Capítulo 5



5


Sala Comunal das águias, tarde de sábado.

-Dothy, você sabe onde eu posso encontrar algum anuário de Hogwarts?

Tariq e Dorothy encontram-se sentados à mesa com rolos de pergaminhos e livros abertos espalhados por uma das mesas de estudos do salão. E o repentino interesse de Tariq pegou a garota de surpresa.

-Anuário? -Dorothy levantou o rosto para encarar Tariq. -O que isso tem haver com seu trabalho sobre as pedras da lua?

-Bom... Na verdade... Nada. -Respondeu sem jeito e voltou para sua pesquisa sobre as pedras da lua e sua utilização.

Dorothy ainda ficou observando Tariq por um tempo, viu que estava com as bochechas vermelhas depois da pergunta fora de contexto. Não tinha intenção realmente de respondê-lo daquele jeito, mas aquele hamster maldito estava tirando a garota do sério! Além de não ter conseguido transformar o ratinho todo em uma pluma, teve que o levar como trabalho de final de semana para a comunal... O que incluía também dormir com o infeliz guinchando na gaiola em cima de sua cabeceira, acordar com o focinho do dito empinado pedindo comida e, a parte mais degradante, limpar a gaiola.

Em sala havia ao menos conseguido fazer com que o rabo de seu hamster se transformasse numa singela pena que balançava de lá pra cá, mas agora... Nem isso! Aquilo estava realmente tirando Dorothy do sério.

E Tariq vinha com uma pergunta totalmente aleatória que nem teria algo haver com o trabalho extra que fazia. Em aula ele tinha tirado seu hamster da gaiola simplesmente para brincar com o bicho e quando a professora McGonagall lançou seu olhar fuzilante seguido de um comentário, o rapaz o soltou na mesa acertando em cheio o transformando em pluma. Alias, foi uma bela pluma branca, a mesma que agora usava para escrever sobre as pedras da lua.

Deixou seu hamster um pouco de lado e voltou a encarar o amigo ao relaxar na cadeira de madeira e costas altas.

-Se Hogwarts tiver um, onde mais poderia estar senão na biblioteca?

Tariq levantou o rosto para a menina dando um sorriso logo em seguida como agradecimento.

-É uma idéia... -Respondeu recostando-se também em sua cadeira. -E se não estiver na biblioteca... Pode estar na sala do diretor?

-Ou não existe. Que eu saiba essa é uma tradição muggle, certo? Será que Hogwarts adotou esse costume deles?

-Não sei, mas se quero um anuário daqui só posso saber se existe se eu procurar não é?

-Sim, mas para quê você quer o anuário de Hogwarts? O que pode haver de interessante em ver o retrato de alunos antigos?

-Achei que poderia encontrar alguém lá... -Tariq olhou seu trabalho e todos os livros abertos sobre a mesa. A maioria deles eram livros que tinha pegado na biblioteca. -Chega dessas pedras lunáticas por hoje! -riu fechando os livros. -Vou dar uma volta na biblioteca, vem comigo Dothy?

A menina olhou surpresa para Tariq e logo em seguida decepcionada para o ratinho que bebia água na gaiola sobre a mesa. Tariq compreendeu.

-Concentração. Seja clara e objetiva. Se você quer, então você vai transformar esse hamster em pluma. Faça como McGonagall ensinou, limpe a mente com a certeza que você quer. -Dorothy encarava Tariq cética. -E não se esqueça do movimento com a varinha. -E o fez para que a garota visse todos os detalhes. -Você tem a tarde toda e se precisar de mim estarei na biblioteca. -Disse as últimas palavras juntando os livros apressado e já caminhando na direção da passagem da comunal.

-Fala como se fosse o professor! -gritou a tempo dele responder um ‘vamos considerar que seja assim’. -Tá... É fácil pra você dizer isso... -murmurou voltando sua atenção para seu hamster marrom.




Quando chegou na biblioteca sua primeira tentativa foi Madame Pince. A bibliotecária deveria saber de cór e salteado que tipos de livros tinham naquela biblioteca e quais os livros que tinham lá. Seguindo suas instruções ele devia estar no corredor onde se guardavam os anuários de Hogwarts então começou a procurar pelas lombadas dos livros. Não sabia se aquela idéia poderia servir de alguma coisa, afinal vários Gryffindors se formaram no mesmo ano que sua mãe e achar que encontraria o pai baseado numa fisionomia que nem sabia se era a certa, era utópico demais. Quando menor, e até ali, ouvia as pessoas o bajulando dizendo que era muito parecido com a mãe, que tinha seus olhos e era lindo como ela. Já sua mãe deixou escapar uma vez que ele tinha o rosto do pai, então se a intenção era se basear em aparências Tariq teria um trabalho minucioso de horas a fio na biblioteca, sem falar que seria como dar tiro do escuro. Mas ainda assim teria que continuar.

-Formandos de 1978... É esse! -Puxou um dos livros grossos da prateleira.

O livro era revestido com as cores vermelho e adornos dourados, as cores típicas da casa dos leões. Na capa o emblema de Hogwarts timbrado abaixo do ano ao qual se referia e apesar da espessa camada de pó, lia-se bem o ano datado “1978”. Abriu o livro e começou a lê-lo ali mesmo de pé. Ao que parecia aquele ano não foi apenas mais um ano de vitória para os Gryffindors, havia muito mais em seu contexto histórico do que imaginava.

Enquanto caminhava em direção a uma das mesas de estudo, Tariq lia as palavras da canção do chapéu seletor naquele tempo. Voldemort estava no poder, seus comensais torturavam, matavam, mantinham pessoas sob o feitiço império... Fatos que interferiam na escola de fora para dentro, afinal Hogwarts era segura, mas toda segurança também é falha. Haviam alunos infiltrados, alunos que aderiam aos ideais de Voldemort; não listavam nomes, apenas citava a dificuldade de se fazer real o conceito de vida em conjunto, sob uma época de terror entre pessoas de idéias e concepções tão diferentes. Havia os partidários de Voldemort, os de Dumbledore, que de um modo ou outro trabalhavam em prol do sucesso da Ordem da Fênix; tinha também aqueles que apoiavam Dumbledore, mas que não consideravam errada de todo as idéias de Voldemort... E aqueles também que apoiavam Voldemort por medo... E sem esquecer uma minoria que não apoiava nenhuma das partes.

Tariq lia concentrado o prefacio do anuário sem se dar conta de que estava parado entre um cruzamento de prateleiras.


-Consegui! -Alguém vibrou atrás do garoto o trazendo de volta à Hogwarts de 1993 em plena encruzilhada das altas prateleiras da biblioteca. -Consegui Tariq! Olha que lindo! -Corou quando foi abraçado e viu um braço balançando uma pena acinzentada em frente seus olhos. Riu. Aquela voz só poderia ser de uma pessoa. Quando foi solto girou sobre os calcanhares para encarar a garota de cabelos cacheados que dava saltinhos de alegria chamando a atenção de todos na biblioteca, inclusive Madame Pince que logo veio a passos apressadíssimos pelo corredor mais largo daquele cruzamento.

-Senhorita Stuart! Um ultraje! Serei forçada a tirá-los daqui se continuarem esse escândalo em minha biblioteca. -Dizia se aproximando dos dois alunos gesticulando bastante.

-Oh, Madame Pince, mil perdões, não voltará a acontecer. -Dorothy respondeu se apressando em esconder a pena atrás das costas e sendo teatralmente gentil com a mulher.

-Assim espero mocinha. Da próxima não haverá desculpas nem lamentos, serão os dois fora daqui. -A bibliotecária saiu depois de vê-los assentir, deixando bem claro que ficaria de olho nos dois.


Os dois ainda ficaram calados vendo a bruxa se afastar até dobrar uma esquina. Tariq olhou para Dorothy pronto para lhe dar uma bronca, mas ao encarar o rosto ansioso da amiga, os grandes olhos azuis brilhando e as sardas salpicando todo seu rosto, deixou a bronca de lado dando vez ao que a amiga tanto queria lhe falar.


-Olha! -Ergueu novamente a pluma.

-Você conseguiu? Que bom, parabéns. -Sorriu genuíno.

-E também quase conseguiu te matar de susto né? -Eric se juntou a eles. -Mais um pouco e eu já estava vendo Tariq tendo um ataque do coração. -Riu.

-Pára de exagerar Eric! E você o que conseguiu? -Voltou-se para Tariq vendo o grande livro em suas mãos.

-O que eu estava procurando. -Olhou o livro e mostrou sua capa para os amigos.

-O que você quer com os formandos de 1978? -Perguntou Eric passando o dedo na capa tirando um lasco de poeira acumulada. -Tem algum asmático por aí?

-Foi quando minha mãe se formou. -Respondeu caminhando até uma mesa, sendo seguido pelos amigos.

-Só pra isso?


Tariq olhou pra Dorothy como se perguntasse o que mais ela esperava.

-Eu achava que você fosse investigar algo realmente grande, algo sobre a misteriosa Câmara secreta...

-Pelo que sei da história, Tariq teria que voltar uns quarenta ou cinqüenta anos atrás e se concentrar nos Slys da época. -Comentou Eric enquanto Tariq folheava o livro maneando a cabeça.

-E de preferência nos descendentes de Salazar Slytherin, não é? -Tariq perguntou olhando as fotos no livro.

-Por aí... -Eric respondeu vendo Dorothy armar um belo bico contrariada.

-Meu interesse é mais pessoal. -comentou Tariq. -Quero saber quem é o meu pai e o que aconteceu com ele. -Tariq olhou de relance para os dois amigos, principalmente Dorothy que pareceu ter prendido o ar e arregalado os olhos de um jeito esquisito. -Não conheci ele e minha mãe fala muito pouco sobre. Sei que era um Gryffindor e que se formou no mesmo ano que ela. E só.


Continuava passando as folhas do anuário.


-Não seria mais fácil procurar um registro de casamento?

-Sim Dothy, se eles fossem casados.

-Ow. -A menina ficou vermelha de vergonha enquanto Eric maneava a cabeça.

-Ahn... Minha mãe contou que ‘casaram’ num solstício... Beltane. Não existem documentos provando...

-E sua certidão? -cortou Eric. -Deve ter um registro...

-Não consta paternidade. -Respondeu Tariq. -Tentei começar por aí... mas não consta paternidade no meu registro e quando eu pergunto, ela apenas me responde que sou filho da deusa... -explicou pensativo olhando fixamente uma foto no álbum lembrando-se das mil e uma respostas que a mãe já havia lhe dado, mas nenhuma realmente esclarecedora. Lembrou-se também das vezes que desconversavam.

-Sua mãe tem rancor dele? -Dorothy o tirou de seus pensamentos.

-Parece que sim. -Respondeu e apontou a foto que observava no álbum. -Conheçam minha mãe, dona Wyrnie Samhain... -Os outros dois se aproximaram mais para ver a foto de uma adolescente sorrindo com algo de prepotência, os olhos extremamente verdes brilhando intensos de um jeito que Tariq nunca havia visto. Havia uma vida diferente neles que não lembrava em nada aquela que lhe dedicava.


-Você parece com ela. -Comentou Dorothy debruçada sobre o livro.

-Eu sempre ouço isso... -Murmurou Tariq enquanto Dorothy pegava o livro nas mãos para ler os detalhes abaixo da foto.

-Clube de duelos? Nota máxima no NOM’s e a segunda maior dos NIEM’s?... Tariq, sua mãe é um auror? -Perguntou com certo espanto. Tariq apenas assentiu.

-Agora está explicado o pequeno gênio aqui. -Comentou Eric rindo. -Você aprendeu tudo com ela antes de vir para Hogwarts, não é?

-Não... -Balbuciou Tariq com o rosto vermelho até as orelhas e puxou o anuário de volta pra si abrindo na página dos leões. Contemplou perdido as duas primeiras páginas fazendo o silêncio cair entre os três.


-Em média 30 Gryffindors se formaram junto com ela. O jeito é anotar e investigar esses nomes. -Dorothy falou baixo quase com medo de quebrar o silêncio que estava na biblioteca.

-Como? -Sussurrou Tariq de volta. Estava entretido olhando cada foto daquelas páginas.

-Com pena e pergaminho. -Sorriu a garota.


Tariq e Eric olharam para ela com cara de quem não acreditava no que haviam escutado já que não era comum Dorothy rir deles assim. Eric se incumbiu de olhá-la pedindo que fosse mais clara.

-Bom... vai ser trabalhoso porque não conhecemos toda a história deles, não é? Mas um ou outro... Vamos eliminando até que não possamos mais.

-Brilhante... vamos ter um duro trabalho mesmo... -Comentou Eric descrente.

-Tem uma idéia melhor Eric? Temos que descartar quem estava morto na data de Beltane de 1981, e saber quem nunca poderia ter deixado descendentes. É só o que me vem na cabeça agora.


Eric maneou a cabeça negativamente, mas se limitou a esse gesto. Não tinha nada a acrescentar, nenhuma idéia melhor mais convincente que pudesse usar ali.


-Vamos Dothy, me diga o que sabe. -Pediu Tariq estendendo o livro para a menina.


Dorothy olhou as páginas e apontou a primeira foto. Um rapaz bonito, de óculos, sorriso sincero, com um pomo de ouro que vez ou outra sobrevoava a cabeça, e observava outra foto ao lado. -Potter. -Começou. -Esse nome é bem famoso. James potter, pai de Harry Potter. Você conhece a história, não?

-Acho que sim. Está no livro de História da Magia. Morto por aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

-Sim, por ‘Ele’. Possibilidades de ser seu pai? Nenhuma. -Respondeu antes de Tariq abrir a boca e apontou a foto que o jovem James olhava. Uma jovem de cabelos ruivos que sorria e ruborizava quando olhava a foto de James. -Lílian Evans, mais tarde adotou o sobrenome Potter. Permaneceram escondidos durante um bom tempo e morreu no mesmo dia que James, na noite de bruxas, protegendo o único filho, Harry, que hoje apronta na Cova dos leões abrindo Câmaras Secretas


-Não acredito que seja ele, mas tudo bem. Quem mais você conhece a história?

-Peter Pettigrew. Morto há doze anos por um maluco comensal chamado... Sirius Black. -Apontou a foto no início dos Gryffindors. Um jovem moreno de cabelos longos e escuros, sorriso perfeito e maroto, ostentava uma aparência nobre. Logo abaixo da foto vinha seu nome seguido de boas indicações em NOM’s e NIEM’s, mas nenhuma carreira promissora. -Vindo de família puro-sangue e seguidores declarados ‘daquele’. Agora pasme Tariq, essa é a parte bizarra da história dos Potter. Sirius Black era o melhor amigo de James Potter, Lílian Evans e Peter Pettigrew. -Contou forçando um suspense teatral apontando cada uma das fotos enquanto falava seus nomes. Tariq permaneceu calado pensativo.


-Matou o amigo e traiu os Potter?

-Exatamente.

-Frio e calculista? Merlin... que nenhum desses seja meu pai. O que aconteceu com Black?

-Preso. -Respondeu Eric que até o momento permaneceu como ouvinte. -Em Azkaban desde que matou Pettigrew. Provavelmente já está morto, ninguém sobreviveria àquela prisão.

-Então já eliminamos um bom número com essa saga.

-Na verdade, não Tariq. -Dorothy suspirou. -Só estou me baseando no fato de que Potter não trairia Lílian, que Petter Pettigrew fosse um Gryffindor muito boboca e que Black fosse um santo com essa cara. Potter no dia 31 de outubro, Black e Pettigrew foram tirados de cena no dia 1º de novembro.

-E no quê isso muda? -Perguntou Eric impaciente.

-Bom... pra você em nada, mas se você sabe como os bebês nascem vai entender que para o Tariq nascer tudo tem que acontecer em Maio e não em Outubro. -Rebateu com uma pontinha de raiva transparente nas bochechas vermelhas e nos olhinhos inquietos. Os dois rapazes desviaram os olhares constrangidos. -Tariq, alguns aqui constam data de óbito, acho que podemos eliminar alguns... Quando você nasceu?

-E-eu? Ahn... Fevereiro. Dia 7... ano de 1982.

-Então você é aquariano? -Sorriu Dothy.


Eric e Tariq trocaram olhares como se não entendessem nada do que ela dizia.


-Se você é de 82 e segundo sua mãe, é filho da deusa, indica que foi concebido no sabá de Beltane, sua mãe era a deusa? -Tariq deu de ombros. -Bom, vou anotar os formandos que estavam vivos até 1º de maio do ano de 1981 e vamos ver o que descobrimos deles. -Dorothy falava sem se importar se os dois garotos acompanhavam ou não o que dizia. O fato é que 20 minutos depois ela estava com uma lista de metade dos formandos de Gryffindor num pergaminho.


Entre esse tempo Eric se limitou a um comentário.

-Os grandes gênios sempre foram considerados loucos quando vivos.

-Espero não descobrir isso quando ela estiver na mesma situação deles. -Sussurrou para o amigo e Dorothy deixou um sorriso discreto escapar.




Continua...


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