Sedução



Oito horas em ponto. Ela sorriu, dobrando o Profeta Diário enquanto esperava o elevador chegar ao seu destino.

- Nível dois, Departamento de Execução das Leis da Magia, que inclui a Seção de Controle do Uso Indevido da Magia, o Quartel-General de Aurores e os Serviços Administrativos da Suprema Corte dos Bruxos. - anunciou uma voz feminina ao mesmo tempo em que a porta abria.

Lily caminhou tranqüilamente até o escritório do chefe dos aurores. Àquela hora ainda havia poucas pessoas no Ministério, mas todos aqueles que ela esperava encontrar já estavam ali. Moody sorriu quase imperceptivelmente quando ela entrou. Sentado junto a ele, estava o primeiro membro da equipe que ela chefiaria, Frank Longbotton. O rapaz fora monitor em Hogwarts e se formara pouco antes dela. Apesar de jovem, era considerado um brilhante estrategista.

Sirius também estava sentado, observando alguns mapas espalhados sobre a mesa. Apesar de não diferir muito do maroto irresponsável e galinha que conhecera na escola - pelo menos de acordo com as informações a que ela tivera acesso - era um perito em infiltrações. Ela tinha quase certeza que isso se devia à forma animaga do moreno, mas obviamente não podia perguntar a alguém sobre isso ou entregaria que Sirius era um animago ilegal. O que, por sua vez, poderia causar problemas a Remus.

Os olhos dela vagaram até a figura do último membro da equipe. James estava encostado à parede, os braços cruzados, na mesma atitude arrogante que ela tão bem conhecia dos tempos de escola. Juntamente com Sirius, ele era considerado um dos melhores aurores do Ministério.

O olhar de ambos se encontrou e ela lembrou-se da festa de formatura, horas antes de embarcar para Londres e terminar os preparativos para mudar-se para Nova York. Sentiu o fôlego descompassado à lembrança daquela última noite, mas logo se recuperou.

Não podia negar que revê-lo depois de tanto tempo fora um choque. Quando afinal decidira voltar a Londres, sabia que não poderia fugir dele como fizera no passado. Entretanto, por ironia do destino, eles não apenas tinham se reencontrado poucas horas depois da chegada dela, como ainda iriam trabalhar juntos.

Os olhos dele se estreitaram e ela apenas sorriu, sentando-se ao lado de Sirius. Era capaz de apostar que os dois tinham passado a noite em claro, discutindo sobre ela e sobre sua aparente indiferença. Gostaria de saber o que passara pela cabeça de James quando os encontrara na noite anterior.

Teria ficado decepcionado por ela não ter caído aos pés dele, implorando perdão, como ele acreditara que ela faria quando ainda estudavam em Hogwarts?

Bem, ele não voltaria a brincar com ela. Ele não teria uma segunda chance - Lily prometera isso a si mesma e, se no passado, fora difícil deixá-lo para trás, agora não seria nenhuma sacrifício.




James observava compenetrado a ruiva falar sobre seu trabalho no Ministério Americano e sobre a missão dela ali durante os dez meses que durariam o intercâmbio entre os ministérios dos dois países.

Sirius sorriu ao perceber a atenção que o amigo dispensava a sua "chefinha". James não estava ligado a uma única palavra do que Lily dissera; os olhos escuros dele estavam fixos na curva do pescoço e no decote reto que revelava os ombros alvos da jovem, em contraste com os cabelos soltos dela.

Conhecia James o suficiente para saber que ele ainda se sentia atraído pela ex-namorada. Lily sempre fora uma garota popular, inteligente, decidida... Era difícil não se encantar com a ruivinha. E, mesmo que, naqueles dois anos, James não tivesse dado mostras de sentir falta dela, agora que Lily estava de volta, ele não conseguiria se manter por muito tempo afastado da armadilha daqueles olhos verdes.

Mas quanto iria demorar até que aqueles dois idiotas voltassem a cair nos braços um do outro? Ajeitando-se na cadeira, ele abriu ainda mais o sorriso. Até o Natal... Até o Natal, James e Lily estariam juntos novamente...




Setembro - 1972

- O que você quer ser quando crescer? - o professor perguntou, sorrindo.

James cruzou os braços, entediado. Era a primeira aula de Estudo dos Trouxas que ele fazia, e já se perguntava porque diabos decidira cursar aquela matéria. A ruivinha que estava na berlinda remexeu-se toda na cadeira e ele se preparou para ouvir outra daquelas respostas idiotas que todas as outras garotas tinham dado, e que envolviam maridos ricos e casas suntuosas.

- Eu quero ser auror.

Ele não foi o único a se espantar. Praticamente todo mundo se aprumou na cadeira para prestar atenção na menina que, apesar de ser o centro das atenções, não parecia incomodada. Enfim, um exemplar interessante da espécie feminina, ele pensou daquela que iria se tornar seu tópico favorito durante os próximos cinco anos.

Até mesmo o professor parecia surpreso e fez com que ela repetisse e explicasse o porquê. James jamais esqueceria quando, com os olhos brilhando, ela confessou que seu maior desejo era ter liberdade. E que, sendo uma auror, ela não apenas seria livre, como também poderia proporcionar aos outros a mesma sensação que ela tanto almejava obter.

Ao fim da aula, ele a seguiu com os olhos e, para sua surpresa, descobriu que ela estava na mesma casa que ele. A observou conversando com duas outras colegas do mesmo ano dele e afinal descobriu o nome dela.

Lily Evans.




Dois meses se passaram desde que Lily tinha voltado a Londres. Embora composto pelos membros mais jovens do esquadrão de aurores, o time deles era considerado modelo dentro do Ministério. Já diziam que o próprio Voldemort se incomodava com as bem sucedidas missões dos quatro bruxos.

James sorriu, entrando no escritório da ruiva sem bater à porta, encontrando-a em pé diante de um mapa da Inglaterra.

- Bom dia, chefinha. - ele a cumprimentou com a voz alegre.

Lily apenas acenou com a cabeça, sem sequer virar-se para encará-lo. O moreno aproximou-se, observando o mapa por cima do ombro dela. O perfume suave da ruiva fez com que ele abrisse ainda mais o sorriso.

Dois meses... E quase parecia que estavam de volta à Hogwarts. Ele observou uma veia saltar no pescoço dela. Lily percebera a proximidade. Mas ela não iria gritar com ele ou tentar azará-lo, como já fizera na escola. Ela continuaria fingindo que ele lhe era indiferente, que ela não reagia à presença dele... Mas o corpo dela a denunciava.

Não, não estava apaixonado por ela. E ela também não estava apaixonada por ele. Mas havia algo entre seus corpos que nem mesmo ela podia negar. Eles se completavam, se encaixavam como peças de um quebra-cabeça. E mesmo sob o aparente manto de cordialidade que eles mantinham dentro do time, sabia que Lily o desejava tanto quanto ele.

Queria que ela admitisse. Queria que ela o procurasse, que o tocasse. Por isso, desde que tinham se reencontrado, ele fazia questão de provocá-la. Palavras, olhares, toques furtivos... Ele a estava torturando. E, no processo, torturando também a si mesmo.

Lily sentiu o seio arfar quando ele depositou uma mão sobre sua cintura, ao mesmo tempo em que repousava o queixo sobre o ombro dela. Fechou os olhos por alguns instantes, procurando forças para afastá-lo. Não podia continuar naquele jogo de sedução com James.

Antes, entretanto, que pudesse somar ação aos seus pensamentos, ele deu mais um passo, parando à frente dela, sem soltá-la.

- Você precisa ser mais educada, chefinha... - sorriu, enquanto ela dava um passo para trás, sentando-se na escrivaninha.

- Bom dia, James. - ela respondeu em um tom frio - Pode agora me deixar trabalhar?

Ele se debruçou, espalmando as mãos sobre a mesa, os braços quase encostando-se ao corpo franzino da ruiva. Os joelhos dela roçavam em sua cintura e os rostos deles estavam suficientemente próximos para que ele pudesse sentir a respiração descompassada dela.

- Que tal um beijo de bom dia?

Lily estreitou os olhos, mas não o impediu quando ele abaixou a cabeça, roçando de leve os lábios dele sobre os dela. Lentamente, ele levou uma das mãos às costas dela, puxando-a para si, fazendo com que ela ficasse em pé. Ela voltou a fechar os olhos quando ele ofegou de leve junto ao pescoço dela, segundos antes de beijá-la.

Ele subiu aos poucos, mordiscando o lóbulo da orelha dela pouco antes de voltar a encontrar os lábios da ruiva. Lily passou as mãos por debaixo dos braços dele, abraçando-o, ao mesmo tempo em que James aprofundava o beijo.

Aquilo estava errado. Estavam indo rápido demais, percorrendo a mesma trilha dolorosa que tinham seguido quando ainda eram adolescentes apaixonados. Ela se afastou, respirando fundo para recuperar o fôlego.

- Saia agora, Potter. - ela ordenou, sem alterar a voz.

James sorriu marotamente e assentiu com a cabeça, deixando-a sozinha. Lily se deixou cair sentada em sua cadeira, tentando se controlar. Aquilo era apenas uma questão de física. Nada mais que isso. Instinto, tensão, atração, qualquer que fosse o nome.

Não conseguia fugir disso. Desde o começo, ela não conseguira ignorar o rapaz. Mas ele não voltaria a magoá-la. Era tudo apenas uma questão de física.

- Droga. - resmungou baixinho para si mesma - Eu não vou ceder minha alma de novo a você, Potter. Eu juro que não.

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