Acasos




Hermione


O mesmo pesadelo que tive na enfermaria se repetiu em meu sono diversas vezes, fazendo com que eu tivesse uma noite bastante conturbada.  Acordei várias vezes gritando pelo nome de Harry Potter, com o suor escorrendo livremente por minha testa e lágrimas se formando em meus olhos. Enfim, ao começo da madrugada, quando acordei novamente assustada, decidi não voltar a dormir.


Arranco da minha mochila o livro Hogwarts: Uma Historia e me ponho a reler ele novamente, porém, minha concentração não está ativa e com frequência minha mente se desvia para aquele pesadelo. Quem é aquele homem de rosto ofídico e voz fria? Porque ele havia me chamado de a “namoradinha do Potter”? E o que era o tal “trio imbatível”? São a essas questões que meu cérebro deseja respostas e não aos motivos pelos quais é impossível aparatar e desaparatar em Hogwarts.


Deito minha cabeça sobre o livro e inalo o cheiro que emana de suas velhas páginas. O perfume de livros, velhos ou novos, sempre me acalmam. Sinto o sono se abater novamente sobre mim. Minha cabeça começa a doer outra vez e para abafar a dor fecho os olhos e permito-me adormecer.


Eu estou descendo as escadas para o salão comunal da grifinória, minha aparência parece mais desgastada do que jamais fora. Sento-me na confortável poltrona, à frente da lareira, e fechos os olhos lentamente e logo vejo lágrimas descerem por meu rosto. Aparentemente, alguma coisa está me causando grande preocupação e dor. Ouço passos ecoarem pela escadaria que dá acesso ao dormitório dos garotos e, rapidamente, seco as lágrimas com a manga do suéter cinza que estou vestindo. Olho em direção à escada e um sorriso radiante se abre em meus lábios ao ver quem está vindo ao meu encontro. Harry Potter também sorri encantadoramente enquanto se aproxima de mim.


-O que houve meu amor? – Ele pergunta ao sentar ao meu lado, espremendo-se junto a mim na poltrona. – O que está fazendo aqui há essa hora?


-Estou apenas pensando, Harry. E você, o que veio fazer?


-O mesmo que você. – Harry responde abrindo seus braços para que eu possa me aconchegar sobre seu peito. – Ron acabou de dormir. Tive que dar a ele a poção do sono, que a Pomfrey recomendou, diversas vezes. Ele Queria ir agora mesmo para casa e...


Harry parou ao perceber que eu estava chorando copiosamente com o rosto escondido em seu braço.


-Isto é tão horrível, Harry. – Digo entre soluços, com a voz embasada pelas lágrimas. – Jorge e Fred mortos... Como ele pôde fazer isso?


-Voldemort não tem limites, meu amor. – Harry diz passando a mão pelos meus cabelos carinhosamente. Percebo que sua voz também está embasada. – Nós bem sabemos disso! Ele fez isso para me atingir... e conseguiu.


-Nós temos que fazer algo para detê-lo. – Falo resoluta, levantando minha cabeça para poder olha-lo nos olhos. – Só nós podemos! Uma vez que Dumbledore está completamente sem memória, só Ron, você e eu sabemos sobre as Horcruxes. Acho que devemos deixar Hogwarts amanhã mesmo para procurara-las e as destruir.


-Você tem razão. – Ele concorda com um suspiro. – Amanhã partiremos em busca das Horcruxes.


Ele abaixa sua cabeça em direção à minha e une nossos lábios em um beijo.


Meus olhos se abrem e instintivamente meus dedos se movem em direção aos meus lábios que há poucos segundos estavam sendo beijados por Harry. E só então percebo que foi apenas um sonho. Outro sonho envolvendo Harry e eu e, dessa vez, o amigo dele, Ron. Parecia tão real que eu podia sentir o desespero da Hermione do sonho ao dizer entre soluços que Fred e Jorge estavam mortos. Ao meditar esses nomes algo em minha mente se acende. Eu conheço os seus donos, são os gêmeos Weasley, irmãos de Ron. Mas porque eles haviam sido mortos? Harry deu a entender que o algoz dos dois havia sido um tal de Voldemort e a Hermione disse que apenas ela, Harry e Ron poderiam derrota-lo. E então, como uma descarga elétrica ponto, uma descoberta perpassou por minha mente. O Harry, o Ron e a Hermione do sonho eram o trio imbatível que o homem de rosto ofídico havia citado, e ele, provavelmente, deveria ser esse tal de Voldemort.


Levanto da cadeira em um pulo, movida pela inquietação da recente descoberta. Tenho que contar a Harry sobre esses sonhos, que parecem ser muito mais que isso. Juntos, eu e ele, talvez possamos descobrir o que está por trás deles.


Saio pelo buraco da dama-loura a passos largos e logo chego ao retrado da mulher-gorda que dá acesso ao salão comunal da grifinória. Provavelmente, Harry está dormindo há essa hora, assim como todos os outros alunos, porém, minha ansiedade não me permitiria deixar para outra hora o que eu tenho que contar a ele. Digo a senha e espero o quadro girar para poder entrar, caminho rapidamente para a escada que leva ao quarto dos garotos, a mesma que há pouco tempo vi Harry descendo no sonho, mas, paro no primeiro degrau ao ouvir uma voz que vem do topo:


-Pois não é isso o que as pessoas estão dizendo por ai, Harryzinho. – A voz de Lilá Brown ecoa escada a baixo. – O que dizem é que você realmente está de caso com a Granger.


-Eu não ligo para o que o povo diz, Lilá. – Ouço Harry retrucar irritado.  – Agora, por favor, gostaria de me dar licença, para eu poder voltar a dormir.


-Mas então é mentira, querido? – Lilá pergunta animadamente. – Você, tipo, não está, tipo, namorando aquela sabe-tudo?


-Ér... Hum... – A voz de Harry, vacila enquanto ele, aparentemente, formula uma resposta. – É claro que não! Eu jamais namoraria aquela rata de biblioteca!


-Yuppp!


Ouço Lilá comemorar alto, enquanto algo se quebra dentro de mim. As ultimas horas que passei com Harry me fizeram sentir algo diferente por ele, algo completamente novo que eu jamais havia sentindo por alguém. Todavia, agora, tudo o que eu sentia era dor e muito ódio. Meus olhos começam a lacrimejar e antes que eu pudesse ser vista, saio correndo para fora do salão comunal da grifinória. Uma única certeza paira em minha mente, agora eu odeio Harry Potter mais do que nunca.



Harry


            Não dormi muito durante a noite. Os beijos trocados com Hermione me inquietavam de tal maneira que, logo ao fechar os olhos, o rosto dela aparecia reluzente em minha mente. Meus lábios ainda formigavam com a lembrança dos dela, tão rosados, macios e pequenos. De fato, nenhuma outra garota, das tantas que tive, me fez sentir isso que Hermione está fazendo. Parece haver algo, além da minha compreensão, que me faz pensar nela a cada segundo.


            Ouço o ronco de Ron diminuindo lentamente a sua intensidade e isso me indica que já é de madrugada. Passos os dedos pelos meus lábios e sinto novamente o beijo de Hermione sobre eles. Não me resta duvidas de que, por mais que me doa mais que tudo admitir, eu estou apaixonado por Hermione Granger. E não há outro caminho para mim do que dizer isso a ela. Meu pai, James Potter, e meu padrinho, Sirius Black, me ensinaram desde o inicio da adolescência a não ter vergonha ou medo das mulheres e, de fato, eu jamais tive, porém, agora, a ideia de revelar meus sentimentos a Hermione e ela me renegar, quebra meu coração em pedaços. Porém, a ideia de jamais contar a ela me causa mais dor ainda.


            Batidas na porta interrompem minhas divagações. Levanto preocupado, já é muito tarde, e para alguém ter vindo nos acordar há essa hora deve ter ocorrido algo grave.  Todavia, assim que abro a porta tenho vontade de fecha-la imediatamente. Lilá Brown está parada a minha frente, com os braços cruzados e uma expressão que era para ser seria, mas me parece um tanto quanto cômica.


            -Harry! Quero saber agora mesmo se é ou não verdade que você está namorando Hermione Granger. – Ela grita de modo enervante.


            -Eu já lhe disse uma vez e repito: isso não é da sua conta.


            -É claro que é! Eu sou, tipo, sua namorada, não? – Lilá alega me olhando esperançosamente.


            -Não, você não é! – Respondo brevemente e vejo lágrimas se formarem em seus olhos. – E não, não estou namorando a Granger. – Falo rapidamente, para que ela não comece a chorar, pois, se isso acontecesse, ela acordaria toda a grifinória com seus soluços histéricos.


            Ouço, lá embaixo, o barulho do retrado da mulher-gorda girando. Provavelmente é algum aluno descendo para aprontar. Bem, tomara que minha Hermione não o encontre. - penso sorrindo. “Minha Hermione” pensar isso me causa uma estranha sensação de alegria.


            -Pois não é isso o que as pessoas estão dizendo por ai, Harryzinho. O que dizem é que você realmente está de caso com a Granger.


                        -Eu não ligo para o que o povo diz Lilá. –Digo irritado. - Agora, por favor, gostaria de me dar licença, para eu poder voltar a dormir.


            -Mas então é mentira, querido? - Lilá pergunta com seu tom de voz enternecido. - Você, tipo, não está, tipo, namorando aquela sabe-tudo?


            -Er.... Hum... – Murmuro enquanto tento controlar a raiva, pois, minha vontade era azarar Lilá por ter ofendido Hermione, mas isso com certeza iria a fazer se estender mais ainda. Então respondo algo que claramente a faria me deixar logo em paz - É claro que não! Eu jamais namoraria aquela rata de biblioteca!


Lilá comemora alegremente e se joga encima de mim. No mesmo momento ouço o barulho do retrato girando novamente. Inesperadamente sinto o perfume de Hermione se espalhando pelo ar. Fecho os olhos e me permito aprecia-lo, e ao abri-los novamente, percebo, assustadoramente, que Lilá está me beijando vorazmente. Isso há algumas horas atrás, teria me levado à loucura, porém, neste momento, só consigo pensar em Hermione e seu perfume, em Hermione e nosso beijo.



Hermione


Não desci para tomar o café. A ideia de ver Harry sorrindo desdenhosamente e Lilá o agarrando pelo pescoço, me matava por dentro. Pensei diversas vezes, durante o resto da madrugada em que passei acordada, a não comparecer as aulas hoje, porém, eu não iria dar esse gostinho ao Potter. Iria agir normalmente, como sempre fiz, odiando-o até o extremo.


Deste modo, quando faltam 10 minutos para a aula de transfiguração, corro apressadamente em direção à sala, carregando nas costas uma mochila com mais de oito livros. Quando chego, quase todos os alunos já estão na sala, Potter e seu fiel escudeiro, porém, ainda não. Me encaminho para a mesa da frente onde sempre me sento sozinha, diferentemente dos outros que sempre sentam-se acompanhados de um ou dois amigos. Minerva também já está na sala, esquadrinhando cada um dos alunos com seus olhos por baixo dos óculos.


-Bem, vamos começar a aula. – Professora Mcgonagall diz e se levanta da cadeira a qual estava sentada. – Abram o livro na página 123, capítulo 9, Feitiço de desaparecimento de coisas grandiosas. A prática de fazer objetos grandes desaparecerem não é ao todo distinta da de se fazer desaparecer objetos pequenos, que já estudamos no ano anterior, porém, exige maior concentração e... Atrasados outra vez Potter e Weasely! Vejamos, 10 pontos a menos para a grifinória, 5 por cada um. Agora, se apressem, e sentem-se logo.


Olho para trás e vejo Harry e Ron parados à porta. Meu olhar se encontra com o de Harry e ele sorri para mim ironicamente, enquanto caminha junto com Ron para a mesa ao fundo da sala.


Após ter explicado a teoria do feitiço de desaparecimento de coisas grandes, a professora Mcgonagall conjurou ao meio da sala um grande elefante e mandou-nos fazê-lo desaparecer. Eu fui a única que consegui realizar com excelência a tarefa. Ron insistiu demasiadamente com a professora, tentando convencê-la de que havia conseguido fazer uma unha do elefante desaparecer. E Neville Longbottom, em sua tentativa, fizera as pernas do elefante se arquearem e o bicho cair no chão causando um grande estrondo.


-Como sempre desastrado, Longbottom. – A professora falou alto se sobrepondo as inúmeras risadas dos alunos. – Sentem-se novamente em suas carteiras.


Todos obedeceram prontamente e a professora logo se pôs a falar novamente.


-Passarei a todos um trabalho para ser realizado em duplas. – Ela comentou e eu suspirei desgostosa, sempre ficava sobrando na escolha das duplas. Ouvi os outros cochicharem animadamente, já escolhendo seus parceiros. – Silêncio! Todavia, não se animem, pois, eu escolherei as duplas... Vejamos... Weasley e Longbotton; Malfoy e Zabini; Brown e Simas; Granger e Potter...


Levantei minha cabeça tão rápido que senti meu pescoço se deslocar. Olhei atônita para a professora que continuava a selecionar as duplas restantes e suspirei desgosta. Ouço, atrás de mim, Lilá murmura raivosa.


-Professora! – Levanto o dedo a chamando. – Gostaria de trocar de dupla, por favor.


-Não é possível, Srta. Granger. – Ela me reponde de forma lacônica e sem dizer mais nada volta a apontar as duplas.



Harry


O dia passou lentamente demais para meu desgosto. Logo depois da aula de transfiguração, procurei Hermione para combinarmos o horário de fazermos o trabalho que a professora Minerva havia passado, ela me disse que faríamos logo depois do jantar, na biblioteca e se afastou sem ao menos olhar para mim. Algo deveria ter acontecido para Hermione me tratar deste modo. Primeiro ela tentou trocar de dupla, porém felizmente a professora não permitiu, e logo depois mal olhou em meu rosto ao falar comigo. Estaria ela com raiva por eu a ter beijado?


Na esperança de que chegasse logo o horário combinado, passei todas as outras aulas do dia pensando em Hermione. Geralmente tinha muitos poucos alunos na biblioteca à hora em que marcamos, devido a isso nós poderíamos finalmente conversar a sós e eu poderia contar a ela o que estou sentindo.


Durante o jantar, não vi Hermione em lugar nenhum da mesa da grifinória. Então, comi, o mais rapidamente possível, o rosbife em meu prato.


-Calma, Harry. – Ron falou rindo, enquanto devorava uma coxa de frango. – Eu geralmente como rápido para poder comer mais, mas o que você está fazendo é exagero.


-Eu... estou... com... pressa!


-Pressa? Para que? – Ele me olhou curioso. – Depois do jantar você não vai fazer trabalho com a Granger?


-E é para isso mesmo.


Ron largou o frango no prato e me mirou com uma expressão lídima de terror no rosto.


-Harry o que você pretende fazer? – Ron indagou-me estarrecido. – Não me diga que vai pregar uma peça na Hermione... Não se esqueça que ela monitora, Harry.


-Não! Não é isso. – Respondo brevemente e então suspiro tomando coragem. Era a hora de contar a Ron o que estava sentindo. Ele era meu melhor amigo e com certeza irá me compreender. Chamei-o para mais perto e cochichei silenciosamente, me precavendo que ninguém mais me ouvia: - Ron! Você... Digo... Eu estou apaixonado.


Ron me olhou penoso e logo depois respondeu-me com um tom de voz infeliz.


-Eu sempre suspeitei, Harry, mas eu não posso lhe corresponder. Eu realmente gosto mesmo de mulher e só de mulher.


-Hãn? Que? – Grito alto e vejo que algumas pessoas começaram a nos olhar e então abaixo a voz novamente. – Não banque o palhaço! Eu estou apaixonado por ela... Por Hermione.


Ele me olhou mais assustado que antes, mas prontamente começou a rir.


-Harry, sério, a Hermione não é como a Lilá, ela não vai cair nessa lorota.


-Não é lorota! – Digo resignado. – Veja, eu também não entendo como, mas tudo começou ontem à noite, quando nós nos beijamos, isto é, eu a beijei, mas ela correspondeu. Eu passei a noite inteira pensando nela, no beijo dela, no perfume dela...


-Você está se precipitando, cara. Até ontem você a odiava e agora está apaixonado? É sério, deve ser só uma atração.


-Não, eu sei que não é. Ela não faz o tipo que me atrai, ou pelo menos não fazia. Sabe? Ela não tem peitões. – Falo e surpreendentemente me sinto envergonhado. – Mas isso não vem ao caso. Eu jamais havia perdido uma noite inteira pensando em uma garota, nem mesmo nas mais gostosonas.


-Desculpa Harry, mas isso é tão...


-Inacreditável! Eu sei! – Respondo me levantando enquanto Ron me observa perplexo. – Mas agora eu preciso ir. Tenho que dizer a ela o que estou sentindo.


E sem mais esperar para ouvir o que Ron diria, corro em direção à porta.



Hermione


Também não fui jantar. A perspectiva de passar as próximas horas sozinha com Potter me assombra e me tirou totalmente o apetite, porém, sei que é necessário, temos que fazer o trabalho, e eu não posso perder pontos com a professora Mcgonagall por causa de um idiota. Tendo isso em mente me dirijo à biblioteca pelos corredores desertos, afinal todos estão jantando.


A biblioteca está igualmente vazia, exceto, pela bibliotecária, a Madame Pince, com o seu espanador nas mãos passando-o em cada prateleira. Sento-me em uma mesa ao fundo e abro logo meu livro de transfiguração, era inútil esperar pelo Potter, ele provavelmente chegaria atrasado e quando chegasse não ajudaria em nada.

Próximo capítulo:


-Hermione. – Interrompo-a. Estava decidido a falar nesse momento.


-Porque você não está escrevendo, Potter?


-E que eu preciso te dizer que eu... 

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