desagradáveis, pois não conseguia sentir ódio assim, do nada.

- Não consigo!

- Como isso é possível!? Tente, tente! Lembre-se de algo que você odeie!

Ela não estava agüentando mais aquilo tudo. Estava pálida, sua mão erguida começava a latejar de dor.

- Não sei!

Snape também estava alterado. Falava muito próximo ao ouvido da garota, olhando-a fixamente.

- Não seja fraca! Vamos, o que você mais odeia no mundo?

Hermione não agüentou mais. Abriu os olhos e virou-se para o professor, que estava a centímetros dela.

- VOCÊ!

E outro silêncio longo se sucedeu ao desabafo da garota. Ela ofegava. Ele podia sentir sua forte respiração em seu rosto.

- Muito bem.

Snape afastou-se dela lentamente, recuperando seu ar gélido e distante. Pegou o morcego e levou-o de volta para a gaiola. Quando retornou, levantou a mão de Hermione que segurava a varinha e a apontou para seu peito.

- Assim vai ser mais fácil para você.

A garota arregalou os olhos. O professor segurava a varinha dela apontada para o próprio peito, pedindo que ela lançasse a maldição da tortura sobre ele.

- Não, professor, eu...

- Vamos! Lance o feitiço!

Ele parecia furioso, porém determinado. Ela, porém, perdera todas suas forças.

Hermione puxou sua varinha das mãos de Snape e correu para fora da sala. O professor deixou-se cair numa cadeira próxima e suspirou, cansado, observando a garota fugir.

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