O destino da Varinha



Capítulo Oito
O destino da varinha

O céu nanquim desenhado com pontinhos brilhantes reluzia nos olhos muito verdes de Harry Potter, que estava deitado em uma das macas da enfermaria da escola. O garoto apalpou as vestes por uns instantes, e sentiu não só sua varinha, mas a de Voldemort. Um assomo de preocupação atravessou sua mente relaxada pela volta à escola. Ele não poderia permanecer por muito mais tempo ali, teria que fugir como fizera Olivaras, se não queria arriscar a vida das pessoas que gostava e que estavam na escola neste momento. Voldemort não deixaria barato a morte de Belatriz e muito menos o roubo de sua varinha. A qualquer hora a escola seria invadida, e Harry temia pela segurança dos colegas e professores. Levantou-se da cama com cuidado, e deixou a enfermaria praticamente deserta dando um último olhar às macas do casal Longbottom. Temia pela segurança deles também, mas não poderia leva-los, e ele achava que se Voldemort tomasse conhecimento que Harry não estava mais na escola, poderia deixar-lo em paz. Madame Pomfrey dormia sobre a mesa de antídotos, empurrando um vidro contra a parede com o rosto muito vermelho.
Os corredores de Hogwarts estavam desertos e Harry vestia as mesmas roupas que usara para ir ao cemitério naquele dia tão próximo que parecia tão distante para ele. Se iria fugir teria que levar Edwiges e a capa de invisibilidade. Uma vez Dumbledore lhe dissera para sempre usa-la consigo.
Harry foi primeiro ao corujal, que se encontrava imerso na escuridão, mas conseguiu divisar os olhos âmbar de Edwiges e suas penas muito brancas.
_Me encontre em Hogsmead, agora, ok? _O menino perguntou.
Não fosse a coruja ser um animal muito inteligente e perceber a delicadeza da situação, ela teria bicado Harry por vir aborrece-la uma hora daquelas. Contudo, a coruja piou sabiamente e voou, recortando o céu cor de ébano com sua penugem branca.

E então, foi o mais rápido que pôde para a torre da Grifinória, encontrando Nick-Quase-Sem-Cabeça num dos corredores.
_Alô, Potter, estive me perguntando se caso você morresse, iria querer se tornar um fantasma... _Disse o espírito, desapontado. _Seríamos grande companheiros, não? Mas é melhor do jeito que está. Afinal, você ainda tem uma missão a cumprir.
_Ah... Até logo, Nick. _Disse Harry cortando o assunto e posicionando em frente ao quadro da mulher gorda para dizer a senha. _Mesmioski.
_Muito bem, mas poderia esperar para incomodar-me amanhã de manhã, não? _Ela perguntou, bocejando.
Sem dar atenção, Harry invadiu o salão comunal, muito devagar. Arnaldo, o mine-pufe roxo, dormia sobre uma das poltronas, e Harry agradeceu aos céus por Gina não estar acordada. Ao chegar ao dormitório dos meninos, encontrou Dino, Neville e Rony roncando. A cama de Harry estava feita, e ele pegou o malão de debaixo do móvel, conferiu se a capa e seus outros pertences estavam lá, e saiu arrastando o malão com um feitiço. O malão havia sido enviado à escola pela Sra. Weasley.
Olhou hesitante por um segundo para Rony, que roncava profundamente, e perguntou-se se não era certo despedir-se do amigo, mas pensou que o melhor a fazer naquele momento era deixar o local sozinho.
Ao chegar de volta no salão comunal, contudo, encontrou os olhos de Hermione, muito castanhos, a espreitá-lo.
_Sabia que era você, Harry. _Ela disse, indo ao encontro dele.
_Por que você está vestida assim? _Harry perguntou ao vê-la vestida com as roupas que ela geralmente usava para as atribulações de auror. Uma saia marrom, um casaco azul e uma camisa branca de mangas compridas, com uma gravata em forma de laço.
_Eu sei o que quer fazer e vou acompanhá-lo. _Ela disse, muito baixinho. Estava com uma mochila nas costas.
_Não, não vai. _Harry disse, decidido. _ Mione, Hogwarts não pode perder mais um auror e você não tem que perder seu cargo, por favor, fique e proteja os Logbottom, Rony e Gina, para o caso de algum comensal aparecer.
_E quem vai proteger você, Harry?_A menina perguntou com a voz esganiçada.
_Não sei. _Ele disse olhando para a lareira. _Mas eu vou ficar bem. Tchau, Mione.
_Harry, por favor... _A menina disse, com o rosto muito vermelho. _Pra aonde você vai?
_Eu ainda não sei... Diga a Gina e a Rony, bem, diga aos dois que vou sentir muito a falta deles. E que... Diga a Gina, que talvez não esteja tudo terminado, afinal, eu estou com a varinha de Voldemort. Assim que me desfizer dela, acho que voltarei. Não posso deixá-la em perigo... A culpa de tudo é minha.
_Mas, Harry, qual é o propósito disso? É tão arriscado...
_O QUE QUER? QUE EU DEVOLVA A VARINHA DELE? EU VOU DESTRUÍ-LA, É ISSO QUE EU VOU FAZER.
_Oh, Harry... _Hermione disse, abraçando-o.
Ele a soltou, e dizendo um tímido “Tchau”, deixou o salão.
_Mais uma vez, não! _Disse a mulher gorda. _Querido, você está indo embora?
Antes que Harry cruzasse o corredor ele percebeu o retrato da mulher gorda voltar a se esquivar e Hermione ir atrás dele.
O vento frio que movimentava ao longe os galhos do salgueiro lutador, incomodava os rostos dos dois.
_Harry, fique, é o melhor a fazer... _Implorou Hermione. _Podemos esconder a varinha e...
_Não, Hermione, estaria pondo toda a escola em perigo. _Harry disse, entre os dentes.
_Ok, eu vou com você, então. Vamos procurar juntos os postulados na casa de seus pais, e vamos traduzi-los e...
_Hermione, eu já sei onde está uma das horcruxes, e acho que posso descobrir as outras sem esses malditos postulados. _Harry disse, chateado.
_Dumbledore não teria...
_NEM DUMBLEDORE SABIA DIREITO SE ESSES POSTULADOS SERVIAM PARA ALGUMA COISA.
Harry continuou a andar em direção à floresta proibida com Hermione em seu encalço.
_No último momento ele descobriu, Harry, ou pelo menos achou que podia servir. _Hermione disse, insistentemente. _Todas aquelas lembranças que estão na penseira são importantes, senão ele não as teria separado e posto lá.
_Ok, Hermione, se quiser vir, então, venha, mas saiba que não será nem um pouco fácil.
_E quem disse que seria? _Perguntou a menina, acanhada.
_Ora, ora, ora, para aonde vão os dois pombinhos na surdina?_Questionou uma voz sibilante.
De detrás de uma árvore na floresta, um homem macilento e com uma cortina de cabelos negros e oleosos espreitava os dois. Ao lado dele estava um homem de mãos grandes e sujas, olhos vorazes e caninos desenvolvidos, que sorria alucinado.
_Sabe por que estamos aqui, não sabe, Potter? _Perguntou Snape, se aproximando com a varinha em punho. _Então facilite as coisas... E meu amigo Greyback aqui não poderá causar mais estragos...
Harry acabara de tirar a varinha das vestes e a mirava no peito de Snape, furioso. Não importava que ele tivesse o ajudado na fortaleza de Voldemort, ele não queria saber se havia ou não uma chance de Snape ser fiel, ele queria derrotá-lo, vence-lo.
_Potter, comporte-se e devolva a varinha do lorde, ou então Lobo invadirá a escola.
_Se ele invadir eu a destruo agora mesmo... _Harry disse.
Greyback estava pois inutilizado. Seus olhos percorriam Hermione vorazmente, mas ele não podia atacar, pois Harry agora segurava não somente a sua varinha, mas a apontava para a de Voldemort, e preparava-se para utilizar um feitiço de proteção caso snape utilizasse um feitiço convocatório.
Harry olhara brevemente para Hermione, e com um breve contato visual os dois decidiram que seria melhor atacar Fenrir Greyback primeiro. Aprenderam a técnica de entrar em consenso sobre quem atacar desta forma nas aulas do departamento de aurores.
_Estupore. _Berraram seguidamente.
Dois jatos vermelhos acertaram o brutamonte em cheio. Ele caiu em meio a um urro de dor, paralisado, os enormes e assustadores olhos arregalados.
_Então o ministério ensinou algo a vocês... _Disse Snape, irônico. _Ótimo, ótimo... Agora pare de se exibir e me entregue a varinha, Potter.
_Onde estão os aurores noturnos? _O garoto perguntou.
_Infelizmente não pude conter Greyback, mas acalme-se heroizinho, eles estão apenas... Estuporados. Praticamente não demonstraram resistência, sabia? Era o que eu pensava... O ministério deixou entrar uma cambada de fracassados para serem os novos aurores. E eu que pensava que a pior de todas era a Ninfadora...
_Cale-se. _Harry disse, muito alto. _Como se atreve a retornar? SEU ASSASSINO!
Hermione estava pálida de desgosto, mas não se atrevia a dizer nada.
_Potter, você deveria saber que o prof. Dumbledore não ficaria nada satisfeito com seus modos, para ele a morte era somente a mais longa das viagens...
_Obtemperare! _Disse Snape, e um jato negro atingiu Harry, na testa.

Harry sentiu o corpo anestesiado. E a voz de Snape ecoou alta em seu ouvido, me entregue a varinha. Sem ao menos saber o que fazia o garoto iria se aproximar dele para entrega-la, mas Hermione murmurou para ele:
_Finite Encantatem.
A razão voltou ao rapaz, e ele, muito exasperado, conjurou um feitiço de dor que meramente arrepiou os cabelos de Snape, porque este se esquivou.
_Não se meta, Granger, ao menos uma vez! _Pediu ele, irritado. _Espero que saiba o que te espera se você não devolver esta varinha, Potter. ESPERO QUE ENTENDA A INSANIDADE QUE ESTÁ COMETENDO.
_Vastare. _Disse Harry, este era mais um dos feitiços que aprendera no Departamento de aurores.
Snape foi jogado contra a árvore, batendo violentamente com as costelas, e em seguida caindo de cara no chão, quando se levantou, um filete de sangue jorrava de sua narina esquerda.
_CHEGA DE BRINCADEIRAS, POTTER. CRU...
Mas antes que Snape terminasse de conjurar a maldição cruciatus, um jato lhe atingiu nas costas, ele gemeu, mas continuou de pé, tentando estuporar o estranho a esmo. Snape se embrenhou na floresta. Harry tentou segui-lo, mas Hermione o segurou pelo braço.
_Há muito que espero por isso. _Disse uma voz abafada detrás de uma árvore, na costa da floresta. Um homem vestido em trapos imundos e peles, que mais parecia um fantasma encardido os observava de longe. Eram apenas visíveis seus olhos castanhos de uma tonalidade escura e sua boca bem feita de lábios avermelhados. Mechas de cabelos negros escapavam pelas frestas das peles.
_Quem é você, seu demônio da noite? _Perguntou Snape, desafiador.
Outro jato quase atingiu Snape, mas ele se esquivou, e então os dois iniciaram uma perseguição pela floresta proibida. E o barulho de cigarras e outros animais impediu que Harry pudesse ouvir que direção tomaram.
_Quem pode ser? _Perguntou a amiga, soltando o braço de Harry. _Acho melhor irmos ajudar os outros.
Harry conjurou cordas que prenderam Fenrir, e em seguida ele tirou do malão que estava caído ao lado na grama, a capa de invisibilidade, cobrindo-o, para que no caso que Snape voltasse, não o encontrasse.
Os dois correram então pelo pátio deserto atrás dos aurores noturnos, indo encontrá-los estuporados a poucos metros dos portões.
_Enervate. _Murmurou Harry, para cada um dos três.
Os três acordaram e levantaram-se.
_Invasores... Severo... Eu vi... _Disse um bem jovem e com muitas espinhas no rosto.
_Vocês têm de levar Greyback para o posto em Hogsmead, venham.

E então Harry o descobriu, e conjurou mais um feitiço estuporante nele, para reforçar.
_E vocês? _Perguntou um tão velho e parecido com o prof. Flitwick.
_Ficaremos aqui caso Snape reapareça. _Mentiu Harry. _Ele fugiu pela floresta...
_Ora, e a floresta lá é meio de fugir? _Perguntou uma mulher de meia-idade e roliça. _Ele vai é encontrar o fim dele lá...
_Como foi que vocês os deixaram entrar? _Hermione perguntou, exasperada.
_Não foi nossa culpa, Srta. _Disse o jovem, respeitosamente, batendo continência. _Eles ameaçaram nos matar quando fomos ver quem estava ao portão, não tivemos escolha.
_Ótimo, então agora faça uma coisa direita e leve esse... Esse traste em segurança até o posto de Hogsmead. _Pediu Harry.
_Sim, senhor. _Disse o rapaz para Harry, curvando-se.
Cada um deles conjurou um feitiço de levitação e fizeram o corpo de Greyback pairar a poucos metros do chão, levando-o em direção aos portões.

Harry observou as torrinhas de Hogwarts, quase todas as luzes estavam apagadas, ninguém percebera a confusão. A cabana de Hagrid estava deserta porque àquela tarde ele fora ver o irmão nas montanhas e ainda não retornara.
_Hey, vocês...
E então Hermione gritou assustada, e continuou com a varinha, em punho pondo-a em ação. Harry fez o mesmo, mas algo de familiar naquela voz atraíra sua atenção.
_Calma, calma, sou eu, pessoal, Snuffles.Venham cá, rápido.
Harry e Hermione se aproximaram ainda com as varinhas nas mãos, sentindo o coração pular do peito. Quem ousaria fazer alguma brincadeira como aquela?
_Você não pode ser... Você não é... _Hermione gaguejou.

Mas quem mais conhecia aquele apelido? Quem além de Harry, Hermione, Rony e ... Sirius? Harry correu até ele e o abraçou, ele não estava morto, afinal. Por mais que sua razão insistisse em dizer o contrário. Depois um pensamento horrível passou por sua cabeça e ele largou o padrinho ao mesmo tempo que Hermione berrou...
_INFERI. _
_Não, Harry, claro que não... Sou eu, sou eu... Não deixe que sua razão o engane, nem tudo é como parece ser.
Então, muito cuidadosamente o homem retirou os trapos que encobriam o seu rosto. E Harry viu, ali estava ele. Um tanto mais musculoso e corado, mas ainda continuava a ser ele. Os mesmos olhos levemente amendoados e escuros, os cabelos imundos como quando deixara Hogwarts, Sem sombra de dúvidas...
E Harry acreditou, e mesmo que Hermione ainda estivesse apavorada, seguiu Sirius pelo leito da floresta até em uma reentrância sob uma rocha, onde os três se acomodaram.
_C-como pode ser isso, Sirius? C-como pode estar vivo? _Harry perguntou, sentindo como se todo o seu corpo houvesse sido invadido por uma onda de felicidade e alívio.
Sirius lhe contou tudo o que passara e como somente chegara a Londres há pouco mais de um ano atrás.
_Foi bem na época em que noticiaram a morte de Dumbledore... _Ele falou, cabisbaixo.
_É inacreditável, mas não deixa de ser maravilhoso. _Disse Hermione, sorrindo.
_Você soube então? Soube que foi Snape... _Harry questionou, a voz saindo trêmula de ódio.
_Harry, sei, sei sim, e muito me admirou também. _Disse Sirius olhando ao longe para o castelo. _O homem que Dumbledore pôs as mãos no fogo...
_E o que andou fazendo todo esse tempo? Além de ter me ajudado naquele ataque de comensais? E agora com Snape._Harry perguntou, direto, reconhecendo no padrinho a figura do homem que lhe salvara há pouco tempo atrás de um ataque de comensais. _Por que não se mostrou antes?
_Tenho te vigiado desde então. E tentei manter contato no dia em que você foi seqüestrado pelos comensais, mas infelizmente não pude te acompanhar até o cemitério._Ele disse, com os olhos fixos no afilhado. _Não pensem que os comensais não tentaram invadir a rua dos alfeneiros quando você completou dezoito anos, encontrei Belatriz lá, e lutei com ela sem que me reconhecesse, usei apenas o pseudônimo Guardião Branco para amedrontá-la. Os comensais passaram bons bocados nas minhas mãos... Tem sido mais fácil para mim assim. Desculpe, mas eu achei melhor apenas vigia-lo, acho que você tinha que se sentir mais independente, para crescer, Harry.
Era verdade, Harry vira um espécie de fantasma em um cemitério em Surrey. Agora ele sabia que não se tratava de uma alucinação. Mas então poderia ter sido o padrinho que matara um comensal perto da toca e o marcara com a sigla R.A.B?

_Sirius, foi você que matou aquele comensal próximo à casa de Rony? _perguntou.

O maroto ficou inesperadamente sério, e o rosto dele que estava iluminado pelos poucos raios do luar que prenetavam a floresta, se obscureceu.
_Harry, há algumas coisas... Há algumas coisas sobre as quais terei de manter sigilo... Espero que compreenda.
Mas Harry não compreendia, não entendia o porquê.
_Tem coisas que só podem ser ditas na hora certa... _Concluiu. _Desde que cheguei aqui, me aconteceram muitas coisas, e algumas eu sinceramente não posso dizer a você.
_Eu entendo... _Disse Harry com exasperação. _Se você entender que há muitas que eu também não posso contar.
_Sim, compreendo. _Disse Sirius tão serenamente que Harry se espantou. _Vi comensais rondando o castelo, Harry, eles murmuravam que você roubou a varinha de você-sabe-quem, e ele quer você vivo ou morto. Por acaso dei um jeito em alguns, e os aurores noturnos espantaram dois lobisomens de pequeno porte que queriam invadir o castelo pela floresta, mas veja só, Snape e Fenrir foram páreo duro pra eles.
_É por isso que estou indo embora, preciso destruí-la. _O garoto disse, rapidamente.
_Não, não faça isso. _Disse Sirius. _Deixe que eu a use, como lhe disse, perdi minhas varinha para as bestas.
_Isso o faria correr muito perigo... _Harry disse, conclusivo.
_Sim, mas o meu nome já inspira pavor entre os aliados de você-sabe-quem. Se eu ainda usasse a varinha dele... Veja, Snape, se conseguir voltar para você-sabe-quem, porque eu o encurralei até o âmago da floresta e retornei em segurança em forma de cão, ele irá contar sobre mim ao seu lorde. E meu nome mais uma vez inspirará más notícias para ele.

Harry pensou por alguns instantes. Não sabia se era muito sensato partir a varinha, afinal, ela poderia ter alguma utilidade. Então concedeu, tirando a varinha longa e negra das vestes e entregando-a a Sirius. O padrinho apanhou a varinha e prendeu entre as vestes, e então, acrescentou:
_Para onde pretende ir?
_Está entre as coisas que ele não pode dizer, Snuffles. _Hermione disse, muito rápido.
Harry agradeceu que ela tivesse feito isso, ele mesmo não sabia se resistiria em contar tudo que sabia ao padrinho, e começava a ficar surpreso que Sirius não o estivesse enchendo de perguntas. Agora seus planos haviam mudado, ele não mais iria destruir a varinha de Voldemort, mas iria procurar a varinha que pertencera à Rowena Ravenclaw e destruí-la.
_Bem, eu vou ter de viajar também, Harry. _Disse Sirius, muito sério. _Coisas a fazer, muito importante. Vou fazer com que você-sabe-quem saiba que a varinha está com o guardião branco e não com você, ok? Assim você também pode tomar seu rumo... Não quer mesmo que eu o ajude?
_Não. _Harry confirmou. _Mas para aonde você vai?
_Como disse, coisas a fazer. Harry, eu estarei sempre por perto, você sabe... Qualquer coisa que precisar, mas agora percebi que não posso resumir minha vida às suas aventuras. Eu tenho que procurar meu próprio caminho.
_Eu... Entendo.
_Talvez ele possa nos levar até a casa de seus pais, Harry. _Disse Hermione, de repente. _Sirius, queremos pegar uma coisa lá, que talvez vá nos ajudar. Se você concordar em não fazer perguntas...
E Sirius sorriu brevemente.
_Harry, devíamos dizer para aonde vamos para o Rony e pra Gina.
_É, acho que você tem razão. Espera aqui pela gente, Snuffles?

Harry sentia-se extremamente alegre e aliviado por rever o padrinho, por saber que ele não estava morto, nem que fora assassinado pela vil Belatriz, mas mesmo assim esperava que Sirius tivesse vindo diretamente para reencontrá-lo, e que ele fosse o mesmo Sirius presente de sempre, mas agora o que parecia era que ele não tinha mais tanto tempo assim para Harry. Que a sensação de aventura que viveu dentro do véu lhe mostrou que deveria procurar seu próprio caminho e não somente auxiliar Harry a terminar o seu. Por um lado era tranqüilizante porque o garoto não gostara nada quando uma vez Hermione lhe dissera que Sirius queria apenas viver através das aventuras deles. E agora, Sirius era o protagonista de sua própria vida. No entanto, Harry sentia que estava um pouco mais distante dele. Mas apenas a presença de Sirius Black de volta, já lhe dava inúmeras esperanças. Havia, de qualquer forma, uma luz no fim do túnel. E como lhe dissera uma vez Luna, as coisas sempre voltavam no final. Isto queria dizer que era o início do fim? Era a quarta tentativa frustrada contra Harry somente àquele ano, sem contar as vezes que Harry simplesmente não teve conhecimento, será que isso queria dizer que Voldemort não conseguia organizar-se tão bem quanto queria ou que apenas não utilizara todas as suas cartas?



_Harry, isso é tão estranho... _Disse Hermione tirando o garoto de seus devaneios, quando eles alcançaram o saguão de entrada. _Eu sei, ele nos explicou tudo o que houve, mas... Não deixa de ser esquisito.
_Eu sei, Mione. _Disse Harry, eufórico. _Mas é maravilhoso... Se algum dia eu pudesse sonhar que ele estivesse vivo... Espere só até o Rony souber...
_Acho que mesmo que Dumbledore não soubesse direito o que havia no véu ele foi sábio em te dizer que Sirius estava morto. _Hermione falou. _Quer dizer, você passaria a vida toda tentando procura-lo, ou mesmo ia acabar indo parar junto com ele.
_Só não entendi porque ele não se apresenta ao ministério, sabe? _A garota perguntou. _Viver como um fugitivo...
_Quero perguntar mais sobre R.A.B a ele. _Disse Harry. _Ele me pareceu saber de alguma coisa.
_Mas ele parece não querer dizer nada além do que disse... _Preveniu a garota, exausta enquanto subiam as escadas que levavam para a torre de grifinória.

A mulher gorda roncava enroscada em um lençol de seda quando eles a acordaram, era indescritível a expressão de ódio na face da mulher quando fora acordada. Desta vez, quando Harry e a amiga entraram, encontraram Gina e Rony debatendo algo.
_Pensamos que haviam fugido... _Rony disse, sentido. _Eu acordei com o barulho de vocês conversando, e quando vesti meu roupão e vim ver o que se tratava, só estava Gina aqui. Aí eu e ela fomos atrás de vocês e não os encontramos depois.
_Ah... Hermione me convenceu a voltar e vir dizer para aonde ia para vocês. _Harry disse, muito depressa.
_E para aonde você vai? _Gina perguntou, o rosto em chamas.
_Ah, que tal a gente conversar a sós? _Harry perguntou.
_Tudo bem. Rony e Mione, vocês se importam? _Gina perguntou, de braços cruzados e com a voz exasperada.
_Claro que não... _Rony disse calçando os chinelos. _Mas depois quero falar com você, cara.
Rony e Hermione deixaram o salão comunal pelo buraco do retrato, e Harry imaginou que Hermione iria deixá-lo a par da situação.
_Você sabe o que houve, eu te disse hoje à tarde. Eu estou com a varinha de Voldemort... _Era mais uma vez difícil mentir para a namorada, mas ele não tinha muitas opções, não poderia dizer que iria atrás da varinha de Ravenclaw, que era o objeto da covirnal, antes de Voldemort ou seus comensais encontra-la. _E eu preciso deixar Hogwarts, Voldemort precisa saber que eu deixei a escola, só assim vocês estarão seguros. Ainda há pouco Snape e Fenrir invadiram Hogwarts, mas eu e Hermione conseguimos estuporar Greyback, Snape fugiu pela floresta.
_SNAPE? FENRIR?
_Eles queriam a varinha... Pedi aos outros aurores para levarem Greyback até o posto de Hogsmead, eles irão prendê-lo lá.
_E o que vai fazer com a varinha de você-sabe-quem? _A menina perguntou tentando parecer calma, mas suas sobrancelhas estavam inclinadas.
_Destruir, eu acho.
_E-pra-onde-você-vai? _Perguntou, arquejante.
_Ainda não sei. _Ele respondeu, baixando os olhos para não encarar o rosto exasperado de Gina.
_Então é deste jeito... _Ela disse indo se atirar em uma das poltronas, pondo um travesseiro sobre o colo com violência. _Eu não sei pra onde você vai. Você tem sua porção de segredinhos que só pode dividir com Rony e Hermione, como se eu não fosse tão esperta, tão CONFIÁVEL pra você...

Ela não chorava, mas seu rosto estava contorcido de fúria, e Harry poderia compreendê-la perfeitamente. Mas o rapaz não sabia escolher palavras para amenizar o sofrimento da garota.
_Nunca iremos transpor essa barreira, né, Potter? Eu sempre estarei ao lado dos seus melhores amigos...
Harry foi até ela, ajoelhou-se e segurou as mãos da garota, para que ela parasse de amassar o travesseiro. Ela estava trêmula.
_Escute, Ginny, eu... Eu disse que as coisas não seriam fáceis. Eu falei que talvez fosse melhor não ficarmos juntos.
_O PROBLEMA NÂO É AS COISAS SEREM DIFICEIS, POTTER!!! _Disse, esganiçada. _ O PROBLEMA È SUA FALTA DE CONFIANÇA.
_Eu sei que está certa, Ginny... _Disse Harry, gaguejando. _Mas simplesmente há coisas que estão acima de tudo...
_Será que você não entende que eu vou morrer de preocupação se eu ficar aqui sem ter notícias alguma de você? Sem saber se você está vivo ou...
_Eu vou mandar notícias, eu prometo.
_E... Por que não me deixa ir com você? Eu não me importo com Hogwarts, nem com o que minha família irá pensar e...
_Mas eu me importo, Ginny. Com você, com sua família, com se futuro e com a sua segurança, e você sabe o porquê. _Ele disse, despindo-se de qualquer vergonha de Dino que acabara de espiar o casal, que antes estava aos berros.
Ela calou-se, e apenas admirou o rosto do rapaz. Os olhos dela eram azulados, e possuíam uma grande força.
_Boa sorte, então. _Disse, dando lhe um beijo no rosto. _Eu continuarei aqui, de qualquer forma. Até você resolver dividir seus problemas comigo.
Harry levantou-se, mais aliviado, e tocou nos cabelos muito ruivos da garota.
_Vou sentir muito sua falta...
_Não parecia para quem nem ao menos queria se despedir.
_Entenda, eu não queria ter uma despedida assim, achei que talvez fosse melhor apenas ir embora. Pra evitar uma briga.
Mas Harry estava mentindo, ele voltara porque Sirius assumira a carga da varinha de Voldemort, e agora, ele poderia ter mais liberdade. Conhecendo Voldemort como Harry conhecia, o tal guardião branco iria impor muito mais ameaça aos olhos dele, na condição de um homem adulto e misterioso, que Harry, até que este estivesse liquidado. Talvez, assim como Harry suspeitava, Sirius sabia muito mais sobre o R.A.B que ele poderia suspeitar, afinal, o R.A.B poderia ser o irmão dele, Régulo Black.

_Harry, a Mione me contou... Isso é simplesmente inacreditável, eu mal espero a hora de encontra-lo. _Disse Rony, eufórico. _ Eu, lá no fundo, sempre achei estranha a morte dele... Mas e Snape, que cara de pau... Eu devia estar com vocês, isso simplesmente é tão injusto! _Rony falou, ainda estava de pijamas, em uma sala vazia do terceiro andar.
_Então, Harry, estive conversando com Rony. _Hermione disse. _ Disse a ele que eu, você e Snuffles vamos à casa de seus pais, apanhar os postulados. E que depois Snuffles pode me trazer em segurança até o castelo, e então, eu já começo a tarefa de traduzir os postulados e você... Com certeza você vai querer...
_Vou, vou atrás da varinha.
_Harry, talvez você pudesse convencer Snuffles a ir com você, sem fazer nenhuma pergunta.
_Não, acho que não... _Harry disse, ressentido. _Você viu o que ele disse, ele tem os próprios problemas dele agora...
_Não sei, ele continua a ser o velho Snuffles. _Disse Hermione. _Passou um tempão te vigiando... Se não fosse por ele, Snape teria recuperado a varinha de Voldemort.
_Harry, eu...
_Não, Rony, você fica em Hogwarts com Gina. _Disse Harry, decidido. _Eu vou dar meu jeito, ok? Posso me virar sozinho.
_Mas Harry...
_Rony, você acha que eu ia ficar tranquilo de deixar a Gina sozinho aqui no castelo? _Perguntou Harry. _Imagine o que a sua mãe diria...
_Mamãe ainda acredita que os aurores são suficientes. _Disse Rony.
_Mas nós sabemos que não são.
_Então eu poderia ir ao menos até a casa de seus pais... _Pediu Rony.
_A Gina não tá legal, cara. _Harry falou categoricamente. _Você tem que ficar com ela.
_Ah, tudo bem, então. _Disse Rony, desapontado. _Maldita escola... Só espero que da próxima vez eu possa ir com você.
Harry não respondeu. Mas é claro que se tivesse alguma oportunidade de levar os amigos com ele, se tornaria mais agradável a viagem.

_Sirius, por que você não se apresenta para o ministério? Ele já te absolveu, sabia? _Perguntou Hermione a Sirius, os três caminhavam a pé até a Hogsmead envoltos na capa de invisibilidade.
Edwiges acompanhava-os pelo céu, o garoto não sabia antes, mas ela poderia enxergá-los, ou pelo menos senti-los, porque seguia-os com precisão.
_Não, acho que eu tenho mais liberdade assim... Não quero o Profeta Diário em cima de mim. Quando você-sabe-quem estiver derrotado, talvez. Ah, Harry, e não deixe Monstro nem sonhar que eu estou vivo, porque senão ele não irá obedecer nenhuma ordem sua. Por falar nisso, onde ele está?
_Em Hogwarts, achei o melhor a fazer.
_É, sim. Não confie nele... Aquele elfo velho na primeira oportunidade conta tudo o que sabe a Belatriz...
_Então ainda não sabe? _Harry perguntou, surpreso.
_O que eu deveria saber?
_Belatriz morreu... _Era engraçado que todo o ódio que Harry sentira pela mulher acabara deixando-o quando soube que Sirius não estava morto. Talvez também porque ela houvesse morrido.
_Morreu? Como assim?
_Foi o casal Longbottom, por incrível que pareça. Acho que amanhã sai no jornal, eu tive que dar uma entrevista ao profeta diário esta tarde. É claro que não disse que estava com a varinha de Voldemort.
_ O casal Longbottom? _Perguntou Sirius, estupefato. _Como foi que eles fizeram isso?
Harry contou a ele o que passou na fortaleza de Voldemort e como o casal Longbottom assassinou Belatriz.
_Harry, você tem que tomar ainda mais cuidado... _Disse Sirius, muito preocupado. _Sinceramente, você estará visado por todos os comensais... Esteve metido na morte de Belatriz e ainda por cima está com a varinha de você-sabe-quem, minha nossa, Agora Fenrir será preso... E então, Harry? Acho que podíamos ir usando aparatação para chegar até Godric´s Hollow, não? Já foram aprovados nos testes?
_Não, mas eu sei aparatar. _Disse o garoto. _E a Hermione já foi aprovada. Edwiges, Godric´s Hollow, ok?



Não havia nada além de escuridão e neblina quando Harry e os outros aparataram em Godric´s Hollow. Ainda encobertos pela capa, caminharam pelas ruas desertas e tristes sem dizer nada. Mas Harry podia prever o que se passava pelas mentes dos amigos. Sirius estava perturbado em voltar à casa de seu melhor amigo, morto tão tragicamente. Já Hermione estava sentida por ver tantas ruas cheias de casas que outrora deveriam ser belas e aconchegantes, porque remetia à nobreza e aristocracia, de repente se transformarem em alamedas fúnebres e nostálgicas. Edwiges ainda não chegara, mas ele sabia que ela os encontraria.
Sirius os encaminhou até uma rua comprida e larga, com casas de jardins silvestres que deveriam antes estar bem cuidados e regados. Quase no fim da rua, um espaço vazio exceto por um entulho de ruínas, deveria ser o que sobrara da casa dos Potter.
_Era... Aqui. _Disse Sirius olhando melancolimente para os tijolos quebrados e imundos que se estendiam pelo enorme terreno.
_Temos que procurar o porão, Snuffles. _Disse Harry, misterioso. _Você lembra se já entrou... Você...
E então Sirius ficou muito parado, e Harry e Hermione se entreolharam. Sirius ajudara Thiago a recuperar os postulados, ele sabia sobre eles e deveria conhecer o local onde os postulados estavam guardados.
_Precisamos dos postulados de Merlim. _Disse Harry, confiando que ele não faria mais perguntas.
Sirius ficou quieto, como se não houvesse ouvido direito. Mas já havia se passado tanto tempo sem que ele houvesse ouvido falar dos postulados que o garoto achou normal.
_Daqueles postulados que você e o papai foram pegar na Irlanda a pedido de Dumbledore...
_Como você sabe disso, Harry?_Ele perguntou, surpreso. _Na época era muito sigiloso...
_Bem, não importa. O que interessa é que precisamos deles...
_Não sei se ainda estão intactos. _Disse Sirius correndo para o amontoado de tijolos, e depois de agachar-se, começar a cavar. _O porão deveria ficar bem aqui, mas Thiago e Dumbledore puseram muitos encantamentos, de acordo com o que eu saiba, para protegê-los. Era quase impossível encontra-los, ainda mais depois da ruína da casa e...
O rosto de Sirius demonstrou certo pavor.
_Harry, você não vai querer... Não vai querer ter que passar por isso para apanhar os postulados... Deixe que eu os pegue por você.
_Por que você está dizendo isso? _O garoto perguntou.
_Bem, se você conhece os postulados, sabe que eles foram guardados por Merlim no túmulo dele, não é? E então Thiago teve a mesma idéia, junto a Dumbledore eles construíram um túnel que levava até o túmulo de seus pais, que não tinham nenhum cadáver ainda, e de acordo com o que eu lembro, guardaram os postulados lá.
Harry ficou parado por um segundo, sem ter coragem de dizer nada. Seu coração batia muito depressa, e quando ele olhou para Hermione percebeu uma sensação de pânico se apoderar dela.
_De qualquer forma, eu preciso dos postulados. _Disse ele, decidido.
E começou a tirar os tijolos enlameados e sujos de limo por muitas horas com a ajuda de Sirius, enquanto Hermione tremia, não somente pelo vento frio que cortava os corpos deles.

Depois de cavar até o antigo assoalho da casa, Sirius e Harry encontraram uma fenda muito fina em forma quadrangular. Harry experimentou tentar forçá-la, mas era em vão.
_O mal é que eu não participei tanto do processo como seus pais, Harry. _Disse o homem, com o rosto todo suado. _Eu não sei como chegar ao porão... Tudo o que eu lembro é que foram guardados aqui, porque seu pai me disse.
Hermione se adiantou e murmurou: Alorromora. Mas a porta não cedeu, e então, lembrando-se de que havia um canivete há muito tempo atrás dado por Sirius a ele, que era capaz de abrir qualquer coisa, Harry abriu o malão e tirou de uma bolsa lateral, o instrumento prateado.
_Você ainda guarda... _Disse Sirius, feliz. _É, tenho certeza que assim poderemos abrir.
Harry enfiou a lâmina do canivete na estreita fenda, e forçou a porta a se abrir. Depois de algumas tentativas, a portinhola cedeu e afastou-se para o lado esquerdo dando num buraco fétido, negro e cheio de teias aranhas.
Os cabelos de Harry foram levemente arrepiados por uma brisa gélida. Hermione deu um gritinho abafado, e Sirius meteu cabeça no estreito buraco, dois segundos depois voltando, com o rosto embranquecido de teias.
_Está muito sujo, com todo esse tempo fechado... Se quiserem eu vou sozinho, vocês esperam aqui. _Ele disse.
_Não, melhor não. _Harry disse. _Nós vamos, a não ser que queira ficar, Mione.
_Não, eu v-vou também. _ Disse um tanto amedrontada.
_Neste caso... Sigam-me. _Disse Sirius, deixando o corpo afundar no buraco estreito com dificuldade, e depois pulando, um sonoro barulho de queda e quebra de costelas seguidos por um berro de dor causaram pavor em Harry e Hermione.
_Isto aqui não devia ser tão profundo... _Disse ele, ainda gemendo de dor. _Acho que foi mais uma das medidas de seu pai... Ai. Protection. Pronto, já conjurei uma proteção aqui pra vocês... Ai.
Harry colocou as duas pernas no buraco e em seguida segurou-se com os braços nos tijolos, indo afundar no ar, até que se deixou cair em cima de uma enorme rede fofa feita de ar, muito próxima ao chão.
_Venha, Hermione, é seguro. _Berrou Harry.
O garoto enxergou no meio da escuridão a juba de cabelos castanhos de Hermione e ela em poucos minutos estava ao lado dele, na rede. Os dois levantaram-se como se estivessem em uma enorme cama elástica.
_Finite Incantatem._Murmurou a garota, e a rede se desfez, permitindo que os dois caíssem sobre o chão duro.
_Não dá pra enxergar nada... _Disse Harry. _Lumus.
Os amigos o imitaram e três luzinhas iluminaram o porão, descobrindo paredes encardidas e pintadas à cal. Um teto de madeira podre e cheia de teias de aranha e uma grande quantidade de caixas e armários.
_É melhor termos cuidado... _Avisou Sirius, dando uma volta completa ao redor dos próprios pés.
_Tem idéia de onde pode estar a passagem para o túnel? _Hermione questionou.
_Nenhuma, pode estar em qualquer lugar. Vamos nos dividir, qualquer coisa é só gritar. Mas tenham muito cuidado.

Harry deixou os dois e foi procurar em um canto, onde uma grande quantidade de caixas amontoadas poderia querer esconder algo. Mas foi só afastar as caixas com um feitiço, que ele descobriu não haver nada lá além da parede. E então, ouviu um grito de Hermione.
_Ah... Desculpem. _Disse ela. _Era só uma ratazana.
E então Harry percebeu um enorme armário de madeira escura. As duas portas estavam trancadas, ele abriu uma delas com o canivete. E, iluminando o compartimento, espiou. Foi como se duas mãos invisíveis o tivessem puxado pelo colarinho para dentro do armário. A porta se trancou e o garoto não conseguiu enxergar nada, mesmo com a luz que emanava de sua varinha. Ele berrou por ajuda, mas sua voz simplesmente não saía. O canivete não tinha mais utilidade e nenhum feitiço que lhe ocorreu fazia efeito, e foi apenas quando Sirius e a amiga deram pela falta do garoto, que ele foi retirado do armário. Caindo emborcado no chão.
_Harry, como foi que você parou aí dentro? _Sirius perguntou, assustado.
_Está enfeitiçado... _Disse o garoto, levantando-se. _Acha que pode ser por ele a passagem?
_Não, Harry. _Disse Hermione, movendo o armário e percebendo que ele não tinha contato nenhum com a parede. _Acho que eles só o usaram para prender desavisados que pensassem em procurar os postulados aí...
Harry sentiu-se um tanto tolo, mas não havia tempo a perder e ele já estava mais uma vez a procura da passagem. E então, começou a apalpar as paredes, à procura de algum indício. Suas mãos varriam ágeis a grossa camada de poeira. E houve um momento em que elas tocaram em algo que se sobrepunham à parede, uma coisa de pano. Depois de retirar toda a poeira com as mãos, Harry iluminou o local e percebeu que se tratava de uma tela, o mais estranho que ele já vira na vida.
_Mione...

Não era exatamente um quadro, mas apenas uma pintura de letras que ele nunca vira antes, e um rosto desfigurado de um homem. A garota correu até o menino, sendo seguida por Sirius. Os dois pararam anestesiados...
_É aqui. _Disse ela. _ O Conhecimento abre quase todas as portas, mas não há porta que não se abra sem um tantinho de sorte. É o que está escrito aí, em runas antigas.
Quando ela acabou de dizer as palavras, as letras iluminaram-se, e a tela se desmanchou numa confusão de cores, em seguida um círculo largo e pouco iluminado deu lugar à tela.
_Eu vou primeiro. _Disse Sirius, dando um pequeno pulo para alcançar o círculo e se prendendo à borda, conseguindo finalmente subir.
Harry ajudou Hermione a subir, segurando-a pela cintura até que ela conseguisse se segurar e apoiando os pés no ombro do menino, conseguiu ficar sentada(Porque não havia espaço para ficar de pé), ao lado de Sirius. A menina e o padrinho deram em seguida as mãos para Harry segurar, e todos os três começaram a engatinhar pelo túnel, segurando as varinhas iluminadas com a boca. Vez ou outra Sirius batia com o corocuto em um pedaço de pedra e avisava aos demais que deviam envergar-se ainda mais. Não havia praticamente ar, e os três estavam encharcados de suor. Mas felizmente não encontraram outros feitiços, até que Sirius parou, e disse a eles que fizessem o mesmo.
_Estaremos entrando no túmulo de seus pais, Harry.
O coração do garoto caiu no estômago, e os cabelos da nuca se arrepiaram, ele pôde até perceber Hermione tremer. Ele não tinha medo ou repugnância em esta no túmulo dos pais, mas ainda era incômoda a idéia de entrar em um túmulo com cadáveres dentro. E ele não sabia o que sentiria quando visse os caixões dos pais.
Sirius ficou de pé, no amplo espaço que se abria. Hermione e depois Harry fizeram o mesmo. O garoto sentiu um odor de terra e fezes, o que era natural, porque ele podia contar dezenas de ratos e baratas. Acima ele podia perceber um teto de mármore, a tampa do túmulo, e ao lado numa parte mais íngreme (ele notou com uma sensação horrível no estômago) dois caixões de vidro.
Hermione depositou o rosto suado no peito do garoto, horrorizada. E Harry percebeu depois o porquê, os corpos lívidos dos pais, repousavam como se houvessem morrido ainda àquela manhã.
_Eu avisei... _Disse Sirius, preocupado.
_Por que os corpos estão intactos? _Harry perguntou, assustado e surpreso.
_Porque é como as coisas são, Harry. _Disse Sirius. _Seus pais optaram por não serem cremados, e então com um feitiço, como sempre fazemos, os corpos deles permanecem como no dia da morte.
Harry podia entender a reação de Hermione, ela era nascida-trouxa, e por incrível que pareça, nunca deveria ter lido nada a respeito. Ela tomou um grande susto ao ver os corpos ainda frescos dos Potter.
_É chocante, eu sei. _Disse Sirius para Hermione, que acabara de soltar Harry e observava os próprios sapatos, ainda soluçando. _Mas é só massa... Venham.
Sirius ajudou Hermione a subir na parte íngreme onde estavam os caixões.
_Deve estar enterrado com um feitiço para que ninguém que viesse através do cemitério pudesse apanha-los. _Sirius falou, tentando ignorar os caixões dos amigos.
E vendo que Harry se aproximaria, Sirius conjurou um grande véu negro para cobri-los.
_Harry, não quero que veja, eles não gostariam que o vissem assim... _Disse Sirius.
_Por favor, é um direito meu... _Disse Harry.
_Harry, me ouça, seus pais NUNCA GOSTARIAM QUE O VISSEM ASSIM.

Mas era os corpos dos pais dele, o mais próximo que ele poderia chegar em vida deles. Ele não podia apenas fingir que não estava enxergando ninguém, aquilo era ingratidão, era...
_Harry, por favor, ouça o Sirius. _Pediu Hermione.
Mas o garoto retirou o véu assim mesmo, e fitou os corpos brancos e quase transparentes daqueles que foram seus pais. Os cabelos rebeldes de Thiago sendo comprimidos de qualquer jeito por algum feitiço, seus olhos cerrados, sua boca trancada. Não havia nenhum sinal de vida nele, e o seu corpo mais parecia um boneco de cera. A mãe estava vestida com um vestido azul,e trazia nas mãos um buquê de rosas. Os cabelos cor de acaju estavam penteados em duas mechas grossas. Mas também nela não restava vida alguma. Ele sentiu uma mão em seu ombro, e Hermione o puxou pela mão, dizendo:
_Deixe que eles descansem em paz, Harry. Não foi isso que viemos fazer aqui... _Não era um ordem, nem um pedido, era um conselho.
Sirius cobriu mais uma vez com o véu os caixões, mas Harry reparou na breve olhada que ele lançou no corpo de Thiago, e viu seu rosto se comprimir em uma feição de sofrimento.
_Como dizia... _Iniciou ele. _Deve haver algum feitiço que impeça alguém encontrar os postulados do túmulo para cá. Então, acho que eles não podem enxergar este chão que estamos pisando, devem ter a ilusão de estar em outro piso, e nada poderão encontrar. Acho que os postulados devem estar enterrados aqui, como estavam os de Merlim.
Sem saber se a teoria de Sirius era verdadeira ou não, os três se puseram a cavar o chão, e logo sentiram duas argolas de metal.
_Estão aqui mesmo... _Disse Sirius, arfante e alegre. _Vejam, são as argolas que eu e Thiago pusemos ao traze-las, qualquer inimigo que tentasse rouba-las, teriam as mãos decepadas por elas. Venham me ajudem a levantar as pedras.
E os dois o ajudaram, e retiraram do chão de terra escura e úmida, algo quadrangular e que deveria ter dez vezes mais o peso que Harry e os outros sentiram.
_Eu e o Thiago usamos uns feitiços para fazer parecerem mais leves. _Disse Sirius, animado com o pacote enorme encoberto por um pano azul. _É melhor irmos, é melhor irmos.
Harry o acompanhou, ajudando-o a colocar os postulados no túnel, e olhou uma última vez para os caixões de vidro encobertos pelo véu negro. E então os três seguiram pelo túnel empurrando o pacote, até chegarem de volta ao porão. Sirius empurrou o pacote primeiro, conjurando um feitiço para que ele não se quebrasse.

Então, os três puseram as luzes das varinhas para iluminar o embrulho, e Sirius retirou o pano e as argolas. Uma dúzia de finas pedras polidas e com inscrições ininteligíveis para Harry deixou-se ser vista. Ao lado dela repousavam algumas folhas amareladas, escritas em inglês e na mesma língua. Os olhos de Hermione brilharam.
_Não dá para desaparatar aqui. _Disse Sirius. _Eu vou ver se não tem ninguém na rua, aí você sai, Harry com Hermione e traz as pedras. Então, você desaparata para aonde achar melhor, e eu e ela vamos direto para Hogsmead com as pedras. Vamos arrumar um jeito de entrar sem sermos vistos no castelo.
_Harry, vá ao ministério, à seção de aurores e peça permissão para se ausentar, por favor. _Suplicou Hermione.
_Tudo bem, eu vou tentar. Mas você sabe que eu irei de qualquer jeito, e estou pensando em passar a noite no largo Grimmauld.
_Ótimo. _Disse a garota.

Sirius conjurou um feitiço, apontando a varinha para os pés, que o fizeram levitar, ele subiu no ar, como se estivesse nadando, e saiu pela portinhola que se abria para o infinito.

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