TORTA DE CHOCOLATE E CONFIDÊNC



CAPÍTULO 2



 



TORTA DE CHOCOLATE E CONFIDÊNCIAS



 



 



 



Sentando-se na cama e sentindo seu corpo gelado, por causa da transpiração, Harry notou um fato inusitado: sua cicatriz não estava doendo, nem mesmo ardendo, como seria de se esperar em caso de um perigo próximo, advindo de Lord Voldemort.



_Estranho” _ pensou. _ “Além de detalhado, pareceu tão real”. _ Tudo no sonho conferia com os acontecimentos recentes, exceto pelo fato de que seu aniversário havia sido no dia anterior, Hermione não lhe emprestara livro algum e, obviamente graças a Deus, não houvera ataque algum por parte de Lord Voldemort. Os tios já haviam voltado da viagem e, na noite seguinte, ele seguiria para a propriedade dos Weasley, A Toca, onde passaria as últimas semanas de férias e depois seguiriam todos para Londres, a fim de irem ao Beco Diagonal e, depois, para Hogwarts.



Trocou o pijama molhado de suor por um seco e colocou os óculos, a fim de conferir a hora: eram 01:25 h da madrugada. Tentava lembrar-se, sem sucesso, das palavras que havia dito em sonho, aquele mantra _ “E eu não sei quase nada do idioma Sânscrito”. _ Sentindo-se com sede, desceu à cozinha, procurando fazer o maior silêncio, ouvindo os tios ressonando no quarto ao lado. Chegando à cozinha, viu uma silhueta em frente à geladeira: Duda estava em pleno ato de cortar uma avantajada fatia de torta de chocolate.



 



_Ei, Duda”. _ sussurrou Harry. _ “Metade disso aí já vai satisfazê-lo e não vai prejudicar a dieta”.



_Está bem, Harry. Pega um prato e ataca metade.



 



Enquanto saboreavam a excelente torta de chocolate da Tia Petúnia, Duda perguntou:



 



_Então, você está indo amanhã à noite?



_Estou. Ainda tenho de comprar o meu material em Londres. Duda, já reparou que esta é a primeira vez na vida em que estamos conversando sem hostilidades ou gozações um com o outro?



_É verdade. Acontece que antes eu não entendia. Julgava você esquisito e até mesmo um pouco maluco, quando na verdade você apenas é...diferente. E descobri que mamãe sente falta de Tia Lílian. Ela apenas finge que não gosta dela.



_Você disse o nome de minha mãe! É a primeira vez que alguém diz o nome dela aqui.



_Mamãe nos proibiu de dizer o nome de Tia Lílian e Tio Tiago. Acho que ela pensa que, fingindo que não existem, pode diminuir a dor pela falta deles. Aliás, nem sei como eles eram. Mamãe não deixa à mostra nenhuma foto deles. Uma vez, quando você estava em Hogwarts...



_Você também diz o nome de minha escola! Tio Valter evitava qualquer referência a Hogwarts aqui em casa.



_Como eu dizia, eu a surpreendi no seu quarto, chorando e abraçando uma foto que, eu acho, é deles. Ela tranca o seu quarto quando você vai e só abre para limpá-lo e quando você volta. Quando ela me viu, trancou a porta e eu não vi mais nada.



_Vamos até lá que eu mostro as fotos que tenho deles. Só não se espante, pois são fotos bruxas. As pessoas retratadas se movem.



 



Terminaram de comer, lavaram os pratos e, em silêncio, subiram ao quarto de Harry. Chegando lá ele mostrou a foto de seus pais, que tinha na mesa de cabeceira.



 



_Como ela era linda, Harry! E como você é parecido com seu pai.



_Veja esta, de quando começaram a namorar, no sétimo ano.



_Nossa, parece até que é você na foto com ela.



_Todos dizem que eu sou a imagem dele, exceto nos olhos.



_Esses dois aqui são seus amigos, Hermione e Rony, não são?



Sim. Rony você já conhece, bem como dois de seus irmãos, Fred e Jorge.



_E você acha que eu consigo esquecer daquele maldito caramelo incha-língua? Se não fosse pelo pai deles...



_É que naquela época você era um pouco... intolerante.



_Preconceituoso, é melhor dizer.



_Quando foi que você mudou sua visão dos bruxos?



_Acho que foi desde que você me salvou daqueles dois... como é o nome, dementadores, eu acho. Aquelas criaturas que podem arrancar a alma das pessoas.



_Primeiro você pensou que eu o havia enfeitiçado.



_É. Depois eu descobri que, se não fosse por você, eu estaria pior do que se estivesse morto. Por que estão acontecendo essas coisas, Harry?



_Não sei até onde posso te contar, Duda, por causa do Estatuto de Sigilo em Magia. O que posso dizer é que um dos mais perversos bruxos das Trevas voltou e vai iniciar uma guerra contra os bruxos do bem. E os trouxas estão bem no meio dela.



_Quem era o tal Cedric, de quem você falava em sonhos no ano passado?



_Era um colega que foi assassinado na minha frente, por ordens de Voldemort, só porque não era necessário aos planos dele.



_O cara é tão mau assim?



_Pior do que você possa imaginar. O único a quem ele teme é Dumbledore.



_Dumbledore deve ser um grande bruxo.



_O maior dos bruxos ainda vivos. Sem contar que é alguém em quem não se pode deixar de confiar. Já combateu contra outros bruxos das Trevas, especialmente um tal de Grindelwald, em 1945. Parece que Voldemort fez parte de uma facção dissidente do seu grupo, algum tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial.



_Nunca tomamos conhecimento disso.



_Os bruxos sempre conseguiram manter os acontecimentos em segredo. Mas parece que Grindelwald tinha aliados mesmo entre os trouxas. Hitler era um deles, tanto que o apelido de Grindelwald era “A Varinha do Reich”.



_Então se os nazistas tivessem vencido... _ comentou Duda.



_O Partido das Trevas dominaria o mundo, junto com o Eixo.



_Veja, aqui tem uma foto de Dumbledore. É idoso, mas transmite uma energia.



_Esta foi na Final do Torneio de Quadribol, quando eu estava no terceiro ano. Foi no ano em que ganhei a Firebolt.



_Sua vassoura nova? Notei mesmo que chegou aqui com uma vassoura diferente naquele ano.



_Ganhei de Sirius, meu...



_Ei, cara, o que foi?



_D-desculpe. É que Sirius Black, meu padrinho, foi morto em um combate contra bruxos das Trevas, há algumas semanas atrás.



_Morto? Seu padrinho, aquele que era procurado?



_Sim. Na verdade era inocente, mas agora isso não importa. Não gosto muito de falar nisso.



_Tudo bem. É melhor não me dizer mais nada, ou pode acabar revelando algo que não deve. Naquele ano você fez a Tia Guida virar um balão.



_Foi totalmente sem querer. Chamamos isso de emissão mágica involuntária.



_Igual ao pudim no ano anterior?



_Não, aquilo foi obra de um elfo doméstico chamado Dobby. Depois eu o libertei e ele se tornou um grande amigo. Veja, é ele nesta foto.



_Que esquisito. Estão sob sigilo?



_Sim. Normalmente não freqüentam residências trouxas.



_Tome cuidado para não revelar nada sigiloso.



_Tem razão. Mas sobre nosso dia-a-dia não há problema.



_E o que vocês fazem lá?



_É uma escola como as antigas escolas tradicionais, com alunos quarteados em Casas, matérias, deveres, provas, etc, meio parecido com Eton. A diferença é que as matérias são relacionadas com magia: Transfiguração, História da Magia, Defesa Contra as Artes das Trevas e outras mais, além dos jogos de Quadribol.



_Como se joga isso?



_São sete jogadores em cada time, sendo um goleiro, que defende o gol, formado por três aros a quinze metros de altura, três artilheiros, dois batedores e um apanhador. Joga-se com quatro bolas: uma vermelha, a goles, que é usada para marcar os gols; dois balaços, bolas animadas que tentam derrubar os jogadores e devem ser rebatidas pelos batedores e uma bolinha dourada com asas, do tamanho de uma noz, chamada pomo de ouro, que dá cento e cinqüenta pontos ao time e decide a partida. Minha função como apanhador é localiza-la e capturá-la.



_É essa aqui na sua mão, nessa foto?



_Exatamente. Graças a um colega fanático por fotografia, Colin Creevey, eu tenho uma boa quantidade de fotos.



_E essa aqui, com um olhar que parece aço?



_Minerva McGonnagall, professora de Transfiguração. É durona, severa ao extremo, mas muito justa e honesta.



_E esse aqui de preto?



_Severo Snape. Ensina Poções. Vive me sacaneando desde o primeiro ano. Tinha uma rixa com meu pai, nos tempos de estudante e parece que nunca superou totalmente. Eu o detestava, mas acho que agora entendo seus motivos.



_Como assim?



_Descobri, não posso dizer como, que ele era muito sacaneado quando aluno, não só por meu pai, mas principalmente por ele e sua turma: Sirius, Lupin e Pettigrew, conhecidos como “Os Marotos”.



_Quem é o tal Pettigrew?



_Esse baixinho sentado entre meus pais, nessa foto. Pensavam que era amigo deles, mas foi esse filho de uma harpia que os traiu. Revelou o esconderijo deles a Voldemort, que os matou em casa.



_E você? Ele não tentou te matar?



_Tentou, mas como minha mãe morreu me defendendo, isso me deu uma proteção que voltou o feitiço contra ele.



_E você ganhou esse “mimo” na testa.



_Já me salvou a vida várias vezes. Ela me avisa quando há perigo por parte de Voldemort.



_Deve ser difícil só de falar disso...



_É. Mas eu acho que preciso exorcizar alguns fantasmas do passado. Parece estranho, mas me sinto melhor falar, principalmente com você.



_Por que?



_Nós dois passamos a maior parte das nossas vidas quase que nos devorando um ao outro. Você por que tinha preconceito contra os bruxos, não queria nem saber nada sobre nosso mundo, onde há gente boa e gente ruim, tal como entre os trouxas. E eu, pelo meu lado, sentia inveja dos seus privilégios, presentes, do amor que seus pais sentiam e sentem por você. No começo até que meio pelos presentes, mas depois eu descobri que existe mais do que o material. Tio Valter e Tia Petúnia demonstram afeto de uma maneira meio errada, lhe enchendo de presentes e fazendo todas as suas vontades, mas é como eles sabem expressar o quanto gostam de você. O problema é que, quando criança, você foi ficando mimado e arrogante, mas vejo que está amadurecendo cada vez mais.



_E não estamos todos? Fico surpreso por que você não ficou um cara revoltado, mesmo após quinze anos de humilhações e hostilidades, muitas delas de minha parte.



_Acho que, no fundo, eu sempre soube que algo de diferente ia acontecer comigo. Só não sabia o que.



_E agora?



_Acredite, descobrir que sou bruxo mudou minha visão sobre muitas coisas mas, principalmente, me faz acreditar que pode haver uma convivência harmoniosa entre bruxos e trouxas. Existem pessoas que não acreditam nisso e outras, como Voldemort, que acham que os trouxas deveriam sumir da face da Terra. Bruxos das Trevas são todos puro-sangue mas, ironicamente, Voldemort é mestiço.



_Então como esse ódio todo?



_Ele teve um pai detestável, que abandonou a esposa quando soube que era bruxa. Ela morreu logo após o parto e ele cresceu em um orfanato, odiando o pai. Um dia, matou o pai e os avós paternos com uma maldição, a mesma com que tentou me matar.



_E ele chama os mestiços e trouxas de “sangue-ruim”. Com tudo isso, quem tem um sangue para lá de podre é ele.



_É verdade. Pena não saber até onde posso lhe contar, pois a História Bruxa é muito interessante. Vou procurar ver com Dumbledore ou com outro bruxo adulto, para saber quais os limites do conhecimento bruxo para os trouxas, especialmente os parentes.



_Olhe aqui. Quem é o cara que está disputando o pomo com você nessa foto?



_Nossa, eu nem vi que Colin havia tirado essa. Foi no segundo ano, primeiro jogo da temporada, no qual cheguei a quebrar o braço e depois, por causa de um feitiço malfeito de um bruxo incompetente, perdi todos os ossos dele, tendo que ficar na ala hospitalar por uma noite inteira, para recuperá-los. Grifinória versus Sonserina. Esse aí é Draco Malfoy. Por alguma razão resolveu me odiar desde o primeiro ano. O pai dele está em Azkaban e, sem remorso, fico contente em ter ajudado a colocá-lo lá.



_Como assim?



_Lucius Malfoy tem, para o mundo, uma imagem respeitável. Embora ele odeie os trouxas, descobri que mantém, como fachada, uma empresa trouxa de importação e exportação. É tido como mais um milionário excêntrico, pois nunca aparece. Sua família é muito antiga e rica. Ao que parece, sempre foram do lado das Trevas e, segundo informações, do primeiro escalão de Voldemort.



_Gente perigosa...



_E como. Mas Draco nunca conseguiu ganhar uma de mim.



_Já está ficando tarde...



_É mesmo. De dia eu lhe conto mais.



_Valeu, Harry. Acho que agora, conhecendo um pouco mais do seu mundo, posso até ajudar meus pais a diminuírem o preconceito deles. Boa noite, primo.



_Boa noite, primo.



 



Meio surpreso, porém muito contente por terem, em uma noite, trocado mais confidências do que em uma vida inteira, Harry beijou a foto de seus pais, que lhe mandaram beijos de volta, tirou os óculos, apagou o abajur e desabou na cama, sonhando que estava no Três Vassouras com Hermione e os Weasley, tomando cerveja amanteigada, rindo e conversando, quando de repente, viu-se acompanhado por apenas um Weasley, mas não sabia dizer qual era, pois não podia ver seu rosto, somente os cabelos ruivos cor de cobre e uma frase no livro que estava nas suas mãos: “Quase sempre o mais importante está à nossa vista e, justamente por isso, não nos damos conta, até ser tarde demais”.



Então, sem mais sonhos, mergulhou em um sono profundo e reconfortante, como não acontecia há muito tempo.



 



No dia seguinte, Harry levantou-se cedo e fez sua higiene matinal. Resolveu vestir uma das roupas de corrida novas e calçar o Nike Vitesse, para experimentá-lo, bem como também pegou os óculos de sol e o cinto, com a garrafa e o discman. Desceu para o desjejum e, na cozinha, encontrou-se com Tia Petúnia.



 



_Equipamento completo hoje, hein?



_É verdade. Deu vontade de experimentar alguns dos presentes que ganhei do pessoal bruxo.



_Olhando assim nem parece. Qualquer um que olhar pensaria que é uma pessoa normal... desculpe. Velhos hábitos são difíceis de abandonar. Como eu dizia, pensaria que é um trouxa se exercitando.



_Eles compraram os presentes em lojas trouxas e os “melhoraram” com uns feiticinhos.



_Ainda estou tendo dificuldade para digerir tudo isso. Acredita que aquela garota que muda a aparência...



_Tonks.



_Isso mesmo. Nymphadora Tonks. Nome estranho, mas tem uma sonoridade até bonita.



_Ela detesta o primeiro nome.



_Bem, ela ficou com a aparência da Rainha Elizabeth II, de uma forma tão perfeita que eu quase me ajoelhei e a chamei de Majestade.



_Ela é perfeita nisso. É muito bom para o seu trabalho de Auror.



_???



_Uma espécie de agente de elite do Ministério da Magia, um tipo de 007 bruxa.



_Vocês têm isso?



_Sim. Os bruxos são bem organizados. Ora, aí está você, Duda. Tome seu café e vamos ver se hoje completamos uns 10 Km.



_Vamos nessa.



 



Terminaram o café da manhã, aqueceram-se e saíram para correr. Harry tentou identificar Tonks entre as várias pessoas que faziam o mesmo trajeto, mas não conseguiu. Voltou meio frustrado, mas contente por terem feito o percurso de 10 Km em um bom tempo. Fizeram uma sessão de musculação, alongaram-se e foram para os banhos. Na hora do almoço, Tio Valter perguntou a Harry:



 



_Como você vai fazer para ir à casa dos Weasley? Eles moram em... onde é mesmo a fazenda deles?



_Fica em Ottery St. Catchpole.



_Mas isso é bem longe de Little Whinging. Nem sei se há linhas regulares para lá.



_Vou de ônibus. Há um ônibus bruxo que vai a qualquer lugar da Grã-Bretanha. É só chamar que ele vem.



 



Vendo que os tios começavam a fazer aquelas caras já bem conhecidas, Harry logo tratou de acalma-los:



 



_Calma. Não há perigo de o ônibus ser visto, apesar dele ser roxo e ter três andares (Harry não conseguia deixar de sentir um certo prazer em ver os tios assustados com coisas do mundo bruxo. As caras deles dariam uma bela foto, se Colin estivesse ali). Eu vou pegar o ônibus à noite, ele não é muito visível, mesmo sendo tão espalhafatoso e não vou chama-lo aqui e sim no Largo das Magnólias, que sempre está vazio à noite (segurou o riso ao ver como os tios iam ficando mais aliviados).



 



No decorrer da tarde, foi à casa da Sra. Figg, que ficou muito contente em vê-lo, antes que fosse para A Toca.



 



_Harry, querido. Que bom ver você.



_Boa tarde, Sra. Figg. Ainda com raiva do Dunga?



_Aquele pilantra do Mundungus Fletcher... Ainda não consigo engolir aquela mancada dele, no ano passado.



_Acho que as coisas acabaram tendo o desfecho que deviam, exceto pela morte de Sirius. Não é justo (algumas lágrimas desceram pelo rosto de Harry). Não me sai da cabeça que ainda não era a hora dele. É como se algo ocorresse desequilibrando a corrente do tempo.



_Calma, Harry. Sei que foi brutal, mas você vai ter de aceitar.



_Talvez com o tempo, Sra.Figg, mas eu continuo achando que ainda não era a hora dele.



_Todos achamos que ainda não é a hora, querido, mas destino é destino.



_Não acredito, pelo menos não completamente em destino, porque não gosto da idéia de não ter o controle da minha vida. Acho que nem tudo é predeterminado e que, em momentos importantes da nossa existência, é o nosso arbítrio que conta.



_Nossa, parece que você andou assistindo “Matrix”.



_Sim. E acho muito interessante essa questão que ele levanta.



_Você está filosófico e profundo demais para um adolescente.



_Creio que ver a morte de perto, seja a minha ou a dos outros, deixa a gente assim, pensando no quanto a vida é frágil. Sei que devo enfrentar Voldemort, mas não posso deixar de viver. Tenho dezesseis anos e ainda tenho muito que fazer, para o bem de todos, inclusive o meu próprio.



_Isso mesmo, Harry. Pense no futuro, mas não se esqueça de viver o presente.



_Parece até Dumbledore falando.



_Este foi um conselho que ele me deu.



_Está tendo sorte com o tal curso Feiticexpresso?



_Estou, Harry. Já consigo executar os feitiços simples e já vou para o módulo dos intermediários.



_Já vi que só mesmo para o Filch é que o curso não deu certo.



Rindo, a Sra. Figg disse:



_Acho que ele consegue ser mais incompetente do que eu jamais fui. Dumbledore tem um grande coração. Manteve Filch como zelador da escola.



_Algum valor aquele ranzinza deve ter.



_Veio para fazer contato com A Toca?



_Também. A verdade é que com a senhora eu me sinto mais próximo do mundo dos bruxos.



_Mas seus tios o estão tratando melhor.



_É verdade. Primeiro foi por medo, depois porque não podiam lutar contra e agora eles até estão se dando bem com os bruxos.



_Lupin e Tonks são ótimos. Deveriam ser diplomatas. Venha até a lareira e pegue um pouco de pó de Flu.



 



Harry apanhou um bom punhado de pó e atirou na lareira, dizendo claramente: “A Toca!” Imediatamente as chamas verde-esmeralda se levantaram e Harry pôs a cabeça na lareira. Sentiu sua cabeça girar e projetar-se, parando na lareira da família que mais adorava. Deu de cara com Gina:



 



_Harry, que bom te ver. Mamãe, Harry na lareira!



 



Imediatamente Molly Weasley foi para a frente da lareira e abriu um sorriso:



 



_Harry, querido. Já está com tudo pronto?



_Sim, Sra. Weasley. Hoje à noite estarei chegando no Nôitibus.



_Ainda não entendo por que você não vem com pó de Flu.



_Da última vez que usei pó de Flu para ir ao Beco Diagonal, na semana passada, fiquei por dois dias que parecia ter labirintite. Decididamente, não é o meu transporte mágico preferido, embora o Nôitibus também seja uma aventura daquelas.



_Daqui a pouco Hermione vai chegar. Ela parece tolerar o Flu melhor do que você. Estamos aguardando ansiosamente sua chegada.



_Como está o pessoal, Rony, os gêmeos, Gui, Per... parou no meio da frase, pensando: “Que rateada! Percy está brigado com a família”.



 



Vendo a expressão de Harry, a Sra. Weasley riu e disse:



 



_Não se preocupe, querido. Você não cometeu nenhuma gafe. Percy esteve aqui há umas duas semanas e reconciliou-se com Arthur e com toda a família. Nem ligou quando Fred e Jorge lhe pregaram uma peça com um Creme de Canário.



_Deve ter ficado uma figura.



Naquele instante, Rony chegou:



_Harry, como vai, cara. Estamos à sua espera.



_Já falei com sua mãe. Estarei chegando hoje à noite, no Nôitibus.



_Isso é que é gostar de sofrer. Existem maneiras melhores de viajar.



_O problema é que eu ainda não superei minha tontura com o pó de Flu. Mesmo só com a cabeça, já sei que vou ficar meio abobado por uma ou duas horas. É melhor ir. A gente se vê à noite. Até lá.



_Até a noite, Harry.



 



Naquela tarde, quase na hora de Harry sair, Tio Valter chamou-o num canto e disse:



_Harry, o que vou contar agora eu jamais revelei, nem mesmo para sua tia.



_O que é?



_Eu conheci seu pai, antes de ele se casar com sua mãe. Na época eu estava noivo de Petúnia e, por coincidência, ambos estávamos vindo pedir a mão das irmãs em casamento. Eu já sabia que sua mãe era bruxa, mas ainda não havia visto o noivo dela. Vínhamos pela mesma rua e começamos a conversar:



 



FLASHBACK



_Então você está indo à residência dos Evans?



_Sim. Sou noivo de uma das filhas deles.



_Qual delas?



_Lílian, aquele anjo de cabelos acaju.



_Então você deve ser Tiago Potter.



_Sim, mas como você sabe?



_Sou o noivo da irmã dela, Petúnia.



_Você é Valter Dursley.



_Exatamente. Ouvi dizer que você é bruxo.



_Por favor, Valter, não use esse tom para se referir a nós. Não somos monstros nem aberrações. Apenas nascemos diferentes, com poderes que temos de aprender a controlar, por isso freqüentamos as escolas de magia, para utilizarmos nossas capacidades com responsabilidade e para o bem. Bruxos maus existem, assim como também existem trouxas maus. Graças a Deus que eles são uma minoria.



_E quanto a você?



_Pelo meu lado, odeio as artes das Trevas, a Magia Negra, com todas as minhas forças. Lílian também. Nós sempre estaremos do lado de Dumbledore.



_Quem é esse?



_Alvo Percival Wulfric Brian Dumbledore é o Diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e um dos maiores defensores do uso da magia para o bem e pela harmonia entre bruxos e trouxas.



_Trouxas?



_É como chamamos as pessoas não-mágicas.



_Chamando assim vai ser difícil essa harmonia...



_A expressão é tão antiga que ninguém sabe como começou.



_Como você se sente encarando o preconceito?



_Procuramos não dar muito na vista, pois a maior parte dos bruxos não sabe se comportar muito bem com as coisas dos trouxas. Um simples eletrodoméstico é uma coisa de outro mundo para nós.



_Ouvindo você falar assim soa meio engraçado.



_Mas eu acredito que haverá harmonia entre bruxos e trouxas, quando ambos os povos esquecerem os seus preconceitos e se aceitarem como são.



_Não gosto de bruxos, Tiago, mas também não gosto de conflitos. Espero que você esteja certo.



 



FIM DO FLASHBACK



 



_Então o senhor e meu pai tiveram essa conversa?



_Sim. Na época eu não compreendi muito bem, mas agora, conhecendo alguns dos seus amigos, eu começo a entender o que ele queria dizer. Harry, vou procurar ser menos intolerante, mas vai ser meio difícil digerir muitos deles.



_Eu entendo o que o senhor quer dizer. Alguns realmente são bem extravagantes, até mesmo para os padrões bruxos. Mas, com o tempo, o senhor se acostuma. Quem sabe até lhe seja permitido o acesso a lugares bruxos.



_Não exagere. E, após dizer isso, Tio Valter fez algo que Harry jamais o havia visto fazer para ele: piscou e sorriu.



_E eu que achava que milagres não aconteciam com freqüência, _ pensou Harry. _ Se pessoas como os Dursley começam a aceitar os bruxos, a harmonia está mais próxima”.



Harry ajeitou a gaiola de Edwiges sobre o malão e já estava pronto para sair, quando Tio Valter perguntou:



_Como você vai levar tudo isso?



_Com as rodinhas não fica pesado.



Duda então disse:



_Tudo bem, papai. Eu vou com ele.



Tio Valter começou a ficar com aquela cor que Harry conhecia muito bem, até que Duda:



_Papai, não fique assim. Temos de nos acostumar com tudo isso, lembra?



_Está bem, está bem. Só falta você, daqui a pouco, manifestar magia.



 



Harry então disse:



 



_Não se preocupe. Se ele não manifestou até os onze anos, não acontece mais. Estamos indo. Até o próximo verão e muito obrigado por estar revendo seus conceitos.



_Não abusa, moleque. Tio Valter riu e acenou, se despedindo.



 



Quase chegando ao parque da Rua das Magnólias, Harry comentou:



 



_Foi aqui que vi Sirius pela primeira vez, transformado em cachorro. Levei um baita susto.



_Naquela época você pensava que ele queria te matar, não é?



_É, mas tem mais alguém aqui. Alguém que conheceu Sirius mais do que eu.



_???



_Não está sentindo esse cheiro de fumo curtido e uísque? Nem debaixo de uma capa de invisibilidade dá para disfarçar. APARECE, DUNGA!



_Não tem mesmo jeito de te enganar não é, Harry? _ Disse uma voz atrás deles e, em seguida apareceu, saindo debaixo de uma capa de invisibilidade, o velho Mundungus Fletcher.



_Dunga, só estando com um resfriado de seburrelho para não te perceber.



_Você tem razão, eu conheci Sirius. E, quanto aos limites do sigilo, eu sei até onde posso contar ao seu primo. Vamos chamar o Nôitibus e depois eu acompanho o Duda de volta. _Dunga levantou o braço da varinha e, em um instante...



 



BANG! Com um estalo, o Nôitibus aparatou em frente a eles. A porta se abriu e, de dentro saiu:



 



_Boa noite, este é o Nôitibus Andante, o transporte de emergência para bruxos...HARRY! Que legal te ver, cara.



_E aí, Lalau. Tudo bem?



_Tudo, cara. Vamos embarcar sua bagagem. Oi, Dunga. Quem é esse aí?



_Meu primo Duda. _ disse Harry.



_Trouxa? Ainda bem que é seu parente, senão teríamos que apagar a memória dele.



 



Harry embarcou no Nôitibus e se despediu de Duda e Dunga.



BANG! O Nôitibus desaparatou e sobraram os dois na calçada.



 



_Vamos, Duda. Eu te acompanho até sua casa. É mais seguro. Assim nenhum bruxo das Trevas vai te pegar.



_Como é?



_Para tentar ameaçar Harry através dos parentes. Bem, como eu dizia, conheci Sirius e os pais de Harry, desde a escola. Fomos contemporâneos em Hogwarts. Me lembro de uma vez...



 



E lá se foram os dois, Dunga contando, até onde podia, coisas do mundo dos bruxos e Duda, admirado não perdendo uma palavra.



Enquanto isso, o Nôitibus desaparatava e aparatava, seguidamente, em direção a Ottery St. Catchpole e à Toca.


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