O Vidro Que Sumiu/As cartas de



Pov Hermione


Como o Harry estava em um momento em família lindo, ele foi se sentar ao lado de seus pais e as lágrimas impediriam ele de ler eu decidi que eu vou ler:


–Tudo bem eu vou ler até o Harry se acalmar um pouco, dai se alguém quiser ler é só falar- Falei.


–Espere, o que eu estou fazendo aqui? Afinal eu não sou amigo do Potter...- Começou Draco mas foi interrompido por James C. Potter.


–Se você ainda não percebeu temos vários Potter aqui então por favor fale o primeiro nome.


–Eu não sou amigo do...Harry, porque Dumbledore quer que eu leia isso?


–Albus tem seus motivos Senhor Malfoy e tenho certeza que no final tudo ficará esclarecido- Falou Professora Minerva.


–Posso começar?- Pergunto.


–Espere, hm Scorpius é meu filho não? Eu posso saber quem é a mãe dele?


–Astória Grengass.


–Pode começar.


–Capítulo 2


O Vidro Que Sumiu


Quase dez anos haviam se passado desde o dia em que os Dursley acordaram e encontraram o sobrinho no batente da porta, mas a Rua dos Alfeneiros não mudara praticamente nada. O sol nascia para os mesmos jardins cuidados e iluminava o número quatro de bronze à porta de entrada dos Dursley, e penetrava sorrateiro a sala de estar que continuava quase igual ao que fora na noite em o Sr. Dursley ouvira a funesta notícia sobre as corujas.


Somente as fotografias sobre o console da lareira mostravam o tempo que já passara. Dez anos antes havia uma porção de fotografias de uma coisa que parecia uma grande bola de brincar na praia, usando diferentes chapéus coloridos, mas Duda Dursley não era mais bebê, e agora as fotografias mostravam um menino grande e louro na primeira bicicleta, no carrossel de uma feira, brincando com o computador do pai, recebendo um beijo e um abraço da mãe. A sala não continha nenhuma indicação de que havia, outro menino na casa.


No entanto Harry Potter continuava lá, no momento adormecido, mas não por muito tempo. Sua tia Petúnia acordara e foi sua voz aguda que produziu o primeiro ruído do dia.


— Acorde! Levante-se! Agora!


Harry acordou assustado. A tia bateu à porta outra vez.


— Acorde! – gritou.


Harry ouviu-a caminhar em direção à cozinha e em seguida uma frigideira bater no fogão. Virou-se de costa e tentou se lembrar do sonho em que estava. Era um sonho gostoso. Havia uma motocicleta. Tinha a estranha sensação que já vira esse sonho antes.


A tia voltara a porta.


— Você já se levantou? — perguntou.


— Quase — respondeu Harry.


— Bem, ande depressa, quero que você tome conta do bacon. E não se atreva a deixá-lo queimar. Quero tudo perfeito no armário no aniversário de Duda.


Harry gemeu.


— Que foi que você disse? — perguntou a tia com rispidez.


— Nada, nada...


O aniversário de Duda — como podia ter esquecido? Harry levantou-se devagar e começou a procurar as meias. Encontrou-as debaixo da cama e depois de retirar uma aranha de um pé, calçou-as.


Harry estava acostumado com aranhas, porque o armário sob a escada vivia cheio delas e era ali que ele dormia.


– O que você dormia em um armário?-Berrou Lily E.- A eu mato Petúnia hoje mesmo.


–Se acalme Lily, não quero te ver em Askaban tão cedo- Falou James C.


–Aranhas? Por Merlin Harry eu não conseguiria dormir em um lugar cheio daqueles bichos asquerosos- Todos já estavam acostumados ao trauma de Ron.


Já vestido saiu para o corredor que levava à cozinha. A mesa quase desaparecera tantos eram os presentes de aniversário de Duda. Pelo que via, Duda ganhara o novo computador que queria, para não falar na segunda televisão e na bicicleta de corrida. Para o quê exatamente, Duda queria uma bicicleta de corrida era um mistério para Harry, porque Duda era muito gordo e detestava fazer exercícios — a não ser, é claro, que envolvessem bater em alguém. O saco de pancadas preferido de Duda era Harry, mas nem sempre Duda conseguia pegá-lo. Harry não parecia, mas era muito rápido.


– oh Harry se eu pudesse fazer alguma coisa...- Lamentou-se Lily E.


–Tudo bem mamãe tudo bem.


Talvez fosse porque vivia num armário escuro, mas Harry sempre fora pequeno e muito magro para a idade. Parecia ainda menor e mais magro do que realmente era porque só lhe davam para vestir as roupas velhas de Duda e Duda era quatro vezes maior do que ele. Harry tinha um rosto magro, joelhos ossudos, cabelos negros e olhos muito verdes. Usava óculos redondos, remendados com fita adesiva, por causa das muitas vezes que Duda socara no nariz. A única coisa que Harry gostava em sua aparência era uma cicatriz fininha na testa que tinha a forma de um raio. Existia desde que se entendia por gente e a primeira pergunta que se lembrava de ter feito à tia Petúnia era como a arranjara.


— No desastre de carro em que seus pais morreram — respondera ela. — E não faça perguntas.


Não faça perguntas — está era a primeira regra para levar uma vida tranquila como os Dursley.


Tio Válter entrou na cozinha quando Harry estava virando o bacon.


— Penteie o cabelo — mandou, a guisa de bom-dia.


Mais ou menos uma vez por semana, tio Válter espiava por cima do jornal e gritava que Harry precisava cortar os cabelos.


Harry deve ter feito mais cortes que o resto dos meninos de sua classe somados, mas não fazia diferença, seus cabelos simplesmente cresciam daquele jeito — para todo lado.


– Coitado de você Harry nasceu com os cabelos do Pontas- Falou Sirius enquanto gargalhava, só ele mesmo para alegrar todos nesses momentos.


Harry estava fritando os ovos na altura em que Duda chegou à cozinha com a mãe. Duda se parecia muito com o tio Válter. Tinha um rosto grande e rosado, pescoço curto, olhos azuis pequenos e aguados e cabelos louros muito espessos e assentados na cabeça enorme e densa. Tia Petúnia dizia com freqüência que Duda parecia um anjinho — Harry dizia com freqüência que Duda parecia um ―porco de peruca.


Todos riram.


Harry pôs os pratos de ovos com bacon na mesa, o que foi porque não havia muito espaço. Entrementes, Duda contava os presentes. Ficou desapontado.


— Trinta e seis — disse, erguendo os olhos para o pai e a mãe — Dois a menos do que no ano passado.


— Querido, você não contou o presente de tia Guida, e aqui está um grandão do papai e da mamãe, está vendo?


— Está bem, então são trinta e sete — respondeu Duda ficando vermelho. Harry, percebendo que Duda estava preparando acesso de raiva começou a engolir seu bacon o mais depressa possível caso o primo virasse a mesa.


Tia Petúnia obviamente também sentiu o perigo, porque na hora disse:


— E vamos comprar mais dois presentes para você hoje. Que tal fofinho? Mais dois presentes está bem assim?


Duda pensou um instante. Pareceu um esforço enorme. Finalmente responde hesitante:


— Então vou ficar com trinta... Trinta...


— Trinta e nove, anjinho — disse tia Petúnia.


— Ah. — Duda largou-se na cadeira e agarrou o pacote mais próximo. — Então, está bem.


Tio Válter deu uma risadinha.


— O baixinho quer tudo a que tem direito, igualzinho ao pai. É isso ai, garoto! — e arrepiou os cabelos de Duda com os dedos.


Naquele instante o telefone tocou e tia Petúnia foi atendê-lo, enquanto Harry e tio Válter assistiam Duda desembrulhar a bicicleta de corrida, a câmara de filmar, um aeromodelo com controle remoto, dezesseis jogos de computador e um gravador de vídeos. Estava rasgando a embalagem de um relógio de ouro quando tia Petúnia voltou do telefone parecendo ao mesmo tempo zangada e preocupada.


— Más noticias, Válter a Sra. Figg fraturou a perna. Não pode ficar com ele. — e indicou Harry com a cabeça.


Duda boquiabriu-se de horror, mas o coração de Harry deu um salto. Todo ano, no aniversário de Duda, os pais dele o levavam para passar o dia com um amiguinho em parques de aventuras, lanchonetes ou no cinema. Todo ano deixavam Harry com a Sra. Figg, uma velha maluca que morava ali perto. Harry detestava o lugar. A casa inteira cheirava a repolho e a Sra. Figg lhe mostrava fotografias de todos os gatos que já tivera.


— E agora? — perguntou tia Petúnia, olhando furiosa para Harry como se ele tivesse planejado tudo. Harry sabia que devia sentir pena da Sra. Figg que quebrara a perna, mas não era fácil quando lembrava que ia passar um ano sem ter que olhar para o Tobias, o Néris, Seu Patinhas e o Pompom outra vez.


— Poderíamos ligar para a Guida — sugeriu tio Válter.


— Não diga bobagem, Válter, ela detesta o menino.


Com freqüência, os Dursley falavam de Harry assim, como se ele não estivesse presente, ou melhor, como se ele fosse alguma coisa muito desprezível que não conseguisse entendê-los, como uma lesma.


— E aquela sua amiga, como é mesmo o nome dela, Ivone?


— Está passando férias em Majorca — respondeu Petúnia, com rispidez.


— Vocês podiam me deixar aqui — arriscou Harry esperançoso (ele poderia assistir ao que quisesse na televisão para variar e, quem sabe, até dar uma voltinha no computador de Duda).


Tia Petúnia parecia que tinha engolido um limão.


— E quando voltarmos, encontrar a casa destruída? — rosnou.


— Não vou explodir a casa — prometeu Harry, mas os tios não estavam mais escutando.


— Talvez pudéssemos levá-lo ao zoológico — disse tia Petúnia lentamente — e deixá-lo no carro.


— O carro é novo. Não vou deixá-lo sentado no carro sozinho.


Duda começou a chorar alto. Na realidade não estava chorando, fazia anos que não chorava de verdade, mas sabia que se fizesse cara de choro e gritasse a mãe lhe daria o que quisesse.


— Dudinha, querido, não chore, mamãe não vai deixar ele estragar o seu dia! — exclamou abraçando-o.


— Não... Quero... Que... Ele... Vá! — Duda berrou entre grandes soluços fingidos — Ele sempre estraga tudo! — E lançou um riso maldoso por entre os braços da mãe.


Naquele instante a campainha tocou.


— Ah, meu Deus, são eles chegando! — disse tia Petúnia nervosa um minuto depois, o melhor amigo de Duda, Pedro entrou acompanhado da mãe. Pedro era um menino magricela, com cara de rato. Em geral era quem segurava por trás os garotos enquanto Duda batia neles. Na mesma hora Duda parou de fingir que estava chorando.


Meia hora depois, Harry, que não conseguia acreditar em sua sorte, estava sentado no banco traseiro do carro dos Dursley, com Pedro e Duda a caminho do jardim zoológico, pela primeira vez na vida. O tio e a tia não tinham conseguido pensar no que fazer com ele, mas antes de saírem, tio Válter puxara Harry para o lado.


— Estou lhe avisando — disse, aproximando a cara grande e vermelha de Harry — Estou-lhe avisando, moleque, a primeira gracinha que fizer, a primeira, vai ficar preso naquele armário até o Natal.


Dessa vez foi Minerva que se assustou- Oh Harry eu sabia que você sofria naquela casa, mas nem tanto.


— Não vou fazer nada — disse Harry — juro...


Mas tio Válter não acreditou nele. Ninguém nunca acreditava.


O problema era que sempre aconteciam coisas estranhas à volta de Harry e simplesmente não adiantava dizer aos Dursley que não era sua culpa.


Uma vez tia Petúnia, cansada de ver Harry voltar do barbeiro como se não tivesse estado lá, apanhara uma tesoura de cozinha e cortara o cabelo dele tão curto que o deixara quase careca, exceto por uma franja, que ela deixou, para esconder aquela cicatriz horrorosa. Duda morrera de rir de Harry, que passou à noite acordado imaginando como que seria a escola no dia seguinte, onde já riam dele por causa das roupas folgadas e dos óculos emendados com fita adesiva. Na manha seguinte, porém, quando se levantou os cabelos estavam exatamente como eram antes de tia Petúnia cortá-los. Tinham-no deixado preso uma semana no armário por causa disso, apesar de sua tentativa de explicar que não saberia explicar como é que os cabelos tinham crescido tão depressa.


Todos riram novamente.


Outra vez, tia Petúnia tentara obrigá-lo a vestir um macacão velho de Duda (marrom com pompons cor de laranja). Quanto mais tentava enfiá-lo pela cabeça dele, tanto menor o macacão ficava, até que finalmente parecia feito para um fantochinho de dedo, e com certeza não ia servir para o Harry. Tia Petúnia concluiu que devia ter encolhido na lavagem e Harry, para seu grande alivio, não foi castigado.


Por outro lado, ele se metera numa grande encrenca quando o encontraram no telhado da cozinha da escola. A turma de Duda o estava perseguindo, como sempre, e tanto para surpresa de Harry quanto dos outros, ele apareceu sentado na chaminé. Os Dursley receberam uma carta muito zangada da diretora de Harry, contando que Harry andara escalando os prédios da escola. Mas só o que tentara fazer (conforme gritou para tio Válter através da porta trancada do armário) fora saltar para trás das grandes latas de lixo da porta da cozinha. Harry supunha que o vento devia tê-lo apanhado na hora em que saltou.


Mas hoje nada ia dar errado. Valia até a pena estar em companhia de Duda e Pedro para passar o dia em outro lugar que não fosse à escola, o armário, ou a sala com cheiro de repolho da Sra. Figg.


Enquanto dirigia, tio Válter se queixava à tia Petúnia. Ele gostava de se queixar de tudo: das pessoas no trabalho, de Harry, do conselho, de Harry, do banco e Harry eram seus dois assuntos preferidos. Esta manhã eram as motocicletas.


— ... Roncando pelas ruas como loucos, os arruaceiros — disse, quando uma moto emparelhou com eles.


— Tive um sonho com uma motocicleta — falou Harry, lembrando-se de repente — Ela voava.


–Eta pai, você era bem burro em, no lugar de calar a boca ainda fala- Falou James S.


–Olha como fala com seu pai- Reprendeu Ginny.


–Deixa o menino Ginny, agora nós temos a mesma idade- Falou Harry rindo.


Tio Válter quase bateu no carro da frente. Virou-se para trás e gritou com Harry, seu rosto parecendo uma beterraba gigante e bigoduda:


— MOTOCICLETAS NÃO VOAM!


Duda e Pedro deram risadinhas.


— Sei que não voam — respondeu Harry — Foi só um sonho.


Mas desejou que não tivesse dito nada. Se havia uma coisa que os Dursley detestavam mais do que as suas perguntas, era quando falava de coisas que faziam o que não deviam, não interessava se era sonho ou desenho animado, pareciam pensar que ele poderia arranjar idéias perigosas.


Era um sábado muito ensolarado e o zoo estava cheio de famílias. Os Dursley compraram grandes sorvetes de chocolate para Duda e Pedro à entrada e, então, porque a mulher sorridente na carrocinha perguntara o que Harry ia querer antes que pudessem afastá-lo depressa dali, eles lhe compraram um picolé barato de limão. Não era ruim, Harry pensou, lambendo-o enquanto observavam um gorila que coçava a cabeça e se parecia demais com Duda, exceto pelos cabelos que não eram louros.


Harry passou a melhor manhã que já tivera em muito tempo.


Cuidou de andar um pouco afastado dos Dursley, de modo que Duda e Pedro, que ali pela hora do almoço estavam começando a se chatear com os bichos, não recaíssem no seu passatempo favorito de bater no primo. Almoçaram no restaurante do zoo e quando Duda teve um acesso de raiva porque seu sorvetão não era bastante grande, tio Válter comprou-lhe outro e deixou Harry terminar o primeiro.


Depois Harry achou que devia ter adivinhado que estava bom demais para durar muito tempo.


Terminado o almoço foram visitar o alojamento dos répteis.


Era fresco e escuro ali, com quadrados iluminados ao longo das paredes. Por trás dos vidros, rastejavam e deslizavam em pedaços de pau e em pedras todos os tipos de cobras e lagartos. Duda e Pedro queriam ver as enormes cobras venenosas e as grossas pitons que esmagavam um homem. Duda logo encontrou a maior cobra que havia. Poderia dar duas voltas no carro de tio Válter e amassá-lo até reduzi-lo ao tamanho de uma lata de lixo, mas naquela hora ela não estava disposta a fazer nada. Na realidade, estava dormindo a sono solto.


Duda parou, o nariz comprimido contra o vidro, observando as espirais marrons e reluzentes.


— Faz ela se mexer — choramingou para o pai. Tio Válter bateu no vidro, mas a cobra no se mexeu.


— Faz outra vez — mandou Duda. Tio Válter bateu no vidro com os nós dos dedos, mas a cobra continuou dormindo.


— Que chato — queixou-se Duda. E saiu arrastando os pés, Harry veio se postar na frente do tanque e estudou a cobra com atenção. Não se admiraria se a própria cobra morresse de tédio. Não tinha companhia a não ser aquela gente idiota que batucava no vidro, tentando incomodá-la o dia inteiro. Era pior do que ter um armário por quarto, onde a única visita era a tia Petúnia esmurrando a porta para acordá-lo, mas ao menos ele podia visitar o resto da casa.


A cobra inesperadamente abriu os olhos, que pareciam contas.


Devagarinho, muito devagarinho, levantou a cabeça até seus olhos chegarem ao nível dos de Harry.


E piscou.


Harry arregalou os olhos. E olhou depressa a toda volta para ver se havia alguém olhando. Não havia. E retribuiu o olhar da cobra, piscando também.


A cobra acenou com a cabeça na direção de tio Válter e de Duda, depois levantou os olhos para o teto. Lançou um olhar a Harry que dizia com todas as letras:


— ―Isso é o que me acontece o tempo todo.


— Eu sei — murmurou Harry pelo vidro, embora não tivesse muita certeza se a cobra poderia ouvi-lo — deve ser bem chato.


A cobra concordou com um aceno de cabeça enfático.


— Mas de onde é que você veio? — perguntou Harry.


A cobra apontou com o rabo uma placa próxima ao vidro.


Harry espiou.


— Boa Constrictor, Brasil, era bom lá?


–Não acredito que você está conversando com uma cobra- Bradou Lily E. exasperada.


–Papai podia falar com as cobras- Falou Lily L.


–Podia?


–É uma grande história.


–E se vocês calarem a boca nós poderemos ouvir- Falou James S.


Teddy permanecia quieto e nunca desviava os olhos de seu pai que parecia um pouco envergonhado.


A jibóia apontou novamente a placa com o rabo e Harry leu:


―Este espécime nasceu em cativeiro.


— Ah, entendo, então você nunca esteve no Brasil?


A cobra sacudiu a cabeça, mas um grito ensurdecedor atrás de Harry fez os dois pularem:


— DUDA! SR. DURSLEY! VENHAM VER ESSA COBRA! VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR NO QUE ESTÁ FAZENDO!


Duda veio bamboleando até onde o amigo estava o mais depressa que pôde.


— Cai fora — falou dando um soco nas costelas de Harry.


Apanhado de surpresa, Harry caiu com força no chão de concreto.


O que se passou em seguida aconteceu tão depressa que ninguém viu como foi:


num segundo, Pedro e Duda estavam encostados no vidro, no segundo seguinte, estavam saltando para trás soltando uivos de terror.


Harry sentou-se e parou de respirar: o vidro da frente do tanque da jibóia tinha sumido. A grande cobra se desenrolou depressa e escorregou pelo chão, as pessoas no alojamento dos répteis gritaram e começaram a correr para as saídas.


Quando a cobra passou rápido por ele, Harry poderia jurar que uma voz baixa e sibilante tinha dito: "Brasil, aqui vou eu... Obrigado, amigo.


O zelador do alojamento dos répteis ficou em estado de choque.


— Mas o vidro — ele não parava de repetir, para onde foi o vidro?


O diretor do zoo em pessoa preparou uma xícara de chá forte para tia Petúnia enquanto se desculpava mil vezes.


Pedro e Duda só conseguiam balbuciar. Pelo que Harry vira, a cobra não fizera nada a não ser fingir abocanhar os calcanhares deles quando passou, mas quando chegaram finalmente ao carro do tio Válter, Duda estava contando que a cobra quase lhe arrancara a perna a dentadas, enquanto Pedro jurava que a cobra tentara apertá-lo até matar. Mas o pior de tudo, pelo menos para Harry, foi Pedro ter se acalmado o suficiente para perguntar:


— Harry estava conversando com ela, não estava, Harry?


Tio Válter esperou até Pedro estar longe da casa para brigar com Harry, Estava tão zangado que mal podia falar. Conseguiu apenas dizer:


— Vá... Armário,... Harry... Sem comida — antes de desmontar em uma cadeira e tia Petúnia ter que correr para lhe servir uma boa dose de conhaque.


Muito mais tarde, deitado no seu armário, Harry desejou ter um relógio. Não sabia que horas eram e não tinha certeza se os Dursley já estariam dormindo. Até que estivessem, ele não poderia se arriscar a ir escondido até a cozinha buscar alguma coisa para comer.


Vivia com os Dursley havia quase dez anos, dez infelizes anos, desde que se lembrava, desde que era bebê e seus pais tinham morrido naquele acidente de carro. Não conseguia se lembrar de ter estado no carro quando os pais morreram. Às vezes, quando forçava a memória durante longas horas em seu armário, lembrava-se de uma estranha visão: um lampejo ofuscante de luz verde e uma queimadura na testa. Isto supunha ele, era o acidente, embora não conseguisse lembrar de onde vinha toda aquela luz verde. Não conseguia lembrar nada dos pais. A tia e o tio nunca falavam neles e naturalmente tinham-no proibido de fazer perguntas. E não havia fotografias deles na casa.


Quando era mais novo Harry sonhara muitas vezes com um parente desconhecido que vinha levá-lo embora, mas isto nunca acontecera, os Dursley eram sua única família. Ainda assim, ele achava (ou talvez fosse só uma esperança) que estranhos na rua o conheciam. E eram estranhos muito estranhos. Um homenzinho de cartola roxa se curvara para ele uma vez quando estava fazendo compras com tia Petúnia e Duda. Depois de perguntar a Harry, furiosa, se ele conhecia o homem, tia Petúnia tinha empurrado os meninos depressa para fora da loja sem comprar nada. Uma velha amalucada toda vestida de verde uma vez acenara alegremente para ele no ônibus. Um careca com um longo casaco púrpura, chegara a apertar sua mão na rua um dia desses e em seguida se afastara sem dizer nada. A coisa mais estranha nessas pessoas era a maneira com que pareciam desaparecer no instante em que Harry tentava vê-los melhor.


Na escola Harry não tinha ninguém. Todos sabiam que a turma de Duda odiava aquele estranho Harry Potter com suas roupas velhas e folgadas e os óculos remendados, e ninguém gostava de contrariar a turma do Duda.


Alguém quer ler ou eu continuo?- Pergunto.


–Eu quero- Se manifestou Remo.


Pov Remus Lupin


Eu ainda estava um pouco assutado com tudo isso, mas queria saber o que tinha acontecido comigo e Sirius, então decidi ler, vá que ele falasse alguma coisa de mim, porque eu sabia que se perguntasse ninguém responderia, então comecei.


CAPÍTULO TRÊS


As Cartas de Ninguém


A fuga da jibóia brasileira rendeu a Harry o seu castigo mais longo. Na altura em que lhe permitiram sair do armário, as férias de verão já haviam começado e Duda já quebrara a nova filmadora, acidentara o aeromodelo e, na primeira vez que andara na bicicleta de corrida, derrubara a velha Sra. Figg quando ela atravessava a Rua dos Alfeneiros de muletas.


Harry ficou contente que as aulas tivessem acabado, mas não conseguia escapar da turma de Duda, que visitava a casa todo dia.


Pedro, Dênis, Malcolm e Górdon eram todos grandes e burros, mas como Duda era o maior e o mais burro do bando, era o líder.


Os demais ficavam bastante felizes de participar do esporte favorito de Duda: perseguir Harry.


Por esta razão Harry passava a maior parte do tempo possível fora de casa, perambulando e pensando no fim das férias, no qual conseguia vislumbrar um raiozinho de esperança. Quando setembro chegasse, ele iria para a escola secundária e, pela primeira vez na vida, não estaria em companhia de Duda. Duda tinha uma vaga na antiga escola de tio Válter, Smeltings. Pedro ia para lá também. Harry por outro lado, ia para a escola secundária local. Duda achava muita graça nisso.


— Eles metem a cabeça dos garotos no vaso sanitário no primeiro dia de escola — contou ele a Harry — quer ir lá em cima praticar?


— Não, obrigado — respondeu Harry — O coitado do vaso nunca recebeu nada tão horrível quanto a sua cabeça, é capaz de passar mal. — E correu antes que Duda conseguisse entender o que dissera.


O humor desse menino era pior que o do James, pobre Lily.


Certo dia de julho, tia Petúnia levou Duda a Londres para comprar o uniforme da Smeltings e deixou Harry com a Sra. Figg.


A Sra. Figg não estava tão ruim quanto de costume. Afinal, fraturara a perna porque tropeçara em um dos gatos e não parecia gostar tanto deles quanto antes. Deixou Harry assistir a televisão e lhe deu um pedaço de bolo de chocolate que pelo gosto parecia ter muitos anos.


Naquela noite, Duda desfilou para a família reunida na sala de estar vestindo o uniforme novo da Smeltings. Os alunos da Smeltings usavam casaca marrom-avermelhada, calções cor de laranja e chapéus de palha. Carregavam também bengalas nodosas, que usavam para bater uns nos outros quando os professores não estavam olhando isto era considerado um bom treinamento para o futuro.


Ao contemplar Duda nos calções laranja novos, tio Válter disse com a voz embargada que aquele era o momento de maior orgulho em sua vida. Tia Petúnia rompeu em lágrimas e disse que não podia acreditar que era o seu Dudinha, estava tão bonito e adulto.


Harry não confiou no que poderia dizer. Achou que duas de suas costelas talvez já tivessem partido só com o esforço para não rir.


Havia um cheiro horrível na cozinha na manhã seguinte quando Harry entrou para o café da manhã. Parecia vir de uma panela de metal dentro da pia. Ele se aproximou para espiar.


A tina aparentemente estava cheia de trapos sujos que boiavam na água cinzenta.


— O que é isso? — perguntou à tia Petúnia... Os lábios dela se contraíram como costumavam fazer quando ele se atrevia a fazer uma pergunta.


— O seu uniforme novo de escola — respondeu.


Harry espiou para dentro da tina outra vez.


— Ah — comentou — eu não sabia que tinha que ser tão molhado.


— Não seja idiota — retorquiu tia Petúnia com rispidez. — Estou tingindo de cinza umas roupas velhas de Duda para você. Vão ficar iguaizinhas às dos outros quando eu terminar.


Harry tinha sérias dúvidas, mas achou melhor não discutir.


Sentou-se à mesa e tentou pensar na aparência que teria no primeiro dia de aula como se estivesse usando retalhos de pele de elefante velho, provavelmente.


Nem a Professora Minerva aguentou dessa vez e caiu na gargalhada junto de todos os outros, acho que ela já estava se acostumando com as comparações do garoto.


Duda e tio Válter entraram ambos com os narizes franzidos por causa do cheiro do novo uniforme de Harry. Tio Válter abriu o jornal como sempre fazia e Duda bateu na mesa com a bengala da Smeltings, que ele carregava para todo lado.


Ouviram o clique da portinhola para cartas e o som da correspondência caindo no capacho da porta.


— Apanhe o correio, Duda — disse tio Válter por trás do jornal.


— Mande o Harry apanhar. — Apanhe o correio Harry.


— Mande o Duda apanhar.


— Cutuque ele com a bengala da Smeltings, Duda.


Harry se esquivou da bengala da Smeltings e foi apanhar o correio. Havia três coisas no capacho: um postal da irmã do tio Válter, Guida, que estava passando férias na ilha de Wihgt, um envelope pardo que parecia uma conta e uma ―carta para Harry.


Harry apanhou-a e ficou olhando, o coração vibrando como um elástico gigante. Ninguém, jamais, em toda a sua vida, lhe escrevera. Quem escreveria? Ele não tinha amigos, nem outros parentes, não era sócio da biblioteca, de modo que jamais recebera sequer os bilhetes grosseiros pedindo a devolução de livros. Contudo, ali estava, uma carta, endereçada tão claramente que não podia haver engano.


Sr. H. Potter


O Armário sob a Escada


Rua dos Alfeneiros 4


Little Whinging Surrey


O envelope era grosso e pesado, feito de pergaminho amarelado e endereçado com tinta verde-esmeralda. Não havia selo.


Quando virou o envelope, com a mão trêmula, Harry viu um lacre de cera púrpura com um brasão, um Leão, uma Águia, um Texugo e uma Cobra circulando uma grande letra "H".


– Hogwarts- Todos comemoram.


— Anda depressa, moleque! — gritou tio Válter da cozinha. — fazendo o quê, procurando cartas-bombas? — E riu da própria piada.


Harry voltou à cozinha, ainda de olhos fixos na carta. Entregou a conta e o postal ao tio Válter, sentou-se e começou a abrir lentamente o envelope amarelo.


Tio Válter rasgou o envelope da conta, deu um bufo de desdém e virou o postal.


— Guida está doente — informou à tia Petúnia. — Comeu um marisco suspeito...


— Pai! — exclamou Duda de repente. — Pai, Harry recebeu uma carta!


Harry ia desdobrar a carta, escrita no mesmo pergaminho que o envelope, quando tio Válter arrancou-a de sua mão.


— É minha! — disse Harry, tentando recuperá-la.


— Quem iria escrever para você? — zombou tio Válter, sacudindo a carta com uma das mãos para desdobrá-la e percorrendo com o olhar. Seu rosto passou de vermelho para verde mais rápido que um sinal de tráfego. E não parou ai. Segundos depois ficou branco-acinzentado, cor de mingau de aveia velho.


— P-P-Petúnia! — ofegou.


Duda tentou agarrar a carta para lê-la, mas tio Válter segurou-a no alto fora do seu alcance. Tia Petúnia apanhou-a cheia de curiosidade leu a primeira linha. Por um instante pareceu que ela talvez fosse desmaiar. Levou as duas mãos à garganta e produziu ruído de engasgo.


— Válter! Ah, meu Deus, Válter!


Eles se encararam parecendo ter esquecido que Harry e Duda continuavam na cozinha. Duda não estava acostumado a ser desprezado. Deu uma bengalada forte na cabeça do pai.


— Quero ler esta carta — falou alto.


— Quero lê-la — disse Harry furioso —, porque é minha...


— Saiam, os dois — ordenou com voz rouca tio Válter, enfiando a carta no envelope.


Harry não se mexeu.


— QUERO MINHA CARTA! — Gritou.


— Me deixa ver! — exigiu Duda.


— Fora! — berrou Tio Válter, e agarrando os dois, Harry e Duda, pelo cangote atirou-os no corredor e bateu a porta da cozinha. Harry e Duda na mesma hora tiveram uma briga furiosa, mas silenciosa, para saber quem ia escutar à fechadura, Duda ganhou, por isso Harry, os óculos pendurados em uma orelha, deitou-se de barriga no chão para escutar pela fresta entre a porta e o chão.


— Válter — disse tia Petúnia com voz trêmula — olhe só o endereço. Como é que eles poderiam saber onde ele dorme? Você acha que estão vigiando a casa?


— Vigiando, espionando, talvez nos seguindo — murmurou tio Válter enlouquecido.


Harry via os sapatos pretos lustrosos do tio Válter andando para cá e para lá na cozinha.


— Não — disse ele decidido. — Não, vamos ignorá-la. Se não receberem uma resposta... É, é o melhor... Não vamos fazer nada...


— Mas...


— Não vou ter um deles em casa, Petúnia! Nós não juramos quando o recebemos que íamos acabar com aquela bobagem perigosa?


Aquela noite, quanto voltou do trabalho, tio Válter fez uma coisa que nunca fizera antes, visitou Harry no armário.


— Cadê minha carta? — perguntou Harry, no instante em que tio Válter se espremeu pela porta. — Quem me escreveu?


— Ninguém. Endereçaram a você por engano — disse tio Válter secamente. — Queimei a carta.


— Não foi um engano — retrucou Harry com raiva, — tinha o endereço do meu armário.


— CALADO! — gritou tio Válter e algumas aranhas caíram do teto. Ele inspirou algumas vezes e então fez força para produzir um sorriso que pareceu bem penoso.


— Hum, sim, Harry sobre este armário. Sua tia e eu estivemos pensando... Você realmente está ficando grande demais para ele... Achamos que seria bom se você se mudasse para o segundo quarto de Duda.


— Por quê? — perguntou Harry.


— Não faça perguntas — disse com rispidez o tio. Leve essas coisas para cima agora.


A casa dos Dursley tinha quatro quartos: um para tio Válter e tia Petúnia, um para hóspedes (em geral a irmã de tio Válter, Guida), um onde Duda dormia e um onde Duda guardava todos os brinquedos e pertences que não cabiam no primeiro quarto. Harry precisou de apenas uma viagem para mudar tudo o que tinha do armário para o quarto no andar de cima.


Sentou-se na cama e deu uma olhada à sua volta. Quase tudo ali estava quebrado. A filmadora com apenas um mês de uso estava jogada em cima de um pequeno tanque com que certa vez Duda atropelara o cachorro do vizinho, no canto estava o primeiro televisor de Duda, no qual ele enfiara o pé quando seu programa favorito fora cancelado, havia uma grande gaiola de pássaros, antigamente habitada por um papagaio que Duda trocara na escola por uma espingarda de ar de verdade, e que estava guardada numa prateleira com a ponta dobrada porque Duda se sentara em cima dela. Outras prateleiras estavam cheias de livros. Eram as únicas coisas no quarto que pareciam nunca ter sido tocadas.


Lá de baixo veio o barulho de Duda gritando com a mãe:


— Eu não o quero lá... Eu preciso daquele quarto.... Mande-o sair:


Harry suspirou e se esticou na cama. Ontem ele teria dado qualquer coisa para estar ali. Hoje, preferia estar no seu armário com aquela carta do que ali encima sem ela. Na manhã seguinte, no café, todos estavam muito quietos. Duda estava em estado de choque.


Berrara, batera no pai com a bengala, vomitara de propósito, dera pontapés na mãe e atirara sua tartaruga pelo teto da estufa de plantas e nem assim conseguira o quarto de volta. Harry pensava no dia anterior àquela hora, desejando com amargura que tivesse aberto a carta no hall. Tio Válter e tia Petúnia se entreolhavam, ameaçadores.


Quando o correio chegou tio Válter, que parecia estar tentando ser agradável com Harry, fez Duda ir buscá-lo. Eles o ouviram bater nas coisas do corredor com a bengala da Smeltings. Então ele gritou:


— Chegou outra!


Sr. H. Potter,


O Menor Quarto da Casa Rua dos Alfeneiros 4...


Com um grito sufocado tio Válter saltou da cadeira e saiu correndo pelo corredor, Harry logo atrás dele. Tio Válter teve que lutar e derrubar Duda no chão para lhe tirar a carta, o que foi dificultado por Harry que agarrara o pescoço do tio Válter por trás.


Depois de um minuto confuso de luta, em que todos levaram varias bengaladas, tio Válter se endireitou, ofegante com a carta de Harry apertada na mão.


— Vá para o seu armário, quero dizer, para o seu quarto — chiou para Harry — Duda, saia, saia logo.


Harry deu voltas e mais voltas no novo quarto. Alguém sabia que ele se mudara do armário e parecia saber que ele não recebera a primeira carta. Isto significava com certeza que ia tentar outra. Outra vez? E desta vez ele tomaria providências para que desse certo.


Tinha um plano.


O despertador consertado tocou às seis horas na manhã seguinte. Harry desligou-o depressa e se vestiu em silêncio.


Não podia acordar os Dursley. Desceu as escadas sorrateiro sem acender nenhuma luz.


Ia esperar pelo carteiro na esquina da Alfeneiros e receber primeiro as cartas endereçadas ao numero quatro. Seu coração batia com força quando atravessou sem ruído o corredor escuro até a porta de entrada.


— AAAAAIIIIIEEE!!!


Harry deu um salto no ar, pisara em alguma coisa grande e mole no capacho, uma coisa viva!


As luzes se acenderam no primeiro andar e, para seu horror, Harry percebeu que a coisa grande e mole tinha a cara do tio Válter estava dormindo junto à porta de entrada em um saco de dormir para impedir que Harry fizesse exatamente o que estava tentando fazer. Gritou com Harry quase meia hora e depois lhe disse para ir preparar uma xícara de chá.


Harry foi para a cozinha, arrastando os pés, infeliz, e quando conseguiu voltar o correio tinha sido entregue, bem no colo de tio Válter. Harry viu três cartas endereçadas em tinta verde.


Tio Válter não foi trabalhar naquele dia. Ficou em casa e pregou a portinhola para cartas.


— Entende — explicou à tia Petúnia por entre os lábios cheios pregos — se eles não puderem entregar então terão de desistir.


— Não tenho muita certeza de que isto vai dar certo, Válter.


— Ah, a cabeça dessa gente funciona de maneira estranha, Petúnia eles não são como você e eu — disse tio Válter tentando bater um prego com um pedaço de bolo de frutas que tia Petúnia acabara de lhe trazer.


Na sexta-feira chegaram nada menos que doze cartas para Harry. Como não passavam pela portinhola da correspondência, tinham sido empurradas por baixo da porta, metidas pelos lados e algumas até forçadas pela janelinha do banheiro no térreo. Tio Válter ficou em casa de novo. Depois de queimar todas, apanhou martelo e pregos e fechou com tábuas as frestas das portas da frente e dos fundos, de modo que ninguém podia sair.


Cantarolou "Pé ante pé no campo de tulipas" enquanto trabalhava, e se assustava com qualquer ruído.


No sábado as coisas começam a fugir ao seu controle. Vinte e quatro cartas acabaram entrando em casa enrolada e escondida em duas dúzias de ovos que o leiteiro, muito confuso, entregara à tia Petúnia pela janela da sala de estar. Enquanto tio Válter dava telefonemas furiosos para o correio e a leiteria tentando encontrar alguém a quem se queixar, tia Petúnia picava as cartas no processador de alimentos.


— Mas quem é que quer falar tanto assim com você? — Duda perguntou espantado a Harry.


Na manhã do domingo, tio Válter sentou-se à mesa do café parecendo cansado e um tanto doente, mas feliz.


— Não tem correio aos domingos — lembrou a todos, contente passando geléia nos jornais, nada de cartas idiotas hoje...


Alguma coisa desceu chiando pela chaminé do fogão enquanto ele falava e bateu com força em sua nuca. No instante seguinte, trinta ou quarenta cartas saíram velozes da lareira como se fossem tiros. Os Dursley se abaixaram, mas Harry deu um salto no ar para apanhar uma...


–Que eufórico- Falou Rose dando risinhos.


— Fora! Fora!


Depois que tia Petúnia e Duda tinham corrido para fora protegendo o rosto com os braços, tio Válter bateu a porta. Eles podiam ouvir as cartas disparando para dentro da cozinha, ricocheteando nas paredes e no chão.


— Já chega — disse tio Válter, tentando falar com calma, mas ao mesmo tempo, arrancando tufos de pêlos dos bigodes. — Quero vocês aqui de volta em cinco minutos prontos para sair. Vamos viajar. Ponham apenas algumas roupas nas malas. Não quero discussão!


Ele parecia tão perigoso com metade dos bigodes arrancados que ninguém se atreveu a discutir. Dez minutos depois eles tinham retirado as tábuas para passar nas portas e estavam no carro, correndo em direção a estrada. Duda fungava no banco traseiro, o pai tinha lhe dado um tapa na cabeça por atrasá-los tentando empacotar a televisão, o vídeo e o computador na mochila esportiva.


Eles viajaram no carro. E viajaram. Nem tia Petúnia se atrevia a perguntar aonde iam. De vez em quando tio Válter fazia uma curva fechada e seguia na direção oposta por algum tempo.


— Para despistá-los... Despistá-los — resmungava sempre que fazia isso.


Não pararam para comer nem beber o dia inteiro. Quando a noite caiu Duda estava uivando. Nunca tivera um dia tão ruim na vida. Estava com fome, sentia falta dos cinco programas de televisão que queria assistir e nunca levara tanto tempo sem explodir um alienígena no computador.


Tio Válter parou finalmente à porta de um hotel de aspecto sombrio na periferia de uma grande cidade. Duda e Harry dividiram um quarto com duas camas iguais e lençóis úmidos que cheiravam a mofo. Duda roncou, mas Harry ficou acordado, sentado no peitoral da janela, espiando as luzes dos carros que passavam enquanto pensava...


Comeram cereal velho e torradas com tomates enlatados frios no café da manhã do dia seguinte. Tinham acabado de comer quando a proprietária do hotel aproximou-se da mesa.


 Com licença, mas um dos senhores é o Sr. Harry Potter? É que eu tenho umas cem dessas na recepção. — E ergueu uma carta para eles poderem ler o endereço em tinta verde:


Sr. H. Potter


Quarto 17


Railview Hotel Cokewrth


Harry tentou pegar a carta, mas tio Válter afastou sua mão. A mulher ficou olhando.


— Eu recebo as cartas — disse tio Válter, levantando-se depressa e seguindo a mulher que se retirava do salão de refeições.


— Não seria melhor simplesmente irmos para casa, querido? — tia Petúnia sugeriu timidamente horas depois, mas tio Válter não parecia ouvi-la. Exatamente o que andava procurando ninguém sabia. Ele os levou até o meio de uma floresta, desceu do carro, espiou a volta, sacudiu a cabeça, tornou a embarcar no carro e partiram outra vez. A mesma coisa aconteceu no meio de um campo arado, no meio de uma ponte pênsil e no alto de um edifício garagem.


Uau, ele definitivamente enlouqueceu- Exclamou Scorpius que estava quieto.


— Papai enlouqueceu, não foi? — Duda perguntou, cansado, à tia Petúnia no fim daquela tarde. Tio Válter estacionara no litoral, passara a chave no carro com todos dentro e desaparecera.


Começou a chover. Grandes gotas batiam no teto do carro.


Duda choramingou.


— É segunda-feira — falou à mãe. O Grande Humberto vai se apresentar hoje à noite. Quero estar em algum lugar que tenha televisão.


Segunda-feira. Isto lembrou a Harry uma coisa. Se era segunda-feira e em geral podia-se confiar que Duda soubesse os dias da semana, por causa da televisão, então o dia seguinte, terça-feira, era o décimo primeiro aniversário de Harry.


Naturalmente seus aniversários não eram lá muito divertidos, no ano anterior, os Dursley tinham-lhe dado um cabide e um par de meias velha do tio Válter. Ainda assim, não se fazia onze anos todos os dias.


Tio Válter voltou sorrindo. Carregava um pacote comprido e fino e não respondeu à tia Petúnia quando ela perguntou o que comprara.


— Encontrei o lugar perfeito! — falou. — Vamos! Saiam todos!


Fazia muito frio do lado de fora do carro. Tio Válter apontou para o que parecia ser um grande rochedo no meio do mar.


Encarrapitado no alto do rochedo havia o casebre mais miserável que se pode imaginar. Uma coisa era certa, ali não havia televisão.


— Estão anunciando uma tempestade para hoje! — disse tio Válter alegre, batendo palmas. — E este senhor teve a bondade de concordar em nos emprestar seu barco!


Um homem desdentado vinha descansadamente em direção a eles, e apontava com um sorriso muito maldoso para um barco a remos velho que subia e descia nas águas cinza-grafite lá embaixo.


— Já comprei algumas rações para nós — disse tio Válter — portanto, todos a bordo!


– Rações?- Questionou Hermione.


Fazia muito frio no barco. Salpicos de água gelada do mar escorriam pelos pescoços deles e um vento cortante fustigava seus rostos. Depois do que pareceram horas eles chegaram ao rochedo, onde tio Válter, escorregando, levou-os ate a casa em ruínas.


O interior era horrível, cheirava a algas marinhas, o vento assobiava pelas frestas nas paredes de tábuas e a lareira estava úmida e vazia. Havia apenas dois quartos.


Afinal as rações de Tio Válter eram uma embalagem de cereal para cada um e quatro bananas. Ele tentou acender a lareira, mas a embalagem de cereal apenas fumegou e carbonizou.


— Aquelas cartas viriam a calhar agora, hein? — disse ele animado.


Estava de muito bom humor. Obviamente achava que ninguém teria chance de alcançá-lo ali, durante uma tempestade, para entregar cartas. Harry concordava intimamente, embora este pensamento não o animasse nem um pouco.


Quando a noite caiu, a tempestade prometida desabou ao redor deles. A espuma das altas ondas chapinhava nas paredes do casebre e um vento ameaçador sacudia as janelas imundas. Tia Petúnia encontrou uns cobertores mofados no segundo quarto e preparou uma cama para Duda ao sofá comido pelas traças. Ela e tio Válter foram se deitar na cama cheia de calombos ao lado e deixaram Harry procurar a parte mais macia do assoalho e se enrolar no cobertor mais rasgado e ralo.


A tempestade rugia cada vez com maior ferocidade à medida que a noite avançava. Harry não conseguia dormir. Tremia e revirava, tentando encontrar uma posição confortável, seu estômago roncando de fome. Os roncos de Duda eram abafados pela trovoada que começou por volta da meia-noite. O mostrador luminoso do relógio de Duda, que estava pendurado para fora do sofá em seu pulso gordo, informava a Harry que dentro de dez minutos ele completaria onze anos. Deitado, ele viu seu aniversário se aproximar, perguntando-se se os Dursley se lembrariam, perguntando-se onde estaria o remetente das cartas agora.


Faltavam cinco minutos. Harry ouviu alguma coisa estalar lá fora. Desejou que o teto não caísse, embora quem sabe conseguisse se esquentar se isto acontecesse.


Tive um acesso de riso junto dos outros, Professora Minerva só se permitiu dar um sorrisinho.


Quatro minutos.


Talvez a casa na Rua dos Alfeneiros estivesse tão abarrotada de cartas que quando voltasse ele pudesse surrupiar uma.


Três minutos. Seria o mar batendo tão forte na rocha? E faltavam dois minutos, que barulho esquisito de trituração era aquela? Será que a rocha estava se desintegrando no mar?


Mais um minuto e ele completaria onze anos. Trinta segundos... Vinte... Dez... Nove... Talvez acordasse Duda, só para aborrecê-lo... Três... Dois... Um...


O casebre todo estremeceu e Harry sentou-se reto, arregalando os olhos para a porta. Havia alguém lá fora, que batia querendo entrar.


– Acabou- Informo.


–Estou curiosa- Falou Lily L.


–É Hagrid não é Harry?- Perguntou Ronald.


–É- O menino se permitiu falar.


–Tudo bem, alguém mais quer ler?- Pergunto um pouco decepcionado e sabendo que não falaram sobre mim nem Sirius tão cedo.


–Se me permitirem?- Perguntou Lily E. animada.


–É claro- Falou Harry.


E eu entreguei o livro a ela.

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