O Acerto de Contas
Cap. 07 – O Acerto de Contas
O ano foi passando; Severo e Lílian limitavam-se a “boa dia” e “boa noite”, mais nenhuma palavra trocada.
Lílian era uma professora tão amável quanto Snape, mas ao menos um tanto mais justa, e não “pegava no pé” de ninguém em especial e fingia que Harry Potter não existia.
Ninguém desconfiava que algo rolava entre Lílian e Severo. Nem eles próprios percebiam isso. Snape conseguia fingir bem a tremedeira de suas pernas quando estava na presença de Lílian, assim como ela tentava a todo custo normalizar a respiração. Ambos pareciam não querer enxergar que separados só perdiam tempo.
Severo estava sentado em sua poltrona de veludo verde à frente da lareira pensando em Lílian. Era muito orgulhoso e não queria admitir para si mesmo que nunca a esquecera. Ele ainda a desejava, a amava…
- Lílian! – gritou Severo irrompendo o quarto dela.
- Severo? Algum problema? – perguntou ela espantada, levantando-se de sua poltrona.
- Por favor, refresque minha memória. Qual foi o motivo? Me diz! Por que? – ele ainda falava alto, nervoso.
Ela andou até ficar bem próxima a ele.
- Por favor, especifique. Não sei do que está falando.
- Não se faça de boba! Você sabe muito bem! Anda, me diz!
Lílian respirou fundo e fitou os olhos de Snape profundamente.
- Para que lembrar disso agora, Severo? É passado!
- Não, Lílian, não é. Isso ainda me atormenta dia e noite. – ele deu um suspiro. – Eu sei que te magoei… mas será que nunca poderá me perdoar?
- Severo, eu já te perdoei faz muito tempo. E quando vim trabalhar aqui, eu sabia o que me esperava, assim como eu sabia que um dia teríamos que nos enfrentar. Precisamos falar…
- Então fale. – disse ele friamente, voltando ao seu estado normal, porém ainda ansioso.
- Eu… Severo, eu fui embora sem deixar de te amar. Por todos esse anos eu sempre te amei, nunca o esqueci. E ainda te amo, te quero… Meu amor por você continua queimando aqui dentro.
Silêncio. Os dois fitaram-se por alguns minutos, um sentindo extremo desejo de abraçar o outro e não soltar mais, porém ambos se seguraram. Até que Lílian falou:
- Eu chorei muito por tudo o que aconteceu. Ainda mais quando eu soube aonde você estava… eu me desesperei, queria tirá-lo de lá. Mas não tive coragem. E eu ainda estava triste polo que aconteceu conosco em nossos últimos dias de aula.
- Malditos dias! Lílian, você ficou achando que eu não a amava mais?
- Não! Quero dizer… eu sabia que me amava, mas eu estava magoada e com medo do futuro, um futuro sem você. Me perdoe por não ter sido mais forte.
- Lílian, eu sei que não tenho o direito de te pedir isso, mas… - ele suspirou. Demorou um pouco para continuar. Então, quando finalmente abriu a boca para falar completar a frase, Lílian interrompeu-o, com um beijo.
- Não, eu não posso! – disse ela afastando-se inopinadamente, deixando Severo confuso. – Eu vim para Hogwarts para trabalhar, e não para tentar reviver o passado! Eu sabia que teria de enfrentá-lo, e vim preparada. Não, Sev, passado é passado.
- Então por diz que me ama e me chama de Sev?
- Eu não menti, Sev, mas…
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- Mas o quê? Se já não disse? Lílian, você está agindo como criança!
- Severo, isso não está certo. Você… você nem ao menos me am…
- Não diga isso! – gritou ele bravo – Nunca mais repita uma coisa dessas!? De onde tirou isso? Quem disse que eu não a amo mais? Fui eu, por acaso? E quer saber de uma coisa? Esses pestes dessa escola sempre se perguntam porque sou tão chato e rabugento com eles. Me diga você. O que você acha que é?
- Sev, eu…
- Talvez seja por um certo dia que EU fiz uma burrada, mas VOCÊ não me deu uma chance, simplesmente foi embora. Eu a entendo, perfeitamente. Mas isso me fez mal. Eu passei todos esses anos desejando em vão poder pedir-te perdão um dia, desejando em vão ter você de volta para mim e não pude! – Snape já estava gritando.
- Severo, por favor… - Lílian chorava.
- Eu não sou experiente em assuntos de amor, mas uma coisa eu sei: dói, e muito. Ou vive-se com, ou vive-se sem. Meio termo não dá. – dizendo isso ele virou-se e foi embora.
No dias que se passaram os dois professores estavam mais insuportáveis do que nunca. Os alunos não puderam deixar de perceber o quão eram parecidos.
- Tem gente que diz que eles são irmãos…
- É… levam jeito, mesmo.
- Que nada, aposto que daqui a pouco vamos ver esses dois se agarrando pelos cantos.
- O Snape? Se agarrando com uma mulher? Ah, corta essa! Não leva o menor jeito! Se ainda fosse a Roberts… ela se agarrando com alguém é mais “normal”. Ora, uma mulher com a beleza dela é quase impossível! Mas, francamente, com o Snape? Muito mal gosto…
- Ué, da parte dele também. A Roberts pode ser muito bonita e ter um corpão, mas é uma porre de mulher! Muito chata!
- Ela não é chata, é arrogante e má!
O casal já não se falava mais, nem se cumprimentavam. Tentavam a todo custo evitar a cruza de olhares. Sempre se evitando.
Snape já estava perdendo a paciência; como quando se separaram, ele brigou com aquela que tanto amava, e com motivos bestas. E ele a conhecia, sabia de seu orgulho. Ela não cederia, não mostraria fraqueza nenhuma. Então ele se viu obrigado a tomar alguma atitude para essa história acabar: escreveu à ela.
“Lílian
Novamente essa situação. Eu a amo, tente me entender. Passei anos com a consciência pesada, me afogando em remorso. Eu estou muito diferente do que eu era em tempos de escola, porém meu orgulho e frieza continuam os mesmos. Ninguém consegue conviver comigo, ficar perto de mim. Meus alunos e colegas me odeiam. Eu sou grosso, estúpido e arrogante. E você sabe disso, me conhece. Eu era assim antes, mas com você meu jeito era outro. Hoje em dia esse outro jeito sumiu, e eu acabei a magoando novamente. Sou orgulhoso, não consigo admitir para mim mesmo, quanto mais para você, que a sua presença é necessária, que minha felicidade depende do seu amor por mim, que eu te amo mais que a mim mesmo.
Por favor, me perdoe.
Severo Snape”
Lílian limpou uma lágrima que escorria pelo seu rosto, enquanto lia a carta. Sim, ela estava na mesma situação; seu orgulho a impedia de voltar para os braços do homem que amava. Ela era a arrogância em pessoa, tudo devido à ausência de Severo em sua vida. E desta vez não seria tão idiota, falaria a verdade, abriria seu coração para Severo e os dois poderiam ficar juntos novamente.
Uma batida à porta.
- Entre, está aberta. - uma voz fria disse.
- Com licença, Severo.
Ele virou-se surpreso, mas logo a supressa passou, deixando lugar para um alívio.
- Entre, Lílian. – falou calmamente.
- Desculpe perturbá-lo a essa hora…
- Não está perturbando. Sente-se aqui. – ele indicou uma poltrona perto da sua, de frente para a lareira.
Ficaram em silêncio. Nenhum dos dois conseguia encontrar palavras. Lílian sentiu-se na obrigação de começar a falar, já que ela havia ido lá.
- Severo… por quê? Por que isso foi acontecer conosco?
- Não saberia responder, Lílian.
- Sabe, nós combinamos. Já ouvi muitas conversar de alunos por aí… eles acham que somos irmão ou temos algum parentesco.
Snape riu.
- Qual é a graça? – perguntou ela fingindo irritação.
- Parece que mal entrou e já está na lista negra dos alunos. – mas ele logo percebeu o que havia dito, ao ver a expressão de desprezo dele. – Ah… me desculpe, eu não quis…
- Tudo bem, esquece. E… eu estou com um problema.
- E o que é?
- Potter. É insuportável Ter de dar aulas para aquele… garoto. Ele é parecido demais com Tiago Potter.
- É… também tenho esse problema.
Novamente silêncio. Só após alguns minutos foi que Lílian novamente falou:
- E lá… você já foi alguma vez?
- No Vale? Não, Lílian, eu não suportaria.
- Eu pensei em voltar lá… mas também não consegui. Mas eu gostaria de ir algum dia desses… podemos ir juntos.
- É, podemos.
Ela sorriu. Depois falaram de mais alguns assuntos quaisquer e ela foi embora.
Desde essa conversa, passaram algumas semanas. Ao menos não estavam mais brigados, mas também não estava de bem. Voltaram a tratar-se como colegas, sem tocar em assuntos do passado ou sobre os dois.
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