Desabrochar



Olho Azul Apresenta:
A Última
Primavera


Capítulo 5 - Desabrochar


"Namida ga demasu
Konna kantan ni
Isshou taisetsu ni shimasu
Anata no yasashisa"

"Minhas lágrimas saem
Assim tão facilmente
Por toda minha vida,
Guardarei com carinho a sua gentileza"
-Maki Goto-


Gina bateu mais uma vez na porta e continuou sem qualquer resposta. Coçou de leve a cabeça, tentando se perguntar se havia errado algum dado. Haviam marcado naquela sala, certo? Draco lhe jurara que tinha as chaves e poderiam conversar ali em paz sobre qualquer coisa de que ele queria falar. O que fosse, havia causado um evento inédito: Draco Malfoy estava terrivelmente atrasado. Gina tentou de novo.

-Ei... - O rapaz havia chegado e estava atrás de si, pegando levemente em seu ombro.
-Ah, até que enfim, estava quase conseguindo que a porta reclamasse tantas batidas. -Desde quando aquela mão era tão grande e pesada? Estava tão quente também ou era ela própria quem estava com frio? O sentir da mão de Draco em seu ombro não era reconfortante, mas um contraste óbvio entre a própria doença e a saúde do garoto.
-Sinto muito, surgiram coisas.
-Que misterioso!- comentou, enquanto ele abria a sala tão isolada de tantas outras, -Aliás, saberei de onde tirou essa chave?
-Dumbledore emprestou-me. Assim poderemos prosseguir sem medo com nosso plano.
-Temos um?
-Exato. Nas horas livres em que não houver consultas em St. Mungus, você e eu faremos viagens bem interessantes pelo mundo.
-Hã? Presente de Hogwarts para meu leito de morte?
-Considere como quiser; eu acho romântico.
-Mas...?
-Veremos algumas pessoas chatas em cada uma delas. E estaremos acompanhados daquela Granger; nas primeiras também irá um adulto.
-Draco... O que significa?
-Creio que já ouviu falar em médicos, certo?
-Aqueles trouxas que pensam que humanos são para serem cortados?
-Pois é, andei pesquisando os melhores e já temos consultas para este fim-de-semana!
-Vou ter que considerar isso o meu presente de três meses de namoro?
-Aah, isso e mais outra coisa, mas só ganha no domingo. A primeira consulta é sexta à noite no Canadá. A professora McGonnagal nos levará a esse cara; Granger tem mais esperanças no homem que veremos sábado no interior da Inglaterra, aqui pertinho.
-Pera aí... Hermione...!? O que ela tem a ver com o assunto?
-É uma longa história que vocês duas discutirão mais tarde. Agora, que tal conversarmos sobre como passou a noite, querida?

Gina ainda resistiu um pouco e nunca deixou de franzir o sobrecenho, mas acabou caindo nos braços do loiro com sua voz forte e suas carícias sem fim. Assim ficaram até a hora do jantar, passando o raro tempo que podiam juntos. Era como se o calor perto dele fosse tanto que lhe emprestasse um pouco; algo como uma impressão de vida. A jovem abraçou-o mais forte e se deixou levar por aquela sensação. Andava se sentindo tão mal ultimamente, exceto por aquela hora em que seus corpos se juntavam daquela forma.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Dumbledore fez sinal que a senhora à sua frente se sentasse; daquela forma: vermelha e sem ar, Minerva McGonnagal o fazia se sentir mal, parecia tão frágil. Mesmo sentada, a professora de Transfiguração continuava inquieta, olhando para cada detalhe de seu rosto, procurando sinais de loucura senil.

-O que passa em sua cabeça!? Deixá-los no meio de trouxas e esperar que curem a menina!? Alvo Dumbledore, exijo uma explicação muito melhor que a que acabou de me dar.
-O caso é grave demais, Minerva.
-Já disse e eu já sabia. Aliás, por isso mesmo não podemos deixá-los perambulando como turistas pelo mundo. Olhe só a lista! Canadá, Noruega, África do Sul... Tudo neste fim de semana!?
-Pedirei ao Senhor Locker que os acompanhe ao médico daqui da Inglaterra. Pelo que entendi, já o conhece de algum lugar...
-Loucos! Todos vocês... Não os levarei e nem darei permissão para que as minhas grifinórias deixem a escola.
-Ah, isso eu mesmo já concedi e consegui a do Professor de Sonserina também.
-Não sou babá, além do mais.
-Minerva, entende que o jovem Malfoy está recorrendo a tudo que pode e que a idéia não é tão má?
-É péssima! Aqueles homens vão assassinar Ginevra.

O homem a observou mais um pouco; ainda não estava calma e tão pouco raciocinando. Não poderia culpá-la, afinal,ele mesmo reagira parecido ao receber a iminente visita de Draco Malfoy, dias antes. Estava com todos os documentos e o dinheiro necesspario para cada consulta marcada, mas precisava de sua permissão. Cpnversaram por mais de uma hora até que o diretor fosse convencido de que não haveria nada a perder e, pelo histórico dos procedimentos trouxas, Gina não sofreria nada que eles não autorizassem com antecedência.

O mais complicado foi explicar-se com o Ministério da Magia; por que um aluno de Hogwarts teria que aparatar para tantas partes do mundo!? Nenhuma desculpa que Dumbledore desse funcionava, porém, horas depois entraram em contato come el com todas as permissões necessárias. Parecia alguma coisa que Malfoy lograra fazer e Dumbledore não teve curiosidade o bastante para saber como.

-Eu simplesmente acho que é perda de tempo, -a professora continuava, ajeitando o coque que se despenteara com o susto.
-Que bom que está raciocinando comigo agora.
-Ela terá menos tempo para aproveitar sua vida e já tem tão pouco!
-Eu sei e cheguei a comentar com Malfoy, mas o garoto vê diferente e tive dar crédito a como está tratando a situação. Mal o reconheço tamanha seriedade;
-Sim, um casal inesperado, aliás.
-Exato.
-O que me faz lembrar o caso do prisioneiro que anda assediando um de nossos alunos. Não parou para pensar que o comportamento de Draco tem tudo a ver?
-E por que alguém em Azkaban gostaria de salvar Weasley? Também me passou pela cabeça, mas é improvável.
-Mas, professor, esqueceu-se da invasão ao seu escritório? Mal faz uma semana que coisas sobre o caso da Weasley foram reviradas...
-Tudo isso, Malfoy já sabia, nosso prisioneiro perdeu tempo então. Muito improvável, não acha?
-Então, não é Malfoy?
-Esforço demais para ele... Temos um alvo mais interessante por aqui.
-Não seria óbvio e estranho ser Harry Potter?
-Estou investigando. Até lá, tenha uma boa viagem!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Hermione continuou a encarar as feições da amiga. Ficara tão assustada com o primeiro médico e todos aqueles procedimentos estranhos aos bruxos. Para piorar, a lista de Draco só continha os melhores, ou seja, mesmo para uma trouxa, muito do que fora feito e perguntado à enferma era fora do esperado.

Aquilo tudo só fazia a menina acreditar no que era um destino quase imutável: não demoraria até não mais ter Gina a seu lado. A sala de espera verde em que estavam mostrava vários certificados e alguns antes e depois de pacientes do senhor Alexis Bollein; havia duas secretárias, uma se encarregava de agendar pacientes ou transferi-los e outra dos que realmente seriam atendidos naquele dia. Entrava e saía uma enfermeira do consultório com pedidos para hospitais e similares, mas tinha certeza de que lá dentro se encontrava mais uma. Parecia bastante caro, mas não teve coragem de perguntar a Draco.

O loiro estava com uma das secretárias discutindo sobre por que estava tudo atrasado mais de três horas. Hermione sabia que ainda teriam de ir à Noruega com a professora McGonnagal e não fora fácil subornar o tal médico a abrir um espaço para Gina. Não adiantava a bordagem que o moço utilizava, nunca a próxima era sua namorada.

A morena suspirou e olhou para o senhor Locker; já o tinha visto em artigos de jornais e, enfim, sabia da razão para também havê-lo avistado pelos corredores de Hogwarts. De fato, um curandeiro milagroso, mas que não solucionara o caso da amiga. "Estará tudo perdido ou a idéia sem futuro de Malfoy realmente dará frutos?" Era impossível saber; Gina tinha sintomas naturais que nunca passavam e só ficavam pior. Para um curandeiro do nível de Locker estar tão desesperado quanto Gina para curá-la a ponto de ir a um médico trouxa... "Oh, Merlin, salve-a!"

-Ei, Mione, não deveria estar mais à vontade em território trouxa?-a menina perguntou, pegando em sua mão.
-É, tem razão, mas essa espera também tá me matando.
-O doutor Bollein é muito requisitado apesar de seus métodos; é um milagre mesmo para um Malfoy arranjar consulta, -Locker interferiu.
-Aposto que sua vida é mais importante que sua agenda, senhor Locker.
-Chame-me de Edgar, não sou tão mais velho para ser "senhor", cara Hermione.
-E não faça essas piadas com meu namorado!-Gina comentou, ficando levemente vermelha.
-Ah, então é assim que fazemos pra curar sua palidez?-Edgar brincou, apontando para os rosas das bochechas.
-Essa piada também não tem graça, -a ruiva respondeu.
-Não fique olhando para o rosto dela, Locker. -Draco apareceu, sentando-se entre a namorada e o curandeiro.
-Alguma novidade?-Hermione pegou, apertando mais a mão gelada da amiga. Estava ficando menor?
-Parece que somos um dos próximos... Mas houve um momento em que ela podia jurar que nossa consulta era só pra daqui a dois anos. Uma incompetente!
-Obrigada, Malfoy, por ter essa solução em mente, -a morena disse.
-Não é como se fosse funcionar, contudo, eu prometi à Gina buscar a cura.
-Sabe, eu estava pensando enquanto o médico da África do Sul me examinava hoje de manhã, -a ruiva disse, -Não é tão ruim morrer; digo, não por mim mesma. Então, não fiquem tão desesperados; quero levar comigo a imagem real de você. Não a mudem, okay?
-Não diga besteiras!-Locker e Hermione falaram juntos.

Draco, todavia, após pensar um pouco, riu-se:

-Acho que por força contratual, não poderei cumprir esse desejo seu, Gi. Mas se for o último, eu posso fazer uma forcinha; aposto que não será difícil aprontar qualquer coisa.

A menina gargalhou livremente junto com o loiro, apesar de os outros não entenderem muito, parecia divertiram e logo se juntaram ao casal. Hermione secretamente pediu que tudo aquilo não passasse de uma mentira e que os dois a seu lado nunca saíssem um do lado outro. Era como se seus espíritos suportassem as fraqueza mutuamente, completando-se. Era quase inacreditável que Gina estivesse de fato condenada à morte, pois a seus olhos não fosse pela palidez, temperatura baixa e tantos desmaios, Hermione diria que nunca estivera tão viva.

Pensando um pouco, entendeu o pedido da amiga e prometeu-se dar o máximo para agir o mais naturalmente possível, eliminando assim o maior sofrimento pelo qual Gina passaria: a dor das pessoas que tanto amava. Prometeu também que não mudaria, mesmo se nada desse certo, se aquilo fosse verdade e levasse aquela pequena ruiva para longe de seu lado.

-Ginevra Weasley, -chamou a secretária, fazendo com que os quatro se levatassem de susto, -o doutor Bollein a espera. Só uma pessoa poderá entrar consigo, escolha por favor, senhorita Weasley.

Antes que Draco pudesse soltar a voz, Locker adiantou, levantando um pouco a mão direita, o que deixou o loiro com uma expressão hilária completa de ciúmes:

-Sou o responsável. Vamos, querida? O senhor Bollein pode assustar, mas é ótimo!- Levou-a pelo ombro, para insatisfação ainda maior do outro.
-Não pode usar magia aqui, Malfoy, -Hermione lembrou.
-Acha que se pudesse, aquele cara já não estava todo contorcido no chão!?-falou, logo se arrependendo. Não era bom causar a impressão de que poderia usar um feitiço proibido na amiga de sua namorada; principalmente, quando tinha certeza de que não o faria.
-Um dia rirá comigo da sua cara, Draco.
-Devo considerar o fato de me ter chamado pelo nome que está me aceitando mais como namorado da Gina?-perguntou, voltando ao seu lugar.
-Sim, até eu voltar pro Rony e Harry, que vão me envenenar de novo contra você. Mas, no momento, é realmente mais refrescante me esquecer desse seu sobrenome, -respondeu sinceramente, então tomava o assento ao lado do moço e iniciava a longa espera pelas palavras de mais um médico excêntrico.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Eddie!-um enorme homem veio correndo ao encontro dos dois assim que entraram em uma sala gelada e toda branca. Gina perguntou-se se estavam em alguma nuvem ou geleira.
-Como vai, Alex? Sua fama andou atingindo bem longe, hein! Olhe estazinha aqui. Acabamos de voltar da África do Sul onde mais um doido sugeriu um tumor nessa cabecinha. -Locker pegou uma das cadeiras em frente a uma mesa branca com vidro imaculadamente limpo.
-Vocês realmente andam buscando opiniões...-aquele que deveria ser o médico falou, olhando para a menina com os pequenos olhos cada vez maiores devido à grossa lente de seus óculos. Era tão gordo e tinha a barba tão branca que parecia um algodão-doce. -Sente-se naquele lugarzinho ali que eu quero te examinar!

Gina foi até a cama elevada e cumpriu com tudo aquilo que aprendera no dia anterior ser o normal de um médico trouxa. Não entendia para quê se tudo poderia ser descoberto em segundos por um bruxo curandeiro experiente como senhor Locker, mas o que não fazia por Draco?

-Vocês já têm algum exame pedido pelos outros médicos?-perguntou, indo até sua mesa, encarando Locker de frente.
-Está tudo aqui. -O jovem deixou em cima do vidro várias pastas coloridas, que logo foram abertas pelo médico e vistas silenciosamente.

A menina permaneceu sentada na cama, brincando de chutar o ar enquanto Bollein fazia vários barulhos ilegíveis. Locker preparara tudo na sexta mesmo e entregara a eles, dizendo que os médicos os pediriam. Hermione explicara que era assim que os trouxas viam o que havia dentro do corpo, já que não possuíam magia. Se algum dia ficasse bem, contaria com detalhes tudo a seu pai; tinha certeza de que ficaria maravilhado com o jeitinho que aquelas pessoas davam para sua inaptidão para a magia.

-Realmente, poderia ser um tumor se... Se houvesse um. Digo, poderia ser tanta coisa, mas não há, -concluiu o velho, pondo os exames de volta à mesa. Olhou para a persiana branca de seu consultório; parecia tentar ler a resposta nelas, -Qual foi seu diagnóstico, doutor Edgar?

Gina surpreendeu-se com a forma como o médico chamara seu curandeiro. O senhor Locker também era formado pelos trouxas!? Por isso se conheciam?

-Já me ajudou em tantos casos, -continuou, mexendo na barba que ia até a altura do ombro, -apesar de eu nunca haver descoberto como! Digo, apenas me aparece com remédios milagrosos e tudo o mais... Então, diga, qual o diagnóstico.
-Eu já teria arranjado o remédio se tivesse uma resposta.
-Pois é, Eddie. Mais uma vez, veio para minhas mãos uma doente saudável. O problema dela não está no corpo e sim na alma. Algo está machucado ali e, por isso, esses exames só mostraram as conseqüências; nunca veremos a real causa.
-Na minha alma?-a ruiva falou pela primeira vez desde que entrara.
-É uma resposta metafórica; o que quero dizer é que seu corpo está bom, exceto pelo que sofre com esse problema que não é físico. Algo como: está doendo, mas não há machucado, entende, menininha? Como um doido! Há danos no cérebro, mas não é consertando ali que vamos solucionar; apenas voltaria tudo. Temos que consertar em um lugar invisível; quer nome melhor para este do que "alma"?
-Mas há como?-Locker perguntou, mostrando confusão quase tão grande quanto a da moça.
-Esta é minha pergunta. Todo o sistema dela está gravemente abalado, Eddie, estou muito preocupado com isso. Não vai demorar muito até ter que interná-la... Os sintomas aparecem em todos os locais: coordenação motora, equilíbrio; mesmo seu sangue está mais... "ralo", por assim dizer. Não parecemos ter muito tempo para uma cura.
-Eu vou morrer?-Gina desceu da cama e caminhou até a mesa sem se sentar.

O médico a olhou com uma atenção; não parecia buscar resposta, apenas lhes dava segundos de suspense. Sós estes, abriu um imenso sorriso:

-O senhor Locker nunca permitiria, -falou e olhou para o mesmo, esperando concordância.
-Eu já disse a ela, Alex. Pois, fale, qual o nosso primeiro passo.
-Ajuda psiquiátrica; vou marcar uma hora com minha filha para amanhã, os enhor a conheceu em um dos casos, lembra-se?
-Sim, uma bela jovem que sabe o que faz!
-A pequena Gina vai precisar conversar sempre com ela, pois é um processo complicado e seu corpo não está nada bem. O melhor é preparar a mente para o que virá. Quanto ao meu trabalho, gostaria de examiná-la semanalmente, estudar a evolução dos sintomas. Quem sabe a cura não está exatamente aí?
-Como assim? -a ruiva perguntou.
-O seu corpo tem interesse em sobreviver, por isso apresenta respostas de defesa. Sabe, ele mesmo cria o remédio. O problema é que nem sempre é rápido o bastante, por isso temos que ficar atentos e ajudar no que for preciso. Quanto mais a gente desacelerar o processo, melhor. Muitos doentes nunca se curam, mas a gente põe o processo numa letargia tal que eles morrerão naturalmente bem antes do que seria pela doença. É a cura que os humanos têm para doenças incuráveis! Em outras palavras, se não pudermos fazer nada por você, tentaremos garantir que nem a doença possa.

Gina assentiu, entendo um pouco da conversa. A confiança que seu curandeiro tinha naquele trouxa trazia para ela um certo alento e talvez alguma esperança, mas ainda havia algo bem lá dentro que lhe gritava para desistir. O que seria? Cenas de seu passado, tudo pareciam voltar ali... O que estavam tentando lhe dizer? O quê?

Apertou bem os olhos e se apoiou no objeto mais próximo. A voz não se calava; só aumentava. Estava quase entendendo... Sussurros. Ecos de sua própria voz. Sim, aquela voz era dela, não tinha como ser de outra pessoa. O chão desapareceu e ouviu um grito bem forte:

-EU QUERO MORRER! -continuou assim e não desistia, por mais que ela se dissesse que morreria de qualquer forma, que nada teria solução, a voz continuava a ressoar: -Deixa eu morrer em paz. Não quero esta vida. Quanto mais rápido melhor. Quero morrer logo!

Cenas do passado passavam bem diante de seus olhos. A humilhação de descobrir tudo o que causara em Hogwarts quando fora usada para abrir a Câmara Secreta. As vezes em que sorrira para Harry enquanto ele olhava bem por cima de seu ombro. Sair com garotos que lhe davam a mínima. Sair com Harry, que lhe perguntava freqüentemente por onde andava. Os olhares reprovadores de Harry quanto à sua roupa. Harry nunca chegar ao local onde combinaram se ver.

"Está na hora de acabarmos com isto,"a voz de Harry cobriu seu pedido de morte, "antes que nunca mais tenhamos qualquer amizade".

Ela concordara. Estava cheia daquilo e toda a decepção que o namora lhe trouxera. Memso assim, chorara a noite toda, sonhando poder voltar àquela hora e assim nunca concordar. Abraçá-lo e dizer que resolveriam juntos, pois o amor que ela sentia era tão maior que aquilo...

-Morrer é a melhor saída agora!- A voz voltara mais firme que nunca. -Como não seria? Minha vida é um lixo. Fiz um contrato de namoro! Como cheguei a tanto...? Com Draco Malfoy! Meus pais se sentirão péssimos quando descobrirem. De que adianta o dinheiro para o enterro? Draco Malfoy!

As vezes em que Draco xingara seus amigos. O pai de Draco era o culpado da Câmara Secreta... Decepcionara a todos com aquele relacionamento. Traíra a Harry! Quem iria querer amizade com a namorada de um Malfoy?

-Eu sinto muito...-pegou-se dizendo em lágrimas. Saía mutio baixa e tremida sua voz em comparação àquela de sua mente. -Eu sinto muito... Draco... Ele só quer me ajudar, por isso aceitei, -a voz aumentava, criava alguma força, quase como o último canto de um pássaro.
-Você o está usando!-respondeu sua outra voz, -Em troca de dinheiro, você fez o contrato.
-Eu realmente sinto muito...
-Então esqueça-o. Deixe-se morrer logo e o contrato estará encerrado da forma mais simples.
-Eu- -Sem forças para se manter de pé, sentiu-se cair... cair nas trevas, dentro daquelas cenas que rodavam na escuridão. Um calor a envolvia, a segurava, a fazia sentir-se flutuar.
-Desista logo. Entregue-se à morte. Você até gostou da idéia, não foi? Bem quando ouviu a notícia. Então, por que procurar ajuda? Vai só aumentar seu sofrimento antes do inevitável. Quero morrer! Vamos morrer!

O calor aumentava, em sua cintura, em seu pescoço, em seu rosto, em sua boca. Uma força estranha vinha agora que se sentia esgotada de discutir com sua própria voz interior. Uma força quente e protetora. era uma sensação nostálgica, ainda que presente. Uma sensação... Ela a conhecia. A sensação que a segurava ali, que a fazia combater a tal voz, fosse de sua consciência, de sua alma, o que fosse. Aquela força aumentava o poder de seu coração e fazia que por todo o corpo a sua própria voz reverberasse:

-Não! Eu não vou morrer e abandonar o Draco!-disse o mais alto que pôde. Talvez até mais que a outra voz. Aquela nova resolução nascia tão forte dentro de si que a assustara. Dizer aquilo, concluir tal afirmação era o mesmo que saber que... Que declarar que... Com certeza, com toda a certeza, amava Draco Malfoy e por isso lutaria ainda mais com aquele trouxa, com o Senhor Locker, com todos, com Draco. Lutaria por algo que era de direito seu: sua vida. Não só não mais queria morrer porque precisava pôr cenas mais felizes para sua despedida da vida, mas porque queria fazê-las por aquele loiro e porque não fazia sentido ele lutar mais do que a própria interessada em viver.

Abriu os olhos e se deparou em um lugar muito branco, a claridade era tanta que teve que piscar várias vezes até se ajustar. Virou a cabeça e tentou focar sua visão em algum ponto que não fosse branco. Encontrou algum e se forçou um pouco mais. Sentia-se exausta e suada como se tivesse nadado o dia todo. Também muito frio. Algo gelado segurava em sua mão; com muita força.

-Aqui é o céu?-perguntou, sem nem filtrar a pergunta. Não conseguia energia mental para raciocinar o que estava falando a tempo. Apenas depois de haver falado e ouvido sons altos - risadas? - é que percebeu o tamanho da besteira.

Com o foco dos olhos ajustado, notou que ianda se encontrava no consultório do médico trouxa, doutor Bollein. Todos a rodeavam... E aquele que lhe segurava a mão era... Lágrimas rolaram pelos seus olhos enquanto o abraçava bem forte.

-Ah, Draco!-disse, logo percebendo que ele não estava naquela sala antes, nem Hermione.
-Seu namorado quase arrombou a porta do Alex quando você gritou o nome dele...-o Senhor Locker comentou, sentado ainda na cadeira em frente à mesa do médico.
-Por sorte, minha secretária a abriu antes...-o doutor Bollein disse, rindo.
-É claro! Como você reagiriam? Encontrei minha namorada sendo carregada pra cama por esse Locker aí! Sujeitinho suspeito... Se aproveitando de uma paciente!

Por isso aquela mão estava tão gelada? De nervoso e de susto? Gina sorriu para o namorado, o que o fez parar com as agressões verbais ao seu curandeiro.

-Agora vai ficar com o sorrisiho bobo, é? Você gostou, foi?- Draco perguntou, ainda olhando de rabo de olho para o outro.
-Não me lembro de muito, só de ter me sentindo muito tonta, -mentiu. Também, quem acreditaria no seu encontro com "o espírito do natal passado"?
-E agora fique deitadinha aí, que minha enfermeira está te trazendo algo para comer. Está tão fraquinha...-Bollein disse, apontando para moça que entrava com suco de laranja e torradas em uma bandeja, -Também liguei para minha filha e marcamos para amanhã à tarde. Ela concordou em te atender uma vez por semana. Fiz uma receita com alguns remédios e toda sua nova dieta. Imagino que não ande com muita fome, mas isso é mais uma tentaiva da doença para acabar contigo!- Entregou um papel para Locker e continuou: -Vamos vencer esta batalha com estilo, né, Eddie?
-Com certeza!-o curandeiro respondeu, admirando o papel, que parecia cheio de rabiscos de algum analfabeto para Gina. Seria a distância ou a letra mesmo do doutor?
-Gina vai gostar de ter uma terapeuta... Tem enfrentado tanto com essa doença!-Hermione comentou, também tentando ler a tal receita.
-Sim, uma fantástica decisão, Alex!-Locker comentou, levantando-se, -Bom, assim que Gina temrinar é melhor irmos. Nossa hora já esgotou há muito e temos que desmarcar as outras consultas, né?
-Por quê?-Draco perguntou, obrigando a namorada a comer mais uma torrada.
-Acho que encontramos o que queríamos aqui.
-Não é porque você gosta do velhinho que eu vou em dar por satisfeito.
-Misturar tratamentos vai só cansar mais Gina, Malfoy. É melhor ceder e se contentar.
-Mas é da *minha* Gina que o senhor está falando.
-Parem, por favor, eu é que decido o que fazer!-a ruiva interrompeu, vendo qeu Draco começava a se preparar para mais um ataque físico ao curandeiro. Os dois rapazes esperavam sua resposta: -Senhor Locker, não digo que desconfio co doutro Bollein, mas acho que parar de procurar uma cura só porque ele me passou para sua filha tratar é meio que desistir. Eu não quero desistir! Draco, eu estou vendo seu sorrisinho cínico. Dizer isso não quer dizer que vou ao próximo médico da lista. Aprecio sua dedicação em me marcar com tantos trou- err, médicos conceituados, mas estou muito cansada pra ficar viajando por toda parte.
-O que é muito pouco recomendado agora que deve reunir todas as energias!-Bollein complementou.
-Sim, doutor, -concordou Gina, com um sorriso ao simpático senhor, -Vamos ver no que dá. Quero apostar um pouquinho neste e se não parecer dar em nada, ainda tenho alguns meses, né? Eu já falei que não vou desistir!
-Jura?-Draco perguntou parecendo surpreso com a declaração após tê-la ouvido falar tanto que até gostava da idéia de morrer.
-Sim!- respondeu, tentando passar toda sua confiança naquele sorriso, -Então, pare de se estressar tanto.
-Certo...

Gina secretamente agradeceu ao loiro por aquela nova força. Por ter lhe ajudado a vencer aquela voz quando ela mesma se sentira sem como. Por estar de seu lado desde o início, lhe proporcionando cenas felizes. Também pediu bem baixinho que assim continuassem para que quando fosse sua vez definitiva de fechar os olhos, apenas houvesse tempo para ver o quanto se divertira com o loiro.

Uma lágrima lhe correu o rosto ao encarar a possibilidade de tudo aquilo ser em vão. Não, não seria em vão. Porque graças àquela ida ao doutro Bollein, Gina entendera que sua vida era preciosa demais para simplesmente jogá-la janela como andara fazendo; pois tinha bem ao seu lado, segurando sua mão, algo mais importante que o que ganharia fugindo dos problemas.

Apertou mais forte a mão de Draco, enquanto desparatavam de volta às proximidades de Hogwarts.

-O que foi?-ele ainda lhe perguntou.
-Eu quero meu presente de três meses de namoro!
-Então, espere até amanhã, sua menina ansiosa. Lembra-se? Só domingo.
-Não é justo! Se desparatássemos pra Austrá-lia já seria "amanhã".
-Mas estamos no meio da Inglaterra, contente-se. Afinal, as flores da primavera são muito mais bonitas que o outono de lá, né?
-Sim!- Olhou para onde chegaram e sorriu, enquanto a brisa da primavera batia em seus cabelos. Abraçou o namorado bem forte e deixou sua cabeça se enterrar em seu peito, -Eu realmente amo esta tal de primavera!
-O casalzinho poderia deixar pra fazer isso quando já tivermos entrado na escola?-Hermione gritou de longe.

Os dois sorriram e deram-se um beijo, que logo foi apartado pela morena que lhes jogara na cabeça várias pétalas de flor que saíam de sua varinha. Os três riram com a brincadeira, enquanto a morena limpou a sujeira que fizera no chão. Contudo, algumas continuaram no cabelo do casal

-Agora, vamos!-ela disse, voltando ao seu caminho e rindo.
-Qual a graça? A piada já acabou...-Draco perguntou-lhe, já a seguindo.
-Você tá cheio de pétalas rosas por todo cabelo! Ron iria amar essa cena.
-Você morre e ele também, se isto vazar!-apontou para o casaco, também cheio, enquanto o sacudia.
-Mas tá tão fofo!-Gina comentou.
-Fofo é um filhotinho de coruja abandonado na rua. Isto aqui que sua amiga fez não é!
-Bem que gostou...-Hermione comentou.
-O que não finjo para agradar minha ruiva?-falou abrançando a mesma.
-Só quero ver se também não tá fingindo que há um presente de três meses.
-Dá pra esperar só mais um dia?
-Ai, vocês dois vão voltar à cena "grude 100%"?-a morena disse, fazendo cara de nojo, enquanto os outros dois riam.

Era uma linda tarde de primavera...

Continuará...

Anita, 14/03/2007

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