Os treinos à la Hermione



Naquele mesmo dia, Hermione, logo após o almoço, disse aos três que ia fazer um negócio muito importante na biblioteca e não apareceu mais. No resto do dia, Liz e Rony jogaram cartas, e Harry até tentou, mas depois de ser derrotado duas vezes, desistiu. No outro dia, Hermione acordou todo mundo bem cedo (“Mione, hoje é domingo” - retrucou Rony) e mostrou aos outros três os seus planos de treinamento e estratégias para todo o Torneio:

_ Ontem eu não preguei o olho pesquisando. Peguei alguns livros da biblioteca falando dos feitiços de ilusões... - e despejou uma pilha de mais ou menos vinte e cinco livros na mesa da sala comunal.

_ Alguns? Tem certeza de que não foram todos? - falou Rony

Harry e Liz soltaram risinhos baixos, mas Hermione fez uma cara séria pro lado do garoto:

_ Não, alguns livros. Não peguei todos porque Madame Pince não deixou. Mas como eu ia falando, fiz uma pesquisa sobre alguns feitiços mais poderosos e os mais usados, claro, com a ajuda do prof° Binns, que pela primeira vez se empolgou em me explicar sobre os Torneios Tribuxos e as provas da época dele...

_ Ou seja, há mais ou menos mil anos atrás... - completou Rony, e dessa vez Hermione riu junto com Harry, mas Liz ficou sem entender nada:

_ Quem é esse tal de prof° Binns?

_ Nosso professor de História da Magia. Você não o conhece porque a gente não teve aulas com ele ainda. Ele é um fantasma. E as aulas dele são que nem ele: mortas! - explicou Hermione

_ Hermione falando mal de um professor. Essa eu não esperava! - falou Harry

_ Que seja, mas continuando pela terceira vez... ele me mostrou todos os documentos que ele tinha, até o último Torneio que usou prova de resistência com as estufas.. e o feitiço mais usado foi... - e pegando um livro titulado “As ilusões dos Bruxos”, abriu numa página com uma foto que só mostrava fumaça - esse.

_ E qual é esse feitiço? - perguntou Harry

_ O feitiço posólico das ilusões.

_ Qual? - perguntaram Harry e Rony

_ Não me diga que vocês não conhecem? - perguntou Liz, inconformada.

_ Não! - respondeu Rony

_ Feitiços posólicos são feitiços que precisam de poções depositadas nas varinhas. Claro que são varinhas especiais, feitas somente para esse tipo de feitiço.

_ E o feitiço posólico das ilusões é feito com uma poção afeta-memória, que causa alucinações, mas só funciona como feitiço. Daí algumas palavras mágicas e pronto. Uma espécie de fumaça invade o lugar e você tem ilusões durante quatro horas, entre um intervalo de quarenta e cinco minutos. - completou Hermione

_ E quem garante que vai ser esse o feitiço que eles vão usar nesse Torneio, Mione?- perguntou Harry

_ Não escolhi Viviam Drake para ser a monitora no meu lugar à toa. Ela é a melhor amiga da monitora-chefe desse ano, que sempre tem contato com os professores da escola e, é claro, com os organizadores das provas do Torneio. E, por ser monitora-chefe, vira e mexe tem que ajudar os professores a montar as provas e os feitiços.

_ Concluindo: essa mesma monitora-chefe conta pra Viviam Drake sobre o feitiço usado, e você vai lá e pergunta qual foi o feitiço de ilusão que eles usam, acertei?- chutou Liz

_ Exato. Mas, como ela pode estar mentindo, resolvi então ir mais fundo e perguntar para a dona Maricotinha se a diretora da sua escola, Liz, comentou se iam usar algum tipo de “líquido” pra fazer as ilusões.

_ Dona Maricotinha? Não tinha uma pessoa melhor, não?

_ Não! Como você mesmo disse, ela é bem fofoqueira. Mas ela disse que não tinha ouvido nada a respeito, aí eu perguntei se ela tinha ouvido falar sobre alguma coisa que tinha o nome de posólico ou de afeta-memória. Aí ela se lembrou de ter ouvido um dos professores reclamar que não encontrava ingredientes para fazer um tal “suco” de afeta-memória, que na verdade ela ouviu poção, mas julgou ser suco. Aí eu confirmei nos livros se tinha algum outro feitiço que usava a poção, mas esse era o único.

_ Certo, Mione, mas, já que nos acordou às tantas da manhã em pleno domingo e nos deu essa mini-aula, pode nos dizer: pra que tudo isso? - perguntou Rony, já ficando bravo.

_ Eu já ia explicar, Rony. Bem, com essa informação, já estamos um pouco na frente. Segundo Viviam Drake, a monitora-chefe disse que muitos alunos de outras escolas já estão treinando há muito tempo, já que vários diretores viram as estufas, incluindo a sua diretora, Liz.

_ Mas ela não me contou qual ia ser a primeira prova! Só contou pra dona Maricotinha, que contou pra todo mundo aqui. - se defendeu Liz

_ Eu sei, mas os outros diretores não foram tão honestos como a sua e contaram para os seus alunos. Concluindo: temos que treinar para se classificar!

_ Você está bastante empolgada com esse torneio, não é Hermione? - disse Harry.

Hermione ficou levemente ruborizada, mas não perdeu a pose:

_ Já que entramos, temos que pelo menos nos esforçar para ganhar!

_ Isso me inclui? - perguntou Liz

_ Na verdade, não! Mas, já que é por classificação, você não vai nos atrapalhar treinando com a gente, pelo menos por enquanto.

_ Harry! - cochichou Rony em particular com o amigo - A Hermione está se comportando com a Liz como se comportava com a gente no primeiro ano, lembra?

_ Lembro. - respondeu Harry, também cochichando - Mas, por que será?

_ Sem querer interromper, mas cochichar é muito feio, ninguém lhes ensinou?- reclamou Hermione

Harry e Rony se calaram.

_ Bom, como eu ia dizendo antes de ser interrompida pela milésima vez, ontem à noite eu não dormi pensando em um plano de treinamento para a gente...

_ Você daria uma ótima capitã do time de Quadribol, Mione. Até parece o Wood falando. - comentou Harry

_ Fiz isso porque sou sua escudeira. O maior interessado deveria ser você!

_ Se for por isso, você não precisava ficar a noite toda acordada planejando tudo. A gente podia fazer isso mais tarde, juntos.

_ Bem mais tarde. - reclamaram Rony e Liz, juntos

_ Eu sei, mas a gente não pode perder tempo. - disse Hermione ficando vermelha - Então eu me adiantei, por v... por todo mundo!

_ Obrigado Mione! Mas não era necessário, é só um torneio!

_ UM TORNEIO MUITO IMPORTANTE, HARRY! ACHO MELHOR VOCÊ SE ESFORÇAR! - reclamou Liz, dando várias almofadadas na cabeça dele.

_ Que seja, mas eu posso continuar? - interrompeu Hermione, bruscamente. - O plano é o seguinte: iremos treinar todo dia, na hora do almoço.

_ SEM COMER? - perguntou Rony, indignado

_ Claro que não! A gente vai comer logo após os treinos. Dobby vai trazer o nosso almoço.

_ E o fale?

_ F.A.L.E., Rony! Quantas vezes eu vou precisar te lembrar ? E eu estou pagando pra ele trazer a nossa comida, não me esqueci disso.

_ Eu não queria interromper essa conversa, mas... quem é Dobby? E o que é esse tal de fale? - perguntou Liz

_ É F.A.L.E., Fundo de Apoio e Liberação dos Elfos.

_ E Dobby é um elfo que é nosso amigo. - respondeu Harry. - Ele tentou salvar minha vida no segundo ano, mas quase me matou.

_ Ah tá.

_ Posso continuar? - perguntou Hermione

_ Pode. - respondeu os outros três

_ Bem, na hora do almoço a gente vai treinar em uma sala vazia, principalmente para se defender desse feitiço de ilusão. Para isso, eu vou lançar na sala todo dia, e...

_ Como, Mione? - perguntou Harry - Não precisamos de uma varinha especial pra fazer esse feitiço? E a poção?

_ Pensei nisso também. Pedi pra Winky ir a Hogsmeade comprar essa varinha pra mim. Engraçado que ela não quis que eu a pagasse por isso.

_ Será porque elfos gostam de trabalhar sem receber nada em troca? - perguntou Rony

_ Ah, não, de novo não! - reclamou Harry - Vocês não vão brigar por isso de novo, né?

_ Será que eu POSSO TERMINAR? - interrompeu Hermione

_ Pode. - respondeu Liz, depressa. - Vai logo, não agüento mais esse termina-não-termina.

_ Então, agora que eu já estou com a varinha...- e pegou do bolso uma varinha de mais ou menos 30 cm, aparentemente feita de mogno e com um tipo de compartimento no cabo - podemos nos preocupar com a poção. Já peguei o livro que tem a receita, e já arranjei os ingredientes. Agora, nós temos que fazê-la ainda hoje, para amanhã já podermos treinar. Agora, quanto aos feitiços de ataque e defesa, a gente treina de noite, e vamos começar hoje. Tenho uma lista que pedi pro Prof° Flitwick, com todos os feitiços que serão úteis. Como sabemos, ele foi um grande duelista. Então, estamos entendidos?

_ Só tenho uma pergunta, Hermione.

_ Qual, Liz? - ela já disso isso irritada.

_ À que horas? Quero dizer, hoje à noite?

Hermione soltou um leve sorriso:

_ Às onze. Tudo bem pra vocês?

_ Por mim, tudo bem. - respondeu Liz

_ Por mim também. - respondeu Rony

_ Pra mim também. - respondeu Harry

_ Então está combinado! Às onze, na sala de Estudo dos Trouxas. Agora vamos descer, pra ninguém desconfiar.

E ela saiu pelo retrato da Mulher Gorda. Ao sair, Rony virou pra Harry e Liz:

_ Cuidado, Mione raivosa! Ela pode morder!

Harry e Liz caíram na risada.


Até a hora do almoço, Hermione não tocou mais no assunto do Torneio. Ficou fazendo o seu dever de Aritmancia, com a ajuda de Liz, que terminou o dela. Harry e Rony jogaram snap explosivo e fizeram planos de atacarem Malfoy com uma nova gemialidade Weasley. Mas na hora do almoço, Hermione resolveu tocar no assunto novamente:

_ Já arranjei tudo. Como da última vez, vamos fazer a poção no banheiro da Murta-que-Geme.

_ Última vez? Vocês já fizeram alguma poção escondidos antes? - perguntou Liz, animada.

_ Já. No segundo ano, fizemos uma poção Polissuco para espionar Malfoy. - respondeu Harry, e Hermione ficou de cara feia.- Por que essa cara, Mione?

_ Por nada. - e cochichando no ouvido de Harry - A gente vai ficar contando pra essa aí tudo o que a gente fez?

_ Ah tá.

_ Bem, o mais importante é que ninguém pode saber. Ouviu, Liz?

_ Eu não vou contar pra ninguém!- respondeu, ofendida

_ Certo. Então, assim que terminarmos, vamos começar a poção. Os ingredientes já estão no banheiro. E como ainda está interditado, e, é claro, a Murta ainda está lá, ninguém vai. Conferi se algum campeão ou escudeiro teve a mesma idéia.

_ E alguém teve? - perguntou Rony

_ Não, ainda bem. As Campeãs morrem de medo da Murta e os Campeões não querem nem chegar perto do banheiro das meninas...

_ Claro, eles não são malucos que nem a gente. Arrependo-me profundamente de um dia ter entrado naquele banheiro.

Liz começou a rir, e Rony olhou com uma cara feia pra ela:

_ O que foi?

_ Nada, é que eu não imagino um garoto como você ou o Harry entrando em um banheiro feminino. Tenho que admitir, essa é uma ótima idéia.

_ Foi uma emergência!

_ Sem comentários. Bem, mas me contem, por que justo esse banheiro?

_ Por causa da Murta que Geme. - respondeu Harry

_ Hum... - e ficou um tempo pensando - e quem é essa?

_ É uma fantasma que mora em um banheiro. E bem sensível, por sinal.

_ Ah, que legal.

_ Legal? - perguntou Rony - É porque você ainda não a conhece.

_ Não deve ser pior do que a dona Maricotinha.

_ Você realmente não gosta dessa mulher. - comentou Harry

_ É porque você não conviveu com ela durante cinco anos. - respondeu Liz, rindo.

Hermione empurrou o prato e se levantou, saindo do salão:

_ Aonde você vai, Hermione? - perguntou Harry

_ Acabei de comer. Vou começar a poção. - e saiu com a cabeça baixa.

Liz olhou para o prato dela e abaixou a cabeça, meio triste. Rony notou que o prato de Hermione estava cheio e olhou para Harry, sem entender nada. Harry deu de ombros.

_ A Hermione é sempre assim, meio reservada, ou é impressão minha?- perguntou Liz

Os dois garotos se olharam. Quem respondeu foi Rony:

_ No primeiro ano, ela tratava a gente quase dessa maneira, mas geralmente ela costuma ser... aturável.

_ A Mione é uma menina legal, mas ela deve estar com vergonha, ou por não te conhecer direito, ela fica assim. - completou Harry

_ Então o problema é comigo mesmo. Já imaginava. Acho que ela não me quer treinando com vocês. Tudo bem, fala pra ela que não precisa me treinar...

_ NÃO! - gritaram os dois (Harry e Rony pra quem não sacou), fazendo Liz se assustar.

_ Ela só deve estar com vergonha, Liz. - explicou Harry. - Tenha calma com ela.

_ Vai, Liz, não liga pra Mione. - insistiu Rony. - Com o tempo ela se acostuma e vira sua amiga.

_ Tá, né? “Se é para o bem e a felicidade geral da nação, diga ao povo que fico.”

_ Quê? - perguntaram os dois

_ Esquece. Nada não. - e murmurou para si mesma - Você não está no Brasil, esqueceu?

Harry e Rony deram risadas, mesmo sem entenderem nada.


Os três foram andando até o banheiro, comentando sobre o Torneio. Mas Liz parou assustada quando viu a inundação perto do banheiro:

_ Hoje a Murta não está muito feliz. - comentou Harry

Rony sacudiu a cabeça, inconformado. Abriu a porta e entrou resmungando alguma coisa. Harry foi logo atrás e Liz entrou por último, ainda assustada:

_ Parece que a descarga não tá funcionando muito bem.

_ Quem dera fosse isso! - resmungou Rony

Hermione estava fazendo um barulho danado. Vira e mexe se ouvia barulhos de frascos caindo no chão e resmungos da garota. Por isso Rony a achou fácil. Ao tentar abrir a porta, estava trancada.

_ Hermione, quer abrir?

Mais uma vez se ouviu frascos caindo. Demorou um pouco para a garota abrir a porta, mas quando abriu, estava com o rosto vermelho.

_ Que foi, Mione? - perguntou Harry, assustado

_ Nada, só está muito abafado aqui. Vamos, entrem.

Os dois garotos entraram, mas Liz ficou do lado de fora, procurando alguma coisa. Quando deram pela falta da garota, ela estava olhando para a pia do banheiro feminino, examinando cada detalhe, cada traço, cada esboço. Olhava com um interesse profundo, mas com um certo receio, meio que com medo, meio que com coragem. Harry, Rony e Hermione olhavam super curiosos, tentando entender o que ela estava fazendo. Quando ela virou, desistindo do que estava fazendo, pulou pra trás:

_ Que foi?

_ A gente é que pergunta. - respondeu Hermione. - Tava procurando alguma coisa?

_ Nada de mais. Tava calor e eu resolvi passar uma água na cara. Aí eu achei essa pia interessante. Ela é bem diferente, né?

Os três se entreolharam. Nessa hora, a Murta saiu de um dos vasos sanitários, chorando e se lamentando, mas ao ver Harry, sua expressão já mudou (pelo menos ficou menos triste):

_ Oi Harry, tudo bom?

_ Hã... oi Murta.

_ Fazendo outra poção? Que bom, isso quer dizer que você vai vir aqui direto?

_ Talvez.

A fantasma olhou para fora do box e viu Liz, boiando:

_ E quem é ela?

_ Essa é nossa amiga. Liz, essa é a Murta, Murta, essa é a Liz.- respondeu Harry

_ Ouvi falar muito de você, Murta.- disse Liz, tentando ser educada.

_ Claro. Aposto que falaram muito mal de mim, né? “Ah, a Murta chorona, infeliz, fresca, gorda, quatro olhos e que vive gemendo.” Bela fama, não? Eu não acho!- e saiu chorando pelo vaso novamente, voltando logo depois. - Você não é de Hogwarts, é?

_ Não. Eu sou de uma escola do Brasil, mas vou participar do Torneio e... ei, eu já te vi antes.

_ Deve ter me visto nas fotos da escola. Me ridicularizaram...

_ Não! Você estudou com o meu bisavô, há cinqüenta e quatro anos atrás, não foi? Você apareceu em uma das fotos dele.

Murta olhou espantada e soltou um sorriso indiferente:

_ E quem era o seu bisavô? Aposto que deve ter me xingado muito.

Liz olhou para Harry, Rony e Hermione. Disse num tom abafado:

_ Não posso dizer. Desculpe.

_ Claro! - gritou Murta. - Deve-se manter a identidade de um falso. Por que comigo? - e ficou a chorar num canto, até desaparecer de vez.

_ Eu só quis ser gentil...

_ Murta! - concluiu Rony

Harry até daria risadas se Hermione não estivesse com uma cara muito séria, e bastante desconfiada. Depois de algum tempo, percebeu que a amiga olhava para Liz. Ficou imaginando o que ela estaria pensando, mas nem deu tempo, porque logo em seguida Hermione entrou de novo no box e ficou fazendo a poção. Harry foi atrás e deixou Rony contando as histórias da Murta para Liz:

_ Mione, o que foi?

_ Nada Harry, só tenho que terminar a poção.

_ Posso te ajudar?

_ Ah, mas tem tão pouca coisa...

_ Que seja, deixa eu te ajudar.

_ Tá, então pica essas aranhas do norte. O veneno delas é que vai fazer com que os campeões entrem em transe.

Harry pegou as aranhas que estavam todas amontoadas em um frasco e picou conforme as instruções de Hermione. Durante muito tempo, eles ficaram calados, concentrados na poção, mas Harry não agüentou e perguntou:

_ Hermione, o que está acontecendo? Ultimamente você anda tão... estranha!

A garota parou na hora de mexer a poção. Seus olhos foram se enchendo até que ela esfregou o olho e disse:

_ Essa poção é muito quente, me faz até chorar. O que foi que você perguntou Harry?

_ O que está acontecendo.

_ Nada.

_ Então por que você está tão esquisita? Ultimamente você não tem feito nada a não ser pesquisar e estudar.

_ Sempre fui assim. Agora, vai criticar o meu jeito de ser? Ah, já sei, é porque a Liz é muito diferente, ela se interessa em ficar jogando cartas com o Rony e conversando com você sobre... assuntos de garotos, não é?

_ Como é que é? Você tá com ciúmes da Liz? Pensei que já não gostava mais do Rony. Tá bem, uma queda ainda vai, mas você mesma confessou que o que sentiu por ele foi uma aventura.

_ E foi! E não é por causa dele que eu tô assim!

_ Então é por quê?

_ Por nada. Vocês é que estão diferentes desde que a Liz chegou.

_ O problema então é com a Liz? Por que você não gosta dela?

_ Não é que eu não goste dela, mas... sei lá... ela é estranha!

_ Como assim, estranha?

_ Ela se comporta de uma forma muito diferente de uma menina normal. A forma como ela fala, anda, se veste... tudo.

_ Deve ser porque ela veio do Brasil, e lá deve ser diferente.

_ Pode ser que ela tenha vindo do Brasil, mas ela com certeza não é de lá.

_ Como assim ela não é de lá? Ela é a campeã do Brasil, não é?

_ É, mas... nada não! Deixa pra lá. Termina de cortar essas cebolas carnívoras, a poção está quase pronta.

Nessa hora, Rony entrou no box já apertado e o lugar ficou ainda mais abafado. Ao despejarem as cebolas, tudo ficou cheio de fumaça, que os óculos de Harry ficaram embaçados (agora eu lembrei daquele episódio de Friends, que os óculos do Chandler ficaram embaçados e ele sentou no colo do pai da Monica, só que o Harry não sentou em cima de ninguém, pelo menos por enquanto). Hermione levou o caldeirão para fora e começou a preparar a varinha para receber a poção (“Tem que programar para que ela faça o efeito certo”). Enquanto com sua varinha normal ela conjurava várias coisas e colocava vários líquidos, Harry conversava com Rony:

_ Cadê a Liz?

_ Disse que tinha que resolver um problema importante, como ontem. Toda a vez que os “amigos” dela passam com uma cara feia, ela sai correndo. Impressionante.

_ Não será por que ela ouviu o que a Hermione disse?

_ A Hermione disse alguma coisa?

_ Você não ouviu?

_ Não!

_ Ufa! Então a Liz não deve ter ouvido também.

_ Acho que sim. Ela tava toda empolgada, quando os amigos dela passaram e ela saiu correndo, dizendo que voltava logo. Mas o que foi que a Mione disse?

_ Que acha a Liz estranha. Que o jeito de andar, de falar e não sei mais o quê dela é muito diferente das meninas normais. E ela mencionou algo da Liz não ser do Brasil ou algo assim...

_ Como? Ela é campeã do Brasil!

_ Acho que tem alguma coisa que a Hermione sabe sobre a Liz que a gente não sabe.

_ O que pode ser qualquer coisa, afinal, a Liz é tão cheia de mistérios...

_ Pronto! - gritou Hermione. - Agora é só esperar que a varinha absorva toda a poção para que a gente possa fazer o feitiço.

_ E quanto tempo isso demora?

_ Vinte e quatro horas, Harry. Só amanhã. Mas hoje a gente vai treinar os ataques, mesmo assim.

_ Grande coisa! - resmungou Rony

_ Falando nisso, cadê a Liz?

_ Teve que sair. Resolver uns problemas.

_ Então tá. Vamos, não temos tempo a perder, temos que procurá-la. Ainda temos uma coisa a fazer antes do treino.

_ O quê?

_ Não posso falar agora, Rony. Vamos logo, esse lugar está muito abafado.

E saíram do banheiro, a procura de Liz. Hermione ia dando passos largos e rápidos, com muita pressa. Rony ia ficando até com medo, e Harry não entendia nada.

Depois de mais ou menos meia hora de procura, os três ouviram a voz de Liz de longe, falando alguma coisa que nenhum deles entendia (com certeza ela devia estar falando português). Os três saíram correndo na direção da voz, até que chegou em um corredor, onde Liz estava com Thomas e Alice, os dois últimos se beijando, parecendo dois desentupidores de privada. Rony virou o rosto, com nojo. Harry e Hermione fizeram cada um uma cara meio estranha, mas a de Liz era a melhor: ela estava com a cara toda retorcida, com a língua de fora e com o dedo na boca (como os garotos do Batutinhas, quando ficam falando “meninos (as), bleh!”). Quando os dois pombinhos terminaram, Liz disfarçou a cara, assim como os outros três. Tomando coragem, Liz falou:

_ Agora já está tudo resolvido, podem ir. Preciso resolver outro problema.

Os dois saíram. Liz, ao verem que eles tomaram distância, fez uma cara totalmente enojada e disse:

_ Como podem? Parecem até que querem roubar a comida do estômago. Que nojo.

Todos concordaram, mas aí Hermione se lembrou porque estava ali e falou:

_ Liz, nós vamos começar a treinar agora.

_ Agora?!

_ Agora!

_ Ei Mione! - exclamou Rony. - O treino não é só de noite?

_ É, mas tenho que fazer uma coisa com vocês ainda. Por quê?

_ Não, nada!

_ E o que exatamente a gente vai fazer, Mione? - perguntou Harry

_ Já falei que não posso falar. Mas, vamos, não temos um segundo a perder.

Os três foram seguindo Hermione, cada um mais curioso que o outro. Liz fingia que olhava as cartas dos bruxos, mas prestava a máxima atenção para ver se Hermione dava alguma dica. Ao chegarem em uma sala vazia, Hermione mandou que todos se sentassem e sem mais nem menos entregou um monte de folhas para cada um, cada uma com dez perguntas:

_ Mione, o que é isso? - perguntou Harry

_ Um teste.

_ Um teste? - disse os três

_ Um teste. Preciso saber quais ataques vocês sabem... e já ir treinando qual vai funcionar melhor.

_ Não creio! - reclamou Liz

E o teste foi seguindo. Harry nem sabia o que responder. Tinham umas perguntas do estilo “Qual o feitiço que bloqueia melhor uma bola de fogo atirada de até três metros de distância?” ou “Como se ataca um bicho papão sem usar o feitiço ‘Ridicullus’”. Rony coçava a cabeça, pensativo, enquanto Liz fechava os olhos e deitava a cabeça até colocar qualquer resposta. No fim do tempo, Hermione catou as provas e corrigiu silenciosa. Liz tentava espionar a sua nota, mas Hermione escondia cada vez mais. Harry e Rony, já não agüentando tanta espera, decidiram também tentar espionar, mas depois de tantas tentativas frustradas, ela finalmente terminou com uma cara de puro desgosto:

_ Vocês não lembraram de quase nada do ano anterior. E pelo jeito não leram os livros desse ano. Que vergonha. Rony, você tirou nota três, enquanto você Harry, tirou sete. Até que você foi mais ou menos, mas as mais importantes você errou! Não dá. E desde quando se usa o “Patrono” pra bloquear bicho-papão?

_ Desde sempre. Uso isso há mais ou menos três anos.

_ Mas não é e pronto.

_ E eu? Tô aqui tentando ver a minha nota há meia hora e você não fala? - perguntou Liz, indignada.

Hermione ficou séria e pegou a prova da garota:

_ Você tirou dez, não errou nenhuma.

_ Ufa! Achei que tinha ido mal, me esforcei bastante para aprender como me defender de certas criaturas, no Glória a gente dá mais espaço para sacis, mulas-sem-cabeça e por aí vai...

Bastou Rony fazer uma cara de “não-tô-entendendo” pra Liz explicar o que era tudo aquilo:

_ Criaturas lendárias do Brasil, Rony. A gente se concentra mais neles do que nos outros. Esquece, vocês não conhecem.

Hermione interrompeu bruscamente e anotou um monte de coisas. Depois se levantou e foi para a biblioteca, deixando os outros três sozinhos.

De noite, Hermione começou o treino falando muito, fazendo Rony murmurar “matraca” durante mais uma onda de explicações. Ao terminar de falar, Hermione pegou um pente fino e soltou o bicho papão:

_ Agora prestem atenção. Isso é um feitiço para bloquear bicho papão, mas que é mais útil que o “Ridicullus” e não é o “Patrono”, ouviu Harry?

_ Ouvi. – disse, resmungando

Hermione mirou para o bicho-papão e esperou até ele tomar a forma da McGonagall, dizendo que ela estava indo muito mal nas matérias. Ele tomou ar e disse bem forte: “Extupendus Ridicullus”. E a professora falou imediatamente desculpas, dizendo que o boletim era de Pansy Parkinson. Logo em seguida, apareceu Rita Skeeter com uma roupa de puta, gemendo e gritando. Hermione soltou uma gargalhada tão forte, mas tão forte, que a sala ecoou. O bicho papão caiu, exausto:

_ E esse é o feitiço. É quase a mesma coisa que o “Ridicullus”, só que ele tem o poder dobrado, e vai transformar o bicho-papão em um monte de coisas que vocês acham engraçado até vocês rirem. Vão, tentem.

Rony teve facilidade com o feitiço, embora só tenha conseguido fazê-lo na última tentativa, depois que se assustava com a bendita aranha. Liz tinha um pequeno problema: aparecia um monte de coisas e ela não dava risadas. Hermione reforçava para ela pensar em algo muito engraçado, se concentrar bastante, mas Liz dizia que não conseguia. Aí Hermione dava uma bronca porque ela soltava o feitiço antes do próprio bicho se transformar, e Liz apenas balançava a cabeça e continuava. Já Harry tinha uma vontade imensa de soltar um “patrono” toda vez que o bicho papão se transformava em dementador, mas Hermione soltava um grito alto e agudo na orelha dele, que estoura os tímpanos de qualquer um, e ele soltava o outro feitiço (também, pudera, com um grito no seu ouvido você muda na hora), que pelo menos com ele funcionou muito bem.

Os treinos corriam bem. No outro dia, na hora do almoço, Hermione soltou o feitiço posólico na sala e começaram os treinos oficialmente. Era uma sensação muito estranha. Uma fumaça aparecia na sala e cobria tudo, fazendo com que ninguém visse nada. Depois de alguns minutos, do longe apareciam umas figuras um tanto estranhas ás vezes, mas ás vezes aparecia pessoas que diziam coisas que não tinham nexo nenhum ou então, até demais. Rony insistia que via sempre uma grande velha andando e vendendo doces. Hermione comentava que sempre via um grupo de estudantes e elfos fazendo protestos ou um bando de professores discutindo sobre suas aulas. Liz não comentava o que via, e Harry via tanta coisa que nem sabia o que dizer, embora um dia tenha tido a impressão de que estava vendo todos os marotos zoando e jogando. Uma coisa as ilusões tinham em comum: todas os induziam a fazerem algo, e por isso eles treinavam com todo o empenho. Dobby levava a comida todo dia, e se sentia muito lisonjeado de fazer tal tarefa (claro, depois que Hermione pagava). No primeiro dia, Dobby se apresentou à Liz com muito interesse:

_ E a senhorita, quem é?

_ Sou Liz, e você deve ser Dobby, não é?

_ Sim senhorita, Dobby, o elfo.

_ É um grande prazer conhecê-lo, Dobby.

_ Você é amiga de Harry Potter?

A garota olhou para Harry e disse:

_ Pergunta para ele!

Dobby soltou um grande “ah” de admiração e disse:

_ Garota como a senhorita não só pode, como deve ser amiga de Harry Potter.

De noite, eles treinavam cada dia mais ataques, cada um se concentrando em um tipo diferente. Hermione se concentrava em ensinar e aprender todos; Rony, em jogar bolas de fogo; Liz, no Ridicullus melhorado; e Harry em um feitiço novo que Hermione lhe ensinou, um tipo de jato de vento que fazia os outros voarem longe, fora um dos feitiços que Gustivitz tinha comentado, o menos potente do que o sonífero, já que uma sereia poderia muito bem ser usada na prova.

E depois de uma semana e meia (pra ser mais exata, depois desse capítulo longo e chato), o dia chegou. A escola toda estava agitada, se movimentando de um lado para o outro. Enfim, a primeira prova! (Aleluia! Aleluia! Aleluia, aleluia, aleluuuuiaaaaaaa!)


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