Acordo



No dia seguinte, Hermione acordou um pouco melhor. Como Snape tinha voltado a dormir, ela resolvera passar mais uma noite no armazém, deitando-se sobre o que sobrara de trapos velhos num canto.

Ela abriu os olhos e se espreguiçou, sentando-se vagarosamente. Tomou um grande susto quando viu a “cama” de Snape vazia.

Olhou para o outro lado e assustou-se anda mais: um cálice cheio de suco de abóbora e um prato que abrigava um grande pedaço de pão encontravam-se ao seu lado, esperando por ela.

Hermione levantou-se de uma vez e andou pelo armazém à procura de Snape, mas ele não estava lá. Ficou preocupada com seu estado, desaprovava que ele andasse por aí com um corte daquele tamanho recém-cicatrizado. Logo tentou apagar esses pensamentos que considerou errados, já que deveria estar se preocupando com o que ele estaria fazendo fora dali.

De qualquer forma, ela sabia que não poderia fazer nada naquele momento. Sentou-se no chão novamente e comeu todo seu café da manhã com apetite. Assim que terminou, assustou-se pela terceira vez naquela manhã quando Snape surgiu do andar de cima com uma expressão muito mais amena do que de costume.

Ela olhou para ele atônita, com os olhos arregalados. Pela primeira vez em dias, estava novamente de frente para aquele Snape ameaçador e ativo, aquele que sempre temera desde os tempos de escola. Já estava tão acostumada com o Snape debilitado que ficou chocada com aquela visão.

Percebendo o choque da garota, Snape procurou mostrar-se o menos aterrorizante possível. Claro que aquilo requeria um esforço enorme, mas ele fez seu melhor, sentando-se casualmente num caixote próximo a Hermione.

- Precisamos conversar – disse ele, num tom grave e formal.

Ela continuou a encará-lo com aquela expressão incrédula.

- Acho que não temos mais nada a dizer.

Ele suspirou baixo e tentou manter a calma, mas ela era uma garota um pouco difícil e ele não estava acostumado a dialogar com as pessoas.

- Temos sim – recomeçou, usando o mesmo tom de antes. – Você tem consciência do que aconteceu aqui?

Hermione olhava para o chão, evitando encarar aqueles olhos negros e frios. Preferiu não responder.

- Não sei o motivo, não sei porque alguém faria uma loucura dessas, mas o fato é que você salvou minha vida.

Ele sentiu-se extremamente desconfortável de falar aquilo, porém já tinha se decidido e não iria voltar atrás. Ficou um pouco mais contente quando a garota resolveu encará-lo.

- Teria feito isso por qualquer um – disse Hermione rispidamente.

Ela logo se arrependeu de ter dito isso, pois não era para tanto. À sua maneira, Snape até que estava tentando ser gentil. Apesar do comentário, ele não desistiu.

- Isso é evidente.

Ele levou as mãos à cabeça e massageou suas têmporas, medindo as palavras que usaria.

- Mas a questão não é essa – completou. – Tenho uma dívida com você e vou pagar.

Hermione soltou uma exclamação de indignação e balançou a cabeça negativamente.

- Não tem dívida nenhuma.

Mas ele continuou a olhá-la com aquela expressão dura e convicta.

- Não sou um homem de fugir às minhas responsabilidades. Você fez algo por mim e, mesmo sendo uma... sangue ruim – ele a olhou com algum desprezo, mas ela apenas o ignorou – vou honrar esse compromisso.

Hermione levantou-se furiosa e começou a andar em direção à passagem para o andar de cima.

- Faça o que quiser, mas eu vou embora.

Snape a seguiu de perto e segurou seu braço, puxando-a de volta e fazendo com que ela o olhasse.

- Você não vai lugar nenhum. Apesar de agora ser seu devedor, não posso deixar que saia do castelo e conte para seus amigos onde fica meu esconderijo.

Ela deu uma risada debochada da audácia com que o homem falava.

- Você deve estar se achando muito esperto, não? Se escondendo justamente no covil do homem que matou, o último lugar onde iriam te procurar!

Snape estreitou os olhos e aproximou-se ainda mais dela.

- Não fale do que você não sabe, menina.

Ele largou o braço dela e foi até o outro lado do armazém com as mãos na cabeça, tentando se acalmar. Essa era uma tarefa difícil, porque aquela sangue-ruim simplesmente o tirava do sério com os mais singelos comentários.

Hermione, por sua vez, aparentemente tinha esquecido que estava de saída. Estar tão perto de Snape por alguns segundos tinha a deixado atordoada, ainda mais depois dele ter dito o que disse. Ela ficou ali, parada, esperando ele se recompor.

- Escute-me bem, Granger – recomeçou Snape, recuperando sua voz fria e controlada.

Ele voltou a mirar a garota, caminhando em sua direção lentamente.

- Vou pagar minha dívida com a única coisa que tenho a oferecer.

Hermione agitou-se um pouco. Recuava discretamente a cada passo que Snape dava, sem romper o contato visual com ele.

- Você será obrigada a ficar aqui até o fim do outono.

A garota fez menção de protestar, mas Snape não deixou que ela começasse.

- Isso é inquestionável. Portanto, enquanto esperamos o dia de nossa liberdade, vou lhe ensinar tudo que eu sei.

Ela finalmente encostou na parede, sem poder mais recuar. O homem estava cada vez mais próximo dela.

- Porém, isso só vai acontecer com uma condição: que você nunca mais toque no assunto da... morte de Dumbledore.

Hermione fechou a cara, claramente perturbada. “Assassinato seria o termo correto”, pensou ela, mas não falou nada. Não adiantaria.

- Espero que estejamos combinados então.

Ele estava novamente muito próximo a ela. Colocou a mão na parede logo atrás da cabeça de Hermione e ficou olhando para ela profundamente, deixando claro que a garota não tinha outra opção. Ela sabia disso, então concordou com a cabeça num gesto rápido, mesmo que aquilo fosse totalmente contra sua vontade.

Snape deu-se por satisfeito com aquilo e rapidamente atravessou o armazém, saindo pela passagem secreta no teto.

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