Em Londres



Capítulo 8 - Em Londres


Finalmente chegara o dia de voltar para casa. Lílian arrumou as malas sem muita vontade. Não queria voltar para a casa onde morara os últimos dezesseis anos uma semana depois da morte dos pais. Recebera uma carta de Petúnia um dia depois de saber da morte deles, e a irmã parecia decidida a reprimir a "anormalidade" da ruiva.

- Então, Lily, decidida mesmo a ficar lá em casa? - Susan aproximou-se da amiga, sorrindo.

- Não vou aguentar outro verão com Petúnia e sua aversão por magia. Ainda mais agora, que ela pode dar livre curso a imaginação e arranjar maneiras de me trancar em casa.

- Só que agora você pode aparatar.

- Não quero nem imaginar o escândalo que ela faria se simplesmente eu desaparecesse no meio de um discurso sobre aberrações dela. Mas tem certeza que eu posso ficar no seu apartamento?

- Claro, Lily! Ele é pequeno, mas eu vou passar o verão na Itália, eu já te disse. Meus pais querem que eu vá visitá-los.

- Você não os vê desde o quinto ano quando se mudou para Londres, não é?

Susan assentiu e fechou a mala. Pouco depois elas estavam nas carruagens que as levavam para o trem. Ela se separou da amiga dizendo que precisava ir para o vagão dos monitores, mas assim que Susan entrou numa cabine com as outras garotas, ela saiu procurando algum lugar vazio. Finalmente, no último vagão, ela encontrou uma cabine em que poderia ficar sozinha por alguns instantes para pensar no que faria esse verão. Teria que ir em casa pegar suas coisas e organizar tudo. Depois iria para o apartamento de Susan e passaria o tempo entre seus livros e ajudando Sirius com a casa nova dele.

- Licença. Será que podemos nos sentar aqui?

A ruiva levantou a cabeça e deu de cara com os olhos negros de Camille Dearborn.

- Claro, fique à vontade.

Camille entrou no vagão, seguida de outras duas garotas. Uma era baixinha, de cabelos castanhos encaracolados e olhos da mesma cor. A outra era pálida, fato acentuado pelos cabelos negros e olhos quase prateados.

- Meu nome é Camille Dearborn. Essas são Hestia Jones e Marlene McKinnon. - a garota apontou primeiro para a baixinha depois para a pálida - E você é Lílian Evans.

- Costumam me chamar assim. - a ruiva disse com um sorriso simpático, embora tivesse o olhar triste.

As três quintanistas sorriram também e Hestia sentou-se ao lado da monitora.

- Onde estão seus amigos?

- Numa cabine lá na frente. Eu não quis ficar com eles. Bagunça demais.

- Quer dizer que o Sirius não vai vir pra cá?

- HESTIA! - Camille corara violentamente enquanto repreendia a amiga.

Dessa vez Lílian riu com vontade, acompanhada de Marlene. Hestia sorria timidamente e Camille respirava rápido. Para cúmulo do azar (ou seria sorte?) da corvinal, a porta da cabine se abriu e Sirius entrou, acompanhado de Remo e Susan.

- Então você tinha reunião da monitoria, né? - Susan perguntou com um sorriso, sentando-se ao lado da amiga.

Lílian não respondeu, ainda rindo e Sirius olhou-a curioso, enquanto com o canto dos olhos vigiava Camille que o olhava desafiadoramente, embora encolhida e vermelha.

- O que aconteceu?

- Só estávamos falando sobre um cachorro sem dono que está louco para colocar coleira. - Lílian respondeu, tentando se manter séria.

Camille, se é que isso era possível, ficou ainda mais vermelha, enquanto a maioria dos ocupantes da cabine tentavam esconder o riso. Sirius, inacreditavelmente, corou, fato imediatamente notado por Remo e Lílian. Os dois sorriram e se entreolharam. Remo aproximou-se dela.

- Agora nós realmente temos que ir para a cabine dos monitores. A última reunião do ano começa daqui a pouco.

A garota assentiu e levantou-se. Susan seguiu o gesto da amiga imediatamente.

- Eu vou com vocês.

Hestia, sentada ao lado de Sirius, já que ele ocupara o lugar da amiga ruiva, piscou para Marlene e as duas se levantaram ao mesmo tempo.

- Nós vamos ao banheiro. - elas disseram em uníssono.

Meio segundo depois, Sirius e Camille estavam sozinhos. A garota virou-se para a janela, como se prestasse muita atenção na paisagem e o maroto voltou-se para o teto, como se houvesse algo muito interessante ali para se ver. Alguns minutos de silêncio depois, Camille voltou-se para ele.

- Ficou alguma marca daquela mordida?

Ele olhou para a mão, onde uma pequena cicatriz passava quase imperceptível. Lílian quisera fazê-la desaparecer, mas ele não deixara. A ruiva rira na ocasião, perguntando se ele ia deixar a cicatriz de lembrança. Bem, não era a melhor lembrança para se ter de alguém, mas já era alguma coisa...

- Ficou, mas bem pequeno. Não dá pra ninguém perceber.

- Posso ver?

O moreno estendeu a mão e Camille viu com perfeição a marca que seus dentinhos deixara.

- Porque não faz desaparecer?

- Não estou com vontade.

Era a deixa para começar mais uma discussão. Camille ergueu a sobrancelha, como sempre fazia quando estava irritada, e Sirius sorriu.

- Porque está rindo? - ela perguntou com a voz levemente alterada.

- Não é da sua conta.

- Claro que é! Você está rindo de mim, sua ameba acefálica!

De onde ela tirara aquele xingamento?

- Eu não sou ameba, sua maluca!

- Metido!

- Tonta!

- PALERMA!

- ANTIPÁTICA!

- Oras, eu não vou perder meu tempo com você, seu inútil.

- Inútil?! Agora você vai ver quem é o inútil!

Sirius agarrou a garota, que estava parada diante dele, vermelha e ofegante, como se tivesse corrido, Ele nem percebera quando ela se aproximara. Ela caiu no colo dele e sem pensar duas vezes, o maroto colou os lábios nos dela.

*****

Remo, Lílian e Susan caminhavam pelos corredores em direção à cabine dos monitores. Já perto de seu destino, uma das cabines se abriu e a ruiva, que ia na frente, trombou com alguém, indo ao chão. Ela levantou a cabeça, encontrando Tiago, ajeitando os óculos.

- Não olha por onde anda, Potter? - ela perguntou irritada, levantando-se com a ajuda de Remo.

- Eu ainda não vejo através das portas, Lily.

- Evans, Potter. Pensei que tinha entendido isso.

- Porque defendeu o Sirius? - ele perguntou antes que pudesse se controlar.

- Ao contrário de você, eu dou valor às minhas amizades. - ela respondeu, encarando-o com raiva.

Tiago respirou fundo, notando com o canto dos olhos que Susan havia entrado na cabine em que ele estava antes. Controlando a voz para não gritar, ele voltou-se para ela.

- Foi ele quem não deu valor ao que tinha. Ele entregou o Remo ao Ranhoso e...

Ela o cortou nervosamente.

- Eu sei disso. Ele me contou. Não vou negar que ele foi um imbecil, mas se até o Remo, que foi o maior atingido já o perdoou, não vejo porque você continua com essa briga tola. Se você é teimoso, não se pode fazer nada.

Remo segurou um sorriso. Lílian era a última pessoa que poderia falar sobre a teimosia de Tiago. Infelizmente, o moreno também percebeu isso.

- Então, já que eu sou teimoso e você cabeça-dura, isso significa que formamos um esplêndido par, não acha?

- Não, Potter, eu não acho. Acho que você é um babaca atrevido e completamente incoveniente. Ao invés de perder tempo como um moleque, deveria ir atrás do Sirius e conversar com ele, e não ficar esperando que seu melhor amigo se humilhe como se você fosse um deus ou algo parecido. Se não descer do seu altar, "todo-poderoso Potter", vai acabar perdendo um grande a amizade dele.

A garota deu as costas a Tiago, caminhando para o vagão seguinte. O maroto virou-se para Remo, que deu de ombros.

- Você sabe que ela tem razão, Pontas.

Tiago suspirou e Remo seguiu Lílian para a reunião de monitores.

*****

Alice dormia profundamente no ombro de Frank, que olhava a paisagem em silêncio, enquanto Selene e Emelina conversavam baixinho. Pedro voltou os olhos para a porta, por onde Tiago saíra e Susan acabara de entrar. Era bem mais divertido quando estavam todos os marotos juntos. Mas Sirius e Tiago continuavam brigados e Remo fora para mais uma reunião da monitoria. Estava sozinho e não gostava disso. Susan sentou-se ao lado dele.

- Acho que estão precisando de você lá fora. O Tiago está meio "perdido".

- O que aconteceu?

- Ele levou mais um fora da Lily, além de uma lição de moral. Porque não tenta convencê-lo a se reaproximar do Sirius?

Pedro meneou a cabeça, levantando-se.

- Ele vai ficar com raiva de mim também.

Susan resignou-se enquanto o rapaz saía da cabine. Jamais entenderia como alguém tão medroso fora parar na Grifinória...

*****

Marlene e Hestia abriram a porta da cabine cuidadosamente, encontrando Camille emburrada a um canto e Sirius absolutamente encantado. Não parecia que ele tinha sido estapeado ou coisa do tipo e isso muito surpreendeu as duas. Invariavelmente quando os deixavam sozinhos as discussões evoluíam para os beijos e depois para os tapas. Elas não conseguiam entender que tipo de loucura aqueles dois tinham: apaixonados um pelo outro (fato que só não era mais óbvio porque eles não andavam com letreiros de néon na testa) e sempre dispostos a brigar. Silenciosamente elas se sentaram. Mais tarde Camille contaria o que acontecera entre suspiros e caretas.

Hestia sentou-se ao lado de Sirius e Marlene, de Camille. Enquanto as duas amigas conversavam, Hestia observava cuidadosamente o maroto.

- Ela não te bateu? - ela perguntou baixinho, não conseguindo refrear a curiosidade.

- Me beliscou no braço. Com certeza vai ficar roxo. - respondeu Sirius sorrindo, com o mesmo tom baixo da garota.

Hestia fez uma careta.

- Você é masoquista, essa é a única explicação! Como consegue ficar feliz quando ela te belisca?!

- Muito simples: quando eu olhar para o beliscão, vou lembrar dela.

- Você é louco.

- Obrigado.

Sirius desviou o olhar para Camille, que parecia ter esquecido que ele estava ali. Na realidade, era lógico que ele não gostava quando ela reagia violentamente a suas aproximações. Mas tanta agressividade significava que ela sentia algo por ele. Meio maluco, mas fazia sentido para o maroto, e isso bastava. Além disso, ele não podia reclamar, já que na maioria das vezes era ele quem começava a confusão provocando a garota.

Ele suspirou. Diferente de Tiago com Lílian, ele nunca convidara Camille para sair. Sempre que ia tentar, algo o impedia e ele recuava. O próximo ano seria o último dele na escola. Tinha que decidir logo o que queria ou suas chances terminariam junto com o baile de formatura.

*****

A reunião acabou e os monitores saíram rapidamente da cabine. Lílian já estava seguindo Remo quando Prewett a segurou.

- Posso falar com você um instante?

A garota observou-o levemente surpresa e voltou-se para Remo.

- Pode ir, depois eu te alcanço.

Remo assentiu e fechou a porta da cabine. Lílian e Gideão se entreolharam. Ela lembrou-se da noite em que o rapaz consolou-a e sorriu, aproximando-se. Nem agradecera pelas palavras dele.

- Obrigada.

Ele olhou-a surpreso por aguns instantes, mas percebeu o que ela queria dizer.

- Você não precisa agradecer. - ele puxou uma cadeira, indicando que ela devia sentar.

A ruiva obedeceu, curiosa. Ele sentou-se diante dela e respirou fundo.

- Eu fiquei pensando se tinha o direito de dizer isso a você agora, mas percebi que se me calasse, seria um covarde e perderia a minha última chance. Eu não suportaria viver na incerteza de ser ou não correspondido.

Se não estivesse sentada, Lílian certamente teria caído. Por sorte, o rapaz previra isso.

- Foi você quem colocou aqueles bilhetes!

Gideão sorriu.

- O Edgar me ajudou naquele dia, na monitoria. E eu mesmo deixei escorregar na sua mochila o outro.

Ela ficou sem fala. Dar um fora em Tiago era uma coisa, ele sempre fazia alguma coisa para acabar com a paciência dela. Mas era muito diferente dizer não para alguém que fora tão atencioso com ela.

- Prewett, eu... - ela respirou fundo - Eu não posso.

Ele sorriu compreensivo, embora sua fisionomia fosse triste.

- Eu sabia. Mas não me perdoaria se não tentasse. Será que eu poderia ter ao menos sua amizade?

- Claro. E pode me chamar de Lily também.

Gideão assentiu e levantou-se.

- Infelizmente não vou poder estar sempre por perto, já que terminei Hogwarts, mas se precisar de qualquer coisa, meu irmão Fábio é da Corvinal, do seu ano. Peça ajuda a ele.

A garota sorriu e ele caminhou para a porta, mas antes que pudesse abri-la, a voz de Lílian o interrompeu.

- Como sabia que eu não...

- Você já gosta de alguém.

- Gosto? - ela fez uma careta de perplexidade.

Ele deu uma gostosa risada e depois respondeu.

- Se você não descobriu ainda, não vou ser eu a te abrir os olhos.

- Ahn... Certo.

Ele se despediu e Lílian ficou sozinha no vagão dos monitores, refletindo sobre o que acabara de acontecer. Ela só foi "acordar" quando a porta se abriu e a cabeça de Sirius apareceu.

- Ei, Lily, a diversão vai começar. Chagamos em Londres.



Beijos para todos que estão acompanhando a fic. Espero que tenham gostado desse capítulo, onde tivemos pelo menos UMA grande revelação... Os próximos capítulos vão deixar um pouco os sonhos da Lily de lado e serão marcados por um pouco mais de diversão. Pelo menos até o início do sétimo ano, quando voltamos à Helena e companhia com carga total.
Beijos,

Silverghost.

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