Recomeço



_ A febre não sede, professora Minerva...
_ Esta moça não vai morrer aqui. Se ao menos Dumbledore pudesse vir nos ajudar...
_ Não acredito que isto seja obra de um feitiço, Minerva – disse Madame Pomfrey – Ela está em dúvida se vale à pena viver depois de tudo o que fez... Sofreu demais nestes últimos 10 anos ou mais... Eu mesma ia querer morrer se achasse que voltaria para Você-sabe-quem...
_ Eu também... Ela foi muito corajosa, sem dúvida... Mas o que faremos? Mesmo com estas poções para Ter um sono sem sonhos ela não sossega um instante...
_ Creio que será perturbada por esses pensamentos terríveis para sempre...
_ Talvez seja o caso de usar feitiços da memória...
_ Seria um paliativo, acredito... Salvaria a vida dela pelo menos por enquanto, mas e depois? Ela acabará descobrindo...
_ Eu mesma farei questão de contar... Ela não tem do que se envergonhar!


_ Selena, Snape é um imenso prazer revê-los... – Dumbledore sorria – Há tempos que eu esperava por esse encontro...
Selena correu para abraça-lo, sentia-se imensamente feliz em voltar para Hogwarts depois de três anos estudando com Snape na Polônia.
Dumbledore os havia mandado uma coruja para chama-los, queria conversar.
A simples visão de Dumbledore a fazia encher os olhos de lágrimas. Perdera muito de sua própria identidade devido a grande quantidade de feitiços de memória a que fora sujeitada. Sonhos e memórias se confundiam em sua mente, de forma que ela nunca tinha certeza do que era ou não real.
A barba branca e o jeito meio maluco do diretor de Hogwarts eram sua referência mais clara de realidade dos últimos 10 ou 12 anos.
Ela se agarrara a sua Segunda chance na vida como uma desesperada. Dumbledore lhe explicou que aos poucos ela lembraria de tudo o que acontecera e que precisava ser forte. Por enquanto, só queria ser feliz!
_ Severo, Selena, eu tenho assuntos do interesse de vocês para tratar. E é claro que são do meu interesse também... – Dumbledore fez sinal para que sentassem – Primeiramente, saibam que é uma honra Ter vocês dois aqui.
_ A honra é toda nossa. O senhor confiou em nós quando mais precisamos. Nossa gratidão e lealdade são...
_ Severo, não precisa ficar se culpando como se estivesse em dívida. Na verdade, se alguém deve alguma aqui, com certeza somos nós... Vocês tiveram uma coragem sobre-humana ao enfrentar seus piores pesadelos. Mas não falemos disso, falemos de coisas mais alegres – Professora Macgonal pediu licença para entrar e foi bem recebida – Como vocês sabem, nós perdemos nosso professor de Defesa Contra as Artes das Trevas e o professor Stone se aposentou no último ano, então... – ele sorriu afável mais uma vez – Gostaríamos de saber se não interessa a você Selena o cargo de professora de Defesa contra as artes das trevas e a você Severo o de professor de Poções?
Os dois se olharam sem entender, sem Ter o que dizer, Dumbledore estava lhes dando um cargo de extrema confiança.


_ Professora, você vai conosco a Hogsmead, não vai?
_ Claro que vou, Doyle! Não perderia por nada!
O garotinho se afastou e Snape encostou a mão no ombro dela. Selena o abraçou.
_ Você tem paciência demais com eles... Fazem questão de tê-la por perto...
_ Você é que finge ser durão demais! – ela sorriu – Vai a Hogsmead?
_ Não. Ficarei estudando... Divirta-se com seus amiguinhos!
_ Por que você é tão sisudo? – ela fez cosquinhas no amigo que forçou um sorriso.
Snape gostava de vê-la sorrir e brincar, mesmo sabendo que estava sob o efeito de uma anestesia. Ele não conseguia mais ser tão espontaneamente alegre, sua memória ainda guardava bem vivas as lembranças da escuridão.


Passeou por todo o povoado com as crianças do terceiro ano. Fizeram a maior festa na Dedosdemel. Comeram mais doces do que a mãe deles jamais imaginaria que pudessem comer.
Então o vento gelado de novembro bateu e todos tiveram a vontade de se enrolar em seus casacos. Foi então que Selena sugeriu:
_ Que tal uma rodada de cerveja amanteigada no Três Vassouras? – a sugestão foi aceita com gritinhos alegres e vivas.
Entraram no pequenino bar fazendo uma algazarra digna de diabretes azuis.
Selena parou diante da porta quando seu olhar alcançou o vulto sentado próximo ao balcão. Suas pernas fraquejaram, seu coração disparou, faltou-lhe ar nos pulmões e um frio intenso que começou pelo pé e subia aceleradamente até atingir-lhe a barriga e crescia dentro do seu corpo. Remus estava lá.
Ele também, guiado talvez pela presença dela, ou mesmo pelo barulho das crianças, olhou para a porta. Não havia palavras para descrever o que sentira. Esqueceu no mesmo instante que passara quase treze anos sem Ter notícia dela desde a noite na gruta. Ouvira boatos de que trabalhava para Voldmort, mas nesse tipo de besteira ele não poderia acreditar.
Não conseguiram desviar o olhar um do outro e por um espaço de tempo entre minutos e segundos não fizeram outra ação que não fosse se observarem mutuamente.
Remus a achou mais bela do que nunca coberta com suas vestes de inverno, o vento batia em seu rosto assanhando os poucos cabelos que teimavam em sair do coque.
As crianças lhe puxavam a barra de sua veste e nem por isso ela conseguia mexer-se, o rosto corou quando percebeu que ele também a mirava, não soube como agir. Selena sentia um infinito de coisas, sabia que amava aquele homem, o conhecia, lembrava de algumas coisas que fizeram, as memórias lhe vinham em flashes. Mas faltavam informações como um quebra-cabeça quase completo.
Sentou-se na mesa mais próxima da porta, estava lívida e gelada, seus alunos ficaram preocupados. Um deles levantou-se para buscar ajuda, se ela tivesse ouvido alguma coisa de que falavam, teria impedido, diria que estava bem.
Num gesto impensado ele pegou a florzinha vermelha do arranjo de mesa, levantou e foi até ela. Como se não houvesse simplesmente outra coisa a fazer.
_ Oi, Sel! – entregou-lhe a flor e beijou o rosto dela com vontade maior ainda de beijar sua boca.
Sentou de frente para Selena.
_ Oi... – ainda branca e tremendo respondeu – Crianças, este é Remus Lupin... – corou – Um grande amigo meu...
As crianças cumprimentaram Lupin com sorrisos e bem nessa hora a professora Minerva que se levantara para ver se Selena passava mal chegou, percebendo tudo, apenas fez sinal para chamar os alunos do terceiro ano.
Ficaram sozinhos na mesa. Ele puxou as mãos dela para junto das suas.
_ Senti sua falta! Por que não me escreveu esse tempo todo? – ele forçou um sorriso amigo.
_ Não sei... – ela estava nervosa, tirou suas mãos das dele.
_ Como assim não sabe? – ficou envergonhado com a atitude dela e percebeu que estava sendo muito apressado para quem não a via há mais de treze anos – Já sei, esteve tão ocupada nesses anos todos que nem teve tempo para lembrar de mim... Também, quem ligaria para este estúpido menino-lobo?
_ Não. Estou sob efeito de feitiços da memória.
_ Então, esqueceu mesmo... – olhou triste.
_ Que eu me lembre, Remus, você nunca foi tolo... – ela foi seca – Me lembro de praticamente tudo que vivemos... Só que isso foi há muito tempo atrás. Não estou conseguindo entender é porque você age como se tivesse sido ontem... Não estou me sentindo à vontade com você falando desse jeito... Me desculpe!
Ficou calado por um minuto ou dois, não estava mais acostumado com a franqueza de Selena. Enquanto isso, ela olhava ao redor sem saber o que dizer, ou fazer, ou falar. Queria sumir, sair dali a qualquer custo, e ao mesmo tempo, não queria que ele partisse.
_ Você está certa, Sel... Selena... – ele levantou a cabeça – Acabei me precipitando – ele sorriu recuperando o bom-humor – Ainda assim, gostaria de saber mais sobre você, o que tem feito, pelo menos o que você se lembrar... Senti muitas saudades suas – Levantou da cadeira – Não quer dar um passeio pela cidade e conversar com esse velho amigo?
O jeito de falar tão amistoso, a maneira como ele ofereceu a mão e mesmo a saudade enorme que sentia dele a obrigaram a aceitar o convite. Lupin exultava de felicidade quando puxou a cadeira para ajuda-la a se levantar.

_ Então, você está ensinando em Hogwarts? Que legal! Deve ser muito bom trabalhar com todas aquelas crianças... – caminhavam lado a lado pelas ruas do povoado.
_ Estou... Dumbledore chamou a mim e ao Severo, estamos muito felizes... Eu adoro crianças. – Selena já estava bem mais à vontade.
_ Severo? Severo Snape? Ele não estava servindo...
_ Não! – foi seca novamente e Lupin percebeu que não era um assunto a ser tocado – Severo é um homem da eterna confiança de Dumbledore...
_ Ele é seu namorado, Sel... Selena...? – desconfiou e ela ficou vermelha.
_ Pare com isso, Remus... Você nunca foi de fazer muitas perguntas... – ela sorriu querendo desviar o assunto. Nunca pensara em Severo como homem, muito embora tenha notado diversas vezes que ele a via com olhos carinhosos demais. Ela preferia pensar que a tinha como uma irmã. Até porque não via em sua vida um lugar para paixões. Seu coração já parecia bastante repleto de emoções boas para complicar tudo com amor.
_ Vai ver seja por que eu só gaste minhas perguntas com assuntos que me interessam... – parou de caminhar, ela ainda deu três ou quatro passos em silêncio.
_ Severo é meu amigo! – finalmente respondeu – Eu não tenho namorado.
Lupin deu passadas apressadas para acompanha-la mais feliz que menino em loja de brinquedo.
_ E você, Remus, o que tem feito?
_ Ah, Selena, cada dia é uma batalha! Não é fácil arrumar emprego...
_ Mas logo você que sempre foi um bruxo tão competente! Pelo menos era um aprendiz de respeito... – ela sorriu.
_ É... Mas você se esquece daquele detalhe...
_ Não acredito que... – Só aí ela percebeu como ele estava mal vestido e mal cuidado.
_ Dá muito trabalho esconder uma coisa assim... As pessoas não me aceitam...
_ Preconceito é realmente a pior das maldições, não é?
Acabaram chegando no fim do vilarejo. Justamente na estação a onde o expresso de Hogwarts ficava. Resolveram sentar em um banquinho e esperar a hora da partida. A tarde terminava e o frio aumentou. Selena se encolhia dentro do casaco, o frio tinha um domínio intenso sobre ela, a fazia lembrar de medo e ela não sabia bem por quê.
_ Senta mais perto de mim, Sel... Você está tremendo de frio! – ele criou coragem para pedir e soou tão natural que ela se aproximou. Ele tirou as mãos dela do casaco, sorriu, soprou dentro delas e depois as ficou esfregando entre as suas. Selena encostou sua cabeça no ombro dele.
Lupin ficou ali sentindo o perfume dela, tocando-lhe a pele com a barba, segurando as mãos dela. O mundo podia Ter acabado que não o encontraria mais feliz.
_ Sel?
_ O que foi, Remus?
_ Eu posso te pedir uma coisa?
_ O que? – ela desencostou dele para poder encara-lo de frente.
_ Me dá um beijo? – ele viu a surpresa nos olhos dela. Talvez estivesse sendo rápido demais, mas não conseguia se controlar – Eu não consigo ser só seu amigo... Eu te amo!
Selena sorriu, pegou as mãos dele que estavam entre as suas, beijou-as. Abraçou Remus, ficaria a vida inteira se fosse possível. Ela o amava também. Não adiantava ficar fugindo. Ele acariciou os cabelos dela. Ambos sentiram que encontraram um pedaço perdido.
_ E você acha que em algum instante dessa minha vida eu quis ser só sua amiga? – falou confiante de que não ia mesmo sentir esse arrepio na espinha toda vez que via Remus com outra pessoa em toda a sua vida e que não fazia o menor sentido em falar de amor se não fosse pensando nele – Se você não me pedisse esse beijo eu mesma ia rouba-lo... – abraçou Lupin e deu-lhe um beijo de perder o fôlego.


_ Enfim a sós...
_ E o que o senhor meu marido pretende fazer agora?
_ Adivinha?
_ Nunca fui boa em adivinhas... – ela sorriu e deu um beijo no rosto de Lupin.
_ Estava pensando em aproveitar que hoje a noite não é de lua cheia e mostrar para minha esposa meu lado selvagem, mas não tão selvagem... – ele riu e a apertou mais em seus braços.
_ Sugestão interessante... – ela o beijou.

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