Retorno do mal



Quando sentou no expresso aquela noite o seu coração estava vazio, mas a cabeça fervilhava de lembranças. Duas lágrimas irmãs rolaram do seu rosto, na sua cabeça podia ver e ouvir a voz de Lisa lhe dizendo:
_ Remus, Remus, suas filhas nasceram... São lindas! Eu as vi... Tão pequeninas... Parecem demais com Selena! – a amiga saltitava empolgada – Não esqueça que prometeu que casaremos uma delas com o meu filho... – ela ria.
Ele só queria poder vê-las, toca-las... Beijar o grande amor da sua vida que lhe dera um bem tão precioso.
Chorou como uma criança vendo aqueles dois bebezinhos tão maravilhosos, duas meninas vermelhinhas e saudáveis mexendo as mãos.
Ele não teve coragem de assistir ao parto, pedira a Lisa, sua amiga desde sempre, que acompanhasse Selena, já que eram ambos sozinhos nesse mundo enorme. Tinham apenas um ao outro.
Após ver que suas filhas dormiam em paz, procurou por Selena no quarto. Ela também dormia, mas não era um sono tranqüilo.


Ao que me pareceu, Selena começou a recuperar a memória depois do parto.
Daí vieram os pesadelos e os flashes de memória que a perturbavam a qualquer hora do dia ou da noite. Não tinha mais sossego e passou a se achar uma criatura horrível a cada vez que uma lembrança retornava a sua mente. Tinha nojo de si mesma. Era condenada a ouvir cada grito, cada súplica, cada tortura... Mil vezes elas se repetiam...
Não podiam contar para Remus Lupin coisas assim. Ele iria chama-la de monstro e isso ela não podia suportar... Se ele não acreditasse nela, se partisse, a vida não faria mais sentido...
Não entendia por que as lembranças tinham que voltar. Procurou Dumbledore, ele a disse que precisava aceitar seu passado, que não tinha do que se envergonhar, que fora um verdadeira guerreira, que se dessem a ela outra dose de feitiços para esquecer, não saberiam até onde isso afetaria seu cérebro permanentemente.
Severo não teve também outras palavras para conforma-la, passou a ver nos olhos dela a mesma amargura que existiam nos seus.
Remus notou que ela mudara, a angustia era sua eterna companheira. Quantas vezes perguntou, insistiu, questionou... Havia novamente segredos entre eles. Ela acordava no meio da noite desesperada, chorando... Gritava, perdia a atenção com freqüência.
Então o pior aconteceu. Eu me lembro como se fosse hoje o dia em que Selena chegou na minha casa na Polônia carregando suas duas filhas, era noite de lua cheia. O desespero transbordava dos seus olhos e ela falava ofegando.
_ Joseph, eles estão atrás de mim... Você tem de me prometer que vai tomar conta delas... Não quero que o matem, Joseph!! Se eu ficar lá, eles acabarão com a minha família... Me promete que cuida delas como se fossem suas... - desmaiou nos meus braços.
Nesta noite eu insisti para que descansasse, cuidei das pequenas que já tinham mais de um ano e dormiram como anjos.
No dia seguinte, conversamos muito assim como nos dias que vieram e ela passou mais de um mês comigo. E foi assim que descobri tudo quanto escrevi até agora... E foi assim que ela me contou porque fugia.
Caíra na besteira de voltar a casa dos Marvolo. Aquela maldita mansão! Procurava pelos livros de seu pai, acabou encontrando os Lestrange com uma fúria infernal. Eles a haviam dado como morta, mas agora sabiam a verdade. Só sossegariam quando estivesse morta, eles juraram, havia sido ela a traidora.
Passaram a persegui-la, mas a presença de Lupin na casa os impedia, mas logo conseguiriam uma oportunidade, eles sabiam, ela também. Fugiu. Abandonara Lupin por amor a suas filhas, sabia que elas também seriam herdeiras dessa maldição, desse sangue.
Mas a minha casa não era segura o suficiente, nem tão escondida quanto ela precisava e os Lestrange as encontram.
Imagine o meu desespero, eu que nunca fui bom em duelos Ter na minha sala dois dos piores comensais de Voldmort?
_ Tire-as daqui! - ela gritou e eu obedeci.
Foram as últimas palavras que ouvi da boca de Selena. Saí com estas duas meninas no colo, entre clarões e gritos de terror. Pelo jeito ela segurou a barra sozinha enquanto eu levava as meninas para as fazendas, só pensava nas fazendas em que eu cresci, como eram calmas e tranqüilas.
Quando voltei a situação já estava resolvida, Severo Snape estava lá, o casal Lestrange fora capturado, Selena jazia nos braços do amigo. Uma única lágrima rolava do rosto de Severo.
_ O que diremos? - perguntei desesperado.
_ O que se tem a dizer sobre uma mulher como essa? - ele alisou os cabelos dela - Quando eu cheguei ela já os havia dominado... - suspirou - mas fora atingida fatalmente... Eu a levarei para Dumbledore...


_ E Remus? O que diremos a ele...
_ Severo, eu não sei... Temo que teremos de contar-lhe a verdade!
_ Isso não, Dumbledore... Era tudo quanto ela menos queria, que ele a achasse um monstro...
_ Não acredito que Remus fará tal coisa... Até por que não tem motivo para isso...
_ Eu o imploro para que me deixe resolver este assunto...
_ Severo, a verdade é o único remédio!
_ Não o único... Deixe-me tentar...
_ Severo... Não faça isso!


Desobedecendo as ordens de Dumbledore, Severo procurou por Lupin e lhe disse a verdade que convinha. Disse que Selena o havia abandonado como a tantos.
Contou que ambos trabalharam para Voldmort, fez questão de realçar que ele era bem mais importante do que ela, uma mentira absurda, mas que amenizava a situação. Deu a entender que Selena era apenas um espírito livre em busca de emoções.
Lógico que ele só acreditaria se fosse um idiota! Mas sabe-se lá que tipo de argumentos têm um ex-comensal para convencer alguém.
Talvez ele ainda pense que ela esteja viva, por aí, se divertindo, leviana. Como no fundo ele achava que ela era.
Nunca soube dar o valor devido a um amor como o de Selena. Pois de uma coisa eu tenho certeza, se ela duvidava que Remus Lupin não acreditaria nela, era porque ele não acreditaria... Mas quem vai poder dizer, não é?
Hoje ela está no seu túmulo frio e só na casa dos Marvolo, seu berço e sua tumba, nem mesmo eu vou mais lá. Não consigo!



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