O passado dentro de um livro



Foi num misto de emoções que sentou no banco do Expresso de Hogwarts naquele dia. Voltar à escola trazia lembranças de todos os tipos, a maioria boas; e saudades, daquelas que doem no coração.

Remus J. Lupin estava preocupado como na primeira vez que tomou o mesmo trem na estação King’s Cross. Agora não era mais um menino, mas o problema que o acompanhava desde sempre ainda estava lá.

Quantas vezes ele não quis gritar ao mundo que era um lobisomen, que não tinha culpa de ser assim, que ninguém precisava tratá-lo diferente por causa de algumas noites durante o ano... Mas o medo de não ser aceito era maior. Convivia com a dúvida, assumir ou não, já tinha 36 anos e por enquanto o não ia vencendo.

Não conseguia arrumar empregos decentes, mesmo tendo estudado tanto. Agarrou a chance de ensinar Defesa contra as artes das trevas como a uma muleta, a última tábua num oceano de sofrimento em que a vida o fizera naufragar desde cedo.

Ele ainda achava que valia à pena lutar. Sempre havia uma luz no fim do túnel escuro que o levava para a sala debaixo do Salgueiro Lutador e mesmo com a maior das luas cheias, amanhã o sol sairia brilhando. Hogwarts o ensinou isso, ele agora queria retribuir ensinando um pouco às crianças de Hogwarts, mas o problema que o acompanhava desde sempre ainda estava lá...

A luz do fim do túnel parecia novamente estar em Hogwarts, Severo Snape. Quem diria... Logo ele, a quem Lupin quase matou, tinha uma poção não para livra-lo do sofrimento, mas ao menos ameniza-lo. Só a possibilidade de permanecer consciente durante o tempo em que virava lobo já era o suficiente para torna-lo feliz, tanto que preso em seus pensamentos sentado na sua cabine sozinho Lupin começou a sorrir. Foi nessa hora que um mensageiro entrou:

_ Professor Remus Lupin?

_ Sim, sou eu. Por que? Deseja alguma coisa?

_ Vim lhe entregar isto - entregou um pacote grande demais para uma coruja carregar - Pode assinar aqui, por favor?

Lupin assinou o documento e o rapaz saiu por entre as crianças barulhentas que começavam a entrar no trem e se acomodar para a viagem.

Curioso Remus abriu o pacote, haviam dois livros. O primeiro era pequeno, de capa verde, com as letras do título cravadas em prata, era novo, recém editado, parecia um romance desses comuns nas livrarias por todo o país, o título era “Veneno e Lua”. O segundo livro era grande, de capa marrom amarrotada e velha, cheirava a guardado e logo na capa estava escrito “Anotações de Sir Joseph T. Chant”.

As coisas começavam a fazer sentido.

Procurou por uma carta, deveria haver uma. Encontrou duas na primeira página do livro grande.




Professor Remus Lupin,

Gostaria primeiramente de me apresentar. Meu nome é Athila W. Riter, fazendeiro e escritor.

O livro que o senhor recebeu de título “Veneno e Lua” fui eu quem escrevi com base numa história contada pelo meu vizinho, amigo e engenheiro, Joseph Chant. Ele me incentivou durante anos, de forma que quando morreu, ano passado, me vi quase na obrigação de publicar a história que é mais dele do que minha.

No entanto, meu amigo fez algumas exigências. A primeira era que eu lhe enviasse a carta e o livro de anotações dele, nunca li nenhum dos dois. A segunda é que o livro só fosse publicado com a sua permissão.

Como meu editor gostou muito da história e pelo jeito, vou conseguir publica-la. Gostaria de pedir sua permissão pois não vou quebrar minhas promessas com o Chant.

Aguardo a sua resposta o quanto antes.

Atenciosamente,

Athila W. Riter.




Mexeu um pouco no livro pequeno, a edição era de muito bom gosto. Folheou indignado pensando que Chant não tinha o direito de expor assim vidas que não lhe diziam respeito, mesmo mudando os nomes, os lugares, as datas... Ele ainda sabia quem eram.



Remus,

Sei que não somos amigos e nem seremos. Tivemos o nosso motivo. E nós dois sabemos bem o quanto valeu à pena.

Você foi um desafiante leal apesar de tudo. Eu é que não conseguia medir até a onde se deve ir adiante e quando é a hora de parar de insistir.

Ainda não consigo. E é por isso que vou me matar. Fazem anos que não durmo lembrando dela e de quanto ela sofreu.

Se eu pudesse daria a minha vida para que essa história fosse diferente. Pelo menos eu teria o consolo de vê-la feliz ao seu lado.

O único jeito que encontrei foi contar a história para alguém, para todos, com outros nomes, outros cantos, mas ainda assim, a história de amor verdadeiro mais linda que já existiu, e assim imortaliza-la.

Eu sabia que se escrevesse o livro eu mesmo, ia ficar real demais. Por isso, incentivei Athila a faze-lo.

Ele não sabe de nada, é um bom homem, um simples bruxo fazendeiro que não faz mal a ninguém. O romance dele até me surpreendeu, sugiro que o leia com carinho, acho que a simplicidade da vida no campo tem dessas coisas, dão uma sensibilidade a mais a quem nasce por aqui.

Quando terminei de ler o rascunho do livro, mesmo com todos aqueles erros de grafia, senti um alívio no coração, percebi que finalmente poderia descansar, pois não agüento mais os pesadelos com os quais convivo.

A história verdadeira eu reservei para você. Está no livro grande, espero que compreenda melhor o que aconteceu.

Claro que se a minha idéia de contar a história ao mundo não lhe agradar de jeito nenhum, é só não permitir que Athila a publique. Eu garanto que ele não se oporá a sua vontade.

Com carinho,

Joseph.




Com a cabeça borbulhando com as lembranças e sem saber se era certo ficar com raiva de alguém que já morreu, pior ainda, que se matou, Remus leu a primeira página.

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