Ainda Acertando Contas



Cap. 13 – Ainda Acertando Contas



Lílian acordou na manhã seguinte, espreguiçou-se e virou para o lado para abraçar Severo. Abriu os olhos repentinamente ao perceber que novamente acordara sozinha. Severo não estava ao seu lado. Dessa vez não haveria desculpas, não havia motivo no mundo o suficiente para ele levantar e deixá-la lá sozinha. E se havia, ele teria que lhe contar, ou acabariam brigando novamente.

Mas não conseguiu ficar tão zangada com ele, logo se lembrou da noite maravilhosa que tiveram e um sorriso esboçou em sua face; realmente em matéria de cama Lílian não tinha do que reclamar… Severo era mais que perfeito. Mas de qualquer forma, ela tinha que tirar aquilo a limpo.

Foi até o Salão Principal para o café da manhã e lá estava ele sentado. Comia e conversava com Dumbledore numa naturalidade como se nada tivesse acontecido. Ela sentou do lado dele sem ao menos olhar-lhe e não disse uma palavra.

- Boa dia, Srta. Roberts. – cumprimentou Dumbledore sorridente.

- Bom dia. – respondeu ela sem o menor entusiasmo.

- Bom dia, Lílian.

Ela olhou bem fundo nos olhos de Severo, usando daquele mesmo olhar que lançava aos seus alunos para mostrar o quanto era superior e que eles eram simples vermes. Ele percebeu, então perguntou:

- Algum problema, querida?

Aquela foi a gota d’água. Ainda por cima tinha a cara-de-pau de chamá-la de querida!

- Não. – respondeu secamente olhando para sua xícara de café.

- Eu te conheço, Lílian. Foi algo que eu fiz? Eu estava muito ruim ontem?

Ela riu.

- Corta essa, Severo. Se tem alguma coisa que você faz bem, é sexo.

Ele sorriu marotamente a essas palavras.
- Então o que está havendo?

- De novo, Severo, você me deixou sozinha. E vamos supor que você realmente tenha que fazer alguma coisa que exija que você levante cedo, custa me avisar? Se despedir? Por que sempre sai antes que eu acorde?

Ele realmente tinha seus motivos, mas Lílian não podia saber.

- Ah… é que eu tenho pena de te acordar antes da hora e…

- Nem tente. Você não me engana. Há alguma coisa muito mais séria por trás disso tudo e você não quer me contar. E caso você não se lembre, eu contei tudo de mim para você, não guardei nenhum segredo. E sabe por que? Porque eu te amo e confio em você. Mas você parece não sentir o mesmo por mim.

- Por favor, Lílian, não é isso, é que…

Mas ela não permitiu que ele terminasse, simplesmente se levantou empurrando a cadeira e saiu nervosa, despertando curiosidade naqueles que observavam a pequena discussão.

Snape resolveu deixá-la ir, mais tarde conversariam. Ela tinha que tentar esfriar a cabeça um pouco e pôr as idéias em ordem, e ele tinha que achar logo uma desculpa bem convincente. Porém alguém foi mais rápido e foi atrás para consolá-la.

Lílian ouviu batidas à porta.

- Vai embora, Severo! Me deixe!

- Aqui é o James, Lílian.
- Por favor, James, me deixa. Depois eu falo com você.

- Abra a porta, Lílian. Vamos conversar. Vai, eu sou seu amigo, quero o seu bem.

- Se gosta de mim e quer meu bem vá embora e me deixe sozinha!

- Não vou sair daqui enquanto não falar com você!

Ela perdera. Bufou e foi abrir a porta.

- Por favor, James… eu aprecio a sua amizade, mas será que não posso ter um momento sozinha?

- Posso entrar?

- Você não desiste… - disse ela abrindo passagem e fechando a porta em seguida.

- Eu vi você discutindo com Severo e o jeito com que saiu daquela mesa. Não quero me intrometer, mas me preocupo com você. O que está havendo? Há algo que eu possa fazer por você?

- Está tudo bem, James. Eu que sou meio explosiva, mesmo.

- O que o Snape te fez? – insistiu ele.

- O quê?! – perguntou ela não acreditando na ousadia de James.

- Lílian, desde que um aluno viu você e Snape aos beijos na sala dele, toda a escola comenta e fica atenta a tudo o que vocês fazem para ter certeza absoluta de que não era imaginação do garoto.

- E que interesse idiota é esse? Será que não se pode ter um pingo de privacidade nesse lugar?

- Ora… me desculpe a franqueza, mas vocês dois são os professores mais odiados dessa escola. É natural que eles sintam curiosidade… para eles é incrível que um consiga suportar o outro.

- Ah, que legal. – disse cínica.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos. James foi se aproximando até ficar bem perto.

- Lílian… não consigo aceitar a idéia de que está sofrendo por menor que seja o motivo. Eu gosto muito de você. E quero que saiba que se eu soubesse que havia, ou há, algo entre você e Snape, eu não teria a beijado, teria me segurado e te respeitado.

- Eu sei…

- Mas isso não diminui em nada meus sentimentos. Lílian… eu estou apaixonado por você.

- Por favor, James, não faz isso com você mesmo. Apesar de alguns… desentendimentos entre mim e Severo, é ele que eu amo. Me desculpe dizer isso, mas é a verdade.

- Claro… eu entendo.

- Nós somos namorados desde tempos da escola. Ficamos alguns anos separados, mas nos reencontramos… felizmente.

- Não… precisa me dar satisfações da sua vida. Eu só queria mesmo que você soubesse.

Lílian colocou a mão no rosto de James e sorriu.

- James, eu não costumo ter… amigos. Eu só tenho Severo, Dumbledore e você em minha vida, são vocês as pessoas que eu sei que posso contar a todo momento. Eu aprecio muito sua amizade, seu dispor… me sinto lisonjeada por ser tão querida assim para você.

- Não, Lílian, eu não suportaria estar sempre perto de você e não poder fazer nada… amizade não é o bastante. – declarou ele se afastando.

James simplesmente virou e foi embora, deixando uma Lílian triste agora por dois homens.



No jantar, Lílian observou que Severo estava muito emburrado, só não sabia o porquê. Não sentou ao lado dele, tampouco ao lado de James. Escolheu o lugar mais afastado possível para não ter que ouvir conversa de ninguém e jantar em paz. Mas é claro que tão ação não passou despercebida pelos alunos enxeridos; parece que finalmente todos já estavam convencidos de que sim, Lílian e Severo mantinham um romance e agora estavam brigados.

Não muito tempo depois ela se levantou e foi para seu quarto. Desta vez Severo foi atrás. Ela já estava na porta de seus aposentos quando ele a alcançou.

- E então, já está consolada? – perguntou ele sarcasticamente agarrando o braço dela e obrigando-a a olhá-lo direto nos olhos.

- Não faço nem idéia do que esteja falando. Agora quer me soltar?

- Ora, não se faça de boba. – Snape estava alterando a voz. – Oh, é claro, o Sr. Kurthney é muito bonito e charmoso, não há como resistir. E você, Lílian, já deu pra ele?

Sem pensar Lílian deu um tapa ardido no rosto de Severo com a sua mão livre. Estava pronta para dar outro quando Severo segurou seu braço.

- Nunca – mais – se – atreva – a – fazer – isso – novamente.

- O ousado aqui é você! Quem pensa que é para falar comigo desse jeito? Quem lhe deu esse direito, Severo Snape?

Ele abriu a porta do quarto dela, entrou nele e a forçou a entrar também, ainda segurando-a firme pelo pulso. Fechou a porta em seguida.

- Eu não o convidei a entrar em meu quarto, portanto saia! Agora!

- Escute aqui. – disse ele apertando mais o pulso dela e aproximando bem o rosto. – Eu já lhe disse uma vez e repito: não sirvo nem para corno e nem para amante!

- Me larga! Está me machucando! – ele soltou após um suspiro. – Qual é a tua, em? Primeiro: eu não sou propriedade sua; segundo: o que eu faço ou deixo de fazer é problema meu! Não lhe devo satisfação alguma. Mas só para você parar de pegar no meu pé eu vou lhe dizer, Severo Snape: eu sou AMIGA do James, entendeu? Amiga! Não acredita em amizade entre um homem e uma mulher? Francamente, Professor Snape, o papel de homem ciumento traído não lhe cai bem.

- Amizade não é uma palavra que se empregue nesse caso, meu bem. Eu posso até acreditar, mas não numa amizade onde envolva você. Você nunca teve amigos, por que teria logo agora? E amizade logo com um cara que te beijou! Eu posso até ter perdoado, Lílian, mas nada me tira da cabeça que ele não teve que fazer muito esforço para conseguir aquilo de você.

- Mas você anda muito abusado! E só porque nunca tive amigos além de você não posso ter um agora? Para o seu governo, eu gosto sim de James, ele é um cara legal.

- Então fique com seu amigo.

Ele já ia saindo, mas Lílian continuou falando.

- O que você não sabe, querido, é que hoje ele veio me pedir desculpas, ele jurou que não teria feito absolutamente nada caso soubesse que eu já era comprometida. E ele não quis aceitar só amizade, falou que não conseguiria me ter só como amiga. Satisfeito, agora? Será que não pode confiar em mim?

- É nele que eu não confio.

- Severo, por favor… acredite em mim… eu te amo!

- Me desculpe, Lílian, mas é que eu tenho medo de te perder novamente, ainda mais para ele, que é…

- Não fale. Nem pintado de ouro ele é mais bonito do que você. Sev, você não vai me perder, é só acreditar em mim e no meu amor por você. James já disse que vai se afastar.

- Que bom. Isso quer dizer que me perdoa?

- Claro. – respondeu ela sorrindo.

Severo passou a mão pela cintura dela e foi se aproximando para beijá-la, mas ela o impediu e se afastou.

- Nem vem, ainda estou de mau com você.

- Mas você já não me perdoou, Lílian? – perguntou ele sem entender.

- Não é isso…

- Ah, não vai me dizer que ainda está chateada por causa de hoje de manhã!

- Ainda estou de mau, sim. Não vou ceder enquanto você não me contar a verdade.

Snape suspirou e olhou-a desapontado.

- Boa noite.

- Boa noite.

E foi embora.

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