Capítulo XXXIV



Quando saiu do quarto de Bryan, Hermione sentiu as lágrimas queimando seus olhos mais uma vez. Passara o dia todo à beira de um colapso emocional, desde o momento em que Harry montara e se afastara dela como se fugisse de uma doença contagiosa. No quarto, trancou a porta e continuou lutando contra as emoções que ameaçavam consumi-la.

Entre o trauma da iminente cirurgia de Rony e o choque e a confusão causados pelos momentos com Harry no início daquele dia, sentia-se frágil e descontrolada em um momento em que precisava de todas as forças. Rony e suas necessidades estavam fora de suas mãos. No dia seguinte o levariam o hospital, e ao amanhecer ele seria submetido à cirurgia. Não havia mais nada que pudesse fazer. E não havia nada que pudesse fazer para ajudar Harry.

Enquanto trocava as roupas pela camisola de seda, sentia o corpo queimar com a lembrança de suas mãos e do beijo ardente. Nunca em toda minha vida desejei outra mulher com a mesma intensidade. As palavras a assombravam, alimentando o fogo que, temia, jamais poderia apagar. Guiada pelo brilho do abajur que Harry havia comprado, ela se deitou e puxou as cobertas sobre o corpo.

Nunca em toda sua vida desejara um homem como o desejava. Se ele quisesse, teria cedido ao desejo ali mesmo na grama, com o sol da manhã banhando seus corpos. Teria sucumbido alegremente ao calor de suas mãos e à magia de seus lábios. Mesmo depois de tê-lo ouvido dizer que era apenas luxúria, ainda o queria.e o queria porque o amava. Hermione sentou-se na cama, o coração disparado pela força da constatação. Amava Harry. Amava-o com o coração e a alma. Não tinha idéia de quando começara a amá-lo, de quanto tempo passara escondendo de si mesma a verdade dos sentimentos. Mas não havia mais como esconder.

O amor por ele era como uma dor física, um tormento para o qual não havia alívio. Harry havia confessado seu desejo, mas não mencionara a palavra amor. Mesmo que a houvesse mencionado, de que adiantaria? Estava certa de que a única ligação entre ela e Harry seria Rony, um elo que os uniria para sempre, mas como ele reagiria diante de um eventual envolvimento entre a ex-esposa e seu melhor amigo? No dia seguinte levariam Rony ao hospital, e ao amanhecer do outro dia ele seria submetido à cirurgia. Depois disso, ela e Harry não teriam mais motivo algum para se encontrarem.

Era melhor assim. Melhor que esquecesse o calor de suas mãos e o sabor de seus beijos. Deitada, fechou os olhos com força, bloqueando a luminosidade do abajur e tentando bloquear também o brilho do amor recém-descoberto em seu coração.

Harry andava de um lado para o outro, tentando ignorar a presença de Hermione na sala de espera. Estavam sozinhos e o tempo passava lentamente. Rony fora levado para a sala de cirurgia há menos de duas horas, e sabia que o procedimento se estenderia por cinco ou seis horas. O dia seria longo e difícil.

- Vou descer à lanchonete para tomar café. Quer ir comigo?

Esperava que ela recusasse o convite. Não trocaram mais que meia dúzia de palavras desde que se encontraram no hospital pouco depois das seis da manhã, e haviam permanecido no quarto de Rony até que ele fora levado pelas enfermeiras. Então se mudaram para a sala de espera. Hermione levantou-se.

- Sim, eu adoraria uma xícara de café.

Juntos, entraram no elevador que os levaria à lanchonete no subsolo. Harry resistia ao assalto contra seus sentidos, tentando não sentir a fragrância suave exalada pelos cabelos escuros e resistir à tentação representada pelo rosto delicado e singelo. Vê-la nos braços de Rony servira para lembrá-lo da importância de manter-se afastado daquela mulher. Seu amigo precisava dela, e não tinha o direito de interferir ou prejudicar sua chance de felicidade.

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