Long Lost Son



 


Disclaimer: Harry Potter não me pertence e tudo que vocês reconhecem pertence a J.K. Rowling. Essa história também é inspirada em “A Shattered Prophecy”, do Project Dark Overlord.


Chapter Thirteen – Long Lost Son


O Curandeiro Bennett tirou um lençol do armário, enfeitiçando-o para mantê-lo aquecido com um aceno de varinha, levando-o para o garoto trêmulo e colocando-o sobre ele.


- Isso vai ajudar. – ele disse ao pegar um segundo lençol, pondo-o sobre o primeiro.


Harry ainda estava consciente, mas não respondeu. Apenas fechou os olhos.


O Curandeiro ficou surpreso ao ver o garoto voltar à enfermaria em vinte e quarto horas. Estava se preparando para jantar quando viu Jackson e Davis apoiando o menino e dirigindo-se à sua ala. O adolescente estava completamente encharcado, dos pés à cabeça, e mal podia andar, tropeçando terrivelmente nas mãos dos guardas. A primeira coisa que Bennett fez foi usar um rápido feitiço secante nele, secando suas roupas imediatamente, antes de colocá-lo na cama.


O enfermeiro assimilou a visão da pele pálida de Harry e a coloração azulada de seus lábios. Pela palidez e os tremores violentos não era difícil adivinhar do que estava sofrendo. Bennett virou-se para os homens.


- Quanto tempo ele ficou no subsolo? – ele perguntou.


Um Jackson preocupado se remexeu desconfortavelmente.


- Cerca de dez horas. – ele afirmou.


O Curandeiro virou-se para encará-lo, um olhar levemente incrédulo no rosto. Ele balançou a cabeça em desapontamento ao desviar o olhar.


- Então, não é de se admirar que esteja com hipotermia. – ele declarou.


- Não era… eu não quis que ele ficasse doente. – defendeu-se Jackson. – Eu ia tirá-lo em breve.


- Por que ele estava molhando? – perguntou Bennett.


- Houve uma… uma inundação por conta da tempestade. – explicou o guarda, com uma notável culpa na voz.


O enfermeiro não disse nada, mas vasculhou o pequeno armário, tirando um frasco de poção de hortelã. O protocolo que se ferrasse. Não deixaria o garoto sofrer mais. Olhou para Jackson para ver se ele diria alguma coisa sobre a poção, mas o guarda apenas assentiu com a cabeça antes de olhar para baixo.


Bennett enfiou a mão sob o pescoço de Harry e levantou sua cabeça ligeiramente enquanto levava o frasco aos seus lábios.


Olhos verdes se abriram e focaram-se no Curandeiro. O homem sorriu e assentiu de forma encorajadora.


- Vai aquecê-lo. – ele disse.


Podia ver que suas palavras não tinham sido processadas quando olhos nebulosos continuaram a encará-lo. O enfermeiro empurrou um pouco, fazendo os lábios se separarem ligeiramente, inclinando o frasco para a poção passar por eles, até a boca do garoto. Estava feliz pelos reflexos dele terem começado a funcionar e ele ter engolido. O homem gentilmente o deitou de novo.


- Tirem essas algemas. – disse Bennett, reunindo os suprimentos necessários.


Os dois guardas hesitaram.


- Não é seguro removê-las. Ele tem demonstrado uma habilidade com magia sem...


- O que ele vai fazer na condição que se encontra? – perguntou o Curandeiro a Jackson, exasperado. Quando nenhum dos guardas agiu, Bennett virou-se para eles, com um suspiro. – Os pulsos dele estão sangrando. Preciso tratá-los. Podem colocar as algemas de volta assim que eu terminar os curativos.


O loiro concordou relutantemente, caminhando para junto do enfermeiro. Tentou não olhar muito de perto a pele rasgada dos pulsos do garoto ao tirar as algemas. Podia ver que os machucados se deram porque o adolescente tentara tirá-las, provavelmente na tentativa de se salvar de um afogamento. Ergueu os olhos para Harry, mas o jovem não parecia registrar o que estava acontecendo com ele. Seus olhos estavam fechados. Mesmo assim, Jackson pegou a varinha, apontando-a para a cabeça dele. O menor movimento e estava pronto para nocauteá-lo. Mas ele não tentou nada, parecia estar no limite da consciência, lutando para se manter acordado, mas muito desconexo para assimilar as coisas ao seu redor.


O Curandeiro limpou e fez curativos em seus pulsos silenciosamente. Revestiu os dois com ataduras brancas e recuou, permitindo que o loiro colocasse as algemas de volta no lugar.


- Quão ruim está? – indagou Davis, parecendo preocupado ao andar na direção deles.


Bennett suspirou ao se afastar da cama.


- Não é difícil saber que ele está com hipotermia. – disse o enfermeiro. – Ainda está moderada, por sorte. Com ele exposto ao frio por quase dez horas, faminto e desidratado, a hipotermia era certa. Mas a inundação podia tê-lo levado a uma condição mais grave. O corpo perde mais calor e num ritmo mais rápido na água gelada. – explicou e olhou para Harry. – Ele realmente tem sorte de não ter se afogado e de sua condição não ter piorado para revelar-se fatal. – o homem ergueu os olhos para Jackson e Davis. – Vocês chegaram até ele na hora certa.


O loiro virou-se em direção à porta, encarando os três homens que os observavam da soleira da porta, que estava aberta. Os aurores os seguiram quando levaram o garoto para o Curandeiro, mas, por alguma razão, não tinham entrado na enfermaria, optando por esperar do lado de fora. Eles os observavam, os olhos fixos no jovem trêmulo.


- Não fomos nós. – informou Davis. Ele acenou com a cabeça na direção de James.


O enfermeiro notara os três recém-chegados, mas estava muito ocupado com seu paciente para dar-lhes atenção. Com o gesto do guarda, ele virou-se para olhar os homens, o olhar fixando-se por mais tempo em James. Viu que o auror de cabelos escuros ainda estava com as roupas molhadas, pingando água no chão do corredor.


O Curandeiro saiu do lado de Harry e andou até a porta, levando um frasco de poção de hortelã consigo.


- A menos que queira uma hipotermia também, sugiro que faça algo sobre suas roupas molhadas. – ele disse, oferecendo o frasco ao homem.


James não tomou. Ele mal olhou para o enfermeiro. Seus olhos avelãs estavam fixos no garoto, encarando-o com preocupação.


Ao seu lado, Remus estendeu a mão e pegou o frasco. Bennett estava estudando James, examinando o rosto do auror, procurando algum sinal que pudesse sugerir que precisava de ajuda.


- Posso ajudá-lo em mais alguma coisa? – ele foi franco e perguntou, apontando para o frasco na mão de Remus.


Então, James olhou para ele.


- Não. – ele falou baixinho. O curandeiro sustentou o olhar por um momento, antes de assentir, afastando-se dele. De repente, o auror o deteve. – Na verdade, eu preciso de algo. – seus olhos saltaram para o garoto de cabelos negros novamente.


Um pequeno e, um tanto, triste sorriso surgiu no rosto do enfermeiro. Ele concordou com a cabeça em entendimento, levantando a mão para impedir James de falar.


- Eu sei o que quer. – ele disse. – Espere aqui.


Ele se virou para entrar na enfermaria novamente. Foi à sua pequena gaveta e a abriu, vasculhando-a. Achando o que procurava, o Curandeiro voltou até Harry.


A poção acordara um pouco o garoto, e os lençóis enfeitiçados para se manter aquecidos estavam lentamente tirando o frio cruel que se espalhara sobre ele. O adolescente sentiu uma leve picada cortar sua pele. Encolhendo-se, mais de surpresa do que de dor, Harry olhou e viu que o enfermeiro extraíra um pouco de sangue do seu braço e colocara as poucas gotas em um alongado frasco de vidro. O jovem encarou o enfermeiro, confuso.


Bennett não disse nada e se afastou dele, andando em direção à porta. Os olhos do garoto o seguiram, observando-o entregar o frasco a James Potter. Os olhos verdes do jovem encontraram os do auror, e, por um momento, os dois bruxos apenas se encararam. O adolescente foi o primeiro a desviar o olhar, fechou os olhos, recostando a cabeça para descansar e torceu, com todas as suas forças, para que quando os abrisse novamente, James Potter não estivesse mais lá.


xxx


- Aqui. – o Curandeiro disse ao entregar o frasco de vidro ao auror. Sob o olhar surpreso dele, o enfermeiro explicou: - Se eu fosse você, eu ia querer prova também.


James olhou para Harry, percebendo que o garoto os observava agora. Seus olhos verdes o encontraram, e o auror quase deixou o frasco cair. Eram quase idênticos aos de Lily. Baixou os olhos para o frasco, perguntando-se, por um débil momento, se o teste era mesmo necessário. Já sabia a resposta, estava bem na sua frente.


Ainda assim, o auror pegou a varinha e tocou a pequena etiqueta devidamente colada no frasco de vidro. Tinha que fazer o teste, só para ter certeza que tudo aquilo era verdade, que não era um truque, um truque cruel e insensível de Voldemort. Sussurrou o feitiço e palavras foram rabiscadas na etiqueta. Nos segundos seguintes, James não fez nada além de encarar as palavras, o nome escrito de forma clara. O feitiço de identidade proferira o resultado, o sangue pertencia a Harry James Potter.


O auror não ergueu os olhos do frasco. Não olhou para ver o garoto o encarando novamente. Não encarou o filho há tanto tempo perdido. Apenas se virou, entregando o frasco a um chocado Sirius, e foi embora, dirigindo-se às escadas que o levariam para fora e para longe dali. Não olhou para trás para ver o olhar silencioso de Harry o seguir.


xxx


A tempestade passara. As ondas estavam mais calmas e suaves, a água saltando sobre as rochas da ilha, apenas para escorregar novamente. James permaneceu sobre as pedras, deixando o vento frio golpear seu rosto e acariciar seus cabelos. Suas roupas ainda estavam molhadas e naquele clima definitivamente ficaria resfriado, ou, como o Curandeiro Bennett dissera, teria hipotermia. Mas não conseguia pegar a varinha e conjurar um feitiço de secagem.


Ouviu passos atrás dele, mas já sabia quem era. Remus e Sirius sentaram-se, um de cada lado. Sentiu o feitiço de secagem de Remus sobre si, uma sensação de formigamento quente atravessou seu corpo, mas não conseguia sequer abrir a boca para agradecer.


Sirius empurrou o frasco de poção de hortelã em sua mão, mas James não fez esforço algum para bebê-la. Não disseram uma palavra um ao outro, apenas ficaram em silêncio, cada um se demorando em assimilar a verdade.


- Ele não o matou. – disse James de repente, assustando os outros dois. – Voldemort não o matou.


Remus e Sirius não sabiam se o amigo estava falando com eles ou apenas pensando alto.


- James? – chamou Remus, ficando aliviado quando o amigo respondeu e virou-se para encará-lo.


- Eu nunca pensei… nunca duvidei que Harry estivesse... estivesse morto. – disse James, lenta e dolorosamente. – Achei que Voldemort o matara, por conta da profecia, por conta do que... do que ela dizia. – seus olhos castanhos encontraram os do lobisomem e o encararam. – Eu nunca imaginei, nem por um segundo que ele podia... que Harry podia estar vivo.


Remus olhou para o melhor amigo com olhos tristes.


- Como você poderia, James? Você foi enganado. – ele o lembrou. – Voldemort armou para que encontrássemos o corpo de um bebê, nos fez pensar que era Harry.


O auror fechou os olhos, sem querer se lembrar daquele dia. Quase morrera, todos aqueles anos atrás, quando foi informado pelas autoridades que tinham encontrado os restos de um bebê do sexo masculino e que foi identificado como Harry Potter.


- Ah, Deus! – murmurou Sirius, evidentemente lembrando-se daquele dia também. – Foi uma farsa? – ele se deu conta. – Nós o enterramos pensando que era Harry!


James retirou os óculos, esfregando os olhos furiosamente. Tanta coisa acontecera em tão pouco tempo, não conseguia entender. Recolheu o corpo que enterrara, pensando que era do seu filho, mas, na verdade, era uma farsa. Lembrava-se de como o corpo estava terrivelmente mutilado, a lembrança ainda o atormentava. Quando o bebê morto foi achado, já começara a se decompor, ao ponto da identificação só poder ser feita por meio de magia. O hospital fizera um feitiço de identidade usando o pouco de sangue que restou. Um Curandeiro choroso lhe disse que o sangue da criança tinha sido completamente drenado, deixando apenas vestígios. Mesmo assim, uma amostra foi testada e identificada como pertencente a Harry Potter. O hospital se oferecera para fazer testes mais aprofundados, com o tecido do cadáver, mas ele recusara. Estava de coração partido com a crueldade à qual o filho fora submetido, e não queria mutilar mais ainda o que restara do garotinho. Enterrara o pequeno, acreditando que era seu filho. Percebeu agora que Voldemort os enganara usando um pouco do sangue do menino, para que o corpo fosse identificado como Harry Potter. A forma que fora enganado para acreditar na morte do filho fez uma queimadura de raiva irromper dentro dele.


- Não consigo acreditar que ele fez isso! – sibilou furiosamente. – Aquele... aquele miserável me fez pensar... aquele filho da mãe! – ele passou a mão pelo cabelo bruscamente, puxando as mechas escuras. – Eu vou matá-lo! – ele disse. – Ele tirou meu filho de mim. Eu vou matá-lo!


- Ele falhou, Pontas. – disse Sirius. – Não pense sobre o que Voldemort tentou fazer. Ele perdeu Harry. Nós o pegamos de volta.


James sacudiu a cabeça com raiva.


- Pegamos? – ele perguntou, parecendo completamente arrasado. Virou-se para encarar o melhor amigo, com os olhos brilhando. – O que é que eu faço agora? – perguntou. – Se eu tentar protegê-lo, estarei me virando contra todos que conheço, o Ministério, a Ordem, todos! Mas se eu recuar e fizer meu trabalho, vou perder meu filho de novo, mas, dessa vez, será para os dementadores.


O pensamento fez seu estômago se revirar e uma raiva violenta explodiu dentro dele novamente.


- Eu sei que é complicado, – começou Remus. – mas nós vamos pensar em alguma coisa.


- Estamos com você. – disse Sirius calmamente. – Vamos lutar ao seu lado, não importa quem tenhamos de enfrentar. – ele sorriu para o amigo. – Seja o que for que decida fazer, estamos do seu lado.


James sentiu uma imensa gratidão preenchê-lo com as palavras do amigo. Era verdadeiramente abençoado por ter amigos tão leais. Acenou com a cabeça para Sirius, incapaz de dizer alguma coisa. Os três ficaram em silêncio novamente.


- É por isso que estava tão desesperado para vê-lo. – disse Remus, a compreensão tomando conta dele. – Você não sabia que era Harry, mas seu instinto paternal sim!


Sirius olhou boquiaberto.


- Espere, então, de alguma maneira, você já sabia que era Harry? – ele indagou.


James sacudiu a cabeça.


- Não, eu não sabia. – ele disse. – Havia algo sobre ele que me incomodava e eu tinha essa... essa sensação de que o conhecia de algum lugar, mas não conseguia entender. – o auror encarou as mãos, os dedos beliscando o frasco de poção. – Eu não disse isso a ninguém, mas... mas a voz dele... a voz dele me lembrou de Damy.


Os dois amigos pareciam surpresos.


- Filhote? – perguntou Sirius. – Sério?


- Eu não queria dizer isso em voz alta. – explicou James. – Eu não queria admitir para ninguém, inclusive para mim mesmo, que meu filho me lembrava o filho de Voldem...


Ele se conteve a tempo. As palavras que quase saírem de sua boca fizeram seu peito aperta dolorosamente, a completa noção da situação na qual estavam o atingiu mais uma vez. O auror fechou os olhos, os dedos apertados ao redor do frasco de vidro, ameaçando quebrá-lo.


- Deus, está tudo bagunçado! – sibilou James furiosamente. – Como é que eu explico isso a todo mundo? Meu próprio filho, meu Harry, é o inimigo? – ele sacudiu a cabeça, fechando os olhos. – Como é que vou contar a Lily? – indagou, mal percebendo o frasco esmagado em seu aperto e o líquido escorrendo por sua mão. – O que digo? O Príncipe Negro não é filho de Voldemort, é nosso filho. Ele é Harry, mas não podemos levá-lo para casa, pois ele está na prisão, e, em alguns dias, ele provavelmente receberá o maldito beijo!


- Não vamos deixar que isso aconteça! – disse Remus. – No instante que ele entrar na sala de audiência, todos vão ver que é seu filho. Apresentaremos provas no julgamento, explicando como Voldemort nos levou a acreditar que ele estava morto, para que pudesse criá-lo no seu lugar. É óbvio que ele fez uma lavagem cerebral em Harry, manipulando-o a obedecer às suas ordens. O Ministério vai ter que levar isso em conta.


- É, Pontas, e ele só tem dezesseis anos. – apontou Sirius. – É menor de idade. Vão ter que levar isso em consideração.


- Ele tem diversas acusações de assassinato contra ele. – disse James, destruído. – Vocês sabem tanto quanto eu que se um menor comete um crime típico de adulto, eles são punidos de acordo. – ele sacudiu a cabeça. – Mesmo que, por algum milagre, ele não receba o beijo, vai receber uma sentença de prisão perpétua pelo uso das Imperdoáveis. – ele passou a mão pelo cabelo novamente. – Eu não sei o que fazer. – disse frustrado.


- Vamos falar com Dumbledore hoje à noite, assim que voltarmos. – disse Sirius. – Ele vai descobrir alguma coisa. – disse com plena fé no antigo Professor.


James olhou para o amigo antes de seu olhar perpassar a alta torre escura que era Nurmengard. Podia falar com o Diretor assim que voltasse, mas, agora, tinha que ir falar com seu filho perdido.


xxx


James foi levado a uma pequena sala no andar de cima. Na curta hora que passara do lado de fora, conversando com os amigos, Harry tinha sido dispensado pelo Curandeiro. Sua temperatura corporal voltara suficientemente ao normal e não tinha qualquer lesão permanente que exigisse sua estadia na enfermaria. Então, quando o auror solicitou um encontro com o Príncipe Negro, os guardas lhe disseram que só poderia falar com ele em uma das salas de interrogatório. Não tendo outra escolha, ele concordou.


Jackson levara Harry de volta à sala onde eles estiveram naquela mesma manhã. Mas, dessa vez, não o prendeu à cadeira. Ele ainda estava com as algemas Kelso, então não precisava de restrições adicionais. O guarda sabia que o auror não ia interrogá-lo, descobrira a relação que o auror Potter tinha com o garoto após a reação dele na ala hospitalar. Conjurou uma simples cadeira de madeira para o adolescente e o guiou a sentar-se, percebendo, com espanto, que ele ainda tremia. Evitara falar com o jovem, e não tentou encará-lo. Tão rápido quanto pôde, o loiro deixou a sala, fechando a porta atrás de si.


James foi informado de que tinha apenas dez minutos, que era tudo que lhe foi permitido. Decidiu entrar sozinho, deixando Sirius e Remus no térreo. Parou antes de abrir a porta, respirando fundo. Seu filho estava precisamente do outro lado da porta. Preparou-se, sabia que não seria um encontro fácil, e queria estar pronto.


Agarrou a maçaneta e a girou, pressionando-a, a porta se abriu. O auror parou na entrada ao ver Harry sentando na cadeira. Olhando-o propriamente, sem a máscara ou embaixo d’água numa cela escura, podia ver e apreciar plenamente a notável semelhança entre eles. Os olhos verde-esmeralda eram quase do mesmo formato que os de Lily, e o encaravam.


Percebendo que ficara apenas em pé na porta, olhando espantado para ele, James rapidamente sacudiu-se do estupor. Deu um passo à frente, entrando na sala. Fez menção de fechar a porta, quando um pensamento súbito lhe veio. Ouvira o Curandeiro dizer que o garoto estivera trancado na cela por dez horas e que estava com fome e com sede. Foi assim que desenvolvera hipotermia, mesmo antes da inundação. Encarou o jovem de dezesseis anos, notando imediatamente quão cansado parecia.


Limpando a garganta, o auror falou.


- Você quer um pouco de água? – ele disse, achando que poderia pedir a um dos guardas para pegar um copo de água. Afinal de contas, não queria que o adolescente pensasse que estava ali para interrogá-lo.


Olhos verdes penetrantes se estreitaram para ele e uma expressão de raiva cobriu o rosto do garoto quando inclinou a cabeça um pouco de lado, incrédulo. James estava confuso com a reação à sua pergunta, quando de repente se deu conta. Perguntar a alguém que quase se afogara, há apenas duas horas atrás, se queria um pouco de água, não era a mais sensível das perguntas.


- Eu não estou com gracinha. – o auror começou a explicar depressa. – Eu... eu não estava ridicularizando você. Estava falando sério. Pensei que pudesse estar com sede... – ele parou quando Harry desviou o olhar, com raiva, remexendo-se na cadeira.


James fechou a porta, sentindo-se um idiota. Caminhou até a outra cadeira, em frente ao garoto, e sentou-se. A mesa entre eles parecia grande demais, na opinião do auror. Estava a apenas alguns metros de distância do filho, mas era difícil lidar até mesmo com aquela distância.


Encarou o jovem, assimilando cada detalhe que podia. Não podia acreditar que o adolescente incrivelmente bonito de dezesseis anos sentado à sua frente era o seu menino. Aquele bebezinho que costumava balançar nos braços, fazendo cócegas para provocar-lhe risadas, seu “homenzinho”, era o mesmo garoto, só que crescido.


James afastou aquelas memórias, que enterrara há tanto tempo, no fundo de sua mente, nunca as deixando sair, por medo de ficar louco com a dor se o fizesse. Sabia que ainda não podia lidar com aquilo. Tinha que falar com o filho antes que os escassos dez minutos acabassem.


- Você está bem? – o auror viu-se perguntando.


Harry olhou para ele com os gélidos olhos verdes.


- Ainda respirando. – ele disse. – Por quê? Quer mudar isso?


James sentiu os cabelos do pescoço levantarem. Nunca ouvira alguém falar com tanto ódio antes.


- Eu sei que isso é tudo muito confuso para você. – começou. – Deve estar se perguntando sobre nossa... semelhança.


O garoto sorriu de lado para ele.


- Eu percebi, sim. – ele respondeu.


O auror respirou fundo.


- Eu sou… eu sou seu pai verdadeiro, Harry. – disse James, encarando o garoto para ver sua reação.


O sorriso do jovem apenas se alargou, e ele arqueou uma sobrancelha.


- Não, é mesmo? – ele perguntou, num tom zombeteiro e condescendente.


James fez uma pausa.


- Você já sabe? – o auror perguntou, chocado. Pensou que talvez o garoto adivinhara a verdade, mas seu comportamento sugeria que sabia há anos. James sacudiu a cabeça. – Estou surpreso que Voldemort tenha lhe contado.


A expressão de Harry escureceu imediatamente.


- Não fale o nome do meu pai! – ele sibilou.


Um momento de silêncio antes de James inclinar-se para frente, os olhos fixos nos do garoto.


- Harry, ele não é seu pai, eu sou seu pai.


O jovem zombou dele.


- Pai? Você realmente se chama disso? – ele perguntou. – Só porque trouxe alguém ao mundo, não faz de você um pai. – declarou. – Meu pai é aquele que me criou, me ensinou como sobreviver, fez de mim o que sou.


- Ele também é a razão de você estar aqui, trancado em Nurmengard, esperando um julgamento! – disse o auror.


O rapaz relaxou na cadeira, um sorriso na face.


- Um pequeno contratempo, admito. – ele disse, encolhendo os ombros. – Mas não vou ficar aqui por muito tempo.


- Pode esquecer. – disse James. – Ele não virá atrás de você. Voldemort não tentaria te libertar. Você foi deixado ao seu destino.


O garoto riu.


- Se é isso que pensa, então não conhece meu pai.


James sentia o corpo inteiro tensionar toda vez que o adolescente referia-se a Voldemort como pai. Era como se uma veia em sua cabeça fosse explodir de tensão.


- Harry, olhe, isso… não foi por isso que vim aqui falar com você. – ele disse, esfregando a cabeça numa desesperada frustração. – Eu... Eu não estou aqui para te assustar ou para discutir com você. Mas a verdade é que você enfrentará um julgamento logo em breve. – ele disse. – Certamente percebe que destino te espera?


O garoto não falou, mas sua expressão tornou-se séria novamente. Vendo isso, James continuou.


- Eu vou fazer tudo que puder para te ajudar, mas você...


- Por quê? – a pergunta o interrompeu, fazendo-o parar no meio da frase. – Por que vai me ajudar? – o jovem perguntou.


- Porque você é meu filho. – disse o auror com sinceridade. – Eu já te perdi uma vez, não vou te perder novamente. – disse emocionado.


Os olhos brilhantes do rapaz examinavam o rosto de James.


- Sério? – ele perguntou. – Você me perdeu?


James sacudiu a cabeça, tentando fazer o adolescente entender.


- Voldemort levou você de mim, me fez pensar que você estava... morto.


Harry manteve os olhos fixos nele, sua expressão se fechando.


- Voldemort me levou, não foi? – ele perguntou, repetindo as palavras com desdém. O garoto desviou o olhar, sacudindo a cabeça levemente. – Você é tão patético, Potter.


James parou, as palavras cortando-o como uma faca.


- O que foi que ele disse que aconteceu a você? – ele perguntou de repente.


Mentalmente se xingou. Deveria ter percebido que Voldemort contara uma mentira a Harry, um falso relato de como ele acabara sob seus cuidados. Afinal de contas, o rapaz não seria leal a ele se soubesse a verdade sobre como foi inicialmente levado para ser morto.


- O que ele te disse? Como você acabou com ele e longe dos seus pais verdadeiros? – perguntou James.


O garoto olhou de volta para ele, mas, dessa vez, havia uma máscara inexpressiva em seu rosto.


- Ele não me disse nada. – ele falou.


- Você está mentindo! – disse o auror. – Me diga, o que Voldemort lhe disse que aconteceu?


- Não sou eu quem está mentindo. – disse Harry baixinho.


A porta atrás de James se abriu e Jackson e Davis apareceram.


- Seu tempo acabou. – disse o guarda.


- Espere, apenas mais um minuto, eu preciso... – começou James.


- Sinto muito, auror Potter. – disse Jackson, dirigindo-se ao garoto. – Seus dez minutos acabaram.


O jovem levantou-se quando o guarda se aproximou dele, mas seus olhos ainda estavam em James.


- Eu só preciso de mais um minuto, por favor. – disse o auror, virando-se para encarar Davis. – Eu estava no meio de...


- Desculpa. – interrompeu o guarda. – Não há mais nada que possamos fazer.


Jackson segurou o braço de Harry e começou a conduzi-lo para fora. Sem outra palavra, o adolescente saiu da sala e James viu, com o coração partido, o rapaz ir embora.


 

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Comentários (1)

  • Eric C. Austin

    ihhhhhhhhhh...... tio voldy malvado, muito malvado, oque ele falou para o Harry?  e quando a situação familiar dos potter's sera resolvida? poderia me dar uma noção de que em qual capitulo minhas duvidas serão sanadas?

    2013-10-01
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