Fugas e Velas



Pegou a mochila debaixo da cama e saiu do dormitório, encontrou Rony e Hermione no sexto andar, logo na escada e foi com eles para o andar de cima. Encararam o corredor e olharam para os lados. Ninguém.
-É isso então... –disse Harry respirando fundo. Levantou o pé dobrando ao máximo o joelho e esticou a perna. Quando tocou o chão com a ponta do sapato todos soltaram o ar de seus pulmões. Havia funcionado.
Caminharam ainda com cautela até chegar na Sala Precisa onde transformaram o armário para seu tamanho natural. Abriram uma porta e depois a outra. Olhando assim, parecia um armário normal, mas eles sabiam que assim que tocassem o fundo e seus pés se encolhessem ao fechar da porta, seriam transportados para a loja de artigos das Trevas Borgin e Burkes.
-E se o outro armário não estiver lá? –perguntou Rony. Harry não sabia o que responder, mas Hermione tomou a palavra.
-O armário estará fora de Hogwarts mesmo assim e poderemos aparatar... Vamos... Não é hora de dúvidas mais...
De fato, sem dúvidas, se apertaram no armário e puxaram a primeira porta. Harry, no canto, sentiu a escuridão cobrir sua pele branca, o véu de dúvidas voltou quando a segunda porta se fechou e a escuridão os absorveu.
-Adeus, Hogwarts. –foi o que os três disseram antes de partir.


Era como perder os sentidos. A visão talvez fosse clara ainda, era impossível saber porque o armário fechado impedia a entrada de qualquer feixe de luz. O tato estava adormecido, era difícil se mover, pouco a pouco perceberam o suor escorrendo suave sobre a pele. O olfato era um dos poucos sentidos que gritavam em trabalho, o cheiro de mofo e poeira era inconfundível e invadia as narinas como um tufão. Na boca, o gosto comum da própria língua e saliva. Os ouvidos captavam leves ruídos da madeira e o sexto sentido, a consciência, era confuso.
Era impossível saber se estavam ainda em Hogwarts. Não sabiam como aquele veículo funcionava e não tinham nenhuma pista de sua localização. Esperaram quase cinco minutos quando finalmente Harry tomou coragem para abrir uma fresta do armário. Imediatamente o som invadiu os ouvidos e os joelhos tocaram o chão. Estavam na Borgin e Burkes e tinham acabado de cair na cerâmica fria da loja bem em frente ao Sr.Borgin.
-O que é isso?! –perguntou o velho espantado.
Harry se levantou e olhou para o dono da loja. Ele obviamente não sabia o que era aquele armário. Será que estava sob a maldição Imperius? Ou será que os Comensais haviam entrado ali escondidos? Olhou para Hermione, a mesma dúvida estava estampada no rosto da garota. Rony levantou-se e olhou para os dois, era difícil saber se ele estava com o mesmo rosto inexpressivo de sempre ou se era também uma interrogação estampada em seu rosto. Harry e Hermione, porém, já o conheciam e entenderam que aquela face não era nem questionamento nem falta de expressão, era determinação. O menino levantou a varinha e empurrou o queixo de Borgin para cima.
-Comece a falar. – o tom grave estampando superioridade, uma gota de suor desceu pela face de Borgin.


-O que faremos agora? –perguntou Moody. Todos estavam em volta de uma grande mesa triangular, as cadeiras estavam dispostas em intervalos iguais e algumas se achavam vazias, a cadeira dourada de encosto alto era uma das desocupadas. –Agora que Dumbledore está... –uma pausa. –Que ele faleceu, a Ordem continuará a existir?
Ninfadora Tonks agitou seus cabelos rosa-choque fazendo menção de falar, mas foi interrompida. Era Quim Shacklebolt que havia levantado antes.

-Nós deveríamos vingá-lo. A Ordem serve para derrotar os Comensais, certo? E foram os Comensais que mataram Dumbledore. Mataremos todos eles! –Quim tentou esconder a voz chorosa e a garganta seca, mas era possível percebê-los a cada sílaba pronunciada. Tonks levantou-se rapidamente e abriu a boca para falar, mais uma vez, porém, foi interrompida. Era Lupin, seu namorado, que tampava sua boca com as mãos.
-Ele está certo Tonks! Vamos matar todos e suas famílias também! Não podemos deixar nenhum vestígio dessa ameaça!
Tonks tinha a surpresa estampada no rosto, logo essa surpresa se foi e deu lugar para o desprezo e depois, para a decepção. Ela tentou falar de novo, mas aquela turba ensandecida já havia tomado sua decisão. Logo naquela noite, mataram o primeiro Comensal e sua mulher.


-Eu vendo artigos para eles, mas só porque se me recusar a negociar serei morto... Veja, eu tenho filhos... –e levou a mão ao bolso. Harry apontou a varinha, mas Borgin pegou apenas uma carteira. Ele abriu para mostrar fotos de três crianças. Olhando de longe, pareciam normais. Mas, quando se aproximaram perceberam que havia algo de errado. As crianças estavam extremamente pálidas e tinha um olhar assustado. Estavam mortas. Borgin abriu um sorriso e a carteira explodiu numa onda de fumaça.
-Ventum! –gritou Hermione. Fortes rajadas de vento atingiram a sala e a fumaça se dissipou. Borgin havia desaparecido.

-Eu não acredito que ele escapou! E agora? –Harry estava mais que aborrecido. Estava chocado. Aquelas fotos eram no mínimo horrendas. Rony e Hermione não sabiam o que responder. Já estavam no Caldeirão Furado a quase meia hora e eles pareciam ansiosos. Rony já havia ido ao banheiro três vezes e Hermione quatro, sendo que todas as vezes que se levantavam dando essa desculpa, iam pra trás da cozinha e não escadas à cima, onde ficavam os toaletes. Harry estava tão aborrecido que de fato ficou surpreso quando um bolo enorme apareceu em cima da mesa. Hermione olhou pra trás e agradeceu ao garçom.
Chocado, Harry deixou todas suas preocupações se esvaírem.
-Com essa confusão toda você esqueceu seu aniversário... –disse Hermione abraçando o menino.
-Mas, nós não poderíamos esquecer! –Rony também juntou-se ao abraço, corando de leve e largando Harry logo em seguida.
-Gente... Eu... O que? –Harry apenas podia sorrir. E que sorriso! Em tanto tempo de crise, desde o primeiro encontro com Dumbledore no último ano até poucos minutos antes, Harry não sorrira com tanto gosto. Finalmente conseguiram relaxar e se divertir. Por mais de doze horas, eles esqueceram tudo. As Horcruxes, Snape, Voldemort, Dumbledore, Hogwarts, os Dursley, McGonagall e qualquer outra coisa que pudesse estar os perturbando. Era como se nada tivesse acontecido, por algumas horas, Voldemort estava morto novamente e o mundo era pacifico.
O dia passou e as velas queimadas mais cedo haviam se apagado. A chama de mais um ano de vida era como esperança, quando viram o pavio enegrecido pelo fogo sentiram a felicidade escapar por seus dedos. Acordaram lentamente e se trocaram. Tinham que procurar por Borgin.

Não sabiam por onde começar, então começaram de lugar nenhum. Vagando pelas ruas como turistas em passeio, embora não tivessem interesse algum em pontos turísticos e belas esculturas da paisagem. Já alaranjava o céu e ainda não havia nenhuma expectativa de achar Borgin no meio daquela cidade. Mas, é claro. Que tipo de bruxo escaparia para uma cidade tão próxima se estivesse fugindo? Uma fuga nunca levaria alguém para uma sorveteria ou para um banco de praça para que a pessoa pudesse ler jornal. Foi aí que pararam, todos ao mesmo tempo. No banco da praça principal havia um homem lendo jornal. Ele espiava por cima das folhas largas e usava um grande chapéu marrom. As crianças apuraram os olhos e o homem abaixou o jornal, era apenas um cidadão comum. Suspiraram. Onde estaria Borgin? Passaram por várias lanchonetes e pararam para tomar um sorvete. Saboreando a menta gelada e os flocos de chocolate, conversavam devagar. Os assuntos nunca se prolongavam por mais de dois ou três minutos e havia intervalos compridos entre os pequenos diálogos. Foi quando alguém esbarrou em Rony e fez com que seu sorvete caísse. Olharam na direção do menino, mas o culpado já corria porta afora. Pela janela de vidro puderam ver o velho Borgin correndo com dificuldade. Levantaram-se rápido deixando poças de gelado na mesa e seguraram Borgin.
-Dessa vez você não escapa! –disse Hermione com firmeza. Borgin começou a gritar.
-Socorro! Essas crianças estão me assaltando! Socorro! –as pessoas começavam a olhar. Alguns se aproximavam devagar e os três se encolheram junto a Borgin. –E agora? Não escapo? –sussurrou ele perto dos garotos.


Em Hogwarts os dias passavam devagar. Onde estariam Rony, Harry e Hermione? Ninguém podia responder. Mas, muitos tinham esperança de que eles estivessem atrás d’Aquele-Que-Não-É-Nomeado. Durante as aulas de D.C.A.T. Tonks se recusara a responder o porquê daquela página faltando.
-Não é nada importante, relaxem.
Firenze, porém, tinha uma opinião diferente. Durante uma aula de Adivinhação ele comentou sobre livros que continham magia muito poderosa. Uma magia que ocultava certos fragmentos do conteúdo até que algo, magia, sentimento ou acontecimento revelasse as palavras que deveriam estar ali. Trelawney era mais misteriosa, como sempre. Levantava-se e tacava um livro na parede enquanto sussurrava.
-Um livro terá a página, quando algo importante estiver pronto para ser anunciado. A verdade será revelada, caros alunos e então, o mundo inteiro correrá um grande perigo. A decisão estará nas mãos daqueles a quem não confiamos nossos segredos e será essa ignorância a causa da possível destruição de nossas identidades.
Alguns alunos pulavam das cadeiras e tremiam, outros reviravam os olhos e diziam “besteira”. Mas, no fundo, algo os tocava. Era como se o tom de voz da professora fosse o de outra pessoa.


-O que faremos!? –perguntou Rony. –Se aparatarmos aqui todos verão e o Ministério virá atrás de nós.
-Bom, o Ministério não veio até agora... Mas, mesmo assim não acho bom arriscarmos. –respondeu Hermione.
-E o que você sugere Mione? –Harry estava desesperado, olhava para os lados enquanto a multidão se aproximava.
Hermione pensou um pouco e sussurrou algo. Um objeto foi conjurado em sua mão e ela o ergueu.
-Não se mexam ou o velhinho morre! –uma arma de fogo estava apontada para a cabeça de Borgin. Todos pararam e recuaram alguns passos. Harry se assustou, mas Rony entendeu.
-Conte-nos tudo ou o Ministério virá... Eu ouvi dizer que a nova prisão é muito pior que Azkaban. –ele sussurrava e havia algo sedutor em sua voz. Uma magia? Ou seria apenas convicção? Independentemente do que fosse, Borgin pareceu cair.
-Ok! Ok! Eu conto... O que querem saber?
-Primeiro... –começou Harry, mas foi interrompido.
-Quem é R.A.B.? –perguntou Hermione. Ela entendeu que Harry queria saber sobre a noite em que Dumbledore faleceu, mas não tinham tempo. O menino abaixou a cabeça e Borgin começou a falar.
-Eu não tenho certeza. Há um boato... Um boato que corre apenas pelo lado negro do mundo bruxo. Da Travessa do Tranco até Azkaban e o próprio covil de Você-Sabe-Quem. Dizem que é uma pessoa nova, que mora aqui em Londres... E... Dizem que ele é um trouxa... Vocês conhecem a Praça Principal? Para achá-lo basta seguir as colunas... Se ele não estiver lá, então é tarde demais para vocês. E também... –mas, parou. Ouviram sirenes de policia. Hermione apontou a arma para a multidão e conseguiram passar. Entraram num beco e aparataram para o quarto do hotel.
Hermione se livrou da arma assim que pôde e fez um barulho enojado.
-Armas dos trouxas, não há magia negra que seja mais terrível que esses objetos. –e aparatou para pegar a chave na recepção. Rony olhou para ele quando voltou e bocejou.
-Vamos procurar por Borgin?
-Amanhã...
-O que ele ia dizer antes de fugirmos? Será que era importante? –Rony estava cansado, mas isso martelava em sua cabeça.
-Com certeza que era importante, mas não haverá outra chance. Vamos trabalhar com o que temos. Como disse Harry, amanhã...
-Exato, hoje dormimos. –falou Harry com um sorriso gentil. Estavam exaustos.


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Dessa vez eu fui mais rápido... \o~

Sério gente, comentem... E sempre leiam isso aqui...
É chato estar escrevendo sem nenhum resposta de vocês...



Próximo capitulo: A Sala Vazia

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