Cicatriz

–Tem alguém aí???

A jovem bruxa gritou a pargunta que ecoou pelos destroços do que um dia foi uma residência, mas não obteve nenhuma resposta. Com o coração acelerado e um desespero tomando conta de seu ser, a bruxa corria pelas tábuas e pedaços de assoalho em busca de qualque pista que pudesse denunciar um sobrevivente. Era angustiante. Por mais que ela olhasse e procurasse por todos os cantos, parecia não haver ninguém.

“Cheguei tarde demais” pensou começando a chorar. Ela sentia-se culpada. Poderia, ou melhor, deveria ter ajudado, se sacrificado, ter se imposto mesmo contra a vontade da família. Se ela tivesse ali poderia ter salvado seus entes queridos. Ou será que seria apenas mais uma a morrer?

A jovem não sabia a resposta, mas sentia que deveria prosseguir procurando. Tinha que haver nem que fosse uma pista do que acontecera. Ela reviraria a casa de cabeça para baixo se fosse preciso. Nem que fosse apenas para encontrar os cadáveres de sua família.

Já desnorteada a moça seguiu para o segundo andar, o mais atingido. Pela sua experiência como auror, indicava que o que tiver acontecido, ocorreu naquele andar. Ela prosseguia cautelosa pela escada até que avistou um degrau quebrado, revelando um corpo inerte abaixo dos escombros. Era o corpo de seu irmão.

–Naaaaoooo! – a bruxa gritou desesperada com o coração tomado pela dor. Embora ela já soubesse que era isso que iria encontrar, era doloroso demais enfrentar a realidade. Preocupada com o que pudesse ter acontecido ao resto de sua família, a jovem continuou agora mais depressa. Ela vasculhou o segundo andar até chegar a porta branca com um desenho de um ursinho. Era o quarto das crianças.

Receosa, a bruxa abriu a porta e gritou de pavor ao ver o corpo da cunhada estendido frio pelo chão.

–Pelas Barbas de Merlim, que monstruosidade! Senhor!

E seu desespero foi ainda maior ao notar que o bercinho de seu sobrinho estava vazio.

–A não, não, por Merlin naaaao!

Enlouquecida ela sentiu-se a pior das criaturas, havia falhado. O bebê que deveria proteger não estava na casa. Então, onde ele estaria?

–Eu deveria estar aqui! Eu deveria estar aquiiii! Por quê??????? Por que eles??????

A jovem estava perdida, consumida por sua dor e seu sofrimento, havia perdido a todos que mais amava naquele dia amaldiçoado. Ou quase. No meio de suas lágrimas silenciosas, a bruxa escutou um baruho e depois disso um gemido de bebê. Era fraco, como se o pequeno ser estivesse quase sem vida, mas era definitivamente barulho de criança.

Com as esperanças renovadas, a jovem saiu a caça, seguindo a direção de onde viera o barulho. Ela revirou o quarto, mas nada. Era como se o choro viesse do Além. Seria talvez um delírio? Apenas a sua imensa vontade de poder ter feito algo?

Desanimada ela abaixou a cabeça e estava prestes a se desesperar quando finalmente avistou. Um alçapão. Havia um alçapão abaixo de onde antes ficava uma cama de solteiro que agora não passavam de meros destroços. Sem ligar para os braços que foram feridos pelas ripas de madeira, ela continuou seu trabalho até conseguir abrir espaço e finalmente abrir o compartimento secreto.

Lágrimas lhe vieram e uma sensação de alívio. A bruxa chorou como uma criança de alegria. Ali, ainda havia um resto de esperança, a sua última chance, o único que restara de sua família. Ali dentro, enrolada em mantas brancas e quase desfalecida, estava uma linda menina.

–Naaaaaaooooo!

–Harry? O que foi?

O garoto levantou-se completamente suado e desnorteado. Levou um tempo para que ele se desse conta que se encontrava em segurança, em seu quarto em Hogwarts. Mas, era impossível não lembrar da casa, do desespero e da angústia da bruxa de seu sonho, e, principalmente, da pequena bebê que ela encontrara. Quem seriam essas pessoas? No seu sonho, Harry não conseguira distinguir os rostos das pessoas, era como olhar para uma cena borrada.

–Harry, está tudo bem – falou Hermione carinhosa dando u beijo no amigo. –Foi somente um pesadelo.

–Foi tão real Mione.

–Foi apenas um sonho. Você está cansado, tente relaxar. Daqui a pouco temos o jantar.

Potter sorriu ao se lembrar da recepção de boas vindas aos alunos do primeiro ano. Hogwarts havia sido reconstruida e reaberta, e agora ele, Rony e Hermione havam voltado para concluir seus estudos.

–Eu vou ficar bem Mione, não se preocupe.

–Ótimo! Vou me arrumar e procurar o Ron, antes que ele se atrase!

Harry sorriu e ficou vendo a amiga sair saltitante pela porta. Seria esse o começo do primeiro ano normal para Harry em Hogwarts?

Porém, a imagem da bruxa na casa destroçada ainda o atormentava. Era como um aviso. Um aviso que talvez seu ano não fosse tão tranquilo como Harry e seus amigos imaginavam.

*************

–Até que em fim Harry! Eu já estava aflita! – disse Mione assim que Harry entrou atrasado no salão principal. McGonagall já estava em seu discurso como nova diretora da escola.

–Sabe como ela é neurótica cara...

–Eu não sou neurótica Rony!

–Já estão brigando? –disse Luna Lovegood se aproximando e sentando ao lado de Harry. A loira sorriu para Hermione e Ron emburrados.

–Oi Lu! –disse Harry abrindo uma expressão pela primeira vez feliz. Mas ele nem teve tempo de perguntar nada, pois a diretora chamou atenção para a apresentação do novo corpo docente e dos novos alunos.

As novidades não eram muitas nos cargos docentes. A primeira era a nova professora de poções e diretora da casa de Sonserina, Maite Dantas. Morena, de pele bronzeada e lábios vermelhos, ela transmitia um ar de seriedade e frieza. Harry e seus amigos sentiram que pelo jeito as aulas continuariam a ser uma experiência nada agradável, igual à época de seu professor Snape.

Porém, o que mais chamou atenção de Harry era a novata do cargo de Defesa Contra as Artes das Trevas. Ele tinha a estranha sensação que já conhecia aquela mulher de algum lugar. Apresentada por McGonagall como uma grande amiga e uma exelente auror no Brasil, a novata levantou-se para agradecer os aplausos entusiasmados. O cargo de DCAT era considerado amaldiçoado, e muitos se perguntavam se a jovem contiuaria por muito tempo na escola. Mas, o que mais chamava atenção de todos, era a sua beleza deslumbrante. Alta, magra mas com curvas, loira, olhos claros, boca sensual, jeito sexy e ao mesmo tempo com atitude e persoalidade. Mia Stradivarius mais parecia uma modelo saída do catálogo mais perfeito de moda.

–Obrigada Minerva! – a jovem disse abraçando a diretora. –É um prazer retornar à Hogwarts!

–E, nossa queria Mia é minha substituta como nova diretora da casa de Grifinoria.

A mesa de Grifinoria irrompeu em vivas animados, principalmente dos garotos pra lá de empolgados. Alguns chegaram a se levantar para ver melhor sua nova diretora.

–Acho que vamos gostar de DCAT esse ano Harry! –brincou Ron dando uma piscadinha, fazendo Luna e Hermione revirarem os olhos.

–Obrigada queridos –disse Mia –mas aviso que sou bem rígida! –ela brincou.

–Sei que fará um ótimo trabalho –respondeu Minerva.

–E agora vamos receber os alunos novos do primeiro ano...

A seleção das casas prossegiu normalmente, até que McGonagall anunciou que este ano a escola estava recebendo alunos intercambistas. Todos no salao comunal se viraram para receber os novatos. Depois de dois meninos africanos, dois japoneses, alguns de Espanha e França e cinco garotas da Coréia, foi a vez das duas últimas alunas. Duas garotas vindas do Brasil, ambas para o sétimo ano.

–Roberta Young Vieira!

Murmurinhos se expalharam pelo salão quando a bela jovem prosseguiu Até a cadeira. Baixinha, de cabelos negros, roupas de estilo vintage e um delicado piercing no nariz, Roberta seguiu Até o chapéu seletor, que não demorou muito para selecionar a morena para a Corvinal.

Depois de alguns aplausos, todos voltaram-se para a frente de salão, para ver a última aluna da noite ser selecionada.

–Maria Landina Stradivarius!

O salão irrompeu em um silencio sepulcral. Todos os olhares voltaram-se para a jovem morena parada na frente da mesa dos professores. Harry, assim como todos notou que ela tinha o mesmo sobrenome da nova professora. Seriam parentes?

Mas, não foi isso que mais chamou atenção para Potter. Um frio na espinha fez Harry arrepiar-se. Aquela jovem belíssima era idêntica à jovem com quem o garoto havia sonhado poucas horas atrás. Os mesmos cabelos negros como a noite, os olhos pretos e expressivos como os de uma fera, os cabelos cacheados e indomáveis, os lábios grossos e atraentes, a pele branca e delicada. O que ela estava fazendo ali?

–Harry?

O garoto ouviu a voz de Hermione e saiu de seus pensamentos, notando que era o único a ainda continuar em pé. Ele corou e sentou-se, enquanto assistia a moça tímida, mas de cabeça erguida, seguir até o banco onde McGonagall lhe colocou o chapéu seletor.

*************

Landa estava nervosa. Suas mãos suavam e seu corpo estava prestes a desfalecer. A jovem bruxa detestava ser o centro das atenções. Tímida, ela detestou a idéia da seleção, mas a diretora Minerva disse que ela não podia escapar disso.

Stradivarius deu uma rápida olhada para trás e viu sua mãe sorrir e piscar confiante. Landa sabia que no passado ela havia estudado em Hogwarts, na Grifinoria. Apesar de brasileira, a jovem sabia por Mia da fama e das qualidades de cada casa. Mas, a mãe havia deixado claro que não se importava com o julgamente alheio.

–Você pode tomar sua decisão. –Mia disse para a filha antes delas embarcarem para a escola - O chapéu seletor lhe dá as opções, mas a escolha final é sua. E eu não quero que se preocupe com estereótipos. Escolha o que for melhor para ti! Eu estarei orgulhosa e feliz, independente da casa que escolher!

Landa sorriu para a mãe e se sentiu mais confiante ao lembrar de suas palavras e de seu carinho. “Te amo” ela pensou e virou-se para esperar as palavras do chapéu.

–Huuuummmmm! INTERESSANTISSIMO! – disse e chapéu empolgado assim que encostou na cabeça da jovem. Landa olhou assustada para os lados olhando para todos, mas percebeu que a voz era apenas para ela mesma ouvir. –Esperada por muitos e destinada a grandes feitos! Você tem muito pontencial! Eu vejo tudo aqui! Com certeza uma das mentes mais brilhantes que já passaram por Hogwarts! –continuou o chapéu deixando Landina encabulada. –Mas seu coração também é repleto de humildade, amor, esperança e fé, suas grandes forças. Você teria um futuro mais que promissor em Sonserina, eu te vejo como uma grande líder, como muitos que já passaram por esta casa.

“Sonserina?” pensou Stradivarius confusa. Será? A casa que já gerara tantos vilões? Mas ela lembrou-se do conselho da mãe sobre Não se preocupar com estereótipos e esperou o veredito final do chapéu.

–Hummm, eu vejo, seu coração indomável também é repleto de dúvidas. Mas você tem coragem e destemor e segue em frente mesmo em momentos incertos, tens um grande destino! Coragem, lealdade, destemor, compaixão, não parece que estou descrevendo uma grifinoria? Nunca vi ninguém com uma personalidade tão perfeita para a casa! Você já é uma leoa!

Landa sorriu.

–Vejo que a idéia lhe agrada. Fico feliz em me atrever a fazer algo que jamais fiz em todos estes anos, mas te digo, você fez a escolha certa. Que este seja seu veredito, que este seja seu destino. GRRIIIFINOOORIA!

O rosto de Landa se iluminou com um sorriso enquanto ela apertava o amuleto que sua mãe lhe dera ao nascer. E, no céu encantado de Hogwarts, um estrondo de trovão atingiu o salão enquanto a mesa da Grifinoria aplaudia de pé a nova colega. Landa olhou para trás e viu Mia sorrir.

Enquanto caminhava, ela foi saltitante Até o único lugar vago. Pedindo licença educamente, ela sentou-se e encarou o colega a sua frente, ainda segurando o amuleto materno. Os olhos de Stradivarius se encontraram com os do moreno a sua frente, e um novo raio irrompeu no céu. Ela tinha acabado de sentar-se frente a frente com Harry Potter.

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–Que gata! –comentou um rapaz na frente de Harry.

Todos olhavam curiosos enquanto Landa esperava pela decisão do chapéu. Demorou muito Até que finalmente ele anunciou Grifinoria e todos irromperam em vivas. Até que trovões tomaram conta do salão.

–Que estranho! –comentou Hermione, enquanto Harry, sentia um frio na barriga ao ver a bela jovem de seus sonhos cada vez mais próxima.

–Com licença, eu posso me sentar? –ela disse parando em frente a Harry e sentando-se ao lado de Rony.

Potter fez sinal afirmativo e ficou olhando-a, até que seus olhos se encararam e novamente ouveram trovões. Mas isso não foi o mais impressionante. Harry sentiu uma brisa gélida arrepiar sua pele e ouviu um grito desesperado de dor. No mesmo instante em que sua cicatriz voltou a doer intensamente.

–Harry o que há contigo hoje?

Potter ouviu Hermione perguntar olhando-o preocupada, mas a voz da amiga parecia um sussurrro dissipado na escuridão. O garoto paralisou. Era impossível. Mas a dor dilacerante não o deixava mentir. Depois de meses de paz, a cicatriz de Harry Potter voltou a doer.

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