Selena



Selena, esse é o nome que a paixão tem para mim. Basta fechar os olhos para vê-la dançar ao luar como no dia em que a conheci. O mesmo arrepio ainda corre no meu corpo lembrando do tilintar da prata balançando suavemente no compasso daquele corpo esguio. E do vai e vem dos muitos lenços verdes que subiam e desciam, escondendo e mostrando a pele.

A visão daquela criatura dançando povoa minhas noites incessantemente, ano após ano, até hoje. Mesmo sabendo que ela jamais dançou ou dançaria para mim assim. Nunca fui alvo do seu interesse.

Fui e continuo sendo mero escravo dos seus caprichos. Já o era quando nem bem contava 16 anos, imagine agora, homem feito.

Bastava um olhar dela, e eu estaria lá, recolhendo as migalhas da sua atenção. Peço que não me julgue estúpido quem não tiver vislumbrado um olhar desses. Meu coração ainda bate mais acelerado só de escrever sobre aqueles olhos negros imensos, intensos e penetrantes. Daria partes inteiras do meu corpo para tê-los brilhando para mim como brilhavam para ele naquela noite. Eu nunca fui o alvo do seu interesse.

Selena Aahad Marvolo, este é seu nome completo.

O Aahad era da sua mãe, uma bruxa árabe, a quinta filha de um comerciante que a deu em gratidão ao amigo Nicolai Marvolo, por ele Ter conseguido liberar com o ministério da magia um lote de mercadoria ilegal encontrado em um dos seus estabelecimentos.

Marvolo era pretensioso e desonesto queria a qualquer custo recuperar a fortuna perdida da sua família. Ele nunca gostou da moça Aahad, a tratou como o pai a tratava, como um objeto de decoração.

Essa moça, cuja a insignificância é tão grande que seu nome não aparece em canto nenhum e até mesmo Selena só a chama de mãe, não foi feliz um dia sequer. Mas quando Selena nasceu, sua vida ganhou um significado. Ensinar a filha a Ter o que ela não conseguira.

Quando eu conheci Selena em Hogwarts, apesar dos seus 13 anos ela já fazia feitiços que até hoje, depois de formado, eu ainda não posso dizer que domino. O que é prova suficiente de que Selena aprendeu bruxaria junto com as primeiras palavras.

O pai pouco, ou nada, ligava para ela. Ele tinha dois rapazes com sua esposa verdadeira. O mais velho era burro como uma porta, e o segundo, para seu desgosto, um aborto. Esse morreu, dizem os documentos que de tuberculose. Selena achava que o pai matara o filho na época em que o garoto devia entrar na escola.

Foi por nesse período também que a mãe dela sumiu, ela nem bem tinha 9 anos mas sabia que a mãe não voltaria, sabia que ela preferiria morrer a deitar-se com Marvolo novamente. E se havia partido era porque achava que a filha estava preparada para conseguir o que lhe era de direito.

O mais incrível, era que apesar de tudo, Selena tinha verdadeira devoção pelo pai. Ela jamais admitiria mas admirava tudo que ele fazia, o jeito com que falava com palavras complicadas modificando o real significado das frases para enganar a quem lhe interessava, a classe, a maneira esnobe com que caminhava, sempre superior aos outros.

Depois que a mãe desapareceu passou a segui-lo pela casa, mesmo tendo de se esgueirar pelas sombras, se escondendo para que Nicolai não notasse sua presença.

Protegida pela insignificância ela acabou descobrindo os aposentos secretos do seu pai. O laboratório e a biblioteca a onde estavam os tesouros acumulados de séculos de crueldade dos Marvolo. Os Marvolo foram uma família nobre e rica com tradição entre os bruxos, no entanto sempre foram imundos em suas intenções.

Pode-se imaginar o que haveria lá dentro daquelas salas, todo tipo de artefato usado em magia negra, documentos relatando rituais de transferência de corpos, feitiços que aprisionam a alma...

Sei que a ruína de Selena começou naquelas salas, quando ela leu pela primeira vez sobre uma câmara secreta em Hogwarts. Uma câmara que só poderia ser aberta por um herdeiro de Salazar Slytherin. Ficou obsessiva por ela.

Aliás, a magia negra a seduziu até demais, passava dias e noites inteiras, sem comer, sem dormir, apenas praticando. Com o tempo, deixou de ser cuidadosa, e Nicolai percebeu que alguém mexia em suas coisas. No começou pensou ser Alexiei, o filho mais velho, chegou a Ter esperanças de que não fosse tão burro assim. Tamanha foi sua surpresa ao ver uma pirralha de dez anos murchar um rato enorme na sua frente.

Ele gritou:

_ O que você pensa que está fazendo?

A menina não fez movimento brusco, ergueu-se com classe e o encarou dignamente. Nicolai espantou-se com a firmeza da atitude dela, intensificada pela frieza do olhar. Reconheceu alguns traços genéticos da família e um certo tremor de prazer que vira centena de vezes no olhar de seus pais e avós quando eles desafiavam alguém a quem iam vencer.

Não iria admitir que uma pirralha o derrotasse, quanto mais uma bastarda. Num movimento quis arrancar a varinha da mão dela.

_ Nem pense nisso! - ela falou.

Foi só então que Nicolai teve dimensão total do que a moça Aahad havia ensinado a filha. Pois no seu braço, não só estava sua varinha, como também uma serpente negra do deserto, pronta para destilar seu veneno com a mesma frieza no olhar. Soltou a varinha.

A serpente voltou a ser a linda garotinha.

_ Espero que você saiba quem está no comando a partir de agora - ela sorriu desafiando - Não quero muita coisa por enquanto, apenas ir para Hogwarts...

_ Quem você pensa que é?

_ Eu sou Selena Aahad Marvolo E uma Marvolo sempre merece o melhor, nem que ela tenha que conseguir o que quer pelos seus próprios meios - dizendo isso Selena lançou a maldição cruciato num rato na coluna atrás de seu pai. O ratinho caiu se contorcendo de dor.






Remus fechou o livro e os olhos. A lembrança de Selena estava tão viva que ele quase podia toca-la. Quis fechar os olhos para contemplar melhor a imagem, acabou dormindo, sonhando com ela.

Ele só foi acordar novamente com a presença de um dementador dentro do expresso, já estava próximo de chegar em Hogwarts. Tão perdido estava em seus pensamentos e sonhos que dormiu a viagem inteira.

Sorriu ao perceber que Harry Potter sentara na cabine com ele. Ao menos uma coisa boa sobrara daquela história, o menino. Pelo que vira o garoto passou mal com a presença da criatura nojenta, deu-lhe chocolate, espantou o dementador e puxou assunto. Lembrou de Sirius. A onde estaria?



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