Sacrifício



Capítulo Onze
Sacrifício


_Rony, quer nos matar? _Harry perguntou.
_O que vocês estão fazendo?
_Acabamos de descobrir que pode haver algo nesses postulados que se refira às horcruxes.
_Pode haver, Harry? É claro que há! _Disse Hermione, eufórica, consultando seus livros e anotações.
_Ah... _Disse ele, pegando o exemplar de O Poder daquele-que-não-deve-ser-nomeado. _Veja isso.
Harry reparou, em letras maiúsculas o título: PORQUE O NOME DELE CONTINUA A SER TEMIDO.

Tom Servoleo Riddle continua a ser conhecido pela alcunha de você-sabe-quem não somente por provocar sensações mais obscuras e proibidas nas mentes de qualquer bruxo ordinário, mas também por ser a personificação do mal. Aquele bruxo suficientemente destemido que resolveu demonstrar seus sentimentos, mesmo que eles sejam por demais de sórdidos.
Desta forma, ao não pronunciarmos seu nome, estamos negando interiormente que seríamos capazes de façanhas semelhantes as suas e ...
_Isso é uma porcaria! _Disse Rony, enojado. _Parece que o cara que escreveu é apaixonado por Tom Riddle ou algo assim... Será que não foi escrito por Snape?
_Rony, acho melhor termos mais cautela ao falar de Snape... _Disse Hermione, que agora olhava para os dois.
_Não, não devemos. Ele matou Dumbledore e isso é tudo que importa. _Contrapôs Rony.
_Não há nada que vá mudar esse fato, Hermione. _Disse Harry, muito sério.
_Vocês são muito limitados, sabiam? _Perguntou a garota. _Nem tudo é como parece...
_Mione, entenda, neste caso, não tem como não ser. _Disse Rony. _Mesmo que seja chato pra gente entender, Dumbledore não está vivo como Sirius.
_Eu não disse isso... _Falou a garota, misteriosamente, voltando às suas anotações.
_Harry, acho que a Mione não vai terminar com isso tão cedo... Quer ir falar com papai e os outros? Estavam procurando por você há pouco...







_Harry, estivemos pensando se você não tem nenhuma pista de onde possa ficar o esconderijo de Tom Riddle. _Disse o Sr. Weasley.
_Na verdade tenho poucas, mas sei que fica próximo a Hogwarts. Foi o que ouvi dizer... _Harry respondeu.
_Acho, que como temos um grande número de aliados agora, deveríamos tentar agir mais ao invés de apenas esperar que eles tentem invadir Hogwarts. Entende?
_Eu também acho que é melhor... _Respondeu Harry. _Mas realmente não sei de muita coisa.
_Harry, Rony, vocês não querem ver o Asafugaz? _Hagrid perguntou, puxando os dois do grupo de ex-funcionários do ministério.
_Ah, Hagrid, ainda não terminamos com eles! _Disse o Sr. Weasley.
_Deixe que os garotos relaxem, Artur. _Disse Hagrid.


Quando Harry e Rony chegaram à cabana de Hagrid, contudo, eles não encontraram Bicuço.
_Sirius esteve aqui, pessoal. _Disse ele, em sussurros.
_Então, você também já sabe? _Perguntou Rony, sem emoção.
_Claro, claro, Mcgonagall já havia me dito, mas eu ainda não podia acreditar até vê-lo, ele levou Bicuço. _Disse Hagrid, colocando uma chaleira cheia de chocolate para esquentar.
_Não disse para aonde estava indo? _Harry perguntou, preocupado.
_Não, está muito misterioso, sabem? Acho que está tramando algo. Pediu pra eu entregar esta carta pra vocês. _Falou segundos depois, pondo chocolate em três chícaras. E entregou a carta a Harry.

Harry,
Já sei de tudo que está havendo no castelo, e não poderia estar mais satisfeito. Por acaso não pude comentar com você à altura da festa de natal, mas uma moça que eu vi entrar no castelo acompanhada do Sr. e Sra. Weasley, por acaso ela se chama Annie Karlson?
Estou bem e com Asafugaz. Logo estarei de volta, por enquanto estou na localização da fortaleza de Voldemort. Sei o quanto essa informação é importante.
Cuide-se,
Snuffles
O chocolate, apesar de muito grosso e doce, estava melhor do que a maioria das refeições que Hagrid se dispunha a preparar.
_Mais uma pessoa esteve por aqui... _Disse Hagrid, ficando vermelho.
_Quem? _Perguntou Rony, curioso.
_A Madame Maxime. Ela... Ela queria que eu fosse com ela para a França. Sabe como é, ajuda-la com a escola...
_E o que respondeu? _Harry perguntou.
_Bom... Confesso que depois da morte de Dumbledore esta escola já não tem a mesma importância, sabem... Mas eu sinto que tenho que defender esta escola até o fim, para ser leal a Dumbledore. Mas ela já deixou seu apoio incondicional a Hogwarts. E, talvez, quando tudo isto estiver terminado, poderei passar umas férias com ela.
_Como conseguiu trazer aquele gigantão, Hagrid? Ele está na floresta proibida? _Rony perguntou, bebericando seu chocolate.
_Ah, é a Dróin, quase tão pacífico quanto Grope, sabem? Ele está hospedado nas montanhas, com meu maninho, ela é fêmea, rapazes.
_Quase não tem diferença...
_Porque esta está muito maltratada, mas as gigantas costumam ser muito vigorosas e mais bonitas que os machos.
_Sei... _Suspirou Rony, incredulamente.
_E a Hermione, onde está? _Perguntou Hagrid.
_Ah... Estudando. _Harry disse, muito rápido.
_Estudando, hein? _Perguntou Hagrid, com a testa enrugada. _O que estão tramando dessa vez? Não os tenho visto muito por esses dias no castelo e...
_Hagrid, como vão as aulas? _Rony perguntou, com falso interesse.
_Ah... Não muito boas, garotos. Com a evasão de tantos alunos, não me sobraram mais que dois. Mas tenho dado a eles umas boas aulas sobre plantas carnívoras... Querem dar uma olhadinha na Giselda?
_Giselda? _Harry perguntou, surpreso e um tanto apreensivo.

Hagrid largou a chícara sobre a mesa e foi até um jarro de barro, colocado a um canto, na parede. Uma planta de cor azulada, com um caule muito grosso e cheios de espinhos e uma espécie de enorme boca com dentinhos afiados, cortava o ar com mordidas.
_Ela está um pouco excitada com tanto movimento lá fora. Muito sensível, a Giselda. Tem me feito uma ótima companhia desde que Canino morreu, sabem? Eu ainda não perdôo aquele Macnair por isso...
_Felizmente ele ainda está preso. _Disse Harry. _Eu espero que não saia de lá tão cedo.
E então alguém bateu na porta, Hagrid foi muito depressa abri-la e Harry deparou-se com o professor Wodja lá do lado de fora, tremendo dos pés à cabeça.
_Oi, Hagrid, posso entrar?
_Ah, claro que sim... Claro que sim... Tenho certeza que conhece muito bem o Rony e o Harry, não?
_Sim, muito bem. _Disse o rapaz, em um sorriso cheio de dentes alvos. _Rony é meu aluno, um ótimo aluno, por sinal. Já Harry é um dos aurores da escola, um dos melhores, devo dizer.
Harry ouviu Rony resmungar sua antipatia pelo professor assim que teve seu nome mencionado.
_Por acaso tenho jogado com o Weasley, um ótimo goleiro.
_Só porque o outro time era muito ruim... _Disse Rony, ainda com antipatia.
_Nada, Weasley. Você tem sorte e táticas únicas, sabia? Se tivesse um pouquinho mais de confiança e mais treino, tenho certeza que poderia jogar até na seleção.
_Tá falando sério? _Perguntou Rony, muito mais amistoso.
_Claro que estou... Tenho um grande amigo meu, ex-técnico do Chudley Cannons, sabe? Ele ainda tem muitos conhecidos por lá... Se estiver interessado posso indicar seu nome para uma seleção.
_CLARO QUE ESTOU INTERESSADO! _Berrou Rony. _Ah... Mas quando tudo isso estiver terminado...
_Sem problemas. _Disse ele, aceitando de bom grado a caneca de chocolate que Hagrid lhe oferecia.
_O Wodja é um grande amigo e adora o Asafugaz, infelizmente, professor, um amigo meu o levou para um passeio.
_Ah, sim, posso entender. O animal estava muito preso. Harry, estava pensando se não gostaria de almoçar em Hogsmead.
_Almoçar em Hogsmead? _Harry questionou.
_É, eu vou almoçar lá hoje, e estive pensando se não gostaria de me fazer companhia.
_Meio-dia no Três vassouras, ok?





Hogsmead estava totalmente vazia, exceto pelos aurores e vendedores, quando Harry chegou no três vassouras. A única mesa ocupada era a que estava o professor, com uma boina verde sobre a cabeça, luvas e um casaco de couro.
_Que bom que veio, queria conversar com você. _Ele disse, entregando o menu a Harry.
_Uma cerveja amanteigada e um sanduíche de atum.
_Finalmente alguém resolveu aparecer. _Disse madame Rosmeta, recebendo o mesmo pedido do professor Wodja.
_Então, Gina me contou o que aconteceu...
Harry não respondeu. Estava muito incomodado naquela situação. Ele já adivinhava que o professor iria falar sobre esse assunto, e não queria debatê-lo ali.
_Se sentir pouco confortável... _Disse o professor, desconcertado.
_Eu acho que não quero falar sobre algo meu com você em um bar, mesmo que a Gina tenha lhe contado tudo. _Disse ele, exasperado.
_Potter, você tem que se acalmar. O que parece é que está com os nervos a flor da pele a todo o momento. Relação nenhuma sobrevive a isso.
Mas uma vez ele não respondera, achava que era um ultrajem ser aconselhado por aquele quase estranho. Ele saber de grande parte de sua vida.
_Soube que Dumbledore tinha uma grande importância para você... Eu mesmo fui um aluno muito próximo ele quando estudei em Hogwarts. Era um grande amigo, sabe? Tenho certeza que ele lhe aconselharia a agir de uma forma mais ponderada.
A lembrança de Dumbledore causou um certo sentimento de vergonha e arrependimento em Harry. O que Dumbledore diria se o visse naquele momento? Tratando um dos professores de Hogwarts da forma mais grosseira?
Madame Rosmeta os serviu. Harry pegou o sanduíche e mordeu, para que assim tivesse uma desculpa para não responder às perguntas dele.
_Ok, Harry, se permite dizer, o que eu acho, como professor de poções, é que a influência dessa poção em seus sentimentos foram ínfimas. Não iria fazer nenhuma diferença se você já não tivesse certa disposição para gostar da Gina.
_Ela me disse isso...
_Então acredite, acredite.
_Eu acredito, só não sei se quero voltar a confiar nela, como eu confiava antes.
_Eu sei que será difícil. Mas é sempre bom dar uma segunda chance a alguém, era o que Dumbledore dizia, não era?
_Era...
_Gina me contou o quanto ele era importante para você, e agora que você não tem mais ele para lhe dar bons conselhos, ao menos tente pensar o que ele lhe diria, e tenho certeza que não seguirá pelo caminho errado.
_Ela me enganou... Enganou-me durante muito tempo.
_Pense como se fosse ela. Gina não tinha mais nada a fazer. Deixe suas reservas, Harry. Dê uma segunda chance a ela. Um rapaz como você precisa de uma garota com um gênio dela. Forte, perspicaz.
Ao que Harry não disse nada, o professor terminou sua refeição, e colocando algum dinheiro sobre a mesa, disse:
_Espere, ela já está para chegar, e então poderão conversar melhor.

Harry passou muito tempo decidindo-se se iria ficar ou partir. Mas ele sabia que de modo algum deixaria aquele lugar. Era importante para ele, revê-la. Por mais que ele estivesse chateado, ele sabia que não estava verdadeiramente magoado, que queria dar uma segunda chance a ela. Dizer que a perdoava. No entanto, quando a menina adentrou o lugar, vestida em um casaco branco, ele revestiu-se de arrogância e impaciência.
_Ainda bem que esperou... _Disse ela.
_Eu já estava indo embora, queria só terminar de comer. _Falou secamente.
_Não acha que devíamos conversar? _Perguntou, convidativa.
_Não faz a menor diferença pra mim.
_Ok. _Disse ela, sentando-se. _Talvez ainda nos reste conversar sobre aquela noite, sobre o voto.
_Se quiser finalmente me contar o que aconteceu lá...
_Eu sabia que o voto não daria certo. Porque você estava sob a poção, mas eu queria que você acreditasse que daria. Aquela não era uma pedra d´ara de verdade. Era uma pedrinha comum que eu transformei pra ficar parecida. E naquela poção, só havia algumas ervas pra você ficar tonto e ter... Ter alucinações amorosas.
_O que?
_Eu li sobre aquelas ervas num dos livros que a Mione trouxe pra toca, sobre história da magia. No Egito Antigo as mulheres geralmente usavam estas ervas para confundir os parceiros... Algo assim.
_Parabéns, porque eu fiquei totalmente confuso. _Ele disse, zangado. _Então não teve nada naquela noite?
_Nada... Eu só queria de que de alguma forma você se sentisse preso a mim. _Ela disse, cabisbaixa.
_Você é maluca, sabia? _Harry perguntou, exasperado.
_Eu era maluca. _Disse Gina. _Se estou te contando tudo isso é porque não quero basear mais nossa relação em mentiras. Não pense que isso me fazia bem...
_Mas você fingia muito bem. _Harry disse, ainda para desforrar.
_Pronto, já lhe disse tudo.
_Não tem mais nada que você tenha escondido?
_Já disse que contei tudo, agora a decisão é toda sua. _Ela disse, fitando-o com os olhos azuis.
Não havia como pular essa parte. Era a hora que ele deveria se acalmar, dizer algumas coisas e finalmente aceita-la de volta. Era o que ele realmente queria. Toda a tensão instalada no mundo bruxo o fazia deseja-la ainda mais, como um calmante.
_Se você, pelo menos uma vez, tivesse me dito seus sentimentos...
_Você não pareceu gostar quando eu te enviei aquele cartão, no dia dos namorados.
A visão da confusão que houve àquele dia, o fez rir. E era assim que ele queria continuar.
_Se você me prometer que nunca mais irá me esconder nada...
_Eu prometo, Harry, claro que prometo. _Ela disse, segurando as mãos do garoto. _Se quiser, podemos fazer um voto e...
_Não, chega de votos. _Ele continuou, rindo.
Harry passou o resto da tarde ao lado de Gina, conversando e visitando os pubs desertos de Hogsmead. Agiam como simplesmente nada tivesse acontecido, e na verdade, Harry evitava ter de mencionar tudo o que acontecera novamente. Fora algo realmente incômodo, mas que poderia ser relevado, com a promessa que Gina lhe fizera de não voltar a mentir ou esconder-lhe nada.
Quando os dois retornaram para a escola, tremendo de frio, encontraram uma algazarra. Pessoas conversavam e discutiam em vozes altas. Pessoas que nunca pertenceram ao ministério também resolveram que deveriam acampar ali, como Fred e Jorge.
_Gina, Harry... Aceitam uma poção esquentadora? _Perguntou Fred.
_Não, chega de poções por hoje. Ok? _Gina disse para os irmãos. _Deixaram a loja?
_Aqui há muito mais clientes que no Beco Diagonal, vamos para aonde vendemos mais, maninha. _Disse Jorge, enrolado em um cachecol felpudo e engraçado.
_Conseguiu fazer o que tinha de fazer, Harry? _Fred perguntou.
_Ah, desculpem... _Disse Harry. _Eu nem agradeci, a mochila que vocês me deram foi muito útil.
_Não vai falar nada das pílulas? _Jorge perguntou, arteiro.
_Ah... Um cardápio um tanto exótico, diria. _Disse Harry sem conter uma risada ao lembrar-se da comida que conseguira com as tais pílulas.
_Precisando estamos aqui! _Fred falou, irônico.


Ainda restavam guirlandas espalhadas pelos corredores de Hogwarts. Filch parecia cada vez mais rabugento, porque agora, os terrenos da escola estavam repletos de pessoas sem nada a fazer além de comer e beber, sujando tudo. Assim que os dois chegaram no salão comunal, encontraram Rony e Hermione com expressões fúnebres. Havia alguns alunos, como Neville, a perambular pelo dormitório. Ele parecia um tantinho surpreso que Harry e Gina já estivessem juntos novamente.
_O que foi que aconteceu? _Harry perguntou, pesaroso, para os amigos.
_Ela não quer me dizer... _Rony falou, chateado.
_Não é nada que você comeu? Porque se foi eu tenho uma ótima erva que... _Tentou Neville.
_Não, Neville, não é nada que eu tenha comido. _Disse Hermione, com os olhos vermelhos.
Neste momento Luna Lovegood adentrou o salão, com borboletas voando em torno da sua cabeça. Usando um vestido violeta cheio de bolinhas brancas e os cabelos presos em duas tranças douradas.
_Luna, que diabos...?
_Ah, é um feitiço que o meu pai me ensinou, muito legal, né? _Perguntou ela, as borboletas agora ziguezagueavam ao redor dela. _Quando eu estou feliz, ansiosa ou com algum sentimento positivo elas aparecem, têm sido uma boa companhia pra mim, agora que quase todos os alunos da Covirnal deixaram a escola. Os poucos que ficaram, não querem falar comigo... Simplesmente dão as costas e...
_E isso é motivo pra você estar feliz? _Rony perguntou, confuso, e tentando abocanhar uma das borboletas com a mão esquerda.
A mão do rapaz simplesmente passou por entre o corpo do inseto, feito de uma fumaça suave e perfumada.
_Bom, não, acho que não... _Disse a menina, fitando-o com interesse. _Mas é que eu estou feliz porque falei com a diretora e ela permitiu que eu ficasse aqui, com vocês.
_Nossa, que emocionante... _Zombou Rony.
_Seja bem-vinda, Luna. _Disse Gina, abraçando a garota. _Pode ficar com uma cama no nosso dormitório, pode ficar com a cama da Patil.
_Ah, que legal. _Disse a menina, depositando uma mala que trazia às mãos no chão. _Houve alguma coisa, Hermione?
_Nada, Luna... _Respondeu a garota, enxugando uma lágrima.

_Ah... Mione, podemos conversar? _Pediu Harry, quando Gina foi levar Luna até o dormitório das meninas.
_Vamos para aquele lugar. _Pediu Rony, olhando desconfiado para Neville.
A menina levantou muito pálida, e seguiu com eles para a sala precisa. A sala estava simplesmente repleta de papéis e rascunhos jogados ao chão.
_Ela tá assim desde que terminou com essa pedra aí. _Disse Rony. _Ficava resmungando, não pode ser, não pode ser, não pode ser...
_Mione, o que foi que você leu? _Perguntou Harry, segurando os ombros da garota, que estava cabisbaixa.
_Não foi nada... Só que... Bom, acho que... _Ela sacudia a cabeça, nervosamente.
_Me diga, Hermione, por pior que tenha sido. _Exigiu Harry. _Eu tenho o direito de saber, estamos nessa juntos, não estamos?
_Eu não vou dizer, Harry. _Disse a garota, baixando a cabeça. _ Eu não vou dizer porque sei que fará uma loucura quando souber.
_Leia a pedra pra mim, Mione. _Disse ele, ainda tentando manter-se impassível. _Se você não fizer isso, eu mesmo darei um jeito de traduzi-la.
_Eu não tenho coragem... Não tenho, não vou deixar que você faça uma loucura! _Disse, cobrindo o rosto com as mãos.
Rony suspirou impacientemente. E então pegou uma folha do chão, entregando-a a Harry. A menina tentou tira-la das mãos dele, mas era tarde demais, Harry já estava lendo-a.

Horcrux:

Utilizada há muito tempo, desde os primórdios, para a divisão da alma de outrem ou da própria alma, é realizada com um feitiço, igualmente arcaico, e é um dos feitiços mais arraigados e dificultosos da Magia Negra. É totalmente dotado de forças das trevas, e não se aconselha, de modo algum, que venha a ser realizado, a não ser em casos extremos, mas,mesmo assim, sem perdão.
Primeiramente deve haver um assassinato premeditado. O bruxo que se predispuser a realizar uma horcrux de sua alma, deve ter consciência no momento do assassinato de alguém, sobre a causa que o levou a cometer tal ato. Silabando um a frase maldita.
Em segundo, deve-se escolher um objeto ou ser vivo que abrigará um pedaço da alma desejada, chamando-se assim horcrux.
A utilização de objetos sempre foi mais comum, em todas as épocas, principalmente quando a horcrux era realizada por bruxos medíocres e vis. Qualquer objeto, desde que tenha forma sólida, por se tornar perfeitamente uma horcrux, talvez por isso a delicadeza em descobrir-se horcruxes. No entanto, algumas características interessantes, e a utilização de alguns objetos especiais poderá elucidar a questão. Esta é a forma como temos destruído muitas horcruxes, e consequentemente bruxos das trevas.
No momento exato que for se realizar o assassinato, o bruxo das trevas deve manter em sua mente, a causa deste. E, em seguida, utilizar o feitiço de criação de uma horcrux sobre o ser ou objeto que lhe desejar utilizar. O feitiço, que deve ser realizado com uma varinha de fibra e muito potente, utiliza a pronúncia de um feitiço. O que, eu e meus companheiros, acreditamos que aconteça é que, com o assassinato de alguém nestas condições, parte da alma do bruxo assassino, desprenda-se e seja alojada em sua varinha. No momento que o mesmo bruxo utiliza-se do feitiço de repartição de alma, este naco irá consequentemente alojar-se no objeto ou ser ao qual ele foi utilizado. E, o bruxo assassino só poderá ser morto, no dia em que sua horcrux for destruída. Alguns bruxos, especialmente os mais mancomunados com as Trevas, preferem fazer mais que uma horcrux, mas na verdade três. Chegando, um de meus maiores rivais, a elaborar cinco delas. O que o torna cada vez mais forte e difícil de vir a se exterminar.
Sobretudo em animais, cheguei a presenciar dois deles, utilizados como horcruxes. Um gato negro, no Egito Antigo, e um unicórnio, tornando a horcrux ainda mais impura. Contudo, é uma prática mais dificultosa. E mais suscetível a erros. Um animal pode simplesmente mover-se, e o pedaço da alma vir a perder-se no chão. Portanto, costuma-se utiliza-los muito raramente. O gato utilizado viveu mais de trezentos anos, só sendo destruído por mim. Isso prova que os animais utilizados como horcruxes, não possuem morte natural, mas só pode findar-se por meio de uma destruição específica.
No caso do unicórnio, algo interessante aconteceu, no momento que o feitiço das trevas o atingiu, formou uma espécie de raio em sua fronte. O bruxo referido, simplesmente perdeu seus poderes, sendo facilmente apanhado e morto assim que exterminamos o unicórnio...

As anotações de Hermione terminavam neste exato momento. Harry sentiu que poderia cair desacordado naquele mesmo instante. Parecia simplesmente que o mundo havia parado. Seu coração batia muito forte. E ele imaginou se em seu corpo não estaria embrenhado um pedaço da alma de Voldemort, se ele mesmo não era uma horcrux. Hermione agora soluçava, enquanto Rony parecia tão pálido quanto Harry, o garoto acompanhara o amigo na leitura silenciosa.
_H-Harry, deve ser coincidência... Só pode ser isso...
_Não é coincidência, Hermione. _Harry falou, muito sério. _Tudo aconteceu do jeito que está descrito aqui. Ele matou meu pai, pensando em fazer a horcrux, e hesitou em matar minha mãe, porque simplesmente não precisava dela e, além disso... Se ele suspeitava destes postulados, deveria querer que ela terminasse o trabalho, para saber mais sobre Magia Negra, pra saber mais sobre as horcruxes. E então, resolveu fazer uma horcrux de mim, já que eu poderia ser seu rival mais tarde. Uma grande jogada, não? Eu só poderia matar ele se estivesse morto, e se morreria não poderia matar ele... Todo este tempo que me protegeram, fizeram a coisa que Voldemort mais desejava... Ele não deve ter tido tempo pra usar aquela taça da lufa-lufa como horcrux, e quando soube da profecia, simplesmente achou que era a melhor coisa a fazer.
_Mas Harry, por que ele sempre quis te matar? _Perguntou Rony, ainda muito pálido.
_Ora, iria ser estranho se ele não quisesse, né? Afinal, perdeu seus poderes por minha causa... E, ele pode ter até achado que o feitiço não deu certo, que eu não virei uma horcrux, essa deve ser a maior dúvida da vida dele...
_E por que ele perdeu os poderes? _Rony questionou.
_Eu não faço idéia... _Disse Harry, angustiado.
_Acho que foi por causa da proteção que você tinha, era como a que o unicórnio possuía. _Disse Hermione, engolindo o choro.
_Vocês sabem o que têm que fazer, não é?
Harry sentia de repente uma vontade louca de rever os pais, rever Dumbledore. Parecia que o sacrifício que faria, não seria tão pesado já que o diretor também havia morrido. Ele, pela primeira vez, desejou que Sirius não tivesse saído daquele arco.
_Tenho que achar aquela maldita fortaleza... Quando eu destruir a Nagini, eu vou deixar que eles me matem... Então vocês e os outros devem procurar Voldemort, em todos os lugares, e acabar com ele.
_VOCÊ ESTÁ LOUCO, HARRY? É CLARO QUE VOCÊ NÂO VAI FAZER ISSO!!! _Disse Hermione, alucinada. _ Escute, não vale a pena...
_Eu posso ficar vivo enquanto ele estiver, a não ser que alguém resolva me matar... Isto pode durar centenas de anos... Eu nunca iria querer vê-los morrer enquanto fico vivo graças a ele. Se a gente demorar demais, ele vai descobrir que já sabemos de tudo... Vai fazer novas horcruxes, será que não entendem?
_Harry, eu não terminei com a pedra, ainda tem algumas linhas... Pode haver algo de importante...
_Mione, eu não quero esperar. _Disse o garoto, sentindo o sangue esquentar. _ Quero chegar até Nagini... Quero destruí-la, entendeu? Antes que seja tarde demais, que os comensais resolvam voltar do deserto e contar que me viram lá a Voldemort.
_ Harry, pode ser que isso nunca aconteça. _Disse Rony, tentado ser positivo. _Pode ser que eles nunca deixem a deusa gostosona...
Hermione mostrou-se muito paciente por causa da ocasião, e até tentou sorrir. Mas todos os sentimentos possíveis passavam pela mente do rapaz. Rever os pais, deixar os amigos. Perder Gina encontrar-se com Dumbledore. Seria o fim de Voldemort, tudo se ajeitaria para os amigos, para as pessoas que queria bem. Não poderia ser tão egoísta. Ninguém tinha culpa de ele ser ou não uma horcrux, e poucas pessoas não ousariam em matá-lo se descobrissem. E se fosse um dos amigos? Rony ou Hermione? Não iria sentir algo em relação a eles de negativo toda vez que uma nova tragédia ocorresse? Talvez não, mas todas as outras pessoas sim... Difícil acreditar que um ser que carregava um pouco da alma de Voldemort não fosse tão maligno quanto.
_Pode ser que Nagini não seja uma das horcruxes... _Disse Hermione, quase sem fôlego.
_É claro que é. Voldemort entra na mente dela, como entrou na minha. Há mais do que provas que ela é uma das horcruxes. _Disse Harry, sem hesitação.
_Harry, você está obstinado a sacrificar-se. Esta é uma atitude muito idiota, sabia? _Perguntou Hermione, alucinada. _Eu queria nunca ter te ajudado com isso, sabia? Eu queria nunca ter te influenciado a estudar estas coisas ... Ah, por Merlim, eu me sinto tão culpada!
_Mione... _Disse Harry, abraçando-a muito forte. _Você não é culpada, ok? Eu iria acabar descobrindo...
Inadvertidamente Rony também os abraçou, e ficaram assim os três por muitos instantes. Até que largaram-se, um tanto mudos.
_HARRY! Então Voldemort sabe que você é uma horcrux! _Disse Hermione, passando as mãos pelo cabelo, desesperada. _Todo este tempo que ele esteve intrigado, tudo isso foi porque ele não soube por que o feitiço falhou. Não era o Avada Kedrava era o.... Ele sempre soube, aquele ordinário...
_No cemitério, no quarto ano, ele me deu chances demais. Tudo o que queria era me testar. Saber se eu tinha algo de especial, pra ter resistido a me tornar uma horcrux, pra ter feito ele se tornar tão fraco. _Ele disse, refletindo. _No primeiro ano, não queria me matar, fui eu quem me meti no caminho dele para pegar a pedra filosofal.
_Já no segundo ano ele queria te atrair, Harry...
_Era, mas não era exatamente ele, era uma mera lembrança.
_Mas Harry, todas as vezes, parecia que ele queria realmente te matar! _Disse Hermione, ainda tentando convencê-lo.
_Era isso que todos esperavam dele, não era? Imagine se o Voldemort me quisesse como amigo... Mas acho que ele sempre esteve muito em dúvida se eu havia conseguido ser ou não sua horcrux... Por isso ele hesitava, e acabava deixando que eu fugisse... No quinto ano... Incrivelmente ele não foi capaz de me matar também...
_Porque Dumbledore estava lá, e não por generosidade ou qualquer outra coisa de Tom Riddle. _Disse Rony, eloquentemente.
_Não foi só isso... _Disse Harry, ainda pensativo. _Ao invés de mandar me matar, no sexto ano, ele mandou que matassem Dumbledore. Se ele realmente quisesse...
_Harry, ele sempre quis te matar. Não conseguiu porque você é o cara mais sortudo e também conhece uma porção de magia, cara. _Rony falou, dando-lhe um tapinha nas costas.
_Não, não foi. _Disse Harry, decidido. _Você acha mesmo que um garotinho de onze anos teria chances contra um bruxo adulto possuído por Voldemort, como Quirrel? A penseira... Dumbledore parece muito assustado em uma das lembranças. Acho que ele imaginou que pudesse ser algo assim... Mas não queria investigar, tenho certeza que ele jamais iria querer investigar isso. Ele simplesmente achou melhor desconsiderar, e quando percebeu, o quanto seria arriscada a busca pelo medalhão, lembrou-se que nos postulados poderiam existir algo sobre as horcruxes e escolheu as memórias mais importantes para me deixar, caso houvesse algo com ele.
_Harry, você só está influenciado a pensar isso... _Disse Hermione. _E se você, de fato não se tornou uma horcrux?

Mas não havia nada que nenhuns dos dois dissessem que poderia mudar a opinião dele naquele momento. Agora ele entendia tudo o que havia ocorrido, agora ele entendia porque herdara tantos poderes de Voldemort. Ele, como Nagini, dividia seu corpo com o Lorde das Trevas.

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