Paternidade



James acordou sentindo uma estranha pontada na nuca. Alguém o segurava pelo ombro, chamando-o em voz baixa.

- Enervate. - uma voz masculina soou sobre ele.

O moreno sentiu-se imediatamente mais desperto, embora tivesse a impressão de que todo o corpo estava quebrado. Ele encarou os olhos azuis do comensal através da máscara branca, perguntando-se de onde o conheceria.

- Vamos logo, Potter. Não temos muito tempo. - a voz do comensal saiu abafada por causa da máscara.

- Porque eu teria pressa? Seu lorde quer brincar um pouco mais comigo? - James perguntou, tentando ignorar a dor que o assaltava a cada músculo contraído.

- Levante-se de uma vez. - ele respondeu, tirando do bolso uma varinha e estendendo-a para o moreno.

James piscou confuso.

- Não sabia que comensais eram dotados de senso de humor.

- Pegue a varinha e veja se consegue carregar a mulher. Vamos sair logo daqui, não há tempo para discussões supérfluas, Potter.

O comensal se levantou e James observou a cela, encontrando o corpo de Lily apoiado à parede. Sem mais palavras, ele tomou a varinha das mãos do outro rapaz e pôs em pé com certa dificuldade. Lentamente, ele caminhou até Lily, tomando os braços dela para sentir a pulsação. Ela estava respirando... Parecia apenas adormecida.

James tentou levantar o corpo dela, mas foi um esforço inútil. Se mal estava se sustendo nas próprias pernas, como esperava conseguir carregar Lily?

- A varinha, seu idiota. E ande logo! - o comensal sibilou, perdendo a paciência.

James suspirou. Talvez aquilo fosse uma armadilha. Mas era a única chance deles. Respirando fundo, ele apontou a varinha para Lily.

- Vingardium Leviosa.

O corpo da ruiva flutuou alguns centímetros do chão e James sentiu a respiração falhar. Estava muito fraco. O comensal pareceu perceber isso, porque, desajeitadamente, ele tomou o corpo de Lily no ar, segurando-o quase com asco.

- Vamos.

O moreno assentiu, seguindo o comensal silenciosamente por corredores e mais corredores. Finalmente, depois de uma passagem escondida na parede, ele sentiu os olhos cegarem com a luz do sol. Entardecia.

- Você poderá aparatar daqui com ela. Acredito que tenha forças suficientes para isso, não?

James assentiu.

- Porque está fazendo isso?

Os olhos azuis brilharam febrilmente por trás da máscara.

- Isso não importa. Vá logo.

Com cuidado, James recebeu o corpo de Lily em seus braços. Ajoelhou-se com o peso dela e respirou fundo. Encarando uma última vez o comensal que os salvara, ele acenou com a cabeça antes de desaparecer.

Quando se viu sozinho, o comensal retirou a máscara do rosto. Os olhos azuis observaram o lugar onde James e Lily tinham estado há poucos instantes. Passou a mão de leve sobre os cabelos negros. Agora faltava muito pouco para tudo terminar. A caverna... Ele precisava ir para a caverna...

Regulus Arcturus Black. Ele sorriu, perguntando-se o que aconteceria se James Potter soubesse quem o ajudara. Se Sirius... Meneou a cabeça. Não era hora de pensar em como as coisas seriam se ele tivesse sido capaz de fazer suas escolhas de maneira diferente.

E, com um último suspiro, ele também aparatou.




O St. Mungus estava cheio, embora já fosse tarde. Por alguns instantes ele se perguntou se teria ocorrido um ataque ao ver o número de feridos que pareciam chegar aos borbotões a cada segundo. Quanto tempo ele teria passado fora?

Uma medi-bruxa aproximou-se dele, observando a face lívida de Lily, desmaiada em seus braços.

- Senhor?

James levantou a cabeça para ela.

- O senhor está bem? Ela está...

- Eu estou bem, só um pouco... dolorido. Ela está respirando. Mas não sei se aconteceu mais alguma coisa com ela.

A moça assentiu e fez sinal para que dois enfermeiros se aproximassem. Com certa relutância, James deixou que eles carregassem Lily para longe dele, enquanto a curandeira o levava para outra sala.

- O que aconteceu com vocês exatamente? Estavam no ataque? - ela perguntou, fazendo com que ele se sentasse em uma maca.

- Houve um ataque?

- Onde o senhor esteve? Houve dois ataques só essa semana, um no Beco Diagonal e outro em Hogsmeade. Hogwarts está inclusive sendo usada para abrigar e cuidar dos feridos.

- Eu estava nas masmorras de Voldemort. - James respondeu soturnamente.

A curandeira arregalou os olhos, apressando-se em examiná-lo.

- Cruciatus?

Ele apenas assentiu.

- Lily vai ficar bem? - ele perguntou depois de alguns instantes, enquanto ela selecionava alguns vidrinhos de dentro de um armário.

- Lily? - ela perguntou - Ah, a moça... Sim, ela vai ficar bem. Não se preocupe, temos que tratar de você agora.

James meneou a cabeça.

- Eu estou bem, só preciso de uma poção restauradora. E eu preciso ver a Lily.

A curandeira apenas resmungou alguma coisa, meneando a cabeça e estendeu para ele um cálice fumegante. James bebeu o líquido amargo com uma careta e imediatamente sentiu-se melhor. Ele se levantou da maca, sem se importar com a feição reprovativa da mulher, e sorriu.

- Posso ir ficar com ela agora?

Ela se sentiu desarmada com o sorriso do maroto. James meneou a cabeça, pensando que, por mais anos que se passassem, ele continuava irresistível.

- Muito bem. Se o senhor acha que está bem...

Ela abriu a porta da enfermaria e guiou-o por uma série de corredores, onde vivos e mortos pareciam se confundir. Ela notou o olhar um tanto assustado dele e sorriu tristemente.

- Não estamos dando conta do número de feridos. Só por isso o senhor vai receber alta ainda hoje. Se fossem outros tempos, teria que ficar em observação por, pelo menos, uma semana. - ela parou diante de uma porta branca - Espere alguns minutos aqui, sim?

James assentiu e ela sumiu dentro da enfermaria. O rapaz encostou-se à parede, tentando não se importar com os gritos de desespero que ecoavam pelo hospital ou com os corpos que esperavam para serem levados ao cemitério. Quase meia hora se passou antes que a porta novamente se abrisse e a curandeira passasse por ela com um sorriso.

- Sua esposa está bem. Assim como seu filho. Ela não está muito machucada, o ferimento na barriga já foi cicatrizado. O senhor pode levá-la para casa, se quiser. Precisamos de mais leitos e como ela está bem...

Ele apenas abriu a boca, fechando-a em seguida, olhando-a com curiosidade.

- Filho?

Ela abriu ainda mais o sorriso.

- O senhor não sabia? Sua esposa está grávida. Quase três meses já. Ela devia estar esperando para lhe fazer uma surpresa.

Ele apenas assentiu, espantado demais para responder alguma coisa. Três meses... Há exatos três meses ele praticamente invadira o apartamento de Lily. Arrepiou-se ao lembrar-se da última noite que passara com ela.

- Eu posso vê-la?

- Ela está dormindo ainda. Demos uma poção para que ela pudesse repousar. Não deve acordar até amanhã. Mas, como eu disse, o senhor já pode levá-la para casa.

A curandeira deu passagem para ele. James entrou na enfermaria, que estava na penumbra. Dois outros curandeiros estavam à cabeceira de Lily e, apesar da roupa manchada de sangue, ela já parecia menos pálida, e sua respiração se normalizara.

Com cuidado, ele a puxou para si, virando-se novamente para a mulher que os atendera.

- Onde eu posso aparatar?

- No saguão do hospital. Não precisará ir muito longe, basta descer as escadarias e chegará lá.

James assentiu e, com Lily no colo, caminhou até o saguão, aparatando em seguida e reaparecendo diante de um casarão aparentemente abandonado. Ele caminhou pelo jardim descuidado, parando diante da porta de carvalho negro, que se abriu tão logo ele pisara a soleira. Com um suspiro, ele penetrou na casa que, um dia fora de seus pais e que ele não freqüentara mais desde que eles tinham morrido em um acidente, quando ele ainda era um estudante despreocupado em Hogwarts.

A mansão Potter.

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