Por Trás Da Tapeçaria



Capítulo 13 – Por Trás Da Tapeçaria

As atividades foram imediatamente canceladas assim que Elle chegou para seu pai gritando. A notícia de que houvera um assassinato no castelo espalhou-se rapidamente, e todos ficaram ansiosos para retornarem às suas casas.
Gina poderia ter ficado assustada se não estivesse com uma sensação ruim no estômago sobre quem fora assassinado.
Sua mãe Lavinia estava tremendamente brava com tudo. Sozinha no pátio com ninguém além de Gina para ouvir suas reclamações, ela murmurou impaciente:
- Que hora mais inconveniente. Irá atrasar sua noite de núpcias.
Gina tentou não parecer tão aliviada.
- Isso é terrível, mãe – disse, apesar de não conseguir conter a alegria em seu tom de voz.
- Terei que enviar Ramiro para casa e buscá-lo novamente amanhã à noite – disse Lavinia, mais para si mesma que para Gina, que conseguiu escutar. – Até lá essa confusão felizmente terá acabado.
Gina perguntou casualmente:
- Quem é Ramiro?
Lavinia lançou-lhe um olhar exasperado.
- Você presta atenção a alguma coisa que digo?
- Não – respondeu honestamente.
Obviamente sua mãe estava tentando conter seu temperamento.
- É o homem que contratei para testemunhar sua noite de núpcias.
Gina sentiu seu rosto ficar lívido, e de repente o assassinato não teve importância.
- Testemunhar? – repetiu.
- Você já sabe disso, Gina – bradou. – Eu lhe contei um milhão de vezes.
- Alguém irá nos testemunhar fazendo sexo? – indagou, incrédula.
Lavinia pareceu surpresa com a rudeza da filha, mas logo sua expressão enrijeceu-se em fúria. Antes que pudesse atirar uma resposta, seu marido Edward apareceu, gesticulando para que entrasse. Sem outro olhar para Gina, ela seguiu-o.
Gina achou que estava preste a morrer de choque. Primeiro se casava contra a vontade, e agora teria que transar com Draco? Com alguém ao redor para olhar? Afinal, no fundo sempre soubera que haveria uma noite de núpcias, mas inconscientemente dissera a si mesma que poderia apenar fingir que haviam feito alguma coisa. E havia pensado – ou melhor, rezado com todas as suas forças – que ela e Draco já teriam ido embora desse mundo antes que as pessoas começassem a perceber que ela não engravidava.
Desorientada, entrou no castelo. Bem, simplesmente teria que inventar algum plano para se livrar da tal noite. Talvez pudesse ficar doente de novo. Poderia dar certo.
“Irei me preocupar com isso mais tarde” disse a si mesma, de repente lembrando-se do assassinato. Precisava se concentrar nos eventos do presente. Depois, quando já estivesse acontecendo, ela lidaria com o futuro.
Gina perguntou a um empregado onde seus pais estavam, e achou-os em uma sala com Draco, Elle e Francis. O tenente conversava com Edward, e parecia sério. Elle estava agarrada à mão de seu pai, os olhos úmidos e as bochechas molhadas de lágrimas.
- Então, quem é? – bradou Lavinia impacientemente. – Não pode ser enterrado e esquecido?
- Querida... – disse Robert em tom de alerta, lançando-lhe um olhar severo. Ela fingiu ignorá-lo, mas calou-se.
- Foi impossível ver os traços – respondeu Francis, e então se dirigiu a Edward: - Mas outros fatores, tais como cabelos e roupas, levaram-me à conclusão de que era o irmão de sua esposa.
Gina fitou Francis por um momento, tentando processar o que ele acabara de dizer. O irmão da esposa de Edward? Então deveria ser... o tio de Draco e Elle? Ela nem sabia que eles tinham um tio. A garota lançou um olhar indagador a Draco, mas ele não viu. Sua expressão era aquela de pensamento profundo, como se estivesse tentando recordar do tio.
- O tio está morto? – choramingou Elle de repente, apertando a mão de seu pai e levantando a cabeça para encará-lo, como se esperasse que ele pudesse contradizê-la.
- Shh – mandou Edward, mas então a fitou, e imediatamente suavizou-se. Colocou seu braço ao redor dela e a puxou para perto. Depois retornou seus olhos a Francis: - Foi Arsen o homem assassinado? Você realmente acredita nisso?
- Seus cabelos, apesar de estarem encharcados de sangue, obviamente são de um tom loiro claro – disse Francis, sem responder a pergunta diretamente. – E eu vi Arsen hoje cedo. Ele estava usando vestes verde-escuro. Do mesmo tom que o homem morto está usando.
- Quem mataria Arsen? – perguntou Robert, parecendo confuso. – Talvez para dar uma dica de que o assassino vai atacar... um membro da Família Real da próxima vez?
- Não vamos pular para conclusões... – começou Francis.
Lavinia interrompeu-o.
- Não pular para conclusões! – repetiu, histérica. – Um homem que é praticamente nobre foi assassinado! É óbvio que um de nós será o próximo! Francis, eu quero que coloque guardas em todos os lugares. Em cada entrada do castelo, perto de todas as janelas grandes, e muitos mais que o normal para guardar Robert-e-meus-aposentos...
- Lavinia, querida, acalme-se – disse Robert, sua voz calma. – Sim, Arsen era um duque, mas pelo que Edward nos conta, ele raramente entrava em contato com o irmão, por amizade ou mesmo por aliança. Desde que Orla morreu, eles se evitavam – Gina supôs que Orla era a mãe de Draco. – Se alguém matou Arsen, obviamente não é para significar uma ameaça direta a nós. Todos sabem que Edward não se importa com o homem.
- Eu me importava – murmurou Elle silenciosamente, tão baixinho que Gina pensou ser a única a ter ouvido.
- Robert, querido, pense por um instante, está bem? – convidou Lavinia gentilmente, mudando suas táticas. – Arsen foi assassinado em nosso castelo, no casamento de nossa filha. Se não fosse para ser uma ameaça a nós, então o assassino teria matado Arsen em sua própria casa, longe disso tudo.
- A não ser que o assassino more aqui – disse Gina, sem fôlego. Não esperava que alguém fosse dar-lhe ouvidos, mas de repente, todos a encaravam.
- O que você quer dizer? – perguntou Francis, seu rosto confuso.
Era bem óbvio para Gina que Tom assassinara Arsen, mas se dissesse isso, sua mãe insistiria no contrário. Então, ao invés disso, simplesmente deu de ombros e não respondeu.
- Ignorem-na – suspirou Lavinia após um minuto de silêncio. – Gina, querida, deixe nós, adultos, resolvermos isso.
A garota mordeu a língua para evitar retorquir. Qualquer dia suas opiniões iriam explodir, e não haveria como pará-la.
Deu a volta e deixou a sala. Seguindo-a, logo atrás, estava Draco. Quando alcançaram uma boa distância do aposento, Gina parou e virou-se para encará-lo.
- Você nunca me disse que tinha um tio – acusou um pouco severamente, tentando esconder sua frustração reprimida.
- Acho que esqueci – contou-lhe Draco com um movimento dos ombros. – Eu o conheci no baile, mas nem sabia seu nome.
- Bem, agora está morto – ela não tinha certeza porque dissera isso.
- É, obrigado pela notícia.
Ela cerrou os punhos, sua mente lutando para encontrar alguma resposta igualmente petulante.
- Acalme-se, Gina – ele disse, sorrindo arrogantemente. – Você vai explodir se continuar ficando vermelha desse jeito.
De alguma forma, o tom brincalhão dele ajudou-a a relaxar. Soltou um suspiro alto e deixou seus ombros caírem.
- Desculpe – disse. – Lavinia estava me enchendo o saco.
- Sua mãe?
- Sim.
- Não se preocupe com ela. Terá o que merece, um dia – disse Draco, e Gina teve o estranho flashback de Rony dizendo a mesma coisa sobre o loiro. Ocorreu-a como sendo irônico, mas não estava com ânimo para rir.
- Eu adoraria ser aquela a lhe dar o que merece – explodiu. Forçou-se a se acalmar novamente, e mudou de assunto abruptamente. – Tom não estava no casamento.
- Que pena – murmurou Draco.
- Estou querendo dizer que provavelmente ele estava por aí assassinando o seu tio – disse Gina vagarosamente. – Isso é óbvio... mas por que mataria ele?
- Talvez ele tenha se enganado, pensando que era eu – disse Draco sobriamente.
Ela revirou os olhos.
- Não é engraçado, Draco.
- Não estou tentando ser engraçado, Weasley – respondeu, bravo.
Gina soltou um gemido de frustração e começou a correr seus dedos pelos cabelos. Quase deixou a coroa cair. Havia se esquecido completamente dela. Tirando-a da cabeça, teve vontade de jogá-la pelo corredor. Mas manteve-se calma e segurou-a fortemente entre os dedos.
- Será que você não consegue sugerir explicações mais racionais? – perguntou impacientemente.
- Essa é a mais racional que consegui pensar – replicou ele. – É tão difícil entender, Gina, que estou tão sem soluções quanto você? Ao contrário do que você pensa, não sei de tudo.
- Está bem, implicações não nos levarão a lugar algum – Gina exclamou rapidamente.
- Para mim parece que é você quem está implicando – disse Draco sem hesitar.
A maneira como ele sempre tinha uma resposta pronta a irritava. Ele agia da maneira errada toda vez que abria a boca! Como poderia conviver com ele? E como poderia ter filhos que teriam de sobreviver com um pai como ele?
De repente, uma idéia ocorreu-a. Estava desesperada, isso era claro. E Tom iria certamente fazer algum mal a ela. Então por que deveria esperar até que acontecesse?
Iria até Dumbledore. Havia uma chance de ele poder ajudá-los. Se não, se ele os levasse de alguma forma à Tom, e daí? Iria acontecer mais cedo ou mais tarde, e Gina não estava disposta a esperar tendo filhos com Draco enquanto isso.
- Vamos – disse ela rapidamente, agarrando o pulso dele e apressando-se pelo corredor.
- Vamos aonde?
- Vamos ver Dumbledore.
Draco seguiu-a, mas ela pôde distinguir a surpresa na sua resposta:
- Dumbledore? Eu pensei que você disse que ele era mau.
- Eu não disse isso – bradou ela. – Só supus. Poderia estar errada.
- Você sabe que Dumbledore mora no meu país?
- Sim, eu sei, obrigada – seu tom era afiado e provocador. Ele estava irritando-a.
- E então? Você irá pegar uma carruagem e simplesmente rezar para que ninguém a rapte dessa vez? – disse Draco, referindo-se aos ciganos.
Ela preferiu não responder. Assim que conseguisse conter seu temperamento, e ordenar seus pensamentos, explicaria o que iria fazer.
De qualquer forma, quando chegou às portas que levavam aos estábulos, vários guardas a pararam.
- Desculpem, Suas Majestades. A Rainha Lavinia deu ordens de que os senhores não têm permissão para deixar o castelo – um homem disse.
- Rainha? Ela não é mais a rainha; eu sou! – gritou Gina, aproveitando-se de seu poder de uma vez.
O homem que falara mexeu-se desconfortavelmente.
- Desculpe, Sua Majestade. Não posso deixá-la sair.
Gina mordeu seu lábio inferior para não gritar. Bem, então teria que forçar sua mãe a deixá-la ir. A garota devia ser a pessoa mais poderosa no reino, não era? Que direito tinha sua mãe de contê-la?
Enquanto praticamente correu para achar Lavinia, percebeu que ainda estava segurando o pulso de Draco. Ele devia ter notado a pressão aumentando, porque parara de caminhar com ela. Irritada, virou-se para perguntar-lhe o que estava fazendo, mas ele falou primeiro.
- Gina, acalme-se – ordenou severamente. A forma como ele era o mais calmo apenas a enfurecia mais. Era como se ele fosse seu pai ou algo assim. – Você parece que está preste a ter um ataque cardíaco.
- Talvez eu tenha mesmo – disse ela com tristeza.
- O que quer que fosse que você estava planejando fazer, tenho certeza que seria idiota mesmo. Então talvez seja melhor que não tenhamos permissão para sair.
- Oh, nós vamos... – ela começou.
- Sua Majestade? – disse uma voz.
Gina virou-se para ver Maria sorrindo. A garota tentou conter sua raiva e agir sensatamente.
- O que?
- Desculpe por interrompê-los – explicou Maria. – Mas preciso que venhas comigo.
- Por quê? – disse ela. Draco cutucou-a por trás, indicando que deveria ir sem questionar. Suspirando, e fechando os olhos brevemente, Gina adicionou: - Desculpe. Sim, eu irei com você.
- Vejo você mais tarde – sussurrou Draco em seu ouvido. – Vamos resolver as coisas.
Ela lançou-lhe um olhar por cima dos ombros, perguntando-se quando ele assumira o controle de tudo. Seu rosto, como sempre, estava sem qualquer tipo de emoção. Dando a volta, ele conduziu-se na direção oposta do corredor.
- Venha – disse Maria com um sorriso, pegando o cotovelo de Gina.
- Devo mudar de roupas? – perguntou. – Ainda estou com o vestido de casam...
- Não – interrompeu Maria, um pouco áspera. – Não, querida, só vai levar alguns minutos.
Gina acompanhou o passo ligeiro da aia, achando estranho estarem indo tão rápido. Fitou Maria e ia começar a perguntar onde estavam indo quando viu que a mulher estava suando. Um brilho de umidade cobria sua testa.
- Maria? Você está bem? – perguntou.
- É claro – disse ela distraidamente sem encará-la.
- Você está suando.
- Está quente aqui.
Estava meio frio, na verdade, e Gina estava usando uma quantidade considerável de tecidos. Talvez por Maria ser baixa, gorda e se mover mais, ela sentisse mais calor.
A aia conduziu-a a sala de estar onde Lavinia sempre recebia convidados.
-Sente-se por um instante – informou, e Gina obedeceu-a, ficando mais confusa a cada segundo que passava. A aia estava agindo estranhamente; com uma energia nervosa. -Aqui, beba isso – adicionou ela, entregando-lhe um cálice prateado. – Devo estar de volta em breve com quem deseja falar com a Sua Majestade – e então saiu.
Gina arqueou as sobrancelhas.
- Que estranho – murmurou para si mesma.
Fitou o cálice em mãos. Possuía um líquido claro, que achou ser água. Tomando um gole, descobriu que não era água – era algo deliciosamente doce e com gosto de frutas.
Forçando-se a esquecer a frustração, ela relaxou na cadeira o máximo que seu corpete permitiu, e terminou a bebida.

* * *

- Sua Majestade!
Draco quase colidiu com Harry no corredor; o empregado estava se movendo muito rápido. A primeira reação do loiro seria dizer-lhe um insulto mal-educado, mas então se lembrou de que ele não era o Potter que realmente entenderia o que estava dizendo, então mordeu a língua e manteve-se quieto.
- Sua Majestade, eu tenho algo para lhe mostrar – disse Harry, sem fôlego.
Draco teria preferido fazer um boneco de neve com Elle a acompanhá-lo, mas Harry parecia tão ansioso e preocupado ao mesmo tempo, que ele suspirou e se rendeu.
- Está bem, mas é melhor que seja breve – disse.
Harry concordou e começou a conduzi-lo pelo castelo. Eles não se falaram. A mente de Draco estava em outras coisas – a morte de seu tio, Gina, o casamento... realmente não tinha tempo para se preocupar com algo que Harry quisesse lhe mostrar.
- É aqui dentro – anunciou Harry assim que parou em frente a uma porta. Abriu-a depois de pegar rapidamente uma tocha na parede.
Draco entrou primeiro, e antes mesmo que o outro pudesse iluminar o lugar, o loiro reconheceu-o instantaneamente. Era o quarto vazio que possuía a tapeçaria esquisita e a cadeira escondida.
- Sim, eu vi a cadeira – suspirou Draco quando Harry caminhou em direção à tapeçaria. – É um lugar estranho, mas eu não sei quem a colocou ali.
- Mas você notou isso? Poderia vir aqui e ver? – perguntou Harry, absorto demais no que queria provar para se importar com a pessoa com a qual estava falando.
Draco soltou um suspiro exasperado e foi parar ao lado dele. Harry entregou-lhe a tocha e puxou a tapeçaria para o lado. A cadeira verde ainda estava lá.
- Eu não... – começou Draco.
- Veja – cortou Harry. Ele foi para frente e agarrou o encosto da cadeira. Então a puxou de modo que ficasse de frente para eles com suas pernas dianteiras. Imediatamente, um barulho rangedor fez-se ouvir, como o de uma pedra raspando outra pedra. A parede por trás da cadeira abriu-se, revelando uma passagem escura. – Você sabia disso? – perguntou Harry, deixando a cadeira voltar a sua posição normal.
Draco inclinou-se para frente com a tocha, mas não pôde ver nada além de escuridão por trás da luz do fogo.
- Não – disse distraidamente. – Não sabia. Segure isto.
Dando-lhe a tocha de volta, Draco pisou sobre o assento da cadeira e pulou em direção ao corredor. Então estendeu a mão para receber a tocha novamente, e quando a pegou, começou a caminhar pela passagem. Alguns segundos se passaram até que percebesse que Harry não o seguia.
- Bem, Potter, você vem? – perguntou.
Imediatamente Harry estava logo atrás. Draco continuou a caminhar.

O corredor ia reto por alguns metros, e então começava a declinar. Draco seguiu o caminho, notando que quando o solo aplanava novamente já deviam estar bem abaixo do castelo. “É uma espécie de passagem secreta que provavelmente conduz ao lado de fora.” Pensou.
Quando a passagem terminou, havia uma porta. Draco abaixou a tocha para a maçaneta enferrujada. Devia estar trancada. Ele a girou, certo de que a porta não se moveria.
Se pelo menos tivesse a sua varinha, conseguiria abri-la.
Amaldiçoando-se baixinho, Draco virou-se para encarar Harry. À luz da tocha, seu rosto parecia alaranjado, e ele estava sério.
- Qual o problema? – perguntou.
- Está trancada – respondeu Draco de mau humor. – Quem trancaria a porta se não houvesse algo importante do outro lado?
- Talvez haja uma chave – sugeriu Harry, olhando à volta do estreito corredor. Não havia lugar algum para a esconder uma chave: as paredes e o chão eram feitos de pedra maciça.
- Irei procurar no castelo algo para arrombá-la – disse Draco, e passou pelo outro garoto para tomar o caminho de volta.
Estava começando a aborrecê-lo. O que a porta estaria guardando? Um quarto? Um caminho para o exterior? E quem fizera a passagem, de qualquer forma? Alguém saberia de sua existência? A porta parecia tão antiga, era possível que ninguém a tocasse há anos.
Eles mal haviam começado a percorrer o caminho de volta quando Harry de repente soltou um grito abafado. Draco virou-se bem a tempo de vê-lo tropeçar em algo no chão e cair em seus braços.
Draco suspirou irritado.
- Ótimo, Potter, em que você tropeçou? Seus próprios pés?
Harry lançou-lhe um olhar e agachou-se. Então fitou o ponto onde havia caído.
- Ilumine aqui, Majestade – disse.
Draco o fez, e descobriu que Harry havia realmente tropeçado em algo. Uma pedra no chão estava solta. Muito solta – quase como se pudesse ser retirada facilmente.
- Bem, tente colocá-la no lugar – informou Draco. Apesar do quão velho tudo era, ele tinha um pressentimento de que alguém realmente usava o corredor. Sabia que eles iriam notar se alguma pedra estivesse solta quando não estivera antes.

Harry usou suas mãos para tentar posicionar a pedra no devido lugar, mas ela não encaixava. A parte superior permanecia uma polegada acima do resto do chão.
- Algo está a impedindo – disse.
- Tire-a, então – ordenou Draco.
Harry o fez, e colocou a pedra de lado. No fundo do buraco estava uma chave de latão enferrujada.

* * *

Gina havia quase esvaziado o cálice quando Maria retornou. Atrás dela vinha Tom.
A garota colocou-se de pé, o cálice caindo no chão.
- Você me trouxe aqui para ele? – gritou.
- Majestade, por favor – implorou Maria. Tom caminhou em direção ao sofá em frente a ela, seu rosto branco. Estava ignorando-a.
- Não! – berrou Gina. – Não vou ficar aqui para isso!
Então começou a caminhar para a porta, mas Tom foi mais rápido. Ele estendeu sua mão e colocou-a na cintura dela, erguendo-a facilmente e puxando-a para si. No instante em que a tocara, foi como se todo o seu sangue parasse, congelando em suas veias. Soltou um protesto agudo, os pés chutando. Contudo, com apenas uma mão ele podia facilmente imobilizá-la.
- Pare quieta, Gina – rugiu ele, sua voz próxima demais do ouvido dela. – Não irei machucá-la. Não enquanto estiver dentro do castelo.
A ameaça ecoou sem sentido em sua mente. Ela estava consolada pelo fato de que não podiam deixar os aposentos ainda – não enquanto Lavinia mandasse os guardas protegerem cada saída. Por enquanto, estava salva.
- Solte-me – sibilou ela, debatendo-se dele. Tom simplesmente libertou-a, quando ela esperara outra luta. Quase caiu no chão, com a força que usara para libertar-se.
- Por favor – disse ele agradavelmente, gesticulando para o sofá. – Sente-se.
Ela não viu outra opção. Lançou um olhar para Maria, que tinha suas mãos cruzadas fortemente e parecia simpática. Quando captou seu olhar, a aia apressou-se para explicar:
- Ele só queria falar com Sua Majestade. Estarei esperando do lado de fora.
Antes que Gina pudesse protestar, ela se fora.
Revirando os olhos nas órbitas, dirigiu-se para Tom novamente, deixando-se cair no sofá. Ele já estava sentado, e sorria serenamente para ela.
- Não vamos mais fingir, está bem? – perguntou ele. – Você tem me evitado porque sabe quem... e o que... eu sou.
Gina continuou a encará-lo, seus lábios pressionados em uma linha fina.
Tom inclinou-se de repente, como se quisesse contar-lhe algo silenciosamente, algo secreto. Em uma voz calma, ele disse:
- Eu trouxe vocês aqui por uma razão, você sabe. Você e Draco. Acredito que saibam disso.
- Sim – respondeu ela secamente.
- Ótimo. – ele parecia satisfeito quando se encostou novamente. Então perguntou: - Você chegou a conhecer Arsen?
A mudança de assunto foi tão inesperada que levou alguns segundos para Gina perceber do que ele estava falando. Fitou-o.
- Não.
- Sim, bem, eu não o matei, se você está pensando – disse ele tão facilmente como se estivesse falando do clima.
- Certo – e Gina deveria acreditar nisso?
- Eu tive uma outra pessoa para fazê-lo por mim. Você deve saber a quem estou me referindo – disse, seus lindos olhos perfurando-a. Ela tentou desviar, mas não conseguia. – Você viu essa pessoa nos seus sonhos.
Gina endireitou-se no sofá. O movimento repentino fê-la sentir-se tonta, então ficou desajeitada novamente.
- Você me fez ter esses sonhos, não fez? – acusou. Não houve tanto fogo nessas palavras quanto ela esperara.
- Você não pensou que aquela poção rosa apenas curou a pneumonia, não é? Devia até me agradecer por isso, na verdade. Se não fosse pelos sonhos, não saberia se eu era bom ou mau. Não saberia se podia ou não confiar em mim.
- Eu nunca teria confiado em você, não importa o que acontecesse – bradou. Sua língua parecia pesada. Estaria ela difamando?
- Verdade. Eu também não confiaria em mim mesmo.
Gina tentou organizar seus pensamentos. Seu cérebro estava virando mingau. Balançando a cabeça para tentar colocar as coisas no lugar, conseguiu decidir retornar para o objetivo original da discussão.
- O seu cúmplice nos meus sonhos matou o tio de Draco?
Tom concordou.
- Sim. Arsen estava planejando sugerir a Draco que me banisse. Ele possuía algum tipo de sexto sentido que o prevenia contra mim. Então eu mandei matá-lo.
Gina de repente sentiu uma onda de simpatia por Arsen. Sem ela nem saber quem ele era, o homem tentara ajudá-la. E agora estava morto.
- Bem, você sabe, por causa disso você barrou todas as saídas possíveis para escapar – disse ela, tentando perturbá-lo. Contudo, como poderia usar alguma força em suas ameaças para fazê-lo sentir-se desconfortável se estava se sentindo tão indolente, de repente? – Lavinia colocou guardas quase em todos os lugares. Você não poderá sair agora.
- Eu tenho minhas maneiras, Gina – disse ele tão diretamente que a assustou. Será que nada o preocupava?
“Provavelmente não” uma voz respondeu por ela.
- Quem matou Arsen? – perguntou quase sussurrando, sua voz tremendo. – Diga-me agora.
Tom pareceu surpreso. Ele arqueou uma sobrancelha, bem como Draco fazia.
- Você não sabe?
- Diga-me! – ela repetiu com um grito. Parecia que estava usando as últimas fontes de energia que possuía.
Tom não respondeu imediatamente. Ele arqueou a sobrancelha novamente, como se estivesse intrigado com a histeria dela. Finalmente, disse vagarosamente:
- Ora, foi Maria. Pensei que soubesse.

* * *

A chave deslizou facilmente na antiga fechadura da porta. Girando-a, Draco ouviu um clique. Então a abriu.
Estava escuro lá dentro. Ele deu um passo, elevando a tocha. Harry não estava tão longe, mas respirava detestavelmente alto demais. Draco mordeu o lábio para evitar que o esbofeteasse para ficar quieto.
Assim que a luz percorreu o local, ela revelou um pequeno e quadrado quarto. Encostada contra a parede estava uma mesa, cheia de pergaminhos e frascos. Outra mesa na parede oposta estava coberta com o mesmo material. A área toda lembrava a Draco uma pequena e mofada masmorra de Poções.
O garoto deu mais alguns passos, tentando ordenar as coisas. Vários frascos estavam cheios de líquidos. De que tipo, afinal? Curioso, Draco dirigiu-se a uma das mesas, Harry o seguindo para que pudesse permanecer na luz. O loiro levantou uma das garrafinhas contendo o que parecia ser sangue e cheirou-o.
Era sangue de dragão.
Ele reconheceria o odor picante e aromático em qualquer lugar. Se não estivesse enganado, trouxas não usavam sangue de dragão. Então não haveria como um trouxa ter um laboratório como esse.
Apenas para certificar-se, pegou outro frasco. Continha uma substância espessa e amarela. Não teve que cheirar dessa vez, porque estava rotulada: Bile de Tatu.
Agora tinha certeza de que não era o lugar de trabalho de um trouxa. E se esse mundo só possuía pessoas não-mágicas, obviamente o quarto pertencia a Tom Riddle.
“Ele é bruxo”, percebeu Draco. Bem, Gina certamente precisava saber disso. Ele tinha conhecimento de que ela não sabia se Tom podia usar magia ou não. Teria que alertá-la para manter-se longe dele.
Ele virou-se para sair, e descobriu que Harry estava tão próximo atrás dele que os dois colidiram.
- Potter! – rosnou, empurrando-o para passar.
Evidentemente Harry preferiu ignorar seu tom irritado, e agarrou seu braço para contê-lo de se mover:
- Espere. Para onde aquela porta leva?
Draco parou e virou-se, iluminando o ponto que Harry indicava. Havia outra porta na frente da primeira onde eles tinham entrado. Estava quase escondida na escuridão, a cor marrom escura da madeira confundindo-se com as paredes de pedra.
- Abra-a – ordenou para Harry.
Ele obedeceu e abriu a porta sem problemas. Ela revelava uma escada.
Draco sentiu uma rajada de vento gelado entrar. Ele entregou a tocha a Harry e caminhou, subindo os degraus rapidamente e deixando o quarto. Não teve que ir muito adiante. No alto da escada estava a luz do dia. Ela conduzia diretamente para o exterior.
- É uma saída – murmurou Draco, fechando a porta e virando-se para Harry – E não está protegida.
- Talvez ninguém saiba dela – disse Harry.
Draco tentou não se irritar.
- Sim, é exatamente esse o problema. Esse quarto pertence a Tom. Ele está planejando alguma coisa aqui – ele não esperara que Harry fosse entender, mas ele concordou como se o fizesse. – Certo, então, vamos procurar Gina. Tenho certeza de que ela gostará de saber disso.

* * *

“Ora, foi Maria. Pensei que soubesse.”
Gina levantou-se tão rapidamente que uma onda de tontura lhe ocorreu. Pontos negros manchavam sua visão, e teve que fechar os olhos para esperar que passasse. “Devo ter levantado rápido demais”, disse a si mesma, então abriu as pálpebras novamente e fixou Tom com um olhar furioso.
- Maria não – disse com firmeza, mas suavemente. – Não poderia ser Maria. É um homem, eu sei que é...
Tom riu, e era um som repulsivo. Ela encarou-o, silenciosamente surpresa, até que ele parou e falou:
- Minha querida menina, a pessoa de seus sonhos não é um homem. É Maria. Eu não mentiria para você.
De alguma forma, com uma pontada enjoada dentro de si, ela sabia que ele estava realmente dizendo a verdade. Ela sentiu-se traída, tão mal quanto quando pensara que Harry era o assassino. A diferença é que agora parecia pior, por razões que não podia identificar.
Suas pernas pareceram fracas, e ela considerou como sendo conseqüência do choque. Deu um passo em direção a porta antes de ter que parar e piscar novamente. O que estava acontecendo com ela? Por que estava sentindo-se tão... sem vida?
- Maria – disse Tom simplesmente, dando um pequeno e sinistro sorriso para Gina. – Entre. Acho que a poção está começando a funcionar.
“Poção?” As palavras de Tom ecoaram em sua mente. “Que poção?”
A porta abriu, mas soou distante. Apertando seus olhos por um momento, ela virou-se para a entrada e abriu as pálpebras. A visão estava levemente borrada nas extremidades. O que estava havendo? Que poção tomara?
Maria caminhou para o lado de Tom. A visão de Gina estava clara o suficiente para ver o sorriso satisfeito da aia. Foi então que entendeu a que poção Tom se referia.
Seus olhos pousaram no chão, onde o cálice prateado estava, vazio. A bebida que Maria lhe dera era uma poção!
“Oh...” Gina deu mais alguns passos para a porta, mas teve que parar. Pareceu custar muito esforço para ir a tanto.
Dessa vez, quando retornou para Tom e Maria, a visão estava borrada. Era como se estivesse vendo tudo através de um vidro grosso. As figuras embaçadas flutuavam em seus olhos, e a sala pareceu girar. Tinha a sensação de que o chão estava movendo-se em sua direção. Colocou as mãos à frente para evitar que se machucasse, mas perdeu o equilíbrio e cambaleou para frente.
“O que estão fazendo comigo?”, queria desesperadamente perguntar. Mas não conseguia comandar sua boca. Não podia fazer nada. Desistiu de tentar lutar e colidiu contra o chão.
Vozes misturadas em seus ouvidos, e o mundo contorcendo-se em volta dela em um misto de cores. Podia sentir o carpete contra sua bochecha, uma sensação vívida dizendo-lhe que tudo estava realmente acontecendo, que não era um sonho.
Então, como se alguém tivesse apertado um botão para desligar, tudo ficou negro.

* * *

Draco saiu e deixou Harry trancando as portas novamente e guardando a chave no seu esconderijo, convidando-o a unir-se a ele assim que terminasse. Então foi procurar Gina.
Pela primeira vez não conseguiu mais achá-la. Perguntou a muitos empregados, mas nenhum sabia onde ela estava. Finalmente sua paciência se esgotou e exigiu saber onde a rainha estava. A garota a quem perguntara disse que ela estava tomando banho, e não poderia aceitar visitantes por uma hora.
Frustrado, Draco passou a mão pelos cabelos. Então se amaldiçoou por despenteá-lo, e apressou-se para ajeitá-lo.
Após dez minutos, foi procurar Maria. A aia teria que saber onde Gina estava, porque fora ela que levara a garota consigo.
Mas não conseguia encontrá-la também. Era como se todas as pessoas que queria ver tivessem desaparecido do planeta. Sabendo que insistir nesse assunto seria extremamente inútil, mandou seu empregado Timothy avisá-lo se Gina o procurasse, e foi atrás de Elle. Ela o manteria ocupado, ele pensou, e talvez até soubesse onde a ruiva estava.
De qualquer forma, Elle também não sabia. Ele a encontrou praticamente grudada ao seu pai, ainda triste com o assassinato do tio. Draco havia esquecido do crime. Após uma tentativa de fazê-la sentir-se melhor, ele saiu para andar pelo castelo na esperança de esbarrar com alguém que tivesse uma pista de onde Gina estava – ou, melhor ainda, encontrá-la pessoalmente.
Quase meia hora se passou antes que percebesse que Harry não voltara. Ele recordava-se vagamente de ter mandando Potter procurá-lo quando tivesse acabado de trancar tudo. Queria que o empregado estivesse presente quando contasse a Gina do “escritório” de Tom.
Agora tinha outra missão: ver onde Harry havia ido. Talvez apenas não conseguisse achá-lo, como não conseguira achar Gina. Faria sentido.
Questionou as pessoas na cozinha e em vários outros lugares, mas ninguém havia o visto. Murmurando um palavrão particularmente grosseiro, Draco deu a volta e arrastou-se de volta para a parte principal do castelo.
Isso estava o enlouquecendo! Onde estava todo mundo? Será que estavam se escondendo dele de propósito só para irritá-lo?
Então outro pensamento ocorreu-o. Talvez Harry ainda estivesse no escritório de Tom.
É claro, fazia sentido. Como ele poderia confiar em Harry? Não o conhecia, e pelo que Gina contara, era óbvio que esse Potter era muito diferente do garoto-que-sobrevivera do futuro. Misterioso, perturbado, raivoso... E como ele conseguira saber da cadeira, de qualquer forma? Como poderia tê-la “encontrado”? Decidira apenas conhecer o quarto, e de repente pensara em virar a cadeira? Parecia suspeito, e Draco censurou-se por não ter percebido antes.
Pela segunda vez no dia, Draco achou-se virando a cadeira verde para frente, uma tocha na mão. Vários minutos passaram-se enquanto marchou pela passagem vazia sem nada estranho acontecer e nenhum som vir de lugar algum. Quando finalmente chegou à porta do quarto, viu algo que estava bem deslocado.
Era um corpo, deitado na abertura da porta, mantendo-a aberta.
Draco soube imediatamente que era Harry, e quase deixou cair a tocha. Conseguindo mantê-la, e apertá-la mais forte, lentamente moveu seus pés para perto do corpo imóvel. Ele estava de costas, sua cabeça virada para o lado, e por um instante Draco ficou parado ali, se perguntando se ele estava morto. O choque evitou que qualquer sentimento o ocorresse, mas ainda assim conseguiu imaginar como seria estranho saber que Harry Potter não estava no mesmo mundo que ele.
Mas então tirou esses pensamentos da mente e focou-se em coisas mais importantes, como por exemplo, se o coração do garoto estava batendo ou não. E estava. Harry ainda estava vivo.
Mantendo a tocha no alto, Draco empurrou o restante da porta e agachou-se ao lado de Harry. Ele não se mexeu nem abriu as pálpebras. Se não fosse pela constante subida e descida do peito, Draco acharia que ele estava morto.

- Vamos, Potter - disse grosseiramente, cutucando o braço de Harry meio rudemente. – Acorde.
A respiração não foi afetada. Parecia quase como se tivesse sido estuporado.
“Faz sentido”, disse Draco a si mesmo. Obviamente Tom chegara lá embaixo e achara-o bisbilhotando. Harry teve sorte de não ter sido assassinado.
O loiro levantou-se e suspirou. Então, o que Tom fora fazer lá? Pegar ingredientes para uma poção? Ele se virou e observou à volta para ver se alguma coisa havia sido deslocada, apenas para fitar o que o manteve abobado e incrédulo por quase três segundos.
O compartimento havia sido limpo. Completamente limpo. Os pergaminhos e frascos que empilhavam as mesas tinham sido retirados, deixando sequer uma pena ou tinteiro para trás.
O que acontecera? Ele estivera ali há apenas quarenta e cinco minutos. Seria impossível uma pessoa tirar tudo nesse meio tempo. Só podia ter usado mágica.
De repente, Harry decidiu acordar. Soltou um lamento, e Draco fitou-o. Esticando-se lentamente, levou uma mão aos olhos e esfregou as pálpebras por trás dos óculos.
Draco abriu a boca para dizer algo, mas um som bem sutil assustou-o. Ele virou a cabeça em direção à porta oposta. Estava levemente aberta, movendo-se levemente quando o vento soprava mais forte, uma vez que batia contra a moldura de pedra e depois abria novamente.
- O que aconteceu? – perguntou Harry hesitante. Draco virou-se e caminhou para perto, enquanto ele se esforçava para se levantar.
- Você foi estuporado – contou-lhe Draco honestamente, com um tom natural. – Levante-se. A tontura passará em um minuto.
Harry o fez, mas demorou algum tempo. Quando se endireitou, seu rosto estava carregado de confusão, suas sobrancelhas arqueadas juntas.
- O que aconteceu? – repetiu, colocando uma mão na cabeça como se doesse.
- Eu já disse – explodiu Draco. Honestamente, esse garoto era retardado. – Você foi estuporado.
Como se não tivesse ouvido uma palavra, Harry continuou:
- O Doutor Thomas encontrou-me trancando a porta... Então tirou algo da manga e gritou para mim. Isso é tudo que eu me lembro.
Draco respirou fundo e lembrou-se que Harry não sabia o que “estuporado” significava, então era inútil tentar explicar a coisa. O que Tom havia tirado da manga era provavelmente a sua varinha. Seria totalmente idiota tentar esclarecer isso para ele.

- Ele estava carregando algo... – adicionou Harry, como se não tivesse pensado nisso antes. – Uma pessoa...
Isso chamou a atenção de Draco:
- Uma o quê? – perguntou fracamente.
Harry fechou os olhos por um instante e recuou. Estava tendo uma terrível enxaqueca, Draco sabia. Ele próprio já havia sentido os efeitos colaterais muitas vezes.
- Eu não sei exatamente. Foi apenas um vislumbre. Ele tinha algo sobre os ombros, e parecia um pacote branco.
- Mas você acabou de dizer que parecia uma pessoa – duvidou Draco, começando a ficar bravo por razões que desconhecia. Estava pondo-se a achar que talvez Harry apenas imaginara as coisas. – Pense melhor, está bem?
- Estou tentando – retorquiu Harry, animando-se por um instante. Seus olhos fecharam novamente. – Não tenho certeza do que era.
Draco revirou os olhos e tentou conter a frustração. Esse dia estava indo por água abaixo. Havia se casado há menos de doze horas e não conseguia achar sua noiva, teve que posar para um quadro por três horas, ele...
Espere. Noiva?
Afundando mais um pouco nesse pensamento, Draco virou-se para encarar Harry novamente.
- Branco, você disse? – perguntou, impaciente.
- Branco o quê? – disse Harry, seu rosto ainda contorcendo-se pela dor perfurando sua cabeça.
- Um pacote branco – disse Draco impacientemente. – Um pacote branco estava sobre os ombros de Tom. Foi isso que disse, não foi?
Harry deu de ombros, como se tivesse coisas mais importantes para pensar:
- Mais uma vez, Majestade, não tenho certeza...
Draco agarrou-o pelos ombros rapidamente, e Harry interrompeu-se com uma inalação surpresa de ar.
- É melhor você descobrir – gritou Draco, sacudindo-o de novo. – Porque pode ter sido Gina que você viu.
- Por quê? Por que o doutor estaria carregando Sua Majestade por aqui? – perguntou Harry suavemente, parecendo morto de medo da subida demonstração de raiva de Draco.
Era inútil. Libertando Harry, fazendo com que ele tropeçasse para trás alguns passos antes de recuperar o equilíbrio, Draco virou e em duas passadas foi até a porta que levava ao exterior. De alguma forma, tinha a intuição de que Tom havia levado Gina para fora do castelo. Era mais do que provável. Ela só podia ser o pacote branco que Harry vira.
- Droga – praguejou Draco em voz baixa, subindo a escada de dois em dois degraus. Era um alívio estar ao nível do solo novamente, mas o ar estava tremendamente frio e o sol havia quase se posto.
Ele não deixaria o clima impedi-lo. Nem ao menos voltaria para pegar um casaco mais grosso. Gina provavelmente estaria sendo assassinada na floresta nesse momento. Como ele poderia ter sido tão estúpido?
Desde o início Gina tentara contá-lo que Tom era mau e que estava ali para prejudicá-los. Draco levara a sério as ameaças que o bruxo fizera à garota no teatro. Então por que havia deixado-a ir sozinha? Por que permitira que ela fosse com Maria?
Amaldiçoando-se nem um pouco delicadamente, ele correu em direção ao estábulo para pegar um cavalo.




Nota da Autora: Bem, outro capítulo cortado subitamente, me desculpe! Ele parecia estar implorando para terminar nesse ponto.
A falta de romance entre D/G é, acredite ou não, necessária para esse tipo de capítulo. Simplesmente não teria ficado bem. E provavelmente não haverá mais pelos próximos capítulos também, mas no final, quando tudo for resolvido – ENTÃO teremos um monte de beijos.

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