Pablo Gustivitz



O jantar daquela noite foi até muito tarde. Harry e Rony foram dormir muito tarde, já que esperaram Hermione conduzir os alunos do primeiro ano até a sala comunal da Grifinória (“monitor sempre dá problema”, disse Rony, impaciente). Enquanto esperavam sentados nas poltronas perto da lareira (o salão comunal cinco vezes maior), eles viram Liz sentada com seus colegas. A expressão em seu rosto era a mesma do pátio, bastante entediada. Rony, vendo que a garota não estava se divertindo nem um pouco, virou-se para Harry e disse:

_ Por que a gente não a chama para ficar um pouco aqui com a gente? Ela tá tão entediada quanto nós.

Harry achou a idéia de Rony muito boa. Levantou-se e chamou Liz, alegando querer perguntar alguma coisa sobre o Torneio. Ela olhou para os colegas, que nem pareciam lhe dar atenção. Levantou-se e sentou ao lado de Rony, enquanto Harry se sentou à frente deles.

_ Quem são eles? - perguntou Harry, curioso.

_ Meus escudeiros, o Thomas e a Alice.

_ Eu achava que os escudeiros tinham que ser pelo menos amigos do Campeão. - disse Rony, inconformado.

_ Mas eles são meus amigos. Eles estudam junto comigo na minha escola.

_ Belos amigos esses.

_ Não Rony, acontece que os dois são namorados. Ou pelo menos agem como tais.

_ Até demais, eu diria.

_ Liz? - chamou Harry.

_ O que foi?

_ Você é a Campeã da escola do Brasil, não é?

_ É.

_ E como é o Brasil?

_ Bom, é um país enorme, com muitas praias. Nem parece que lá tem inverno, de tão quente que é. No verão, chega a fazer 40° de temperatura. Um país maravilhoso. O povo de lá é muito sossegado. Têm lugares que os homens ficam dormindo e comendo o tempo todo. Têm outros que as pessoas só sabem viver em festa. É uma maravilha.

_ E que língua eles falam?

_ Português.

_ E como você aprendeu a falar inglês? - perguntou Rony

_ Ah, aí é outra história. Meus pais me ensinaram quando eu ainda era pequena. Nada de muito grandioso. Acho que desde que eu me entendo por gente eu sei falar. Tive vários problemas por causa disso.

_ Por quê?

_ É que, como no Brasil se fala português, eu me confundia muito quando eu aprendi a falar. Ás vezes eu entendia meus pais, ás vezes não. Eu parei de confundir mesmo quando eu entrei na escola de magia. Lá eu falava português; em casa, inglês.

_ Mas por que isso tudo?

_ Bem... é que... meus pais achavam melhor pra mim... e eu aprendi.

_ Deve ser bem difícil controlar as duas línguas.

_ Já me acostumei. Acho que eu já era proibida de falar meu sobrenome quando eu aprendi as duas línguas.

_ Faz muito tempo que você é proibida de falar o sobrenome? - perguntou Harry

_ Faz. Desde quando eu tinha um ano de idade. Eu mesma só soube do meu sobrenome com onze anos.

_ Como foi que você soube?

_ Ah... - ela parou com uma cara bastante tensa - foi...

Nessa hora Hermione passou por eles, direto para os dormitórios, sem nem ao menos falar um “boa noite”. Bateu a porta com toda a força que tinha. Os garotos se entreolharam, mas Liz olhou o relógio e disse:

_ Já é tarde, ela deve estar cansada. O melhor a fazer é dormir. Amanhã a gente tem aula. Deixa eu ir, boa noite.

_ Boa noite. - disseram Harry e Rony juntos.

A garota subiu para os dormitórios, e os dois colegas foram atrás. Harry e Rony ficaram conversando:

_ O que deu na Mione? - começou Rony

_ Sei lá. Ela passou direto pela gente sem falar nada.

_ Aposto que achou que já era muito tarde e que a gente deveria dormir, porque as aulas começam amanhã.

_ Mas as aulas começam mais tarde amanhã. Não tem motivo.

_ E você não conhece a Hermione, né? Ela vai com certeza estudar mais um pouco na biblioteca amanhã de manhã.

_ Que seja, mas agora o sono já pegou. Vamos dormir?

_ Tá bom. Também estou morrendo de sono.

Harry teve dificuldades de dormir aquela noite. Ficou tendo pesadelos, vendo Voldemort perseguir aquele casal e a menina, seus pais gritando, Voldemort rindo. Mas aquela noite teve alguma coisa a mais. Viu seu pai se culpando por alguma coisa, sua mãe chorando, Voldemort murmurando alguma coisa. Acordou suado de manhã cedo, e vendo que Rony ainda dormia, desceu até o salão comunal, aonde encontrou Hermione, com a cara enfiada nos livros. Parecia mais calma do que na noite passada. Harry se sentou ao lado dela:

_ Bom dia Hermione.

_ Bom dia Harry. Acordou cedo.

_ Não consegui dormir.

_ Aquele sonho de novo?

_ É.

_ O que foi que você sonhou dessa vez?

_ A mesma coisa que da outra vez. A única coisa diferente é que dessa vez eu vi meus pais chorando...

_ Deve ser difícil. Mas o que você tem a fazer é não se preocupar. Neste momento estou mais preocupada com o torneio.

_ Por quê?

_ Queria saber qual vai ser a primeira prova do torneio. Ouvi rumores de que vai ser uma prova de resistência.

_ Que tipo de resistência?

_ Isso era o que eu estava vendo. Esse livro fala sobre as provas de resistência dos últimos Torneios Tribruxos. Estava pensando que poderia ser uma batalha contra manticores em celas enfeitiçadas, mas ninguém nunca saiu sano dessa prova.

_ Não vai ser uma coisa muito difícil Mione, afinal é a primeira prova.

_ Mas é bom a gente se preparar, não?

_ Mione?

_ O quê?

_ Por que você estava tão brava ontem?

Hermione começou a corar. Fixou os olhos no livro, tentando não mostrar o seu rosto vermelho:

_ Bom, foi... porque...

_ Porque...

_ Porque a profª McGonagall me disse que, como eu ia ser sua escudeira, esse ano eu não vou exercer o cargo de monitora, não até você ser desclassificado ou o torneio acabar. - disse Hermione de repente, como se tivesse se lembrado naquele momento.

_ Só por isso? - perguntou Harry, pressentindo que não era aquele o motivo.

_ Só por isso. Uma coisa boba.

_ Não acho que seja uma coisa boba. É o que você gosta de fazer. - disse, tentando agradar

Os dois se encararam, Hermione mais vermelha do que antes. Harry não entendia aquela sensação, mas com certeza era muito boa, na opinião dele. De repente alguma coisa ia levando sua cabeça para frente, na direção da amiga. Mas nessa hora Rony chegou, alegando estar com fome. Hermione fechou o livro e subiu para guardá-lo. Harry virou-se para Rony, e sentiu o estômago roncar. Também estava com fome.

No salão comunal, a profª McGonagall começou a entregar os horários. Ao chegar em Hermione, falou que queria falar com ela. Ela se levantou e saiu do salão, junto com a professora. Rony perguntou a Harry se ele sabia o que era, e ele repetiu o que Hermione havia lhe dito de manhã. Rony fez uma cara meio inconformada e voltou a comer seu mingau. Harry olhou para o portão do salão e viu Liz entrando com seus colegas. Mas dessa vez ele se assustou. A garota estava brava, com uma cara assustadora. A trança única balançava fortemente, enquanto ela ia dando passos rápidos. Chegou em Harry e Rony e perguntou:

_ Posso ficar aqui com vocês?

Harry e Rony se entreolharam. Olharam pra cara de Liz, ainda brava. Thomas e Alice se sentaram um pouco distantes deles, mas Liz estava parada, parecendo não se importar com os amigos:

_ Algum problema Harry? - perguntou Rony

_ Não. Por mim... pode ficar, Liz.

Ela respirou fundo, soltou um leve sorriso e disse “obrigada”. Sentou-se ao lado de Rony, à frente de Harry. Olhou para o lado e viu que estava faltando alguém:

_ Cadê a Hermione?

_ Foi falar com a profª McGonagall. - respondeu Rony

_ E ela ainda está brava?

_ Não. - respondeu Harry - Ela já se acalmou.

_ O que aconteceu pra ela ficar daquele jeito ontem?

_ Segundo ela, foi porque a profª McGonagall disse que, como vai ser escudeira, ela não vai poder ser monitora esse ano.

_ Não tiro a razão dela. Se fosse comigo, também estaria triste.

_ Não me diga que você também é monitora na sua escola! - exclamou Rony.

_ Eu não! Não sou do tipo de aluna que gosta dessas coisas. Não nasci pra ser certinha.

_ Ah bom. Você não parece ser daquelas que gostam de andar na linha.

_ Não, eu não sou mesmo.

_ A sua escola também tem esse negócio de monitor, Liz? - perguntou Harry.

_ Tem. Um por casa.

_ Lá também tem as casas, como aqui?

_ Aham.

_ E de qual você faz parte?

_ Grimo. É muito parecida com a Grifinória.

_ E você gosta dela?

Liz abaixou a cabeça, com uma cara meio triste, meio envergonhada. Respondeu em um tom baixo:

_ Da casa eu até gosto, do que eu não gosto é da escola em geral.

_ Por quê? - perguntou Rony

_ Ah... motivos bobos. Coisas sem importância... o que é isso? - disse, apontando para o horário na mão de Rony.

_ Isso? É o horário das aulas. Você deve receber um daqui a pouco. Ele fala que aulas iremos ter durante todo o ano. Por exemplo, a nossa primeira aula é de Poções, com o Snape e todos os outros alunos da Sonserina. Ainda por cima é dupla.

_ Pelo jeito você não gosta muito nem desse tal de Snape nem dos alunos da Sonserina.

_ Ninguém gosta.

Nessa hora Hermione chegou, com os olhos bastante estranhos. Entregou o horário para Liz (“O horário de cada campeão”, disse para um outro campeão) e, depois, para os outros alunos que ainda não haviam recebido. Depois se sentou ao lado de Harry:

_ Bom dia Hermione.

_ Bom dia Liz.

_ Tá mais calma?

_ Estou, obrigada.

_ Fiquei sabendo que você não vai poder ser monitora esse ano. Sinto muito. Acho que você deve gostar muito do cargo.

_ Realmente, eu gosto bastante de ser monitora.

_ Falando nisso Mione - interferiu Harry - o que a McGonagall queria com você?

_ Ah, ela queria que eu escolhesse um substituto pra ser monitor esse ano.

_ E quem você escolheu?

_ Viviam Drake, uma aluna do sétimo ano. Ela é bastante esforçada e achei que ela merecia o cargo.

De repente Liz solta um “quê?!” agudo e abafado. Os três olharam para ela, Rony com a boca cheia de leite:

_ Vocês têm aulas com o Pablo Gustivitz? Eu não acredito.

_ Pra falar a verdade, é a primeira vez que nós vamos ter aulas com ele. Por quê? Ele é muito famoso? - perguntou Rony

_ Aqui na Europa, acho que não, mas ele é um bruxo muito famoso na América Latina. Ele foi o responsável pela descoberta da utilidade do chifre de bicórnio para a poção da surdez. Um dos maiores professores de Defesa contra as Artes das Trevas do mundo, segundo o “Guia de Professores Aurores”. Um livro fascinante.

_ Você já leu esse livro? - perguntou Hermione.

_ Já. É fantástico, fala sobre muitos professores aurores. Pablo Gustivitz aparece no final da lista, mas mesmo assim fez feitos fabulosos.

_ Sabia que conhecia esse nome de algum lugar.

_ Não me diga que você também já leu esse livro?

_ Claro. No terceiro ano, eu o li várias vezes. Fiquei pasma com os feitos de alguns professores antigos daqui. Foram esplêndidos.

_ Você está incluindo Gary Reynolds, não é?

_ Claro.

E as duas ficaram discutindo sobre o livro até terminarem o café. Rony, pasmo, disse a Harry:

_ Só falta termos que aturar outra Hermione, não acha?


Liz realmente era muito diferente. Além de o seu inglês ter um sotaque um pouco diferente, tinha qualidades bastante diversas. Na aula de Poções, ela conseguiu o maior feito da história dos alunos da Grifinória: Snape não reclamara de nada vindo dela. Até tentou, olhando com muito cuidado a poção da garota, tentando achar algum defeito, nem que fosse minúsculo. Mas não conseguira: a poção de Liz estava perfeita, no ponto certo e com os ingredientes na dose certa (um conta-gotas, faca especial e fita métrica especial para poções). Harry e Rony ficaram pasmos com ela na aula de Feitiços: houve uma disputa cerrada entre a garota e Hermione. A cada pergunta do prof° Flitwick, os dois braços se levantavam, quase que sincronizados. Se Hermione respondia, Liz complementava, e vice-versa. Na aula de Transformações, os alunos se concentravam mais na disputa das duas do que na própria lição (transformar lenços em pombas).

A competição terminou na hora do almoço. Hermione estava sem fôlego, enquanto Liz estava sem voz. Mas houve uma coisa boa naquilo tudo: Hermione, que até a hora do café, parecia não ir muito com a cara da garota, agora já a aturava com mais atenção, esperando alguma coisa útil. Rony estava inconformado. Com certeza estava esperando que Liz fosse outro tipo de garota, não do tipo estudiosa como Mione. Harry estava no meio termo: surpreendeu-se com a nova surpresa de Liz, mas gostou muito de saber que ela era tão parecida com Hermione.

Depois do almoço, como que por rotina, Liz mostrou mais uma surpresa: a incrível semelhança com Rony. Estavam todos nos jardins da escola, quando Thomas e Alice apareceram. Liz se dirigiu até eles e, quando voltou, pegou uma coleção de figurinhas dos sapos de chocolate do bolso. Rony, percebendo o monte, perguntou:

_ Você também coleciona?

_ Coleciono. Eu devo ter umas mil dessas. Sou viciada em sapos de chocolate, todo dia eu como um. Não é difícil eu ter um monte.

_ Sinceramente, depois que você se ocupou com aquele mini-torneio nas salas, achei que você não tinha tempo para essas coisas, pois fica estudando o tempo todo e...

_ O quê?! Eu?

_ É, você.

Liz deu uma risada cavernosa. Depois disse sem ar:

_ Eu, estudando? É a coisa mais absurda que já me disseram. Tá, eu leio um pouco demais, e ás vezes eu decoro as coisas, mas eu NUNCA iria parar com tudo pra ficar com a cara nos livros. Sinceramente...

Hermione e Harry olharam para ela, com os olhos arregalados (parecia até que era a única coisa que eles faziam desde que conheceram Liz). Não era ela a garota que acabara de fazer o feito de toda a história de Hogwarts? Não era ela que tinha condições de enfrentar Hermione cara a cara em uma competição de conhecimentos?

_ E então Rony, conhece o jogo?

_ Que jogo?

_ O jogo de cartas dos sapos de chocolate. Você não conhece?

_ Não.

_ E você ainda é um colecionador de cartas? Me admira muito, mas se você não sabe... você está com suas cartas aí?

_ Estou.

_ Então vem cá que eu te ensino. É muito simples.

Rony pegou o seu monte de cartas e se sentou ao lado de Liz. A garota separou suas cartas em montes de quarenta e explicou passo a passo do jogo:

_ Você corta o seu monte (chamado de deck) e pega as sete primeiras cartas. Olha para elas e escolhe uma, que vai ser a sua carta de ataque. Você pode escolher uma carta surpresa, para usar em casos que achar conveniente. Você mostra a sua carta de ataque e compara com a minha. Se eu ganhar, eu escolho uma carta de seu monte de sete e comparo de novo e vice-versa. A cada carta que você comprar do seu deck, é uma rodada a mais pra mim. E... - disse pegando uma carta do baralho - a cada carta que você perder, o bruxo da carta perdedora vai se projetar e te atacar. Então, cuidado.

Nas primeiras rodadas, Liz ganhou facilmente, deixando Rony sem forças, mas o garoto pegou o jeito e a disputa ficou bastante emocionante. Na metade do jogo, enquanto Rony escolhia com cuidado uma carta de Liz, chegou Draco Malfoy, sarcástico:

_ Weasley, se divertindo fingindo ser uma criança?

_ O que foi agora, Malfoy?

_ Nada Weasley. Só estou admirando o seu joguinho de cartas. Afinal, deve ser o seu bem mais valioso.

Rony já ia se levantando, e Harry e Hermione se preparando para segurá-lo, quando eles viram um braço impedir que Rony se levantasse. Liz havia se levantado e encarou Malfoy, olho no olho:

_ E quem é você pra falar assim do Rony hein?

_ Não te importa, sua xereta. O que você tem a ver com isso?

_ Tudo, quando se trata de alguém como o Rony. Por que você disse isso?

_ Não disse nada demais. Weasley é tão pobre que essas cartas devem valer mais do que todo o material dele de Hogwarts.

_ O que cada um possui não cabe a ninguém julgar, mas já que você teve essa sutileza, devo dizer que todas essas cartas devem valer mais do que você.

_ E quem é você pra falar comigo dessa maneira, sua intrometida?

_ Se você não sabe, eu tenho nome, me chamo Liz.

_ É, mas não tem sobrenome.

_ E eu posso saber qual é o seu?

_ Malfoy.

_ Como imaginei, podre como o dono.

Harry, Rony e Hermione deram risadinhas abafadas. Malfoy deve ter percebido, porque disse:

_ O que eu podia esperar de uma garota que anda com gente como Weasley, Granger e Potter? Acho que já tá na hora de aposentarem o Cálice de Fogo, porque para terem escolhido gente como você...

_ O Cálice de Fogo não vai precisar se aposentar, porque ele ainda não chegou a ponto de escolher “gente como você!”

_ Escuta aqui, sua desgraçada, acho bom você parar de falar assim comigo.

_ Como se você fosse alguém pra me impedir de falar as coisas que me vem na cabeça.

_ Falo isso porque você ainda tem chance de ser salvar.

_ E desde quando você se preocupa com os outros, Malfoy? - perguntou Harry, em defesa de Liz.

Draco olhou um olhar de extrema malícia para Harry e saiu dali, olhando feio para Liz, que retribuiu o olhar, também fazendo cara feia. Depois, se virou para os três e perguntou indignada:

_ Quem ele pensa que é pra ficar falando assim de todo mundo? Que garoto mais chato.

_ E essa não vai ser a primeira vez, te garanto. - disse Rony, meio bravo.

_ Ai dele.

Mas Hermione estava com uma expressão bastante esquisita no rosto. Consultou o relógio e viu que estava na hora da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas começarem. Os quatro foram seguindo para a sala de aula, Liz e Rony discutindo sobre qual bruxo era o melhor para ser usado como carta mágica no jogo. Hermione e Harry iam à frente, discutindo sobre o roubo do Gringotes:

_ Hermione, e aquele livro que você disse que tinha as informações sobre o Gringotes?

_ Estive tão ocupada ontem e hoje que acabei nem indo à biblioteca, mas assim que tivermos tempo, eu vou e pego as informações.

_ Você não se lembra de nada do que leu naquele livro? Nada que possa adiantar alguma coisa?

_ Ah, lembro do geral... que o Gringotes primeiramente era controlado apenas por bruxos, mas depois eles decidiram passar o poder para os duendes... também falava sobre os tipos de dragões preferidos pelos funcionários para fazerem a segurança dos cofres, e...

_ E sobre o objeto roubado, você não lembra de nada?

_ Lembro que era uma coisa que misturava poções com vários feitiços e antifeitiços, mas só isso.

_ Que pena.

_ Mas assim que eu puder, eu vou à biblioteca.

Eles chegaram na sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, onde várias pessoas já estavam sentadas nas mesas. Alguns campeões estavam nervosos nas mesas, esperando o professor aparecer. Harry e Rony se sentaram um pouco no meio, depois de muita insistência de Liz, que queria porque queria ficar na frente, e de Hermione, que queria conhecer melhor um dos melhores aurores do mundo. Ao entrarem finalmente em um acordo, Pablo Gustivitz apareceu.

De longe ele se parecia com algum professor que Harry já teve antes. Ele era baixo, muito moreno, e bem acima do peso. Usava um cavanhaque um pouco antiquado, e seu terno estava um pouco corroído. A gravata estava folgada, dando um ar de leveza no estilo. Levava consigo muitos pergaminhos, livros e anotações. Parecia um homem bastante sério.

Rony, como sempre, olhava indiferente para o professor. Liz olhava com profunda atenção, enquanto Hermione fitava, admirada, aquele homem. Harry ficava no meio termo, não tinha muita sorte com os professores de Defesa Contra as Artes das Trevas. O único com quem se deu bem fora com Lupin, antigo amigo de seu pai. Desde lá não teve muita afinidade com outro professor.

_ Para todos, boa tarde. Meu nome é Pablo Gustivitz e esse ano serei o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas de vocês. Essa sala é a do sexto ano de que casa?

_ Grifinória, professor. - respondeu Hermione, rapidamente.

_ Ah sim, Grifinória. Muito bem, como vocês devem ter percebido, eu não sou inglês. Vim da Argentina, mas esse ano darei aulas pra vocês atendendo um pedido do grande Dumbledore. Isso não nos importa agora, e sim começar logo as aulas. Muito bem, segundo as indicações do último professor, vocês aprenderam sobre feitiços de cura e contra-feitiços que funcionam sobre as pragas. Realmente, vocês estão um pouco atrasados, mas sei que recuperaremos o tempo perdido com calma. Muito bem, poderiam abrir na página um do livro de vocês?

Todos os alunos abriram os livros. Rony bocejava, enquanto Harry olhava desconfiado para Gustivitz:

_ Não seremos tão fiéis ao livro, mas o utilizaremos bastante. Muito bem, alguém pode me dizer o que são as sereias?

Como sempre, Hermione levantou a mão, e Liz levantou junto. Gustivitz soltou um leve sorriso e perguntou:

_ Srta. Granger, não é? - disse apontando para Hermione - Pode dizer.

_ Sereias são seres marítimos que tem na voz uma alta capacidade de seduzir as pessoas a irem na direção que querem.

_ Geralmente ao encontro de rochedos. - completou Liz.

_ Muito bem, mas as sereias são seres mais fascinantes e perigosos quando estudados a fundo. Suas vozes são usadas não só como ataque e sim como defesa. Como vocês devem saber, elas são muito sensíveis a qualquer movimento suspeito. Para mostrar isso, é preciso que vocês vejam mais de perto as estruturas de uma. Mas antes...

Ele abriu um malão, aonde tinha vários papéis embrulhando uma varinha. Ela brilhava intensamente, que todos cobriram os rostos a fim de que os protegessem. Terminado aquele brilho, Gustivitz pegou a varinha e chamou Simas Finnigan.

_ Agora Finnigan, me diga, qual o som é o mais desagradável para você?

_ Acho que é o hino do time da Bulgária.

_ E qual é o mais agradável?

_ O hino do time da Irlanda, claro.

_ Então está bem. Vocês devem ter estudado já. Os bichos-papões geralmente se transformam na coisa que temos mais medo. As sereias são ao contrário, elas podem cantar a coisa que mais nos agrada. Por isso, assim que virmos uma sereia, devemos usar o feitiço revertor e desse jeito ouvir o som que menos gostamos. Agora vamos, não temos muito tempo.

E eles foram até o lago. Harry havia tido aulas práticas antes, então se sentia meio confiante. Gustivitz ia andando depressa, como se fosse salvar alguém. Hermione ia muito feliz, ao lado de Liz que não parava de dizer: “Cara, isso vai ser legal” e Rony (que até aquele momento não havia se dado bem com quase nenhum professor de DCAT, com exceção de Lupin) pensando no que o novo professor ia dar.

Ao chegarem, Harry levou um baita susto. No lago, muitas sereias pulavam e faziam acrobacias. A lula gigante dormia sossegada, o que era uma visão muito bonita. Gustivitz sacudiu um pouco sua varinha e virou-se para a turma:

_ Sereias costumam cantar toda vez que vê alguém estranho se aproximar. Poucas são as vezes que elas cantam por outros motivos. Mas quando isso acontece, geralmente é por que elas querem alguma coisa ou quando estão muito bravas. Essas sereias já conhecem vocês pelos uniformes... então não irão lhe fazer mal.

_ Me ferrei! - exclamou Liz

_ Por quê? - perguntou Harry

_ Ora, eu não estou vestindo o uniforme de Hogwarts, estou com o uniforme do Glória.

_ Mas isso não vai fazer diferença! - exclamou Hermione- Você está com a gente, então se supõe que você seja alguma aluna rebelde ou coisa do gênero. Sereias não costumam pensar muito.

_ Bem, vocês devem estar se perguntando o que viemos fazer aqui. Vou ensinar a vocês como se defender de um canto de sereia. Finnigan, venha até aqui, por favor.

Simas se aproximou do professor, que abaixou e pegou uma pedra:

_ Atire isso naquela sereia. Mas com força.

Simas atirou. A sereia, ao sentir o golpe, jogou os longos cabelos para trás e encarou o garoto. Harry percebeu que o olhar dela parecia o de Hermione quando viu Liz pela primeira vez: analisando Simas de cima a baixo. Gustivitz se adiantou e disse:

_ Finnigan, agora se concentre no hino da Bulgária. Concentre-se. Está concentrado?

_ Estou.

_ Assim que ela começar a cantar, diga bem alto “Desgradus Sonorus”

A sereia começou a cantar um som que lembrou a Harry o hino da Irlanda. Simas gritou bem forte “Desgradus Sonorus” e uma bolinha atingiu a garganta da sereia, que imediatamente começou a ecoar um som que parecia o hino da Bulgária. Simas fez uma cara feia e tapou os ouvidos, e a sereia se enfureceu mais ainda. Começou a gritar tão alto que tudo começou a tremer. Gustivitz se adiantou e, agitando a varinha, gritou:

_ Mudus Sonorus.

Todos os sons cessaram. A sereia fez uma cara feia e saiu, xingando. Gustivitz explicou:

_ As sereias odeiam ser ignoradas ou interrompidas. Elas vão saber qual é o som mais agradável a vocês, então vocês têm que mudar o som com o feitiço que Finnigan fez. Depois, quando elas começarem a apelar, vocês a deixam mudas como eu acabei de fazer. Vou separa-los em duplas, assim fica mais fácil de enfrentar. Nem precisam atirar pedras mais, as outras sereias vão vir tomar as dores daquela.

Harry acabou ficando com Dino Thomas; Rony, com um campeão que também foi para a Grifinória, Pietro de Las Nieves; Hermione, com Lilá Brown; e Liz, com Neville.

Não demorou muito para as outras sereias chegarem. E agora vinham todas com os sereianos. As duplas se ajeitaram e cada uma se posicionou.

Dino Thomas parecia não gostar muito de sossego. O som que Harry ouviu foi uma coisa parecida com gritaria de estádio de futebol, e quando Dino disse “Desgradus Sonorus”, o que veio a seguir foi uma melodia clássica. A sereia desistiu de Dino e foi até Harry. O que Harry começou a ouvir foi o mesmo som que ouvira quando estava lutando com Voldemort no final do Torneio Tribuxo, que saía da varinha dos dois. Ia dizer o feitiço, mas uma palavra veio na sua cabeça “Não desfaça o elo, não desfaça o elo”. Seu corpo ia indo para frente, até que ouviu:

_ Neville!

Harry acordou de seu transe e só viu Neville se agitando no lago. As sereias deram risadas e saíram. Liz gritava desesperada:

_ Por que não fez o feitiço, burro? Vai, nada, antes que...

Mas era tarde demais. Neville acabara de acordar a lula gigante, que estava muito brava. Harry, Rony e Hermione correram na direção de Liz, que só dizia:

_ Isso é um mau sinal. Isso é um mau sinal. Lulas gigantes não gostam de ser acordadas.

A lula agitou muitos de seus tentáculos e tentava atingir Neville. O garoto tentava nadar, mas parecia que suas pernas não obedeciam. Liz, já desesperada, gritou:

_ Eu vou lá. Vou salvar ele.

Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, todos viram Gustivitz pular na água, murmurar alguma coisa e fazer com que a lula dormisse. Aquele homem acima do peso parecia um super atleta de tão rápido que nadava. Pegou Neville e o tirou do lago. A única coisa que disse foi:

_ Normal. Acontece com todos. Elas estavam desesperadas por ter visto tanta gente. Mais cuidado da próxima vez Neville. Vamos voltar. Na próxima aula eu vou ensinar a vocês a se defenderem de sereias em um combate entre alguém sozinho contra todas elas. Vamos Neville, você vai acabar pegando um resfriado. Vocês fizeram um bom trabalho...

Ao voltarem para a torre, uma coisa estava martelando na cabeça de Harry: por que não conseguia dizer o feitiço? Rony estava muito excitado com a forma como o professor salvara Neville, e não parava de dizer:

_ Finalmente um professor que coloque a gente frente a frente com o perigo.

Liz concordava plenamente com Rony. Hermione não parava de dizer que o professor era excelente, que sabia o que fazer. Mas quando os três se deram conta do silêncio de Harry, ele próprio já havia tomado uma decisão:

_ Que foi Harry?- perguntou Liz

_ Preciso falar com Gustivitz.

_ Por quê?

_ Porque... hã... quero perguntar uma coisa pra ele.

_ Por que você não conseguia fazer o feitiço, por acaso?

_ Como você sabe?

_ Ah Harry- exclamou Rony- você ficou estranho, meio tonto. Abria a boca pra falar, mas fechava logo em seguida, falava meia palavra e depois parava. Gustivitz chegou a comentar que queria falar com você.

_ Mas aí o Neville caiu no lago e você acordou - terminou Hermione

_ Não se preocupa não- disse Liz- Você não ia cair no lago. Segundo Gustivitz, o canto da sereia estava fazendo um efeito diferente. Parece que era algo do tipo hipnose, e não uma coisa parecida com “imã para afogamentos” como aconteceu com Neville. Mas acho bom você ir falar com o Gustivitz, segundo ele é de extrema importância.

_ Acho que vou agora. Encontro vocês na torre da Grifinória.

_ Ei, espera aí, eu também vou.

_ Não precisa Liz, eu vou sozinho...

_ Eu também preciso falar com o Gustivitz. Estou com uma dúvida de uma coisa que eu aprendi no ano passado e que ele pode me esclarecer.

_ Eu também vou! - disse Hermione - Quero perguntar uma coisa pra ele também.

Como só sobrou Rony, ele acabou indo atrás também.

E conforme iam, eles viam que Gustivitz se tornara muito popular entre os alunos da Grifinória. Todos os grifinórios comentavam os grandes feitos de Gustivitz e o salvamento de Neville, fora como Gustivitz estava ajudando muitos alunos nas matérias. Os campeões que eles iam encontrando também falavam muito bem do professor de DCAT de Hogwarts.

Ao chegarem na sala de Gustivitz, os quatro levaram um susto. Cerca de cem alunos e mais uns trinta campeões faziam perguntas para o professor, que respondia todas com muita calma. Ao ver Harry e os outros, disse:

_ Pessoal, vamos andando, eu tenho muitas coisas a tratar. Preciso falar com Potter. Vamos, amanhã eu esclareço mais dúvidas.

Todos saíram da sala, onde só ficou Harry, Rony, Hermione e Liz. O professor convidou todos eles a se sentarem, mas apenas Rony sentou. Harry, Hermione e Liz ficaram de pé.

_ Bom Potter, precisava falar com você. Percebi hoje como você é forte. Aquela sereia estava tendo um trabalhão com você, não?

_ O que foi que aconteceu professor?

_ As sereias são muito ambiciosas. Quando elas vêem uma pessoa forte, imediatamente elas o querem para seu escravo. Aí elas usam a hipnose, cantando um som que lhe traz lembranças boas. Foi o que aconteceu com você, eu suponho. Você estava resistindo bem, mas não conseguia murmurar o feitiço. Também não ia adiantar muito. É um outro feitiço totalmente diferente. Vou ensiná-lo um pouco mais tarde.

_ Uma lembrança boa? Não me veio nenhuma lembrança boa naquela hora.

_ Você se sentiu bem?

_ Sim.

_ Então, mais um sinal de que você estava resistindo. Este som deve ter sido alguma sobra que algum acontecimento que você viveu e que te fez bem. Mas você foi bem forte, parabéns Potter. Achei que seria.

_ Mas professor, que feitiço é esse? Que faz as sereias me libertarem da hipnose?

_ Na verdade, não é feitiço, é mais uma concentração. Você pensa em alguém a quem deve fidelidade antes de qualquer coisa, e a sereia vai se ofender, Aí ela te livra da hipnose e usa o que vocês estavam aprendendo agora há pouco, Como você vai estar meio tonto, você já usa o feitiço sonífero, que vai fazer a sereia entrar em transe. Mas isso eu ensinarei mais para frente, já que é um feitiço muito complicado. Enquanto isso, vocês podem se virar com um outro feitiço, não muito potente, mas que faz o mesmo efeito. - e se levantando, falou- É por isso que eu gosto de DCAT, você tem várias opções de feitiços para enfrentar um único perigo. E vocês três, vieram saber também o que aconteceu com vocês?

_ De certa forma sim- respondeu Hermione.- Por que a minha sereia continuou cantando um som que me agradava mesmo depois de eu ter feito o feitiço?

_ Com certeza você não deve ter se concentrado muito no som que te desagrada, ou as sereias te enganaram. Normal, elas sabem enganar muito bem. Deve ter sido a segunda opção, suponho. Disseram-me que você é uma ótima aluna, Granger. E você... qual é o seu nome mesmo?

_ Liz.

_ Liz...

_ Só Liz, é o que eu posso dizer. Bem, é que no ano passado eu aprendi que as sereias são invejosas, mas não foi isso que pareceu. Vieram todas, e juntas com os sereianos, só para defenderem aquela que o Simas machucou...

_ Mas elas são invejosas. Aquilo aconteceu porque, com certeza, a outra deve ter dito que ninguém encarava a gente como ela encarou. Aí, vieram todos para provar que podem. E você Weasley, alguma dúvida?

_ Não, nenhuma.

_ Então, era só o que eu queria dizer. E Harry, espero que sejamos bons amigos.

Nessa hora, alguém bateu na porta:

_ Entre- respondeu Gustivitz

A porta se escancarou. Entrou uma garota de mais ou menos dezessete anos, branca-morena (aquele moreno bem claro, quase branco, e que com certeza não toma sol há muito tempo), alta e com os cabelos longos e castanho-escuros:

_ Tio, estou com uma dúvida sobre...

Todos, incluindo Gustivitz, olharam para ela. Tio?

_ Ah, você está ocupado. Volto outra hora.

_ Não, pode ficar, já acabamos. Amanda, esses são Rony Weasley, Hermione Granger, Liz e Harry Potter. Garotos, essa é...

_ Amanda Soarez, muito prazer- disse, pegando a mão de Harry e sacudindo-a - Então era verdade? Harry Potter realmente estuda em Hogwarts. Muito prazer em conhecê-lo.

_ Hã... prazer!- respondeu Harry

_ Ela é campeã da escola da Argentina, veio comigo por causa do Torneio.

_ E o “tio”? - perguntou Liz.

_ É, devo confessar... ela é minha sobrinha. A mãe dela é minha irmã.

_ Tudo bem então. - respondeu Liz. - Mas vocês dois não se parecem nem um pouquinho. Pra falar a verdade, você não se parece com um argentino, professor. Geralmente eles são meio... branquelos.

_ Sou mestiço, filho de uma bruxa com um índio. Agora garotos, me desculpem, mas temo dizer que vocês têm de ir embora. Eu preciso ter uma conversinha com a Amanda também. Boa-noite. Amanda, venha comigo.

E os dois saíram, certamente pro quarto de Gustivitz (sem maldades). Os quatro se entreolharam, até Rony dizer:

_ É, ele é bem legal.

_ Legal? - reivindicou Liz - Ele é fantástico. Agora eu posso resolver um dos meus deveres, sem dúvidas... mas aquela garota me surpreendeu, sobrinha do Gustivitz, hã? Muito estranho...

_ Por quê?

_ Ora Rony- disse Hermione - não acha estranho um dos campeões ser justamente a sobrinha de um dos professores?

_ Mas a escolha foi sigilosa, não foi Harry?

Harry não dizia nada. Gustivitz, não sabia como, havia ganhado sua confiança, mas sabia que podia contar com o professor com o que quisesse.

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