Irmãos de Sangue, Inimigos de

Irmãos de Sangue, Inimigos de



5 – Irmãos de Sangue, Inimigos de Coração



Hoje é um dia estranho para mim.

Hoje, logo após ter acordado de um sonho conturbado, recebi a visita de um mensageiro e pude ver através das grades da cela que muitos prisioneiros ficaram invejosos do que consideravam ser um sinal de sorte.

Aqui, neste inferno, até este ínfimo contato humano é visto com olhos gulosos por aqueles que já estão mais do que cansados de ter parte de suas vidas furtada por dementadores. E não sei por que, a princípio, me senti desanimado com a perspectiva de uma visita. Acho que os efeitos do frio desta prisão já estão tomando conta de meu corpo e de minha mente.

De maneira rara, como só poderiam os acontecimentos deste gênero em Azkaban, eu recebi uma carta que me foi entregue por este mensageiro, este homem desconhecido, provavelmente um auror ou alguma espécie de carrasco. Mas a verdade é que ele me olhou com claro desprezo e evitou tocar minhas mãos sujas, sentindo repugnância.

Já irá fazer um bom tempo que eu não tenho contato e nem novidades sobre o mundo lá fora. Minha vida parou no dia em que fui condenado à prisão perpétua e, como não tomei conhecimento de nada além de há quantos dias não tomo banho e do quanto daria para ter uma refeição decente, tenho que me resignar a permanecer no escuro, literalmente.

De certa forma eu não sei o que esperar desta carta. Boas notícias, más notícias... Só sei que eu estou ansioso pelo o que ela possa significar, talvez seja uma centelha de esperança, talvez seja um recado de Remo ou Alvo, mas a quem eu quero enganar? São apenas incógnitas sem fundamento.

E apenas quando rompo o lacre que não me parece desconhecido, e sinto com certo prazer o cheiro de pergaminho limpo e tinta decente, é que vejo com choque que aquilo poderia ser tudo, menos o que eu esperava estando preso por detrás destas grandes.



Sr. Black,

Nós do Banco Gringotes gostaríamos de informar que parte do legado de seu falecido irmão, o senhor Regulus Black, foi completamente listado após serem encontrados objetos de grande valor em uma de suas propriedades no País de Gales.

Devemos comunicá-lo que, como sendo o último remanescente de sua família, esse valor, que pode ser convertido em mais de 2.349 galeões, será depositado em seu cofre junto com sua herança, já que não há mais ninguém a quem se possa destinar a quantia.

Seria também imprescindível de sua parte que nomeasse num testamento o possível herdeiro, ou herdeiros, de seu legado e, visando a sua atual situação como prisioneiro por tempo indeterminado em Azkaban, seria de total bom senso fazer correr logo todos os tramites legais para que seus pertences sejam entregues a quem lhe afeiçoe.

Desde já, nossos devidos agradecimentos.

Atenciosamente,

Elfo Malphilus, O Gerente.


E isso só podia me causar um grande divertimento, principalmente por ter tido ridículas esperanças de que a carta fosse algo que valesse a pena ter lido.

Dinheiro sem futuro! Dinheiro sujo, manchado de sangue de inocentes, conquistado através de roubos e torturas, sem dignidade, sem merecimento. Queria poder me negar a receber esse legado. Não gostaria que a minha modesta pilha de galeões em Gringotes, grande parte dela originária do esforço do meu Tio Alphard, fosse contaminada pelos pertences de meu irmão.

Mas o que um mísero prisioneiro de Azkaban pode fazer quanto a isso?

Regulus Black! E só de pensar no que ele fez para ter acumulado tanta riqueza sinto nojo de ser seu parente. Sim, porque ele era uma verdadeira peste mimada, sem escrúpulos e que vivia debaixo das saias da minha mãe.

Posso defini-lo em uma breve palavra: covarde.

Talvez, olhando para trás, afirmo com todas as letras que, de minha família, ele foi o único que não herdou pelo menos um tiquinho do temperamento que acompanha o sobrenome Black. Até eu, que sou um renegado, possuo muito das características marcantes da família, como impulsividade, determinação e porque não coragem?

Mas, Regulus?

Regulus foi o garoto mais idiota e o rapaz mais inútil que eu tive o desprazer de conhecer. Nem o ideal puro-sangue da família conseguiu defender com habilidade, e acredito que sua morte pelas mãos de seu mestre tenha sido uma das melhores coisas que poderiam ter lhe acontecido.

Sinto vergonha em dizer que ele era sangue do meu sangue. E devo admitir que além de asco, em uma breve época da minha vida, compreendida entre os primeiros meses do meu terceiro ano em Hogwarts, eu senti uma pontada de inveja daquela criatura.

E porque não sentiria?

Ele era visto como a criança perfeita. Desde pequeno meus tios babavam por ele, sempre preocupados em agradá-lo, satisfazer suas vontades e entupi-lo de presentes. A princípio, antes de eu entrar em Hogwarts, usavam a desculpa de ele ser o caçula e, portanto, merecer mais atenção do que eu. Mas, depois que finalmente iniciei meus estudos e fui posto na Grifinória, os motivos para ele ser o queridinho da família envolviam o fato de que Regulus não decepcionara as expectativas dos meus pais.

De qualquer forma eu não posso reclamar nenhum pouco sobre isso. Nunca me empenhei de verdade em satisfazer os desejos de minha mãe e, sinceramente, pouco me importava com o fato de estar destinado a ser o futuro patriarca do clã.

Considerava tudo aquilo tão ridículo!

A idéia de governar a família me agradava e muito, principalmente porque eu teria voz de comando sobre Narcissa e Bellatrix, mas eu não gostava e ainda não gosto de ter responsabilidades. Já basta o fato desgastante de ter que sustentar a mim mesmo, eu acabaria não sobrevivendo se tivesse que dar conta de todo a minha família consumista. Uma verdadeira chatice. Isso porque eu não mencionei o comportamento exemplar que eu deveria apresentar em público, muito menos o provável casamento arranjado. Argh!

Mas, de qualquer forma, nem parecia que era a mim que tudo isso estava destinado. Regulus era o reizinho da casa. O garoto prodígio que encantava os convidados durante as festas contando sobre suas peripécias com a varinha de minha mãe ou suas habilidades ao manobrar a vassoura desde a tenra idade.

E aí estava outro ponto que eu não suportava.

Regulus era muito bom no quadribol. Desde os cinco anos já era possível notar isso quando em verdadeiros atos de desobediência ele mexia nas velhas vassouras do porão, enquanto eu na época podia apenas sonhar em ser como os artilheiros do time da Inglaterra, idolatrando cada jogador que passava pela Copa Mundial de Quadribol e recolhendo cada migalha de informação sobre qualquer time. Mas a habilidade para o esporte não nascera comigo, e sim com meu irmão.

E ele não perdia a chance de se aproveitar disso. Ele se gabava, me provocava, me instigava a sentir raiva, ódio e a querer ser melhor do que ele. No entanto, neste quesito, era simplesmente impossível.

Foi por isso que, quando ele entrou em Hogwarts, eu não liguei muito para o fato dele ir para Sonserina. Era algo previsível e eu tinha apenas inveja de sua sorte, porque a vida vinha se mostrando muito mais fácil para ele do que para mim.

A princípio, ele não significou um real problema. Fazíamos questão de nos ignorar e ele vivia agarrado a Narcissa que, agora junto com Andie, representava os Black dentro da casa das cobras. Bella e Lucio já haviam se formado neste ano, mas suas influências perduravam, e Cissa parecia governar no Salão Comunal da Sonserina, apoiada apenas no fato de ser irmã de quem era e por alimentar um estúpido romance com Malfoy.

E estas redes de influencia foram mais do que suficientes para que ao longo da estadia de Regulus em Hogwarts ele viesse a se tornar o sonserino mais arrogante e pomposo de toda a escola. Eu bufava de ódio só em pensar nele com suas conquistas, transformando-se em artilheiro que marcava mais pontos da Sonserina, sendo nomeado monitor e mais tarde tornando-se até capitão do time de quadribol da sua casa. E eu era apenas um Black perdido numa maré vermelho dourada, repudiado por todos da minha família e sendo constantemente comparado com ele.

“Ah... porque você não pode simplesmente ser como Regulus, Sirius Edward Black? Um menino tão talentoso e dedicado! Um verdadeiro cavalheiro. Até mesmo sua tia não poupa elogios aos seus modos educados. Mas não, você tem que trazer apenas vergonha para esta família. Sempre se rebelando contra as minhas ordens, andando com aqueles mestiços e amantes de trouxas! Só de pensar nisso arrependo-me por ser sua mãe!".
E nestas horas eu fervia de raiva, ficando revoltado ao ver que enquanto minha mãe berrava estes impróprios na minha cara, meu ‘perfeito’ irmãozinho ria malevolamente por detrás dela, abrindo um sorriso odioso com seus lábios finos, fazendo com que eu me senti-se ainda mais inferior do que o de costume.

Mas entre os marotos eu não era o único que tinha aversão a Regulus. Tiago e Pedro simplesmente soltavam foguetes quando nossas missões envolviam perturbar o caçula dos Black, e Remo também sentia sua parcela de satisfação, todos os quatro terminando a noite sempre muito contentes ao relembrar das caretas do sonserino ao receber bombas de bosta na cabeça, ou ser atacado por diabretes que furtávamos da sala de DCAT e soltávamos no corredor para persegui-lo.

Lílian, que sempre foi comedida e justa, era outra que não suportava a arrogância de Regulus. É impossível contar quantas vezes ela perdeu a paciência com aquele pirralho e quantas vezes chegou ao ponto de azará-lo, isso já estando no seu sétimo ano e com o devido posto de Monitora Chefe. E Tiago também ia à loucura quando meu irmão resolvia implicar com a ruivinha e, juntando nós três contra a constante trupe de acéfalos que seguiam Regulus para todos os lados, surgia uma fervorosa batalha de feitiços, onde todos no final perdiam pontos para suas casas, enquanto os idiotas iam passar uma adorável temporada na ala hospitalar.

Modéstia a parte, tenho que dizer que eu, Lily e Pontas éramos imbatíveis em duelos e, se juntasse o Aluado então, não havia ninguém capaz de nos impedir de simplesmente massacrar o oponente, na sua maioria sonserinos orgulhosos demais para saírem correndo.

Mas Regulus era uma constante na minha vida naquela época. Infelizmente dividíamos a mesma casa, a mesma família e, por uma má sorte minha, era ele quem saia beneficiado de todas as coisas que tínhamos em comum.

Ainda me recordo com clareza das vezes que tive que suportar aquela velha lenga- lenga de ‘Regulus o orgulho Black’ em pleno almoço, onde tios e tias, primos e primas se sentavam envolta da mesa de madeira antiga e desfrutavam de um pomposo cardápio.

- Eu estive conversando com o filho dos Mcnair, Walden se não me engano. Um menino muito ajuizado devo dizer, e fiquei satisfeita com o que soube sobre o meu querido sobrinho Regulus. – Minha tia, Aurélia Black, mãe de Narcissa e Bellatrix, começara a dizer enquanto comia uma porção mínima de couve-de-bruxelas acompanhada de um molho ardido ao qual nunca me preocupei em saber o nome.

Enquanto ela destilava aqueles elogios, minha mente só conseguia pensar: “Walden Mcnair, ajuizado? Para mim é o sonserino mais medroso que existe. Aposto um galeão que se minha tia soubesse o quanto ele gritou quando foi vítima de uma azaração lançada por Alice Dearbourn, ela reveria seus conceitos!”. E, por alguns instantes, foram adoráveis as lembranças que me ocorreram envolvendo um Mcnair gritando como uma menininha indefesa.

- Ah, o pequeno Walden! – Agora foi a vez da minha mãe exclamar ligeiramente corada de orgulho – Sim, ele passou aqui alguns dias de férias no ano passado. Os Mcnair tem muita sorte por ter um herdeiro tão bem educado! – E pude claramente sentir que a alfinetada vinha na minha direção, sem que ela precisasse dizer com todas as letras: Sirius Black você é um inútil.

- Ora Medéia, não se martirize dessa maneira. Tenho certeza que mesmo que Sirius não seja o exemplo de Black que tantos desejamos, Regulus está a postos para representar com maestria a família! – E eu só pude revirar os olhos, enojado, suportando as risadinhas vindas de minhas primas e vendo com desgosto meu irmão piscar maliciosamente na minha direção.

Como, eu imaginava, um pirralho mimado como Regulus seria capaz de guiar uma família?

O máximo que ele conseguia fazer era ordenar que os elfos limpassem a bagunça do próprio quarto e, eu duvidava muito, que soubesse tomar banho sozinho. Mas, comparado a mim, minha mãe e minha tia Aurélia o tratavam como se fosse a perfeição em pessoa.

E era sempre assim.

Sempre Sirius, o mais irritante, Sirius, o desobediente, Sirius, o desbocado, o estúpido, o traidor... E Regulus, bem, Regulus era o bom menino, o que seguia as tradições, o único futuro dos Black.

Futuro?

Bem, atualmente o futuro de Regulus se resume a um pequeno pedaço de terra, para ser mais exato uma cova, no cemitério particular da família. Dizem que seu assassinato foi devido ao fato dele se recusar a cometer as atrocidades ordenadas por Voldemort, que ele defendia o ideal do puro-sangue, mas não estava de acordo com todas aquelas mortes. No entanto eu, como seu irmão, digo que foi pura covardia.

Regulus não era um bom combatente e mal conseguia ficar de pé se visse uma gota de sangue. Não seria nada inédito que fosse punido por se recusar a matar alguém por medo ou algo do gênero.

Uma vez, quando ele tinha seus dez anos e Fausto Black, meu pai, me deu uma de suas memoráveis surras, lembro que ele sofreu um belo desfalecimento ao ver a quantidade protuberante de sangue que saia do meu nariz. Fausto estava furioso por eu ter desobedecido à suas ordens e ido bisbilhotar as relíquias do sótão e, unindo isso ao fato de eu atualmente só trazer desgosto para a família, ele apenas encheu-se de fúria e me acertou no rosto.

Não foi algo excepcional. Eu já havia levado socos em diversas brigas que me envolvera apenas no meu primeiro ano em Hogwarts, e já estava acostumado àquela dor aguda que tomou conta de toda a minha face juntamente com a grande quantidade de líquido rubro que começou a escorrer pelo meu queixo, sujando minhas roupas enquanto eu tentava estancar com as mãos. Mas Regulus, que vinha vitorioso pelo corredor, extasiado com a oportunidade de me chatear, simplesmente desmaiou ao me ver sangrando daquela maneira. E o incrível foi que pela primeira vez em todos os tempos meus pais pareceram contrariados com aquilo.

“Garoto fraco! Apenas um nariz quebrado e um pouco de sangue, não precisava de toda esta cena!”

E só de ouvir estas palavras saindo da boca de meu pai e a careta de desgosto que minha mãe fez ao chegar ao andar de cima e ver todo aquele espetáculo, foi o suficiente para que eu me recuperasse do grande ódio causado pela brutalidade leviana de Fausto Black. Tudo isso porque eu queria encontrar algum álbum de fotografia antigo onde Tio Alphard aparecesse.

Hoje, tento me esforçar para compreender os motivos para ter sido tratado com tanta indiferença por meus pais e, de certa forma, chego a acreditar que a culpa de tudo isso esteja no fato de que na época eu precisava de uma educação rigorosa. Seria o líder da família e, para isso, era necessário que desde pequeno fosse acostumado a um tratamento mais rígido, que me tornasse forte diante das dificuldades que viriam. Regulus por sua vez, era apenas mais um entre os Black, por isso não existiam tantos problemas em ser mimado e perdoado por todas as suas travessuras.

Mas acho que os sonhos de Medéia e Fausto foram por água abaixo quando viram o que era reservado para mim e, depois de algum tempo, para Regulus.

Bellatrix e Narcissa provavelmente sentem nojo de se proclamarem primas de meu irmão. Ele perdeu seu lugar de honra na família quando deixou seus medos serem mais forte e acho isso injusto, pois talvez esta recusa dele, que gerou a fúria do Lord das Trevas, tenha sido o primeiro sinal de humanidade em sua alma Black.

Andie, com toda certeza, visita seu túmulo e lhe deixa flores. Ela é a única entre nós que possui garra o suficiente para freqüentar o cemitério da família e encarar todas aquelas lápides de mármore negro.

A última vez que estive lá foi para prestar homenagem ao meu Tio Alphard. Pode-se dizer que ele morreu jovem, mas não acho que tenha se arrependido de alguma coisa em sua vida. E de todos os Black renegados que já existiram, ele foi o único que no final de tudo acabou retornando ao seio da família, sendo enterrado ao lado dos pais, dos irmãos e das cunhadas. Mas seu nome continua queimado naquela tapeçaria imunda, assim como o meu e o de Andrômeda.

Fico imaginando se o nome de Regulus estaria também maculado na árvore genealógica se alguns dos anciões estivessem vivos. Não existe mais Medéia Black para ameaçar a todos com sua varinha dizendo que nos expulsaria do clã e expurgaria nosso nome da tapeçaria se não seguíssemos a tradição. No entanto, acho que ela não teria coragem de abrir mão de mais um filho.

Talvez, se eu tivesse me esforçado, eu poderia ter estado mais próximo de Regulus. A única pessoa que o conheceu como ninguém, que desvendou e esmiuçou sua alma, foi Bella, a quem ele seguia como um cachorrinho e por quem sempre esteve disposto a morrer.

De todos nós, Bellatrix foi a que primeiro se ofereceu para seguir Voldemort na sua causa. Ela era a pupila dele, a menininha dos seus olhos, que ele fez questão de colocar debaixo de suas asas e lhe oferecer tudo o que pudesse. E como o previsto, Regulus foi atrás dela, integrando o cada vez crescente número de Comensais da Morte.

Ambos desperdiçaram suas vidas.

Meu irmão poderia ter sido grande se não tivesse seguido o caminho das trevas. Ele não tinha tato para crueldade, suas ofensas e todas as brigas compradas em Hogwarts não giravam em torno de um real desprezo pelos sangue-ruins. Ele era apenas um fraco que seguia a lei dos mais influentes e que se deixava levar pelas idéias das primas mais velhas. Seu maior erro foi ter se tornado íntimo de Bella e ter sido mimado em exagero na infância.

O que me espanta, também, é ele não ter tido filhos. Assim como eu, posso dizer que ele tinha certa facilidade com as mulheres e em sua vida foram muitas as que passaram por ela, desde grifinórias a sonserinas, mas parecia nunca haver espaço para apenas uma.

Talvez este tenha sido outro dos seus erros. Ele era sozinho, praticamente solitário. Uma vez, chegou a admitir para mim que tinha inveja dos meus amigos, que gostaria de ter um grupo tão unido como o meu, embora os Marotos estivessem contaminados com os germes dos trouxas.

Mas na Sonserina não há espaço para amizades que superem os interesses. Há lealdade, disso não tenho dúvida, mas ela sempre vem acompanhada de algo mesquinho, como medo ou ganância.

O melhor amigo de Regulus foi um garotinho chamado Bartolomeu Crouch Jr. E, assim como meu irmão, ele seguiu o caminho dos Comensais. Se eu não me engano, ele ao final de tudo acabou sendo capturado e aprisionado em Azkaban, mas a verdade é que ambos conseguiram causar muitos estragos com seus conhecimentos de magia negra e, ao contrário de meu irmão, Bartolomeu tinha em sua personalidade um grande espaço reservado a crueldade e a sede de morte.

Quem sabe tudo não tivesse sido diferente se ele não tivesse nascido primeiro?

Quem sabe, se eu tivesse caído na Sonserina, nossos caminhos teriam se cruzado e acabado nos transformando nos irmãos que deveríamos ter sido?

Mas agora não há mais volta e eu ainda sinto ódio dele, por sua fraqueza, por seus crimes e por não ter certeza de que ele em algum momento chegou a se arrepender do que fez.

O ministério tem conhecimento de suas atividades com o lado das trevas, e porque não teria? O filho do próprio Ministro da Magia é um Comensal da Morte, mas de alguma forma inexplicável sua imagem foi limpa e ele pode ser enterrado como um bruxo comum, sem o desprezo destinado aos seguidores de Voldemort.

É irônico pensar que eu, como o filho revoltado terminasse seguindo o lado do bem, e que ele, como o filho certinho seguisse o do mal e que não conseguisse dar conta do recado.

É mais irônico ainda que eu, que lutei tanto para ir contra as idéias pré-concebidas em torno de minha família, que batalhei para me livrar da imagem de bruxo das trevas, acabasse em uma cela sem realmente ter cometido o crime pelo qual pagarei até o resto de minha vida. E unindo a isso tudo, só posso rir do fato de Regulus, que queria tanto provar aos pais o quanto era digno o suficiente de sua confiança seguindo Voldemort, tenha morrido e sido perdoado por seus pecados, pecados aos quais fazia questão de proclamar aos quatro ventos, com os quais acumulou toda a sua riqueza que vem para mim agora.

Nenhum de nós no final das contas teve sorte nesta vida.

Eu não o superei, e nem ele a mim. Nossas desavenças, nossas disputas não nos levaram a lugar algum. E agora ele está morto e todos os frutos de sua vida negra vieram cair em minhas mãos, e eu não sei o que fazer com eles.

Enquanto penso no novo montante de galeões que irá abarrotar os meus cofres, fico imaginando a quem deveria destinar esta quantia imensa. Enquanto eu não morrer não há herdeiros e, quando eu me for, provavelmente tudo irá para Narcisa, ou Andrômeda, dependendo dos acontecimentos futuros.

Mas eu não sei se é realmente isso que desejo.

Talvez eu possa em parte beneficiar a minha prima Andie e a pequena Nymphadora. Acho que as duas merecem ter um alívio financeiro no futuro. E Harry, filho de Tiago provavelmente não terá problemas com dinheiro quando for mais velho. Os Potter sempre foram muito bem de vida e, ao longo dos poucos anos de casados, Pontas e Lily conseguiram juntar uma boa quantia em galeões para integrar a já suntuosa herança da família.

No final de tudo, o que é dos Black permanecerá nas mãos dos Black, embora, eu ache que com o girar da roda da vida, o sobrenome passe a perder sua força pois, agora o único que restou para perpetuá-lo fui eu, porque Regulus foi-se sem deixar para trás nenhum rebento.

Black!

Parece que o destino pelo qual minha família tanto lutou contra acabará se tornando a realidade. Nosso sangue vive, lógico, forte como sempre, mas agora está mascarado com outros sobrenomes...

Lestrange...

Malfoy...

E Tonks...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.