Amor Cultivado



Olho Azul Apresenta:
A Última
Primavera


Capítulo 7 - Amor Cultivado


"Saigo no egao da to shitte itara
motto atamannaka yakitsuzuketa no ni
towa wo negau LOVE SONG
mou aenai no ne

Se eu soubesse que seria seu último sorriso
Eu o teria gravado melhor em minha mente
Minha canção de amor deseja pela eternidade
Não poderemos nos de novo, né?"
(Maki Goto - Sayonara no Love Song)



Dumbledore manteve o olhar fixo no pequeno homem à sua frente. Repetiu o que queria, recebendo mais uma negativa. Como podia ser tão difícil? Sentou-se na cadeira mais próxima e cruzou o braço. Aquela não era sua primeira vez em Azkaban para ver Lúcio Malfoy, nem a primeira que lhe negavam o contato desejado. Como aquela pessoa tão inflexível poderia ter sido escolhido o diretor de uma prisão tão importante?

Um mês havia se passado desde o ataque de Potter à pequena Weasley e desde que o esquema de segurança, que consistia em os três amigos se observarem um ao outro, fora montado; Malfoy não tentara mais atacar utilizando o rapaz. A preocupação de Dumbledore ainda se explicava pelo perigo de outro aluno estar sendo feito de vítima. Harry começara na semana anterior a apresentar os mesmos sintomas que Ginevra tivera no início, mas a progressão da estranha doença ficava a cada momento mais rápida. Com tudo aquilo se somando, Dumbledore mal conseguia dormir à noite por medo de ser despertado pela morte de qualquer um dos dois ou até de um terceiro inocente.

Olhou para a porta que se abrira de repente. O Ministro em pessoa enfim lhe atendera as súplicas e aparecera para ordenar ao diretor que permitisse a visita de Dumbledore para fazer uma revista mais rigorosa na cela de Malfoy. Com um sorriso triunfante, após tantos meses indo a Azkaban e voltando de mãos vazias, o poderoso bruxo conseguiu entrar na perigosa prisão.

Todavia, de nada adiantou. Lúcio Malfoy conseguira de alguma forma se adiantar à visita e o resultado da revista foram apenas objetos comuns a prisioneiros. A única diferença era o rosto feliz do próprio, ele lhe passara a perna e sairia impune dali. Muito pior, Dumbledore perdera o pouco que conquistara com a vinda do Ministro com relação ao diretor da prisão; fora sua última chance com Malfoy e falhara. Sentou-se, já fora da ala dos prisioneiros e observou o semblante pesado do Ministro.

-Tentamos, pelo menos, - disse-lhe o mesmo.
-De alguma forma, Malfoy se livrou do objeto.
-Não se preocupe, Alvo, vou continuar a investigar todos os outros. Lúcio tem um histórico de se livrar das coisas que o incriminam.
-Não estará aqui. Isso ficou bastante óbvio pela sua expressão.
-Fará bem tentar, pelo menos.
-Onde mais...?
-Perguntemos a quem o conhece bem, talvez nos dêem uma dica.
-Muito obrigado por vir, Ministro. - Dumbledore estendeu-lhe a mão e se despediu. Tão cedo a grande arma de Malfoy não voltaria àquela ilha.

Ainda estava saindo de lá quando o pequeno diretor o parou, indo correndo em sua direção. Gritava para lhe esperar, mas desmaiou antes que o alcançasse. De alguma forma, por intuição ou por conhecimento, o quebra-cabeças estava montado: fora aquele o homem que Malfoy usara para se livrar de tudo.

Entrou correndo com o homem no colo e ficou com ele na enfermaria até que o curandeiro da prisão lhe pedisse que o deixasse dormir sossegado. Assim que se livrou daquele pequeno contratempo, avançou até a sala que tanto vira enquanto tentava alcançar Malfoy para procurar a tão querida pista do paradeiro da tábua de salvação de Malfoy. "Aonde você a deixou, Lúcio?" pensou, revirando os documentos mais recentes.

Um objeto acabou por lhe chamar atenção, o livro de visitas. Algo tão valioso teria de ser entregue em mãos. E lá estava o nome que procurava. Poucos dias após o fiasco da tentativa de envenenar Ginevra Weasley, Narcissa Malfoy estivera em Azkaban a pretexto de ver o marido, mas teve sua visita negada e apenas deixara um bilhete sobre um possível casamento do filho.

Um plano perfeito. O objeto estava com a pessoa em que Lúcio mais podia confiar, sua própria esposa, cuja casa sequer andava sendo revistada desde o início do namoro de Draco com Gina. Era perturbador como Lúcio usava a menina até não poder mais. Mesmo algo tão mal-querido por ele servira-lhe de ajuda. "Isto também quer dizer que não estamos a salvo dos ataques. Narcissa é tão perigosa quanto o marido..." pensou, fechando o livro. Precisaria respirar um pouco em Hogwarts para não deixar escapar de novo aquele misterioso objeto.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Gina sentiu as mãos cuidadosas da curandeira que a acompanhava durante todo a noite levantá-la para que se banhasse. Seu corpo estava a cada dia mais fraco e terminar com Draco da forma como fizera não lhe ajudara. Durante todo o mês, tivera pesadelos do quanto chorara, apesar de ter ensaiado tão cuidadosamente aquela cena. Diria o quanto não queria mais vê-lo, o quanto prolongarem aquele namoro a faria sofrer e de último caso mostraria como já não era ela mesma. Sentiu a toalha gelada passar por seu corpo, cansado demais para sequer arrepiar-se apropriadamente.

Como ele estaria agora? Namorando outra? Talvez Pansy... Depois do que contara... Não imaginava que teria que dizer tanto. Como Draco descobriu que algo havia mudado ainda lhe era um mistério. Certo que era um loiro muito observador, mas não era para ter aquele tipo de sensibilidade. No fim, Gina fora forçada a lhe contar tudo de que se lembrou. Os olhos do rapaz apenas cresciam a cada palavra do que ela fez a Harry enquanto controlada por aquela voz terrível.

Ainda não tinha certeza de como tudo começou, quando se deu conta já estava brigando a cada segundo com Harry, dizendo-lhe coisas que não queria, agindo como uma garota mimada que só o provocava. Cruzava os braços para o que lhe pedia e, quando saíam os dois sozinhos por Hogsmeade, nem deixava que ele a beijasse. Tudo porque a voz lhe mandava. "Provoque-o mais", "marque um encontro naquele lugar afastado", "conte a Potter como o acha patético". E Gina obedecia sem hesitar, ainda que estivesse se quebrando por dentro, não tinha forças para contrariar Lúcio Malfoy.

Houve um dia que sempre estranhou ao lembrar-se dele quando já estava com Draco. Marcaram de ir até a cabana de Hagrid fazer um lanche para o qual o professor convidara o casal. Gina foi com uma roupa bastante curta e estava falando insinuadoramente com vários rapazes quando Harry chegou. Ainda despediu-se com um beijo na bochecha de um quando olhou para o então namorado: "Como diabos consegue se atrasar tanto?", passou pela frente do moço e seguiu o caminho: "Vamos logo pra chatice..." ajustando mais a saia. Harry pegou-lhe pelo braço e a jogou contra a parede, pedindo que pusesse algo pelo menos nas pernas, mas Gina respondeu-lhe que se era para se dar a tanto trabalho, preferia voltar a se divertir como estava até o namorado chegar.

Depois, esquecera-se de tudo o que fizera e, sempre que pensava naquele dia, tudo do que se lembrava era de como Harry a puxara pelo braço em direção à Casa de Grifinória e a mandara subir para o quarto. E um novo apagão, agora Gina sabia o que houvera.


-Tome um banho e descanse, - Harry lhe disse, apontando para o dormitório feminino.
-Potter, não seria melhor dar uma surra logo numa garota tão travessa.
-Não quero conversar contigo.
-Ainda não? Então acho que terei que brincar mais um pouco com a sua namorada.

Então, ele a abraçou, gritando por seu nome. Fora inútil, Malfoy logo lhe ordenou que Gina o socasse.

-Isso é lição o bastante por hoje, Potter? Posso não entrar na sua mente, mas nesta aqui eu faço como quero. - Gina passou direto pelo namorado e saiu da Casa.

O apagão ia até quando acordou em sua cama com lágrimas no rosto de tanto chorar para Malfoy parar com aquilo. Mas demorou muito até que parasse. Sempre estava discutindo com Harry, provocando-o e pensando bem, era visível como a relação o desgastara. Chegara mesmo a traí-lo duas vezes, de forma que visse tudo. Nem sempre Lúcio a dominava, havia dias de folga, mas como Harry distinguiria? Não conseguia contar e nem queria preocupá-lo, tão emaranhada já estava por todo aquele controle mental.

Mesmo quando Harry lhe perguntava se alguém lhe fazia algum mal, Gina não podia responder e com o tempo essas foram se transformando em um grupo de perguntas estranhas de um ciumento. E não o que era na verdade: suas suspeitas de Gina estar sendo controlada por alguém. Não, a ruiva estava muito cega depois de terminado o relacionamento para dar qualquer crédito às infrutíferas tentativas de Harry para curá-la.

Tudo acabou em um ciclo invencível em que os dois ficaram exaustos. Violentos demais um com o outro para aquela continuar a ser a relação saudável e linda que tiveram nos priemrios vezes, antes de aquela voz atrapalhar tudo. Em um dos dias em que Malfoy a deixou em paz, Gina decidiu que era hora de porem tudo em pratos limpos. Teria que vencer aquele bloqueio de algum forma, pelo bem do amor dos dois.

-Harry!- Acenou para o moreno, tentando pôr um sorriso em seu rosto cansado de lutar contra as lembranças de tantas brigas que andaram tendo por sua causa.
-O que queria conversar?
-Sabe aquilo que sempre me pergunta? - Sentaram-se na grama, o outono estava quase no fim, por isso não poderiam fazer aquilo mais por muito tempo.
-Então, consegue lembrar-se de algo estranho?
-Sim, eu- Sua garganta ficou seca e os ecos daquela voz voltaram para que não contasse. Tinha que lutar! - Eu. Sim. Eu- Não conseguia sair daquela repetição... Nem mexer a cabeça. Calafrios percorriam todo seu corpo e, quando deu por si, estava com uma das mãos no pescoço de Harry e a outra em um graveto que devia estar jogado no chão.
-Vai me acertar com isso? - O moço não parecia desesperado. Era tão comum assim tentar matá-lo?

Jogou-se para trás e, mais uma vez, surpreendera-se. No fundo de sua cabeça, ecos das ordens de Lúcio Malfoy repetiam-se: "acabe logo com sua vida, menina inútil". Conseguia quase sentir a ponta do graveto na própria garganta quando Harry o tomou com força, arranhando sua mão.

-O que pensa que está fazendo!? - perguntou-lhe, jogando longe a iminente arma.
-Eu não sei... - Gina não pôde mais conter as lágrimas. Em pensar que sentia-se tão forte quando acordara! Tudo fora ilusão, mesmo não estando ali, os vestígios que Lúcio deixara em sua mente eram tão fortes que a faziam senti-la embaralhada, fora de ordem.
-Eu desisto...

Seus olhos encararam os do rapaz, que olhavam para baixo, para as próprias mãos.

-Escutou o que estou dizendo?! - Dessa vez, ele estava gritando como se fosse para o Lorde das Trevas. - Eu de-sis-to. Isto já foi longe demais, não tem como. Se for para escolher entre o bem da Gina e ser um bom menino; eu a escolho mil vezes caso necessário. Contanto que ela fique a salvo...

Foi quando acordaram pelo fim do namoro. Até lembrar-se de tudo, Gina nunca desconfiara que Harry abria mão do próprio corpo por sua vida; suas lembranças sempre diziam que estava tudo terminado pelo bem de sua amizade. E, a partir daquele dia, nunca mais ouvira Malfoy; por isso, não teve como saber que o homem não se esquecera de seus planos, apenas dera o próximo passo, levando consigo o rapaz que então ela mais amava.

Tantos meses depois... Tantos meses e um novo amor para fazer com que Gina entendesse todos seus sentimentos quando ouvira que iria morrer. No fundo, alegrara-se com a perspectiva porque fizera mal demais a quem lhe importava e merecia aquele castigo. Era estranho que agora lembrando-se de tudo, percebesse que fora uma idéia boba. Harry estava sempre tão triste quando ia visitá-la no hospital dos trouxas e seu irmão e Hermione... Todos! Tinha que suportar aquilo.

Olhou para a curandeira terminando seu banho com plantas medicinais enviadas com carinha pela Professora Sprout de Hogwarts. Aquilo ardia depois de um tempo de aplicado, mas tinha que suportar. Era o melhor tratamento que poderiam lhe dar para curar a sujeira que deixaram em seu corpo.

-Vou matá-lo!- Draco dissera em resposta naquela dia.
-Ele é seu pai... E não fazia idéia do que estava fazendo com o amuleto.
-Amuleto?
-Um dia ele me disse que era o que usava.
-Que seja, vou fazer picadinho dele.
-Não. Vai me prometer paz. Quero descansar, tudo isto...
-Sim. Gina, vou seguir o que me pede simplesmente por que é o que está me pedindo! - Deitou em seu peito, parecendo estar dosando a quantidade de peso que colocava no frágil apoio.
-Obrigada...

Ficaram em silêncio por uns minutos. Draco foi o que tomou a iniciativa de se levantar e sem qualquer palavra plantou-lhe um tenro e demorado beijo nos lábios. Foram as últimas palavras, ainda que sem som, trocadas pelo casal. Quase como se estivessem selando o fim do acordo, despediram-se sem se olhar e a porta daquele hospital se fechou.

Todas as noites depois disso, Gina sonhava com aquele beijo; o presente que o loiro lhe deixou antes de partir para sempre. Nunca mais se veriam e aquilo lhe dava um grande aperto no peito. Com o tempo, deixou de se importar que não tivesse mais cabelos, nem forças para se mexer, ou sua pele cheirasse à morte que as manchas roxas que lhe cobriam anunciavam; só queria sentir de novo aqueles lábios trêmulos... que apenas sentiria em sonhos até o fim de sua vida.

-Falta só um mês... - Mesmo que o dissesse em voz alta, seu corpo todo tinha certeza de que os cálculos da Madame Pomfrey estiveram errados. Mal podia garantir que acordaria no dia seguinte após seus lindos sonhos com Draco. Olhou para o anel que ele lhe deixou na mão, parecia tão distante o dia em que ela lhe cobrara aquele presente...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Os quatro estavam bem quietos ouvindo a mais uma espécie de palestra que Minerva McGonnagal vinha fazendo semanalmente sobre como deviam se vigiar e cooperar com os adultos quanto ao que descobrissem quando uma segunda voz passou pela da idosa professora. Era o diretor, Alvo Dumbledore, com o rosto ainda mais abatido que o de Harry, apesar de não estar doente.

-Podemos conversarmos?

Todos se olharam e depois para McGonnagal, claramente assustada com a interrupção. Ela cumprimentou o outro e ofereceu-lhe o próprio assentou, gesto prontamente recusado pelo ancião.

-Faz uma semana que estive em Azkaban para visitar o pai de Draco Malfoy, - começou dizendo, - E, para minha surpresa, não havia qualquer meio disponível a ele para ampliar sua magia da forma como presenciou, Potter.
-Não quer dizer que não exista. - O rapaz logo jogou o corpo para frente, mas sentiu a fraqueza da doença impedir que se levantasse.
-Sei. Estou apenas prestando contas, meu caro.
-Depois de uma semana? - Malfoy interrompeu, recebendo um sorriso como resposta.
-Por mais que eu tenha pensado, não encontrei uma solução que não requeresse coadjuvantes. - Dumbledore mostrou com a magia a planta de uma casa brilhando dourado bem no meio dos cinco ouvintes.
-Professor! Nós devemos ajudá-los, não estas crianças. Entrarei em contato com a Ordem e-
-Minerva, por favor. Não haverá como. Além do mais, quero que o mínimo de pessoas saibam disto.
-É a Mansão! - Malfoy apontou para as escadas e traçou um caminho até seu quarto, então voltou a olhar para o Professor.
-Sim, é onde está o que procuro. Bem guardado por sua mãe.

Os três outros olharam ainda mais curiosos quanto a por que pedir aquilo justo para Draco. Por que não o deixar de fora? Mesmo que sua presença ajudasse, ainda assim, não era confiável o bastante para nada que envolvesse trabalho de equipe.

-Sei em que estão pensando, -o diretor adiantou-se, - mas não podemos falhar nesta pequena missão. Ou Narcissa trocará o objeto de lugar assim que nos descobrir. Por isso, devemos usar o meio mais rápido e ele seria o próprio Draco. Aliás, tem que ser hoje.
-E onde os outros entram? - perguntou o mesmo, franzindo a sobrancelha.
-Precisará de reforço. Exceto que Potter não está incluindo.
-O quê?! Por que eu não?
-Iria atrasar seus amigos da forma como está. Quero que fique com o senhor Locker, o próximo passo após a invasão à Mansão Malfoy.

Continuaram conversando sobre o plano até após perto do anoitecer, quando decidiram que já era hora. Hermione e Rony se desaparataram junto com Draco próximos à entrada da mansão e ficaram esperando do lado de fora que ele voltasse com os dois empregados da casa a quem o casal substituiria.

-Ele vai nos trair... Antes de notarmos, já vai ter ele mesmo escondido o que quer que seja esse objeto - Rony disse, sentando-se ao lado de Hermione no chão.
-Se Dumbledore diz que em uma semana só pôde pensar nesse plano, teremos que confiar. Só me preocupo com o que seria esse objeto. Não sei se o detector que a Professora McGonnagal nos deu servirá.
-Quais as chances?
-Não sei! Digo, não é como se sentíssimos qualquer vestígio no Harry, então pode ser que o objeto não tenha qualquer jeito de ser de Artes das Trevas!
-Hermione... Tá muito nervosa. Confesse: confia no Malfoy tanto quanto nas chances de o Bichento conviver pacificamente com um rato, né?
-Mas o Draco realmente gosta da Gina.
-Draco?
-Prefiro chamá-lo assim, agora que é um dos nossos.
-Não agüento mais essa doideira do Harry trancado em St. Mungus e a gente aprontando com Draco Malfoy.
-É pela Gi.
-Eu sei... - Rony olhou para longe, nitidamente tentando conter as lágrimas que segurava sempre que mencionavam sua irmã. Por mais vezes que tenha ouvido a história real da boca de seu melhor amigo, continuava querendo culpar Malfoy, nem que fosse por ser filho do real culpado, portanto, como confiar que tudo daria certo?

O casal surpreendeu-se ao ver Draco chegando com o corpo de uma mulher nos ombros e reclamando do peso.

-Não precisava trazer o corpo todo! - Rony disse, ajudando o loiro a deitá-lo contra a árvore.
-Sim, e ninguém ia desconfiar de encontrar um estupefado pela casa, né?
-E o meu?
-Tá ainda onde o encontrei, me ajude a buscá-lo, Hermione. Ou devo chamá-la de Marion?

A nova Hermione, agora mais baixa e ainda mais magra assentiu, mas não pareceu gostar do novo nome. De qualquer forma, tinham que ser rápidos antes que alguém encontrasse aquele que descobriram chamar-se Hughen. Agora, devidamente disfarçados, entraram na mansão como se servissem o jovem Malfoy, o que não deixava de ser a verdade, graças à escolha adequada do rapaz.

Os três começaram a revistar o quarto de Narcissa, que saíra para um jantar arrumado por Dumbledore, mas nada encontraram.

-O que estamos procurando afinal!? - Ron gritou com a voz esganiçada do rechonchudo Hughen.
-O tal amuleto, né? - Malfoy abriu a caixa de jóias da mãe após tentar todos os feitiços que conhecia mais um novo que Hermione acabara de lhe ensinar.
-Amuleto? - o casal perguntou em uníssono.
-Dumbledore não falou nada assim... - O ruivo olhou desconfiado para o outro.
-Gina me contou que era isso que meu pai usava. Agora, paremos de assunto e continuemos.
-Como Gina sabia? - Era a vez de Hermione desconfiar.
-Parece que meu pai mesmo quem disse. De que adianta sabermos de algo tão inútil se não fazemos idéia do que seja mesmo?

O dois concordaram. Prosseguiram para os outros cômodos, incluindo o de Draco ainda sem sucesso. Nem artefatos suspeitos apareceram, já que tantas revistas já haviam passado por lá antes do polêmico namoro.

Estavam prontos para desistir quando Hermione anunciou que Narcissa entrara na casa ou assim ouvira pela porta do cômodo onde estavam. Logo os dois outros confirmaram para desespero de Rony ao ouvirem a voz da mulher surpresa com a visita do filho.

-Ela está vindo! Temos que sair ou vai perceber, tenho certeza! - O ruivo levou as mãos à cabeça e olhou para Hermione.
-Tem razão. Vamos, Draco, acho que é complicado demais procurar o que não conhecemos.

Os dois já iam abrir a porta, tentando treinar a expressão de criados que deviam usar caso encontrassem com Narcissa pelo corredor, quando a voz de Draco os assustou.

-Esperem. Por que fugir agora que está tão divertido? Aliás, como fugir?

No mesmo momento a mulher de lindos cabelos loiros entrou no quarto correndo até o filho, preocupada com o motivo de sua presença.

-Eu só estava tentando atrair algumas presas, mamãe, - falou Malfoy, olhando bem nos olhos de Rony e Hermione.
-Sabia! - gritou Rony dando um soco na mão, - É claro que não se confia em um Malfoy. Espere só até minha irmã saber disso.
-Ron! Em vez de ficar todo feliz, devia estar pensando em fugir! - Hermione pegou sua varinha e estava pronta para aparatar quando tanto ela quanto o namorado foram desarmados pelo loiro. Não demorou muito para que uma corda mágica os envolvesse.

Narcissa riu-se, orgulhosa de sua cria:

-É bom saber que seu pai ainda o tem como aliado, filhinho.
-Claro, não tenho mais como usar Gina Weasley. Só me aproveitarei das boas graças do Diretor por enquanto, até papai realizar qualquer que seja o plano dele. Potter falou em controlar Dumbledore?
-Exato. Algo complexo que nem eu sei, mas que dará certo assim que eu lhe devolver o amuleto.
-Matamos estes dois?
-Draco! Ainda é tão inocente... Vamos prendê-los lá embaixo. Nunca se sabe quando precisaremos de cobaias. Acho que eu mesmo ando querendo experimentar este amuleto.

Os olhos de Ron e Hermione, que não podiam nada dizer por causa de algum feitiço lançado sobre os dois, seguiram mãe e filho até o outro extremo do cômodo onde se sentaram trocando amor familiar e saudades. O ruivo estava passando mal já com a cena quando Narcissa pegou uma sacola e logo souberam que era ali que estava o amuleto, longe do alcance de qualquer um. Como o recuperariam? Somente o dono poderia tirar o que pusesse ali dentro.

Draco sorriu ao enfim ver o que era o tal amuleto e pediu para a mãe para observá-lo com as mãos, mas ela negou, dizendo ser importante demais e que pensando melhor, preferia guardá-lo de novo como precaução em vez de perder tempo brincando com os amigos de Potter.

Saíram pela porta deixando os dois que se perguntavam o que fazer agora, antes que fossem presos onde Narcissa mencionara. Não demorou muito para o efeito do polissuco passar e o nó da corda revelar-se ainda mais apertado para ambos como se fosse sufocá-los. Quando tempo teriam até que os Malfoys retornassem? Nem sabiam por quanto haviam sido deixados só com a escuridão...

Olharam para a porta trancada do cômodo, tentando adivinhar pela luz que passava por baixo. Não demorou muito para sentirem que os sacolejos da luz significavam que alguém estava vindo, provavelmente para levá-los à prisão dos Malfoys. A porta se abriu e constataram ser Draco o algoz.

Ron começou a se mexer, obviamente querendo xingá-lo, mas a magia que usaram para que perdessem a voz ainda funcionava firme e forte para deleite do loiro apenas observando o outro sacudir e ficar bastante vermelho.

-Calma, cunhado. - Riu-se, pegando algo do bolso. Era o amuleto que viram Narcissa mostrar ao filho momentos antes. Ou pelo menos devia ser, com a pouca luz que vinha da porta, também era capaz de não passar de um truque de Malfoy.

Se fosse o real, não era nada além de algo parecido com um medalhão repleto de inscrições em alguma língua bruxa não mais utilizada, segundo o que Hermione pôde observar. Olhou desafiante para Draco, esperando o que ele tinha na manga.

-Exatamente, tô a fim de ver o quanto posso controlá-los. Sabe, conversei com tua irmã, Ron, no dia em que a ruiva me deu o fora. Partiu meu coração! Então, pensei, como será controlar todo mundo? Vendo este "amuleto", nome que ela mesma me ensinou que meu pai usa, sinto-me pronto a agir. Então, vamos começar por "finite incantatem"!

A corda logo se desatou e os dois sentiram que o feitiço "silencio" havia acabado, mas temeram dizer qualquer coisa até saberem qual o próximo passo de Draco. Hermione ainda olhou para sua varinha, mas hesitou. Tinha que distrair o outro para chamá-la de volta. Voltou a pôr os olhos em Draco, fazendo sinal que Ron também não tentasse ainda pegar sua varinha.

-Ué? O que estão esperando? - Draco andou até eles e pegou a corda, olhando-a fixamente.
-Já estamos controlados? - Rony perguntou, causando uma gargalhada no outro rapaz.
-Vocês realmente não confiam em mim, né? Que decepção. Já que estão enfeitiçados, carreguem-me no colo para Hogwarts, estou exausto e acho que minhas pernas ainda tão tremendo depois de eu catar o amuleto da minha mãe na maior cara de pau. Em teoria, estou treinando minhas novas cobaias.
-Carregá-lo? - Rony levantou as sobrancelhas.
-Ron! Draco estava mentindo, quantos anos até você perceber? - Hermione sorria aliviada. Como não considerou aquilo? Era tão óbvio que aquele era o motivo de Dumbledore chamar os três... Pegou de volta sua varinha e entregou a de Rony e olhando de volta para Draco: - Acho que você conhece uma forma rápida de sairmos daqui.
-Desaparatar, é claro. - Assim dizendo, sumiu dali, balançando vitorioso o medalhão.

No fundo, estava aliviado por Hermione ter acreditado que tudo não passara de encenação. Quando voltou ao cômodo onde os deixara amarrados, carregando o amuleto que pedira à mãe, não tinha certeza de como provaria que ainda estava do lado de Dumbledore.


Antes, quando sentiu a mãe se aproximar dali deu-lhe um estalo na cabeça e teve a certeza de que o amuleto estaria guardado na pequena bolsa que Narcissa usava raramente para esconder objetos incriminadores das rigorosas revistas. Daquele lugar, apenas o dono poderia tirar o que colocou, por isso, Draco nunca conseguiria pegar o amuleto. De início, achou que teria que roubá-lo assim que conseguisse vê-lo livre do esconderijo, mas notou que Narcissa devia estar doida para vê-lo em uso, mas não teria coragem de obedecer as ordens do marido de evitar usá-lo e de devolvê-lo assim que a poeira abaixasse.

Já em frente a St. Mungus, sentindo a brisa noturna dos últimos dias da primavera já estar quente anunciando o Verão sorriu. Logo apareceram Hermione e Rony cumprimentando-o pelo sucesso da missão. "Dumbledore tinha mesmo tudo planejado", pensou. "Se fosse qualquer outro professor acompanhando, teria percebido a farsa ou até deixado minha mãe mais alerta, mas sendo só duas crianças, foi bem fácil convencê-la que eu só queria me divertir com este amuleto".

-Agora, entregar ao Locker! - Rony anunciou, apontando para a entrada da enorme instituição bruxa.
-Dá vontade de usar isto aqui e forçar o playboyzinho fazer o antídoto... - Draco mostrou o terrível objeto.
-Você ainda não gosta dele?! - a menina perguntou, já caminhando para a entrada, - E se ele realmente curar a Gina?
-Ela está em coma agora, né? Será que vai funcionar?

Os dois viraram-se para o ruivo que, enfim, deixava as lágrimas rolarem.

-Coma? - perguntaram Draco e Hermione para a surpresa de Ron.
-Sim, Dumbledore me contou há uns dias... Não contou pra vocês? - O jovem olhava para baixo sem nem conseguir levantar as mãos para enxugar o rosto.

Hermione olhou direto para Draco enquanto abraçava Ron.

-Vai dar tudo certo, ou eu lanço uma cruciatus naquele curandeiro metido a médico trouxa! - O loiro gritou, segurando forte o amuleto e entrando em St. Mungus, onde Locker e Harry os aguardavam. - Não pretendo arcar com o funeral de uma Weasley ou dar apoio a essa família de quase falidos!

Os dois assentiram, seguindo-o. Imaginavam quando que Draco ia parar de usar o contrato como desculpa para seus sentimentos por Gina.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Draco chegou até o local indicado pelas pessoas do St. Mungus e esperou junto a Weasley e Granger que a porta se abrisse. Quando assim o fez, pulou para trás ao ver uma cabeça loiro se aproximar cada vez mais de seu rosto.

-Sua doida! O que tá fazendo?! - gritou com a corvinal amiga de Gina, quem não via desde tempos atrás.
-Por que a Luna...? - Rony apontou para a menina que lhe sorriu e procedeu a fazer o mesmo que acabara de fazer com Malfoy e logo depois repetiu-o com Hermione.
-Os Esqueriotos são bichinhos muito pequenos que se escondem no nosso rosto, os maiores até parecem cravos! - explicou-se, - Aí eu estava conferindo se havia algum. Entrem! Harry Potter e o senhor Locker estão logo ali esperando.
-O que faz aqui? - Draco perguntou, olhando para os dois que os esperavam.
-Ela soube que eu vinha pra cá e disse que ajudaria no antídoto. - O moreno levantou-se, caminhando até os recém chegados.
-Vai matar a Gina!
-Diga isso a ela. Não a mim. - Estendeu-lhe a mão. - O objeto; onde está?

Draco relutou. Devia entregar a ele ou diretamente ao curandeiro que observava a cena divertido. Escolheu por Potter a quem odiava um pouco menos. Quando pôs o amuleto nas mãos finas e pálidas do outro bruxo percebeu o quanto estava abatido e perguntou-se se não seria melhor ficar nas mesmas condições de Gina, isolado n'algum lugar.

Locker, ao receber o amuleto, admirou-o por largo tempo e explicou que devia ser algum objeto secreto de Artes das Trevas e que ficaria estudando durante toda a noite se preciso fosse, já que não parecia haver dados sobre o mesmo.

-Nós pesquisamos. - Harry apontou para uma pilha de livros que parecia estar sendo lida pelos três enquanto esperavam. - Para já sabermos o que esperar... Só que não tem nada como isso ali na lista que fizemos.
-Mas dá pra sentir o poder que vem dele. Me espanta Azkaban não o haver tirado de Malfoy. - Locker sentou-se na outra mesa, esta mais organizada e para apenas uma pessoa e passou a anotar todos os detalhes que observava. - Mas se realmente controla os outros, farei o antídoto em larga escala, todos devem tomá-lo.

Malfoy escolheu um assento na mesa maior e pegou um dos livros apenas para observar. Seu corpo estava exausto passada a tensão, um pensamento não lhe largava a cabeça: se Gina estava em coma, quanto tempo mais eles teriam? Espantou-se quando sentiu um toque gelado no ombro.

-Sei como se sente. - Potter sentara-se a seu lado.
-Peraí! Quer dizer que nos apóia? Gina e eu?
-Ainda não. - Mas abriu um sorriso. - Quer dizer que só vou quebrar tua cara se algo deixar a Gina triste. Antes, eu te mataria. Reservarei a morte como pena pro casa de *você* deixá-la triste.

Os dois ficaram olhando para a mesa, incertos quanto ao que dizer.

-Não vai brigar por ela? - Draco quebrou o silêncio.
-Hm?
-Digo, Gina me contou tudo; ela já se lembra que a culpa de tudo foi do meu pai.
-De que adianta brigar agora? Ela já te tem, né?
-Derrotismo justo do Cicatriz? Não o reconheço.
-Gosto muito da Gina; digo, eu a amo. E acho que este também é um motivo para deixá-la pra você, Malfoy. Porque eu a amo, estou dizendo adeus. Entende? Não, um sujeito cheio de sarcasmo não entenderia algo tão profundo.

Contudo, o loiro não respondeu à provocação. Talvez, porque ele entendia muito bem o que era dizer adeus no momento em que você mesmo mais precisa daquela pessoa. Ele o fizera um pouco antes, quando os dois conversaram no hospital, porque sua presença ali estava sendo dolorosa demais para a menina.

-Só que, enquanto eu gostar dela, - Harry continuou ao perceber que um novo silêncio se formava, - vou ficar de olho nos dois. Se bobear, Malfoy, perde pra mim.
-Se ela ficar bem, não vou mais largar. Não devo amá-la o bastante, né? - Riu-se. - Não consigo ficar tanto tempo longe. Mesmo que nada dê certo, quero ficar ao lado dela de agora em diante.
-É...

Os dois não se falaram nas próximas horas. Exceto pelos palpites constantes da Luna de aquele amuleto ser algum objeto feito por criaturas míticas, nem mesmo Hermione e Rony levantaram muito a voz. Não era falta de assunto; apenas tensão. Locker já anunciara que o que saísse dali não seria nada confiável; mesmo que testasse antes em Harry, como o próprio lhe pedira, ainda poderia não funcionar ou apresentar um efeito contrário na pequena Weasley, causando-lhe até a morte.

Os quatro se olhavam a cada segundo, como se algum fosse dizer o quanto mais demoraria, até que a exaustão fez com que Draco dormisse sem qualquer sonho. Trair sua família, descobrir o quão mal Gina estava e ainda ter que esperar por uma cura incerta ficaram longe de sua mente enquanto o corpo gritava por sentir total estafa. Todos seriam problemas com que teria de lidar depois que se recuperasse um pouco. Pensando bem, fazia tempos que realmente não dormia, imaginando se a ruiva sequer ainda vivia no mesmo mundo que ele.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Não sabia por quanto tempo ficara dormindo quando ouviu os gritos. Draco imediatamente pôs-se em postura ereta olhando para os lados já com a mão na varinha. Era Hermione quem parecia chorar, tentando dizer algo com a voz falha e gritando. Olhando melhor, parecia que o namorado da moça atacava outra pessoa segurando com força a roupa do outro. Locker? Ao fundo, a corvinal loira falava com algo na parede. Não, não devia ser nada. Draco decidiu ignorar o detalhe para montar seu quebra-cabeça, cuja peça final estava caída ao chão.

-Faça alguma coisa, ou eu te lanço uma maldição!- O ruivo estava quase jogando Locker em cima de Luna Lovegood, quando Draco pulou da cadeira em direção ao que estava no chão. Harry Potter sacudia-se, tremia; segurando a própria graganta como se houvesse tomado ácido.
-O que houve? - perguntou o loiro, incerto de que haveria alguém desocupado para respondeu. Olhou de novo para Potter e encontrou direto seus olhos verdes, sem foco, olhando-o através de si como se pedisse ajuda a Merlin ou alguma entidade de fora daquele mundo. - O que fizeram com ele!?

Draco correu para perto da cabeça do jovem e a segurou com força, pondo-a no próprio colo, enquanto observou que Granger, já exausta, parara de gritar e agora olhava para Luna sem realmente ver qualquer coisa. Tentou tirar as mãos de Potter de seu pescoço, pois parecia que aquilo doía, mas não adiantou. Ouviu, então, a voz a de Locker:

-Fique assim com ele! Não faça mais nada!

O loiro assentiu, começando a sentir tédio. Rony demorou ainda para parar seu ataque, fazendo-o apenas quando Luna deu um grito extasiado. Dissera que falou com um qualquerquesejaonomeéumbichodoidoquenãoexistemesmo e este lhe contara sobre uma fonte em qualquerquesejaonomeéumlugardoidoquenãoexistemesmo, cuja água tem o poder de curar qualquer doença. Rony ajoelhou-se no chão os pés de Harry e olhou exausto para baixo.

-Ele vai morrer, né? - Por alguma razão, fizera a pergunta a Draco.
-Err... - Malfoy abaixou os olhos para o rosto suado de seu antigo rival e deu de ombros: - Pela minha experiência, daqui a pouco está novinho em folha.

E, por alguma outra razão, o rapaz ainda lhe sorriu agradecendo pelas palavras. Então, engatinhou até a namorada e a abraçou, dizendo para confiar no curandeiro e no próprio amigo que era forte demais pra morrer daquele jeito. Lovegood havia voltado a olhar para a parede, provavelmente voltando ao seu assunto com o qualquerquesejaonomeéumbichodoidoquenãoexistemesmo.

Demoraram horas até que Harry parasse de tremer, e seus olhos voltassem ao foco; todavia, isso ainda aconteceu. Draco lhe sorriu aliviado; aquilo parecia dizer que o antídoto faria efeito. Tinha certeza de que Gina era ainda mais forte que aquela Cicatriz ambulante.

-Nossa, feliz por me ver, Malfoy? - perguntou-lhe, - Nada de abraços, hein?
-E eu tenho tempo? Locker, cadê a Gina?
-Espere, garoto! Talvez seja melhor pesquisarmos mais. E, da última vez que ouvi, a menina tinha tido algum ataque; não é a melhor hora.
-Se esperarmos, - interrompeu Rony, - minha irmã pode morrer a qualquer segundo, né? Foi o que Dumbledore disse quando a visitei!
-Ele disse? - Locker parecia tão surpreso quanto os outros.
-Gina piorou tanto assim? - perguntou Hermione.

Locker assentiu, observando seu antídoto de maneira hesitante:

-Por isso, aplicar-lhe isto agora pode ser fatal.

Draco levantou-se do chão, deixando que Potter batesse a cabeça ali e foi rapidamente até o curandeiro, já de olhos fechados, pronto para ser atacado novamente. Entretanto, para espanto geral, o jovem se ajoelhou:

-Onde ela está?

Locker abaixou a cabeça e sentiu que não havia mais como terem calma. Sorriu para os demais e apenas pediu que Harry ficasse descansando em algum leito de St. Mungus. Todos podiam ir salvar Gina. Deixando Luna e seu novo amigo, aparentemente invisível, conversando no escritório de Locker, todos seguiram para onde o homem ia com sua vassoura. Para enorme surpresa de todos, estavam de volta a Hogwarts, em direção à Sala Precisa.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

O loiro levantou os olhos e olhou para o homem que saía da misteriosa Sala Precisa. Tanto ele quanto Hermione estavam sentados no chão, enquanto Dumbledore e Locker entraram na sala para ministrar o antídoto na enferma. Só que isso fora muitas horas antes. Toda aquela ansiedade não deixara que Draco sequer cochilasse, ficando em silêncio durante todo o tempo a olhar para a parede por onde as pessoas poderiam entrar sempre que necessitassem de algo.

O tempo inteiro, Gina estivera ali, bem perto dele. Pensar nisso lhe trazia um pouco de alento, mas olhar para os rostos do diretor e do curandeiro estava longe de trazer essa mesma sensação. Todos estavam com olheiras, olhos quase fechando, e ninguém ousava proferir uma só palavra ao casal que os aguardava.

-Ron foi à enfermaria. Estava passando mal, - a menina disse.
-Nada grave, espero. - Locker falava lentamente, como se cada palavra pudesse matá-lo de exaustão.
-Bem, ficamos a noite toda acordados e já é quase madrugada de novo; acho que é por isso. - A morena suspirou, juntando mais as pernas dobradas no chão.
-Amanhã começa o verão, né? É uma linda noite... - Dumbledore andou até a janela e foi quando, refletidas pela lua, suas lágrimas ficaram nítidas.

Draco prendeu a respiração, como se aquilo pudesse fazê-lo voltar ao tempo, à noite fria de inverno, quando sem querer descobrira do infeliz destino daquela pessoa iluminada que era Ginevra Weasley. Queria nunca ter ouvido aquilo, nunca ter mandado o presente para Parkinson, nunca ter- A quem estava enganando? Aquela seria a vontade do Draco daquele dia, não do de hoje, tantas estações depois.

O atual, por algum motivo estranho, estava grato pela oportunidade de ter passado tanto tempo com ela e, no fim, nem queria ter feito aquele contrato e sim lhe pedido em namoro, sem nenhum outro; se não o de que gostava verdadeiramente dela. E como gostava daquela ruivinha.

Juntou suas últimas forças e levantou-se do chão. Olhando fixamente para Locker, que ainda não saíra da entrada Sala Precisa, perguntou-lhe:

-Como Gina está? - Porque a amava tanto, tinha que confiar na força que descobriu estar escondida nela naqueles meses. Tinha que saber, antes mesmo da resposta, que tudo correra bem. Mesmo assim, seu corpo agia sozinho: apertou bem forte o punho direito, sentindo a unha cravar na palma de sua mão.
-Ela não recebeu muito bem o antídoto... Eu estava pronto para aspirá-lo do corpo dela, quando notei que suas convulsões estavam fortes demais se comparadas às de Potter, mas o Professor Dumbledore me impediu.
-E aí? - A voz de Hermione estava ainda mais fraca que a de todos os outros.
-Não sabemos se funcionou... - continuou Locker, - Depois de muito tempo as convulsões pararam e ela começou a gritar de dor. E aí, após tantos outros efeitos, ela parou. Simplesmente, parou de se mexer
-Ela está viva? - perguntou Hermione, percebendo a falta de reação de Draco.

Draco expirou o ar que nem notara haver prendido. Na pior das hipóteses, o antídoto não surtira efeito. Era assim que queria pensar. Voltou os olhos para Locker, mas, antes de poder abrir a boca, ele começou a rir:

-Ela mandou dizer que não.

Os dois outros se olharam e viraram a cabeça para Dumbledore, tentando saber qual parte era verdade, mas o diretor apenas balançou a mão, mandando-os entrar na sala. Draco ainda considerou dar um soco naquele curandeiro fajuto, antes de perceber que as saudades da ruiva eram mais urgentes.

-Esperem! - Locker gritou, quando faziam seu pedido de ver Gina. - A menina me comentou que terminou com o namorado... Será apropriado vocês se verem agora?
-Terminou? Ah, foi isso que aquela pestinha te disse!? Pois vai se ver comigo! - Draco respondeu, ordenando que a sala se abrisse logo. -Eu sabia que ela tava a fim de me jogar fora pelo curandeiro, mas inventar uma doença mortal foi demais.

A porta se abriu e ele passou como se fosse um vendaval. Tudo aquilo fez com que Hermione voltasse a se encostar na parede, dizendo que preferia deixá-los a sós. Mas seu rosto estava encharcado de lágrimas.

Draco olhou para o quarto, percebendo uma mulher parada num dos cantos. Fez com que ela saísse e focou-se na cama, parecida com a do hospital de trouxas. Um corpo muito frágil, quase um esqueleto usando uma camisola estava deitado lá. Não olhava para o teto como da última vez em que se encontraram, contudo, seus olhos estavam tão apagados que seria menos triste se assim o fizesse.

-Gina! - O loiro forçou-se para manter a expressão brava. - Que história é essa que terminamos? Temos um contrato que dura seis meses e adivinha! Faltam ainda algumas semanas. E tem mais, lembro-me de que se você se curasse, ainda seria renovado! Um Malfoy nunca erra. Faço questão de cobrar aquela pequena multa que combinamos, ou prefere logo a quebra de contrato? Lembrando que, segundo uma cláusula sugerido por você mesma, a multa é três vezes o valor original no caso de traição.

Parou para respirar e olhá-la melhor. Não a coisa frágil que seu pai fez com que se tornasse, mas a menina linda que ainda via por trás daquele olhar vazio. Não, não vazio. Tinha ainda ali o brilho de Gina Weasley, o brilho de que ele tanto sentira falta! Resistiu ao impulso de abraçá-la, com medo de que aquilo lhe faria algum mal; então, apenas deu seu sorriso característico com uma pitada a mais de escárnio:

-Quando renovarmos o contrato, quero que a multa seja de cinco vezes se o cara for aquele maldito curandeiro. - Todavia, seu rosto já fora coberto por dois rios de lágrimas que caíam em contraste com o ainda sorriso.
-Eu estou melhor...
-Eu sei, sua boba! Tá na cara!
-Draco... - Estendeu o fino braço e roçou contra o do moço. Ela também chorava. - Não fique mais tão longe de mim.
-Não vou! Nem que me implore.
-Eu não me lembro do contrato. Tinha alguma multa pro caso de eu me apaixonar por você?
-Não, mas podemos pô-la para se você deixar de fazê-lo; o prazer será meu.

Com todo o cuidado, acabou por abraçá-la. Sentir seu cheiro, sua pele, seu corpo contra o seu era quase um presente que a primavera lhe estava deixando naquele último dia. A última flor a acordar do inverno, que lhe fora mais cruel do que com as demais, mas que, por isso, desabrocharia ainda mais linda e forte. Draco, mais que ninguém, tinha certeza daquilo!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Draco arrumava suas roupas com cuidado. Aquele era o fim de sua estadia de sete anos em Hogwarts e isso o deixava bastante nervoso. E que ano de despedida fora aquele? Devia ter envelhecido vinte anos só no último mês e sua pele estava horrível. Pelo menos, os últimos dias, sem dúvidas, compensaram por tudo e pôde rejuvenescer. Sua formatura fora perfeita, apesar de a mãe haver se recusado a falar com sua atual namorada e de seu pai não poder tão cedo pensar em sair de Azkaban com o escândalo estourado sobre a possibilidade de ter havia um objeto de Artes das Trevas em posse de um prisioneiro.

Não importava. Pelo menos, nenhum dos dois desconfiou de sua traição. Apenas acharam que fora levado refém por Rony e Hermione naquela noite, enquanto tentara brincar com o amuleto. Caminhou até a entrada da Casa de Grifinória e, sob o olhar de todos, ficou esperando até que a pessoa que realmente lhe interessava saísse. Não demorou muito.

Com uma bandana vinho que Harry Potter lhe comprara no dia seguinte à sua recuperação e uma bolsa enorme no colo, Gina apareceu, sendo levada por Hermione. O vestido branco de verão não ficara muito bem sobre sua pele ainda bastante pálida, mas dariam um jeito quando fossem à praia dos trouxas junto com o irmão dela e a namorada. Afinal, tinham todo o tempo do mundo.

Caminhou até as duas e cumprimentou o retrato da mulher gorda.

-Vocês se conhecem? - Gina perguntou, sorrindo para o namorado, não mais um aluno de Hogwarts.
-Digamos que tivemos bastante tempo para pôr o assunto em dia.
-Deixo-a contigo, Malfoy, vê se a põe direitinho no Expresso. - Hermione acenou para a menina e entrou de novo em sua Casa. Ela, o namorado e Potter haviam combinado qualquer coisa com um dos professores, Hagrid, antes de voltarem.

Draco bateu continência e pôs a mão no ombro de Gina, usando de apoio para rodar a cadeira em frente.

-Ei! Isso dói, - reclamou a pequena, pegando sua varinha para fazer o objeto virar. Em breve, seria a única cicatriz do que aconteceu na última primavera: o fato de suas pernas não mais se mexerem. Infelizmente, fora impossível curar o mal que a Arte das Trevas lhe causara.
-Que tal me levar de carona?!
-Só se você usar sua magia para mexê-la; não quero me cansar com o teu peso morto.
-Oooh! Mas agora que eu me formei terei taaaaaanto tempo livre, sabe? Não seria bom já ir treinando para agüentar meu peso agora? Assim que chegarmos em casa, vamos fazer algo muito parecido.
-Não me importo com seus pensamentos pervertidos, apenas não se esqueça de que não estou indo para a casa que sua mãe te comprou.
-Mas não tínhamos combinado!?
-Depois da formatura.
-Que foi ontem.
-Da *minha*.
-Quêeeeeeeeeeeee? Isso não é justo, Gina!
-Ah é?! E cadê o meu presente?
-De quê?
-Oras, já passaram tantas vezes de me dar presente que é inacreditável que ainda me pergunte de quê. Devo te lembrar que, com o nosso contrato renovado, cada vez que você me aborrece vale-
-Ei. Chega de contrato.
-Como?
-Digo, esse treco já tá velho. Por que não fazemos logo outro?

Gina parou, observando temerosa o sorriso do moço caminhando a seu lado.

-Um de núpcias! - completou ele.
-Nem morta me chamarei Gina Malfoy.
-Ginevra. A professora McGonagal que me disse.
-Mantenho minha palavra.
-Mas assim nunca vamos nos casar!
-E, novamente, só penso fazer em algo assim depois da formatura. A minha.
-Mesmo se eu considerar adotar o sobrenome Weasley?

Os olhos da garota brilharam em uma cor estranha, o que fez o loiro tremer. Ainda tentou dizer que era uma piada, mas antes que pudesse fazê-lo, já estava sendo derrubado no chão pela nova técnica de ataque que a ruiva adotou: pulo de corpo inteiro suicida-homicida; utilizada sempre para atacar o pobre herdeiro do clã dos Malfoys. Caídos ali, vendo a cadeira ainda andar sozinha por mais alguns metros, olharam um para o rosto do outro e se sorriram:

-Olá, ruivinha.
-Quando nos casamos?
-Quando você aceitar que ninguém adota nome nenhum.

Ouviram os gritos dos professores que o Expresso de Hogwarts partiria em cinco minutos e se beijaram. Ainda que não fosse um beijo de despedida, fora tão intenso quanto um, mas também quanto tantos outros que dariam dali para frente. Afinal, outra flor estava florescendo, mas esta nunca, nem por um segundo, titubeara no frio do inverno em que nascera ou na triste primavera em que desabrochara com tanta força como se fosse sua última. Afinal, Aquela fora sua primeira primavera entre tantas outras que a flor que aqueles dois cultivavam teria.

FIM!

"unmei to deai to shitte itara
motto zenryoku de koishiteta no ni...
anata dake e no LOVE SONG
mou ichido aitai
SAYONARA no LOVE SONG

Se eu soubesse que você era o meu destino
Teria te amado ainda mais com todas as minhas forças...
Uma canção de amor apenas para você
Quero te encontrar mais uma vez
Minha canção de amor de adeus"
(Maki Goto - Sayonara no Love Song)


Anita, 07/01/2008

Notas da Autora:

Aaaaaai! Faz tanto tempo que não termino uma fic longa que quase me esqueci de escrever "fim", acreditam? Fiquei emocionada demais. Bem, não que é este seja realmente o fim, já que temos ainda um oitavo capítulo com cenas extras. Nada demais, podem ignorar!

É meu costume agradecer a todos os que me mandaram comentários sobre esta fic, mas não o farei hoje porque foram muitos! Eu tava reunindo os nomes e notei que não tive o mínimo controle disso e muitos e-mails podem ter se perdido. Perdões!! Mas fica expressa a minha vontade de agradecer nominalmente a cada um, né?

De qualquer forma, agradeço meeeeesmo a todo mundo, mesmo os que nunca se expressaram. Cada comentário recebido me deu uma nova força para ir em frente e nunca desistir! E mais: fazia tempo que eu não recebia tantos comentários pelas minhas fics, talvez desde a Um Coração que Ressurge Por Você ou mesmo antes... Valeu T__T

Bem, já os meus agradecimentos especiais começam pela Miaka_ELA que tanto me incentivou desde o início! Ela foi a primeira leitora da maioria dos capítulos, por isso, eu a escolhi para primeiro agradecer, claro ^^ Não se esquecendo da capa liiiinda! Depois, ao Felipe com quem debati as idéias da fic no início, igualmente à Vane, com quem perdi o contato, mas é inegável que ela tenha me ajudado a pôr todo o enredo em ordem. É claro que destruí muito dessa ordem sucessivas vezes, então também peço desculpas ^^;; E à Nemui-senpai *__* Obrigadaaaaaa!! Por que a ênfase? Bem, graças a ela você leram os dois últimos capítulos. Perceberam a demora que houve entre o 5 e o 6? Escrevemos juntas nossas fics, de certa forma, uma dando empurrões pra outra terminar e se reportando à nossa comunidade para mais incentivos. Obrigada!! Graças a isso tenho um slot livre hehe (que já ocupei também graças a você xDD)

Este é o final. Muito mais alegre que o dos meus planos no dia em que bolei tudo. O Draco sofreu tão pouco né? o.Ô Fui boazinha demais... Mas é isso!

Aos curiosos, baixem ou comprem essa música que me guiou. A cantora anda afastada da mídia, nem sei se vai voltar, mas é minha música favorita da Maki Goto, Sayonara no Love Song (sim, é japonesa pra variar... sou maníaca!). A idéia do contrato, se não me engano, veio de um drama coreano chamado Full House (realmente acho que foi, faz tanto tempo), estrelado pelo cantor Bi (ou Rain).

Comentários? Sugestões? Bater papo? Críticas? Mandem para [email protected] gostou? Leiam mais fics minhas no Olho Azul: http://olhoazul.here.ws recentemente reformado *_*

Continuará...

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