Vozes e ilusões



No sábado da prova, Hermione acordou todo mundo bem cedo, para repassar tudo que tinham feito. Liz demorou um pouco pra se arrumar, enquanto Harry e Rony tentavam acordar por completo. Hermione estava muito agitada, parecia que queria botar um ovo.

Depois que Liz apareceu finalmente na sala comunal, Hermione começou as últimas explicações, enquanto Rony e Harry dormiam mais um pouquinho (ou pelo menos tentavam). Ao saírem da sala, Rony foi na frente com Liz, meio de boca aberta, já que a garota estava com todo o uniforme, mas em vez de saia, era um short bem justo; e um coque na cabeça. Hermione ia um pouco mais atrás, e Harry por último, meio cambaleando de sono. De repente, Harry se sentiu observado, e se virou para conferir se não era algum fantasma, talvez Pirraça, querendo fazer alguma brincadeira com ele. Não havia ninguém. Mione o chamou, e ele acelerou o passo:

_ Que foi Harry?

_ Nada não, só me senti meio observado.

_ Deve ter sido algum fantasma, ou então o Bichento. Tive muito trabalho para deixá-lo na Grifinória, ele tava querendo sair o tempo todo. Do jeito que ele é, deve ter fugido.

_ É, deve ter sido.

_ Ah, Harry, ontem eu passei na biblioteca para ver alguns livros para hoje e resolvi procurar aquele livro do Gringotes.

_ E? Você achou?

_ Não, tive que interromper a procura porque Madame Pince veio me pedir ajuda. Depois dessa prova, vou procurar de novo.

_ Nós te ajudamos. Essa história de roubo está me deixando a cada dia mais curioso.

_ Não te falei, né?

_ Falar o quê?

_ Os duendes do Gringotes descobriram que o ladrão deixou uma pista. Ele deixou um tipo de papel escrito em forma de hieróglifo, muito difícil de ser lido.

_ Então não adiantou nada terem encontrado isso.

_ Ah, não sei! A única coisa certa é que tá todo mundo muito preocupado. O Gringotes, que é o lugar mais seguro do mundo, já foi roubado, imagina os outros lugares...

Harry se lembrou do dia em que conheceu Hagrid. Ele mesmo tinha dito que Gringotes só perdia para Hogwarts, em questão de segurança. Claro que Harry não entendeu na época, mas naquele momento sabia que Hogwarts era mais seguro do que todos pensavam.

_ Vocês dois vão ficar parados aí ou vão vir logo? Eu quero comer! - reclamou Liz. - Daqui a pouco a gente vai ter que ir pro pátio e nem vamos ter feito nada.

Embora fosse cedo, o salão principal estava totalmente lotado. Todos os estudantes (os de Hogwarts e os outros) estavam aglomerados nas mesas, comendo e falando muito alto. Era muito estranha a cena, já que os alunos de Hogwarts sempre estavam torcendo por pelo menos dois campeões: Harry e outro que estivesse hospedado na casa. Com exceção da Sonserina, que torcia unicamente para Amanda, os alunos declamavam para quem estava torcendo além de Harry. Os que estudavam na Corvinal eram os mais engraçados: torciam para pelo menos cinco campeões de uma vez.

Ao entrarem no salão, Harry foi recebido com muitos gritos de empolgação pelos alunos de Hogwarts, com só algumas vaias do pessoal da Sonserina. Eles se sentaram à mesa da Grifinória e imediatamente todos começaram a paparicá-lo como se ele fosse um deus. Dino, Simas, Lilá e Parvati doaram todas as suas torradas para ele, e ainda perguntaram se ele queria mais comida:

_ Quando a oferta é demais o santo desconfia, hein? - disse Liz, em tom de risada.

_ Ah, isso não é problema! - respondeu Simas, fazendo ela se sentar - Não precisa ficar com ciúmes, você também tem seus direitos. O que é que você quer? Mingau? Cereal?

_ Só algumas frutas, obrigada! E não precisa me paparicar!

_ E a gente, não vai receber nada? - perguntou Rony, com a barriga roncando - Escudeiro também vai lutar.

_ Ah Rony, mas vocês dois não vão lutar tanto quanto eles, né? - falou Gina, trazendo o pote de salada de frutas.

_ Não precisava acabar comigo na frente de todo mundo, né Gina?

_ Ah, você é a Gina? - perguntou Liz - Rony me falou muito de você e dos seus irmãos.

_ É! - respondeu ela, meio vermelha. Retirou-se e voltou a falar com suas amigas, depois que cochichou alguma coisa no ouvido de Dino Thomas . Liz se serviu de salada de frutas e serviu um pouco para Rony, que reclamava que ninguém se importava com ele.

_ Salada de frutas pro neném.

_ Hahaha, muito engraçado. - disse sério.

Harry deu muitas risadas abafadas, enquanto Hermione se esforçava pra não rir. Quando estavam todos sentados, começou uma discussão para saberem para quem cada um estava torcendo:

_ Eu estou torcendo para pelo Harry, pela Liz e pelo Pietro - disse um aluno do segundo ano.

_ Pois eu vou torcer pelo Harry e pela Cassandra, aquela campeã da Índia. Ela é bem... misteriosa! - exclamou Parvati, empolgada.

_ Eu também! - respondeu Lilá.

_ Pois eu vou torcer pelo Harry e pela Liz. - respondeu Neville, com a boca cheia.

_ É muito bom ver que todo mundo está torcendo pra todo mundo, não acham? - perguntou Hermione para Harry, Rony e Liz. - Acho que essa foi a melhor coisa que fizeram nesse torneio.

_ Concordo. - respondeu Rony - Grande Gustivitz.

Nessa mesma hora, uma comitiva de alunos da Grifinória trouxeram as últimas bandejas de comida. Hermione soltou um grande sorriso nos lábios. Harry e Rony já sabiam o que ela deveria estar pensando. Seus pressentimentos se confirmaram quando ela parou um aluno do quarto ano e perguntou o que estava acontecendo que alguns alunos estavam levando a comida para as mesas e, com um brilho nos olhos, perguntou se os elfos tinham sido libertados:

_ Não! É que os elfos foram chamados para carregar algumas coisas pra prova do Torneio, e Dumbledore nos pediu para carregar as bandejas.

Hermione disse um “obrigada” meio sério e teve que agüentar Rony dando risadas. Mas não demorou muito e Rony já tinha parado: Malfoy estava vindo em direção à mesa da Grifinória, vestindo uma camiseta verde-esmeralda escrito “Amanda, a Campeã da Argentina e do Torneio!” em vermelho-sangue na frente e “Potter, o protegido perdedor!” atrás, escrito em verde-bosta de dragão.

_ Malfoy, logo agora! Estragou o nosso café! - reclamou Harry

_ Falando alguma coisa, Potter? Imagino que esteja nervoso com o torneio, não?

_ E é da sua conta?

_ Claro! É a honra da nossa escola que está em jogo!

_ E por que você está perguntando? Nem torcendo pra ele você está! - respondeu Hermione, áspera.

_ Não falei com você!

_ Mas ela falou! - disse Liz, em defesa de Mione.

_ Não precisava me defender, Liz. Já sou bastante grande pra me defender sozinha!

Liz soltou uma cara de “acabou-com-o-meu-barato” mesclada com um “estraga-prazeres”, mas continuou olhando para Malfoy com desdém.

_ Isso não importa! - continuou Draco - Só queria dizer que espero que tenham boa sorte, já que vão precisar! Amanda vem treinando há muito tempo, e ela já sabe qual vai ser a prova, diferente de vocês.

_ Não conte tanto com isso. - Rony quase disso isso, mas Harry tapou sua boca antes dele terminar sua frase.

_ O quê, Weasley? - perguntou Draco

_ Nada! - respondeu Rony, em tom de triunfo. Harry, Hermione e Liz também estavam soltando risos de satisfação.

_ Bom, seja lá o que for, eu sei que é uma vergonha pra Hogwarts ter um fracote como você, Potter, sendo o nosso Campeão! Sinal de que Dumbledore está ficando caduco.

_ Inveja da oposição! - “murmurou” Liz.

_ Se eu fosse você, calava essa sua boca, sua desgraçada! Isso é entre alunos dessa escola.

_ E se eu não quiser me calar? O que você vai fazer? Chamar aqueles seus amigos brutamontes pra me bater, já que isso é um serviço muito duro para a princesa?

_ Te importa?

_ Sim!

_ Então, já que perguntou, devo dizer que é melhor você já ir preparando as malas, porque, depois de perder a prova, você vai embora pro seu país de terceiro mundo e...

Mas nem deu tempo de Malfoy terminar a frase. Liz voou para cima dele e o derrubou no chão, fazendo-o ficar totalmente imóvel:

_ Se você não torce pro Campeão do seu país, então não fala de mim!

Deu muito trabalho pra Harry, Rony e Hermione a tirarem de cima de Malfoy, mas quando conseguiram, ele já estava com o cabelo todo despenteado. Draco se levantou e olhou bem para o rosto de cada um. Embora só Liz tivesse atacado Malfoy, os olhos de Harry, Rony e Hermione mostravam que eles estavam doidos para arrancar aquele cabelo loiro oxigenado. Malfoy soltou algum xingo e voltou para a mesa da Sonserina, bufando. Nessa mesma hora, Amanda entrou no salão, fazendo com que todos os sonserinos gritassem e uivassem, liderados por Draco, em sinal de torcida absoluta. Ela se sentou e se tornou o centro das atenções daquela mesa.

Os quatro se sentaram e tentaram se acalmar. Hermione tomou um grande gole de leite, enquanto Harry comia uma de suas torradas. Liz comeu um sapo de chocolate e deu um pro Rony, e os dois se acalmaram pouco a pouco.

_ Por que será que Malfoy está querendo tanto nos irritar? - perguntou Harry, quando o mesmo mostrava para os grifinórios a parte de sua camiseta que dizia “Potter, o protegido perdedor!” - Antes ele dizia pelas costas, mas agora ele vem na maior cara de pau.

_ Sei lá! - respondeu Rony - De qualquer maneira ele é desprezível!


Um pouco antes do término do café, McGonagall chamou todos os campeões e escudeiros para irem para os vestiários de Quadribol. Harry, Rony, Hermione e Liz foram andando no meio de uma pequena aglomeração que ia em direção aos vestiários, mas Harry foi parado no meio do caminho por Gustivitz:

_ Como vai Harry? Nervoso?

_ Um pouco.

_ Um pouco ou muito?

_ Só um pouco!

_ Já sabe qual vai ser sua estufa?

_ Estufa? Do que está falando, professor?

_ Ora Harry, você acha que eu não sei que você já sabe sobre a prova? Eu vi você treinando com o Rony, Hermione e Liz.

_ Viu, é?

_ Aham. Bom, tenho que dizer que você também não é nada bobo. Só espero que você não caia nem na estufa 14 ou 25. São as duas mais difíceis, e as mais reforçadas. Claro, a 36 também é difícil, mas nem chega perto dessas.

_ Você acha que vai ser muito difícil, professor?

_ Depende do Campeão! Bom, já tomei muito do seu tempo, acho melhor você ir. Saiba que vou estar torcendo por você!

_ E a Amanda?

_ Ué, todo mundo não está torcendo para pelo menos dois campeões? Eu também posso, não? E outra: Amanda é minha sobrinha, por isso não vale. Ah, fale para a sua amiguinha Liz que estou desejando boa sorte para ela, ela também treinou muito.

_ Qual a estufa mais difícil?

_ Entre 14 e 25?

_ É!

_ Não sei. Bom, de qualquer maneira, boa sorte!

_ Obrigado! Tchau, professor.

_ Só mais uma coisa, Harry!

_ Quê?

_ Nunca se esqueça que a realidade é dura, mas ela é verdadeira. Acredite nela, por mais que te faça sofrer. Ela sim vai te levar à vitória.

Harry não entendeu, e teve que perguntar:

_ Por que o senhor disse isso?

_ Porque... eu achei importante! Meu pai me disse isso uma vez, e eu o agradeço muito por isso! Agora vá, você não tem tempo. E boa sorte, outra vez!

Harry saiu correndo até os vestiários, mas não demorou muito para achar os outros três:

_ O que o Gustivitz queria? - perguntou Rony

_ Me desejar boa sorte. Ah, ele desejou boa sorte pra você também, Liz.

_ É, vou precisar! - disse, olhando para frente, como se procurasse algo.

_ Algum problema, Liz?

_ Não, só preciso achar o Thomas e a Alice. Afinal, eles são meus escudeiros.

_ THOMAS!!!!!!!!!!! - ouviu-se o berro. Liz suspirou:

_ Esse grito é inconfundível. Com certeza é a Alice. Deixa-me ir lá com eles. Boa sorte para vocês. Ah! E obrigada pelo treino, Mione! Tenho certeza que vai nos ajudar muito.

_ Por nada. - respondeu Hermione.

Liz se afastou e se encontrou com seus escudeiros. Não demorou muito e as portas do vestiário se abriram, fazendo entrar um monte de monitores. Com o feitiço “Sonorus”, eles anunciaram que era para todos os participantes irem até o pátio em fila dupla, seguindo-os. Deram as últimas explicações e então todos eles seguiram até o local da prova.

Ao entrarem, Harry pensou que estava para entrar em um jogo da Copa Mundial de Quadribol. Uma arquibancada improvisada foi montada e nelas estavam todos os estudantes, sem exceção. Cada casa tinha feito seus cartazes incentivando os campeões para quem estavam torcendo, deixando os próprios muito arrepiados. Claro que a torcida por Harry era a maior, o que fez ele ficar muito envergonhado. Rony e Hermione também eram muito aconselhados para fazerem de tudo para proteger Harry. Justo ele que achava que ia ser igual ao Torneio Tribruxo, se surpreendeu. Era muito melhor!

No centro do pátio, estavam 54 estufas, correspondendo ao número total de campeões. Cada uma tinha vidros enfeitiçados para permitir que estivessem dentro não vissem nada do lado de fora, mas quem estava no lado de fora pudesse ver tudo o que estava acontecendo lá dentro. Alguns segundos depois, Dumbledore apareceu, chegando à mesa dos juízes, composta por um funcionário do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos de um país representante de cada continente.

_ Campeões, sejam bem vindos. Antes de começar a prova, quero lhes apresentar os juízes do Torneio. Cada um representa um continente. Esse aqui, a minha direita, é o senhor Johnny Gilver, dos Estados Unidos, representando a América. - e um homem ruivo, muito magro e com cabelos compridos se levantou. Harry percebeu que Liz, do seu lugar, fez uma cara feia. - a sua direita, está a srta. Saori Kamissuka, do Japão, representando a Ásia. - e uma mulher de aproximadamente 30 anos se levantou, japonesa, com roupas extravagantes e um cabelo preso em dois coques, branca, mas bastante amigável. Liz fez outra cara feia. - A minha esquerda, está o sr. Audrey Bloom, da Austrália, representando a Oceania, e a esquerda de Bloom está a senhora Tumim Klimp, do Egito, representando a África. O representante da Europa, o senhor Kevin Noot, infelizmente não poderá comparecer nesse Torneio, então, o juiz que o substituirá será o nosso Ministro da Magia, Cornélio Fudge. - Liz abriu a boca quando viu o Ministro entrar. Harry, Rony e Hermione também não esconderam sua surpresa ao verem Fudge. Ele estava mais magro do que de costume, barbudo e com uma cara de cachorro desmamado. Seus olhos estavam cheios de olheiras e, conforme Rony percebeu, tinha alguma coisa meio estanha no seu rosto, como se fosse uma maquiagem de bruxo muito forte, daquelas que só saem com um feitiço bem bravo. Suas roupas até pareciam que tinham ido para a guerra, porque, só na capa, tinha uns três rombos, mais alguns da calça. Seu cabelo não tinha sido lavado há pelo menos dois meses, porque estava até duro.

_ Pelo jeito o Cornélio Fudido está mais fudido do que antes. Acho que vou mudar o apelido dele pra Cornélio Fedido, porque o cheiro dele tá chegando aqui! - disse Liz, se aproximando de Harry e dos outros, com Thomas e Alice atrás.

_ Do que você o chamou, Liz? - perguntou Harry

_ Cornélio Fudido. Vai dizer que vocês gostam dele?

Os três olharam para o Ministro, que se sentava entre Gilver e Kamissuka:

_ Não! - responderam os três.

_ Aí está. Ele é muito idiota, mas vendo ele assim, você até sente pena da santa incompetência dele. Eu coloquei esse apelido nele, mas, claro, ele não sabe disso. Afinal, ele só se ferra!

_ É verdade. - concluiu Rony

Dumbledore voltou a falar:

_ Esses são os juízes do Torneio. Eles vão decidir se o Campeão deve ou não passar a próxima fase, e também vão julgar o Campeão, caso ele cometa alguma falta. Bom, que agora comece as festividades.

_ Festividade? E desde quando um Torneio é uma festividade? - perguntou Rony

Nessa mesma hora, Fudge se levantou e começou a falar:

_ Sejam todos bem vindos! Todos os campeões estão em fila dupla? Ótimo. Bom, essa prova será muito simples. Cada estufa pertence a um Campeão, e nela há os mais diversos tipos de criaturas e riscos. Os Campeões que enfrentarem todos os riscos proporcionados terá metade da prova ganha. A outra metade se dará pelas notas dos juízes presentes. Entendido? Muito bem. O tempo de prova será duas horas. Dessa prova, 15 Campeões serão desclassificados, de forma que só sobrarão 39 para a próxima prova. A função dos escudeiros será ajudar e aconselhar o Campeão, apenas dando dicas de quais feitiços ele poderá usar. Não será permitido que o escudeiro use um feitiço para ajudar o Campeão, a não ser que seja para defendê-lo. Alertas, apenas dois por escudeiro, de forma que só poderão ser dados quatro alertas, no total. Passado disso, o Campeão será desclassificado. Está claro?

Todos os Campeões e escudeiros afirmaram com a cabeça.

_ Agora, cada campeão se dirigirá para a sua estufa. - e apontando a varinha para as estufas - Apareccium!

Nas estufas, apareceram os nomes de cada Campeão, indicando qual estufa pertencia a cada um. Harry viu Gustivitz na arquibancada dos professores, e ele acenou para Harry, depois para Amanda. A garota estava séria, e ficou mais séria ainda quando seu nome apareceu em uma das estufas. Harry olhou para elas, e ficou mais nervoso. A estufa de Amanda era a estufa 14, e a sua era a 25. A de Liz acabou sendo a 36. Liz olhou para Harry e fez um gesto indicando “boa sorte”. Harry retribuiu com outro. Iria precisar. Ele olhou para Liz e viu que ela tirou um papel do bolso da capa e escreveu algo. Fez com que ele chegasse a Harry. Dizia: “Não se esqueça que você treinou muito para essa prova. Esse torneio pode não ter tanta importância para você, mas muitas pessoas estão contando com você. Se esforce para conseguir, tenho certeza que você é mais do que capaz. Você vai ver como valerá a pena! Boa sorte. Vamos precisar! Liz”

Harry olhou para todas as pessoas. Talvez se esforçar para ganhar até valesse a pena, como disse Liz. Decidiu que iria se esforçar, para ver até onde aquela brincadeira iria dar. Olhou para Rony e Hermione, que estavam lendo o bilhete. Os três se entreolharam, e fizeram uma cara decidida.

_ Todos os Campeões, se posicionando na frente de sua estufa. - disse Fudge

Harry, Rony e Hermione se dirigiram à estufa 25. Rony estava tremendo mais que bezerro assustado. Hermione respirava fundo, dizendo toda hora “Eu consigo, eu consigo!”

_ Entrar agora! O torneio começou! - gritou Fudge.

Harry viu Liz entrar em sua estufa, fazendo o sinal da cruz. Ele entrou logo em seguida, seguido por Rony e Mione.

A estufa parecia pequena por fora, mas por dentro ela era enorme. Tinha mais ou menos o tamanho da sala comunal e era semi-iluminada, e tinha um buraco em cada extremidade, junto com uma pequena poça de água:

_ Essa poça de água é funda. - disse Harry, conferindo com o braço. - E essa água parece a do lago.

_ Como você sabe? - perguntou Hermione

_ No quarto ano, eu entrei no lago. De alguma forma, eu consigo diferenciar uma água da outra.

_ Pra mim é tudo igual! - disse Rony

_ Isso não importa agora. Acho que aqui pode viver pelo menos uma sereia.

_ Isso quer dizer que a gente vai enfrentar uma? - perguntou Hermione

Harry deu de ombros.

_ Não fui eu quem elaborou a prova.

_ Você não acha que vai ser muito difícil, acha? - perguntou Rony

_ Gustivitz falou comigo um pouco antes da prova começar. Ele me disse que as estufas 14 e 25 eram as mais difíceis. A 36 também era, mas essas duas eram as mais complicadas.

_ Mas a estufa 25 é a nossa estufa!

_ É...

_ E se as coisas que aparecerem aqui não forem as que estamos pensando? A gente tá ferrado!

_ Vira a boca pra lá, Rony! - exclamou Hermione - A gente treinou tanto!

_ Mas pode ser, não pode?

_ A gente treinou tanta coisa! - disse Harry, terminando aquela discussão que estava começando. Ele estava ficando bom nisso - Mesmo se a prova não for da forma que estamos pensando, a gente consegue superar. Agora, que tal a gente continuar olhando a estufa antes que apareça alguma coisa?

Mas Rony já estava com uma cara de medo, enquanto Hermione estava dura.

_ Que foi? - perguntou Harry, que estava de frente para os dois. Rony apontou para frente, mas Harry não entendeu:

_ Que foi?!!

_ Tar...de dema... is. - foi o que Rony conseguiu dizer.

Harry olhou para trás. Um trasgo, de mais ou menos uns 6 metros de altura, estava olhando para eles, furioso. Hermione, que desde o primeiro ano tinha trauma de trasgos, caiu no chão de boca aberta e sem respiração. Rony estava com as pernas bambas e com a boca mais aberta que Hermione. Harry respirava com uma certa dificuldade:

_ Esse consegue ser maior do que aquele do primeiro ano.

_ Não sei, não! - disse Rony, sufocado. - Pra mim, parece que é o mesmo!

_ Não pode ser!- disse Harry, mas quando olhou bem no rosto do trasgo, ele viu que Rony tinha razão.

_ E não vai adiantar colocar a varinha no nariz dele de novo! - disse Hermione, tentando se levantar. - Ele já conhece vocês, já sabe como vocês agem. Aposto que quer vingança!

_ Tá, o jeito que a gente lutava no primeiro ano é bem diferente do jeito que a gente luta hoje. Já se passaram cinco anos, não? - disse Rony, abobado.

_ Tá, mas ele também deve estar diferente. - disse Harry - Além dele estar maior, ele tá olhando meio diferente.

_ A gente tem que aproveitar que trasgos são muitos burros. - disse Hermione

Nessa hora, o trasgo pegou Hermione na mão e a jogou longe, fazendo ela ficar tonta:

_ Mione! - gritou Harry

Depois o trasgo se virou para eles. Pegou a varinha de Rony e tentou quebrá-la, mas não conseguiu:

_ O que você fez na sua varinha? - perguntou Harry

_ Gui colocou um feitiço antiquebra nela. Na minha, na sua e na da Mione. Ele achou que seria importante. Ele tinha razão. - disse Rony, sem parar de olhar para o trasgo. O mesmo se cansou de tentar quebrar a varinha e tacou em Rony. Foi bem no olho dele.

_ Out! Ei, isso doeu!

Mas não foi só. O trasgo bateu com o seu taco na cabeça dele e Rony desmaiou.

_ Rony!

O trasgo avançou para Harry. Ele conseguiu abaixar e passar por debaixo das pernas dele. O trasgo percebeu rápido e tentou atingi-lo, mas Harry teve tempo de desviar. O trasgo era muito grande e muito pesado. Harry percebeu isso e decidiu aproveitar essa vantagem, mas antes de conseguir pensar em alguma coisa, o trasgo apanhou outro taco e começou a tentar atingir Harry com os dois, o que dificultou um pouco o desvio. Mesmo sendo magro, estava difícil para Harry desviar, porque quando se livrava de um, vinha outro na outra direção. Harry pulava, corria, dava mortal e tudo mais. O trasgo havia percebido que sua desvantagem era ser lento e trabalhava em dobro. Harry, então, viu que o trasgo estava com as pernas flexionadas, e lembrava muito bem que no começo da luta, ele estava totalmente de pé. Olhou para trás e viu Hermione fazendo um gesto com a varinha dela, ainda tonta. Desviou de uma tacada e percebeu que ela murmurava alguma coisa pra ele. Ele tentou ler os lábios dela e entendeu o recado. Ao desviar da que parecia ser a milésima tacada, ele deu um mortal bem alto, com todas as suas forças, subiu em um dos tacos, como tinha feito no primeiro ano e tirou a varinha do bolso. Com o outro taco, o trasgo tentou derrubá-lo, mas Harry pulou e se agarrou no pescoço do trasgo. O trasgo, depois de alguns segundos, se balançou e Harry se segurou com toda a sua força. Rodopiou no pescoço do trasgo e foi parar nas costas dele. Apontou a varinha para as pernas dele e disse bem alto:

_ PETRIFICUS TOTALUS!

O trasgo foi se endurecendo. Harry se soltou e caiu no chão, em cima do braço esquerdo. Ele olhou para o trasgo e viu com satisfação que ele se transformava em uma estátua, pouco a pouco. Ao terminar o processo, Harry se levantou, com uma dor forte no braço e respirou fundo, cansado. Hermione foi andando, cambaleando, na direção dele, toda feliz:

_ Que bom que você entendeu, Harry.

_ Eu vi que ele estava cansado, já que as pernas dele estavam meio ajoelhadas. Aí eu aproveitei que ele era um pouco lento e subi no taco dele, o que fez ele carregar mais peso. Aí ele demorou pra tentar me derrubar, e depois ele demorou pra me ver no pescoço dele. E também, ele era muito pesado. Não tinha muito fôlego, o que fez ele cansar mais rápido. Eu só precisava saber qual feitiço usar. Ainda bem que você falou.

_ Mas só funcionou porque ele já estava fraco pra resistir, senão aquele feitiço não ia adiantar nada. Ainda bem que você conseguiu entender rápido. Eu só não gritei pro trasgo não perceber. Ele estava bem esperto dessa vez, não? Tá na cara que ele foi enfeitiçado com algum tipo de feitiço. Com certeza, o feitiço da inteligência.

_ Obrigada, Mione. Ajudou muito!

_ De nada.

Os dois se olharam. Harry foi avançando devagar, mas Rony acordou e chamou os dois. Harry e Mione desviaram o olhar e correram juntos para ajudar Rony. Mesmo com o braço esquerdo doendo, ele ajudou o amigo a se levantar:

_ E o trasgo?

_ Harry o derrotou. Ele está ali... - apontou Hermione, mas o trasgo havia sumido. - Ué, ele estava ali.

_ Só tem uma coisa que eu não entendi. - disse Harry - Por que o trasgo tentou quebrar a varinha do Rony?

_ É. Por que justo a minha? - reclamou Rony, bravo.

_ Hum... - ficou pensando Hermione - Acho que foi porque o Rony foi quem usou o feitiço pra fazer o taco dele flutuar e cair na cabeça dele, no primeiro ano.

_ Se não fosse pelo Gui, bem capaz que você não tinha mais a sua varinha, Rony. Agradeça a ele depois.- disse Harry

_ É! - disse meio revoltado

_ Harry, o seu braço tá inchado! - exclamou Hermione

_ É, eu caí em cima dele quando eu me soltei do trasgo. Não é nada demais.

_ Mas você pode ter luxado ele. - disse Rony - Como você vai lutar agora?

_ A minha sorte é que foi o braço esquerdo. Mas não se preocupem. Nem tá doendo muito.

_ O pior é que foi justo na primeira batalha. Vai ficar bem difícil agora! - disse Hermione

Rony se levantou e abaixou a cabeça. Harry e Hermione olharam pra ele e ele disse:

_ Desculpa, Harry. Eu nem te ajudei na batalha. Acho que sou um escudeiro inútil.

_ Rony! - exclamou Harry, espantado - Você desmaiou, nem tinha como me ajudar. O trasgo tirou você e a Mione da luta, a única diferença é que ela conseguiu recuperar a consciência mais rapidamente do que você. E ainda tem outras lutas, esqueceu que são duas horas de prova? Falando nisso, quanto tempo já se passou, Mione?

Hermione olhou no relógio:

_ Meia hora.

_ Só? - exclamou Rony, perplexo - Pensava que já tinha passado pelo menos uma hora.

Harry, de repente, sentiu um baque na cabeça muito forte. Alguma coisa tinha acontecido com alguém. Na sua cabeça, veio Liz.

_ Ainda bem que só passou meia hora. - disse Hermione, séria, tirando Harry dos seus pensamentos - Quanto tempo a mais a gente tiver, melhor. Com certeza ainda tem muita coisa pela frente.

_ E tem mesmo. - disse Harry. - Estou ouvindo alguma coisa. Tomem cuidado.

Os três ficaram em silêncio. Rony virou a cabeça e arregalou os olhos:

_ Que foi, Rony? - perguntou Harry

Mas foi tarde demais. Harry deu uma leve olhada para trás. Sentiu uma fraqueza enorme e já percebeu o que estava acontecendo. Ele ia cair, mas Rony gritou:

_ É um bicho- papão! Não precisa desmaiar, Harry, não é um dementador! Toma cuidado!

Harry se recuperou e virou o rosto. Viu um dementador, mas sabia, graças ao alerta de Rony, que era um bicho-papão. Ele lutava contra a tontura, enquanto ouvia Hermione comentando que Rony já tinha usado um dos seus alertas:

_ Da próxima vez, fala pra mim o que você quer alertar. Mais um alerta seu e você já não pode mais avisar o Harry. Tudo bem com você, Harry?

_ Tudo bem.

_ Usa o feitiço que eu te ensinei. Lembra?

_ Vou tentar.

Harry avançou, mas o bicho papão foi mais rápido. Ele também se aproximou de Harry e o garoto se sentiu mais tonto. Um monte de lembranças infelizes veio na sua cabeça, lembranças fortes, lutas, castigos, Sirius...

_ Sirius... Sirius não... não ele... - Harry gritava.

_ Se ele continuar assim, vai perder!- disse Rony

_ Ele não tá conseguindo se concentrar. Não vai conseguir fazer o feitiço. Esse bicho- papão tá muito forte pra ele. - completou Mione

_ É a estufa mais difícil. Aqui todas as criaturas devem ter ficado muito mais fortes do que o normal.

Claro que Harry não estava ouvindo essa conversa. Na sua cabeça, só aparecia a morte de Sirius. Ele foi caindo pouco a pouco, até que, de repente, veio em sua cabeça aquele pesadelo, como se tentasse tirar da cabeça aquela cena horrível da morte do padrinho. Harry foi sentindo suas energias pararem de se esgotar:

_ Quem são eles? O que eles têm a ver com a minha vida? - ele pensou, enquanto tentava segurar a varinha com força - Por que eu estou vendo essa cena?

Ele olhou para o bicho-papão, mas o que viu foi um grande dementador:

_ É só um bicho-papão! É só um bicho-papão! Pensa em alguma coisa engraçada! Pensa!

O bicho-papão foi andando...

_ EXTUPENDUS RIDICULLUS!

Mas não foi o suficiente. As palavras saíram meio tortas, e o braço voltou a doer. Harry foi se enfurecendo:

_ Ora, por que eu estou fazendo isso? Nem é lá uma coisa muito importante. É só eu desistir. É isso, eu vou desistir dessa coisa. Vou sair dessa estufa agora mesmo e vou falar que não quero mais participar. Isso mesmo, vou desistir e...

E para a sua surpresa, uma voz grossa, de homem, veio na sua cabeça:

_ Não seja tolo!

Aquela voz ecoou. Harry a procurou por todos os lados.

_ Que foi Harry? - perguntou Hermione

_ Uma voz. Alguém ouviu?

_ Ah não, de novo não! - reclamou Rony - Uma cobra agora era só o que faltava.

_ Não era uma cobra, Rony. - disse Harry. - Era uma voz de ser humano. Tenho certeza. Quando eu pensei que deveria desistir...

_ Você não pode desistir! - outra vez a voz

_ E por que não? - murmurou Harry. Rony e Hermione se olharam.

_ Porque você sabe o quanto muitas pessoas estão confiando e contando com a sua vitória. O que foi? Não é forte o suficiente para derrotar uma criaturinha? Vai, mostre a todos que você é um bebezinho que não vive sem ajuda.

_ Eu não sou um bebê! - falou Harry

_ Ah, é sim.

_ Não sou!

_ É sim...

_ Eu... não... sou...

_ Vai chorar, é? Não neném, não chora não, eu já trago sua chupeta!

_ Você quer parar?

_ Bebezão, bebezão, bebezão...

_ EU NÃO SOU UM BEBÊ! - gritou Harry - SEJA LÁ QUEM VOCÊ FOR, AGORA VOCÊ VAI VER QUE ISSO NÃO É NADA!

Rony e Hermione levaram um susto. Nunca tinham visto Harry se irritar daquele jeito, e ainda mais com uma coisa tão boba. Na verdade, nem ele mesmo sabia porque tinha se irritado tanto. Só sabia que estava olhando para aquele grande dementador, tinha mandado a dor no braço se ferrar e gritando mais furioso do que nunca:

_ VOCÊ NÃO É DE NADA, SEU DEMENTADOR DE UMA FIGA! EXPECTRO...

Mas Hermione soltou mais um dos seus gritos altos e finos. Para não parecer que estava falando com Harry, ela deu no ouvido de Rony, que xingou ela durante um bom tempo. Mas Harry entendeu que era para ele, e corrigiu:

_ EXTUPENDUS RIDICULLUS! - gritou, enquanto Hermione falava um monte de coisas para Rony, como se estivesse brigando com ele, coisas do tipo “Por que você pisou no meu pé. Tá cego, é?”

E várias coisas apareceram. Snape de calcinha rosa e rodando bolsinha, Dumbledore dançando conga, McGonagall dançando can-can, a avó de Neville como o Bozo, Malfoy e Goyle se beijando... nessa hora, o trio já estava rolando no chão e com disenteria de tanto rir. O bicho papão explodiu e só ficaram as risadas. Harry, mais calmo, se levantou e levantou os outros, já que Rony ainda não conseguia se levantar, murmurando “O Malfoy e o Goyle fazem um belo par!”. Hermione estava chorando.

_ Eu nunca pensaria nisso, Harry. - disse Rony, se recuperando do ataque de riso- Acho que vou dar uma calcinha fio dental pro Snape, porque até que ele ficou bem... Agora, me explica, Mione, por que você deu aquele grito na minha orelha? Se queria me deixar surdo, era só falar!

_ Lá fora eu te explico! - murmurou Hermione tão baixo, de modo que só ela, Rony e Harry ouviram.

Harry, sentindo a dor de novo e mais forte, comentou:

_ O que será que vai vir agora?

Hermione soltou um grito. Rony e Harry se assustaram.

_ Que foi Mione?

_ Já se passou uma hora e quinze minutos do tempo total da prova.

_ A gente ficou quarenta e cinco minutos só com esse bicho-papão? - disse Harry, abobado.

_ É, você ficou pelo menos meia hora só lembrando a morte do Sirius... - Harry abaixou a cabeça. - Opa, desculpa, Harry.

_ Não. Acho que já tá na hora de eu enfrentar. Ele está morto, mesmo!

_ Agora me diz, como você se livrou daquele pensamento da cabeça?

_ Sei lá, do nada aquele pesadelo apareceu na minha cabeça. Não sabia que era um pensamento triste da minha vida.

_ E o que vocês acham que vai vir agora? - Rony perguntou

_ Sei lá, só sei que eu já tô de saco cheio dessa prova. Nem dá vontade de lutar...

_ E não é que o bebezinho tá virando homem? - a voz ecoou na cabeça de Harry.

_ Você de novo?

_ Eu de novo, e daí? Faço o que eu quero na hora que eu quero! Vai impedir?

_ E como eu vou impedir uma voz que eu nem sei de quem é e de onde vem?

_ Ah... tantas coisas que você não sabe... mas eu acho que não ouvi direito... eu ouvi você dizendo que tá sem vontade de lutar?

_ Ouviu, e daí?

_ Harry, com quem você tá falando? - perguntou Hermione

_ Ah, então quer dizer que aquele bicho-papão de nada foi muito pra você? Que pena, eu esperava mais da sua parte, estou muito decepciona...

_ O que você quer afinal, hein?

_ Deu pra falar sozinho agora, Harry? - perguntou Rony

_ Eu não quero nada, Harry. Só estou aqui para cumprir o meu dever...

_ Mas parece que não. Por que você não vai cuidar da sua própria vida, cumprir o seu dever e me deixar em paz?

_ Calma, calma... a gente nem se conheceu direito. E por que eu deveria deixar você em paz? Não te fiz nada!

_ Tá me irritando, que tal?

_ Ô crianção, quer parar de ser bebê chorão e tolerar brincadeira? Como você se tornou um Campeão, posso saber? Você só reclama! Reclama da vida, do torneio, nem um bicho-papão conseguiu vencer...

_ EU VENCI AQUELE BICHO-PAPÃO!

_ Sorte de principiante. Aposto que a próxima criatura você não vence...

_ Vocês estão de prova! - disse Harry para Rony e Hermione - Esse... seja lá o que for isso, tá me irritando.

Rony e Hermione se olharam. Quem tomou coragem para dizer foi ela:

_ A gente não tá ouvindo nada, Harry. Você tá falando sozinho há uns dois minutos...

_ Quê?!

_ E aí, vai desistir fácil assim?- a voz ecoou mais uma vez

_ Você quer parar?

_ Olha, vou te dar mais uma chance. Vamos fazer um acordo? Eu sei como te ajudar... mas você tem que me ouvir... sem me xingar ou reclamar...

_ Você pode fazer isso?

_ Bom, depende muito da sua vontade...

_ O que você quer?

_ Já te disse que eu não quero nada!

_ Peraê, como você sabe o que eu quero? Quem me garante de que você não tá me enganando?

_ Eu sei muito mais de você do que você imagina...

_ Harry... - começou Rony, meio assustado.

_ O que você sabe sobre mim?

_ Ah, muita coisa...

_ Harry... - Rony voltou a falar, apavorado.

_ Diz, o que você quer? Quem é você?

_ Harry... - Rony murmurou, caindo no chão.

_ Que foi?

Hermione apontou para trás. Um lobisomem muito grande estava com a boca arreganhada para Harry:

_ Ah, agora não, tenho uma coisa mais importante para tratar...

Rony e Hermione deixaram o queixo cair. O lobisomem estranhou, mas não demorou a começar a incomodar Harry de novo:

_ Vai, fala, o que você sabe sobre mim?

_ Tudo. - a voz respondeu - Absolutamente tudo.

O lobisomem cutucou Harry.

_ Sai daqui! O que você sabe, me diz?

Mas apenas um sussurro foi o que Harry ouviu e não entendeu. Como o lobisomem insistia em cutucar Harry, ele foi começando a se enfurecer. Toda vez que a voz ia falar, ele era cutucado e não entendia nada:

_ O quê?! Repete!

O lobisomem não desistia. Rony e Hermione diziam a todo o momento:

_ Harry, estamos no meio de uma prova do torneio e tem um lobisomem bem atrás de você.

E o lobisomem insistia. Ele queria lutar. Os limites da calma de Harry foram se esgotando, até que uma hora...

_ Ah, você já me encheu! VAI EMBORA! SOLARIS LUMUS!

O lobisomem recebeu a luz da varinha, que simulava a luz solar. Ele foi virando um homem, mas antes de terminar a transformação, desapareceu. Harry abaixou a varinha e disse:

_ Desculpa, tinha um lobisomem me enchendo. Pode falar agora!

Mas a única coisa que ele ouviu foi uma voz ofegante e desesperada:

_ Boa sorte!

Tudo cessou. Harry ouviu um grande silêncio e, como se tivesse acordado de um transe, perguntou para Rony e Hermione:

_ O que aconteceu?

Os dois se olharam:

_ Você ficou uns cinco minutos falando sozinho, com um lobisomem bem atrás de você. Mas você nem se importou. A única coisa que você fazia era ficar falando... e como ele te cutucava o tempo todo, você se irritou e acabou com ele num piscar de olho. - respondeu Rony

Uma dor de cabeça invadiu a mente de Harry, junto com a dor no braço, agora mais inchado do que antes. Ele não entendia muito o que tinha acontecido, mas sabia que tinha sido algo realmente importante.

_ Quanto tempo de prova eu tenho, Mione?

Ela olhou no relógio:

_ Quarenta minutos.

_ Então, tudo bem. - ele suspirou - Quantas provas será que eu ainda tenho?

_ Imaginando que você ainda não enfrentou uma possível sereia, e a poção ainda não foi acionada, deve ter mais duas provas.

_ E como a gente vai saber que as provas acabaram? - perguntou Rony

_ Não te avisaram? - perguntou Mione

_ Não!

_ Mas pra mim, sim. - respondeu ela, toda solícita- Vai soar um tipo de buzina, indicando o final da prova. Se o Campeão fizer algum tipo de ataque ou defesa, ele perderá pontos. Ele pode ficar o tempo que quiser na estufa, contanto que não faça nada!

_ Por que será que não falaram nada pra mim?

_ Deve ser porque você estava procurando o Harry quando ele parou para falar com o Gustivitz.

_ Você foi me procurar? - perguntou Harry

_ É, mas eu não te achei, então eu voltei pro lado da Mione. A gente queria te dar mais uns conselhos, mas nada importante.

Uma melodia fina, suave, harmônica e lenta começou a tocar. De pouco em pouco, ela ia se transformando na mesma melodia que Harry conhecia da luta com Voldemort no quarto ano. Ele foi se lembrando de várias coisas gostosas, mas esses pensamentos estavam disputando lugar na mente dele junto com algumas perguntas que não paravam de vir na sua cabeça. Ele não tinha falado nada ainda porque, para isso, teria que explicar várias coisas para os amigos. Mas não podia negar que estava começando a se incomodar. Uma hora, para a sua infelicidade, a música começou a tomar conta da sua mente, e o pouco de consciência que lhe sobrou, para a sua alegria, lhe permitiu perceber que era o mesmo canto de sereia que já tinha ouvido uma vez. Olhou para trás. Rony e Hermione estavam lançando feitiços não só para a defesa de Harry, mas também para as suas próprias defesas. Ele tinha que lutar se quisesse sair dali logo. E era tudo o que ele queria. Ele queria sair e pensar direito naquela voz, descobrir de quem era. Era importante, era necessário! Com as suas últimas forças no braço bom, quase moribundo, ele lembrou no feitiço que ele e Mione haviam tanto treinado. Mas não conseguia sequer falar uma palavra. Rony, vendo o apuro do amigo, parou de atacar, e foi, enfeitiçado, andando até a sereia. Antes de chegar, porém, Harry acordou totalmente do transe e murmurou:

_ Encantus... desaparecium! - e apontou a varinha para si.

Imediatamente ele sentiu uma fraqueza enorme no corpo, como se algo tivesse saindo de dentro dele, como as tripas, o fígado ou os músculos. A sereia logo percebeu que ela “havia se enganado”, e, muito furiosa, cantou o som preferido de Rony com a maior intensidade possível. A prova não acabara por ali. Harry virou a varinha para a sereia, se concentrou e disse:

_ Desgradus Sonorus!

De imediato, a sereia começou a imitar o grito agudo e fino de Hermione. A mesma ficou super irritada, enquanto Harry fazia cara de “foi o único som que me veio na cabeça!” A sereia olhou fixamente no olho de Harry, fez uma cara de deboche e saiu, afundando no seu mini-lago!

Rony, acordando, disse:

_ Como você fez isso? Quer dizer, como você fez pra que ela parasse de te induzir?

_ Um dos feitiços que o Gustivitz me ensinou pra enfrentar uma sereia na minha ocasião. Mas só consegui fazer porque você se deixou levar e aí ela não se concentrou tanto em mim! Obrigado! - e os dois se abraçaram - E agora Mione, quantos minutos?

_ Vinte, eu acho!

_ Esse canto demorou tanto assim?

_ É que, não parece, mas demora sim...

_ Eu quero sair, não agüento mais essa prova!

_ Acho que só falta só mais uma batalha, só não sei o que é!

_ Mas eu sei. - respondeu Rony, com a cabeça baixa - Olhem para baixo!

Os outros dois abaixaram a cabeça. Uma fumaça branca, nebulosa e densa invadiu a estufa, e depois se concentrou em Harry, rodeando-o. Ele escutava os gritos dos amigos, mas não se mexeu. Não entendia porque eles estavam gritando, não estava acontecendo nada! Não para ele!

Ele fechou os olhos, automaticamente. Sentiu-se voando, o vento batendo no seu rosto. Ele abriu os olhos, e viu um lindo bosque, seguido por um campo, e ele estava voando acima deles. Era maravilhosa aquela sensação. Ele se sentia solto, tão bem como nunca havia se sentido. Nada de bom podia lhe acontecer:

_ Rony, Mione, você precisam vir até aqui, é muito bom...

Mas os amigos não se moviam, ao contrário, reprovavam a atitude de Harry. Ele não entendia o porquê da desaprovação: não havia nada de errado ali... para ele, era estranho!

_ Azar o deles! Não sabem o que estão perdendo!

Ele continuou voando pelo campo, até chegar em uma charneca, que parecia um campo de quadribol. Nele, estavam sete jovens. Dois deles estavam na arquibancada vendo os outros jogarem no campo, um moreno alto, robusto e forte, e um garoto baixo, gordo e com a cara amedrontada. No campo, estavam voando cinco jovens: um deles era magro e alto, mais ou menos forte. O outro era um garoto de estatura média, com cabelos pretos e despenteados, na altura do ombro, muito parecido com outro garoto, mais velho, também com cabelos pretos e despenteados, óculos, um pouco mais alto que ele e com o cabelo mais curto. Na mesma vassoura que estava voando o mais alto, estava uma garota ruiva, com olhos verdes-vivos, agarrada nele com toda a força e de olhos fechados. Por último, Harry viu uma garota com cabelos castanhos-escuros e cacheados, a mais baixa do grupo, mesmo assim um pouco alta, voando e brincando com a outra garota. Harry viu que aquelas pessoas lhe eram familiares e resolveu se aproximar. Ele percebeu que encostado em uma parte do campo, estava uma vassoura, uma vassoura bonita e bem lustrada... A SUA VASSOURA! Ele não entendeu o que a sua Firebolt estava fazendo ali, por isso se aproximou mais ainda. Então ele reconheceu quem estava ali: nas arquibancadas estavam Sirius e Pedro Rabicho, nas vassouras estavam seus pais (eles na mesma vassoura), dois jovens que Harry reconheceu ser o casal dos seus sonhos, só que adolescentes, e Lupin, muito desajeitado, tentando voar na vassoura. Ele ouviu o padrinho dizer, entre risos:

_ Eu não entendo como você consegue ter tanta calma, Tiago. Tá mais do que na cara que o Remo só serve para comer as “criaturas” inocentes.

_ Olha Sirius, nada de vir com essas suas brincadeiras de duplo sentido! Ultimamente, você está se mostrando merecer a sua transformação em cachorro.

_ O que você quer dizer com isso, Remo?

_ Pense o que quiser!

_ Daqui a pouco isso vai virar uma briga entre feras! - comentou Pedro

_ E aí você vai tentar apartar com suas pequenas patinhas de rato, Pedro? - disse Sirius

_ Eu não! Nem quero!

_ Bem que você poderia vir voar com a gente, Sirius! - comentou o homem que sempre aparecia nos sonhos de Harry - Não sei porque essa frescura!

_ Você acha que eu, o maior, mais lindo, mais gato e mais modesto garoto de Hogwarts, ou melhor, do mundo, vai se sujar jogando quadribol? Eu não, guri. Prefiro ficar no camarote, que é muito mais engraçado! Daqui eu vejo tudo, e depois eu posso zoar todo mundo!

_ Você nunca vai mudar, Sirius? - perguntou a moça de cabelos cacheados, parando a vassoura.

_ Melanie, Melanie... a virtude de um ser humano é assumir o que ele é, e nunca mudar por causa dos outros!

_ Então quer dizer que se um dia você resolver virar um GLS, você vai assumir na boa, na hora? - disse ela, dando risadas

_ Isso nunca vai acontecer, minha cara! É um gosto que não será destinado a mim.

_ Isso... - disse Tiago, também parando a vassoura - todo mundo já sabe!

Harry deu risadas ao perceber que o pai fez um sinal para que todos vissem a cara de Pedro! Ele estava bravo, como se o comentário o tivesse atingido:

_ Isso não importa agora! - disse Lupin, parando sua vassoura junto com o outro garoto. - Queremos agora saber uma coisa?

Todos, inclusive Harry, olharam para ele:

_ Queremos saber dos nossos ilustríssimos senhores Tiago Potter e Lílian Evans: esse namoro vai ou não vai?

A garota que Sirius chamara de Melanie falou:

_ Ah... eu pensando que era uma coisa mais importante...

_ MAIS IMPORTANTE QUE O NAMORO DE LÍLIAN E TIAGO?! - exclamou Sirius, perplexo - E EXISTE?

_ Bom... - disse ela encabulada - existir não existe, mas a resposta já é meio óbvia!

_ MELANIE ELIZABETH LINSP! - exclamou Lílian, brava. Harry levou um susto, nunca tinha visto a mãe brava! - Quer parar de dizer besteiras?

_ Que besteira ela disse? - perguntou o homem que aparecia nos sonhos de Harry

_ Ah, Willian, não se mete nisso, vai! - disse Tiago

_ Aproveitando um pouco a ocasião... - disse Pedro, fazendo Sirius ficar com uma cara de “E agora, o que vai vir?” - ...todo mundo fala só de Tiago e Lílian, mas todo mundo se esquece da Melanie e do Willian. E aí, anda ou não anda?

Melanie e Willian ficaram mais vermelhos do que a orelha de Rony já ficara quando ele estava bravo, pensou Harry. Ele também percebeu que Lupin não gostara do comentário. Sirius fez uma cara de “Não fala besteira, idiota!”, enquanto os seus pais davam risadas abafadas:

_ Olha o que você diz, meu! - disse Sirius - Você endoidou, enlouqueceu ou só ficou demente?

_ Eu vi os dois conversando sozinhos ontem! - disse Pedro, num tom de deboche

_ Quê?! - exclamou Sirius e Lupin ao mesmo tempo

_ Quer parar de dizer besteiras, Rabicho? - disse Willian, extremamente envergonhado.

_ Isso é verdade, Melanie? - disse Lupin, meio desesperado.

_ Claro que é! - disse Pedro - Por que vocês acham que eles sumiram ontem, na hora do almoço?

_ Quer parar de ser dedo-duro?! - exclamou Melanie, alterada

“Nessa época, ele já era traíra!” , pensou Harry enquanto todos olhavam para a garota, já que ela acabara de soltar a prova a favor de Pedro.

_ Então é verdade? - exclamou Sirius, num olhar muito parecido com o de Fred e Jorge quando estavam para aprontar alguma.

_ Ah, Sirius, não vem... - disse Willian, já pressentindo o que ia acontecer.

_ Como assim “não vem!” ? Estou no meu direito!

_ Que direito?

_ Ora Will, você só está aqui porque somos muito legais. E outra, você é o mais novo entre nós...

_ Mentira, que é a Melanie! E vocês me chamaram porque não tem nenhum artilheiro pra treinar com vocês!

_ Tá bem... mesmo assim, eu sou mais velho que você, portanto tenho todo direito de te zoar quando quiser!

_ Ah, Almofadinhas, deixa ele em paz! - disse Tiago - Que mal há nele começar a namorar?

_ TIAGO! - exclamou Melanie, mais envergonhada do que nunca

_ Sempre em defesa dele, né Tiago? - disse Sirius, aborrecido - Estraga-prazeres!

_ Mas ele também não perde a oportunidade! - disse Lílian, dando risadas.

_ E você ajuda muito, né Lílian? - disse Melanie

_ E o que eu posso fazer? Você mesma entregou o jogo!

_ Isso é que dá ser dedo-duro, né Pedro? - disse ela, soltando um olhar de raiva para Pedro, que fez Harry lembrar de Liz. Seus olhares eram muito parecidos. - Só não te dou umas boas porradas porque eu sei que todo mundo iria impedir, então nem vou me dar ao trabalho!

_ Se depender de mim, pode bater! - disse Sirius

_ Não, não, não! - disse Lílian - Nada de brigas!

_ Ah Lílian, nem estamos em Hogwarts! - disse Tiago - Nada de dar uma de monitora!

_ Pois eu acho que já está ficando muito tarde! - disse Lupin, num tom que fez Lílian ficar muito preocupada - É melhor voltarmos!

_ Ah Remo... - disse Sirius, fazendo um tom de manha- ... nem escureceu ainda!

_ É, e ainda tem um lugar onde eu quero ir! - disse Tiago - Hoje todo mudo prometeu que ia comigo!

_ É mesmo! - disse Melanie - Então vamos, antes que anoiteça!

_ Tá, então é melhor a gente arrumar os lugares nas vassouras. - disse Willian, e sua forma como gostava de ajudar fez Harry lembrar da Liz, de novo - Ó, Lílian, que tal você ir junto com a Melanie? Aí o Pedro pode ir com o Tiago, o Sirius com o Remo, e eu vou sozinho!

_ Por que você sozinho? - disse Tiago, bravo

_ Porque a minha vassoura tá mais velha que a vovó! - disse Willian - E a sua tá novinha! Agüenta você e o Pedro.

_ Pensando bem, eu não quero ir, não! - disse Pedro, amedrontado

_ Ah, vai! - disse Melanie num tom imperativo - Você vai sim! Vai, todo mundo, se arrumando!

Todos se arrumaram e seguiram. Antes de partirem, porém, Lupin parou Melanie:

_ Você e o Willian... estão... namorando?

_ Claro que não, Remo! Não seja tão aluado!

E seguiram. Harry sentiu um vento forte passar, era como se algo houvesse mudado! De repente, Tiago e Sirius pararam suas vassouras, fazendo Melanie e Willian pararem também:

_ O que foi, Tiago? - perguntou Lupin - Por que parou?

_ Estamos esquecendo alguém muito importante!

_ Quem? - perguntou Pedro

_ Eu acho que eu sei quem é! - disse Lílian

_ Eu também! - disse Melanie

_ É quem eu estou pensando? - disse Willian

Tiago afirmou com a cabeça

_ A gente tá esperando o quê? - perguntou Sirius - Vamos lá, vamos chamar ele. Ele está esperando a gente lá em cima!

Harry levou um susto. Tinha outra pessoa ali além dele? Ele olhou a sua volta, mas não tinha ninguém. Então, quem poderia ser?

Os marotos, as duas garotas e Willian foram voltando e subindo, até que Harry entendeu: eles estavam indo ao SEU ENCONTRO!

Quando eles chegaram, o coração de Harry deu um salto! Não por ter visto tanta gente ao seu lado, mas pelo fato de seus pais, padrinho e até mesmo Rabicho estarem lá! E quase desmaiou quando Tiago falou com ele:

_ Você vai ficar aí parado ou vai vir com a gente? Sempre quis te mostrar esse lugar, mas aquele horroroso do Voldemort me matou antes mesmo de você crescer.

Harry abriu a boca.

_ O que foi, filho? Está passando mal? - disse Lílian

Harry fez um sinal negativo com a cabeça, ao mesmo tempo em que arregalou o olho:

_ Pode deixar, estou bem... mãe?

_ Isso! Você pega rápido as coisas!

_ Com quem ele parece? - disse Tiago, se achando!

_ Com o padrinho dele, claro! - disse Sirius, passando a mão no cabelo. - Não é, Harry?

Harry deu uma risadinha.

_ Agora me conta, Harry: como é que anda as coisas lá em Hogwarts? O Rony, a Mione... nem deu tempo de falar com eles uma última vez. Diz aí, aquele Voldemort consegue estragar a vida de todo mundo, não?

Harry mal se atrevia a acreditar. Era tudo tão diferente, tão mudado... seus pais e Sirius ao seu lado... mesmo mortos, eles estavam ali...

_ Peraê! Eles mesmos falam que já estão mortos, e falam de Voldemort, mas eles ainda estão jovens, então como...

_ HARRY, É UMA ILUSÃO! - ele ouviu a voz de Hermione gritar, interrompendo seus pensamentos. Ele olhou para frente: será que era tudo uma ilusão? Isso explicaria o fato deles serem jovens, mas falarem que estão mortos. Mas o que ele viu depois de olhar para frente foi um Sirius mais velho, magro, da forma como morreu, e seus pais também mais velhos:

_ Algum problema, Harry?

_ Não. É que... sabe como é... vocês estão mortos, não estão? Então, como...

_ Harry... - disse seu pai colocando a mão no seu ombro - a morte só existe quando você é totalmente esquecido. Nós só estaremos mortos se você não nos quiser mais. Se você realmente quer ficar do nosso lado, nós podemos viver novamente.

_ Quê?!

_ Voldemort não nos matou, Harry, nem Belatrix matou Sirius. Mas todos pensam que estamos mortos, porque ouviram ou viram aquela cena e já concluíram a nossa morte. Mas tem uma forma que poderá fazer com que você fique sempre com a gente. Vamos, quero te mostrar. Você aceita?

Ficar para sempre com seus pais e seu padrinho? Se livrar dos Dursley? Ter uma vida normal? Por que seu pai fazia essa pergunta a ele? Sempre quisera isso, agora mais do que nunca...

_ Claro!

Tiago deu um grande sorriso:

_ Sirius, cadê a Firebolt dele?

_ Lá embaixo.

_ Você pode pegar?

_ Ah, manda a Melanie.

_ Melanie... - começou Tiago- você pode... ué, cadê ela?

_ Saiu correndo com o Willian pra falar com ele. Aí o Remo foi atrás. - respondeu Lílian.

_ Na vassoura de quem? - perguntou Sirius

_ O Willian foi na dele com a Melanie, e o Pedro saiu da vassoura do Tiago, convenceu o Remo a levá-lo e os dois foram juntos.

_ Ê Pedro bisbilhoteiro. - reclamou Sirius

_ Mas como o Remo foi? - perguntou Tiago

_ O Remo chamou a vassoura dele.

_ Ah, então eu mesmo vou pegar a vassoura do Harry. - disse Sirius, saindo de cena.

_ Mãe, quem são aqueles dois?

_ Qual dois? - perguntou Lílian

_ A Melanie e Willian?

_ Ah... Melanie é a minha melhor amiga. A gente se conheceu no trem de Hogwarts, quando ela entrou para Hogwarts.

_ Quando ela entrou para Hogwarts? Então quer dizer que vocês duas não estudam juntas?

_ Melanie é um ano mais nova do que eu, mas estamos na mesma casa.

_ E o Willian?

_ Bom Harry, Willian é o meu... - Tiago estava dizendo, mas foi interrompido por Sirius:

_ Harry, tome logo a sua vassoura. Ela é pesada!

Harry montou na vassoura, estranhando o comentário de Sirius. Sempre achou a sua vassoura tão leve...

_ Vamos logo, não temos muito tempo! - disse Sirius, disparando na frente.

_ Vamos Harry, estou ansioso para chegar. - disse Tiago, se arrumando na sua vassoura e também disparando, junto com Lílian. Harry se arrumou na Firebolt e disparou, e em menos de um minuto já havia alcançado os pais e Sirius.

Eles fizeram uma competição para ver quem era o mais veloz. Harry e Tiago estavam lado a lado, e acabaram empatados quando chegaram aos seus destinos.

Harry estranhou o lugar. Era um abismo muito fundo, parecia um vulcão sem lava. Harry se aproximou para ver melhor, e pelo o que viu, parecia que o abismo não tinha mais fim. Ele olhou para os pais, que o olhavam muito esperançosos:

_ Harry! - começou Sirius- Esse buraco vai nos fazer ficar eternamente juntos! Se você entrar, você viverá conosco para sempre!

_ Sério? - Harry perguntou incrédulo, tão interessado quanto uma criança que ouve uma estória.

_ Esse buraco é pouco conhecido, Harry. - disse Lílian - A gente adorava vir aqui quando era mais jovem, ficávamos fascinados. Mas os poderes desse abismo, a gente só descobriu muito tempo depois. E agora, passamos tudo isso para você.

Harry olhou mais uma vez para o fundo do abismo. Ele achou um tanto assustador, mas bem que estava com uma certa curiosidade de ver o que tinha de tão especial lá embaixo, que faria com que o seu sonho se realizasse:

_ Se eu entrar, eu posso ficar sempre com vocês?

_ Claro! - disse Tiago - Harry, você não sabe como eu estou feliz por você estar aqui!

_ Eu também, pai. Eu também.

Harry deu um sorriso radiante. Era maravilhoso aquele momento.

_ Eu tenho que mostrar isso pro Rony e pra Mione. Eles iriam adorar, o que a gente poderia fazer aqui... e a Liz? Ela iria se fascinar!

_ Harry... - interrompeu sua mãe - infelizmente você não vai poder falar com eles.

_ Não? Até quando?

_ Nunca mais você poderá falar com eles!

Harry levou um baque na cabeça. Nunca mais veria Rony ou Mione? E Liz? Mesmo com pouco tempo que conhecia a garota, ele sentia que ela era fundamental na sua vida.

_ Mas... por que isso?

_ Uma vez que você veio até aqui, você não pode mais voltar. Ou você entra ali ou nunca mais nos verá. É a lei da vida, filho! Temos que deixar algumas coisas para termos outras.

_ Mas... o Rony, a Mione, até mesmo a Liz... não pode ser!

Era uma decisão dura. Harry olhou para os lados, e viu seus pais, junto com Sirius. Eles eram a sua família, aqueles que nunca iriam traí-lo. Rony algumas vezes se mostrou um tanto inseguro em relação à amizade dos dois, e Mione... Mione era uma pessoa muito complicada na sua vida.

_ Eu vou entrar!

Harry abaixou a vassoura, e pela primeira vez na vida começou a sentir algumas lágrimas de tristeza. Ele foi entrando no abismo, que ia ficando mais escuro, ao mesmo tempo em que ia lembrando da sua vida desde que conheceu os amigos. Depois, começou a se lembrar de cada pessoa que conheceu, incluindo Liz! Ele se lembrou de todos os seus professores, Hagrid, Dumbledore, Gustivitz. Tudo o que um dia eles disseram, até que Harry lembrou das últimas palavras ditas pelo seu novo professor:

_ Nunca se esqueça que a realidade é dura, mas ela é verdadeira. Acredite nela, por mais que te faça sofrer. Ela sim vai te levar à vitória.

E o que era a realidade para Harry? A realidade era que os pais estavam mortos, Sirius também, e nada poderia trazê-los de volta. Era o sonho de Harry, um sonho que ele sempre sabia que não iria se realizar. E agora, ele tinha aquela oportunidade nas mãos, mas com o preço de largar toda a sua vida, tudo o que tinha conseguido... “Será que vale a pena?” pensou ele. Ele se lembrava de tudo o que tinha vivido e ainda podia viver, e ele iria trocar a sua vida por uma possibilidade... ah, se não tivesse visto os seus pais...

_ Essa droga de Torneio é que me deixou nessa indecisão... MEU DEUS, ESTOU NO MEIO DA PROVA DO TORNEIO! COMO EU SAÍ DA ESTUFA?

Então as coisas começaram a clarear. O grito que ele havia ouvido de Mione, não era mentira. Aquilo poderia ser uma ilusão. Nada poderia trazer os pais e Sirius de volta. ESSA ERA A REALIDADE:

_ HARRY, É UMA ILUSÃO, SAI DAÍ! - as vozes de Rony e Hermione soaram claramente nos ouvidos de Harry. Harry deveria acreditar na realidade, ela era a verdade, a vitória.

_ Meus pais nunca iriam querer me tirar o que mais adoro no mundo. Eles querem meu bem. É tudo uma ilusão.

Mas Harry já estava afundando no buraco. Ele pegou a varinha, apontou pro chão e gritou, sentindo novamente o braço doer:

_ VENTANUS TEMPESTADIS!

Um jorro de vento começou a sair da varinha de Harry. Era tão forte que, depois de um tempo, Harry começou a subir, subir, subir. Saiu do buraco, foi subindo até que sentiu que havia saído da órbita. Quando sentiu que já estava fora da ilusão, ele caiu no chão. Estava novamente na estufa:

_ Um... - ele ouviu Hermione murmurando!

E então uma buzina soou. Soou tão alto que o ouvido de Harry doeu.

_ Ele não conseguiu... - murmurou Hermione, chorando. - Coitado, não deve... - ela disse isso levantando a cabeça, deixando de olhar o relógio, e olhou para frente, vendo Harry - Harry? HARRY! VOCÊ CONSEGUIU VOLTAR!

_ Consegui. Em tempo!

_ Quando você chegou? - disse Rony, escondendo a felicidade.

_ Eu caí no chão e a buzina tocou.

_ Então você terminou a prova antes da buzina tocar. - disse Hermione chorando. - HARRY, VOCÊ CONSEGUIU! - e o abraçou, fazendo ele ficar muito vermelho.

_ Mas conta, o que aconteceu? - perguntou Harry quando Hermione soltou o abraço.

_ O feitiço posólico das ilusões, só que muito mais forte. - disse Rony - Nossa, ele te envolveu de uma forma que você não conseguia sair. O que você estava vendo?

_ Primeiro, eu me vi voando, uma sensação tão gostosa... aí eu encontrei uns sete jovens voando em vassouras...

_ Quem eram? - perguntou Hermione

Harry respirou fundo, tomando fôlego. O braço doía muito:

_ Meus pais! E Sirius, junto com Lupin, Rabicho e outros dois jovens que eu não conheço, uma tal de Melanie e Willian.

_ E aí, o que aconteceu depois? - perguntou Rony

_ Eu primeiro ouvi uma conversa deles, nada muito importante, mas quando eles iam para algum lugar, eu senti um vento forte e eles começaram a vir na minha direção para falarem comigo.

_ Esse vento que você sentiu... - começou Hermione, meio entre soluços - foi quando o feitiço começou a te iludir. E depois, o que aconteceu?

_ Eles começaram a falar comigo. Nessa hora, Lupin, Pedro e os outros dois sumiram e só ficaram meus pais e o Sirius. Aí eles ficaram falando sobre algumas coisas, xingaram Voldemort...

_ VOCÊ-SABE-QUEM! - gritou Rony

_ Que seja. Eles começaram a falar algumas coisas que eles queriam fazer comigo, só que eles morreram antes... Sirius até me perguntou como vocês dois estavam! Aí eu estranhei um pouco, e ouvi o grito da Mione.

_ Foi na hora que você estava se recuperando da hipnose do feitiço. Eu resolvi te alertar, mas você hesitou um pouco e voltou a ser dominado pelo feitiço.

_ Foi porque quando eu olhei, os três estavam da mesma maneira que estavam no dia em que morreram e aí eu pensei que eu não deveria ter percebido.

_ E depois, o que aconteceu?

_ Aí eles me levaram para um abismo, me dizendo que se eu entrasse lá, eu poderia ficar com eles para sempre!

_ Foi na hora que abriu um buraco no chão! - disse Rony, batendo a mão na cabeça - Por isso você entrou nele.

_ Eu entrei, mas ao mesmo tempo eu fui lembrando de várias coisas.

_ Por quê?

_ Porque eles me disseram que seu entrasse, nunca mais eu iria ver vocês. Aí eu comecei a lembrar de várias coisas, vários momentos, e então eu lembrei de uma coisa que o Gustivitz disse pra mim antes da prova. E então eu percebi que tudo aquilo era MUITO estranho.

_ Quando você voltou a hesitar. - disse Hermione - Aí Rony e eu gritamos com todas as forças, usando os nossos últimos alertas, e você deu um baque... como começou a contagem regressiva, a gente nem olhou mais pro buraco, preocupados. Aí você apareceu. - e voltou a chorar.

_ Eu percebi que era uma ilusão, então eu usei o jato de vento que você me ensinou, Mione! E eu cheguei bem na hora!

_ Deve ter sido duro pra você, não foi? Escolher entre a gente e seus pais... eu faria a mesma coisa que você fez! - disse Rony

_ O mais duro é pensar que a realidade é essa! É muito duro você ser iludido desse jeito.

_ AHHHHH!

_ Que foi Mione? - perguntou Rony, assustado.

_ O braço do Harry. Tá muito inchado e roxo. Vamos, Harry, você precisa ir urgentemente na enfermaria.

_ Tá, vamos embora. Não agüento mais essa estufa.

Com a ajuda de Rony e Mione, Harry se levantou e saiu da estufa. Quando estava saindo, disse:

_ Só teve uma coisa que eu não entendi nessa prova!

_ O quê? - perguntou Rony

_ De onde vinha e de quem era aquela voz. Aliás, que voz era aquela?

_ Não sei. - disse Hermione.

Ao sair, Harry levou um susto. Uma salva de palmas começou, direcionada para ele. E quando olhou pro lado, levou um susto ainda maior: Liz estava totalmente despenteada, pálida e quase desmaiada, estirada em uma cama improvisada por Madame Pomfrey, sendo tratada por Ernie McMillan.


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