Terno Reencontro



Capítulo 9 - "Terno" reencontro


O primeiro mês de férias passou-se numa impressionante rapidez. Tiago, deitado em seu quarto, observava o teto. Dia oito de agosto, seu aniversário de dezessete anos e ali estava ele, morrendo de tédio. E era tudo culpa dele. Deveria ter aceitado as desculpas de Sirius. Se não fosse, como dissera Lily, um babaca atrevido e incoveniente, a essa altura estaria se divertindo com o amigo ao invés de ficar ali, sem fazer absolutamente nada.

E, para completar, ainda tinha a lembrança do que descobrira na noite em que vira Prewett consolando a ruiva. Finalmente entendera que gostava realmente de Lílian. E, enquanto não se entendesse com Sirius, também não teria chance com ela. O moreno levantou-se, cansado daquela situação e decidiu fazer naquele mesmo dia uma visita a Sirius. Seria matar dois coelhos com uma cajadada só.

*****

Lílian nuca se divertira tanto na vida. Embora a morte de seus pais estivesse muito recente e ainda machucasse, a certeza de que não poderia ter feito nada, o fim de seus sonhos malucos e a eterna alegria de Sirius, tinham ajudado muito a aliviar o sentimento de perda.

Também tinha as cartas de Gideão, que escrevia quanse que todos os dias. Passara no teste para começar o curso de Auror. Lílian ficara muito feliz por ele e tinha certeza que o rapaz seria um excelente profissional em sua área. Ele sempre terminava suas cartas perguntando se ela já descobrira de quem gostava. E ela sempre respondia negativamente.

A verdade é que, desde sua última discussão com Tiago, a conversa com Susan e suas mudanças de sentimento em relação ao maroto tinham sido soterradas pela raiva. Ela simplesmente não conseguia entender como alguém podia ser tão arrogante a ponto de desperdiçar uma amizade como a de Sirius. Ela perdera muito tempo pensando que, fora Remo, nenhum dos marotos prestava. A convivência com Sirius provou que estava errada.

Otimista nato, sempre pronto para a aventura, leal, sincero, independente e absolutamente amigo, Sirius podia ter feito uma burrada, mas todas aquelas qualidades deveriam servir pra alguma coisa. Como Tiago podia ser tão teimoso?

- Hei, Lily, em que planeta você tá?

A garota ergueu a cabeça, encontrando os olhos divertidos de Sirius.

- O que você perguntou?

- Nada não, esquece. - ele apontou para a taça de sorvete dela - Se não tomar logo vai acabar derretendo.

Ela finalmente acordou, voltando a tomar seu sorvete. Tinham chegado a pouco das compras e estavam tomando um sorvete caseiro que Sirius fizera no dia anterior sob supervisão dela. Ele sorriu, enquanto ela levava a colher a boca distraidamente.

- Eu sou o máximo, não acha? O aluno mais inteligente em todas as matérias, até mesmo culinária.

- Depois de ter queimado um pudim, solado um bolo e quase incendiado a cozinha com uma galinha, se você não tivesse feito nenhum progresso, Sirius, eu teria desistido e deixado você morrer de fome. - ela respondeu sem olhar para ele.

- Poxa, Lílian, desse jeito você me deixa até envergonhado.

- No dia em que você ficar envergonhado de alguma coisa, eu como meu chapéu. - ela parou por alguns instantes, parecendo refletir - Retiro o que disse. Você costuma corar quando encontra Camille.

- Ei, isso é golpe baixo.

Ela deu de ombros.

- A vida não é justa, Sirius. - ela respondeu sorrindo.

O rapaz levantou-se e Lílian imitou-o imediatamente, temendo o que viria a seguir pelo olhar maquiavélico do amigo.

- Eu vou te mostrar como a vida não é justa.

- Sirius, não!

Tarde demais. Ele a segurou pela cintura, começando a fazer cócegas, o maior ponto fraco de Lílian. Ela logo desabou no chão, sem controlar os risos. Sirius se ajoelhou perto dela e continuou com seu impiedoso ataque, rindo das caretas da ruiva.

- Sirius, pára, por favor! - Lílian pediu, entre lágrimas de riso, enquanto tentava se livrar dele.

- Porque eu deveria parar?

- Sirius!

Os dois estavam às gargalhadas quando um som estalado os assustou. Tiago aparecera no meio da sala, e os olhava aturdido. Sirius imediatamente se levantou, estendendo a mão para Lílian a fim de ajudá-la. Um incômodo silêncio instalou-se no recinto até Sirius decidir quebrá-lo.

- Tiago,...

- Como você se atreve a olhar ainda pra mim? - ele disse baixinho, com a voz fremindo de ódio. Sirius sabia que ele gostava de Lílian. Não bastava ter feito o que fez com Remo, agora também tentava lhe tirar a única garota de quem ele realmente gostara.

Antes que Sirius respondesse, Lílian se adiantou.

- E o que você é agora, Potter, para que todos devam baixar a cabeça na sua presença?

Lílian se assustou com o olhar de desprezo do rapaz, mas não deixou que ele notasse.

- E eu realmente cheguei a pensar que você era diferente. Mas é como todas as...

*PAF!*

A mão de Lílian deixou uma marca perfeita no rosto de Tiago e os olhos verdes dela brilhavam furiosos.

- Não me compare às tontas que basta que estales os dedos para que elas apareçam correndo como cachorrinhos no cio. Se você tem a mente tão suja a ponto de não diferenciar o que faz com elas e amizade, fique calado e guarde sua malícia só para você. - ela virou-se para Sirius, que olhava para a cena dom os olhos semi-cerrados - Eu vou embora. Vocês devem ter o que conversar e não vai ser por minha causa que não se acertarão.

- Não, Lily. - Sirius virou-se para Tiago, sério - Em nome da amizade que tivemos, eu não vou fazer nada dessa vez, mas você vai embora daqui agora. Eu não lhe dei permissão para invadir minha casa, muito menos para insultar meus amigos.

Sem responder, Tiago deu as costas aos dois e desaparatou. Sirius deixou-se cair no sofá, enterrando o rosto entre as mãos.

- Ele nunca mais vai olhar na minha cara. - Sirius riu desanimado - E, pra completar, hoje é aniversário dele!

Lílian fez uma careta ao receber essa informação. Ela caminhou até o sofá e tocou o ombro dele.

- Até que não seria uma grande perda, se vocês dois não se gostassem como irmãos. Se eu não estivesse aqui, vocês teriam feito as pazes hoje. - ela observou, recostando-se ao sofá.

- Não é sua culpa. Ele gosta de você e está com ciúmes. - Sirius suspirou - Só que agora ele não vai me querer ver nem pintado de ouro.

- Ele tem um jeito muito engraçado de mostrar como "gosta" de mim. - Lílian suspirou e levantou-se do sofá, espreguiçando-se - Acho que você já é capaz de fazer o jantar sozinho. Eu volto amanhã para parabenizá-lo caso tenha sobrevivido ou para recolher os cacos que sobrarem.

Sirius riu. Tiago também costumava dar aquelas respostas malcriadas. Ela tinha mais coisas em comum com o maroto do que pensava. Talvez por isso ele tivesse se dado tão bem com a ruiva. Ela abriu a porta, se despedindo.

- Até amanhã, Sirius.

- Até amanhã, Lily.

*****

- Alohomora.

A porta se abriu com um ruído baixo, revelando o pequeno apartamento às escuras. O passo leve dele, depois de anos de prática perambulando por Hogwarts à noite levou-o até o único quarto da casa. Sobre a cama, dormindo profundamente, estava uma garota. Os cabelos vermelhos em dealinho contrastavam com a brancura dos travesseiros e lençóis. A luz clara da lua inundava o aposento, deixando-o ver as curvas que o lençol delineava.

Ele aproximou-se da cabeceira e pegou a varinha dela, guardando-a no bolso, para em seguida sentar-se na cama, muito próximo a ela. Mesmo assim, a ruiva não acordou. Um sorriso passou pelos lábios dele e, lentamente, o rapaz inclinou-se para o rosto adormecido de Lílian.

*PAF*

Lílian acordou assustada com o barulho e ligou a luz, encontrando Tiago com uma segunda marca no rosto feita pela mão dela.

- Será possível que nem dormindo você me deixa chegar perto?!

A garota puxou o robe, que estava pendurado ao lado da cama, onde deixara sua varinha, para Tiago, que passava a mão pelo rosto vermelho enquanto se levantava.

- O que está fazendo aqui? - ela perguntou, tentando permanecer calma e falhando miseravelmente, enquanto seu rosto adquiria tons intensos de vermelho.

- Eu precisava conversar.

- ÀS TRÊS DA MANHÃ?! - ela apontou para o pequeno relógio na cabeceira - Você bebeu, só pode ter sido isso.

Lílian levantou-se e, para surpresa do rapaz, aproximou o rosto do dele. Antes, no entanto, que ele pudesse reagir, ela afastou-se de novo com o semblante sério.

- Não bebeu. O que é tão urgente que você não podia esperar amanhecer, fazendo-o invadir o apartamento de Susan?

- Sirius.

A garota suspirou.

- Vá pra sala. Eu vou lavar o rosto e tomar um café. Mas antes, devolva minha varinha.

- Você promete não me azarar?

Lílian riu sarcasticamente.

- Potter, se eu tivesse a certeza de que a sua "visita" é uma perda de tempo, você já estava voando pela janela. Mas talvez resulte em algo, e o Sirius está realmente arrasado. Acho que vale à pena o sacrifício de ouvir o que você tem a dizer.

O rapaz entregou a varinha a ela e seguiu-a até o banheiro.

- Que dizer que me ouvir é um sacrifício, mas que você é capaz de fazer isso por ele. O que mais é capaz de fazer, Lílian?

Ela acabou de lavar o rosto e o secou, enquanto notava uma pontada de raiva na voz do moreno.

- Vamos começar deixando algo bem claro, Potter: eu e Sirius somos AMIGOS. Preciso soletrar? Ele tem agido praticamente como se fosse um irmão. E você parece ter se esquecido também que ele gosta da Camille.

- E você? Gosta de alguém? - Tiago perguntou, não conseguindo refrear a ansiedade.

A garota corou. Por sorte acabara de apagar a luz e estavam de novo no escuro.

- Não é da sua conta.

Ela saiu do banheiro com Tiago praticamente em seus calcanhares.

- Claro que é da minha conta!

- E porque seria?

- Porque eu GOSTO de você!

- Você não gosta de mim, Potter. Você gosta de si mesmo e de sua fama e popularidade. Ficar comigo aumentaria ambas.

- Lílian...

- Se insistir nesse assunto, eu te coloco pra correr agora. - ela colocou água para ferver e voltou-se para ele. Vamos ao que interessa agora. Pode começar, sou toda ouvidos.

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