Pétalas ao Chão



Olho Azul Apresenta:
A Última
Primavera


Capítulo 6 - Pétalas ao Chão


"unmei to deai to shitte itara
motto zenryoku de koishiteta no ni...
anata dake e no LOVE SONG
mou ichido aitai

Se eu soubesse que você era o meu destino
Teria te amado ainda mais com todas as minhas forças
Uma canção de amor apenas para você
Quero te encontrar mais uma vez"
(Maki Goto - Sayonara no Love Song)


Draco olhou para a própria mão e entortou a cabeça logo jogando-a para trás. Sentia-se um inútil sentado no chão perto da porta da Grifinória. As lágrimas não sairiam. Não se pudesse impedir. Só que o fato de estar no meio da passagem de todos os alunos não estava facilitando a manutenção de sua pose de inabalável. Todos o olhavam achando-o um louco com aquele anel na mão brilhando bem forte. Não era justo!

-Vamos, Malfoy, saia daqui. Já dissemos que minha irmã não está. - Ron Weasley deu-lhe um chute nas costas.
-Não provoca, Ron, - Hermione interferiu, fazendo uma expressão irritada.
-Ele acha que estou mentindo.
-E se estivesse? Na condição em que a Gi está, explica-se muito bem por que namoraria um Malfoy. Você não tem o direito de saber sobre ela. - Harry Potter o encarou zangado com os olhos frios e cheios de bolsas fundas ao redor. Não estava dormindo direito, pelo jeito.

Malfoy virou a cara para o lado oposto, apertando bem forte o anel em suas mãos de forma a lhe causar dor. Imaginar o porquê das olheiras de Potter lhe trazia grande agonia, não queria pensar naquilo ou choraria bem ali na frente deles. Fazia três semanas que não via a menina... Lembrava-se, como se tivesse sido minutos atrás, de quando fora esperar Gina na frente daquele quadro de uma mulher gorda. Confiante quanto ao presente de três meses de namoro, mal podia esperar para vê-lo em seus dedos. Mas esperara, esperara, vira mil grifinórios entrarem e saírem. Por fim, Hermione aparecera:

"Como? Ninguém te contou?" Surpreendera-se com a presença do moço. Estava pálida e não parecia muito bem de saúde, mostrando que as notícias não seriam boas. "Gina foi internada em um hospital trouxa para tratamento. Ela passou muito mal desde que chegamos, então, o doutour Bollein a trancou lá e só sairá quando estiver forte o bastante."

Eles tinham aquele direito? Malfoy sentia o arrependimento e a culpa subirem-lhe a espinha: ele tivera a idéia de confiar Gina a trouxas. Só que a intenção era que ela não acabasse em St. Mungus e não que a perdesse de qualquer forma e para um lugar muito menos confiável e acessível. Hermione explicara que não poderia vê-la nesse tempo, pois atrapalharia o tratamento.

"No fim, eu realmente me importo com a ruivinha, hein?" concluiu, olhando o irmão mais velho preparar-se para outro chute, logo impedido pela namorada, que o enxotou para longe de Draco. Virou os olhos nublados para o quadro na parede ao lado e sentiu a simpatia da mulher gorda envolver-lhe. Uma amizade inesperada, assim como toda a tempestade que caía dentro de si.

Algo áspero foi pressionado contra sua testa.

-Cai fora. - Potter lhe deu um olhar gélido, muito pior que antes, pressionando mais o sapato contra sua testa. A cada dia que passava, parecia odiá-lo mais, pior ainda que o irmão de Gina.
-Ei, será que dia algum você vai entender que a perdeu porque quis, Harry Potter?
-Meu problema se resume a você. Saia do meu caminho.
-Desculpa, não sabia que tinha algo com a parede atrás de mim. - Malfoy levantou-se, limpando a poeira das roupas. - Que os dois fiquem à vontade.

Harry lhe agarrou a gola da camisa e o puxou com força contra si, projetando ambos contra a dita-cuja.

-Olha, não tô a fim de ficar no meio do romance dos dois, deixa-me ir.
-Malfoy, escute o que estou falando, porque é sério: ainda pretendo acabar contigo. Deixa a Gina em paz.
-Como vai acabar comigo? Ainda sou intocável, Potter.
-Não é o que me parece agora. - Apertou o tecido de sua blusa com a outra mão também.
-E desde quando o cordeirinho virou o lobo no nosso pique-pega?
-Esqueceu que quem pegou a presa foi você?

O loiro não se conteve e deu um soco bem na bochecha do outro, quase derrubando-o no chão. Quando deu por si, seu punho latejava e sua respiração estava ofegante. Agora era ele quem tinha Potter literalmente nas mãos e estava sendo muito mais agressivo que apenas empurrar contra uma parede. Seus olhos cinzentos recuperaram quase todo o foco roubado pelo momento de fúria e encontraram os de Potter. Draco caiu no chão pelo susto. Os olhos esmeralda estavam quase como os de uma boneca. Sem vida; desligados.

O que havia com ele? Parado ali, quase na mesma posição em que fora largado. Não iria se defender? Contra atacar? Não era a primeira briga de ambos, Draco sabia como era seu oponente.

-O que está havendo contigo, Cicatriz? - Perguntou mais para si, sabendo que não receberia resposta. O rapaz à sua frente parecia apenas um fantoche; era assustador. De repente um clarão de luz invadiu a mente do loiro e nem pôde filtrar a sugestão antes de chegar à sua boca: -Imperius! Você foi amaldiçoado!

Correu até o rapaz e o olhou de novo nos olhos, confirmando que aqueles não eram de Harry Potter. Mais parecia um corpo sem alma. Aquilo era a Imperius? Não podia crer que os efeitos fossem tão visíveis. Contudo, todo o comportamento irritadiço de Potter tinha que ter uma explicação mais simples que seu relacionamento com Gina, certo?

"Mas por que alguém o faria ficar irritado comigo por causa da Gina? Não faz sentido... Não com uma maldição assim!" De repente, Potter o empurrou de volta ao chão e levantou-se, indo embora como se o loiro nem ali estivesse. Malfoy, ainda sentado no chão, observou sem reclamar aonde o moreno ia; pois pretendia segui-lo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Sim, mais um pouco. Era só sua marionete favorita andar mais um pouco por aqueles corredores estranhos para chegar a um quarto que se tornara familiar. Potter apertou o frasco que tinha no bolso, roubado da coleção de Severo Snape, e tentou segurar o próprio passo, mas nada que o tesouro encontrado por Lucio Malfoy não pudesse anular. Concentrou-se mais na magia que enviava pelo canal formado com a mente do rapaz e de alguma forma desligou a vontade própria deste. Que menino mais insistente... Ginevra era um robozinho muito melhor, uma pena não ter sabido disso antes.

Harry abriu a porta do quarto naquela mansão de horrores cheios de cortadores de gente chamados médicos e nem se mexeu ao contemplar o amor de sua vida ligado a inúmeros fios. O próprio Malfoy ficara espantado ao ver a cena na primeira vez. Máquinas fazendo barulhos do nada, uma água sumindo por uma agulha espetada no pulso da menina, um cheiro de nada que irritava seu nariz mesmo a distância... Por isso não gostava de trouxas, tudo parecia um espetáculo de pesadelos.

Olhando-a daquela forma, enfim, pronta para sumir da vida de seu filho, pensou em como teria sido mais fácil se houvesse se livrado dela assim que obtivera acesso à mente d'Aquele que Sobreviveu. Estava em suas mãos. Era só mandar que se jogasse da torre mais alta ou se amaldiçoasse. Que fosse! Nem sabia por que a poupara, talvez a felicidade de ter o menino de ouro nas pontas dos dedos o cegara. E agora seu erro voltava a toda contra ele. Namorando seu filho!? Nem que morresse no dia seguinte ele a deixaria novamente nas mãos do destino.

Ordenou que Potter lhe abrisse a boca e ali derramasse a poção assassina. A cada expiração que desse, sua energia se esvairia no ar e em menos de meia hora estaria esgotada. Morta. O que os trouxas chamariam de morte cerebral, talvez. Após constatar essa morte, Potter desligaria os aparelhos e asseguraria que nenhum trouxa interrompesse a morte definitiva. Sendo maior de idade, sua magia não seria detectada pelo Ministério, mas Malfoy decidira que usaria o mínimo possível ainda assim. E estava sendo um prazer observar a retirada da máscara de oxigênio, as gotas do veneno caindo por sua garganta...

Era o fim. Estava tudo acabado e Malfoy poderia prosseguir com seu plano de matar Dumbledore da mesma forma que fizera com Potter. Enfraquecerá o velho através do garoto, invadirá sua mente e a consumirá até chegar aonde Gina chegara: uma doença que nem mesmo a magia do bruxo que Lorde Voldemort temera pudesse curar. Segundo confirmara com a tal doença da Weasley, o amuleto deixava um efeito colateral que devia ser proporcional à intensidade do uso na cobaia. Mal podia esperar pela morte natural de Potter, a quem pretendia esgotar com todo o prazer.

O que estava havendo? Malfoy forçou sua magia, apertou com força o amuleto e deu grito a Harry Potter que lhe escutasse, mas não o lograva. Não conseguia nem mesmo ver o que ocorria, só sentia que a comunicação com o mundo dos trouxas estava cortada de todas as formas. Dumbledore? A professora de Transfiguração? Tentou mais uma vez o contato com o garoto da cicatriz, mas nada viera dali. Teria que esperar mais um tempo até descobrir o que o atrapalhara. Olhou para sua cela e suspirou. Mais uma vez fora deixado ao tédio.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Harry abriu os olhos para se perceber num quarto de hospital. Demorou uns segundos para assimilar a idéia de que era mesmo um hospital e não a enfermaria de Hogwarts. No fundo, sabia que era onde Gina estava internada e que a voz de Lúcio Malfoy tivera mais uma vez algo com aquilo, mas sua cabeça doía demais para lhe responder além do óbvio, como o que Malfoy fazia ali com um homem parecido com Papai Noel.

-É incrível o que um cabo de ferro pode fazer. - A voz cínica do loiro espetou seu ouvido. - O doutor Bollein está de parabéns por haver pensado tão rápido.
-É claro, Gina não pode beber nada trazido de fora! - O "Papai Noel" falou, dando risadas.

Beber? Então ela não-

-Mas ela bebeu sim aquele docinho que o Potter trouxe escondido.
-Por sorte está bem!
-Gina está? - Harry, enfim, perguntou.
-Não por sua causa, desta vez, Cicatriz. Digo, por sua culpa, ela quase foi envenenada, né? Importa-se em explicar?
-Sim. Porque você não acreditaria, não me apoiaria e ainda faria algo pior.
-Que tal para o curandeiro dela? - Um homem jovem estava encostado à porta, aparentemente ouvindo toda a conversa. Os olhos do rapaz não entraram em foco o bastante para identificá-lo, mas pelo que dissera devia ser o senhor Locker.
-Mais tarde. Quando nenhuma doninha estiver enfiando o focinho na conversa.

O outro senhor, vestido de branco, deu mais risadas e se despediu, dizendo ter mais pacientes para atender e pedindo desculpas pelo golpe. Pensando bem, a cabeça de Harry doía demais... O que realmente acontecera?

-Bem, senhor famoso Harry Potter, agradeça à intuição de seu amigo em te seguir e à do doutor Bollein, lembrem-me de apagar sua memória, por estranhar as roupas de vocês. Senão, Gina estaria morta neste momento. Não que ela realmente esteja bem, já que ainda bebeu um pouco daquela poção.
-E aí?
-Estou fazendo o possível para lhe aplicar o antídoto, mas ela não estava em condições de receber outro golpe assim, né? E por falar em golpes, tem certeza de que estava sob a influência da Imperius?
-Fui eu quem concluí isso. - Draco levantou-se de sua cadeira e foi até a janela do quarto. - É isso, né?
-Eu tinha certeza de que sim até perceber que seu amigo não está tão inconsciente assim de suas ações.

O silêncio se estabeleceu no recinto, os dois esperando que o curandeiro se explicasse, mas ele apenas deu de ombros. Explicou que como não presenciara também não podia dizer o que era, mas que Potter devia ter estado consciente o tempo todo, apenas sem o controle de seus próprios movimentos.

-Um voz... Ela me diz o que fazer. E eu não posso contrariá-la. - Harry abriu-se, sentindo-se péssimo por ter que ser exatamente na frente de Draco, o homem que provou ser melhor que ele aos olhos de Gina e por até ele próprio começar a dar razão à ex-namorada pela troca.
-Eu gostaria que se submetesse a uns tratamentos, Potter. Creio que sofra do mesmo que Gina pelos sintomas que sinto em seu corpo. O próprio doutor Bollein comentou isso.
-EU!?
-Potter também vai morrer?
-Não é pra sorrir, Malfoy!
-Bem, não sou um dissimulado a ponto de conseguir conter a alegria.
-Vai pro inferno.
-Garotos! - Locker gritou, pondo as mãos para o alto, - Em todo caso, temos que falar com Dumbledore sobre o que aconteceu hoje e quero os depoimentos dos dois.

Ambos assentiram apreensivos. A idéia de que alguém poderia controlar pessoas e causar uma doença mortal como a de Gina causara nos dois rivais um nó muito parecido no estômago.

-E a Gina? - perguntou o moreno, olhando para as próprias mãos.
-Sinto muito, mas até descobrirmos o que há contigo, a menina ficará isolada de todos. - Locker fechou os olhos e virou-se para a porta, pedindo que Malfoy voltasse com ele até o castelo de Hogwarts. - E você, Potter, descanse aqui no hospital que pediremos que alguém o busque pela manhã. Tenha toda a sua história pronta até lá, escutou?
-Sim...

Toda a situação parecia em um clima decisivo em que se descobria o que causara aquilo à Gina. No entanto, a cura estava cada vez mais distante e complexa. Harry ainda não conseguia acreditar no que descobrira com a internação da ex-namorada. Uma doença terminal... E agora tinha certeza de que era o culpado de tudo aquilo. Aquele médico trouxa o devia ter matado de vez.

Seu peito apertava, mas a dor na cabeça era tão forte que adormeceu sem notar.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Dumbledore olhou para o loiro mais uma vez enquanto Locker terminava a narração dando notícias do estado em que Harry fora deixado no hospital trouxa. O que mais o surpreendera, sem dúvidas, seria o fato de Malfoy ter seguido o rival até lá. Sem que o próprio pai notasse, sem que Harry notasse, ou mesmo Dumbledore.

-Uma noite e tanto, -pronunciou-se ao sentir o silêncio à sua espera.
-Malfoy deveria ter avisado a alguém sobre isso em vez de ir sozinho!- Minerva estava vermelha e seu coque um pouco bagunçado.
-Sim, eu concordo, mas entendo que ele não o tenha feito. - Dumbledore olhou para a janela de sua sala e perguntou-se o que fazer agora. - O que Harry disse sobre a menina?
-Gina?
-Claro, Malfoy, ele queria matá-la, né?
-Mas, professor, Potter não estava sendo ele mesmo.
-Ele estava consciente, certo? - Olhou para Locker até que este assentisse e voltou a encarar o loiro: - Então, ele deve saber de muito.
-Harry Potter virá assim que obtiver alta, - falou o curandeiro.
-Malfoy, não irá me responder?
-Eu realmente não sei...- Seus olhos cinzentos faziam voltas olhando para baixo e estava suando consideravelmente.
-É melhor ir para sua Casa descansar, então. Amanhã converso com Harry e teremos o quadro completo para provar ao Ministério que precisaremos isolar Lúcio ainda mais.
-Professor Dumbledore!- Minerva fez gestos apontando para o mais jovem da sala.
-É apenas para a segurança de Gina e de todos desta escola. Agora, por favor, preciso conversar a sós com o senhor Locker. Agradeço sua cooperação, Malfoy.

Draco abaixou ainda mais a cabeça enquanto saía do lugar cheio de coisas estranhas. Tudo aquilo lhe deixara mais ciente de que era provável que nunca mais veria Gina. Este pensamento o assustava demais. Sendo guiado pela professora até a porta de sua Casa, uma pergunta lhe surgiu à mente: Por que seu pai queria matá-la? Sempre pensara que seu relacionamento era benéfico à família; assim sua mãe também dissera, mas não fora o que o pai achara. Por quê? As peças se recusavam a encaixar-se.

Entrou em seu quarto e pegou uma folha de papel para escrever à mãe. Não. Aquilo não bastaria. Mas como ir até a Mansão Malfoy àquela hora? E por que o pressentimento de que Narcissa saberia de algo? Definitivamente, não era daquela forma que solucionaria o problema. "Droga! Se eu fizer isso-" Pensando assim, saiu novamente da Casa Sonserina e tomou o caminho que se usasse mais uma vez iria decorá-lo. Sem muitos erros estava de volta ao quarto de hospital onde Harry se encontrava deitado com os olhos esmeralda bem abertos, olhando o teto.

-Achei que voltaria, - disse o moreno, - Só cochilei e me veio esse pensamento.
-Sério? Então por que não me poupou o trabalho já me falando o que quero saber?
-Pergunte.
-O que meu pai tem a ver com toda a história?
-Eu sou o culpado. Para chegar a mim, ele passou por Gina e por conta disso ela está pra morrer.
-Sem lamentações; meu pai está longe demais para "passar por Gina".
-Ele não gostou de saber que os dois estão juntos e quis matá-la de uma vez. Mas nunca o conseguiria se por minha causa não tivesse ficado tão doente.
-Eu quero saber "como".
-Aí já está perguntando demais, Malfoy. O que fará com isso? Duvido que você possa impedi-lo e acho que, com relação, à Gina já é tarde demais.
-Bem, não sou eu que estou olhando o teto de um hospital. Vou dar um jeito.
-Gina piorou muito... O doutor Bollein passou aqui há pouco; ele a examinou antes de ser transferida e disse que o desafio parece tê-lo vencido. O que o grande Draco Malfoy pode fazer que nem o melhor de St. Mungus, o senhor Locker, pôde?

Draco caiu no chão, encarando o corpo quase inerte do rival. O plano de Dumbledore parecia ser impedir que maior dano fosse causado por seu pai; não incluía salvar Gina. Abaixou a cabeça entre as pernas ficando em posição fetal. Não podia desistir agora tão perto de entender a tal doença! Mas sentia-se ainda mais novo do que era; apenas uma criança querendo ganhar o mundo. E encarar seu pai de frente? Mal se reconhecia, pensando bem, por que pensava daquela forma, contra a própria natureza? Se Lúcio fazia aquilo, era pelo bem de sua família. Impedi-lo para salvar Gina, se é que seria possível, seria egoísmo seu, seria acabar mais ainda com os Malfoys.

Voltou a olhar Harry, deitado como quando entrara no quarto, e chegou a uma conclusão. Não conseguia explicar-se, mas também ficaria daquela forma se fosse o responsável pela morte de Gina. Doeria muito. E ainda tinha o contrato em que se comprometera a ajudá-la. Não mentiria para si próprio que esta era a razão, todavia, o contrato existia para justificá-lo sobre o que fosse que acontecesse. "É, mesmo nesta situação, ainda penso em como manter a pose," pensou, rindo-se.

-Potter.
-Hm?
-Disse que Gina seria transferida.
-É. O doutor-
-Quer dizer que há chances de ela ainda estar aqui, né? O Locker que deve transferi-la pessoalmente! E ele tá com o velho.
-Hã?
-Já estou indo. E me recuso a desejar-lhe melhoras!

E saiu correndo até o quarto onde estivera antes, quando seguira Harry Potter. Ir até ela seria renovar seus espíritos. Precisava muito vê-la. E ainda tinha que lhe entregar o presente conforme prometera! "Gina, fique bem quietinha aí," pensou, enquanto tentava se achar pelos corredores cheios de trouxas perplexos com sua presença. "Não vai ser desta vez que vai conseguir me abandonar porque não tô a fim de pagar o seu funeral sabia?"

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

O refeitório estava cheio de alunos gritando e bagunçando durante o café-da-manhã. Nem Harry nem Malfoy se encontravam no local, o que não ajudou a aflição de Hermione. A dor de cabeça que as reclamações do namorado também não estava cooperando para que seu cérebro juntasse as peças do que havia ocorrido. O certo era que a ausência dos dois rivais eternos não era uma coincidência, nem fato ignorável.

-Por que eu não fico sabendo de nada!?-Ron continuava, enquanto se empanturrava de comida, - Tudo é Harry e Malfoy. Tudo. Dumbledore nunca quer saber da gente, né?
-Não, normalmente ficamos sabendo, sim.
-Pelo Harry.
-Com a permissão de Dumbledore.
-Poxa, desta vez tem a ver com a minha irmã!
-Como sabe?
-Eu o vi! O curandeiro dela estava por aqui. Por que outro motivo seria, né?
-Olá, crianças.

Os dois olharam assustados para trás, onde a professora McGonnagal lhes sorria, chamando que a acompanhassem. Ronny deu um "até que enfim", mas a morena franziu a testa. Más notícias? Péssimas? Poderiam ver Gina? Poucas vezes foram autorizados a ir até seu hospital e não puderam ficar por muito tempo. A senhora à frente parou de repente e abriu uma porta quase que aleatoriamente. Lá estava o rapaz com o aspecto cansado e até mais magro, o que era estranho considerando que o haviam visto no dia anterior.

Ambos correram até Harry perguntando o que lhe acontecera, mas fora a própria McGonnagal quem explicou o heroísmo de Draco Malfoy, quase como se indagasse aos dois namorados se havia algum risco de estarem sendo controlados da mesma forma que o amigo. Hermione balançou a cabeça olhando para as mãos.

-Eu já devia imaginar... - Cerrou os punhos bem forte.
-O quê? - Harry e Ronny perguntaram.
-Era claro que tinha algo errado com o Harry. Tudo estava errado com ele!
-Eu devo ficar bem agora. Dumbledore está me ensinando oclumencia de novo e aquela voz não vai mais me importunar.
-E vai desistir tão fácil assim? Essa pessoa? - Hermione segurou-lhe a mão, olhando-lhe sem hesitar.
-É! E você também. - O ruivo apontou-lhe na testa. - Vai só baixar a cabeça? Cara, o mundo virou ao avesso e quem salvou o dia foi Malfoy...
-Ron. Não está bravo comigo? Por minha culpa-
-Vocês três, escutem! - a professora os interrompeu com uma expressão de brava, apesar de seus olhos entregarem seu estado emocionado, - O professor Dumbledore quer que um vigie o outro. Isso mesmo. A senhorita Granger pressentiu que algo errado ocorria com Potter. Desta vez, você irá se reportar a mim. Vamos lutar contra esse homem juntos, entenderam?
-E a Gina? - perguntou Ronny.
-Sua irmã está isolada de todos. Até chegarmos ao fim dessa história.
-Ela vai ficar bem, né?
-Largue essa cara de calouro largado na floresta, Weasley, e comecem se interrogando sobre as chances de vocês dois também terem sido atingidos. A suspeita é de que a primeira vítima tenha sido exatamente sua irmã.
-Então essa doença pode-
-Exato, senhorita Granger.
-E Harry...
-É outro motivo para o isolarmos nesta sala. O senhor Locker já o está tratando da mesma forma que Gina. Tudo deve ficar bem.

Os três assentiram. Logo depois, a professora disse que faltava o quarto do grupo dos encrenqueiros e que iria procurar Malfoy com a sua parte da missão. Ficando a sós, o grupo se viu jogado para trás. Mas se aquilo ajudava Gina, era o que fariam. Pelo menos daquela vez pretendiam obedecer todas as ordens que receberam.

Mesmo com quase todo o mistério solucionado, o mal pressentimento de Hermione não a abandonara. Olhando o namorado e o melhor amigo com expressões de quem não tinham mais o que fazer, ela própria teve que se contentar com aquilo e confiar nos adultos. Todavia, no fundo, torcia para que o sumiço de Malfoy fosse uma boa notícia. Não gostava da idéia de ficar atrás, cega quanto a como Gina estava e a quem era esse homem.

Segurou forte a mão do Ronny e desejou que a conexão de irmãos deles lhe permitisse ter certeza de que Gina estava bem. De que desta vez sua intuição estava enganada. Pois esta gritava cada vez mais alto que os problemas ainda não chegaram ao fim apenas com aquilo. Olhou pela janela daquela sala não utilizada pela escola e percebeu que os passarinhos voavam livremente de flor em flor. Já era primavera?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Draco se aproximou do leito onde a menina estava ficando um tanto surpreso ao perceber que seus olhos estavam bem abertos, atentos para o teto acima de si. Estava realmente acordada? Após a noite anterior, o loiro não imaginava que veria seus olhos tão cedo entrando naquele quarto. Olhou atrás de si para ter certeza de que ninguém ainda vinha levá-la ao tal esconderio e voltou-se de novo para a frágil menina largada naquele leito.

-Não achava que poderia vir... - disse ela, ainda sem olhá-lo de volta.
-Nem eu; será que se confundiram com as ordens e invés de aumentar, jogaram a segurança a zero?
-Não sou nada tão importante.
-Não é o que todos os outros pensam.

Um silêncio seguiu-se ao comentário. O rapaz aproximou-se ainda mais e ajoelhou-se, pegando a mão gelada nas suas e tentando aquecê-las. Como sentira sua falta...! Tocá-la após tanto tempo parecia por um lado surreal e por outro trazia a sensação de que haviam se falado horas atrás apenas.

-Agora falta pouco. - Gina virou um pouco a cabeça em sua direção; seus olhos estavam quase transbordando em lágrimas.
-Vamos dar um jeito! Mesmo que Potter tenha atrapalhado tudo.
-Não vamos mais nos ver.
-Quê? Ha! Acha que Dumbledore pode me impedir?
-Eu pedi a ele.
-Mas eu estou aqui. Nem você pode fazê-lo, Gina. Vou ficar ao seu lado, mesmo que te isolem numa bola ou te ponham mais feitiços de proteção que Hogwarts.
-Eu lhe pedi que deixasse-me vê-lo mais uma vez, se assim o quisesse. Só que esta é a última.
-Como assim?

Estendeu suas mãos, que haviam ficado ainda mais finas durante a internação, e passou a acariciar seus cabelos. Esforçou-se, então, para bagunçá-los, mas a energia necessária para tal lhe fora excessiva, então recolheu o membro para junto de sua camisola. Draco reparou o quanto havia emagrecido por todo o corpo; suas bochechas sumiram para dar lugar a olhos quase transparecendo por sua pele, não mais tão corada. Gina definitivamente parecia doente agora.

Foi um esforço sobre-humano expulsar tais pensamentos e voltar àquela conversa maluca de não mais se verem. Nada fazia sentido. Era o momento em que ela mais precisaria de companhia; ele próprio nunca quisera tanto estar com aquela ruiva. Por quê? Levou a própria mão, não muito mais quente que a dela, até aqueles fios ruivos recebendo protestos da menina que não a tocasse. Mesmo assim, ele afastou seus braços e pôs agora as duas mãos, impacientes para tocar aqueles cabelos em que ele tanto gostava de mexer.

Poucos segundos depois, caiu no chão. Uma força arrasadora o afastara da enferma. Olhando para as próprias mãos, percebeu que uma volumosa mecha vermelha vinha nelas.

-Seus cabelos!
-Eu tentei lhe dizer! Draco, por favor, fique quieto. Não vamos mais nos ver e é isso. Entendeu? Todos ficarão felicíssimos com isso e eu principalmente.
-Por que estão caindo!? O que esses caras te fizeram? Ou foi Potter?
-Não. É normal... É o curso da doença. No momento, também não tenho mais estabilidade nos meus pés. Meu corpo parece que quer morrer antes de mim. Não está sendo nada bonito, né? Por isso, não tenho mais tempo para brincar contigo. Depois de hoje, não me procure mais e apenas cumpra com o restante do contrato.
-Você tem que lutar!
-Como? Mais do que já estou fazendo? Aqui no hospital conheci uns trouxas que estão muito piores, tomando remédios horríveis para permanecerem vivos. E minha doença não é muito diferente daquilo. Muitos deles desistem no meio do tratamento e vão para casa viver com um curto tempo de vida, mas sem os remédios. Outros ainda se matam. Eu dizer que vou morrer é puro realismo, Draco, não pessimismo. Sinto muito por metê-lo nesta confusão; não devíamos ter começado algo que teria um fim tão feio como este.
-Gina...

Balançou a cabeça tentando assimilar o que tinha ali. Mesmo o que estava em suas mãos parecia irreal, apesar de tocar aqueles cabelos e de ainda poder sentir o cheiro da menina ali, levantar os olhos era como notar que pouco a pouco ela não mais estava. Partes dela se misturavam à natureza morta ao redor de si a cada segundo, tornando-se invisíveis ou indistintíveis para ele. Como as pétalas que dançavam no ar naquela estação logo se misturariam à terra, seria verdade que em pouco tempo, mesmo a Gina na sua frente sumiria? Ainda sabendo daquilo meses antes, era como se não o soubesse até então. Ou se nunca o pudesse saber.

-Terminar assim parece lugar-comum. Será que não podemos ser um pouco diferente disso? - ainda perguntou, olhando para o chão de onde não conseguia se levantar.
-Vai ver é lugar-comum por ser exatamente a coisa certa, né? É como penso.
-Gina, o que aconteceu para te fazer mudar de idéia assim? Achei que você só não queria que os outros soubessem, que não se importava comigo.
-Eu passei a me importar. Não é óbvio? Draco, é com você que mais me importo!
-Se estivesse no meu lugar, aceitaria tão facilmente?
-Não.
-Não consigo acreditar que se importe comigo. E se isso for verdade, eu diria que há outra parte que está mentindo dentro de você. - Limpou os olhos embaçados no próprio braço.
-Draco! Chega! Vá embora logo!
-Ficou tão forte de repente... Foi o que eu disse que te deu forças? - De alguma forma, ele ainda pôde dar um sorriso bem leve.
-Sim. Porque já está me irritando. Você é que não se importa comigo; me deixando nervosa assim só me fará mal. Viu? Outro motivo para não te ter aqui. E pare de sorrir assim, Draco Malfoy!
-Não gosta deste meu sorriso, né? Sabe, antes de namorarmos era o único que eu conseguia dar. Será que agora também será assim de novo? Este sorriso dissimulado, irônico...
-Eu o amo, Draco. Por isso não o dê. Pare de balançar na minha frente tudo o que estou perdendo...- Seu rosto estava encharcado de lágrimas, que faziam todas as curvas da fraqueza que a vencia até a cama. - Por favor, pare de sorrir assim, como só você sabe fazer.
-Acho que é melhor não nos vermos mais. Você tem razão, Gi. - Levantou-se enfim e ficou a observá-la em silêncio, como forma de gravar melhor sua imagem. - Mas você tem que fazer uma última coisa por mim.
-O que é? - Gina não lhe olhou de volta, estava de novo observando o teto em melancolia.
-Me contar o que aconteceu para querer me largar. Digo, o que realmente aconteceu.
-Eu me lembrei. De tudo.

Continuará...

Anita, 22/12/2007


Notas da Autora:

Quem sabe este será meu penúltimo capítulo para esta fic? É isto o que quero enquanto escrevo estas notas. Mesmo assim, há um quê de nostalgia enquanto as escrevo, porque está acabando, é quase o fim. Sim, meus planos vão até o 7, se passar disso, no oito acaba, não há nada mais para dizer sobre o amor da Gina e do Draco.

Mas enquanto eu ainda tenho a atenção de meus amados leitores, quero agradecê-los por chegarem até aqui! Tanto em minha vida mudou desde que comecei a fic; eu mesma mudei! Espero que de alguma forma esta fic também os tenha mudado. Ou pelo menos os deixem ansiosos pelo fim. Mesmo que não acabe no sétimo, estamos no fim, e é uma vitória *_*

Para mais fics minhas, visitem o Olho Azul http:// olhoaazul. here. ws recém reformado e para sugestões, opiniões, críticas construtivas e etcs o meu e-mail é anita_fiction @ yahoo. com leio tudo que for interessante!

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