Brilho da Primavera



Olho Azul Apresenta:
A Última
Primavera


Capítulo 4- Brilho da Primavera


"Nee 'uso da yo' to dareka itte
'mata aemasu yo' to itte
Anata kara kikitakatta
Hontou no uh kimochi"

“Ei, alguém me diga que 'é mentira'
diga 'ainda vão poder se ver'
Eu queria ouvir
Como você realmente se sentia"
-Maki Goto-


Draco Malfoy estava sentado no chão. Seus olhos cinzentos percorriam a cada minuto todo o lugar, esperando por algo. Fechara seus punhos vezes sem fim a cada som que logo se provava ser outro alarme falso.

O que fazia no chão? Aquilo não deveria ser humilhante para um Malfoy? Seu pai o mataria se começasse a desconfiar da principal razão!

Tudo mudara exatos 45 dias antes. Por trás da porta que no momento vigiava descobriu a chave de seus tormentos ao saber da misteriosa doença que Ginevra Weasley sofria.

Tantas vezes já tentara entender como algo tão sombrio pôde ser sua salvação. Talvez fosse o idiota que todos achavam que era. Desde que seu pai fora preso, estava sendo interrogado quase que mensalmente, sem contar as inspeções em sua casa.

Sempre soubera que o problema não era com sua mãe. Seu jeito era quase angelical... Santa demais para levantar tantas suspeitas! Ela só fora interrogada uma vez e pelo jeito que ela descrevera haver sido... Não passara de praxe, pura rotina para o Ministério.

No mês em que começou o absurdo namoro com a Weasley, foi chamado para um interrogatório nada comum. Conseguia ainda lembrar de muitas das palavras trocadas; era risível se comparado com quaisquer outros.

“Soubemos que está se relacionando com uma Parkinson,” eles haviam dito.
“Por favor...” Draco rira, divertido. Pegou uma foto de seu bolso, que tirara assim que recebera a intimação, e a exibiu com um rosto pleno de orgulho.

Gina e ele acenavam felizes no corredor da escola. Fizera questão de pedir que ela pusesse a mão em seu ombro e usasse um lindo vestido que lhe comprara na visita a Hogsmeade. A menina fora melhor que o esperado e lhe abraçou. Seu sorriso era tão divertido que parecia real.

Depois da prova fornecida, não houve muito mais que dizer. E parecia que ainda não inventaram novo assunto para outra visita.

Sorriu olhando novamente as duas passagens do corredor. Estavam atrasados! Observou a porta da enfermaria e um calafrio lhe percorreu. Não gostara nadinha da idéia de curandeiros virem de St. Mungus.

“Mas é claro que viriam! Ela está doente, Draco! Vai morrer...” O problema era que o fato tornava a enfermidade ainda mais real. Tão estranho... Sua namorada morreria em quatro meses e nada poderia impedi-lo. O próprio Dumbledore estava impotente frente àquilo. “E por que isso me importa? Já vi muitos prestes a morrer, morrendo e mortos. Por que agora...?”

A verdade era que se divertia com a jovem. Tudo o que faziam parecia mais uma rara hora de prazer em sua vida. Sempre tivera tudo, então raramente se importava com ganhar algo. Quando ela sorria... Era tão diferente de qualquer outra coisa!

Poucos eram tão francos com ele. Poucos se esforçavam tão pouco por ele. Poucos importaram tanto para ele.

“Vamos! Não pode ser que eu esteja me interessando por ela... É um contrato, nada além”, disse-se; sabia que era mentira, mas sua mente não teve tempo de contestar quando várias vozes encheram o silencioso corredor para a enfermaria.

Cinco pessoas carregavam pranchetas e conversavam em cochichos com a sexta, Minerva McGonagall. A professora, de mais ou menos setenta anos, caminhava gravemente, fazendo o som de seu salto soltar ecos como que batidas de uma bomba-relógio.

Malfoy tentou se ocultar melhor em seu esconderijo. Aqueles olhos felinos sempre produziram um efeito de alerta no rapaz.

Os outros eram definitivamente curandeiros. Suas vestes verde-claras surtiam um certo contraste com a paisagem, porém só em se aproximarem de seu destino já pareciam combinar. Os cochichos deixavam muito pouco escapar.

Já na porta, o mais jovem, que até então se mantivera em silêncio, destacou-se do grupo e dirigiu-se à vice-diretora: -Não tenho grande esperança de cura pelas informações passadas por Madame Pomfrey, uma enfermeira que admiro mais que qualquer outra! Porém, é para mudar isso que estamos aqui. Sua expressão não tranqüilizará a paciente. Dois de nós ficaremos analisando o resultado dos exames que nós três faremos.

Dois curandeiros o seguiram até o interior, onde Draco sabia que Gina estava deitada. Passara mal a noite anterior de tanta ansiedade pelo exame. E, desde então, o bruxo tentava entrar no recinto, sempre era impedido por quem estivesse vigiando.

“Droga, não gostei daquele convencido!” pensou, tentando imaginar o que se passava ali dentro, “É bom a Gina não se engraçar pra ele!”

O exame durou mais de três horas. A cada resultado que os que estavam dentro enviava, os de fora começavam acaloradas discussões, tentando diagnosticar ou sugerir curas para os sintomas.

-E agora?-o curandeiro mais velho perguntou à moça a seu lado. Ambos pareciam surpresos e soltaram várias interjeições a cada notícia.
-Ah...-A bruxa anotou qualquer coisa na prancheta e fez uma expressão de quem queria acordar de algum sonho ruim.
-É tão grave assim?-Minerva perguntara uma vez mais, ficando sem resposta, como em todas as outras.

Quando os outros três saíram, já acompanhados da enferma, faziam sorrisos tão forçados que se a situação não fosse tão grave, Draco teria rido.

“Ah, aquele idiota!” Malfoy cerrou os punhos ao perceber que suas mãos seguravam protetoramente os pequenos ombros de sua namorada. “É bom largar...” Tentou se acalmar, porém não se conteve ao vê-lo beijar seu rosto.

-Vai dar tudo certo! Amo desafios. Afinal, nunca os perco!-ele disse, um pouco antes de uma mancha amarela avançar-lhe tal qual um cão raivoso.
-Malfoy!- McGonagall gritou assustada, olhando para todos os lados como que se perguntando de onde ele saíra.

O curandeiro conseguiu desviar por pouco, levando apenas um leve toque no braço. Draco estava pronto para uma nova tentativa.

-Petrificus Totalus!-a voz de Gina ressoou, espantando os presentes com sua firmeza. A jovem sentiu-se ruborizar com tanta atenção. –Ah, err... Ele é meio ciumento, este cabeça dura! –Para enfatizar deu um soco de leve em Malfoy, que por causa da posição de ataque se equilibrara para não cair.
-Parabéns, Gina. Pensou bem rápido... –a professora disse, rindo satisfeita para o loiro, -Eu sinto muito pelo comportamento de meu aluno, senhor Locker. Devo encaminhá-lo em breve para o chefe de sua Casa, a Sonserina, e será castigado. Que estupidez!
-Está tudo bem... Apenas me assustei. Bem, Gina, como eu ia dizendo, confie em mim e tudo funcionará. Agora, professora McGonagall, irei com minha equipe conversar com Madame Pomfrey sobre o que fazer enquanto não há solução e atualizaremos todos pelo Diretor. Até mais. Ah, querida, não o deixe assim por muito tempo, pode haver algum efeito colateral...

E todos reentraram na enfermaria, enquanto Gina despetrificava Malfoy junto com sua professora.

-Agora vai!-ele ainda gritou antes de dar por si, -GINA! Eu ia-
-Já chega, Malfoy!-Minerva o pegou pelo colarinho e o puxou pelo corredor. – Você e o professor Snape têm que ter uma conversinha antes de você se acertar com a Weasley. E, Ginevra, vá para seu quarto descansar antes do almoço. Ainda tem suas aulas vespertinas. Por falar nisso, Malfoy... Desde quando nos espiava!?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Hermione correu para a amiga assim que a avistara. Não a vira no dia anterior e, desde o incidente com o presente de Malfoy três meses antes, ela desaparecia assim sem pistas. Pensando bem, desde o fim de seu namoro com Potter era que coisas estranhas aconteciam naquela escola.

Perto do fim daquele romance, que antes fora tão aplaudido, o metido Sonserino namorar a Weasley não parecia uma coisa tão estranha. Era até aceitável.

-Gina! Onde esteve ontem?-perguntou, esperando uma resposta também direta.
-Fiquei com preguiça de sair da cama.
-Suas amigas disseram que você não estava lá quando acordaram...
-Mesmo!? Nossa, que amigas hein... Nem me viram direito! Fiquei lá o dia todo.
-Nem almoçou...
-Encontrei rapidamente com Draco, ele me trouxe comida. Isto é um interrogatório?
-Não gosto de seus sumiços.
-Está tudo bem!
-Não gosto de como tudo está. Harry a cada dia mais quieto, você mais sumida, Malfoy mais acessível... Não tem muita coisa estranha nisto tudo!?
-Malfoy me prometeu ser simpático com meus amigos. Não acho nada estranho que ele o cumpra.
-Gina! Dá pra notar que a escola está virada de pernas pro ar? Digo, sei que estou agindo como Harry, dando uma de detetive... Mas, poxa, você mais que ninguém deveria me entender. É intrigante.
-Poderia não ficar repetindo tanto o nome dele como se ainda tivéssemos algo? Estou pondo minha vida pra frente e pronto. Chega daquele garoto esquisito!
-Já olhou pro seu namoradinho? Sinceramente!
-Pelo menos, eu posso agir como eu quiser perto dele. Ele fica feliz se eu ponho uma roupa mais curta ou se vou com ele aonde seja. Também não some pelos cantos no momento em que me distraio. Nem tem complexo de detetive.
-Pensei que era esse espírito do Harry que te atraía mais.
-Olha, Mione... Se for pra falar dele, vá conversar com outra. No momento, sou a garota da escola que menos se interessa por Aquele que Sobreviveu. Já me deu muita dor de cabeça quatro meses atrás.

Virou-se, marchando para qualquer outro lugar.

A jovem suspirou, coletando os dados daquela conversa. Nada de novo... Porém, sabia que Gina tinha muito a ver. Aqueles sumiços eram ainda mais suspeitos. Da próxima vez, engoliria o orgulho e poria Malfoy contra a parede. Era fraco demais para resistir.

Talvez aquela dor no peito passasse um pouco depois disso...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

O loiro não sabia como consolar a ruiva. Ela falava coisas estranhas, chamando a amiga de enxerida e egoísta. Depois começava a xingar o ex-namorado. Em seguida, o assunto partia para os tratamentos a que estava sendo submetida.

-Gina, cala a boca!-levantou a voz, pondo dois dedos de cada mãos nos lados da cabeça, pressionando de leve com movimentos circulares. –Que droga! Olhe pra mim; estou parecendo minha mãe.
-Agora você também vai me estressar!?
-Olha, eu realmente quero ser o namorado atencioso e tudo o mais, mas ouvir você reclamando sem parar pra me explicar é ser da mesma qualidade que uma porta. Se quiser, tem muitas aqui no castelo para você. Com sorte, não terão vontade de te esganar. Aliás, ainda não respondeu à minha pergunta inicial. -Comeu uma das torradas que roubara do café da manhã para comerem juntos noutro lugar.
-Porque você vai interpretar qualquer descrição de ontem como uma investida do Senhor Locker contra mim.
-É claro! Aquele carinha tá doido pra te fisgar.
-Então, é melhor eu continuar desabafando.
-O que você quis dizer quando falava no Potter ser violento? Aquela praga não mata uma mosca.
-A menos que ela seja sua namorada e esteja tentando desabafar com ele.
-Ei! Não precisa me ofender.
-Na verdade, eu falava do Harry...-confessou, olhando para baixo com o rosto triste.
-Também não te ouvia? Ha! Nem ele tem tanta paciência...
-Sei lá... A gente namorou por seis meses e na primeira metade tudo ia bem. Eu era a menina mais realizada do mundo! Aí, ele começou a ficar estressado e a me fazer perguntas estranhas: alguém novo falou contigo hoje? Você pegou alguma coisa de diferente? Conte seus sonhos... Dê mais detalhes! Pra mim, você me esconde muita coisa...-Fazia caretas e mudava o tom de voz, tentando imitar o ex.
-Que chato! Eu devia ser assim também contigo; te deixo muito solta perto daquele curandeiro pervertido. Ele não te mandou pôr aquela roupa de hospital também não, né?
-Me ouve, Draco... Eu só costumava falar com a Luna disso, porque Ron e Mione sempre o defenderiam. Mas ela é...
-O mesmo que uma porta? Agora você vai me dar a razão.

A jovem sorriu um pouco, pondo uma mecha de cabelos atrás da orelha. Estavam num corredor pouco freqüentado do castelo, aonde iam com alguma freqüência. Ela encostou-se à parede e abraçou seus joelhos.

-Em três meses eu vou estar morta.
-É... Passou rápido.
-Nem tanto. Esses exames tão acabando comigo. Ficam vários curandeiros tentando fazer coisas inúteis, dando-me porções experimentais... Pareço uma cobaia.
-Mas por que ficou o dia todo ontem? Pensei que o combinado fosse que exames longos seriam aos domingos.
-Veio um curandeiro dos Estados Unidos e ele só tinha ontem pra me atender. Eu também fiquei surpresa, só queria ter faltado Poções. –Levantou o rosto para o teto e raios de sol bateram em seus olhos formando uma linda cor que ele só via assim.
-O Sol da primavera combina contigo...-ele pegou-se dizendo. Não se arrependeu tanto quanto achava que devia. Um estranho pensamento lhe explicou o motivo: se não lhe dissesse tudo naquele momento, não haveria um seguinte.
-Será que vou ver o do Verão?
-Com certeza! Aliás, quero ir a algum lugar legal contigo...
-O americano falou que meus próximos meses não serão tão simples.
-Hã?
-Parece que essa doença me suga as forças e confunde minha mente. Se estou bem agora, é porque muitos me amam e meu corpo é forte. Afinal, eu já passei por muito pra isso. A Câmara Secreta, os treinos de Quadribol, a Armada Dumbledore...
-Então aquele Potter é o que tá te deixando viva?
-Talvez... É o que o homem me disse.
-Maldito!

Gina deitou a cabeça no ombro forte a seu lado. Pensar nas palavras do bruxo deu-lhe o mesmo cansaço súbito do dia anterior. Seu corpo ficara mole e sua vista, mais escura. Uma melancolia a invadia e a puxava para o chão.

-Obrigada por me segurar, -falou, fechando os olhos enquanto se aninhava ali. O cheiro amadeirado com hortelã e âmbar já lhe tornara tão familiar... –Achei que ia desabar no chão, mas-
-Gina... Está tudo bem!? Você não comeu nada, né! E eu aqui acabando com todo o café da manhã. Não é à toa que tenho engordado: como por dois. Pode enfiando comida nessa boca. Agora mesmo!

A ruiva riu-se, obrigando-se a comer. Seu estômago andava bastante indisposto, só aquele rapaz mesmo para fazê-la torturar-se daquela forma... Contudo, sabia que era para seu bem. Não que fosse funcionar.

-Eu vou morrer. –falou, após comer meia torrada. A outra metade caiu no chão, partindo-se em vários pedaços.

Draco ainda tentou consolá-la com algum abraço, mas não houve tempo de segurá-la. A Weasley saiu em disparada pelos infinitos corredores, que impossibilitava que fosse seguida.

-Ah! Que deu nela...?-No fundo, ele também começava a se preocupar com o futuro ainda mais próximo. Sentiria falta daqueles momentos; os dois sozinhos falando, discutindo... Juntos.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Narcissa andou calmamente até o salão de jantar de sua mansão, a cada dia mais vazia. Apenas elfos ainda trabalhavam, mas com menor ânimo, se possível fosse. Inspirou o ar da manhã daquele sábado, alegre por saber da visita especial que a aguardava na sala.

O jovem saboreava o chá que só podia beber ali e se sentia em paz, finalmente. Aquela visão, para a mãe, era o bastante para se esquecer dos inconvenientes passados desde a prisão do marido.

-Draco! Meu filho, o que o traz aqui no meio do ano letivo!?-a Malfoy perguntou, indo abraçar o filho único.
-Precisava muito conversar com a senhora.
-Sobre sua namoradinha?
-Sim... Ginevra Weasley.
-Por que não veio contigo? Quero também abraçá-la. Que indelicadeza não apresentá-la assim que começaram, meu filho.
-Mamãe, ela está com problemas graves e necessitada se ajuda. Gostaria de fazê-lo eu mesmo, mas como é a senhora quem gerencia nossa fortuna, vim pedi-la.
-Que infortúnio ter problemas sendo de uma família tão... Tão carente.
-A senhora a ajudará, né?
-É claro! Afinal, ela também fará parte de nosso clã em breve, estou certa? - Narcissa percebeu um desconfortável movimento do filho, enquanto assentia sem muita ênfase.
-Sim, mamãe. Se a senhora realmente a ajudar, Gina será da nossa família.
-Oh, que felicidade! Meu filho noivo! Começarei a ajeitar os detalhes da cerimônia para assim que a jovem se formar. Ela é um ano mais nova... Então daqui a um ano mais ou menos. É tão pouco tempo... Será que consigo que seu pai presencie a cerimônia? Tenho certeza de que se eu pedir com muita força, serei atendida. Afinal, é o nosso herdeiro e nosso orgulho se casando! – Olhou para o rosto pálido de Draco e sorriu embevecida. - Será o casamento mais lindo; depois do meu, é óbvio.
-Primeiro, ela precisa ser curada.
-Não está assustado com meus planos, né? Eu já havia sugerido que fosse com sua formatura, mas para o casamento dos sonhos que pretendo, precisamos de mais tempo...
-Ela está muito doente, mamãe.

Pela primeira vez durante a conversa, a linha saíra do planejado. Uma doença? Tão grave a ponto de o filho lhe pedir ajuda? Narcissa franziu o sobrecenho e olhou fixa para o filho, esperando mais detalhes.

-Não sei de mais nada, contudo, -Draco completou, como se respondesse às dúvidas da mãe, -Apenas que se eu não fizer nada, ela morrerá antes de minha formatura. Temos menos de três meses, mamãe!
-Que maluquice é essa, Draco? Não ouvi nada assim.
-É... um segredo. Na verdade, Gina me mataria se soubesse que aqui estou. Ela se encontra em St. Mungus nesta mesma hora, sendo examinada por mais um curandeiro de prestígio.
-Se assim é, o que eu poderia fazer pela pobrezinha?-Baixou o olhar, mostrando-se consternada.
-Médicos!

Era a segunda vez que as palavras daquele garoto a espantavam. Médicos!? De onde seu filho tirara a idéia?

-Aqueles predadores!?
-Imaginei que reagiria assim, mas nosso mundo não foi capaz de sequer diagnosticar o problema. Talvez o dos trouxas...
-Draco, ponha-se de volta em seu juízo. Não faz nada correto, não diz coisa com coisa. O que fizeram com meu filho?
-Mamãe!
-Trouxas são inúteis. Se não podemos fazê-lo, não é possível ser feito. Simples assim. Contente-se. Mude de alvo para outra bruxinha prestigiada e pronto... Não acha que seu plano está saindo caro demais para algo de tão pouca duração quanto uma menina doente!?

Os olhos do rapaz a alertaram de que fora longe demais. Além de pálido, suas bochechas começavam a corar sua íris era tingida de cor semelhante.

-Err, está certo. Contudo, não pretendo negociar com trouxas, arranje você mesmo alguém que o faça. E tome cuidado.
-Sim, mamãe, obrigado.
-O que não faço pelo meu filhinho?-falou, retirando-se. Era uma indagação que ela também se fazia naquele momento. Aquilo estava indo longe demais.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Draco terminara, por fim, o último pergaminho e o encaixara na coruja negra que o esperava, atenta a todos os seus atos. Após enviá-lo, voltou a sentir o mal-estar que não o abandonava fazia tanto tempo. Gina voltara tarde no dia anterior de sua visita ao St. Mungus e pouco ânimo tivera para conversa, apenas deitando sua cabeça por mais de meia hora sem sequer mexer-se de seu ombro. O rapaz suspirou, vendo que já passara da hora do almoço; ficara a manhã toda fazendo as cartas aos homens de confiança de Lúcio Malfoy pedindo-os e ordenando-os que se encontrassem com os melhores médicos dos trouxas.

"E nada de a minha bela adormecida acordar..." pensou, enquanto limpava o suor de seu rosto. Tinha que sair daquele lugar fedido a coruja e tomar um banho o mais rápido possível.

Caminhou para o palácio se indagando o quanto demoraria para marcar as consultas e quanto custariam as viagens. Poderiam aparatar? Certamente, teria de informar a Dumbledore e a McGonnagal de seus planos; era provável que insistissem em acompanhá-los. Os pais de Gina também deveriam saber? Os adultos que cuidassem desses detalhes responsáveis e Draco faria o papel de herói montado em uma vassoura dourada!

-Ei! Malfoy, quanto tempo até me ouvir? Já percebeu que meu sangue sujo está te tocando? Acorda!- uma voz de garota apareceu do nada de sua mente.

O jovem se virou para constatar que Hermione Granger o seguia e lhe sacudia quase sem ar.

-Por Merlin, como consegue andar tão rápido?-perguntou, ajeitando suas vestes, agora que o outro diminuíra seu passo.
-O que quer?-Draco se esforçou para não se aborrecer com a amiga de sua namorada, como estava no acordo.
-Vim te pôr contra a parede.
-Hã?- Olhou ao seu redor, tentando entender.
-Metaforicamente, é claro.
-Mesmo assim, não me sinto mentalmente pressionado.
-É que você não ouviu minhas perguntas, enquanto arquitetava algum de seus planos diabolicamente suspeitos.
-Então, Granger, vá em frente, -falou, sem tentar ocultar sua pose desinteressada.
-O que fazia no corujal?
-Correspondências importantes e confidenciais.
-Sobre...?
-Que parte de confidencial você não entende?
-Gina, certo? Algo sério está acontecendo com ela e só você sabe. Por alguma razão, a está ajudando e com certeza é uma razão bem lucrativa pra você. Seria apenas para parece bem na fita com o Ministério ou algo parecido? Valeria a humilhação de não só sair com uma Weasley, mas falar normalmente com uma trouxa?
-Você precisa elaborar suas técnicas para retirar informações dos outros, Granger; isso não tira nada nem do ser mais tagarela.
-Só estou te assustando com o tanto que sei. Agora a parte que concluí: a coisa com Gina é séria o bastante para ela se ausentar dias inteiros da escola e pode ter a ver com o grupo de curandeiros que andam passeando pelos pátios. O que não entendo é: como pode ser importante o bastante para te pôr com olheiras, Draco Malfoy?
-Eu!?- Não que a trouxa estivesse mentindo, mas ele conseguira disfarçá-las tão bem... Aquela pergunta ficara pairando em sua mente, enquanto o corpo decidiu sozinha retomar o caminho até o chuveiro. Estava se sentindo cansado demais e sujo demais para gastar mais tempo com conversas assim.
-Ah, vai tentar fugir bem no momento mais interessante?-perguntou, voltando a tentar acompanhar seus largos passos.
-Vou pro meu quarto tomar banho, se quiser continuar a entrevista enquanto isso, vai ter que pedir permissão à Ginevra "Adormecida" Weasley primeiro. -Virara-se apenas até terminar a frase mais Malfoy que pensou e, então, seguiu seu caminho.
-Eu só quero ajudar minha amiga, Draco! -Hermione deixou-se cair no chão, causando um baque forte o bastante para o rapaz olhar o que acontecera pelas suas costas. -Digo, eu sei que ela está muito mal e tudo em que posso pensar é envenenamento; isso não é o bastante! É o único que poderia me responder, então deixe-me pelo menos uma pista.

Ele voltou até a menina ajoelhada e olhou-lhe com um pouco de inveja. No fundo, também queria se entregar à terra e implorar por uma luz naquele problema que parecia pronto a esmagá-lo.

-Ninguém sabe o que há com a Gi; levante-se daí e volte a ser a sangue-ruim de sempre antes que eu te interne em St. Mungus.

Desistiu de se interessar pela conversa e se prometeu que aquele havia sido o último atraso para seu encontro com uma água bem quente e com muito sabão.

-Então, está acontecendo algo, né? E você? O que tem a ver com tudo? Vamos, Malfoy, responde logo! Você sabe que investigarei cada milímetro do corujal, né?-a jovem continuou gritando para figura que se afastava mais e mais. Até que percebeu que ele havia deixado cair algo, ainda lhe avisou disso, mas algo dentro de si sentiu que fora um deslize proposital. Uma pista?

Correu até o papel e os olhos se esbugalharam ao constatar que se tratava de um rascunho padrão para alguma carta, talvez o que estava mandando de manhã por tantas corujas.

"Senhor n
Venho pedir-lhe como filho de Lúcio Malfoy sua representação para falar com n sobre um caso bastante interessante de uma doença rara. Busco sua cura e pouco tempo tenho. Deixe bem claro que possuo dinheiro, mas não se esqueça de que se trata de um toruxa.
Sei que é um grande favor, mas não se compara ao que meu pai fez sua vida e o que faria com as de suas pessoas mais próximas.
Atenciosamente,
Draco Malfoy."

Atrás havia números com nomes de bruxos, muitos deles suspeitos de serem Comensais da Morte e, numa coluna ao lado, outros, que Hermione imaginava ser o trouxa com quem os bruxos falariam cada um. Não eram tantos, então a menina imaginou que houvesse mais padrão de carta junto com Malfoy; contudo, aquele já lhe bastara para aumentar seu frio na espinha. "Doença rara", e o bastante para fazer Draco contactar Comensais da Morte, pior: pedir-lhes que falassem com trouxas!

Seus olhos continuavam a percorrer os nomes quando percebeu um que conhecia como sendo famoso por pegar casos indecifráveis; ela já lera sobre ele antes em livros bruxos. Havia curado muitas doenças que era muito mais que o que aparentava, que haviam sido causadas por magia, ou agravadas pela mesma.

-É o que Gina tem...?-perguntou-se, sentindo uma letargia tomar conta de seu corpo e mente. Algumas lágrimas lhe tomaram a consciência e assim ficou, sentada ao chão, chorando pelo estado em que sua amiga estava e por perceber com as ações do atual namorado que aquele pioraria muito sem qualquer cura. -E agora!?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Lúcio Malfoy remexeu-se em sua cela, enquanto enviava uma ordem à sua marionete em treinamento. Tinha que confirmar tudo o que acabara de ler na carta entregue por seu carcereiro. Como assim!? Seu único filho e herdeiro envolvido com uma Weasley!? Era inaceitável. Contudo, a parte mais interessante seria a mais difícil e importe a se confirmar.

-Vamos, garoto, entre logo nesse escritório!- disse ao seu contato em Hogwarts, -Ou quer que eu te mande matá-la de uma vez por todas?
"Não o farei," respondeu o rapaz com a voz firme.
-Ah, é? Sabe o que é que eu quero no escritório do diretor? Creio que também será muito interessante, afinal, vocês não estavam se agarrando pelos corredores? Aquela ruivinha de voz estridente...
"Mandei ficar longe dela".
-Pois é; acho que eu a afetei de alguma forma ao cumprir suas ordens, meu caro Harry Potter. Agora, entre logo nesse escritório e procure a carta mais recente de St. Mungus.

Não demorou muito para Malfoy ter sua confirmação. A carta que sua cobaia encontrou dizia bem claramente que após um curandeiro americano bastante famoso examinar Gina Weasley foi constatado que seu corpo já estava atingido demais para qualquer poção que ele conhecesse. Também recomendava que dentro de um mês ela se internasse na ala de tratamento intensivo do instituto a fim de facilitar sua passagem.

O bruxo não soube mais além disso, porque sua marionete parecia haver perdido a consciência após tamanho choque. Como punição, decidiu por sussurrar em seu inconsciente palavras que o fizesse sentir-se culpado. No fundo, sentia-se satisfeito pelo que ocorreria em breve: a garota tinha prazo contado para se afastar definitivamente de seu filho. Quanto ao que ocorreria antes disso, Malfoy teria que pensar com bastante calma. A idéia de o filho usar de sua influência e fortuna para curar uma Weasley que ainda poderia ser usada como forma de impedir a saída triunfal de Askaban que o pai com tanto afinco arquitetava não lhe agradava nem um pouco.

"Mas aposto que Dumbledore selou bastante bem aquela cabecinha vermelha, será quase impossível entrar ali de novo. Parece que terei de atingi-la usando o ex... Que inversão formidável de papéis!"

Passou a mão em seu medalhão e desejou que tivesse poder o bastante para mais aquele detalhe que não funcionava em seu grande plano.

Continuará...

Anita, 22/02/2007

Notas da Autora:

Para mais fics e capítulos ainda não levados a público, visitem meu site Olho Azul: http:// olhoazul .here. ws

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