Abrogo Anima



Gina não sentiu nada além de medo quando a mão de Draco deslizou das suas e ele caiu com um baque no chão. Ela engoliu em seco rapidamente, piscou, e levantou os olhos para mirar Tom. Ele lançou-lhe um meio sorriso presunçoso, enquanto Maria, parada atrás dele, claramente teve dificuldade em conter sua alegria.
- Maria, - disse Tom sem desviar o olhar de Gina – volte ao quarto e prepare tudo.
A aia concordou e apressou-se para fazer o que ele ordenara.
- Venha – disse ele calmamente para a garota.
Ele deu uma leve pancada em Draco com a varinha, que imediatamente flutuou no ar, seus pés pairando a alguns centímetros do chão. Seu queixo caiu para frente, apoiando-se no peito, e, quando Tom deu a volta e começou a caminhar pelo corredor, Draco seguiu-o de maneira deplorável.

Gina não teve outra escolha senão segui-los. Seus pés pareceram chumbo à medida que se arrastava. Mesmo o pensamento de que Dumbledore pudesse estar ali para ajudá-los não era reconfortante – Dumbledore já não os teria salvado antes se pudesse?
Sabia que não deveria deixar a esperança morrer tão simplesmente, mas naquele momento era difícil pensar em alguma coisa além do que estava prestes a acontecer com ela. A respiração acelerando, seu coração batendo forte, deixou-se ficar a uma boa distância de Tom, rezando para que algum milagre acontecesse a qualquer momento.
Talvez um milagre tenha acontecido, e talvez não. Tudo que Gina sabia é que em um minuto estava às beiras de se descabelar em choro histérico e gritos, e no próximo minuto foi como se uma luz a tivesse iluminado.
“Tom precisa de mim viva” pensou com uma claridade repentina. “E melhor ainda... precisa de Draco vivo também.”
Então se Gina corresse abruptamente e tentasse escapar para pedir ajuda, Tom não poderia matá-la. Nem Draco, quando ela estivesse ausente.
Havia sempre a pequena chance dele usar mágica para impedi-la, mas se fugisse cuidadosamente – já que ele estava caminhando e olhando para frente – e silenciosamente, poderia passar despercebida por alguns segundos. Ele levaria um tempo para se dar conta de que os passos dela haviam cessado, e nessa hora ela talvez já pudesse perder-se dele nos inúmeros corredores do castelo vazio.
Um milhão de pensamentos ocorrem-na então, muitos a alertando do risco de fazer uma coisa tão ousada. “Ele poderia encontrá-la facilmente... esse é o mundo dele, ninguém a ajudará! Ele pode se precipitar e matar Draco logo... é esperto demais; saberá o que você planeja fazer antes mesmo de fazê-lo...”
Mas ela já estava fazendo – quando se aproximaram de uma esquina, Gina viu suas pernas pararem por conta própria. Tom virou no corredor, Draco flutuando trás dele, e então ela ficou fora de vista.
Deu a volta e correu a toda velocidade pelo corredor.
Tom levou apenas um instante para perceber, e então o ar encheu-se com a sua risada, sua voz calmamente ameaçando-a e falando com ela como se estivesse bem perto.
Ainda assim ela correu, seu coração palpitando nas orelhas de tão forte. Essa devia ser a sua quinta explosão de energia – sua quinta respiração pesada – do dia, pois a adrenalina pulsava dentro dela tão abundantemente quanto sangue. Tudo que importava era que ela estava fugindo de Tom, afastando-se... nada, nem mesmo a vida de Draco (porque tinha certeza que ele estava salvo) pareceu relevante então.

Seus sapatos chocavam-se contra o chão de pedra, e virou apressadamente em outro corredor. Agora não estava mais de costas para Tom; ele teria que correr atrás dela para avistá-la.
Precisava encontrar uma saída... qualquer saída; optaria até por pular de uma janela. Conseguiu descer ao primeiro andar com uma escada que encontrou, mas agora não fazia idéia de onde havia uma porta.
Virou em um corredor e depois em mais outro. Sair estava definitivamente no topo de sua lista de prioridades, e à medida que ia mudando de direção e dobrando em corredores, se perdia cada vez mais de Tom, então fugir dele não era uma necessidade fatal.
Ainda.
Finalmente, depois que pareceu que estivera correndo com toda a vontade por horas, reduziu a velocidade e parou. Colocando uma mão na parede, esfregou o peito distraidamente para diminuir a freqüência do coração, sua respiração rápida e pesada. Conseguira escapar das garras de Tom pela segunda vez naquela tarde, mas não se sentia tão segura quanto da primeira vez. Sabendo muito bem que esse era o mundo dele, teria bastante dificuldade em encontrar alguém que a ajudasse.
Sempre havia Dumbledore ainda, mas ele não era uma garantia. E além disso, se encontrava em Gales – como poderia chegar até ele antes que Tom interferisse? Seria muito arriscado.
Ela recomeçou a caminhar, tentando fazer o mínimo barulho que podia. Rapidamente inventou um plano mal elaborado na cabeça.
Draco veio a cavalo, que provavelmente ainda estaria esperando por ela do lado de fora quando encontrasse uma saída. Poderia cavalgar de volta ao seu castelo e encontrar a primeira empregada ruiva que pudesse. Então, poderia enviar a empregada em uma carruagem real, escoltada por muitos guardas em direção ao... norte. Ela então poderia cavalgar até Gales, e esperançosamente Tom seguiria a carruagem.
Havia tantas falhas nesse plano, contudo. As chances de Tom ser enganado eram de mínimas a nenhuma. E sentia-se culpada por mandar uma garota inocente e muitos guardas para, provavelmente, encontrar suas mortes.
E ainda havia a possibilidade de Tom ficar tão furioso de ter sido de fato enganado, que decidisse matar Draco.
Mas ainda era a única coisa que ela conseguia pensar no momento. Teria que ser isso.
Naquele momento precisava apenas achar um caminho para fora do maldito castelo.
- Majestade?

Gina sentiu o coração congelar na garganta, e por um minuto pareceu que seu corpo parara de funcionar. Vagarosamente, conseguiu reconhecer a voz, e deu a volta.
Harry estava parado ali, diretamente atrás dela, parecendo apreensivo e levemente confuso.
Várias emoções passaram por Gina, e ela foi de alívio e gratidão para rapidamente se aproximar de suspeita e traição. Estivera Harry no plano com Tom todo o tempo?
Ela franziu o cenho... não, não teria Tom dito alguma coisa? A não ser que fosse por isso que estivera tão confiante quando ela fugira... ela daria de cara com Harry e ele a levaria de volta intacta...
A preocupação relutante nos olhos dele pareceu tão sincera que ela quis com toda a vontade acreditar que ele estava do seu lado e não sabia de nada do que estava acontecendo. Mas ainda assim tinha que ser cautelosa. Ao mínimo sinal de hostilidade ou malícia na expressão dele, fugiria. Havia decifrado Maria equivocadamente todo o tempo – confundira vários instantes de ódio e inveja com outra coisa – e não estava disposta a repetir o erro dessa vez.
- Você... – ele engoliu em seco – Você está bem?
- Estou bem – disse Gina com calma, endireitando-se. – Nunca estive melhor. O que está fazendo aqui?
- Eu... eu segui Sua Majestade até aqui – admitiu, como se tivesse cometido um crime severo e estivesse esperando ser punido – Eu achei que algo estivesse... errado.
Ela amoleceu, apesar da desconfiança, e disse a verdade:
- Bem, estou feliz por estar aqui. A sua presença me conforta, Harry.
O garoto pareceu confuso e pego de surpresa:
- O que está fazendo aqui, posso saber?
- Eu fui trazida aqui – disse ela com determinação – Contra minha vontade. Eu e você tivemos razões para não gostar do Doutor Tom, e elas estavam corretas. Ele é mau.
Harry concordou como se tivesse sabido disso todo o tempo. Essa reação fez Gina endurecer, seus sentidos em alerta contra qualquer sinal de falsidade.
- Onde está sua Majestade? – perguntou ele, silenciosamente, notando a pose tensa dela.
- Também foi pego – respondeu ela, contraindo um ombro – Estive pensando numa forma de recuperá-lo, mas devo fazer outra coisa antes.
Ela sentiu como se estivesse falando de alguma posse, algum objeto roubado, e não de um ser humano. Mas a desconfiança de que Harry pudesse ser o inimigo a fazia agir com frieza.
- Certo. – Ele então parou sem jeito, sem saber o que fazer.
“Não tente me ajudar” pensou Gina, mordendo o interior de sua bochecha enquanto o encarava. “Não ofereça sua ajuda... eu saberei com certeza que você está trabalhando para Tom, não ofereça nada...”
O silencio estendeu-se por um longo período e era desafiante, de alguma forma, mas maravilhoso. Era óbvio que Harry não diria nada sobre auxiliá-la, e seu olhar relaxou.
Um aliado? Poderia ela honestamente considerar Harry um? Seria um alívio tão grande acreditar que ele fosse, mas realmente tinha que ser cuidadosa.
- Certo – disse Harry novamente – Bem, então, eu devo ir indo. Várias tarefas para fazer no castelo...
- Me ajude – Gina pediu-lhe imediatamente.
Ele elevou uma das sobrancelhas. A única emoção evidente em seu rosto era a confusão.
- Ajudá-la? – repetiu, incerto.
- Sim – disse ela, emocionando-se ao falar – Me ajude a lidar com Tom. Ele está com Draco – e eu estou completamente sozinha. Preciso de ajuda. Você é o único aqui que eu chegaria perto de confiar, Harry.
Pronto. Não dissera que confiava nele, mas mencionara que quase o fazia.
Gina sabia que isso poderia dar em uma das duas opções: Harry recusaria, dizendo que não podia, ou concordaria imediatamente. Não sabia qual das duas ações indicava que ele trabalhava para Tom.
Ela observou enquanto a expressão dele endurecia, seus lábios pressionados em uma linha fina, seus olhos verdes fitando-a com raiva. Absolutamente intrigada, ela imaginou se isso era um sinal de que ele a odiava e estava do lado de Tom. Ou talvez parecesse isso pois meramente pensava que ela tinha algo a ver com a morte de sua mãe. Oh, ela não conseguia entender nada... achara que poderia distinguir, mas não podia, e estava perdendo tempo!
- Eu não tenho outra escolha a não ser ajudá-la, – disse ele friamente – não é?
- É claro que você tem uma escolha – irrompeu.
Não esperara que ele fosse concordar de má vontade.
- Eu irei ajudá-la, Sua Majestade – disse, sua voz pintada de desdém, como se estivesse mimando-a. Ele fez uma profunda reverencia – Sou seu servo, não sou?

- Oh, pare com isso – ordenou ela afiadamente – Levante-se e por favor, nunca, jamais, faça reverencias novamente.
Ele endireitou-se, e em seu rosto havia agora um olhar de desprezo:
- Como desejar, Sua Majestade...
- E não me chame assim! – clamou, levando os dedos à a têmpora e espremendo os olhos com força. – Eu não sou Sua Majestade! Não sou majestade de ninguém! Não sou da realeza, não sou rica...!
O olhar indiferente e frio do rosto dele lentamente cessou. Parecia agora genuinamente assustado, talvez pensando que ela estava tendo algum tipo de ataque. Possivelmente estava com medo que ela fosse feri-lo.
Aspirou ar através de seus dentes cerrados antes de jogar suas mãos para o lado e abrir os olhos:
- Você vai me ajudar? De sua própria e pura vontade? Porque você é livre, Harry, eu concebo a você e ao seu pai liberdade.
- Eu... eu irei ajudá-la – respondeu apressadamente.
É claro, ele apenas disse isso pelo terror de ser esmagado contra a parede. Gina sabia que devia parecer ameaçadora, com o rosto vermelho e os cabelos desgrenhados, mas não se importava. Sairia do maldito castelo com ou sem Harry.
- Vamos – disse ela sem voz, e voltou a caminhar pelo corredor.
A cidadela era com certeza um labirinto. Diversos corredores davam a outros, mas nenhum deles dava a lugar algum. As portas que decoravam as paredes estavam todas trancadas, então não tinha acesso a janelas. Frustração estava crescendo dentro dela e a energia que tivera anteriormente começava a se dissipar. Seu corpo parecia pesado; sem vida. Não queria nada mais que se jogar numa cama e dormir para esquecer todos os seus problemas.
A única coisa a impedindo era o fato de não haver nenhuma cama à vista.
Gina estava tão concentrada em sua exaustão que nem percebeu que Harry parara de segui-la até ouvir uma gargalhada. Vagarosamente diminuiu a velocidade e parou, imaginando que fora Harry que rira, e o único motivo que podia chegar à conclusão dele tê-lo feito era porque conseguira algo que desejava. Mas quando deu a volta, deu-se conta de que não fora ele que rira friamente - e sim Maria.
Gina devia ter estado realmente submersa em pensamentos, pois de alguma forma Maria fora capaz de agarrar Harry e pressionar uma faca em sua garganta, tudo sem ela ouvir.

Por um longo minuto, ela permaneceu parada, chocada. Harry não estava se debatendo, mas provavelmente por causa do medo de ter sua garganta rasgada. Maria era tão baixa que ele teve que se abaixar para ela alcançar seu pescoço. Suas duas mãos estavam no braço da aia por cima do ombro, mas ele não fez menção de arrancar a faca dela. E Maria não fez menção de tirar os dedos dele.
- Você é uma imbecil, tentando fugir de nós, Gina – falou Maria lentamente, sua voz embebida com bastante veneno – E é uma pena você ter trazido ele para isso. – Ela cutucou Harry, indicando quem ele era. – Terei que matá-lo.
Gina não sabia o que responder. Não sabia o que pensar – o que fazer. Harry estava a minutos de sua morte e tudo que ela conseguia fazer era olhar.
“Caí na armadilha.”
Ela estava presa... tinha apenas duas escolhas. Podia correr e deixar Harry morrer, e ter sua morte constantemente pesando na consciência, ou poderia ficar e vê-lo morrer. Nenhum dos dois era uma boa coisa. Não podia simplesmente correr, mas não podia deixar Maria ir atrás dela assim que terminasse com Harry.
Não foi pela primeira vez que Gina desejou não gostar de Harry, mas dessa vez foi por uma razão totalmente diferente. Dessa vez, ela desejou odiá-lo e ter força para simplesmente dar as costas e deixá-lo morrer.
Mas não o odiava. Ela ficou, seus pés presos no chão.
Os segundos passaram, Maria fitando Gina, a respiração de Harry cada vez mais alta e irregular. Cada um estava esperando algum deles fazer um movimento, mas nenhum fez.
Foi então que Tom decidiu chegar. Apenas Harry teve consciência da presença dele por vê-lo – Maria não ousou tirar os olhos de Gina, e Gina manteve seu olhar firme.
- Maria, - disse Tom, sua voz gentil e leve, e ao mesmo tempo ameaçadora e fria – por favor, liberte Harry.
- Eu posso matá-lo... – começou sibilando.
- Não.
Era uma monossílaba silenciosa, mas sua força era incrível. Os olhos frios de Maria agitaram-se e relutante ela removeu a lâmina da garganta de Harry, sua face de repente sem cor.
Harry cambaleou para longe da aia, inconscientemente movendo-se para perto de Gina, a mão no pescoço.
A garota fitou Tom, tentando ver qualquer sinal de Draco. Claramente ele não estava a vista. Isso significava que Tom o deixara sozinho, inconsciente, em algum quarto?

“Talvez ele acorde” rezou ela. Talvez ele escape se conseguir voltar à consciência novamente.
- Acho que devo caminhar atrás de vocês dois – disse Tom, veneno claramente evidente sob seu calmo tom de voz – Maria, conduza-nos.
Gina já deveria saber que não podia correr – deveria ter sabido que Tom se asseguraria que ela não pudesse fugir. Valeu a pena ter tentado, mas agora colocara Harry em perigo.
As coisas simplesmente não podiam ficar piores do que já estavam.

* * *

Maria conduziu-os a um gigantesco salão de festas – ou pelo menos, era isso que parecia ser. A parede oposta era completamente feita de janelas de vidro, cobertas por cortinas brancas amarrotadas. Gina não conseguia enxergar nada do exterior de tão escuro. O grande vazio deixava o lugar frio e assustador, e mesmo tendo um grande candelabro com muitas velas, as sombras eram visíveis pelo chão.
Harry foi primeiro, e Gina parou assim que colocou os pés dentro do salão. A porta bateu atrás dela sem nenhum toque humano. Seus olhos examinaram o aposento escuro e encontraram uma figura que reconheceu ser Draco, ainda inconsciente, no canto.
Gina pressionou as costas contra a porta fechada, como se tivesse esperanças de derreter e misturar-se na madeira.
- Harry, – disse Tom, a malícia só evidente por trás do tom de voz. Estava parado no meio do salão, e com um movimento sacou sua varinha – estou maravilhado que esteja unindo-se a nós esta noite, mas receio que terá de assistir dali.
Quando disse a última palavra, apontou a varinha para a parede direita. Harry foi parar ali em um segundo, movendo-se tão rápido que Maria tinha que ter notado algo suspeito.
A aia estava parada um pouco atrás dele, e não pareceu surpresa. De qualquer forma, não disse uma única palavra.
Harry bateu na parede com um smack alto. Ele não gritou de dor, e quando deslizou para o chão, Gina desconfiou que tivesse sido nocauteado. Contudo, lentamente ele conseguiu se posicionar de joelhos, seu rosto claramente contorcido por tanta dor que ela quase correu para o seu lado.

Mas não o fez. Em vez disso, observou-o colocar-se instavelmente em pé. Então ela desejou mais que tudo que Harry fosse embora; não estivesse ali. Sabia que ele iria morrer, e mesmo que ele não fosse o mesmo Harry que ela conhecia tão bem, a idéia ainda machucava-a tanto a ponto de fazê-la sentir como se seu interior estivesse pegando fogo.
- O que... – Harry começou, mas não chegou muito longe.
Tom interrompeu-o:
- Petrificus Totalus.
O corpo inteiro de Harry ficou rígido, sua mandíbula fechou, e ele inclinou-se para o lado. Ele girou para trás, rijo, fazendo Gina se lembrar de uma estátua de pedra. A garota fitou-o, apesar de estar imensamente aliviada por Tom não tê-lo matado ainda.
Maria ficou boquiaberta em silêncio. Virou-se a Tom para perguntar-lhe sobre isso, mas o olhar dele foi tão severo e ameaçador que ela pensou melhor e resolveu fechar a boca.
Tom relaxou e disse, com imensa satisfação:
- Aí está. Ele já foi resolvido – então olhou para a garota - Venha até aqui e facilite as coisas para mim, sim?
Gina rapidamente negou com a cabeça violentamente. Se ele estava disposto a tomá-la, ele não teria as coisas facilitadas nem um pouco.
- Tom, – disse Maria com pressa – eu tenho a faca. Posso matá-la para você - adicionou, fixando os olhos em Gina com um sorriso malvado – e assim você pode segurá-la...
- Silêncio – Tom repreendeu-a – Você ficará de lado apenas olhando, compreende?
Maria abriu a boca para protestar, mas deve ter visto o olhar dele, pois novamente pensou duas vezes. Ela realmente era uma covarde se era tão facilmente controlada. Devia sentir muito pavor de Tom, pensou Gina.
- É claro – murmurou Maria, e desajeitadamente deu alguns passos para trás.
Gina estava fitando em direção à aia, e não prestara atenção a Tom. A garota soltou um grito quando seus pés de repente foram arrastados do chão e ela flutuou rapidamente para uma das paredes, a varinha de Tom seguindo-a e dirigindo-a para onde queria que fosse. Ele pressionou-a fortemente contra a parede, e ela ficou sem fôlego. Deslizou para o chão, meramente com os pés no solo, mas antes que pudesse perder o equilíbrio e cair, Tom estalou os dedos e algemas de metal surgiram da parede atrás dela. Elas fecharam-se fortemente em volta de seus pulsos, tornozelos, cintura e pescoço, antes de deslizar de volta à parede, prendendo-a bem forte contra ela. Se tentasse se mexer muito, os grilhões encravariam na sua pele dolorosamente. Com Tom encarando-a tão ferozmente, ela permaneceu parada, sabendo muito bem que não tinha muitas chances de escapar mesmo.
Maria parecia extremamente confusa agora, e isso era mais forte que seu medo:
- Como você...?
- Não fale, Maria – sibilou Tom, seu olhar fixo em Gina.
A aia obedeceu, mas Gina viu o brilho de raiva que possuiu seus traços e se dirigiu às costas de Tom.
A ruiva olhou para a direção de Draco, ainda inconsciente no canto. Será que ele iria acordar? Poderia salvá-la, de alguma forma? A probabilidade era pequena, é claro, mas seria um grande alívio se despertasse.
“Tom iria simplesmente enfeitiçá-lo de novo” disse a si mesma, franzindo o cenho. Ele não queria Draco testemunhando isso, e iria garantir que não o fizesse. Era inútil desejar ajuda do garoto.
E quanto a Harry? Lançou um olhar a ele. Estava ainda deitado rigidamente no chão, sem demonstrar algum sinal próximo de movimento.
Gina forçou-se a observar Tom. Ele ainda não fizera nada; estava parado em frente a ela, a varinha em punho, com um pequeno sorriso de contentação no rosto. Ela sabia que estava chegando a hora; sabia que ele invadiria-a logo. Talvez já estivesse começando. Como saberia?
Obviamente saberia quando não estivesse mais em seu próprio corpo.
Seu coração estava batendo forte sob as costelas, e ela perguntou-se se poderia desmaiar de antecipação. Não queria isso – queria estar em vigília quando Tom fosse matá-la.
Talvez não fosse morrer no sentido de seu corpo parar de funcionar, mas tecnicamente, Gina Weasley estaria acabada. Destruída. Para sempre. Não haveria jeito de voltar. Apenas seu corpo sobraria, na posse de Tom Riddle.
Agora, mais do que nunca, desejou com cada fibra de sua existência que não tivesse começado a escrever no diário que achara em seu antigo material escolar, no primeiro ano. Isso quase a matara seis anos atrás, e agora, provavelmente teria sucesso nessa tarefa. Tudo por causa de uma idiota e estúpida decisão que fizera quando tinha onze anos.
E essa decisão iria matá-la.
Foi como se gelo líquido tivesse tomado o lugar do sangue em suas veias, e estava rapidamente deixando-a dormente. Achou que talvez fosse o início do feitiço de Tom – talvez significasse que o espírito de Tom estava predominando sobre o seu.

A mente de Gina lutou para formar pensamentos coerentes. Pegou-se lembrando de seus pais, seus irmãos... o que aconteceria com eles? Tentariam investigar aonde ela tinha ido, e terminariam assassinados por Tom?
E quanto a sua vida? Tinha apenas dezessete anos – verdade, já se casara, mas isso era apenas uma das várias coisas que queria fazer à medida que crescesse. Queria conhecer um homem bom e ter filhos; queria ter um emprego que pagasse um bom salário; queria provar que era ela mesma, não apenas mais uma Weasley.
Suas oportunidades seriam simplesmente destruídas, exatamente como sua vida.
- Gina – disse Tom de repente.
Ela contorceu-se ao som da voz dele. Tinha algumas suspeitas de que ele já começara a tomar seu controle.
- Não acho que vá sentir algo – disse-lhe lentamente, de repente sorrindo por causa de algo; talvez da expressão horrorizada dela. – Tenho certeza que será rápido e indolor. Contudo, só posso especular. Nunca fiz isso antes.
A boca da garota ficou seca, e não conseguiu responder.
- Só mais uma coisa – adicionou ele, batendo com a varinha na outra palma – Obrigado. Você fez meu plano acontecer bem como eu esperava. Então, agradeço-lhe.
Ela desejou que tivesse um pouco de saliva, pois parecia uma oportunidade perfeita para cuspir nele.
Tom elevou a varinha, seus olhos iluminados com um fogo insano, e gritou duas palavras:
- Abrogo Anima!
Gina não tinha idéia do que isso significava, mas devia ser bem poderoso. Instantaneamente, um sopro uivante arrastou-se pelo salão. Passou pelas cortinas e apagou a maioria das velas do candelabro – o lugar mergulhou na quase escuridão. O único barulho era o do vento, assobiando nas orelhas de Gina, fazendo seus cabelos voarem em volta da cabeça... o próprio cabelo de Tom estava desarrumado, e isso estranhamente fê-lo parecer com Harry.
A expressão no rosto dele era de concentração extrema, sua varinha apontada bem na direção do peito de Gina, mas atrás dele, a boca de Maria se mexia. A garota não conseguia ouvir o que dizia; podia ser o temor obstruindo suas orelhas, ou talvez o eco do vento... a aia estava obviamente gritando algo para Tom, com olhos úmidos e parecendo frustrada.
Os olhos de Tom deixaram a figura de Gina, e sua expressão calma foi substituída por uma de cólera absoluta. Ele baixou a varinha e lentamente virou-se para encarar Maria.

Foi então que Gina deu-se conta de que talvez pudesse escapar. Já que ele não estava mais a vigiando, talvez pudesse livrar seus pulsos das algemas, e quem sabe libertar seu pescoço com uma mão livre.
O vento continuou a bater nos seus cabelos e chicoteá-la nas panturrilhas enquanto olhava para baixo e tentava menear as mãos das correntes. Doía, e sabia que tinha pouca chance de se libertar, mas afinal não se importava. Não pretendia ficar sentada lá esperando ajuda. Fizera isso durante toda sua vida... sempre houvera alguém por perto para auxiliá-la, e agora que não havia mais ninguém, ia aprender a se virar sozinha.
Pelo menos era o que esperava.
Decidindo usar outra tática, cerrou as mãos, e puxou-as da parede, com esperanças de arrancar as correntes. Sem sorte. O metal afundou em sua pele cruelmente, fazendo sangue escorrer pelas suas mãos, chegando aos dedos. Ela recuou, cerrou os dentes, e puxou novamente.
Seus olhos começaram a lacrimejar, e ela baixou-os na direção de Tom para ver o que ele estava fazendo. Ainda estava de costas para ela, e Maria observava-o com olhos úmidos e furiosos, seus lábios movendo-se – continuava gritando com ele, provavelmente exigindo explicações do que ele estava fazendo.
Gina forçou os grilhões mais uma vez, e soltou um gemido de dor que não chegou até seus ouvidos por causa do vento barulhento. Relaxou as mãos, e deixou a cabeça bater contra a parede; era tudo em vão. Não conseguia se soltar... não era forte o bastante. Seus dedos já estavam ensopados com seu próprio sangue.
Tentou piscar para evitar as lágrimas, e olhou apressadamente para seus pés. Talvez... suas pernas eram definitivamente mais fortes – talvez conseguisse soltá-las, de alguma forma.
“E então o quê?” perguntou-se.
Bem, iria simplesmente fazer uma coisa de cada vez.
Contudo, bem quando começou a forçar seu pé direito para frente, flashes de luz verde fizera-na olhar abruptamente para cima. Ela viu, por trás dos fios de cabelo que dançavam em frente de seus olhos, Maria caindo no chão como um fantoche cujas cordas haviam sido cortadas.
Tom a matara.
O coração de Gina fracassou. Sim, Maria estiver ali para matá-la, mas, de alguma forma, sua presença fora aceitável com o único pensamento de que talvez ela pudesse tentar evitar que Tom usasse mágica – era uma última esperança idiota, Gina sabia, mas era uma esperança apesar de tudo.
E agora Maria estava morta. Não havia mais ninguém consciente, se movendo, ou vivo no salão a não Gina e Tom. Isso a apavorava.
Tom virou-se para Gina, e seus olhos negros encontraram os dela. Ela paralisou, e se deu conta naquele momento de que estava tudo acabado. Ela perdera, e Tom vencera... não havia mais nada que pudesse fazer.
Seus músculos tombaram, e a única coisa que a mantinha em pé era a vaga lembrança de que, se não se suportasse, a algema em volta de seu pescoço a enforcaria. De repente isso não soou uma má idéia; se estivesse morta, Tom não teria como usar seu corpo.
Mas não havia tempo para se sufocar até a morte. Tom elevou a varinha novamente, seus olhos nunca deixando os dela, e sorriu. Ele sabia também que era o ganhador. Em apenas alguns segundos, tudo seria...
O vento ainda estava uivando? Com os gemidos dela? Gina piscou, perdendo o foco em Tom. O rosto dele flutuava em sua frente, mas ela ainda conseguia distinguir seu sorriso... aquele sorriso satisfeito, vitorioso e contente que fazia seus olhos azuis transformarem-se em pretos, e os traços bonitos de sua face tornaram-se frios e o rígidos...
Agora não estava ouvindo mais nada. Não conseguia ouvir o vento mais, não conseguia sentir o sangue escorregadio nas mãos, nem o aperto das algemas... não conseguia enxergar adequadamente, não conseguia ouvir direito... sua alma estava sendo arrancada de seu corpo? Já estava morta?
E então tudo terminou; sabia que terminara, que ela se fora... e sua mente apagou-se completamente.

* * *

A cama era dura demais.
Essa foi a primeira coisa que passou pela cabeça de Gina Weasley quando acordou de repente. Ela estava acostumada com a maciez -
Ela se espreguiçou graciosamente, um meio sorriso nos lábios. Tinha tido uma noite agradável... sonhou que esteve nos braços de um homem com cabelos loiros platinados e tinha sido muito gratificante.
- parecida com a de dormir no ar, mas de alguma forma, isso era... familiar.

Acordou vagarosamente, preguiçosamente... era como se tivesse tido a melhor noite de sono da sua vida, apesar da rigidez da cama. Não tinha nada com que se preocupar, já que não havia nada na sua mente além do quão maravilhoso seria pegar no sono novamente.
Bocejou longamente e fazendo barulho, esticou as pernas, e forçou seus olhos a ser abrirem totalmente. Acima dela estava um dossel de veludo vermelho – quão agradavelmente familiar. Havia algo nessa cama que ela sentira falta...
Então, com um solavanco e o que poderia ser a maior arfada que já fizera na vida, Gina sentou-se.
Hogwarts.
De repente estava muito bem acordada, e mexeu-se violentamente para arrancar os cobertores das pernas. Após um segundo de esforço e enrolamento na roupa de cama, ela desistiu e abriu com violência as cortinas. A gloriosa visão do dormitório da Grifinória das alunas do sétimo ano encheu seus olhos, e ela ficou boquiaberta como se nunca tivesse visto nada igual antes.
- Oh – respirou fundo – Oh, merda.
Nem tinha certeza se acabara de dizer um palavrão, mas a expressão parecia muito apropriada. Apressou-se para sair da cama, apenas para se lembrar que ainda estava enrolada nos cobertores e dar de cara no chão.
E ficou parada ali, abalada, metade de seu corpo de costas no chão, os lençóis segurando suas pernas em cima da cama. Olhou para o teto, dificilmente ousando acreditar no que estava acontecendo, e de repente teve vontade de rir.
E ela riu.
Gargalhou como uma maníaca; se alguém estivesse por perto certamente a acharia louca. Seu corpo doía, e seus olhos encheram-se de lágrimas... mas era tão bom se soltar e sorrir que ela nem se importou com as conseqüências.
Estava salva! Estava em Hogwarts, em seu próprio corpo... Tom não estava por perto – estava morto – e ela não!
Mas... que dia seria? Será que todos teriam sentido sua falta?
Gina, respirando fundo para evitar rir mais, rapidamente livrou-se dos cobertores e ajoelhou-se. Sobre a sua mesa de cabeceira estava a coisa mais gloriosa que já vira antes – sua varinha.
Apanhou-a e não pôde evitar: beijou-a. O sorriso não conseguia deixar seu rosto. Mesmo que Tom estivesse próximo – o que provavelmente não estava, pois ela se encontrava em Hogwarts! – agora ela tinha a varinha consigo, e tinha mais chances.

Gina olhou para seus pulsos –
As algemas perfuraram sua pele, afiadas como lâminas, fazendo gotas de sangue escorrerem pelos seus dedos. De repente surpreendeu-se pensando que isso era bom, pois o sangue a ajudaria a deslizar os pulsos dos grilhões... mas doía muito para tentar.
- para encontrá-los macios e não danificados. Se ela de fato tivesse recentemente estado aprisionada numa parede, haveria evidencias, mas não era o caso. Ou não tinha acontecido, ou alguém a curara, e ela apostaria tudo que tinha na primeira possibilidade.
Mas… que dia era? Apressou-se para o pé da cama onde seu baú estava, e abriu-o. Encontrou o que estava procurando instantaneamente. Era o calendário em que anotava todas as datas de provas importantes e deveres de casa para serem entregues. Era bem pequeno, do tamanho de um livro médio. Abriu então o seu anuário e folheou-o até dezembro.
No quadrinho de sábado, cinco de dezembro, estava escrita a palavra “Hoje” e então prosseguia listando todo o trabalho que ela precisava começar para terminar a tempo.
Cinco... de dezembro... ela não perdera um dia, -
Precisava saber a data. Algo estava muito errado, e a data só podia estar relacionada com o problema.
- Que dia é hoje, Maria? - perguntou de repente.
- cinco de dezembro, minha querida.
- não perdera um só segundo. Ninguém teria reparado sua ausência.
Ou talvez... ela nunca tivesse partido.
O sorriso aumentou. É claro! Nunca voltara para o ano de 1607 – só podia ter sido um sonho! Um sonho horrível, elaborado, parecido com a realidade, mas um sonho ainda assim! Se tivesse realmente acontecido, Tom não teria deixado-a voltar para sua própria época, intacta...
Mas ainda havia a possibilidade de Dumbledore tê-la trazido de volta. Soava impossível... como alguém poderia ter tirado-a daquele mundo?
E se realmente tivesse sido um sonho? Deveria chegar a Dumbledore e dizer “Olá diretor, poderia me informar se o senhor me salvou de ser possuída por Tom Riddle no século XVII?”
Se ele não o fizera, ela aparentaria ser a maior lunática.
Mas se ele o fizera, provavelmente deveria esperá-lo vir até ela antes. Ele não ficaria em silencio sobre algo que realmente ocorrera, isso ela tinha certeza.

Então de qualquer jeito, não precisava se preocupar, precisava?
Gina guardou o calendário e levantou-se, apanhando a varinha rapidamente como se alguém fosse roubá-la, e saiu do dormitório. Perguntou-se por que ele estava vazio – será que era muito tarde da manhã?
Antes de seguir em frente, olhou para o relógio na parede. Nele lia-se “Você dormiu demais, sua garota preguiçosa – já é meio-dia!”
Meio-dia? Por que ninguém a acordara? Já era quase hora do almoço.
Bem ciente de que ainda estava de pijama, desceu para o Salão Comunal. A visão que teve quase fê-la chorar – estava realmente de volta a Hogwarts. Seus colegas da Grifinória estavam sentados, à toa na liberdade da tarde de um sábado. Alguns fitaram-na curiosamente por descer naqueles trajes numa hora tão tarde, ou até sem roupão, mas não importava.
Ela só precisava se reassegurar de que havia pessoas por perto, que isso não era algum tipo de truque. Satisfeita, ficou parada lá por algum tempo sorrindo como uma idiota, e depois se virou e voltou para o dormitório. Precisava se vestir e descer para comer alguma coisa...
Enquanto subia os degraus do dormitório, de repente lembrou-se de Draco. Seu rosto passou pela sua mente, e parou no meio do caminho.
Se não fora um sonho, Draco estava então a salvo em casa? Ele teria, também, sido trazido de volta? Ou ainda estava naquele salão de baile frio e sombrio de 1607?
De alguma forma, se Dumbledore tivesse sido a pessoa que os resgatara, Gina duvidava que tivesse deixado-o lá.
Se esse era o caso – se Draco estivesse de fato de volta em casa – será que se lembrava de alguma coisa? Estaria acordado nesse exato minuto, pensando nela também?
- Ele se apaixonou por você, não percebe? – sussurrou Tom.
Seria verdade isso? Tom não mentiria, mas o que ele sabia sobre amor? Seria Draco Malfoy realmente capaz de amar alguém, ainda mais ela, a caçula de uma família que desprezava?
Gina não tinha certeza sobre ele, mas o que sabia era que ela estava loucamente, perdidamente, completamente e maravilhosamente apaixonada por ele. Provavelmente isso se aplica a desde que ele se colocou em sua frente quando estivera fugindo dos ciganos na floresta, -
Eles estavam gritando com ela... ela feriria seu líder, e não estavam felizes. Gina precisava fugir, ignorar a dor aguda que sentia e a fatiga. Tinha que correr mais rápido!

Dentro da floresta... não tinha avançado muito quando alguém surgiu e pôs-se em seu caminho. Por um breve segundo pensou que era outro cigano, mas então notou o cabelo claro e o rosto limpo.
Era Draco.
- o amara desde que ele arriscara sua vida para tentar salvá-la contra as garras de terríveis bandidos.
Ela bocejou brandamente, e continuou a caminhar para o dormitório. Se Dumbledore tivesse salvado-os, se tudo tivesse realmente acontecido, e se a possibilidade louca de Draco gostar dela fosse verdade, como poderiam começar um relacionamento nesse mundo? Gina tinha seis irmãos mais velhos bem crescidos, mais um pai de natureza gentil que se tornava grosseiro a menção da família Malfoy, e que expulsaria Draco e trancaria Gina em seu quarto pelo resto da vida se suspeitasse que ela gostasse dele.
Além do mais, passara a maior parte do tempo em 1607 preocupada em ter que passar o resto da vida com Draco quando haviam se casado – e isso quando foi forçada a ficar com ele. Por que seria louca o bastante em tentar ficar com ele voluntariamente agora?
Podia amá-lo, mas não eram feitos um para o outro. Toda vez que se aproximavam, brigavam e se insultavam. Ter um relacionamento com ele seria suicídio emocional.
Gina respirou fundo, parando antes da porta do dormitório. Teria que simplesmente esquecê-lo, não teria? Não moravam perto; não freqüentavam os mesmos lugares devido a seus status sociais que eram totalmente opostos – “será fácil evitá-lo” pensou Gina secretamente.
Contudo, era como se algo tivesse morrido dentro dela.
Então se achou pensando sobre o Harry do século XVII. Mesmo que não estivesse mais naquele mundo com ele, esperava que estivesse bem. Mas as chances eram de que, provavelmente, ele nem existisse.
Pelo menos, ela esperava que ele não existisse.
Entrou no dormitório, e decidiu tomar um banho primeiro quando uma rápida passada de dedos pelos seus cabelos oleosos provou que estava imunda. Seus lençóis ainda estavam desarrumados e caindo da cama, as cortinas ainda abertas... os elfos domésticos viriam arrumar a cama depois, então não precisava se preocupar com isso.
Procurou dentro do baú um novo frasco de xampu que comprara em Hogsmeade recentemente, e depois se inclinou para fechar as cortinas da cama, para que ninguém a visse desarrumada.
Foi então que viu aquilo.
Deixou o xampu cair no chão e quase desabou também atrás do frasco.
Na sua cama, encostada em pé contra a cabeceira, estava uma grande fotografia pintada, emoldurada em dourado. Era um quadro trouxa; perfeitamente imóvel -
Seu cabelo caía ao longo do pescoço, suas pernas doíam, e precisava usar o banheiro desesperadamente. Pela milionésima vez perguntou-se quando aquilo terminaria; não tinham ficado ali parados tempo o bastante?
- e era o retrato de casamento dela e de Draco.
- Meu... Deus... – irrompeu Gina, sem palavras.
A pintura era tão viva... era quase assustador. Havia a marca de desdém familiar em volta dos lábios de Draco, e a elevação de sua sobrancelha expressava irritação. Ela quase esperou que ele começasse a se mover.
Suas mãos estavam imprecisamente segurando as dela -
Suor... as mãos dela estavam suadas entre as suas, mas era confortável de certa forma. Tranqüilizante.
- e ela podia ver a faixa do casamento. Fitou os dois, lembrando a sensação da pele dele, e a saudades de tocá-lo novamente foi tão forte que ela quase não conseguia suportar.
Suspirando profundamente, Gina fechou as cortinas para que ninguém visse o retrato, e apresou-se no banho. Dez minutos depois, estava vestida em um tempo recorde e quase correu para fora do Salão Comunal e nos corredores em busca de Dumbledore.

Notas
Abrogo, em latim significa: cancelar, anular, remover, tirar.
Anima: vida, alma.
Nota da Autora
De uma vez por todas, me desculpem tremendamente por esse capítulo não ter romance. Mas haverá no próximo, prometo.
Logo, finalizando, o próximo capítulo inclui um monte de beijos, discussões tempestuosas e Dumbledore explicando mais algumas coisas.
O capítulo 16 é o último, mas depois dele há ainda o epílogo.

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