AMAR, VERBO INTRANSITIVO

AMAR, VERBO INTRANSITIVO



Só no dia seguinte Gina se lembrou que não tinha entregado os presentes dos seus amigos. Enviou-os por corujas com pequenos bilhetes pedindo desculpas, e esperando que eles gostassem. No mesmo dia, recebeu os presentes dos amigos, que também estavam alterados demais para lembrar de entregar os presentes.

O de Alex foi o mais inesperado: um pequeno pingente em forma de pentagrama dourado. Harry parecia ter adivinhado, pois deu-lhe uma fina corrente de ouro. Os dois eram trabalhos delicados e deviam ter custado caro, pelo que ela conhecia de jóias, e Gina queria agradecer a ambos pela atenção, embora sentisse vergonha demais do moreno.

“Por que eu não consigo me dar bem com os dois ao mesmo tempo? isso é totalmente injusto! E eu ainda tenho que me sentir usando-os, não é?!”

Hogwarts ainda estava branca da neve que caía intermitentemente. Os alunos passavam muito tempo entre acaloradas guerras de bola de neve ou nas salas comunais, jogando Snap Explosivo ou Xadrez. Gina não sabia o que era pior: ficar na torre, fugindo da companhia de Harry, ou tentando despistar Draco Malfoy.

O loiro a perseguia por todos os lugares, o que a estava deixando definitivamente com medo. Por alguma razão que ela desconhecia, não tinha dito a ninguém que surpreendera o garoto espionando-a. Ela procurava nunca estar sozinha fora da Grifinória, mas nem mesmo Alex podia estar com ela em todos os lugares.

- É divertido infringir temor em seres inferiores. – Gina ouviu-o dizer, em sua voz arrastada, quando descia para o Salão Principal numa tarde fria.

A ruiva seguiu em frente, pretendendo ignorá-lo. Ele desceu rápido os degraus da escadaria de mármore e barrou o caminho dela.

- Devia saber que eu detesto ser ignorado, Weasley. – sibilou, o rosto bem próximo ao dela. Gina recuou. – Onde estão seus amiguinhos? Não a tenho visto sem algum deles como guarda-costas há séculos. Cheguei a pensar que não queria a minha companhia.

- O que você quer? – ela procurou encará-lo. Os olhos cinzentos dele brilhavam de malícia. Analisou-a de cima a baixo. Gina desejou que ele não fizesse isso.

- Quanto você cobra?

O rosto de Gina pegou fogo e ela recuou mais, tropeçando e caindo. Malfoy ofereceu-lhe um sorriso maldoso.

- Como você é estúpida! Pensa que eu iria querer me sujar com você?! Não sonhe tão alto, Weasley. A queda é feia.

- S... s... saia daqui! – “Por que essa voz idiota tem que tremer?”

Os lábios do sonserino alargaram-se e ele aproximou-se dela. Gina encolheu-se.

- Se você encostar um dedo nela, vai se arrepender. – uma voz grave soou do alto da escada e a ruiva suspirou aliviada. Malfoy endireitou-se e olhou com profundo desprezo para o moreno que descia de dois em dois degraus.

- Estou de olho em você, “aprendiz de Avalon”. – ameaçou e partiu para o Salão. Gina acompanhou-o com o olhar, horrorizada. Só percebeu que Harry sentara-se ao seu lado quando ele a abraçou.

- Aquele cretino fez algo a você? – perguntou, sentindo as mãos trêmulas da garota agarrarem-se a ele. Com carinho, procurou tranqüilizá-la. Beijou-lhe o alto da cabeça em afeto, acariciou suas costas. – Me desculpe, Gina. – murmurou perto do ouvido dela. - Eu não deveria ter deixado você sozinha.

- Você não tem culpa, Harry. – a ruiva garantiu virando o rosto vermelho para ele. – Malfoy está me perseguindo há séculos. – ele virou-se para ela, fazendo seus narizes se tocarem e sorriu.

- Eu sei.

- Como assim? – ela franziu a testa.

- Bem, não sei exatamente, mas já previa... – Gina podia sentir o hálito fresco do rapaz em sua bochecha. “Se alguém nos pegar aqui, estamos encrencados...” – Afinal, você está tendo aulas com a Profa. Lake, portanto tem grandes chances de ser a descendente de Avalon, não é mesmo? E o meu trabalho é proteger você.

Se ele queria agradá-la, fracassou. Gina desvencilhou-se do bruxo e encarou-o desapontada.

- Trabalho? Isso é um trabalho para você? Como uma tarefa? Uma obrigação?

Harry enrubesceu.

- Cl... claro que não, Gina. Que absurdo! O que eu quis dizer é que você é minha amiga, e meu dever é proteger os meus amigos. – levou a mão para tocar o contorno do rosto dela e disse num sussurro. – Eu nunca precisei de desculpas para cuidar de você.

Gina sorriu e pôde ver o brilho dos seus olhos refletidos nos dele.

“Como ele pode ser tão maravilhoso?!”

Atônita, viu que os olhos dele ficavam cada vez mais próximos e que a boca dele roçava a dela.

“Isso é o certo, garota... É tudo que você sempre quis...”, dizia uma vozinha dentro de sua cabeça.

“E o Alex?... Você é mesmo vulgar, Virgínia Weasley!... Engana os dois...”, uma segunda voz, enérgica, exclamou, espantando-a.

- Não, Harry. – colocou a mão nos lábios dele. – Por favor, não. – pediu, fixando os olhos castanhos nos do bruxo e afastando-o com delicadeza.

- Voc... você não quer? – ele perguntou, rouco e desapontado.

Gina suspirou. Isso ia ser difícil, mas não poderia mentir.

- Durante anos, foi o que eu mais quis. – ele recolheu os braços e afastou-se um pouco. Sorriu triste.

“Agora vou perceber os sentimentos de todos os garotos que beijo?... Oh, Merlin!”

- Eu a magoei... Entendo...

- Você não me magoou, Harry... Mas a vida muda, e a minha tem mudado num ritmo alucinante. – ela tomou a mão dele e beijou-a. – Você é a pessoa mais doce que eu conheço, e merece alguém que se doe como você se doa. – Gina não acreditava que aquelas palavras saíam de sua boca. “Eu estou renunciando a ele, é isso?”

- E se eu decidir que essa pessoa é você, Virgínia?

- Você nunca me chama assim. – ela sorriu.

- O que eu preciso fazer para ter você de volta?

- Você nunca me teve, Potter. Não seja presunçoso!

- É o Brandon, não é? – isso a pegou desprevenida.

- Alex?... O que é que tem ele?

- Vocês se gostam. – Gina sorriu e abaixou a vista, fitando os dedos enlaçados deles. A mão de Harry aquecia a sua e era grande o suficiente para escondê-la.

- Não sei... Eu sempre quis você, mas agora não sei mais... – ela ergueu os olhos sérios para ele. – Preciso de um tempo, você pode me dar esse tempo, Harry?

O rapaz ficou um longo tempo observando-a, decorando os detalhes do rosto da garota à sua frente.

- O quanto você precisar, Virgínia. – a ruiva sorriu. – Mas não a deixarei mais sozinha.

- Gosto de ouvir você falar meu nome. – e levantou-se, puxando-o para almoçar.


Esse fato ocorreu poucos dias antes do ano novo, de modo que ela teve sossego por um tempo, mas sabia que o sonserino a vigiava de longe, embora ela estivesse tão ocupada com a preparação da Poção Perceptius que, desde essa tarde, nunca mais esteve sozinha em público.

O Natal havia passado, e isso significava que Gina teria muito o que fazer: seus deveres de casa, as aulas com a sacerdotisa, sua decisão sobre os NOM’s e, claro, a Poção. Agora, ela não podia mais ficar adiando.

Antes do feriado, Sianna havia incumbido Alex de ajudar a garota com os preparativos da poção. Encontrar os ingredientes e ajudar a prepará-los fez com que os dois passassem horas juntos.

Gina queria muito conversar sobre Alex e Sianna, mas sentia que seria desconfortável e Alex percebia isso. A garota rodeava o assunto, sem coragem de trazer ao amigo lembranças dolorosas. Ela queria falar, mas não achava o momento apropriado. Mas, como ela veio a descobrir, momentos apropriados não existem, só podemos manter os momentos que compartilhamos verdadeiros. Esses tornam-se decisivos para nossa vida.

- Que tal termos um estoque reserva para o caso de a primeira tentativa sair ruim? – sugeriu o corvinal quando separavam as setas-de-elfos.

Decidiram montar o caldeirão numa sala vizinha à sala de Astronomia porque haviam elegido a sala de teto transparente o seu cantinho. Quando as coisas pareciam excessivas demais, eles refugiavam-se ali, vendo estrelas cadentes e as estrelas que, apesar da chuva e da neve, apareciam cada vez mais brilhantes.

- Pode ser. Essa poção tem ingredientes espalhados por tantos lugares, que é melhor tê-los de reserva. Ah, eu escrevi a Carlinhos e ele vai me mandar o sangue de dragão.

- Ótimo! – ele exclamou e virou-se para organizar os vidros na prateleira que conjurara, dando a Gina a oportunidade de admirar o perfil concentrado do amigo.

“Ele quer ser mais que um amigo... Será que estaria me ajudando de soubesse o que esteve acontecendo?... Harry... Alex... Por que eu não posso ser simplesmente livre?... Por que amar não é fácil?..”

- Alex, o que você acha do Harry? –mal tinha as palavras saíram da sua boca e a ruiva se arrependeu. Os olhos do loiro voltaram-se arregalados para ela.

- Como assim? – ele franziu o cenho. – O que isso tem a ver?

- Nada, Alex... Eu apenas pensei alto...

O garoto hesitou, depois disse.

- Acho que ele é o bruxo mais sortudo que existe. – suspirou e murmurou, voltando-se para os vidros de ingredientes. – Eu o invejo profundamente.

Foi a vez dela estranhar.

- Por que?

- Porque ele tem tudo que eu mais queria. – o tom amargo assustou Gina. - E eu sequer posso lutar para conquistar o que eu quero.

- Alex, você poderia olhar para mim, por favor. – a ruiva pediu, numa voz baixa. “É agora... Torne fácil para nós dois, ok?...”. O loiro virou-se lentamente e encontrou os olhos castanhos. – Foi sua mãe? Por que você não pode tentar ser feliz?

- Porque sou um assistente da Senhora do Lago, jurado a ela. – ele foi direto. – Não importa se ela é minha mãe, ela deve agir para o benefício da comunidade, e eu devo seguí-la.

- Mesmo que disso dependa a sua felicidade? – Gina estava chocada.

- Mesmo que minha vida dependa disso. – ele informou, seco. Não havia brilho nos olhos verdes de Alex quando ele continuou. – E ela tem planos para você, Virgínia, mas eles, infelizmente, não me incluem.

- Planos? – agora ela estava assustada. – Que tipo de planos?

- Não estou autorizado a contar. – ele largou os vidros que estivera etiquetando e encaminhou-se para a porta. – Você poderia chamar Hermione para continuar com você hoje? – ele levantou os olhos para ela e Gina viu angústia dançando por eles.

- Alex, me perdoe. – pediu, aproximando-se. – Eu não queria... Por favor...

- Não se preocupe... – ele disse com a voz embargada. - Vou ficar bem, só que... hoje... Pedirei a Hermione que venha até você... Não podemos deixá-la sozinha... – e sorriu triste para ela, abrindo a porta e deixando-a tão aflita quanto confusa.


De todas as bobagens que Gina Weasley fez na vida, sempre colocava a conversa com Sianna Lake em um dos primeiros lugares.

Ela não esperou Hermione para ajudá-la. A única coisa que passou por sua cabeça foi saber quem brincava com sua vida e porquê.

Quando deu por si, estava batendo na grossa porta de carvalho da sacerdotisa, bradando o nome da professora. Sianna espantou-se com a fúria no rosto da aluna.

- Algum problema, Virgínia?

- Todos os problemas, Srta. Lake! – exclamou alto demais na opinião da mulher. – Posso saber quais são os planos que a senhorita e não sei mais quem têm para mim? Será que posso ao menos ser informada? Ou vão jogar comigo como se eu fosse uma peça de tabuleiro?

A garota ficava cada vez mais vermelha e sua voz mais alta e rápida. Ela ofegava e não dava tempo de resposta.

- Eu quero ter a chance de escolher! Ouviu bem?! Ninguém pode saber o que é melhor para o outro... Como você pode controlar as pessoas assim? Você acha que está cuidando delas?

- Menina, acalme-se!... Quem...? – Gina a interrompeu, agitada.

- Como você pode tratar seu próprio filho dessa maneira horrível? Você sabe o que ele está sofrendo? Faz a menor idéia?

- Ah, compreendo... – um brilho faiscou nos olhos azuis da sacerdotisa e foi então que Gina se arrependeu de ter ido até lá. – Alex, naturalmente...

- Ele a ama, Sianna. – a ruiva falou, em tom mais baixo. Respirou fundo para se controlar. – Ele a ama muito. E você não pode ser negligente com ele.

- Alex é meu filho, Virgínia, mas não posso descartar o que o Poço Sagrado diz. E Ele diz que é preciso que alguém da linhagem real de Avalon una-se a alguém do mundo exterior. São os desígnios da Deusa.

- Mas a Deusa pode estar errada... – ela disse, largando os braços em sinal de cansaço. – Ou podem ter interpretado errado... Por favor...

- Bem, se é assim que você pensa... A Deusa tem modos misteriosos de agir, você descobrirá quando for a Avalon que...

- Não sei se quero ir a Avalon. – Gina desafiou. Sianna olhou-a preocupada.

- Gina, você está cansada e foi influenciada por sentimentos pequenos. Tente ampliar seu pensamento para o mundo como um todo, com...

- Como a senhorita faz quando está com o Prof. Lupin? – a garota a interrompeu novamente, desafiadora.

Os olhos de Sianna escureceram. Ela respirou fundo antes de continuar.

- O que eu faço não lhe diz respeito, mocinha. – disse quase num sussurro.

- Pois o mesmo digo eu! – Gina virou-se impetuosamente e saiu correndo dali. Notou, e nem precisava ter a Visão para isso, que acabara de colocar seu melhor amigo numa bela enrascada.

Durante o jantar, viu Alex entrar cabisbaixo, e sentar-se sozinho na ponta da mesa da Corvinal. Em nenhum momento ele ergueu os olhos do prato, comeu rapidamente e saiu do salão sem falar.


Hermione ajudou bastante nos vários dias que Alex demorou para se recompor, mas não era a mesma coisa. Alex tinha mais jeito com as ervas que os alunos de Hogwarts pouco conheciam, e isso atrasou a fabricação da Poção. Gina não queria perturbá-lo, por isso deu o espaço que o amigo precisava. Ele estava livre para cumprimentá-la ou não, para falar com ela ou não.

“Se ele nunca mais olhasse para mim seria bem feito... Que falta de tato, Virgínia!...”

Gina contou à amiga a bagunça em seu coração, e Hermione procurou animá-la. Elas aproveitavam para colocar as novidades em dia. Foi assim que a ruiva descobriu que o relacionamento de Mione com Rony estava bem intenso...

- Então quer dizer que o passeio de Natal foi bem proveitoso, Mione? – disse, numa zombaria.

- Gina!! – corou. – Pára com isso! Um dia vai acontecer com você... aliás, - a monitora sorriu maliciosamente. – Fiquei sabendo sobre aquela noite também.

- Ah, é? – Ela perguntou, olhando para baixo. – E o que, por exemplo, você ficou sabendo?

- Que vocês se beijaram... – Hermione observou a reação da garota. Gina desviou o olhar, mexendo nervosa as mãos. - E que você saiu correndo... o que aconteceu, hein?

- Se eu soubesse, te contaria... mas eu não sei, são tantas coisas... quer dizer, foi muito bom, você sabe... Harry é muito... hum... especial para mim... eu sempre sonhei com aquilo, mas... meu coração está dividido...

- É o Alex, não é? Você gosta dele. – ela disse, como se fosse óbvio.

- Bom, é, eu acho! Não sei, Mione, deixa isso pra lá, vamos continuar lendo isso! Vai, onde paramos? Ah, Sangue de Dragão... auxilia a visão e potencializa a poção... – Mione apenas olhou-a, suspirou e voltou a ler sobre como utilizariam o sangue de dragão.

As aulas com Sianna ficaram irremediavelmente prejudicadas pela discussão e a garota não conseguia mais concentrar-se. A sacerdotisa tentava argumentar, falar com ela, sem sucesso. Gina lembrava-se da tristeza no olhar de Alex e não podia perdoar.

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N.A.: Então, pessoas, por enquanto é isso. Postei vários capítulos juntos pra compensar a minha demora! Faltam poucos capítulos agora. Espero começar a postar a continuação dela pouco depois de terminar de postar ela!!! Comentários são sempre bem-vindos e valorizados! Obrigada! =)

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