Capítulo XXXVII



Hermione voltou a vê-lo no quarto de Rony, mas evitou encará-lo. Estava envergonhada com a confissão impensada, e gostaria de poder apagar as palavras que haviam sido recebidas com indiferença. Mas era tarde demais…

- Ron? – chamou, respirando aliviada ao ver o sorriso sonolento em seus lábios. – Você vai ficar bem. Os médicos conseguiram…

- Eu sei… Vocês precisam telefonar…

- Vou ligar para Bryan em seguida para contar que você está bem. Agora descanse.

- Quero que liguem… para Luna…

Hermione olhou para Harry. Ele mantinha os olhos fixos no amigo.

- Rony, de que Luna você está falando?

- É… a mulher com quem vou me casar.

Rony dormiu tranqüilo depois de ter feito a surpreendente revelação. Ou teria sido apenas o efeito da anestesia? Talvez ele estivesse confuso, ou sonhando… Uma hora mais tarde, quando acordou, ele parecia mais lúcido. Hermione passara todo o tempo ao lado da cama, sem olhar para Harry, tentando esconder a humilhação provocada pela confissão impensada de seus sentimentos. Revelara seu amor, e ele se limitara a oferecer um lenço para secar suas lágrimas!

- Sou mais forte do que imaginavam, não é? – Rony brincou ao vê-los.

- Eu sempre soube que você era forte. – Harry disse com a voz rouca.

- Hermione, quero que me faça um favor.

- Quer que eu telefone para Luna?

- Como… como sabe disso?

- Você mencionou alguma coisa quando voltou para o quarto depois da cirurgia. Só estava esperando que me desse o número do telefone.

- Quem é Luna? É realmente quem estou pensando? – Harry perguntou novamente.

- Luna Lovegood. Sim, é essa mesma. É que um dia desses estava no Beco e a vi fazendo compras. Começamos a conversar e temos nos encontrado desde então. O pai dela se aposentou e está viajando, ficava fazendo companhia para ela na maioria das vezes. Não contei a ela sobre o tumor… sobre a cirurgia… não quis preocupá-la.

- Lovegood? Quem diria.

- É, realmente. Eu a achava um pouco esquisita na escola, mas ela mudou bastante. Mesmo assim, ainda está um pouco aérea às vezes. Eu sei que ela deve estar precisando da minha presença, deve estar se sentindo sozinha naquela casa enorme.

Hermione viu o amor que iluminava os olhos de Rony. Luna precisava dele... E ele precisava sentir-se necessário, algo que nunca experimentara a seu lado. Alguns minutos mais tarde, depois de conversar com Bryan e informar que o pai estava bem, ela telefonou para a mulher com quem Rony planejava se casar.

Alguns momentos mais tarde, quando desligou, ela se deu conta de uma dor aguda no peito, uma sensação que era ao mesmo tempo doce e amarga. Rony estava seguindo em frente, construindo uma vida nova que não a incluía. E tinha de continuar vivendo também… sem Harry, sem o homem que amava. Quando voltou ao quarto, Rony estava sozinho.

- O que aconteceu? Onde está Harry?

- Ele foi embora, mas prometeu voltar amanhã cedo. Já falou com Luna?

- Ela está vindo para cá. A pobrezinha ficou desesperada quando contei sobre a cirurgia. Foi estranho falar com ela depois de tanto tempo, realmente está mudada.

- Pode ficar comigo até ela chegar?

- É claro que sim. – Afinal, não tinha pressa de voltar para um apartamento vazio. Para um coração partido.

Passaram-se mais de 2 horas quando Luna chegou ao hospital. Alta e loira, ela se aproximou de Rony chorando. Hermione os observou juntos e notou uma ternura que jamais vira nos olhos do ex-marido durante todo o tempo em que estiveram casados. Em silêncio, saiu do quarto e deixou-os sozinhos. Enquanto caminhava pelas ruas frias de Londres, deixou a emoção tomar conta de si. As horas de preocupação, os dias de ansiedade, a confissão humilhante e a reação gelada diante de suas palavras de amor…

Desolada, chorou lágrimas amargas acumuladas ao longo de anos de vida. Chorou por quando perdera os pais, pela jovem que fugira de tudo através de uma gravidez e de um casamento com um homem imaturo demais pra corresponder às suas expectativas. Chorou também pela mulher que sempre se considerara forte, mas que finalmente havia identificado a própria fraqueza: amava um homem a quem não podia amar, um homem que a desejava, mas não a amava.

A noite havia caído quando ela chegou em casa. Esquecera de acender as luzes quando saíra do apartamento naquela manhã, antes de ir para o hospital, e não queria entrar em um lugar escuro e vazio. Sabia o que queria… o que não poderia ter. Harry! Quando saiu do elevador prometeu a si mesma deixar tudo pra trás e voltar a viver. Tinha um filho maravilhoso, tinha um emprego que era o seu sonho e não precisava de um homem para ser feliz. Quando abriu a porta do apartamento, Hermione precisou de alguns instantes para compreender a cena diante de seus olhos.

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