Um mundo diferente



Inglaterra, 5 de Dezembro de 1607

A cama era macia demais.
Essa foi a primeira coisa que passou pela cabeça de Gina Weasley quando acordou de repente. Ela não estava acostumada com a maciez de dormir em penas. Mas era tão bom, e como estava só semi acordada, não protestou.
Ela se espreguiçou graciosamente, um meio sorriso nos seus lábios. Tinha tido uma noite agradável... sonhou que esteve nos braços de um homem com cabelos loiros platinados e tinha sido muito gratificante.
Seus olhos se abriram, e vagarosamente o sorriso se desfez.
Não estava em seu quarto em Hogwarts. Esse era duas vezes maior. Ela deitava entre um mar de travesseiros e lençóis de cetim, com pesadas cortinas azuis claras suspendidas na abóbada da cama, dando uma visão do que não era o dormitório do sétimo ano das garotas.
Gina respirou fundo suavemente e sentou-se, a confusão prevalecendo. Ela abriu as cortinas, acreditando que não estava realmente onde estava.
O quarto era enorme. Um grosso e negro tapete persa cobria a madeira dura do chão e uma chama queimava na lareira de mármore, estalando gentilmente e dando ao grande espaço uma atmosfera calma. O papel de parede era vermelho, e haviam lâmpadas de gás penduradas, decoradas com ouro. Em uma das paredes, estava um retrato de tamanho natural dela mesma, e isso causou em Gina uma sensação de desconforto. Um gigante candelabro de cristal surgia do meio do teto, mas toda a luz que era necessária vinha das grandes janelas perto da cama. Do lugar onde ela estava sentada, era possível ver as portas fechadas, perto do monstruoso armário de mogno. Havia uma grande mesa com cadeiras estofadas em dourado no meio do aposento, e encostada na parede ficava uma escrivaninha com uma bacia.
Gina bocejou. O quarto era elegante e bonito; não havia dúvida sobre isso. Parecia, para ela, um castelo antigo.
“O que está acontecendo?” Ela pensou, jogando a coberta para o lado. Saiu da cama para encontrar-se em frente a um comprido e largo espelho.
Tinha a aparência normal, exceto pelo fato de usar uma camisola branca e fora de moda. O reflexo a encarou, mostrando a confusão nas suas sobrancelhas arqueadas. Nunca esteve realmente interessada no seu reflexo no espelho – as pessoas sempre diziam que ela era a garota mais bonita do colégio, mas Gina não ligava. Ela era a única na sua série que não usava maquiagem, mas e daí? A sua pele de porcelana nunca precisou, sem mencionar o fato de que ela era fã de suas sardas.
Mas a aparência era a coisa mais distante da sua mente no momento. Nada havia de errado com ela, então por que estava nesse lindo e clássico quarto? Sonhava? Por alguma razão, duvidou... parecia tão real. Ela podia ouvir o estalar do fogo, podia sentir o seu calor contra o corpo, podia pensar claramente e racionalmente. Se não era um sonho, então o que estava acontecendo?
A porta dupla se abriu, desviando a cabeça de Gina do espelho. Uma mulher baixa, gorducha, com cabelos pretos lisos e vestindo um longo e plano vestido branco entrou sem olhar para Gina.
- Majestade, hora de acordar... - começou ela em voz alta com um sotaque espanhol, interrompendo-se quando viu Gina em frente ao espelho.
“Ah não”, Gina pensou. “Essa mulher sabe que eu não devia estar aqui.”
Mas o rosto espanhol só clareou em um sorriso entusiasmado.
- Estou surpresa de vê-la acordada na hora apropriada, Majestade - ela disse, em um inglês perfeito - Surpresa e satisfeita.
“Majestade?” Pensou Gina. Certamente essa mulher a estava confundindo com outra pessoa.
- Onde estou? - perguntou Gina, sua voz tranqüila e rouca até para seus próprios ouvidos.
A mulher pareceu não tê-la escutado; foi diretamente para o armário e o abriu, movimentando as portas com o seu contentamento.
- O seu pai me disse que gostaria de vê-la usar um dos seus vestidos de veludo para a chegada da Sua Alteza Malfoy à tarde. Que cor você prefere?
“Malfoy?” Gina repetiu mentalmente. “Ela disse Malfoy?”
- Sua Alteza Malfoy? - disse Gina em voz alta - O que, ele é um rei ou algo parecido?”
A senhora virou-se e encarou-a.
- Minha querida, você está dizendo isso para me fazer de boba?
“Eu poderia perguntar-lhe a mesma coisa.”
- Perdão? - disse Gina.
A mulher suspirou, e mudou seus lábios para um sorriso compreensivo:
- Majestade, eu sei que você simplesmente odeia Alteza Draco, mas está comprometida com ele desde que tinha... bom, desde que nasceu. Não espalhe uma palavra sobre isso, mas eu acredito que foi uma decisão infeliz da parte do seu pai não permitir que vocês crescessem juntos. Tendo se encontrado pela primeira vez há dois meses, e com o casamento sendo planejado para o Natal, bem, eu posso entendê-la...
Mas Gina não estava mais escutando. As principais palavras dela ecoavam na sua cabeça. “Alteza Draco... comprometida... se encontrado... odeia...”
Ela tentou juntar tudo. Essa mulher pensa que ela é alguém que Gina claramente não é. E ela precisa saber a verdade.
- Ouça, minha senhora, eu aprecio o que você está tentando fazer--
- Minha senhora? - a mulher disse, inchando seu peito e crescendo para o seu um metro e cinqüenta - Eu peço perdão por interrompê-la, mas eu não gosto da palavra ‘senhora’ vinda dos seus lábios e dirigindo-se a mim. Me chame de Maria, ouviu?
- Tudo bem, Maria - disse Gina, lutando contra a tentação de sorrir. Ela facilmente se parecia com Maria, mesmo pelas poucas palavras que falou - Eu só não penso que sou quem você... bem, pensa que eu sou.
Maria sorriu simpaticamente:
- Ah, querida Majestade, sente-se comigo.
Ela se estendeu para colocar a mão em volta dos ombros de Gina e conduzi-la para a ponta da cama. Maria pegou as mãos de Gina assim que ela sentou, e virou-se para encará-la. Gina abriu a boca para falar mais quando Maria a cortou tapando-lhe os lábios com a sua mão.
- Silêncio, minha querida - ela ordenou - Deixe-me falar por um momento. Eu sei que é uma fase difícil para você. Nesse mesmo dia do ano que vem você estará casada, e o País de Gales e a Inglaterra vão ser só um reino. Deus sabe que é um monte de terra, e o peso de manter tudo ordenado vai ser grande. Mas Príncipe Draco é um bom homem, mesmo que ele tente mostrar o contrário. Eu tenho um dom, Majestade, você sabe que tenho, de ver através das aparências e saber que tipo de alma as pessoas tem. A sua vida com ele vai ser boa. Eu sei que vocês não tem muito em comum, mas às vezes os opostos formam os melhores relacionamentos.
- Eu vou me casar com Draco Malfoy? - Gina explodiu, incapaz de esconder o horror na sua face.
Maria riu, e era uma risada engraçada, que fez os cantos da boca de Gina se puxarem em um sorriso.
- Você soube pela vida inteira, Majestade - disse Maria, dando um tapinha na mão de Gina - Não aja com tanta surpresa. Além do mais, Draco é muito bonito. Vocês vão ter lindas crianças.
A idéia de ter filhos com Draco Malfoy, pior inimigo da família inteira de Gina, fez o seu estômago dar voltas. Ela não pôde evitar e imaginou-o na sua mente. Sabia que Maria não estava mentindo. Gina não havia o visto há alguns meses atrás, desde quando ele havia se formado em Hogwarts, em Junho. Mas ela ainda podia lembrar seu fino rosto delineado, seus lábios sempre tortos com desdém ou ironia, seus frios e brilhantes olhos cinzas, e sedosos cabelos loiros platinados que eram longos o suficiente para cair sobre os seus olhos se ele deixasse. Ele era o que Gina sempre chamou de “anjo demoníaco” porque tinha a aparência de um anjo e o temperamento de um demônio. Ela tinha visto umas poucas brigas entre ele e seu irmão mais velho Rony e já podia saber que ele desprezava qualquer pessoa que gostava de Harry Potter, ou qualquer um com cabelos vermelhos e o sobrenome Weasley.
- Agora, - disse Maria, dando um tapinha final e se levantando para retornar ao armário - de volta à cor do vestido. Qual você prefere?
- Qualquer uma que você ache que é a melhor - disse Gina com distração.
“Eu não estou sonhando,” ela pensou lentamente, “então eu devo estar em algum tipo de mundo paralelo.”
- Que dia é hoje, Maria? - perguntou de repente.
- Quinze de dezembro, minha querida.
- Ano?”
Maria virou-se e deu à ela um olhar desconfiado. Gina forçou-se a sorrir.
- Só para ver se você sabe - ela disse, se sentindo incrivelmente estúpida.
- 1607 - respondeu Maria, girando seus olhos, e virando de volta ao armário.
“1607!” Seu cérebro gritou. “Quase quatrocentos anos atrás! Eu estou quatrocentos anos no passado!”
Sua varinha. Iria precisar de sua varinha. Mas assim que ela começou a pensar em um lugar onde poderia estar, ela se deu conta de que provavelmente ela não a tinha. Ela estava como um trouxa.
Seus olhos voaram para o seu auto-retrato na parede. Sim, definitivamente trouxa, se não o quatro estaria sorrindo e se movimentando. Ao invés disso, ele estava mortalmente parado, um sorriso amargo se estendendo nos lábios da Gina do retrato.
- O que você sabe sobre mágica, Maria? - perguntou ela, mais uma vez se sentindo idiota.
Mas Maria nem ao menos se virou.
- Pouco, comparado com algumas pessoas, eu creio - ela disse, passando vestidos atrás de vestidos - Temo que não posso ajudá-la muito nesse assunto, mas você sabe como as feiticeiras são... hum, Alexandria... poderia provavelmente informar-lhe tudo o que você quer saber. Essa mulher está conectada com cada pessoa mágica no planeta, eu juro.
- Então... você não acha a magia estranha? - perguntou Gina com curiosidade.
- Não estranha - respondeu Maria - A maioria das pessoas nesse reino acham porque não a entendem. Eu não entendo mas... eu respeito, compreende?
- Absolutamente - disse Gina.
- Você sempre teve uma fascinação por bruxas e como... - começou Maria, mas Gina viajou de volta aos seus pensamentos.
Então havia magia nesse mundo em que ela estava. Mas ela obviamente não era mágica. Como isso seria possível? Ela cresceu no mundo bruxo, foi cercada por eles durante toda a sua vida, e agora ela estava em um lugar em que era trouxa?
“Será que eu vou algum dia sair desse mundo?” Perguntou-se Gina. “Eu não tenho certeza se vou sobreviver! Estar casada com ‘príncipe’ Draco…”
Então algo ocorreu a ocorreu.
- Maria! - ela gritou, sem querer soar tão alarmada.
Maria virou, assustada.
- O que? - ela perguntou, parecendo interessada.
- Se Malfoy é um príncipe, isso me torna uma... - ela engoliu em seco - Uma princesa? - ela murmurou a última sentença.
Maria soltou sua risada engraçada de novo, colocando uma mão no peito.
- Oh, minha querida, você é uma falsa! Você foi feita para o palco, foi sim. Você consegue interpretar uma ótima expressão de surpresa e horror.
“Princesa... princesa, eu sou uma princesa...” As palavras nadaram na sua mente, e ela se sentiu levemente mal. Gina não tinha crescido nem um pouco como uma princesa – a mais nova de sete irmãos, a única garota, não houve muito dinheiro para dividir entre as necessidades individuais de cada membro da família. Gina foi educada com dificuldade e tinha desprezado isso. Mas agora ela era uma princesa!
“Eu sou uma princesa e estou casando com um príncipe” - pensou. A imagem que tinha de príncipes era sempre de homens altos, morenos, bonitos e andando em cavalos brancos para salvar as suas donzelas. Não altos, belos, raivosos e que riem das pessoas só porque elas não tem dinheiro, ou não tem pais bruxos, ou nenhum parente. “Eu vou me casar com Draco Malfoy.”
- Ah! - gritou Maria triunfante, virando-se com um vestido de veludo verde nas mãos - Perfeito! Esse vai realçar o ouro no seu cabelo maravilhosamente, minha querida.
Gina permitiu que fosse apertada em um espartilho, amarrado tão forte que ela sentiu como se fosse desmaiar. Então sentou pacientemente com seus próprios pensamentos enquanto Maria colocou grossas meias brancas por cima da sua roupa de baixo, e finalmente vestiu-a na roupa de veludo.
O jeito que ela ficou no lindo vestido quase compensou o espartilho apertado. Ele estava assim para exibir a sua fina cintura e seus seios fartos. A saia caía em ondas em voltas das suas pernas, arrastando no chão e fazendo um som assobiado quando ela caminhava. As magas eram curtas, e Gina imaginou o por quê, já que devia estar frio na rua. Mas então Maria deu à ela luvas brancas que passavam dos cotovelos. Gina não as botou porque por baixo do calor de todas aquelas roupas, ela estava começando a suar.
Maria penteou os longos, grossos e brilhantes cabelos vermelhos da princesa que encaracolavam-se nas pontas, posicionando-os em um pomposo penteado. Gina sempre imaginou como seria usar os vistosos trajes da antigüidade, mas nunca pensou que ficariam tão bem nela – assim como inconfortáveis.
- Que horas o, arght, Príncipe Draco vai chegar? - perguntou Gina, odiando dizer o primeiro nome dele em voz alta. Não soava certo vindo da boca dela.
- Eu já disse várias vezes - falou Maria. Ela estava em pé atrás de Gina e, sendo tão baixa, teve que ficar na ponta dos pés para olhá-la nos olhos através do grande espelho - À tarde. Agora, que colar você vai querer usar?
Gina quase desmaiou ao ver a coleção de jóias que tinha. E elas lhe pertenciam... tinha milhões de galeões em jóias, e eram todas dela. Não do seu pai, o “rei” ou da sua mãe, a “rainha”, mas dela mesma.
- Meu Deus - murmurou Gina, espreitando dentro da grande caixa de colares, braceletes e anéis.
Com a ajuda de Maria, ela finalmente optou por uma pequena esmeralda em forma de coração pendurada em uma fina corrente de ouro. Gina achou que os outros eram muito escandalosos e brilhantes, e teriam ficado como uma âncora no seu pescoço, apesar dela não ter dito.
- Café da manhã - disse Maria, e com gratidão guiou Gina até a sala de jantar no andar de baixo.
Elas estavam com certeza em um castelo. Um castelo bem diferente de Hogwarts – era de alguma forma mais frio, não familiar. Não havia vozes. O único som vinha dos sapatos pesados de Gina batendo no chão de pedra. Não havia tochas flamejantes iluminando o caminho. Em vez disso, eles usavam lâmpadas de gás que vacilavam em candelabros.
Maria deixou Gina na sala de jantar, duas vezes maior que o quarto dela, com uma mesa que podia acolher provavelmente cinqüenta pessoas. Era particularmente irônico, então, ver só duas pessoas sentadas enquanto duas empregadas entravam com mais comida e bebida.
Um homem e uma mulher sentavam na mesa, usando vistosas roupas que pareciam ser muito caras. Maria entrou na cozinha que era anexada à sala, deixando Gina parada ali e sentindo-se muito boba.
A mulher olhou e franziu as sobrancelhas para ela. O homem nem ao menos levantou os olhos quando disse bruscamente:
- Bem, venha cá, garota. Sente-se e coma.
Gina obedeceu, sentando-se ao lado direito do homem, que estava na cabeceira da mesa. À frente via-se a mulher de rosto severo, que lembrava muito a professora McGonagall.
“Será que eu vou algum dia ver a professora McGonagall novamente?” Pensou Gina tristemente.
- Como você dormiu, querida? - a mulher perguntou, soando estranha. Era como se ela estivesse forçando palavras educadas da sua boca.
Gina a encarou por um momento. “Querida?” Oh, Deus, eles deviam ser os seus pais. O rei e a rainha... de onde? País de Gales ou Inglaterra? Ela não sabia e sentiu-se tola.
Havia uma atmosfera tensa no ar, quase estranha, e Gina sabia que não era porque era a primeira vez que ela via essas pessoas na vida. Era porque eles não se amavam. Não sabia como, mas, sabia. Esse casal não se provocava, nem davam-se beijos de boa noite, ou seguravam a mão um do outro quando passeavam. Eles não incluíam a sua filha, não liam histórias para que dormisse, nem a ajudavam com o tema de casa. Essa família era totalmente o oposto da que Gina estava acostumada.
- Coma - o homem, seu pai, disse grosseiramente, apontado para o prato cheio dela. O seu prato cheio de coisas irreconhecíveis, quer dizer.
Gina pegou um dos vários garfos e começou a espetá-lo na comida. Como ela podia comer alguma coisa quando o estômago estava apertado tão forte que ela mal podia respirar?
A porta da cozinha se abriu e dela saiu outro empregado. Gina levantou os olhos, desinteressada, até que viu o rosto do criado.
Diferente da maioria das empregadas que vira, esse era um homem. Um garoto, na verdade. Com aquele cabelo negro desordenado familiar, olhos verdes brilhantes, e óculos, Gina o reconheceu imediatamente.
- Harry! - ela gritou, deixando cair seu garfo com um barulho no prato.
Harry, que estava se inclinando na mesa para depositar uma tigela de mingau em um espaço vazio, franziu as sobrancelhas e olhou para ela. Os “pais” de Gina pararam de mastigar para olhá-la também, com expressões entre surpresa e choque.
Gina sentiu suas bochechas corarem.
- Você se chama Harry, não é? - perguntou ela docilmente.
Ele confirmou devagar, colocando a tigela na mesa e a posicionando. Depois virou-se e voltou para a cozinha. Gina podia ter jurado que tinha caminhado mais rápido que o usual.
“Ele não me reconhece” ela pensou enquanto seu estômago se mexia com temor. “Harry não me conhece. Isso quer dizer que Draco não vai se lembrar de mim, também?”
Retornou para a comida, mas o apetite estava perdido. Ela empurrou algum tipo de comida marrom com o garfo. Foi quando se deu conta de que Harry não possuía a cicatriz em forma de raio na testa.

No próximo capítulo: Draco descobre que está a 400 anos no passado. Harry trata Gina de uma maneira *diferente*. É quando Príncipe Malfoy e Princesa Weasley finalmente se encontram. Não perca!

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