Capítulo 43



Capítulo 43_CdP








43. Capítulo 43


 


 


Theodoro Nott


 


 


-       Você não tem metade da capacidade que o cérebro de Draco Malfoy tem para gerenciar uma guerra, Theodoro. – Severo Snape soltou com sua apatia fria e pausada embora Theodoro soubesse que aquele tom proferia seu nível de indignação. – Draco tem anos de experiência, ele vem exercitando e praticando estratégias há anos, ele sabe como tudo funciona. Tudo que você fez foi administrar o funcionamento de Brampton Fort como cidade todos esses anos!


 


-       O mestre me escolheu. – retrucou Theodoro. – Escolheu a mim, Severo!


 


-       É claro que ele escolheu você! Todo mundo sabe que tudo que você sempre quis foi ser como Draco Malfoy. O mestre viu sua motivação seria maior do que a de qualquer outro. Mas a verdade é que você não passa de uma criança mimada.


 


Theodoro riu com raiva.


 


-       Uma criança mimada? O que você acha que Draco Malfoy é?


 


-       Draco Malfoy era uma criança mimada fora do cargo que tinha. Ele era uma criança mimada com as mulheres que levava para cama, com as amantes que tinha, com as disputas infantis de perversidade com gente como você, com a rebeldia de achar que ninguém estava acima do nariz dele, com as doses de álcool que tomava. Draco sempre levou suas missões a sério. O que você acha que o fez matar Alvo Dumbledore? Draco Malfoy não tinha a menor capacidade de sequer apontar a varinha para um bruxo como Dumbledore, mas a seriedade dele com o que lhe era confiado fez com que ele criasse nele mesmo a capacidade para tal. Por que acha que o mestre confiou o exército dele nas mãos inexperientes de Draco Malfoy no início? O Lorde sabia bem o potencial dele. Draco matou a maior pedra no caminho do mestre. E ele só tinha dezessete anos! Ninguém é tão bom quanto ele.


 


-       Eu sou tão bom quanto ele! – soltou furioso.


 


-       Viu só? Você soa como uma criança mimada! Draco dizia coisas como essa o tempo inteiro e ninguém o questionava porque ele já havia provado que realmente era o melhor. Até que você me prove o contrário, sempre soará como uma criança implorando por atenção.


 


Theodoro soltou o ar sentindo que explodiria. Mas não podia. Não podia explodir. Tinha que ser mais inteligente do que sua raiva. Sua raiva não o levaria a lugar nenhum e Severo Snape sempre estivera contra ele desde quando o mestre informara que usaria Theodoro como uma carta na manga caso a rebeldia de Draco fosse algo mais sério do que apenas seu instinto mimado.


 


-       Eu só preciso que decifre as magias de distração na sala de Hermione, Severo. – precisava se conter. – Por favor.


 


-       Está fazendo algo que Draco Malfoy jamais faria: Implorar.


 


Theodoro respirou fundo tentando não deixar a raiva queimar debaixo de sua pele.


 


-       Você deve os seus serviços ao império, Severo.


 


-       Eu não devo nada ao Lorde. Você tem ajuda o suficiente com a Comissão. O que restou dela, ao menos. Eles podem fazer esse serviço.


 


-       As melhores mentes foram com Hermione e Draco. O que restou não tem a mínima capacidade para lidar com as magias de Hermione.


 


-       E o que te faz pensar que eu tenho? – questionou Snape. – Aquela mulher tem uma mente que ninguém nunca viu antes. Fui professor dela. Ela falava sobre coisas que nem eu tinha conhecimento. Não me faça perder meu tempo. Eu só trabalho diretamente com o mestre.


 


Theodoro bufou. Quem estava perdendo tempo era ele e a última coisa que poderia estar fazendo naquele momento era perdendo tempo. Deu as costas disposto a não gastar nem mais um pingo de sua saliva e deixou o escritório de Severo Snape furioso.


 


Fez seu caminho de volta para o quartel sem poder perder tempo. Agora Theodoro entendia o porque Draco sempre parecia andar como se estivesse atrasado para dar alguma ordem. Entrou novamente na antiga sala de Draco, que agora era sua. Bateu a porta atrás de si com raiva. Inclinou-se sobre a enorme mesa bagunçada e bufou dando-se tempo para engolir a própria raiva.


 


Puxou um dos cadernos que encontrou no laboratório de Hermione. Folheou as páginas tentando encontrar sentido em todas aquelas anotações. Era dela. Era a letra dela. Eram os cálculos dela, comparações, jogos de palavras, línguas estranhas. Tinham páginas que ele mal conseguia ver a cor do papel. Ninguém jamais conseguiria decifrar aquilo. Ele podia dizer que aquele era um antigo diário de Merlin e provavelmente muitos acreditariam.


 


Empurrou o caderno para longe. Começou a abrir as gavetas. Ainda haviam muitos pertencem de Draco Malfoy que ele queria olhar com atenção antes de se livrar. Haviam inúmeros documentos de antigas e novas ações, missões falhas, missões em espera, missões em processo, missões descartadas, missões revisadas... Havia até mesmo um documento e dois livros enormes sobre uma reorganização geral do quartel. Um vetado por Voldemort, o outro em processo de desenvolvimento. Não havia tempo no universo que pudesse ser suficiente para fazer Theodoro entender todo o trabalho que Draco vinha fazendo ali. Era impossível. Ainda mais enquanto tentava lidar com todo o caos que o Império de Voldemort vinha sofrendo com a divisão que Draco Malfoy causara. Ele não estava esperando que o estrago fosse ser tão grande. E piorava a cada dia. E ele tentava concertar, tentava minimizar o problema para o Mestre, mas a verdade era que tudo estava desmoronando.


 


Parou quando abriu uma das primeiras gavetas e se deparou com uma fotografia. Hermione estava bem vestida ajoelhada sobre a grama segurando o filho no colo enquanto tentava impedir que a filha sentada na grama colocasse um dente de leão inteiro na boca ao mesmo tempo que tentava não deixar o filho comer seu cabelo. O menino no colo puxando o cabelo de Hermione para a boca. A menina na grama com um enorme sorriso mostrando dois dentinhos inferiores muito pequenos segurando seu dente de leão. O sorriso que Hermione tinha no rosto era tão genuíno que era quase estranho. Ela se divertindo com os filhos. Seus olhos brilhavam. Seu rosto resplandecia. Quase faziam as cores serem extremamente vibrantes. Era quase de outro mundo. Era como se aquilo nunca tivesse acontecido em um lugar como Brampton Fort. Ela bem vestida, os filhos bem vestidos. Talvez fora algum tipo de foto informal ou acidental que saiu de um daqueles editoriais que os Malfoy haviam feito não fazia muito tempo apresentando os filhos ao mundo.


 


Draco guardara para si. Colocara logo na primeira gaveta de sua mesa. Aquele ali era o ponto fraco em toda a armadura de Draco Malfoy. Sua mulher e seus filhos. Theodoro jamais imaginou que Draco fosse material para família, mas de alguma forma, aqueles três seres humanos daquela fotografia conseguiram desvendar o labirinto para penetrar o coração impenetrável do homem que Draco era. Ainda o fascinava que logo Hermione fora a mulher para ele. Theodoro havia jurado muitas vezes que Draco morreria sendo o canalha que se provara ser desde a adolescência. Era difícil acreditar que ele era tão devoto as pessoas daquela foto agora.


 


A porta da sala foi escancarada por Thomas Ryot tirando Theodoro de um transe que não se notara entrar. O Comensal carregava rolos e mais rolos de pergaminho com ele. Estava claramente irritado como sempre desde que todo o caos de instalara no Império.


 


-       Infernos! – praguejou o homem despejando os pergaminhos sobre a mesa. – O líder do acampamento de Godric’s Hollow está do lado dos Malfoy! Ele acabou de cortar laços oficialmente com o mestre. – puxou um pergaminho de seu bolso e estendeu para Theodoro.


 


Era uma carta enviada por uma coruja que não esperou por respostas. “Apenas sigo ordens do general Malfoy. – Alan Casey” Era o que estava escrito no pedaço de pergaminho enviado. Não era bem uma surpresa para Theodoro. Casey vinha ignorando todas as ordens enviadas direto de Brampton Fort quando Ryot explicara por alto o que consistia o plano C.


 


-       Qual o tamanho da base de Godric’s Hollow? – Theodoro sabia que era grande, mas precisava ter mais detalhes do número de aliados que estava perdendo.


 


-       É uma base grande. Ficou ainda maior quando Malfoy precisou recheá-la um pouco mais quando a Ordem tomou a região de volta por um tempo faz uns dois anos. A maioria tem estado lá desde o início do acampamento. Subiram de zona ali mesmo. Muitos ali não tem contato com Brampton Fort há muito tempo. Mas isso acontece em quase todas as bases bem estabelecidas. – explicou Ryot.


 


-       Quero todos os líderes de base reportando de volta para o quartel. Hoje mesmo! Qualquer um que não responder o chamado será considerado traidor. – ordenou Theodoro.


 


Ryot ficou em silêncio e imóvel como se não estivesse gostando da ideia.


 


-       E os Dementadores? – questionou.


 


-       Uma coisa de cada vez. – Respondeu Nott não querendo fazer seu cérebro explodir.


 


-       Brampton Fort é prioridade. Estamos completamente desprotegidos. Conhece a Maldição de Brampton? Precisamos de Dementadores...


 


-       EU SEI O QUE ESTOU FAZENDO, RYOT! – exaltou-se ao sentir-se pressionado, mas precisou engolir sua fúria com muita rapidez quando Tom Riddle em pessoa passou pela porta.


 


-       É melhor que realmente esteja. – A voz arranhada, cruel e intimidadora do que já se parecera com um homem-cobra fez-se ser ouvida. Nagini vinha com ele. – Onde estão meus Dementadores?


 


-       Mestre, estou fazendo meu melhor com o exército quebrado que nos restou. – a ansiedade subiu pela sua espinha.


 


Riddle parecia impressionado com nada. Voltou-se para Ryot.


 


-       Saia. – ordenou ao comensal. Ryot fez uma reverência exagerada e correu para sumir. Voldemort aproximou-se usando o ar dominante que exalava. – Você é patético. – começou o Lorde. – Patético. – enfatizou. – Sabe bem que é responsabilidade sua que o meu exército esteja como está. Eu disse para ganhar a confiança deles por baixo do trabalho de Draco Malfoy e tudo que você me conseguiu foram as zonas iniciais que mal sabem aparatar de um lugar para o outro.


 


-       Eu pensei que teria mais tempo, mestre. – a última coisa que sua ansiedade precisava naquele momento era engolir um sermão de Voldemort.


 


-       Não ouse justificar-se. Será que ao menos uma vez eu poderia receber alguma atitude de general vindo da sua parte? Eu venho tentando me convencer de que não condenei meu império ao desastre no dia em que te tornei um de meus Comensais. Quantas vezes vou ter que passar por cima de seu fracassos, Theodoro?


 


Theodoro apenas limpou a garganta e tentou passar por cima da intimidação que o Lorde estava reproduzindo. Será que nem uma mínima apreciação por ele estar conseguindo trabalhar com o número limitado de amadores da zona um, dois e três teria do mestre? Não podia esperar nada positivo vindo do Mestre tão cedo. A morte de Bellatrix ainda estava muito recente e aquilo amargava ainda mais Lorde Voldemort.


 


-       Mandei corujas exigindo relatórios detalhados sobre o desaparecimento dos Dementadores de suas posições aos líderes de base. Preciso ter certeza de que está acontecendo exatamente como da última vez. Draco teve a audácia de manter tudo fora dos históricos do departamento. Tudo que consigo encontrar são as ações do exército em Azkaban e Ryot informou que Draco cuidou dos Dementadores com muito sigilo a última vez que eles surgiram...


 


-       Cale-se. – ordenou Voldemort. – Não quero saber como Draco cuidou dos Dementadores. Eu quero que cuide deles agora e não me faça ter que lhe dar prazos, Theodoro. Eu não quero ter que fazer de você a próxima atração da Cerimônia de Inverno.


 


Theodoro sentiu os pelos de sua nuca expressarem o calafrio que passou pelo seu corpo. Ele tinha que aprender a lidar com aquilo da mesma forma como sabia que Draco Malfoy havia. Ele ainda se lembrava do adolescente a pilha de nervos que Draco era quando Voldemort o marcou com a Marca Negra. Tinha que aprender alguma coisa com a rebeldia e ousadia que marcava Draco Malfoy dentro do círculo de Voldemort.


 


-       Honestamente, Mestre. – limpou a garganta tentando não pingar suor com a presença intimidadora de seu mestre ali. Sabia que na situação em que estava um movimento que pudesse pender para um lado que Voldemort não gostasse poderia significar o fim de tudo aquilo que ele lutara para conseguir dentro do Império. – Seria mais fácil lidar com as tentativas de Draco contra o Império se me desse liberdade para agir contra o filho dele.


 


Voldemort revirou os olhos.


 


-       Cada vez que abre a boca eu me pergunto se acaso tem mesmo um cérebro. – o mestre aproximou-se ainda mais. – Ninguém toca no meu herdeiro.


 


-       Mestre, Draco e Hermione Malfoy juntos tem o apoio e a influência de mais gente do que eu e qualquer um conseguimos contar. Eu não duvido que nem mesmo aqueles que dizem morrer por seu nome, no fundo não simpatizam nem um pouco que seja com a causa Malfoy. Se agirmos contra eles agora o mundo vai nos dar as costas. Não chegou tão longe nessa jornada para se tornar Tom Riddle novamente e ter seu Império lhe dando as costas por causa de um Malfoy. – A cobra de Voldemort subiu pelas costas do mestre para descansar em seu ombro e poder encarar Theodoro logo ali. Não podia deixar sua voz vacilar ou perderia o interesse do mestre em um segundo. Precisava continuar com seu jogo de palavras porque ali que havia ganho Voldemort para chegar onde estava agora. Precisava continuar com confiança. - Com o apoio que eles tem agora, Draco e Hermione podem avançar contra Brampton Fort qualquer dia e a chave para pará-los é Scorpius Malfoy!


 


-       A chave para pará-los sou eu, Theodoro. O medo me trouxe até aqui e o medo vai me manter aqui. Eu sei trabalhar com o medo. Acaso é capaz de fazer surgir o medo do caos? Por que é isso que estou esperando que faça! Eu não me importo quantas cabeças geniais Hermione tenha levado da Comissão com ela ou que metade do meu exército esteja com Draco. Eu quero caos. Eu quero medo novamente! Prove a eles que quanto mais desestabilizado meu Império estiver, mais o mundo vai sofrer.


 


Theodoro recolheu qualquer tentativa de contradizê-lo.


 


-       Sim, mestre. – Ele precisava aprender como Draco conseguia enfrentar Voldemort em todas as suas decisões.


 


Lord Voldemort o encarou por um bom tempo como se estivesse analisando cada centímetro de suas intenções e sua postura.


 


-       Nagini. – ele soltou depois de um minuto que pareceu horas. A cobra desceu pelo corpo de seu mestre, fez um caminho por entre as pernas de Theodoro como se quisesse demonstrar perigo e foi embora. Voldemort apenas continuou a encará-lo por mais um tempo mapeando tudo que conseguia apenas com o olhar. – Tem permissão para mover Narcisa para longe de Scorpius como um recado ao casal Malfoy. Encontre alguém para cuidar da criança. Eu preciso dele saudável.  – deu as costas e tomou seu caminho de volta, mas parou assim que alcançou a porta. – Quero os Dementadores de volta. E em algum lugar dessa Catedral ou da casa dos Malfoys deve haver um exemplar da maldita poção contra a minhamarca, a Marca Negra. Preciso de mais do que está me dando, Theodoro. – pausou como se estivesse dando a si mesmo tempo para considerar uma decisão e então finalmente soltou: - Uma lição em Scorpius Malfoy seria uma boa forma de sondar o quão longe Draco e a mulher estão dispostos a realmente ir. – terminou e finalmente sumiu.


 


Theodoro soltou o ar sentindo seus músculos relaxarem por não ter a presença de Voldemort por perto. Mas não demorou muito para que caísse em si de que isso não significava que a corda ainda estivesse em seu pescoço.


 


-       JODIE! – gritou pela secretária que assumira o cargo muito descontente não fazia muitos dias. A mulher apareceu de má vontade. Ela queria ter conseguido o cargo do Governador, mas Theodoro tratou de arruinar todas as chances possíveis. Precisava do cérebro daquela mulher trabalhando para ele sempre. - Mova Narcisa Malfoy para Whitehall. Ela não tem mais permissão para ficar com o filho de Draco e Hermione. Encontre alguém para substituí-la. – pausou por um segundo percebendo a abertura que Voldemort havia lhe dado ali. – Alguém maleável que trabalhe para o nosso lado. – especificou. - Quero ter acesso a criança. – ele precisava que Draco e Hermione soubesse que tinha um controle paralelo a criança fora a enorme proteção que Voldemort colocava em torno do pequeno pivete de sangue de ouro. – Encontre também uma coruja que possa ser sacrificada. – pegou a fotografia de Hermione e dos filhos da gaveta da mesa de Draco. – Preciso enviar um recado a Draco e eu sei que a coruja não vai ter a chance de voltar.


 


-       Sim, senhor. – ela disse de má vontade.


 


-       Senhor? – indagou irritado.


 


Jodie puxou o ar entediada.


 


-       Sim, general. – concertou ela. Fez menção de que iria embora colocar em práticas as ordens dele, mas parou quando um pensamento cruzou sua cabeça. – Eu não passaria da linha com o herdeiro Malfoy. Todo mundo sabe que ele é uma criança diferenciada. Sangue Merlin-Morgana.


 


-       Eu sei que diz isso porque é simpatizante de Hermione Malfoy, Jodie. Apenas cale a boca e faça o que eu mandei. – cuspiu ele.


 


Jodie apertou os lábios com desgosto e tomou o caminho da saída. Ela cruzou com Gina Weasley na porta que entrou sem pedir permissão. A ruiva estava bem vestida. Qualquer cor parecia um bom contraste com o tom de seu cabelo. Ainda estava magra demais, e o modo como se portava sempre dava a perceber que seu psicológico ainda estava afetado com os traumas que fora obrigada a sofrer.


 


-       Me deixou esperando no almoço. – Gina proferiu mostrando seu descontentamento.


 


Será que, por Merlin, alguém poderia mostrar-se bem disposto a cooperar com ele? Alguém que fosse! Qualquer um!


 


-       Tenho deveres mais importantes a cumprir do que um almoço, Gina. – ele estava sem paciência. – Conseguiu encontrar a poção no laboratório de Hermione?


 


-       Quantas vezes vou ter que falar que sei lidar com a poção, não com os feitiços de distração e proteção de Hermione? – retrucou ela. – Além do mais, eu não sei porque perde tempo tentando me cortejar quando claramente não tem interesse em ter minha afeição. Ao menos um recado eu poderia ter recebido sobre o almoço. Tive que colocar todos os aparatos para me apresentar em público. – ela fez menção ao vestido que usava.


 


Theodoro já estava irritado.


 


-       Não seja patética, Weasley! Sabe muito bem o porque estamos nos juntando e isso é suficiente para ter que lidar com minhas ondas de humor em te cortejar e te desprezar. Agora, saia da minha sala. Tenho muito no que trabalhar. Apareça quando estiver disposta a me dar mais informações sobre a tal maldita poção. – cuspiu para ela.


 


Gina pareceu querer relutar, mas eventualmente deu as costas e foi embora calada. Theodoro puxou uma pena e um pergaminho sentando-se finalmente na confortável cadeira bem talhada e acolchoada. Tinha um recado para dar ao precioso casal Malfoy e ele não seria longo, mas seria bem significativo.


 


 


Harry Potter


 


 


Enfaixava a junta dos dedos com um tecido comprido e poroso embalsamado de uma mistura de ervas curativas que Mason havia lhe empurrado após uma terrível sessão de tortura. Sim, cada vez que tinha uma “aula” com Mason sentia-se torturado. Não avançava para absolutamente lugar nenhum. Apenas apanhava. Fazia-o lembrar-se de quando Dumbledore o obrigara a ter aulas de Legilimencia e Oclumencia com Severo Snape em seu quinto ano. Mason Dixon era bem pior do que Severo Snape. Ele podia dizer aquilo com muita propriedade.


 


-       Foi a biblioteca? – Rony perguntou displicentemente folheando um enorme exemplar que pegara de lá.


 


-       Não. – respondeu Harry terminando de enfaixar o ultimo dedo.


 


-       Parece um museu dedicado a grandeza da família Malfoy.


 


Harry soltou o ar e estralou o pescoço dolorido analisando o saco de pancada feito de couro de dragão pendurado logo a sua frente. Era um saco pesado e Mason estava exigindo que ele treinasse porque tudo que escutava sempre que se encontravam era sobre o quanto era fraco. Harry simplesmente não conseguia ver a razão em continuar tudo aquilo. Ele era bom com sua varinha. Era bom em defesa. Não precisava ter que aprender a como socar um saco!


 


-       Não me surpreenderia. – foi tudo que ele comentou. Puxou o ar e deu o primeiro soco no saco sentindo a dor viajar por todo o seu corpo enquanto o maldito peso a sua frente continuou imóvel. Tentou conter o gemido. Sabia que deveria usar luvas apropriadas para aquela atividade, mas Mason parecia querer criar nele uma resistência a dor que ele considerava completamente desnecessária.


 


Ele não era o tipo atlético. Nunca havia sido. Não era uma completa decepção, tinha seus olhos e seu sorriso que já faziam muito por ele, mas certamente não chegava nem perto do que Draco Malfoy era ou do que todo o restante daquele grupo de Comensais que se achavam soldados bem treinados de um exército eram. Ele sempre se orgulhava do fato de sua falta de peso fazer dele o mais ágil dos apanhadores em Quadribol.


 


-       Nossa, você é horrível nisso. – comentou Rony vendo o saco de pancada imóvel


 


-       Quer tentar? – perguntou Harry irritado.


 


-       Não é de mim que eles estão exigindo essa habilidade. – Rony mostrou as duas mãos na altura do ombro em sinal de paz.


 


Harry soltou o ar sem muita paciência e focou-se novamente no saco a sua frente. Mentalizou a raiva. Não era muito difícil encontra-la, assim como também não era muito difícil encontrar a culpa que vinha com ela. A culpa de ter condenado tanta gente a morte quando entregou a Ordem nas mãos de Draco Malfoy. Apertou o punho e socou o saco. A dor foi quase um presente para aliviar a que ele sentia por dentro. Usou a outra mão também. Ficou ainda mais irritado por não ver o saco se mover.


 


Investiu contra ele vezes seguidas. A fúria aumentando cada vez que ele mentalizava mais a raiva e a culpa. Ele tentava não pensar nas vezes que Hermione dormira com a cabeça encostada em sua perna no salão comunal da Grifinória enquanto lia um livro qualquer. Tentava não lembrar das garrafas de cerveja amanteigada que haviam divido enquanto observavam o por do sol em silêncio das arquibancadas vazias do campo de Quadribol de Hogwarts no inverno. Tentava não lembrar das vezes que ela se esgueirara para debaixo de suas cobertas no meio da noite no dormitório masculino porque pressentia que algo de ruim ou sério fosse acontecer com ele ou as vezes simplesmente para lamentar que Rony não estava lhe dando atenção. Tentava não lembrar de como ela o apertava forte em seu abraço todas as vezes que acordava na ala de enfermarias depois um acidente feio. Tentava não lembrar de como ela se orgulhava que eles dois conseguiam ler um ao outro sem que nenhuma palavra fosse dita. Tentava não se lembrar de como os anos e a guerra apenas serviram para juntá-los ainda mais. Tentava não se lembrar de como vagavam entre conversas sérias e profundas quando deitavam lado a lado no telhado do sótão do Largo Grimmauld crescendo juntos, tornando-se adultos no meio do caos daquela guerra. Tentava não se lembrar de como ela ainda fazia seu caminho para debaixo das cobertas dele no meio da noite para abraça-lo forte e dormir ao seu lado apenas por temer não tê-lo no dia seguinte caso Voldemort o matasse. Tentava não se lembrar de como ela era carinhosa e perfeccionista quando tirava seu tempo para cortar os cabelos dele. Tentava não se lembrar de como eles juntos gostavam de incitar a imaginação alheia ao brincar terem algo além do platônico quando sofriam pela implicância e dúvidas de outros sobre o relacionamento que tinham. Tentava não se lembrar de como ela o protegia com unhas e dentes. Tentava não se lembrar de como foi quando cruzaram a linha pela primeira vez. Tentava não se lembrar de como era sentir o coração querer explodir dentro dele quando beijava a boca de sua melhor amiga. Tentava não se lembrar da ardência e da paixão que queimava nele sempre que se enterrava dentro dela. Tentava não se lembrar de como eles haviam se ajustado tão naturalmente a intimidade de homem e mulher quando o alívio de terem finalmente quebrado a extensa, porém fina, linha que os separava. Tentava não se lembrar de como seu coração gentilmente se acalmava quando ele afastava sua boca da dela simplesmente porque sabia que eles se pertenciam. Se pertenciam porque haviam se feito pertencer muito antes de qualquer beijo ou de qualquer toque intenso.


 


Parou ofegante antes que seu corpo entrasse em colapso. Ainda havia muita raiva para depositar contra aquele saco. Encarou as juntas de suas mãos trêmulas e ensanguentadas contra o tecido protetor. Apoiou o corpo segurando os próprios joelhos para evitar não cair contra o chão. Observou o suor pingar de seu rosto enquanto ofegava e sentia o olhar silencioso de Rony bem fixo nele as suas costas.


 


-       Eu vou morrer sentindo falta dela. – soltou por debaixo da respiração.


 


Rony respirou fundo e com calma.


 


-       Eu sei. – ele disse como sempre dissera todas as vezes que tivera que aturar Harry lamentar por Hermione. – Você compartilhou com ela algo que eu nunca tive. Vocês sempre foram conectados.


 


-       Você não entende. – ele fez o caminho para encostar-se contra a parede. – Ela é parte de mim. – ofegou. – E eu sei que sou parte dela. – doía. -  Ela não pode ter esquecido, Rony. Ela não poderia simplesmente ter esquecido o que nós construímos do momento em que nos conhecemos até o primeiro beijo que demos! Como? Como ela poderia esquecer? – encarou o amigo. – Eu costumava pensar que tudo poderia passar, mas eu e ela sempre permaneceríamos. Cho veio e foi, Gina veio e foi, Krum veio e foi, você veio e foi, todo o resto veio e foi e eu e ela sempre continuamos estáveis e unidos. Sempre. Mesmo antes de sequer nos explorarmos como homem e mulher. O que aconteceu, Rony? O meu amor não foi suficiente? O amor dela não foi suficiente? Por que ela matou a parte minha que havia nela? Por que?


 


-       Culpa? – sugeriu Rony.


 


-       Não. – ele sabia que não era culpa. - Ela não luta com a culpa. Ela fez as pazes com a culpa. – Conhecia Hermione. Ofegou. Remoeu seus pensamentos lembrando-se da conversa nada agradável que tivera com ela. – Draco Malfoy. – soltou. – Ele deu a ela um significado que eu não dei. – sentiu seu coração pesar e doer fortemente. Fez uma careta e jogou a cabeça para trás sentindo sua mãos arderem. – Eu não vou conseguir passar por cima. Nunca vou conseguir passar por cima. Ela sempre vai ser a única mulher que meu coração já amou. A única que amo.


 


-       Eu sei. – era tudo que Rony poderia dizer. Ele realmente sabia. Era tudo que ele sempre soubera. Exatamente por isso compartilhou de um ciúme nada saudável quando tivera seu tempo com Hermione. – Ela foi obrigada a ter que te deixar para trás, Harry. Como você disse. Ela fez as pazes com a culpa.


 


Eles ficaram em silêncio. Harry analisou uma de suas mãos tentando imaginar o tamanho do estrago por debaixo do curativo.


 


-       Você acha que ela é feliz? – perguntou Rony receoso depois de um tempo.


 


Aquela era uma pergunta difícil para ele decifrar com Hermione tendo um filho nas mãos do Lord das Trevas.


 


-       Quem tem tempo para pensar em felicidade com Voldemort por aí, Rony?


 


Seu amigo puxou o ar fazendo menção de que usaria um comentário para concordar, mas sua voz nunca saiu porque a atenção dos dois foi roubada para uma agitação incomum vinda do corredor. Harry e Rony avançaram com rapidez e empurraram a porta da sala onde estavam para ver o que estava acontecendo.


 


-       ...por que maldição sou eu quem tenho que te redirecionar agora? – Draco Malfoy estava claramente alterando enquanto via Hermione caminhar para longe dele tão decidida quanto ele. – Fizemos um acordo sobre isso. Não pense que pode ter qualquer razão que seja! Como ousa achar que é mais fácil para mim do que para você? – ela continuava a afastar-se. – HERMIONE! – a voz dele foi tão poderosa que pareceu ter feito as paredes tremem.


 


Hermione parou de costas a ele respirando pesado. Ela parou como se não esperasse que ele fosse demonstrar uma reação alterada como aquela no meio de quem pudesse passar ali. Devon saiu de uma das salas muito próxima a eles com um olhar bem apreensivo. Ela voltou-se para Malfoy. Os olhos brilhavam molhados. Os dentes estavam cerrados. Ela estava com raiva. Estava fervendo em raiva. Aproximou-se dele como se estivesse pronta para lhe jogar um crucio. Como se estivesse dando a ele o que ele parecia estar pedindo.


 


-       Eu te desafio a me culpar. Eu te desafio a me culpar tendo muita consciência de onde saímos e onde estamos! São nossos filhos! – ela cuspiu contra ele encarando-o com um ódio flamejante que intensificou-se por não ter uma resposta imediata ao tal desafio que jogara. – FAÇA, DRACO!


 


Ele apenas a encarou com desgosto. Era difícil ler Draco Malfoy.


 


-       Você sabia que seria difícil. Você disse que conseguiria. – foi tudo que precisou dizer.


 


Os olhos de Hermione pareceram projetar chamas. Ela fez quase menção de que avançaria contra ele para dilacerar a garganta dele, mas parou. Parou porque estava ferida e o molhado em seus olhos junto com o fogo em suas pupilas mostravam claramente isso.


 


-       Como pode... ? Como consegue? Perdemos uma filha uma vez, Draco. Se lembra disso? Se lembra de como foi? Se lembra? – ela soltou e puxou o ar quase que imediatamente como se aquela fosse uma lembrança que lhe tirava o oxigênio.


 


Aquilo pareceu cair como um peso final sobre os dois. Como se não houvesse palavra no mundo que pudessem seguir aquilo. Harry sentiu a atmosfera chegar até ele. Viu Hermione dar as costas e ir embora. Draco pareceu quase por um segundo estar disposto a ir atrás dela, mas ele apenas ficou estático onde estava até voltar para dentro da sala de onde havia saído batendo a porta com uma agressividade assustadora. Ainda escutou o som de algo se quebrar vindo de lá de dentro. Harry trocou olhares receosos com Devon. Devon trocou mais alguns com uma dupla de bruxos logo atrás deles que Harry não notara também estar presente. Aos poucos e em silêncio todo mundo apenas recolheu-se de volta de onde vieram. Harry e Rony fizeram o mesmo.


 


-       Bom, pelo menos eles ainda se odeiam. – comentou Rony tentando distrair. Harry não fez nenhum comentário sobre o comentário dele. – Além do mais. Não sabia que eles ficavam por essa parte da casa.


 


-       Eles adaptaram os quartos daqui para servirem quase como salas de simulação. Não sei como funciona. Não me deixam entrar. – ele respondeu não conseguindo tirar da cabeça o incomodo de ver Hermione naquele estado.


 


Havia sido seu melhor amigo por anos. Era ele quem estivera ao lado dela nas frustrações mais mínimas da vida dela as mais pesadas. Estivera ao lado dela para lhe confortar quando as ofensas de Malfoy feriram sua autoconfiança, quando as infantis rejeições de Rony machucaram seu coração adolescente, quando seus planos de guerra falharam. Estivera bem ao lado dela como sempre quando ela teve que passar por cima do brutal e repentino assassinato dos pais. Ele sempre estivera presente para ela. Sabia que ela nunca recusava uma raspadinha de gelo de qualquer sabor que fosse para ser consolada e que ela não gostava de falar, gostava apenas de usar o ombro dele em silêncio. Ele queria ir atrás dela. Queria que ela pudesse usar seu ombro. Queria poder ser mais uma vez o lugar para onde ela poderia correr para se sentir entendida, acolhida e confortada.


 


-       Por que acha que eles podem estar brigando? – Rony perguntou. Seu amigo agora estava todo especulativo. A imaginação dele viajava para os planetas mais distantes sempre quando começava a verbalizar um cenário que sua cabeça vinha montando. Ele era curioso. Harry também, mas tentava se manter focado em ser a arma de Draco Malfoy e nada mais. Era tudo que havia restado para ele ser.


 


-       Não sei, Rony. – jogou para ele. – Voldemort tem o filho deles e pelo que parece os dois estão jogando bem pesado contra o império dele como se não se importassem nem um pouco com esse fato.


 


-       Eles devem ter uma carta na manga. – Rony especulou novamente.


 


-       Honestamente, não me importo. – Harry respirou fundo e socou mais uma vez o saco de pancada. Dessa vez, com o sangue frio, soltou um lamurio de dor sentindo como se tivesse acabado de ir com toda força contra a ponta de uma faca. Era mentira. Ele se importava, sim. O filho podia ser de Draco, mas também era de Hermione e pelo respeito que tinha por ela, preocupava-se com os dois pequenos que ele mal conhecia e evitava contato.


 


-       Pare, Harry! Eu não acho que eles querem que você perca a mão!


 


Harry estava pronto para retrucar. Ninguém parecia entender que aquilo era tudo o que havia lhe restado. Que se enfiar nas sessões de tortura de Mason ou aprender sobre magias complexas com o que chamavam de Comissão anestesiava a dor dele. Mantinha sua cabeça ocupada. Distraia sua raiva. Mas então Luna apareceu um tanto quanto ofegante como se tivesse corrido uma maratona.


 


-       Sabia que ia encontrar vocês aqui. – Ela anunciou sua chegada. – Precisam ver isso. – Tirou do bolso de trás da calça jeans uma folha enrolada que parecia ser do Profeta diário mas quando mostrou para eles Harry pode ler Diário do Imperador bem no topo. Aquele jornal parecia estar por todo o lugar agora.


 


Rony foi o primeiro a puxar a folha de jornal da mão de Luna quando viu estampado o nome da irmã na matéria.


 


Theodoro Nott e Gina Weasley oficializam noivado


 


-       Onde conseguiu isso? – Rony parecia quase que assustado.


 


-       Estou ajudando Neville e todo o resto do pessoal no porão com a fabricação das poções. Eles tem uma demanda enorme. Esses jornais estão por toda a parte. – ela respondeu. – Não é de hoje. Veja. – apontou para a data que mostrava ser de dois dias atrás. O dia em que os Dementadores haviam aparecido em Malfoy Manor.


 


-       Mamãe e papai precisam ver isso! – As orelhas de Rony estavam ficando vermelhas.


 


-       Leia. – Luna pediu.


 


Harry não se deu ao trabalho, mas Rony parecia estar devorando cada palavra.


 


-       Ela tentou matar Hermione? – soltou Rony com os olhos arregalados engolindo as letras uma por uma. – Arma trouxa? Onde Gina conseguiu uma arma trouxa? – ele comentava. - ...Atingiu Lucio Malfoy... – soltava enquanto lia. - ...Foi capturada... Torturada... – os olhos ziguezagueavam de um lado para o outro. - Cerimônia de Inverno? Nott conseguiu salvar Gina da Cerimônia de inverno porque se apaixonou por ela? Se apaixonou loucamente por ela visitando sua sela na Catedral quando o Lorde deu permissão para que Comensais do ciclo interno pudessem abusá-la livremente? Nott a protegeu? Oi? – ele ergueu os olhos completamente furioso. - Isso é a maior bosta que eu já li em toda a minha vida! Primeiro porque pensei que Gina estava sobrevivendo sozinha em algum lugar depois que nos deixou. Segundo porque é uma idiota! Como que ela estupidamente iria se aventurar numa missão tão suicida quanto a de invadir sozinha um lugar lotado de Comensais e aliados de Voldemort? Terceiro, Theodoro Nott é um Nott! Um Nott nunca, e eu repito: n-u-n-c-a, se casaria com um Weasley. Não somos parte da elite bruxa!


 


-       Costumava dizer o mesmo dos Malfoy. – Harry soltou quase que automaticamente. - Alguma vez na vida pensou que Hermione pudesse estar casada com Draco?


 


-       A família dele provavelmente sabia da descendência de Hermione quando aprovaram a união. – Luna disse duvidosa.


 


-       Não importa! – Rony ainda estava indignado. – Olha isso! – quase esfregou o jornal em Harry que precisou recuar e tirar o informativo da mão do amigo. – Tem que haver um motivo maior!


 


-       Claro que tem, Rony. – Luna soltou como se não fosse óbvio que eles ainda não tivessem chegado a mesma conclusão que ela. - Eu posso ter fama de fazer as comparações mais criativas e sem cabimento, mas ao meu ver, isso se parece muito com a história que Draco e Hermione tem na mídia. Eu duvido que Gina tenha algum interesse nisso que não seja o de salvar a própria pele a qualquer custo, mas Theodoro claramente está querendo criar uma imagem como novo general do exército muito parecido com o que Draco Malfoy tem hoje. Ele quer ser com Gina o novo casal modelo porque sabe que Draco e Hermione se fizeram ser um casal muito queridinho na mídia.


 


-       Como pode saber de tudo isso? – perguntou Rony fazendo uma careta.


 


-       Eu converso com as pessoas, Rony. Escuto o que elas conversam umas com as outras. Não é difícil. Tem uma cachoeira de gente nesse lugar que sabe de absolutamente tudo o que aconteceu no mundo de Voldemort enquanto nós estávamos confinados num ponto minúsculo do mapa tentando levar a vida sem que nossas barreiras de proteção do mundo externo fossem penetradas.


 


Rony não pareceu contente em ter que escutar aquilo. Provavelmente porque o amigo vinha evitando contato com Comensais assim como Harry. O ruivo puxou o informativo da mão de Harry novamente e saiu bufando dizendo que precisava mostrar aquilo ao pai. Luna fez menção de que o seguiria como se parecesse dever algum tipo de conforto a Rony Weasley, talvez porque eles vinham tendo algo, mas então ela parou percebendo que na verdade não devia nada a ele, como se soubesse que tudo no mundo era incerto, até mesmo o que quer que fosse que houvesse entre eles. Pareceu incomodada por alguns segundos até voltar-se para Harry.


 


-       Ouch. – ela fez uma careta apontando para as mãos de Harry. – Tem que ir cuidar disso, Harry.


 


-       É para doer. – respondeu.


 


-       Não para infeccionar. – retrucou ela. – É completamente desnecessário isso que estão fazendo com você. – ela pareceu indignada enquanto levantava uma das mãos dele para analisar o tecido que a enfaixava coberto de sangue. – Você sabe se defender. Sabe lutar.


 


-       Não no nível deles. – Harry sentiu-se obrigado a defender o porque estava tão empenhado a se dedicar ao que ele considerava sua última chance. – Quando Malfoy fizer o povo dele marchar contra Voldemort, eu vou estar lá. Ele quer me preparar para não morrer no meio do caminho. Nem quer ter que desperdiçar forças usando gente para servir de babá me protegendo.


 


-       A Ordem da Fênix sempre foi um exército. Você sempre lutou bravamente ao nosso lado.


 


-       Fomos um exército de amadores desde a morte de Kingsley, Luna. Tínhamos que dar conta de mil coisas ao mesmo tempo. Sempre nos focamos demais em ajudar o povo. Aqueles que sofriam pelo medo da ditadura. Conseguimos segurar os Comensais de Voldemort por muito tempo apenas porque Hermione conseguia nos fazer ser bons em magia.


 


-       Nós éramos bons juntos. Todos juntos. – ela soltou o ar cansada. – Tudo bem. Eu entendo que aceitou entregar a Ordem porque se via destruindo a Ordem como líder de qualquer jeito. Eu entendo que a cruel forma como tudo aconteceu fez com que tivesse que carregar mais a culpa dessa decisão. E eu entendo que está se dedicando a ser o que Draco Malfoy quer que seja numa tentativa desesperada de chegar logo ao ponto final dessa guerra. E eu entendo que vê isso como a última carta que tem na manga. Mas preste bem atenção, Harry. A profecia pode não ter te escolhido para ser um líder, mas ela definitivamente te escolheu para eliminar Voldemort. Você só precisa saber de um feitiço para isso. Pare de carregar o peso de todo o resto.


 


Luna pensava que o entendia bem. Que o lia bem. Mas ela não enxergava nem metade do que havia dentro dele.


 


-       Talvez deva ir atrás de Rony, Luna. – foi tudo que ele resolveu dizer. - Ele vai querer que esteja por perto quando o sangue esfriar e perceber que a mimada irmã que tem conseguiu se enfiar debaixo da varinha de Voldemort.


 


A mulher loira torceu a boca segurando a frustração por ter que escutar a amargura dele falar mais uma vez por cima do bom homem que ela acreditava que ele fosse. Deu as costas e foi embora. Mason cruzou com ela na entrada da sala. Ele vinha em sua figura morena e alta como se estivesse pronto para iniciar uma sessão de agressão física consentida.


 


-       Potter. – ele anunciou sua chegada. – Vai estar assumindo publicamente representar o acampamento de Godric’s Hollow amanhã. A Comissão quer revisar o texto que vai mandar ao Profeta Diário. Estão o esperando no quarto ao lado. Seja rápido. – fez parecer que ia dar as costas e sumir, mas parou e encarou as mãos machucadas dele. – Limpe as mãos antes. – a linha de um sorriso cínico escondida nos lábios. – Sinceramente. Você é patético. É inacreditável que exista uma profecia sobre você. – disse e sumiu.


 


Harry engoliu o que quer que precisasse engolir para apenas seguir seu caminho paro o quarto ao lado.


 


 


**


 


 


Enrolou um saco de gelo e o carregou pelo quarto escuro até sentar-se em uma poltrona próximo a enorme janela do quarto que ocupava no palácio dos Malfoy. Inclinou a cabeça para trás contendo o gemido de dor que tinha constante vontade de soltar e colocou o gelo contra o olho direito. Soltou o ar e tentou relaxar os músculos embora fosse difícil. Seu corpo inteiro doía. Mason o colocara em uma sala grande para lutar contra um trasgo adulto, que mesmo não sendo um trasgo verdadeiro, fizera um bom estrago nele.


 


Nunca imaginou que combinar a agilidade que estava ganhando com sua varinha pudesse ser tão recompensador. Era quase um presente saber que seu corpo podia ser uma arma da mesma forma que podia fazer sua varinha também ser uma. Fazer os dois trabalhar em conjunto era uma dança que ele estava aprendendo a gostar e a odiar ao mesmo tempo. Mason não lhe permitia poções para dor nem poções de cura instantânea, por isso a parte em que ele odiava tudo aquilo tomava mais de seu tempo do que a parte em que usufruía uma vitória depois de mil fracassos.


 


Em sua cabeça ele debateu por um tempo no que teria que trabalhar para fazer aquele Trasgo cair derrotado mais rapidamente a próxima vez que tivesse que enfrenta-lo. Quando cansou-se seu cérebro quase que inconscientemente o fez focar-se na lembrança de Hermione furiosa mais cedo cuspindo contra a figura do marido o fato de terem perdido um filho antes. Divagou por um bom tempo no que perder um filho teria sido para Hermione Granger. Sim, Hermione Granger, a mulher que ele conhecia. Sua melhor amiga. Que cicatriz aquilo havia feito nela?


 


Puxou uma garrafa de whisky de fogo que deixara no vão da janela e entornou um enorme gole bebendo direto da garrafa. Ao menos nenhum elfo daquela casa lhe recusava bebida quando ele pedia. Era quase uma anestesia pensar em Hermione. Mesmo que o ferisse, havia uma parte que o satisfazia em tê-la constantemente em sua memória.


 


Escutou alguém bater em sua porta. Ele deduziu que fosse Rony. Girou a varinha de onde estava para abri-la para o amigo, mas ficou em alerta no momento em que notou que os passos que entravam para dentro do quarto que ocupava eram sem pressa e cuidadosos. Não era Rony. Seus músculos tencionaram e ele não se mexeu.


 


-       Potter. – era a voz mortal de Draco Malfoy.


 


Harry continuou sem se mover. O gelo no olho. O corpo largado na poltrona. Tentou relaxar.


 


-       A que devo a honra de uma visita real? – foi irônico.


 


Malfoy não respondeu imediatamente. Continuou a ouvir os passos dele pelo quarto. Como se ele estivesse tomando tempo para analisar o que havia ali.


 


-       Tina realmente o colocou em um péssimo quarto. – comentou ele.


 


Era essa a conclusão que ele havia chegado depois de analisar o espaço? Harry não via nenhum problema com o luxo que o cercava. Tinha ali muito mais do que ele precisava. Mas talvez o gosto de Malfoy fosse de muita alta qualidade para um simples quarto de hospede. Harry queria manda-lo embora, mas sabia que não tinha autoridade para expulsar Draco Malfoy. Aquela era a casa dele. Tirou o gelo de seu olho e encarou a visita em seu quarto. Malfoy voltou-se para ele depois de analisar a vista escura da noite que acabara de cair da grande janela em seu quarto e mostrou um frasco de poção que tinha na mão.


 


-       Mason disse que seu esforço lhe fez merecer isso. – jogou para ele o frasco de poção. Harry conseguiu o pegar no ar com uma de suas mãos machucadas. Era uma poção para a dor. – Tem se dedicado, Potter. Devo confessar que é um alívio saber que eu não estava nem um segundo errado sobre onde suas motivações poderiam estar.


 


Harry colocou a poção de lado.


 


-       Não preciso disso. – poder usar de magia para acelerar o processo de cura era tudo que ele realmente precisava. Mas, a dor o anestesiava da constante retaliação de suas memórias e sua ansiedade e era isso que queria.


 


-       Imaginei que não fosse querer. – Malfoy deu as costas, chamou por um de seus elfos e pediu por conhaque. Em dois simples estalos Draco Malfoy conseguiu sua bebida enquanto sentava numa cadeira e colocava os pés sobre a mesa de escritório que haviam movido para seu quarto. Ele primeiramente, sem sentir-se acuado ou pressionado pelo silêncio tenso que havia entre os dois, calmamente fez-se mais confortável ao abrir alguns botões de sua blusa e puxar as mangas até os cotovelos antes derramar conhaque num copo de vidro e tomar um gole pacientemente e sem pressa. Pareceu apreciar, por um longo tempo, o sabor da bebida e o silêncio. – Quem diria, hum? Estamos no mesmo time finalmente.


 


-       Você me manipulou. – foi tudo que Harry resumiu-se a dizer. Não decidira juntar-se a Malfoy. Malfoy mexeu todos os seus palitinhos para que ele não tivesse nenhuma outra opção que não fosse juntar-se a ele.


 


-       Potter, deve concordar que não é, nem nunca foi, uma pessoa realmente inteligente. Juntar-se com alguém como Ronald Weasley foi uma das suas primeiras escolhas idiotas ao entrar para o mundo bruxo. Depois disso, o que se seguiu foi somente uma consequência do seu temperamento impulsivo, teimoso, curioso e impaciente. Não precisei fazer muito para te ter jogando o meu jogo. – Malfoy gostava de fazer-se ser detestável. – Mas veja bem. – ele tomou mais um gole de sua bebida. – Precisamos ter uma conversa que não vai o agradar muito.


 


-       Não acredito que um dia houve alguma que realmente me agradou. – retrucou Harry.


 


Draco não se mostrou impressionado e apenas continuou.


 


-       Muitas vezes me pego perguntando a mim mesmo qual foi a lição que o universo quis dar a humanidade ao nomear você para ser ‘o escolhido’. Por que não há duvidas de que é o maior idiota da história. – irritava ver que Draco Malfoy não parecia estar dizendo aquilo por pura implicância. – Isso era o que eu costumava pensar. Mas então quando me tornei pai, aprendi uma lição muito válida que fez meus olhos se abrirem. Existe uma lei que eu e Hermione decidimos numerar como a número um. A lei mais importante de todas. ‘Jamais dê recompensas a mal comportamento’. Podemos ter criados nossos filhos em uma bolha de superproteção até agora, mas jamais permitimos que fossem crianças mimadas. Parte disso porque vivi o quanto é difícil ter que passar por cima de uma má criação. Mas foi exatamente isso que me fez perceber a raiz de toda a sua idiotice, Potter. Você não passa de uma criança de dois anos de idade. Tudo o que você é, é um ser humano mimado que passou boa parte da vida sendo recompensando por mal comportamento e atitude. Pode soar até irônico visto que o mundo sabe que teve uma terrível infância vivendo com os tios, mas isso serviu apenas para piorar ainda mais sua situação. O pobre coitado e órfão Harry Potter, ele não teve uma boa infância, vamos ‘passar a mão em sua cabeça’ quando ‘pisar na bola’. – Malfoy o encarou. – E assim foi. Desde o primeiro ano quando quebrou quase todas as regras da escola. Passou por cima das advertências da autoridade de uma liderança como a do diretor de Hogwarts. Invadiu um espaço fora do limite estudantil. Quase matou a si próprio e os dois amigos que carregou com você. E no final o que ganhou? Pontos por bravura! Transformou sua tia em um balão durante as férias porque foi incapaz de conter seu temperamento impulsivo e agressivo quebrando uma das leis para menores mais importantes do mundo mágico, e o que o Ministério te dá em troco? Um castelo fortificado por Dementadores para o bem e proteção do indefeso menino-que-sobreviveu. E pouco me interessa saber se sua tia mereceu o não o que teve. Ou se um fugitivo que sofreu a degradação física e psicológica de anos em Azkaban estava atrás de você. No Torneio Tribruxo, você recebeu ajuda em absolutamente todas as provas agindo como o babaca que aparece na sala um minutos antes da aula começar e quer copiar a tarefa do coleguinha do lado. Sem contar a sua necessidade de querer ser o centro da atenção constantemente dando uma de herói impulsivo ou se colocando como vitima. O que é um padrão que te segue até hoje. No fim do quinto ano persuadiu alunos, de formação mágica ainda incompleta, a fugirem de Hogwarts nas costas de animais mágicos voadores, criando a necessidade de um conflito intenso dentro do departamento mais inseguro do Ministério da Magia, colocando em risco a vida de muitos, tudo porque foi incapaz de escutar todos os avisos que recebeu sobre a necessidade inquestionável de aprender Oclumência. E o que foi que recebeu como recompensa? O mundo inteiro o aclamando por ser ‘o escolhido’! Bom, dessa vez você ainda teve a consequência de acabar sendo responsável pela morte do padrinho. Mas será que podemos dizer que isso lhe serviu de lição? Acredito que não, porque sei que ainda levou mais quatro anos para aprender a proteger sua mente dos ataques de Voldemort. Isso porque não estou mencionando sua dificuldade de aceitar autoridade, leis e regras. Não estou mencionando sua teimosia em sempre empurrar a frente de tudo sua própria agenda, porque as suas suspeitas e necessidades são sempre as mais importantes e as que precisam ser atendidas agora e neste exato momento. Não estou mencionando seu incontido temperamento agressivo, raivoso e insatisfeito quando as coisas não estou saindo do seu jeito. Durante a guerra o que te manteve de pé contra Voldemort foram as inúmeras pessoas que se sacrificaram para te ajudar e quando elas foram caindo uma por uma devido a sua incapacidade de aprender outro feitiço que não fosse expelliarmus, tudo o que você conseguiu fazer foi sentir pena de si mesmo porque ninguém nunca te ensinou a passar por cima daquilo que te causa dor. E honestamente, Potter, o que te trouxe até a situação em que está agora foi que o mundo e as pessoas que o cercam o incentivou a fazer com que sentir pena de si mesmo fosse seu passatempo favorito. O pobre menino-que-sobreviveu, o triste título de órfão, a traumática infância, o peso de ser ‘o escolhido’. Perdeu os pais, perdeu a infância, perdeu a chance de ter paz na adolescência, perdeu a vida adulta em uma guerra, perdeu a mulher que ama. Você se joga de vitima até mesmo quando não tem a menor intenção, Potter. – Ele finalmente desviou o olhar para encarar o copo na mão antes de tomar mais uma longa golada apreciando o sabor da bebida com paciência para dar continuidade a seu monólogo. – Você sabe mais do que eu que entregou a Ordem em minha mãos porque não conseguiu lidar com a enorme pena que sentiu de si mesmo por ser um péssimo líder. – virou o último gole em seu copo. - É preocupante que eu dependa de alguém como você para ter Voldemort fora do mapa. – ele soltou o ar colocando o copo sobre a mesa. Encheu-o novamente. Tudo com muita calma e sem pressa. – Vai ser a face pública de Godric’s Hollow, mas não terá voz para interferir em absolutamente nada. O mundo apenas precisa saber que juntou-se a mim. Alan Casey é o líder do acampamento e ele será seu superior. Mas como sei bem que tem problemas com submeter-se a qualquer tipo de liderança, porque o momento que quiser agir não irá pensar duas vezes em passar por cima de quem for para ter seus impulsos idiotas atendidos, Casey decidiu separar as zonas iniciais para ficarem de olho naquilo ao qual vai estar sendo exposto. Quero continuar de olho nas suas motivações. Você está exatamente onde eu preciso que esteja e não quero ter a chance de te ter fora do trilho. Obviamente não está contente, mas tome isso como um... – apertou os lábios como se estivesse escolhendo pela palavra certa. - ... um castigo. – disse. – Um castigo temporário pelo ser humano mimado que é. Talvez se me provar ser mais inteligente do que tem se mostrado ser até agora posso te dar mais liberdade. Mas por enquanto, vou precisar ficar de olho. – bebeu mais uma vez. – Preciso de Mason comigo, mas ele tem passagem livre para entrar e sair da minha casa sempre quando quiser então a decisão será sua se irá querer continuar aqui ou mudar-se de volta para a casa de seus pais em Godric’s Hollow.


 


O silêncio se seguiu. Ele foi tenso, mas talvez somente para Harry porque Malfoy ainda parecia muito confortável com seu copo de conhaque e os pés cruzados em cima da mesa. Estava esperando por uma resposta. Harry ainda estava processando o amargo de cada palavra que tivera que escutar saindo da boca dele. Seus dentes estavam grudados e seus músculos travados. Estava completamente incapacitado de pensar qualquer frase coerente. Malfoy havia acabado de revelar uma enorme ferida que nem mesmo Harry tinha consciência de onde estava. Sabia que existia, mas nunca havia tido interesse em trazê-la a superfície. Era algo pessoal e ali estava Malfoy revirando e mexendo naquilo que pertencia somente a ele.


 


Privou-se de qualquer comentário. Sabia que qualquer jogo que tentasse com Malfoy era um jogo perdido e realmente não tinha interesse em entrar em qualquer conflito com ele. Decidira que gastaria energia somente com Voldemort de agora em diante. Mas se havia algo que ele sabia bem era que não abandonaria Hermione. A demonstração de humanidade que ele vira nos olhos dela ao cuspir as palavras que cuspira para Malfoy horas mais cedo fora suficiente para que grudasse em sua memória. Aquilo tinha que significar algo.


 


-       Vou continuar aqui. – disse finalmente sentindo os músculos de sua mandíbula terem dificuldade de ceder.


 


Malfoy moveu os olhos para ele quase que no mesmo instante. Havia o surpreendido. Ainda não entendia como, mas havia o surpreendido. Malfoy nunca, nunca parecia surpreso por nada.


 


-       Quer ficar, Potter?


 


-       Sim.


 


Malfoy o analisou. Tomou um longo tempo para isso. Em silêncio ele conseguia quase escutar os neurônios do homem e todas as substâncias que os compunham vibrarem enquanto ele pensava, pensava e pensava.


 


-       Quer ficar aqui por causa dela, não é? – ele finalmente soltou depois de muito tempo.


 


-       Hermione. – sim. Ela.


 


-       Minha esposa. – ele pausadamente jogou contra Harry.


 


-       Se orgulha disso? Eu a conheço melhor do que ninguém. Melhor do que você. – sentia a necessidade de cuspir.


 


Draco riu ao escutar aquilo. Riu muito confortavelmente. Desviou o olhar e virou um gole de sua bebida. Pausou analisando o copo em sua mão, tirando alguns segundos para o silêncio.


 


-       Você não a conhece, Potter. Eu não a conheço. Nem mesmo ela realmente se conhece. – ele soltou vagamente, como se estivesse preso em seus pensamentos.


 


-       Por que diz isso? – perguntou curioso.


 


Ele soltou o ar com calma. Virou a bebida de uma vez só. Pareceu debater consigo mesmo se deveria ou não responder aquela pergunta.


 


-       Porque acabo provando, assim como ela, do instinto de sobrevivência que ela carrega nas veias quase que diariamente. – ele respondeu. O que aquilo queria dizer? - Me conte, Potter. – tornou a encher o copo. – Me conte uma memória feliz que tem com ela. Eu sei que tem muitas. Mas quero escutar apenas uma.


 


Harry poderia ter feito uma careta se seu rosto inteiro não doesse tanto pelo nível aleatório em que aquele pedido havia sido feito.


 


-       Por que? – não entendi porque ele estava tomando aquela direção.


 


-       Me da paz visitar as lembranças que mostram a estranha e maravilhosa mulher que ela é obrigada a esconder agora.


 


Harry não soube realmente como reagir ao estranho teor daquela conversa. Revirou sua memória quase que automaticamente sentindo-se especial por ser dono das lembranças que tinha com Hermione e quase sentiu prazer ao saber que as abriria para o homem que clamava ter posse dela.


 


-       Não me lembro quando exatamente, mas em algum momento de quando estávamos em Hogwarts Hermione fundou uma organização a favor da libertação dos Elfos Domésticos. Ela não conseguia digerir nem aceitar que eles fossem escravos de uma magia. Virava noites fazendo gorros, luvas e cachecóis para que os Elfos de Hogwarts tivessem com o que se cobrir para aguentarem os meses de inverso. Era o único tempo que ela tinha e ela sacrificava o seu sono pela causa sem reclamar. As pessoas a olhavam torto por isso. Eu muitas vezes descia no meio da noite quando não conseguia dormir ou quando tinha um sonho ruim e nós ficávamos conversando por horas. Ou as vezes ela me convencia a deixar a torre da Grifinória no meio da noite usando minha capa da invisibilidade para espalhar os acessórios de inverno pelo castelo para que os Elfos pudessem encontrar. Em uma dessas noites ela nos arrastou para o jardim e por alguma aposta idiota que fizemos acabarmos indo parar dentro do lago de Hogwarts. Estava frio e eu me lembro que mesmo assim ficamos apenas com nossas roupas de baixo para mergulharmos. Aquela noite fiz uma nota mental sobre como Hermione não era uma criança quando a vi molhada e com tão pouco tecido a cobrindo. Talvez tivesse me apaixonado se não estivesse interessado por Cho Chang aquela época e se não me obrigasse tanto a ver Hermione apenas como uma amiga já que sabia que Rony estava desenvolvendo um ciúme quase que doentio por ela. Mas nós rimos alto jogando água um no outro, tentando afogar um ao outro, até que a Lula gigante nos encontrou e tentou nos segurar dentro da água. Não sei como conseguimos escapar, mas conseguimos. Corremos sem nos preocuparmos em nos esconder novamente debaixo da capa, sem nos preocuparmos se nossas gargalhadas iam acordar o castelo inteiro quando fizemos nosso caminho de volta para torre da Grifinória, sem nos preocuparmos se estávamos morrendo de frio ou não molhados como estávamos. Rimos disso por um bom tempo. Relembrar isso agora me faz querer que eu tivesse a beijado aquela noite. O bom humor dela sempre me encantou. A risada dela. O sorriso no rosto. O brilho dos olhos dela. – calou-se. Malfoy continuou em silêncio encarando o copo que tinha novamente em mãos. Harry o observou. Ele parecia imerso dentro dos próprios pensamentos. Harry poderia até julgar que ele não estava o escutando. – Você a ama? – ousou perguntar.


 


Draco Malfoy puxou o ar ainda com o olhar vago.


 


-       O que é amor, Potter? – soltou o homem.


 


Harry já não sabia mais o que estranhar em toda a situação que estava se vendo ali.


 


-       Um sentimento que te move, te impulsiona, te motiva. – respondeu incerto.


 


-       Raiva também é um sentimento. – retrucou ele - Inveja, rancor, ódio, frustração. Qualquer sentimento tem o poder de te mover, te impulsionar e te motivar. Qualquer sentimento tem potencial para ser forte e intenso. Assim como qualquer sentimento também tem o potencial de ser passageiro, e eu me recuso a acreditar que o amor esteja em um nível tão instável quanto o de um sentimento. – ele disse e Harry não soube exatamente como reagir ao fato de estar escutando aquilo da boca de Draco Malfoy.


 


-       O que é amor então? – curioso novamente.


 


-       O que é amor? – Malfoy repetiu a pergunta deixando-a no ar. Ele não sabia. Ou talvez tinha suas teorias e preferia mantê-las guardadas para si.


 


Tinha que fugir daquele tópico. Era estranho demais estar filosofando sobre amor com alguém que ele queria poder matar.


 


-       Você acha que Hermione está muito longe da pessoa da minha lembrança? – teve que perguntar. Ele havia se referido a mulher que ela tinha que esconder agora. Isso significava que ele conhecia uma Hermione diferente da que ela mostrava para o mundo agora.


 


Malfoy pareceu novamente debater com seus próprios pensamentos. Harry esperou novamente o minuto que ele tomava para chegar as suas conclusões.


 


-       Ela tem que estar. – foi o que ele respondeu.


 


-       Ela se faz de fria, mas eu sei que existe um resto de humanidade nela.


 


-       Se pudesse realmente ver o tanto que Hermione precisou mudar e como teve que ser rápido não duvidaria que ela tem potencial para perder toda gota de humanidade que um dia correu em suas veias. – ele soltou muito calmamente como se não desse valor para o peso das palavras que havia deixado no ar. Tomou de uma vez a bebida no copo e levantou-se como se verbalizar aquilo fosse expor um medo que ele mesmo carregava e que aquilo era um sinal de que já fora longe demais. Caminhou até a porta deixando Harry saber que seu tempo ali estava chegando ao fim. – Preciso que pare de sentir pena de si mesmo, Potter. Não gosto de vitimas, gosto de guerreiros e guerreiros não reclamam. Fatos não se importam com seus sentimentos. Encontre sua identidade. Preciso de um homem matando Voldemort, não uma criança. – disse e bateu a porta ao sair.


 


 


Draco Malfoy


 


 


Pegou a pena do duende, representante de Gringotes, logo a sua frente. Encarou o documento sobre a mesa e passou os olhos por cada palavra novamente. Estava prestes a cortar o acesso aos cofres da família por Brampton Fort e por todos os outros fortes de Voldemort. Isso significava que estava cortando os fundos de sua mãe, seu filho e seu pai que ainda permaneciam presos na Cidade dos Comensais. Não podia arriscar que os cofres de sua família estivessem ligados a quem Voldemort tinha facilmente acesso. Nem mesmo podia continuar permitindo que sua mãe tivesse que lidar com o jogo que Voldemort faria com ela sabendo que ela tinha acesso aos cofres. Ele precisava eliminar aquilo de sua mesa, mesmo que significasse cortar os fundos de parte de sua família.


 


Fingia ler mais uma vez o documento, embora estivesse apenas concentrando-se em não hesitar. Não podia hesitar. Hesitar significaria ter que lidar com os pensamentos que lhe condenavam da crueldade que estava prestes a fazer com sua própria mãe e seu próprio filho. Precisou fingir mais de uma vez porque o corroía saber que não conseguia concentrar-se o suficiente para simplesmente não hesitar.


 


-       Sr. Malfoy. – o duende manifestou-se. - Antes que assine, preciso lembra-lo mais uma vez de que isso nunca foi feito por nenhum mestre da família Malfoy antes na história.


 


-       Nenhum deles teve que lidar com a situação que estou lidando agora. – foi tudo que Draco respondeu.


 


O duende apenas limpou a garganta em resposta. Draco sentiu que o duende de Gringotes estava percebendo seus músculos hesitarem. Molhou a pena no tinteiro e a levou até o final da página do documento.


 


Não pense, Draco. Apenas não pense.


 


Sabia porque deveria fazer aquilo. Sabia que aquilo trazia não só segurança aos bens da família, mas como também as jogadas que vinha fazendo contra o império de Voldemort. Aquilo era necessário. Não podia pensar em sua mãe e seu filho. Tinha que focar-se apenas nos benefícios que assinar aquele documento o traria. Sabia que seria difícil e havia se convencido de que conseguiria ser o Malfoy que precisava ser.


 


Assinou.


 


A tinta reluziu por um breve segundo antes de cravar-se definitivamente no pedaço de pergaminho do banco bruxo. Estava feito. Seus bens estavam protegidos e longe de Voldemort. Assim como também estava longe de qualquer outro membro da família que não fosse ele ou Hermione.


 


Devolveu a pena ao duende e o encaminhou até Tina, que faria o caminho dele de volta ao Beco Diagonal dentro da segura passagem mágica que criara por entre os feitiços de proteção de sua propriedade. Quando retornou para o escritório que usava na ala central de sua casa sentiu o peso imaginário em seus ombros aumentar um pouco mais depois de assinar aquele documento.


 


Olhou os jardim ainda mal iluminado de sua casa pela janela naquela sala. Não demorou a procurar por bebida indo logo para o móvel onde as guardava. Puxou a garrafa de Whisky e encheu um copo. Não podia se permitir beber direto da garrafa. Soltou o ar ainda encarando o copo cheio.


 


Não fazia muito tempo que virara alguns copos de conhaque na companhia do ilustre perdedor Harry Potter. Ali estava ele desejando poder beber whisky direto da garrafa. Conhecia aquele tipo de comportamento e sabia das consequências que ele carregava. Deu as costas ao copo e viu Fox pedir permissão para entrar pela porta que estava aberta.


 


-       Vamos sair amanhã cedo. Tudo está em ordem e bem programador. – Fox anunciou.


 


-       Perfeito. – respondeu Draco. – Acredito então que todos estão liberados para uma noite de descanso. – Fox concordou. – Mas ainda preciso que Devon esteja atento com as corujas de Theodoro. – Fox tornou a concordar. Recebia corujas da Catedral desde a aparição dos Dementadores. Theodoro lhe mandara uma aquela manhã com uma foto que ele guardava em sua mesa de Hermione e os filhos juntos. O recado havia sido simples quando a fotografia queimou lentamente e virou cinzas em sua mão quando a pegou. – Está livre para descansar, Fox.


 


O homem fez uma pequena reverência e deixou a sala. Draco passou as mãos pelos cabelos e tentou não se fazer lembrar de que havia um copo cheio de bebida as suas costas. Bufou. Estava cansado. Estava tenso.


 


Deixou aquele andar indo direto para o subsolo da ala central. A única ala com sobsolo. As mentes mais brilhantes da Comissão, os bruxos devotos a Hermione e toda sua sabedoria e conhecimento estavam ali numa produção incessante e interminável da especial poção que havia sido apelidada de ‘o antídoto’. O antídoto contra a magia da Marca Negra.


 


Verificou a quantidade de caixas que estavam sendo despachadas para os aliados de sua causa. Isaac Bennett estava conseguindo infiltrar algumas dentro do Ministério da Magia para uma distribuição ilegal e discreta do antídoto. Draco estava tentando encontrar formas de levar uma quantidade significativa para dentro dos fortes também. Precisava infiltrar aquela poção em todos os lugares. Logo conseguiria fazer aquele tráfico de poção fluir perfeitamente.


 


Quando ficou satisfeito com o progresso na produção da poção chave, ele viu-se finalmente livre para descansar até a manhã do dia seguinte. Assim como liberara Fox e o resto de seus aliados. Caminhou para sua ala privada disposto a acreditar que conseguiria fechar os olhos e dormir. Seus pés o levaram a torre que dividia com Hermione, mesmo que os dois estivessem evitando realmente dividi-la ultimamente. Eles haviam se distanciado. Por obrigação. Assim como haviam concordado. E acabara sendo naturalmente difícil viverem algum tipo de afeto quando precisavam ser tão duros ao conduzir aquela guerra contra Voldemort e terem que lidar com o peso de todo o stress que viviam. Era bom e ruim. Bom por ver cada vez mais longe a lembrança da família que um dia foram, o que facilitava suas tomadas de decisões. E ruim pela desumana falta que lhe fazia.


 


Parou quando chegou as escadas de mármore que o levaria até seu quarto. Ele carregava tanto peso em suas costas. Tanto peso que o furacão em seus pensamentos era tão constante quanto a tensão em seus músculos. Chegava a irritá-lo. A estressa-lo. Queria beber. Queria quebrar algo. Queria o silencioso conforto de Hermione que não podia ter. Acabou sentando em um dos degraus. Exausto. Bufou enterrando o rosto nas mãos.


 


Sabia que Hermione estava no quarto e ele não queria lidar com ela e toda a situação dos filhos. O dia inteiro ficara afastando aquilo de sua cabeça simplesmente porque sabia que seria incapaz de funcionar como ser humano na situação em que se encontrava se não empurrasse tudo aquilo para longe de sua consciência. Mas agora que tudo que ele precisava fazer era esperar que o dia amanhecesse, era como se toda a carga emocional que ele tentara afastar durante o dia inteiro estivesse vindo com sede de vingança contra ele agora.


 


Hermione vira quando recebera a coruja de Theodoro aquela manhã. Vira a fotografia dela e dos filhos virar cinzas em sua mão. Horas depois conseguira conectar-se com Narcisa via um espelho qualquer, visto que ela enfeitiçara todos na casa, e recebeu a noticia de que sua mãe fora afastada de seu filho e estava atualmente sendo mantida em Whitehall. Não muito tempo depois, tanto ele quanto ela começaram a ser bombardeados por alertas de Molly Weasley. Hera estava inconsolável. Hermione quis ir cuidar da filha, mas foi quase que automático quando Draco sentiu-se obrigado a lembra-la do quanto aquilo tinha potencial para enfraquece-los. Eles já haviam discutido que afastar-se do elo que os unia como família era vital para enfrentarem os sacrifícios que teriam que fazer. Correr até a filha porque ela estava inconsolável, provavelmente devido a algo que estava acontecendo a Scorpius já que eles eram estranhamente conectados, era o mesmo que mergulhar na bolha emocional e frágil que havia entre eles. Hermione ficara absolutamente furiosa. Furiosa ao ponto de trazer a tona a filha que eles haviam perdido. Furiosa ao ponto de não se importar em perder a postura na frente de quem estivesse por perto. Aquele era o lado mãe dela. O lado humano dela. O lado humano que ela passara o resto do dia matando porque sabia bem que ela não fora visitar a filha apesar de ter ficado tão furiosa.


 


Ela vinha se fechando de uma forma que o assustava. Sabia que ela estava tentando encontrar um ponto onde pudesse conseguir ser inquestionavelmente forte, mas ela vinha matando tudo que havia nela para conseguir encontrar esse determinado ponto. Draco detestava ser a pessoa que tinha que redirecioná-la quando ela tinha seus momentos de fraqueza. Ele não a culpava. Ela era mãe e a insanidade de ter os filhos longe a consumia. Assustava-se com a maestria de Hermione em conseguir dominar aquilo com crueldade para ser forte, porque era o caminho que precisava seguir. Talvez só ele e seu sangue Malfoy se importasse e se preocupasse que Hermione era tão comprometida a matar toda humanidade que a tornava fraca. Talvez fosse culpa dele já que havia a ensinado a importância de ser impenetrável. Os potenciais que Hermione guardava nela. Seu instinto de sobrevivência aflorado. O fato dela saber se desprender do emocional para sustentar-se na lógica era quase que um superpoder que ela tinha. O assustava, porque sabia que ela pulara da mulher que Harry havia descrito em sua lembrança para o que era agora.


 


Focou-se no silêncio que o cercava naquele momento. O quarto de sua filha estava a poucos metros dali e ele não conseguia escutar o choro dela. Certo que já havia passado horas do horário que ela normalmente ia para cama, mas ainda assim, sabia que a conexão entre o irmão e ela seria suficiente para mantê-la acordada se algo realmente terrível estivesse acontecendo a ele.


 


Talvez estivesse cometendo um erro enorme. Na verdade, estava sim cometendo um erro enorme. Mas levantou-se e avançou para fora do salão de mármore, seguindo por um corredor pequeno que o levou para uma confortável sala com entrada para dois quartos, uma de cada lado da sala. Um vazio, que seria o de Scorpius e o outro onde Hera deveria estar. A luz estava baixa e o silêncio era quase que consumidor. Foi em direção a porta entreaberta do quarto de Hera e espiou abrindo mais a porta com extremo cuidado.


 


Molly Weasley estava sentada em uma poltrona do lado oposto onde sua filha dormia pacificamente no berço. Ela ergueu os olhos extremamente cansados para o visitante. Fez menção de que iria se levantar, mas ele logo ergueu a mão em sinal para que ela parasse continuasse onde estava. Ele só queria ver a filha. Iria ignorá-la se ela igualmente o ignorasse.


 


Entrou na penumbra do quarto bem decorado da filha pisando no tapete extremamente confortável e foi silenciosamente até o berço. Seu corpinho pequeno e indefeso vestindo o aveludado macacão de pijama dormia de bruços segurando entre os dedinhos frouxos um pequeno unicórnio de pelúcia anexado a uma chupeta. Tanto Hera quanto Scorpius odiavam chupetas, mas o fato dela estar segurando uma servia de aviso que Molly Weasley tentara realmente de tudo para acalmá-la.


 


Seu coração apertou. Sua pequena princesinha exploradora e falante. Fazia dias que ele não via o brilho dos olhinhos dela. Fazia dias que não a segurava em seu colo e a fazia gargalhar passando sua barba rala pelas bochechas rosadas e macias dela. Fazia dias que não usava suas mãos de apoio para que ela tentasse dar seus primeiros passinhos. Fazia dias que não escutava os sons engraçados que ela soltava ao tentar conversar. Fazia dias que não a via. Sua filha. Sua metade. Sangue do seu sangue. A dor em seu peito enfraqueceu todos os seus membros. Sua garganta apertou. Ele foi até o chão agachando-se sem forças diante a figura da filha em seu pacífico sono logo a sua frente. Hermione podia ter seus momentos, mas ele tinha certeza que ela não cedera a vontade de ir ver a filha. Ele por outro lado, tentava manter sua constância e a fachada da indiferença, mas quem estava enganando? Ele estava ali. Cedendo a sua fraqueza. Ela era mais forte do que ele. Desde quando era mais humano do que Hermione?


 


Seus olhos embaçaram encarando toda a perfeição que ela era. Os cinco dedinhos em cada mão. A pele suave e sem qualquer defeito. Os longos cílios. Os fios prateados que começavam a se alongar. A pequena boca rosada. O narizinho minúsculo. Como que poderia haver no mundo uma bebê mais perfeita do que ela? Era sua filha! E o que ele estava fazendo? Estava a entregando na mão de outra pessoa simplesmente porque sabia que estar conectado demais a ela o enfraqueceria. E era exatamente disso que ele estava falando quando se via ali naquele quarto sem forças encarando-a dormir. Naquela altura ele não poderia nem mesmo pensar em Scorpius porque sabia que causaria um grande estrago a sua sanidade.


 


O que estava fazendo? Não sabia se deveria se perguntar isso porque estava ali ou porque estava se permitindo afastar-se da filha. O que infernos estava fazendo? Soltou o ar e apertou os olhos tentando impedir que a dor em seu coração fizesse qualquer tipo de líquido escapar de seus olhos. Soltou o ar sentindo como se não conseguisse respirar normalmente. Precisava sair dali. Encarou a filha novamente. Ele queria pegá-la em seu colo. Estendeu a mão por entre as grade do berço e desenhou com a ponta dos dedos a direção em que seus fios prateados cresciam. Sua mão era enorme em comparação a toda delicadeza de seu bebê.


 


-       Por favor, não a acorde. – Molly Weasley sussurrou muito baixo de onde estava. Draco somente a ignorou.


 


Ele tinha que seguir com sua agenda contra Voldemort e precisava tornar suas fraquezas algo fácil para lidar. Estar ali definitivamente as tornava difíceis e quase insuportáveis de lidar. Levantou-se e afastou-se do berço, antes que sua presença ali acabasse a acordando. Deus sabia o quanto ele queria que ela abrisse os olhinhos. Deus sabia o quanto queria ver o brilho deles novamente. Mas sabia também que ela se agarraria a ele e ele se agarraria a ela e se aquilo acontecesse ele não sabia se teria forças para soltá-la.


 


-       Eu sei que se importa com sua filha. – Molly Weasley o seguiu para fora do quarto ainda sussurrando, mas sendo firme para ter a atenção dele. Draco parou. – Você não tem ideia do estado miserável em que ela esteve hoje o dia inteiro! Fazê-la comer foi um sacrifício. Fazê-la dormir foi um sacrifício. Fazê-la fazer qualquer coisa foi um sacrifício. Eu acabei de ver que realmente se importa com ela. Por que não dá a ela a atenção que precisa?


 


Ele permaneceu de costas tentando fazer passar por sua garganta o fato de que não devia nenhuma justificativa a uma Weasley.


 


-       Não faça julgamentos sobre o que não sabe. – ele não conseguiria lidar com alguém o recriminando verbalmente sobre o que estava fazendo sua família passar.


 


-       Eu estou julgando uma mãe e um pai que não veem a filha a dias. Um pai e uma mãe que não foram capazes de atender o chamado dela quando precisava. Um pai e uma mãe que...


 


-       Cale-se. – cortou sem nem mesmo precisar voltar-se para ela. – Engula o seu julgamento. – não se importou em sussurrar como ela. – Estou ocupado em tentar garantir que minha filha tenha um futuro. Tanto ela quanto o irmão. Irei permitir que me julgue o dia que souber o mínimo do que isso tem me custado. – concluiu e seguiu seu caminho sem ser perturbado pela mulher outra vez.


 


Cada passo que dava sentia como se a força que o atraia até a filha ficava mais tolerável. Não porque não se importava com ela, mas porque sabia o que estava fazendo. O sacrifício era alto e doloroso, mas ele sabia o que estava fazendo.


 


Subiu as escadas de mármore até o quarto sem parar no meio do caminho, não permitindo se sentir dominado pela tensão em seus músculos dessa vez. Encontrou Hermione na antessala do quarto parada de frente para a lareira encarando estática o fogo crepitar. Ela vestia seu longo robe de seda azul marinho. Os cabelos estavam soltos fazendo a cascata de camadas, cachos e ondas descerem por suas costas. O rosto provavelmente livre de qualquer maquiagem. Abraçava o corpo o próprio corpo encarnado a lareira. Ela não fez qualquer movimento que fosse para demonstrar que notara a presença dele. Apenas a observou por alguns segundos. Gostava do cabelo dela. Tinha uma beleza ingênua e doce naquelas ondas. Tinha um calor acolhedor.


 


Avançou e parou logo a alguns metros dela, logo as suas costas. Céus, a situação entre eles não estava boa e ele não queria ter que lidar com aquilo. Lidar com a relação deles era difícil. Lidar com Hermione era difícil. Tudo era tão difícil ultimamente. Puxou o ar para abrir a boca uma ou duas vezes até desistir. Não estava pronto.


 


Foi até o quarto. Livrou-se da gravata. Abriu alguns botões de sua camisa e puxou as mangas até a altura dos cotovelos. Sentou-se na beira da cama e a mínima amostra de conforto estava querendo o fazer entregar-se a tensão e ao desespero. Passou a mão por sua barba rala que não tivera tempo de fazer. Ele não fazia o tipo procrastinador.


 


Levantou-se e foi direto em direção ao aparador próximo a uma das janelas, onde encheu um copo de conhaque. Segurou-o entre os dedos e encarou o conteúdo no copo. Tinha orgulho das bebidas caras que podia consumir como se não tivessem valor nenhum. Naquele momento tudo que ele sentia era vergonha por desejar o efeito que aquela bebida teria em seus músculos. Ele precisava aliviar sua tensão.


 


Não era nem nunca havia sido um viciado. Tivera seus momentos em que mergulhar na bebida para aliviar a ansiedade fora o caminho mais rápido, mas sempre fora muito bem consciente de que a bebida não resolvia seus problemas, apenas os encobria. Ele abominava completamente toda a ideia. Seria definitivamente um viciado se o álcool realmente pudesse dar uma solução definitiva a seus problemas. Portanto, quando encarou aquele copo e se convenceu de que ele seria o único que tomaria, sabia bem ele seria o único, porque precisava estar bem no dia seguinte para seguir em frente com aquela guerra contra Voldemort. Disciplina, auto domínio e controle fora algo em que ele aprendera a ser muito bom. Orgulhava-se demais disso para entregá-lo a uma mísera bebida.


 


Voltou para a antessala onde encontrou Hermione exatamente como antes. Quieta. Calada. Estática. Tomou um gole do líquido âmbar no copo em sua mão e avançou. Passou por ela e encostou-se de um lado da decorada moldura da lareira podendo encará-la de frente. Cruzou os braços e a encarou. Ela continuou com os olhos fixos no fogo. Imóvel. Estava limpa de maquiagem como ele havia previsto. Ele sempre admirara o quanto o rosto dela era perfeito sem a pintura que ela era obrigada a fazer todos os dias. Ele gostava de ver o rosado natural das maças e das pálpebras do rosto dela. Do vermelho muito suave na ponta de seu nariz em contraste a sua pele pálida. Das poucas sardas. Da pele uniforme e macia exposta em sua cor natural. Do tom pêssego em seus lábios sempre suculentos. Tudo nela gritava perfeição quando em modo natural. Se todo homem que cruzava o caminho dela parecia a querer, ele não conseguia imaginar o nível de desejo que eles teriam se pudessem ver o que Draco via quando ela se despia de tudo no fim do dia. Ela era completamente desejável não importasse a raiva que detinha contra ela naquele momento ou não. Não importava o brilho que ela detinha nos olhos. Não importava a tensão que houvesse. Em momentos como aquele, sentia-se extremamente incomodado com o quanto aquela mulher atraia tudo que estava a sua volta, independente das circunstâncias. Ele se incomodava porque quanto mais tempo e mais intimidade tinha com ela, mais sentia-se dependente dessa atração, mais sentia-se parte do encanto dela. Tinha que haver algo de errado naquilo.


 


-       Chegou a hora do dia em que “lidar com minha esposa” estava escrito em sua agenda? – ela manifestou-se sem tirar os olhos do fogo. Completamente séria.


 


Engoliu o humor dela. Não estava disposto a seguir aquela direção. Iria direto ao ponto.


 


-       Eu quis acabar com você hoje.


 


-       Deveria ter feito.


 


-       Evito fazer escândalos. – provocou. Viu os lábios dela quererem comprimir-se. – Você foi longe.


 


-       Eu sei. – ela estava seca.


 


-       É só isso que vai dizer? – manifestou-se quando o silêncio seguiu as últimas palavras dela.


 


-       Quer que eu me desculpe? – ela estava brincando com aquele teatro de “é você quem tem a razão”.


 


-       Não me faça te odiar agora.


 


-       Algum dia parou? – ela finalmente o encarou. O olhar dela estava completamente opaco. Vazio. 


 


-       Não nos leve para essa discussão, Hermione. – alertou-a.


 


Ela apenas piscou calmamente e tornou a colocar os olhos sobre o fogo. Sem vida. Calou-se por alguns segundos. Ele pensou em dar as costas e desistir daquela interação visto que ela já assumira seu erro. Mas então quando decidiu definitivamente sair, ela começou:


 


–      Astoria conseguiu mandar uma coruja enfeitiçada mais cedo. Ela foi a Brampton Fort. Fizeram algo de ruim a Scorpius. Ele usou magia para se proteger, mas não sabe o que faz. Está bloqueando que qualquer um aproxime-se dele. Não conseguem alimentá-lo, trocá-lo, tocá-lo. Ele tem apenas um ano. Astoria acredita que ele não vá conseguir segurar a magia por muito tempo, mas teme pelo mal que ele irá fazer a si mesmo se conseguir. - Ela disse cada uma daquelas palavras com um tom uniforme, calmo, firme, frio e despido de qualquer emoção. – Esteja pronto quando Theodoro for usar isso contra você.


 


Lutou para não deixar seu coração cair. Lutou para que o fato de Scorpius ser seu filho não o levasse ao chão. O bebê que ele muitas vezes balançara em seus braços para fazer dormir. O bebê que não muito pouco tempo atrás roubava seu sono se pegasse apenas um resfriado. Ele era só um bebê e havia sido pressionado ao ponto de conseguir produzir magia involuntária na pouca idade que tinha. Draco não poderia deixar que sua mente vencesse com todos aqueles pensamentos para enfraquece-lo. Não podia permitir que lamentasse pelo filho.


 


-       Acaso você já está pronta? – ele teve que perguntar. Por que ela quem havia perdido o controle horas mais cedo e era óbvio a esse ponto que Theodoro não demoraria para usar aquilo contra eles.


 


-       Estou matando uma parte de mim a cada dia. Tenha mais paciência. – foi tudo que ela disse.


 


Ele sabia que ela não estava. Como sabia. Todo aquele esforço dela o irritava. Ela não estava pronta, a prova disso fora o ataque que dera mais cedo, mas ela não estava pronta ainda. Sabia que ela estaria logo e a ideia de uma Hermione completamente fria por fora e morta por dentro o assustava.


 


-       Matar todas essas partes de si significa se obrigar a ficar aqui o dia inteiro escutando o choro da sua filha de longe para provar a si mesma de que consegue não ir até ela? De que pode abrir a boca para falar sobre a frágil situação do seu filho sem demonstrar sequer um cisco de emoção? Eu a vi ser forte quando tinha tudo para não ser. Eu a vi se manter de pé em longas sessões de tortura na Catedral onde era obrigada a ver coisas horrível. Eu a vi apontar a varinha e proferir maldições para quem sabia que não merecia. Eu a vi fazer escolhas que colocavam a vida de muitos em suas costas. Mas eu também estava lá quando o peso de tudo isso a fazia passar mal, quando tremia e chorava escondida tirando a armadura que vestia para aguentar o mundo ao qual estava sendo submetida a viver. Eu me familiarizei com essa mulher. Eu me sinto confortável com essa mulher. Eu aprendi sobre essa mulher. Interessei-me por essa mulher. Mas o que vejo agora me assusta, Hermione, porque eu sei que o rosto para o qual eu estou olhando nesse exato momento é o rosto de alguém que não derramou uma lágrima hoje.


 


-       O assusta? – ela estreitou os olhos e o encarou. - Como você ousa não considerar isso uma vitória? Não pode me condenar pelo modo como acabei agindo mais cedo e ao mesmo tempo se preocupar com a minha frieza.


 


Ele quis deixa-la. Quis sair da presença dela. Irritava-o. Aquele mecanismo que ela usava para se proteger. Aquela necessidade de enterrar para sempre um lado seu que era bem característico. Ela não entendia que ele apenas queria que ela encontrasse um balanço. Que vestir uma máscara não significava se transformar nela por completo. Hermione estava empenhada em matar a mulher que ensinara o coração dele a ceder. A mulher que enxergava as cores numa saturação que ele não via, a mulher que não tinha interesse em pisar em ninguém pelo poder, a mulher que não tinha vergonha de ser altruísta, de pensar no outro primeiro, gentil, ajudadora. Draco odiava tudo aquilo em qualquer outra pessoa, mas não nela, e ela estava eliminando aquele lado de seu caráter. Ela estava se tornando alguém como ele. Na verdade, estava se tornado alguém melhor do que ele, mais fria do que ele, mais inabalável do que ele, mais egoísta do que ele, mais ambiciosa do que ele. E o que amargava em sua garganta era saber que ela conseguiria. E conseguiria rápido. Porque não havia nada que pudesse parar Hermione. E porque, infelizmente, sabia da natureza real dela. Ele reconhecera aquilo quando viu que ela foi capaz de eliminar de si mesmo a Marca Negra de Voldemort. Não existia nada que pudesse segurar Hermione. E o que o preocupava era: Até onde ela realmente tinha consciência disso? Draco preferia acreditar que Hermione ainda não se permitia explorar todo aquele potencial.


 


-       O que quer ser quando tudo isso acabar? – teve que perguntar.


 


-       Inquebrável. – ela respondeu sem hesitar, como se não fosse óbvio.


 


Ele uniu as sobrancelhas irritado por não acreditar que ela ainda não havia encontrado a falha naquele discurso.


 


-       Que tipo de soberania você quer, Hermione?


 


-       A nossa!


 


-       Nossa? – ele questionou. – Tem certeza?


 


Foi a vez dela unir as sobrancelhas.


 


-       O que está sugerindo?


 


-       Estou sugerindo que o que realmente quer é a sua soberania! Quer que as pessoas a temam. Quer que ninguém nem mesmo tenha a ideia de pensar em tocar em você ou naquilo que tem debaixo de suas asas nunca mais! Você reconheceu que a dor vem da sua fraqueza em se importar demais. Quer deixar de se importar para se tornar impenetrável.


 


-       E você teme que por causa disso eu acabe me tornando alguém como Voldemort? – Estava claramente irritada. Ele lutou para não engasgar com o que ela acabara de lançar contra ele. Sequer havia se dado o direito de permitir que isso se passasse pela sua cabeça e ela mesmo já tivera corrido a maratona que ele não correra para acabar soltando uma conclusão daquele peso. – Voldemort arrancou e vai arrancar de mim toda a vida que eu escolher viver. Ele primeiro tirou de mim meus pais, depois tirou de mim meu mundo para me jogar no cruel que ele criou exclusivamente para mim. O mundo onde ele permite que eu me apegue a um homem que sempre odiei. O mundo onde ele me faz ser parte da maldição que é ser um Malfoy e ter que viver com todas as máscaras que vem com esse sobrenome. Um mundo onde ele decide que filho meu vai ganhar vida ou não. Um mundo onde ele me faz carregar a morte e a queda daqueles que eu costumava chamar de família. Um mundo onde pode tirar meus filhos de mim, onde ele pode me privar do poder de livra-los da natureza cruel que o cerca. Um mundo onde ele se vê no direito de poder me fazer ser uma estranha para meus próprios filhos! Eu tenho tentado vencer tudo isso com uma força fora do comum. É como se eu estivesse presa no meio de um poço sem fundo por mil correntes. É como se minha única opção fosse cortar meus braços e pernas, sacrificar aquilo que eu sou para poder me ver livre daquilo que me prende, para me ver sair do poço onde ele me enfiou. E é exatamente o que tenho feito. Mas a cada sacrifício que eu faço, com menos ferramentas eu me vejo para conseguir subir e mais e mais acabo me vendo ser engolida por mais mil correntes que me levam para baixo. Não importa o tamanho do sacrifício que eu faça, o jogo foi ele quem criou para mim, as regras foi ele quem estabeleceu, e eu estou destinada a ser a criação dele, não adianta a luta que eu lutar, a batalha que eu vencer. – Pausou como se precisasse absorver a raiva em seu discurso. Como se precisasse que aquela raiva fosse seu alimento.  - Você não vê, não é mesmo? – continuou. Distante. - Tudo o que vê e é capaz de julgar é a pele que eu venho inocentemente e tão cruelmente arrancando de mim mesma tentando me fazer sair da onde ele me prendeu. Não é uma visão muito bonita. Mas é a única escolha que ele me colocou nas mãos. Sabe disso. Portanto você vai se calar e vai aceitar que o poder que eu quero segurar para sempre em minhas mãos tem tudo a ver com o egoísmo, porque não quero que ninguém, nunca mais, sequer ouse em pensar tocar em mim e naquilo que me pertence.


 


Ele se manteve calado. Exatamente como ela havia exigido. Ele, na verdade, não se via tendo outra reação que não fosse o silêncio diante do monólogo dela. Ele queria poder dizer que aquilo era somente o produto da insanidade de uma mãe sem poder diante do sofrimento dos filhos, mas a verdade é que aquilo estava sendo gerado dentro dela muito antes até mesmo dos filhos terem sido concebidos. E era muito óbvio que ali, tendo que jogar uma das faces do jogo que Voldemort montara para ela, que era ser uma Malfoy, a indiferença forçada para com os filhos fazia com que ela enxergasse o mundo através de um filtro de dor e ódio que clamava por soberania. Preocupava-o.


 


-       As máscaras que usamos são apenas máscaras, Hermione. Não são o que somos. Isso tudo vai ter um fim. – sentiu-se obrigado a dizer.


 


A reação dela foi nula. Como se as palavras dele tivessem sido uma brisa mal apreciada. Não foi ouvida e pouco sentida. Os olhos dela apenas piscaram numa frieza paciente e continuou a encarar o fogo. O silêncio pairou seco entre eles. Draco viu que não havia mais o que precisavam discutir. Simplesmente passou por ela e voltou para o quarto onde virou num gole só sua bebida e seguiu para o banheiro, onde se enfiou debaixo de uma ducha gelada.


 


Por algum motivo seu cérebro começou a fazer uma minuciosa análise do comportamento de sua mulher desde quando pisaram o pé fora de Brampton Fort como inimigos do Império. Era quase inevitável não ser bombardeado de um turbilhão de sentimentos, preocupações e ansiedade.


 


Precisava do frio do inverno para anestesiar e congelar a incansável máquina que era o seu cérebro. Já que não o tinha, precisava se contentar com a água gelada caindo sobre sua cabeça. Não funcionava bem. Mas pensando bem, ele nunca estivera vivendo na beira do precipício como estava agora. Nem mesmo o frio o acalmava.


 


Fazia um bom tempo que ele não tinha a oportunidade de colocar uma calça de algodão. Normalmente gostava de usar apenas aquela peça como pijama, mas a vontade de querer fazer seu cérebro entender que precisava desligar para que ele pudesse descansar o fez pegar também um roupão grosso e macio para vestir. Penteou os cabelos molhados muito perfeitamente e tirou sua barba sem pressa. Temia pela hora que fosse deitar na cama. Não iria conseguir fechar os olhos. Não queria ter que passar a noite revirando, esperando pelo momento que ele pudesse levantar e continuar a levar aquela guerra ao fim.


 


Voltou para o quarto e pela porta, através da parede vazada, ele viu Hermione exatamente como havia a deixado. Parada de frente para lareira acesa encarando o fogo. Talvez ela fosse ficar ali a noite inteira. Ela, sua angústia, suas reflexões e sua vingança fria. Algo revirou dentro dele que lhe fez sentir um gosto amargo na garganta. A figura dela era quase intimidadora. Parecia ser o que o sofrimento dela projetava.


 


Viu seus pés o levarem de volta para a antessala. Parou a uma distancia segura logo as suas costas. O longo robe de seda cintilava. Os cabelos longos em cascata descendo pelas costas. A postura imóvel e tensa. Draco se viu engolindo o amargo em sua garganta mesmo quando sentiu que sua boca ficou seca e soltou:


 


-       Nunca dissemos um para o outro que nos amávamos. E por incrível que pareça sei que sabemos o porque evitamos essa palavra. – porque por tudo que tinham, pelo que haviam passado, pelo que estavam passando e por tudo que viria pela frente, ele já deveria ter dito que a amava.


 


O silêncio imediato dela provou a ele que ela fora pega de surpresa pelo peso da pergunta e pela escolha aleatória para a qual ela parecia ter sido trazida a luz. Draco tinha uma boa ideia de que Hermione tinha o que comentar sobre aquilo. E mesmo que ela escolhesse não dizer nada, ele estava pronto para trazer mais para a mesa, simplesmente porque já haviam chegado longe demais no relacionamento que tinham e ele estava farto. Mas então, surpreendentemente ela respondeu:  


 


-       Sei que se acredita que amor é uma escolha, duvida que possa fazê-la todos os dias para o resto de sua vida sabendo do potencial que eu tenho para ser uma inimiga. – respondeu sem emoção. Como se não se importasse. Como se não estivesse expondo uma enorme ferida que eles ignoravam sempre sem a menor pretensão de curá-la. E não que ela fosse realmente uma inimiga. Tudo era sobre a potencialidade que existia. E ele tentava se convencer todos os dias que era algo idiota que mantinha seus pés pronto para recuar, mas em momentos como aquele, quando via Hermione daquela forma, era praticamente impossível que um alerta não acendesse em algum lugar de seu cérebro. Sabia mais sobre ela do que queria e tentava esconder isso de si mesmo e dela todos os dias. – Não o condeno por isso. – Se ela realmente soubesse de tudo, definitivamente o condenaria. - Provavelmente também tem sua própria teoria do porque nunca disse que o amo, mesmo depois de tudo que construímos.


 


Ele quis abrir a boca cheio de convicção, pronto para negar tanto o lado dele quanto o lado dela que ainda insistiam em não destruir a fundação, as raízes, da muralha que um dia esteve de pé entre eles. Queria negar. Céus! Como queria! Havia uma força dentro dele quase mágica que o alimentava a dizer que não existia absolutamente nada que pudesse fazê-lo questionar a aliança deles. Nada que pudesse instigar a duvida. Principalmente agora que haviam duas vidas conectadas a eles. Mas a verdade é que a relação deles sempre carregaria um ponto frágil.


 


Ele sem duvidas era conectado a ela, sem dúvida era atraído a ela, sem dúvida podia dizer que era enfeitiçado por ela. Como não poderia ser? A mulher que muitas vezes deslizava os dedos suavemente pelos seus cabelos distraída enquanto amamentava o filho deles no meio da noite escura e silenciosa. A que contava histórias e fazia planos engraçados quando conversavam dos assuntos mais relevantes aos mais irrelevantes. A que gostava da companhia dele quando tinha a chance de estar em casa para assisti-la fazer o jantar. A que abria um sorriso leve quando ele a beijava para acordá-la nas primeiras horas da manhã. A que pedia para estar debaixo de seu corpo quando tinha sede do calor. Como ele poderia não se sentir completamente entregue a ela? Mas o fato de sentir o que sentia nunca fizera dele um homem menos racional, menos estratégico, menos inteligente. Ele protegia possessivamente tudo que era seu porque sempre fora o tipo egoísta que pensa apenas em si mesmo. Aquilo que lhe pertencia eram extensões de si mesmo. E nunca, mesmo depois de tudo que haviam tido, mesmo depois do contrato mágico que os colocava debaixo do mesmo sobrenome, mesmo lutando o que lutavam juntos, ele ainda não sentia que Hermione pertencia a ele. Era como se sempre, de alguma forma, ela mesma conseguisse se fazer escapar por entre seus dedos. E ele não queria ser Krum. Não queria ser Weasley. Não queria ser Potter. Porque de alguma forma ela fora de todos, e não se deixara ser de nenhum deles.


 


-       Duvida se realmente já amou um homem. – ele externou o que conspirava sobre o lado dela. - Porque de alguma forma sempre houve algo dentro de si alertando-a de que tem parte em algo maior. – e ele apostava que aquilo tinha grande peso em mantê-la longe de se entregar completamente a ele. Na verdade, ele apostava que aquilo a mantinha longe de se entregar a qualquer um.


 


Viu Hermione respirar fundo ao escutar aquilo. Deu-se tempo para digerir o que fora dito entre eles.


 


-       Mesmo se isso for o que realmente é, mesmo se não for, mesmo se houver mais um milhão de outros motivos, nós nos permitimos viver nosso bonito ‘‘castelo de areia’’. E a verdade é que nenhum de nós dois esteve empenhado em fazer do nosso relacionamento uma fortaleza. Temos a tendência de ignorar e evitar todos os pontos fracos do que eu e você juntos somos um para o outro. E são em momento como o que estamos vivendo agora, onde não estamos na bonita e gloriosa sala do nosso castelo fragilizado, que enxergamos todos os espaços em branco que existem entre nós. Não fomos feitos um para o outro. – ela disse. Remoeu aquilo com ela mesma por um tempo. – Doloroso, não é?


 


Draco teve que sofrer para aceitar aquela verdade. Não foram feitos um para o outro, e mesmo assim tentavam tanto fazer com que funcionasse ao ignorar todo o resto simplesmente porque era bonito demais.


 


-       Sim. – Teve que concordar. Definitivamente doloroso.


 


Hermione soltou o ar um tanto quanto incomodada.


 


–      Detesto falar sobre nós dois. Podemos parar? – pediu.


 


Claro que ela detestava. Assim como ele também odiava ter que verbalizar e discutir o pó que eles empurravam para debaixo do tapete. Era sempre terrível quando davam um show de honestidade, principalmente agora, que a relação deles não estava vivendo debaixo dos enfeites da falsa vida pacífica que viviam em Brampton Fort. O romance deles estava em um estado cru despido de vários artifícios, e ainda assim, doloroso que fosse, Draco o achava bonito em toda a sua nudez.


 


Aproximou-se.


 


-       Sim. – Aceitou. Tocou um lado de sua cintura muito calmamente com uma mão e com a outra afastou seu cabelo para expor um lado de seu elegante pescoço. Depositou ali um beijo muito paciente. Foi como tocar uma pedra de gelo. – Não quero nos perder, independente do que for. – precisava que ela soubesse daquilo. - Boa noite. – foi tudo que disse quando sentiu que não receberia qualquer reação de volta.


 


-       Noite. – a voz dela veio distante e baixa depois de um tempo muito longo. Foi tudo que ela disse.


 


**


 


Seu corpo inteiro pesava. Estava muito consciente de que dormia e sentia-se aliviado por isso. Era como se seu cérebro estivesse tentando encontrar formas de mantê-lo naquele estado sabendo de toda exaustão ao qual estava se submetendo ultimamente. Eventualmente, entretanto, a tensão em seus músculos acabariam voltando obrigatoriamente devido a todas as terríveis realidades que seus sonhos o fazia viver. Pulava de sonho em sonho confrontando os piores cenários possíveis. Como esperado, seus olhos abriram de uma vez quando sua consciência falou mais alto que seu cansaço.


 


Encarou o teto bem moldado de seu novo quarto. Ainda não havia se acostumado. Nem ele nem Hermione e por tudo que estavam passando, tornava-se ainda mais difícil encontrar o que havia os feito apaixonar-se por aquela propriedade. Respirou fundo quase que lamentando por saber que não conseguiria dormir novamente e procurou por Hermione quase que automaticamente sentindo falta da rotina de puxá-la para si quando acordava. Ela não estava ali. Talvez não estivesse estado em nenhum momento daquela noite.


 


Estranhou que via luz tentar passar pelas pesadas cortinas. Podia jurar que não conseguira dormir mais do que algumas miseráveis horas. Puxou o relógio da cabeceira da cama e viu que estava quase atrasado. Levantou com pressa deixando cair os mapas e as cartas, algumas ainda seladas, que acabara ficando sobre ele quando pegou no sono. Por algum motivo aquilo o fazia se lembrar de Hogwarts.


 


Vestiu-se com pressa, pegou sua capa, enfiou a varinha no bolso e deixou o quarto. Hermione não estava mais ali. Não havia cinzas na lareira em lugar algum. Draco apenas seguiu seu caminho descendo as escadas do hall de mármore que dava acesso a torre principal. Antes que pudesse deixá-lo, viu a sombra de Molly Weasley aparecer pela saída que dava para a antessala do quarto de Hera e Scorpius.


 


Parou.


 


Ela tinha uma caneca quente de chá entre as mãos. Vestia-a exatamente como sempre se vestira, como um elfo doméstico. O que fazia bastante sentido visto que ela passara boa parte da vida de casada trabalhando para servir as dezenas de milhares de filhos que decidira ter.


 


-       Tenho tentando falar com Hermione, mas ela não atende nenhum dos meus chamados. – a mulher não hesitou em manifestar-se.


 


-       Ela não vai atender. – Draco apressou-se em eliminar as esperanças dela.


 


-       Sua filha está bem melhor. Está dormindo e exausta. Bem mais calma.


 


-       Isso é uma boa notícia. – Significava que o irmão estava também melhor. Como? Ele não podia dizer e duvidava que fosse conseguir outra coruja de Astoria tão cedo.


 


-       Essa criança precisa dos pais. – começou a Sra. Weasley em seu discurso. – Me recuso a continuar cuidando dela se nenhum de vocês tomar partido de que ela precisa do conforto familiar de quem a trouxe ao mundo.


 


-       Não. Você não se recusa. - Draco podia quase sentir-se entediado se não soubesse que aquilo era uma verdade. Aproximou-se da mulher. – Hermione e eu não estamos acordando cedo para ir ao trabalho, fazer nossas horas semanais e voltar para casa a tempo do jantar. Nós dois fomos declarados inimigos de um regime mundial. Nosso nome está carregando um movimento. Nós estamos em guerra. O único pai que eu posso ser agora é um que irá focar-se em garantir o futuro dos meus filhos. Não vou tornar a dizer isso. Não quer se envolver com a guerra por já ter perdido tudo que perdeu, mas por ainda acreditar naquilo que a motivou a entrar nela em primeiro lugar, tome esse trabalho como a sua contribuição final para o regime de Voldemort. Hermione confiou a você a vida da nossa filha, não faça com que ela tenha cometido um erro. Preciso repetir para que entenda?


 


A mulher precisou de um minuto para digerir. Não estava contente.


 


-       Isso é uma ordem ou uma sugestão? – os olhos dela quase estreitaram. – General.


 


-       É uma motivação. Sei que precisa de uma. – soltou e deu as costas. Não tinha tempo para a mulher.


 


-       Eles tem minha filha. Gina. Traga-a viva. – A Sra. Weasley soltou antes que ele sumisse. Draco parou tentando refletir sobre como os jornais foram parar nas mãos dela. – Estão forçando-a a se casar com Theodoro Nott.


 


Draco quis simplesmente continuar seu caminho, mas sua língua coçou. Não era o tipo de pessoa que enfeitava a verdade para que soasse menos dolorosa e ali era uma oportunidade de trazer a mulher do mundo das esperanças de volta para a realidade. Não queria que ela cuidasse de Hera esperando receber algo em troca. Voltou-se novamente para Molly Weasley.


 


-       Sua filha, Gina Weasley, perdeu toda a sanidade que lhe restava quando arriscou-se numa missão suicida ao tentar contra a vida da minha mulher. O resto de consciência que lhe sobrou foi seriamente comprometida pelo número de vezes ao qual foi submetida a longas e intensas sessões de tortura, abusos e violência. Sua filha viveu o desgaste psicológico e físico de cinquenta anos em Askaban em apenas alguns meses. O pouco de instinto de sobrevivência que ainda tinha a fez submeter-se aos planos de Theodoro Nott em tentar tomar o meu lugar e manipular a mídia. Ela escolheu o caminho que está andando, o que a faz ser alguém que estou tentando destruir. Não pense que eu vá salvar sua filha. Mesmo que esteja fazendo bem a minha. Gina Weasley não hesitaria em acabar com a vida de Hermione se conseguisse enxergar a mínima oportunidade para tal. Não espera que eu a queira viva. – deu-se apenas poucos segundos para ver as mãos dela tremerem e os olhos brilharem ao enxerem-se de lágrimas.


 


Apenas deu as costas e tentou novamente seguir seu caminho.


 


-       Eu tinha a mania de nunca acreditar em Gina quando ela costumava, tão rancorosamente, alertar que Hermione era perigosa. – Molly fez-se ser ouvida. Draco odiou-se por parar novamente. – Ainda não acreditaria que Hermione possa ser o fruto dramático da aversão de Gina, mas ela definitivamente mostrou-se ser alguém que a pouco tempo atrás eu morreria defendendo que ela nunca seria.


 


-       A guerra exigiu de cada um de nós sacrifícios diferentes, Sra. Weasley. – ninguém entenderia o que Hermione havia passado e o que significava para ela. Nem mesmo ele.


 


-       Sim. – concordou ela. – Mas todos nós somos meros humanos. Até mesmo você. Mesmo tendo o sangue de Merlin. Nosso desgaste físico e psicológico parte de uma natureza em comum.


 


Estreitou os olhos e encarou-a por cima de seu ombro.


 


-       O que está sugerindo?


 


Molly Weasley deu de ombros muito discretamente.


 


-       Ninguém sabe realmente quão diferente o gene dela é.


 


Draco viu-se erguer todo um sistema defensivo. Ninguém tinha o direito de tocar em Hermione e na linhagem que carregava. Aquilo pertencia a Hermione e a família Malfoy. O sangue que Hermione é responsabilidade da minha família. Tem sido por anos.


 


-       Acaso a frustração de ter uma filha louca e de saber que Hermione não pode mais ser a mesma a fez perder a cabeça? – foi ríspido. – Guarde suas palavras para si mesma.


 


Deu as costas e dessa vez conseguiu ir embora sem ser interrompido. Assim que deixou a terceira ala chamou por Tryn que apareceu num único estalo.


 


-       Hermione? – perguntou de uma vez.


 


-       A Sra. Hermione Malfoy está ocupada repassando as magias de distração sobre as caixas de poção que serão contrabandeadas para dentro dos fortes. – respondeu a elfa.


 


-       Diga a ela que estarei indo em poucos minutos. Precisa estar pronta. – ordenou.


 


-       A senhora sua esposa informou a Tryn que deixasse claro ao Sr. Draco Malfoy que ela conhece sua agenda e irá segui-la em seu próprio tempo, não no do senhor seu esposo.


 


Draco precisou parar para puxar ar tentando buscar paciência diante da teimosia de Hermione. Queria mandar a palavra de que ela não tinha escolha, mesmo sabendo que sua mulher não a seguiria. Preferiu confiar na certeza de que ela não fazia o tipo irresponsável. Não em uma situação como aquela.


 


-       Como ela quiser. – disse descontente e continuou a seguir seu caminho depois de dispensar a elfa.


 


A pequena câmara onde era servido seu desjejum ficava logo em uma das laterais da escadaria principal. Devon e Fox já estavam a sua espera quando chegou, de pé, um de cada lado da cadeira onde sentaria. Avançou dizendo que reconhecia seu atraso e que procuraria não repeti-lo. Sentou-se, abriu o guardanapo e o colocou sobre colo obrigando-se a encher sua xícara de chá preto e escolher alguns bolinhos logo em seguida, embora não estivesse com o menor apetite.


 


-       Espero que tenha descansado. – Devon começou.


 


-       Tentei meu melhor. – informou Draco.


 


Fox tirou uma cópia do Profeta Diário de debaixo dos braços e a colocou a mostra logo a frente de seu prato.


 


-       Hogwarts irá fechar as portas essa manhã. Escolas do mundo inteiro estão fazendo o mesmo. Ordens de Voldemort. – adiantou ele.


 


-       Ele me reconhece como perigo. – Draco manifestou-se. Sempre foi reconhecido como perigo. Trazer os Malfoy para o lado dele foi uma de suas maiores estratégias. A pedra da família tem assegurado estabilidade a quem os acolhe faz anos. Voldemort estudou bem isso. Deu a seu pai o direito de opinar, o direito de mexer com as peças do jogo dele. Deu a Draco o direito de escolher não prestar respeito como o resto dos Comensais. Definitivamente reconhecia o perigo de não os ter mais ao lado dele.  – Voldemort irá fechar escolas, irá fechar comércio, irá limitar o Ministério, irá espalhar pânico. Irá nos regredir ao ponto zero de toda essa guerra porque esse é o único ponto da guerra que ele conhece. O que é algo bom. Sei lidar com o caos. Usei ele a meu favor quando me tornei general.


 


Tudo que Voldemort havia feito fora sentar no trono que Draco construíra a base do medo e da opressão em nome do Mestre das Trevas. Ele nunca foi quem teve que colocar o mundo em ordem.


 


-       O Diário do Imperador ainda tem publicado notas sobre a reorganização do exército, sobre as medidas do Império, sobre a larga fundação ao qual o regime se assenta. – Devon manifestou-se. - Mentiras. Claramente a mídia está sendo intensamente reprimida sobre o que publica. O Primeiro Ministro tem conseguido fazer com que alguns comensais levem cópias do Profeta Diário para dentro de alguns fortes.


 


-       Perfeito. Bennett sabe fazer o trabalho dele.


 


-       Certamente, mas ele tem sua par de exigências. Astoria Bennett tem sido obrigada a fazer visitas quase diárias ao forte. Isaac teme que a esposa possa não ser liberada para fazer sua viagem de volta para casa caso ele seja declarado seu aliado. Desconfia que Theodoro ou Voldemort saibam que estão trabalhando juntos. – Devon anunciou.


 


-       Quais são as exigências?


 


-       Mais segurança para a casa dele, mais poções, menos missões que o incrimine diretamente, uma rota de escape rápida para ele e para a família caso seja declarado inimigo do regime.


 


-       Ele já tem tudo isso. Reforce a memória dele. Envie mais poções e uma lista de feitiços de segurança feitos por Hermione. Assegure-se de que ele tenha mais de uma chave de portal como rota de escape. Quanto as missões, todos nós estamos no arriscando aqui.


 


Devon assentiu.


 


-       Temos recebido mensagens do ciclo inteiro de Voldemort. Todos anônimos. – Fox pronunciou-se logo em seguida.


 


-       Fizemos checagem por caligrafia e a maioria se assemelha com nomes que receberam títulos nobres dentro do regime por nomeação sua ou do seu pai. – Devon acrescentou. – Eles alegam estar do seu lado. Alegam estar dispostos a ajudar.


 


Draco sabia que não era tão fácil assim.


 


-       A custo de que?


 


-       A custo de serem lembrados. Claro. – respondeu Devon. Draco já sabia daquela parte. – Por agora as exigências só são poções antidoto. Contra a Marca. Querem uma boa quantidade. A notícia de que pode não funcionar com alguns os amedronta. Querem ter certeza com antecedência de que a ligação pode ser enfraquecida.


 


Draco respirou fundo. Tomou um longo minuto para pensar.


 


-       Hermione tem preparado um grande número de poções para serem levadas para dentro de Brampton Fort. – disse.


 


Fox limpou a garganta.


 


-       Com todo respeito, um grande número de poções circulando por Brampton Fort abre um leque de possibilidades para criarem outra poção ou alguma magia que anule o efeito. – opinou ele.


 


-       Sim. – concordou Draco. – Ainda assim minha esposa e eu queremos que seja feito dessa maneira. Hermione conhece as propriedades mágicas da poção e tem trabalhado para que seja dificilmente reproduzida, estudada ou anulada.


 


Devon e Fox assentiram. Anunciaram que estariam o esperando no grande salão e o deixaram.


 


Draco ficou pensativo por um bom tempo. Obrigou-se a comer algo sabendo que precisaria de energia. Tomou um gole do chá e desaprovou toda aquela comida. Levantou-se em seguida e tomou seu caminho para o salão. Uma boa equipe o esperava. Chaves de portais estavam portas, prontas para serem usadas.


 


-       A segurança foi revisada? – perguntou sabendo que chaves de portais poderiam não ser tão seguras quanto aparentavam.


 


-       Sim, senhor. – respondeu um dos homens.


 


-       Excelente. Não temos tempo a perder. – avançou lançando um olhar a Fox esperando que ele desse as ordens.


 


-       Senhor. – Devon pediu por atenção. – Sua esposa? – Estavam esperando que ela fosse com eles.


 


-       Hermione vai seguir sua própria agenda. – anunciou Draco.


 


-       Mas... – Devon calou-se ao perceber que estava a ponto de contradizer seu general. – Claro. – finalizou.


 


Fox deu as ordens e todos agarraram-se a sua destinava chave de portal. Em uma desconfortável viagem de segundos Draco viu-se pisar os pés na beira do precipício de Azkaban, a famosa e temível prisão mágica.


 


O vento soprava forte. Quase que como em uma tempestade. O céu cinzento. O temperatura fria. Sentiu-se ser abraçado pela amargura quando olhou o oceano feroz batendo contra as rochas da fundação da edificação que parecia estar milhares de metros abaixo dele.


 


Devon chamou sua atenção para o homem que avançava em direção a eles lutando contra o vento. Kirk Irwin. Draco havia o nomeado guardião de Azkaban não fazia muito tempo.


 


-       Senhor, eles já estão aqui. – o homem proferiu alto contra todo o som do vento e do oceano a volta deles.


 


Devon ordenou que eles fossem levados até os convidados e assim eles seguiram pela beira do topo da edificação até uma entrada. Foi quase como ser acolhido deixando a tormenta do oceano do lado de fora , mas logo as paredes cinzentas e vazias de Azkaban fizeram com que os pelos de sua nuca arrepiassem.


 


Os convidados estavam o esperando ao lado de um observatório. Usavam suas roupas coloridas que contrastavam com a cor da pele viva e escura que possuíam. Draco conhecia o mais alto de todos. Alto. Forte. Meia idade. O rosto muito simétrico, cheio dos traços naturais de seu povo. Exalava força física e poder apenas pela postura.


 


-       É bom vê-lo novamente, General Malfoy. – o homem fez soar sua voz grave e pesada.


 


-       Posso dizer o mesmo, Kokah. – Draco respondeu. – Não temos tempo a perder. Meus homens vão aguardar por futuras ordens. Preparamos um lugar para que os seus possam esperar também enquanto conversamos. – sugeriu e Kokah tomou somente alguns segundos para aceitar, fazendo o aceno para uma das mulheres que o acompanhava, permitindo que ela seguisse Irwin. – Se não se importa, Devon irá nos acompanhar. Presumo que o conheça.


 


Kokah fez um aceno de que não se importava com a presença do homem e com a tal autorização Devon seguiu para abrir uma das grades do que parecia uma contenção de proteção ao observatório. Draco e Kokah atravessaram para o outro lado. Devon os seguiu em seguida fechando a grade. No mesmo instante o chão sob os pés dele começou a mover-se numa velocidade muito segura pelos incontáveis a vazios andares da prisão.


 


-       Onde está sua mulher? – Kokah manifestou-se encarando o oceano se aproximar cada vez mais enquanto descia. – Estava muito certo de que ela viria.


 


-       Ela virá. No tempo dela. – respondeu Draco.


 


Um sorriso esgueirou-se discretamente pelos lábios do homem.


 


-       Esse lugar é impressionante. Qualquer um definharia aqui. Com Dementadores ou sem eles. – comentou ele. – Não é surpreendente que tenha o conseguido.


 


-       Quem detém o controle sobre os Dementadores detém Azkaban. - Devon complementou.


 


-       Claro. – Kokah soltou com um sorriso amarelo. Moveu seus olhos para a grade vendo os andares passarem um a um. – Nenhum prisioneiro. – observou ele. – Os soltou?


 


-       Os matei. – respondeu Draco, a sanidade da maioria, que era pouca, estava comprometida. Foi sua melhor escolha, sabendo que poderia usar aquele elemento para intimidação.


 


Kokah riu.


 


-       Claro. – disse novamente. Provavelmente sabendo que Draco estava usando aquilo para intimidá-lo. Realmente estava.


 


Finalmente chegaram a um dos pavimentos iniciais. Devon foi quem os direcionou a uma sala que mais se assemelhava a uma cela modificada para receber reuniões. Assuntos do Ministério eram frequentemente tratados em Azkaban dependendo de seu nível de confidencialidade. Espaços como aquele eram comumente usados, mesmo antes da ditadura de Voldemort, embora que mesmo com a tapeçaria no chão, a grande mesa de carvalho no centro, algumas cadeiras e até mesmo poltronas próximo a uma lareira pequena, fizesse ainda parecer um lugar frio e despido de qualquer ar acolhedor.


 


Draco foi o primeiro a sentar-se em uma poltrona próxima ao fogo aceso. Precisava de uma fonte de calor. Aquele lugar lhe trazia todo o tipo de arrepio. Kokah o seguiu pegando uma cadeira oposta a dele. Devon manteve-se de pé logo atrás de Draco.


 


-       Espero que sua mulher não demore. – foi quase que um alerta do homem.


 


-       Pensei que tivesse vindo aqui por um acordo, não pela minha esposa. – Draco precisou dizer.


 


-       Tenho uma curiosidade, particular, em vê-la.


 


-       Ela não é nenhum tipo de animal exótico.


 


Kokah soltou um riso fraco.


 


-       Oh. Acredito que ela seja, General Malfoy.


 


Draco buscou paciência. Não era momento para irritar-se.


 


-       Veio atrás de seus interesses, ou não? – cortou-o trazendo-o de volta ao foco. – Sei que tem bastante seguidores. Minhas visitas ao forte africano sempre me deram uma boa perspectiva da sua influência. Seus seguidores se reportavam a mim por terem a marca de Voldemort, mas nunca fui idiota de não acreditar que eles apenas colocaram a marca do Lorde das Trevas no braço porque você a colocou primeiro.


 


-       O Mestre das Trevas não me tirou a posição de influência que sempre detive. Isso porque ele sabia que eu tinha o controle das massas. Também porque sabia que um bruxo Africano no exército dele valeria mais do que vinte desses seus Europeus.


 


-       Um discurso sobre soberania racial que discorda da moral que estou tentando restaurar.


 


-       Você apenas quer colocar o mundo em dívida com sua família. Sabemos bem que não é um homem de moral ou muito menos um herói, Draco Malfoy.


 


-       Sua influência é nada mais do que uma ferramenta nas mãos de Voldemort. – Draco não queria continuar com aquele jogo de palavras que não os levaria a lugar alguma. – A marca que ele colocou em seu braço faz de você nada mais do que um servo sem o poder de dizer “não”. Sabe disse e por isso ofereceu-se como meu aliado na primeira grande oportunidade que viu. O que quer? – sabia bem o que ele queria, mas perguntar seria seu jogo contra o homem.


 


Um sorriso irritante passou pelos lábios dele, o que confundiu Draco.


 


-       Quero ver sua mulher. – soltou muito calmamente, como se estivesse apreciando o fato de que aquilo iria irritar Draco.


 


Draco inclinou-se para frente. Por que ele continuava insistindo naquilo? Quis estreitar os olhos e exigir do outro um motivo para que não o matasse ali e agora. Kokah não estava jogando seu jogo e mostrar frustração seria como deixar o outro vencer. Engoliu a fúria que lhe subiu a garganta e preferiu seguir pelo caminho curioso.


 


-       O que há de tão interessante em minha esposa que precisa tanto ver?


 


Kokah abriu um sorriso e acomodou-se na cadeira muito confortavelmente saboreando o fato de estar pisando exatamente onde queria.


 


-       Diga-me você, general. – trocou o olhar para Devon. – Diga-me você. – sorriu muito satisfeito. – Tudo o que ouvimos são rumores. – voltou o olhar para Draco. – O que ouvimos é que não existe um elemento da natureza que não a reverencia. Que por onde ela anda o ar parece ganhar magia. Que seu domínio e conhecimento é tão extenso que ela não precisa de nada além do próprio corpo para conduzir feitiços. Que o tom de sua voz quando fala pode soar quase que como uma melodia com força o suficiente para manipular tanto destruição quanto paz. Que seu olhar tem o poder do controle.  Que não existe nada muito difícil que ela não possa aprender. Que não existe nada tão complicado que ela não possa entender. Que não existe nada tão rebelde que ela não possa domar. Que não existe homem que não a queira e mulher que não a deteste.


 


Draco levou um bom tempo para processar cada palavra daquela. Sério? Era aquilo que havia construído quando seguiu Hermione ao optar não comentar absolutamente nada com a mídia sobre os rumores do sangue dela vir de Morgana? Eram esses os rumores que circulavam além das fronteiras onde as cópias do Diário do Imperador eram limitadas e a mídia apenas especulativa e conspiratória? Ele não conseguia acreditar que havia tomado um ar tão fantasioso.


 


-       Acredita que minha esposa é a bruxa Morgana que tirou de um livro de ficção? Se ela fosse metade do que descreveu não iria estar precisando de aliados para vencer Voldemort.


 


-       Isso não é ficção. – o homem manteve-se firme, quase descontente por Draco estar diminuindo Hermione, mesmo que ele nem mesmo conhecesse sua mulher. – Me diga qual descrição não é compatível?


 


 


Draco sentiu a imediata necessidade de retrucar que todas elas eram completamente incompatíveis com Hermione, mas foi só então que ele precisou engolir sua percepção de lógica ao preparar-se para rebater cada ponto que o outro havia levantado. Hermione parecia sim ter algum tipo de sensibilidade aos elementos da natureza, conseguia definitivamente senti-los e talvez até controla-los. Conseguia externar tanto isso que as vezes parecia que por onde passava, magia a seguia. Seu controle e poder de concentração permitia que ela, muito frequentemente, não precisasse de nenhuma varinha ou elemento condutor para produzir feitiços e magia, por mais complexos que fossem. Draco tinha que concordar que ela tinha a voz mais melodiosa e poderosa que ele já escutara, que a cor de seu olhar era única, que duvidava que existisse algo no mundo que Hermione não fosse capaz de decifrar, entender, dominar e reproduzir. Que boa parte dos homens irritantemente sentiam-se atraídos por ela e que muitas mulheres naturalmente tendiam a inveja-la. Mas apesar de tudo isso, apesar de todos os dons extraordinários que ela possuía e que poderia ser justificado no tipo de sangue que herdara, ele conhecia a humanidade de Hermione. Ele dormira e acordava ao lado dela mais vezes do que conseguia contar. Já a vira chorar confusa e perdida por não saber o que fazer no meio da noite quando Hera e Scorpius simplesmente decidiam não parar de chorar. Já presenciara o número de vezes que ela lutara contra a própria ansiedade e medo as ameaças de Voldemort. Já a vira completamente impotente a sua frente gritando pela vida que Voldemort havia matado dentro dela. Já a vira fracassar ao tentar enfrenta-lo. Ela não era Morgana.


 


-       Hermione tem sua parcela de dons. Ela pode ser bastante especial. Mas é tão humana quanto eu e você. – defendeu Draco.


 


-       Sem dúvida. – concordou Kokah. – Certamente não duvido que a humanidade enraizada na mente dela a limite. Ela viveu como uma desde que nasceu. Aposto que deve ter sido libertador para ela ter descoberto ser uma bruxa depois de tantos anos tendo seus conflitos de identidade dentro de um lar trouxa. Não posso nem mesmo imaginar o quanto será libertador para ela se livrar das limitações da qual foi condenada a ter por viver sua humanidade por tanto tempo. Mas aposto que toda a pressão de estar debaixo do dedo dominador de Voldemort tenha aguçado nela o desejo de ser maior do que ele. O que eu realmente acredito sobre sua esposa é que ela esteja caindo. Até um tempo atrás, ela não sabia que tinha asas, e agora que sabe que tem, não sabe realmente como usa-las. Mas eventualmente ela irá voar, Draco Malfoy. – ele sorriu. Como se estivesse recitando uma poesia. – Quando isso acontecer, eu espero que saiba como derrubá-la. Porque todos nós sabemos o que aconteceu a última vez que uma Fada-Humana aprendeu a voar.


 


Draco sentiu aquele sabor amargo em sua garganta novamente. Quis voar contra o pescoço daquele homem. Quem era ele para abrir a boca para falar sobre Hermione? Ele não a conhecia! Não sabia o que ela já havia passado! Não sabia o que ela passava! Precisou concentrar-se para manter sua postura e sua máscara neutra.


 


-       Não sabia que acreditava tanto em fantasias, Kokah. – foi como optou por reagir.


 


Kokah riu novamente.


 


-       Você vive sua negação. Exatamente como Merlin também viveu a dele e a observou colocar o mundo inteiro na palma da mão sem fazer nada. Talvez ele defendesse a humanidade dela já que os dois foram tão próximos por tanto tempo. O erro dele fez ser quase tarde demais quando finalmente opôs-se a ela. Sua linhagem carrega até hoje a proteção dele. Um Mago como Merlin sabia o preço de ser inimigo de Morgana. Me diga, Draco, como a pedra de sua família reagiu a sua mulher? Sabe, eu tenho uma teoria sobre o encanto de sua mulher, porque saiba que eu nunca vi nada parecido com a beleza que ela tem. Talvez você se lembre que a história costuma contar que quanto mais tempo e quanto mais íntimo um homem ficava de Morgana, mais conectado a ela e mais parte dela ele parecia se tornar. Que quanto mais poder ela dominava e mais Morgana se descobria como fada, mais o mundo caia aos seus pés, mais sua beleza se intensificava, mais cruel ela se tornava e menos humana ela se parecia.


 


Por um segundo a fascinação que Harry Potter carregava por Hermione se passou pela sua cabeça, mas Draco a engoliu muito rapidamente. Aquele homem estava passando do limite.


 


-       Eu pararia por aqui, Kokah. – alertou Draco.


 


-       Seus ancestrais trabalharam arduamente em eliminar qualquer vestígio do sangue que sua mulher carrega para manter o campo inimigo sempre limpo. O que acha que eles iriam pensar se vissem um Malfoy casado com o sangue que deveria ter sido morto por suas mãos? – continuou ele. – A prova de que sua mulher está aprendendo a usar as asas que tem foi quando conseguiu livrar-se da maldição da Marca Negra de Voldemort sem nenhuma ajuda externa. Não pense que o mundo inteiro não comenta sobre os rumores que circulam sobre ela. Muita gente viu quando a poção não funcionou nela. Aposto que foi uma experiência bem traumática. Notou algum tipo de comportamento diferenciado após o evento? Se eu fosse você, eu seria mais cuidadoso. Se ela conseguiu livrar-se da Marca Negra, ela pode facilmente livrar-se também da magia do contrato que faz dela sua esposa, que faz dela uma Malfoy...


 


-       Já chega! – dessa vez Draco foi severo. Seu tom ríspido quase ecoou pela sala quase fazendo as paredes vibrarem. Inclinou-se para ficar mais próximo do homem ainda lutando para não voar contra ele. – O que te faz pensar ter o direito de especular em cima de fantasias e achar que pode jogá-las contra mim como se soubesse mais do que eu? Não venha querer me dar uma lição sobre um passado que pertenceu aos meus ancestrais e aos dela. Tudo o que sabe são as lendas que correm por aí. Eu conheço os fatos e os fatos pertencem a minha família, a minha linhagem, ao meu sobrenome!


 


Batidas na porta chamou a atenção dos dois antes que Kokah tivesse a chance de retrucar qualquer coisa. Draco se percebeu beirando a fúria e tratou de resgatar a ponta de profissionalismo que havia o escapado. A porta foi aberta e Irwin apareceu por ela muito formalmente.


 


-       General, sua esposa... – ele começou, mas engoliu suas palavras quando Hermione entrou logo em seguida dispensando a apresentação.


 


Céus! A forma como ela se vestia ultimamente sempre pegava Draco de surpresa. O novo guarda-roupa de sua esposa dava lugares apenas a tons escuros, cortes prepotentes, rendas marcantes. Tentava passar poder e superioridade, diferente de quando estavam em Brampton Fort e a mídia precisava vê-la como uma mãe indefesa tentando manter os filhos longe de Voldemort.


 


-       Lamento ter sido obrigada a me atrasar. – foram as primeiras palavras da mulher enquanto se aproximava em seu andando perfeito sobre aquele salto que nunca falhava em ser alto e irritantemente barulhento. – Espero que não tenham esperado por mim.


 


Kokah levantou-se quase que imediatamente para recebe-la.


 


-       Eu esperei ansiosamente. – ele beijou a mão dela sem cortar qualquer contato visual.


 


Hermione mostrou-se firme mantendo o dela sobre ele até que ele finalmente decidisse larga-la. A íris dela lançou um rápido olhar a Draco enquanto pedia para que o Kokah se sentasse novamente.


 


-       Posso ver que meu marido não parece estar muito contente. – ela pronunciou. – Espero que nossas negociações não estejam tomando um rumo tão negativo.


 


Kokah parecia fascinado com o teatro diplomático que Hermione estava apresentando.


 


-       Digamos que as perspectivas de seu marido são um tanto quanto preocupantes. – Kokah soltou enquanto se sentava.


 


Hermione lançou um olhar a Draco. Pode enxergar a suave linha confusa que surgiu entre suas sobrancelhas. Ele devolveu um olhar seco para o homem a sua frente.


 


-       Kokah tem testado os limites. – foi sério.


 


A mulher pareceu tomar um segundo para processar o que aquilo poderia significar. Draco sabia bem que ela tomaria aquilo como uma tentativa de Kokah em não ser flexível.


 


-       Bem, acredito então que uma bebida poderia trazer um pouco mais de informalidade a tudo isso. – ela voltou-se para Devon que havia se mantido em silêncio até então. – Devon, você se importaria?


 


Devon fez um pequeno aceno com a cabeça antes de ir até uma mesa estreita próximo a porta buscar as bebidas expostas ali. Draco trocou um olhar com Hermione enquanto ela se aproximava da cadeira dele e apoiava o braço confortavelmente contra o topo do espaldar.


 


-       Talvez minha esposa faça um trabalho melhor do eu aqui. – ele abriu o caminho dela sabendo Hermione conseguia ter a língua muito bem afiada quando queria. Além do mais, ele precisava de tempo para recompor-se mentalmente. Havia sido atacado de uma forma completamente inesperada.


 


Sentiu que Hermione agradeceu por ele ter permitido que ela tomasse a frente pela linha de interação muito bem preparada que ela passou a conduzir assim que abriu a boca.


 


-       O quanto realmente conhece sobre a história da magia na África, senhor Kokah?


 


O homem mantinha seu sorriso satisfeito sem desgrudar, nem mesmo por um segundo que fosse, o olhar de Hermione.


 


-       Considerando que faço parte dela, e uma parte bastante significante, posso dizer que a conheço melhor do que a mim mesmo. – o olhar dele estava cheio de fascinação. Era como se ele estivesse olhando para algo que queria ter, queria possuir, queria analisar, queria estudar. Draco sentia-se extremamente incomodado com aquilo. Ele estava engolindo tudo aquilo que havia jogado contra Draco antes dela aparecer apenas para se permitir experimentá-la.


 


-       Então talvez consiga enxergar o problema com o qual estamos lidando aqui. Sua família e sua tribo lutou por muito tempo para limpar o continente da sombra do atraso que o uso livre de magia negra por séculos e séculos trouxe para sociedade bruxa africana em geral. – ela aceitou o copo que Devon lhe entregou. - Seus olhos viram a pesada malha de magia negra perder influência com muita dificuldade por todo o território. Viu a satisfação de muitos em poder viver e ser parte de uma sociedade segura e bem administrada. Viu o progresso que tudo isso trouxe. As inúmeras perspectivas de futuro e os avanços. Tenho certeza que o que o trás até aqui é o retrocesso que vem observando acontecer com a liberação de magia negra novamente por todo território. É lamentável que magos, rituais e uma lei sem limites esteja oprimindo novamente a história do seu povo. Mas meu marido e eu sabemos bem que esse é o seu discurso bonito. Estar do nosso lado para restaurar a ordem nos territórios africanos soa bonito aos ouvidos daquele bruxos que apenas querem viver em segurança novamente. Quer ser o rosto carregando essa bandeira quando a guerra civil começar. E todos nós sabemos bem que a comunidade bruxa africana está a beira de uma guerra civil. – apressou-se ela quando ele pareceu puxar ar para contradizê-la. - Sabe bem que nós somos a chance de poder levantar sua bandeira lá com algum tipo de esperança visto que a maioria dos magos poderosos se mantém bastante fiéis as ideologias de Voldemort. Draco conhece as resistências que seu grupo teve de se render a Voldemort e não está surpreso por estar recebendo algum tipo de apoio agora que nos voltamos contra ele.


 


-       Estou apenas disposto a negociar. – Kokah interferiu.


 


-       Mas antes de prosseguirmos com qualquer negociação é bom deixarmos claro que sabemos suas motivações. – continuou ela. – Sabemos que sua resistência contra o Ministério Africano tem se sustentado por gerações. Tem tentando tomar o poder por bastante tempo, mas com o tamanho da influência que o Ministério tinha, era quase impossível que conseguisse fazer com que qualquer revolução ganhasse corpo. Tudo perdeu força quando um exército do tamanho do de Voldemort invadiu a África e agora, se aliar e ganhar influência em um movimento do tamanho ideal seria sua oportunidade perfeita para finalmente poder esmagar qualquer sistema governamental estabelecido entre a comunidade bruxa africana e finalmente conseguir ganhar sua posição de dominação dentro do continente assim que o Império de Voldemort tiver um fim. Para a sua sorte, nós somos esse movimento.


 


-       Preciso de vocês tanto quanto precisam de mim. – Kokah tentou igualar-se ao perceber que Hermione havia exposto a profundidade de sua fragilidade.


 


-       Não precisamos de você. Usá-lo é apenas uma de nossas opções. – Draco manifestou-se.


 


-       Os outros continentes estão bem resolvidos com a nossa família. – Prosseguiu Hermione. - Quando Voldemort cair já temos força o suficiente para interferirmos na África e reestabelecermos o Ministério lá com outro candidato que tiver mostrado mais disposição em ajudar agora do que você. – finalizou ela vestida de toda a sua elegância enquanto sentava-se no braço da cadeira de Draco e cruzava a perna quase que exibindo sua satisfação por estar por cima.


 


Kokah ajeitou-se em sua cadeira claramente abalado por ter qualquer esperança de manipular os Malfoy drenada de seu discurso. Ainda assim seu olhar de fascinação não conseguiu morrer. Pelo contrário, quanto mais ele encarava Hermione, mais ele parecia maravilhado. Seus dedos longos alisaram a superfície do copo de bebida entregue a ele por Devon como se estivesse pensativo.


 


-       Qual é a proposta? – ele se entregou.


 


Draco quase abriu um sorriso de satisfação ao ver o homem dançar na palma de sua mão. Hermione manteve-se em silêncio sabendo que Draco gostaria de ser quem iria conduzir essa parte.


 


-       Faz exatamente o que dissermos para fazer. Quando Voldemort cair, deixaremos ter o Continente inteiro para você, mas com a condição de que manterá o Ministério. Teremos influência o suficiente para garantir que o poder esteja nas suas mãos, mesmo nos afastando do cenário político.


 


-       De forma alguma. Me recuso a manter um Ministério na África.


 


-       É um sistema eficaz. – defendeu Hermione. - Nos unifica, nos mantem fortes, nos mantem seguros e nos faz crescer. O mundo bruxo sofre de muitos atrasos e o sistema de Ministérios foi o único a provar ser capaz de sustentar um progresso linear.


 


-       Lutei contra a corrupção que o sistema do Ministério Africano permitia sustentar quase que minha vida inteira. O mundo me conhece por isso. Ainda estaria lutando se não fosse pela intervenção do Império do Mestre das trevas.


 


-       Não precisa ser hipócrita. Não conosco. – Draco não tinha paciência. - Sabemos bem quais são suas intenções. Nada de errado com elas. Todos nós almejamos poder de alguma forma ou outra. Nunca lutou contra a corrupção dentro do Ministério Africano. Tudo o que sempre quis foi ter a posição de comando da África. Colocou o povo contra o Ministério para tê-los ao seu lado.  


 


-       Se quiser ser o nome responsável por carregar nossa bandeira agora, precisa estar de acordo com o que defendemos. – Hermione o redirecionou. - Queremos restaurar o mundo antigo. Se não estiver de acordo, não queremos o seu nome associado ao nosso de nenhuma forma.


 


-       Estamos lhe oferecendo o que sempre quis. Liderança. Talvez ser Primeiro Ministro nunca esteve em seus planos, mas definitivamente terá o poder de controlar o que acontece ou deixa de acontecer dentro das suas fronteiras. – concluiu Draco.


 


Kokah não pareceu contente.


 


-       Ainda estarei debaixo das leis principais que regem a comunidade bruxa sendo Primeiro Ministro. – relutou ele.


 


-       E quem você pensa que é para estar acima? Voldemort? – incitou Draco.


 


-       Talvez penso ser um Malfoy. – retrucou o homem com a mesma acidez. – Não pense que sou idiota em não ver o que estão fazendo aqui. Restaurar a ordem do mundo antigo é o seu discurso bonito! – ele usou as mesma analogia. – Querem parecer heróis. Querem que o mundo entre em dívida com vocês por conseguirem trazer de volta o progresso e estabilidade de antes, apenas para se manterem acima do sistema. Se estamos tendo uma conversa livre de hipocrisias, é melhor que seja dos dois lados.


 


-       Senhor Kokah. – Hermione foi severa dessa vez. – Temos um acordo ou não temos? É um homem de influência, mas certamente não é o único.


 


Draco sabia que aquilo era tudo que Kokah não queria. Quando invadiu a África em nome de Voldemort, ele e o grupo de seguidores que tinha não chegaram a resistir tanto quanto Draco esperava apenas por saber que podia acabar ganhando uma boa posição dentro do que quer que Voldemort estivesse construindo com suas conquistas. A África estava uma bagunça por conta das pequena revoltas que Kokah mesmo incitava pelo território e era quase fato que eventualmente Voldemort e seu exército acabaria tomando controle. Kokah era inteligente em saber que apesar de ter seu grande número de seguidores, a fortuna de sua tribo e a herança de sua família, não tinha força para ser independente. Não era grande como o Ministério nem poderoso como um Mago. Ali, agora, estava tendo a chance de ter o poder que sempre quis, mesmo com as condições e limitações ao qual estava sendo sujeitado. Ele cederia. Cederia porque era inteligente em saber que não teria outra oportunidade como essa. O Império de Voldemort estava completamente fragilizado com a reviravolta dos Malfoy e todo o sistema que havia ao redor do mundo hoje tinha uma boa chance de cair amanhã. Kokah não era um homem burro.


 


-       Qual é o plano? – ele cedeu finalmente, depois de ter tirado um longo minuto para pensar e poder mostrar que a proposta não havia saído exatamente a seu gosto.


 


Draco pode quase abrir um sorriso, mas ainda queria mata-lo. Chamou por Devon e estendeu a mão. Devon lhe entregou uma pasta e Draco a estendeu para Kokah.


 


-       Não tão rápido. – disse enquanto tinha a pasta tirada de sua mão pelo homem. – Se isso for uma aliança, preciso ter a certeza de que cumprirá com sua palavra e certamente também precisará ter certeza de que cumprirei com a minha. – estendeu novamente a mão e Devon a ocupou com uma longa caixa aveludada. – Prefiro manter tudo dentro do campo dos negócios e quando fechamos bons negócios, é necessário que com ele venham boas garantias.


 


Kokah assumiu um olhar suspeito enquanto tomava seu tempo para analisar o pedaço de pergaminho dentro daquela pasta. Ali Draco sabia de que a promessa que havia feito vinha com o custo dele jamais falhar, jamais lhe dar as costas, jamais se rebelar, cumprir seu papel de aliado e manter o sistema de Ministérios quando sua recompensa fosse entregue assim que Voldemort caísse e o mundo se estabilizasse. Kokah não estava contente, mas ele já havia sido comprado por Voldemort antes, ser comprado novamente não seria difícil. Draco apenas abriu a caixa em sua mão e estendeu a pena enfeitiçada para o homem quando julgou que já havia dado tempo o suficiente a ele.


 


-       Você é igual a ele, se quer saber. – Kokah comentou pegando a pena. – O Lorde das trevas. – mostrou toda a sua desaprovação. – Ele também me prometeu uma posição de controle. Sinto que estou apenas mudando de um Império para outro. – assinou o pergaminho, assinou a cópia, pegou a cópia para ele e a guardou devolvendo a pasta e a pena. – O único motivo que me leva a estar me aliando aos Malfoy é ela. – ele fixou seu olhar em Hermione. – Eu não poderia me permitir ser inimigo da filha de Morgana.


 


Draco esperou Hermione entrar na defensiva com rapidez. Era sempre a reação dela quando alguém tocava no assunto. Porém, pela primeira vez ele a viu vestida de uma indiferença incomum.


 


-       Não me importo com o que acredita ou deixa de acreditar contanto que cumpra seu papel como aliado. – ela foi neutra.


 


Um sorriso tornou a cruzar pelo rosto do homem.


 


-       Você ainda não tem a menor ideia do poder que carrega. Talvez nunca tenha. O que eu duvido. – comentou ele. – Se você falhar, tenho absoluta certeza de que seus filhos não falharão.


 


-       O que está insinua... – Draco começou, mas engoliu suas palavras quando Hermione ergueu sua mão pedindo para que ele parasse.


 


-       Acaso sabe de algo que eu não sei? – ela estava séria ao ponto de fazer Draco acreditar que estava começando a se mostrar irritada.


 


-       Não me faça fazer o seu serviço. - O sorriso de Kokah era quase nojento. – Você é quem esta destinada a encontrar seus propósitos e suas missões.


 


Hermione estreitou os olhos rapidamente apenas para puxar ar e encontrar seu ponto de estabilidade.


 


-       Estou em uma missão com um propósito muito claro e sinto informá-lo de que não se alinham a suas expectativas, sejam elas quais forem. Acredite no que quiser. Apenas saiba que estar testando seus limites mais do que gostaria que estivesse o coloca em uma posição bastante desagradável dentro da nossa lista de aliados. – ela foi fria, simples e direta.


 


-       Não importo em que posição eu esteja para os Malfoy contanto que eu seja a pessoa responsável por fazê-la enxergar que as mentiras ao qual foi obrigada a viver toda a sua vida tem a atrapalhado alcançar seu verdadeiro propósito. Você é maior do que pensa que pode ser, é maior do que o sobrenome ao qual está presa, é maior do que qualquer um que te ameace. É você quem está destinada a mostrar ao mundo que ele nunca será capaz de fazer sumir um poder como o seu, um sangue como o seu. Não importa quantas gerações de famílias poderosas destinadas a acabar com um poder como o seu, não importa quantos se levantarem contra seu sague, é você quem está destinada a provar que...


 


-       CALE-SE. – Hermione foi tão ríspida que até mesmo Draco sentiu-se ameaçado estando ao seu lado. Kokah parou imediatamente. Um silêncio rodeado por tensão pairou sobre eles mais tempo do que deveria. Draco conseguiu quase sentir os músculos travados de Hermione ao seu lado mesmo sem tocá-la. Não soube o que viria depois daquilo e por alguma razão se sentiu no dever de acabar com aquela situação. Puxou o ar, mas como se Hermione estivesse lendo sua mente, ela acabou erguendo a mão novamente, dessa vez exigindo que ele permanecesse calado. – Junte os seus homens e esteja pronto para tomar o forte da África ao sinal do exército. – seu tom casual, porém seco, mostrou o quanto buscava pelo auto controle. - Acontecerá simultaneamente com os outros fortes e todos já estão bem preparados para o momento em que receberem o sinal do exército. Esteja consciente de que deve trabalhar rápido. Tem vinte e quatro horas para preparar seu grupo. Caixas com o antídoto contra a Marca Negra estão sendo preparadas para o seu Forte. Preparem homens para recebe-las. Vai precisar de muitas. Fox saberá lhe passar mais detalhes. Agora é melhor que levante e saia. Devon irá acompanha-lo.


 


Kokah permaneceu mais alguns segundos em seu acento como se esperasse que ela fosse voltar atrás em sua agressividade e dar a ele um pouco mais de informação sobre como deveria trabalhar, ou dar a chance de Draco discursar, mas Hermione deixou que suas palavras para ele fossem finais. Quando ele aceitou que realmente eram, levantou-se calmamente, sem se desfazer de seu orgulho, virou o copo de bebida devolvendo-o a grande mesa em seguida e seguiu Devon, que já havia se preparado para guiá-lo. Mas antes que pudesse deixar definitivamente a sala onde estavam, parou a porta e lançou um último olhar a Hermione.


 


-       Ele tem medo de você, por isso é tão empenhado em fazer com que sua vida seja miserável. O Lorde das Trevas. Ele quer que você tenha medo dele porque medo é a única coisa com o que ele sabe trabalhar. Ele sabe que você é maior do que ele. – soltou em seu pesado sotaque e foi embora.


 


O silêncio pesou entre Draco e Hermione por alguns segundos quando se viram a sós.


 


-       Como ele sabe? – foi o comentário de Hermione. Veio em uma voz pensativa e ao mesmo tempo irritada. – Como ele sabe que Voldemort é tão empenhado em fazer com que minha vida seja insuportavelmente miserável?


 


-       Por que isso faria alguma diferença? E por que se importa? – não gostava que ela estivesse dando crédito as ladainhas que foram obrigados a escutar.


 


-       Ele sabe de algo. – ela se levantou calmamente. Parecia cada vez estar mais pensativa batendo a aliança contra o copo que segurava. – Sobre mim.


 


Draco suspirou e se levantou.


 


-       Kokah foi por muito tempo aprendiz de magos e adivinhos. – bebeu finalmente sua bebida. - Deve confiar mais do que deveria na leitura dos estranhos apetrechos que eles usam na África. – foi até a pasta que Devon deixara sobre a mesa para analisar novamente a assinatura do homem tentando não se concentrar no fato de que Hermione estava processando tudo que havia escutado muito calmamente.


 


Draco não queria ter que digerir o fato de que aquele homem acabara de colocar Hermione contra Draco. Como se ela fosse uma entidade poderosa apenas esperando o momento em que os olhos fossem abertos para perceber que estava presa a uma vida sem sentido, uma vida sem propósito, uma vida onde Draco e até mesmo os filhos não fizessem parte, uma vida muito insignificante comparado ao enorme domínio que poderia ter.


 


-       Não gosto dele. – ela comentou pensativa.


 


-       Não precisamos gostar dele. – Kokah tinha apenas um papel dentro daquela revolução e o papel assinado que Draco analisava naquele momento garantia que seria cumprido.


 


Hermione bateu novamente com a aliança no vidro do copo pensativa. Draco não gostava que ela estivesse ultimamente tão presa dentro de sua própria cabeça.


 


-       Vamos matá-lo? – ela soltou depois de um longo silêncio.


 


Draco ergueu os olhos para ela recebendo o peso daquela pergunta.


 


-       Apenas porque não gosta dele? – foi sarcástico.


 


Ela soltou o ar impaciente.


 


-       Porque ele é uma ameaça! Ele vai encontrar uma forma de derrubar o Ministério quando tudo isso acabar e estamos dando o poder a ele para isso. – justificou ela.


 


Draco soltou um riso forçado não acreditando no que estava escutando.


 


-       Hermione, nós matamos porque isso é uma guerra. Quando ela acabar o império que vamos construir para nossa família irá jogar em um cenário muito diferente do que estamos vivendo agora.


 


-       Está certo disso? Porque eu não acredito que era isso que o seu pai defendia. Especialmente quando ele se fez responsável pela morte da mulher que me colocou no mundo.


 


Draco congelou. Ele definitivamente não estava esperando por aquilo.


 


-       Desde quando tem revirado os arquivos confidenciais dos cofres da minha família?


 


-       Desde quando sua mãe começou a insistir em te educar sobre o meu passado! Um passado que vocês dois se acham no direito de manterem para si mesmos!


 


Ela não podia ter ido muito longe, só sua mãe tinha a chave que guardava os segredos que ela não iria gostar de ver. Ele havia ignorado os alertas de sua mãe sobre o fato da família Malfoy ter uma responsabilidade grande que vinha passando de geração em geração desde muito tempo sobre a perseguição aos descendentes de Morgana. Sabia que isso era obra do seu pai. Que nos momentos de lucidez que conseguia, encontrava uma forma de convencer sua mãe a educar Draco sobre a verdadeira pessoa com quem estava casado. Mas independente do direito de curiosidade de Hermione e da falta de recursos que ela possuía para correr atrás de sua história, ele se sentia violado por ter aquele lado obscuro de sua família sendo revirado por ela.


 


-       Você não tinha o direito. Isso pertence a minha família!


 


-       Eu sou sua família, Draco!


 


-       Certeza? Por que a segundos atrás você parecia bem pensativa com tudo que foi obrigada a escutar de Kokah.


 


-       Eu disse que não gostava dele! – relembrou ela.


 


-       Não gostou dele ter sido invasivo com relação a você, a menção aos nossos filhos e ao fato dele claramente estar projetando algo para derrubar o Ministério Africano quando consegui-lo, mas eu sei que dentro da sua cabeça está processando o fato dele ter exaltado todo o poder que eu sei que anda explorando, o fato dele ter evidenciado que está presa ao meu sobrenome, o fato de ter a colocado acima de qualquer ameaça, de ter te colocado mais forte do que Voldemort. Acaso se lembra do que eu te disse ontem? O fato de saber o porque não diz que me ama? Não negue que não sabe que existe algo dentro de você que sempre tentou te direcionar para uma identidade que não condiz com a que vive, para um propósito que pode ser maior.


 


Ela mostrou-se ofendida e ferida. Soltou o ar e por um segundo ele pensou ter visto o brilho sutil de uma lágrima enganosa em seus olhos, mas a postura dela continuou bem intacta.


 


-       O que poderia ser maior que os nossos filhos? O que poderia ser maior que nós?


 


Como ela ousava fazer aquela pergunta se era ela quem não negava a identidade que guardava para si.


 


-       Me diga você! – ele retrucou.


 


Ela se calou como se não conseguisse acreditar que ele havia a feito se perder nas palavras. Draco não acreditou que ela não conseguisse encontrar uma sequer para se defender. Nenhuma sequer! Vestia toda aquela postura perfeita e não era capaz de encontrar uma palavra que fosse. Soltou um riso incrédulo e deu as costas. Precisava encher seu copo novamente. Precisava de álcool.


 


Um silêncio tenso apenas perdurou entre eles enquanto Draco enchia novamente seu copo. Ele engoliu o conteúdo logo em seguida com sede. Sede pelo efeito que ele sabia que não viria com aquele copo. Precisava de muito mais para sentir que a angústia que carregava consigo fosse anestesiada.


 


-       Você vem bebendo muito ultimamente. – a voz dela soou por entre o silêncio.


 


Aquele comentário fez Draco querer jogar seu copo contra a parede enfurecido, mas ele apenas o apertou entre os dedos tentando encontrar um ponto de equilíbrio dentro de si. Sabia que ela dizia aquilo porque sondava para saber até onde ele estava conseguindo controlar seu estado de sanidade e a necessidade pelo álcool. Ela estava o alertando de que aquilo não poderia ser seu refúgio, mas ele sabia muito bem que o pior dos refúgios que poderia ter agora era o álcool.


 


-       Não é isso que estou esperando escutar de você. – ele tentou fazer com que os dois voltassem para a discussão que estavam tento.


 


-       Eu, honestamente, não sei o que quer escutar, Draco. – por alguma razão, o tom que ela carregava o incomodava. Ele queria escutar as emoção da Hermione que ele conhecia, mas tudo que conseguia sentir vindo dela era toda a armadura séria e impenetrável que usava. - Eu nunca pensei que iria precisar te convencer sobre o peso que eu, você e os nossos filhos tem sobre quem eu sou.


 


-       Eu nunca precisei que fosse ter que ser convencido. – voltou-se para ela. – Eu nunca quis ter que lidar com você frágil e sem rumo na situação em que estamos, mas também nunca pensei que fosse ser capaz de se esforçar e ter tanto empenho em se fechar por trás de tantas máscaras como agora. Me faz questionar o que está acontecendo com você, me faz questionar o que anda se passando pela sua cabeça, me faz questionar se esta apenas vestindo suas armaduras ou se está matando a Hermione que eu conheço para ser apenas uma casca impenetrável, forte e indestrutível e vazia por dentro. – porque fazia muito sentido que ela estivesse tentando se livrar da Hermione que ele conhecia. Era aquela Hermione que Voldemort queria fazer com que fosse tão miserável.


 


Eles se encararam em silêncio por um longo segundo que pareceu se estender mais do que fisicamente possível. Ela em sua postura intacta, ele em plena consciência que não era o momento para aquela conversa.


 


-       Você sabe que eu não tenho outra opção. – aquela era uma verdade triste que ela precisou dizer.


 


-       Eu não quero ter que te olhar e ver a personalidade da mulher que meus antepassados precisaram eliminar. – ela não entendia que aquilo não o ajudava a digerir o controverso fato de estar casado com o erro que seu pai cometera anos atrás ao matar a mãe de Hermione sem saber que ela havia tido uma filha e encontrara uma forma de salvá-la a tempo.


 


-       Talvez você tenha que aprender. Eu não posso ser a Hermione, sua esposa, agora. Eu não posso ser a mãe dos meus filhos agora. Isso não é sobre o que você quer, Draco. Tivemos essa conversa antes. Pensei que tivesse concordado comigo.


 


Ele continuou a encará-la incapaz de ver como era natural para ela usar suas máscaras ali com ele quando para ele já havia se tornado tão comum que ele se despisse de todas as suas quando estava com ela. Era como se ele não tivesse a menor capacidade de não ser seu verdadeiro eu quando estavam sozinhos. Quando foi que Hermione conseguira entrar tanto dentro dele a esse ponto?


 


Por um momento ele teve raiva. Raiva de que o jogo tivesse virado entre eles. Não conseguia aceitar que ele não era a pessoa que, mesmo no meio de tudo aquilo, mesmo depois de tudo, não era quem conseguia alcançar a verdadeira alma dela. Ele não podia aceitar que quando ela erguia a cabeça e gritava para os quatro ventos que vivia pela família, que vivia pelo marido, que vivia pelos filhos, que eles todos eram um, que não havia nenhuma separação entre eles, ela estava se referindo ao discurso Malfoy que queriam que a mídia comprasse e não ao lar que haviam construído no pouco tempo que tiveram com os filhos, a conexão que os dois haviam criado entre eles quando usavam um simples olhar para se comunicar, quando conseguiam ser o time perfeito contra o mundo, quando sabiam entender as dores e o passado um do outro, quando venciam as batalhas de se descobrirem como pais, amantes e cúmplices juntos.


 


Tinha que haver um jeito dele conseguir enxergar além da armadura dela. Tinha que existir alguma forma que ele pudesse fazer com que as mascaras dela caíssem. Ele precisava saber como estava sua Hermione, por mais que soubesse que isso fosse lhe doer. Ele não iria aceitar que ela não permitisse que ele fosse quem pudesse perfurar sua grossa camada de proteção. E só havia um caminho que ele conhecia que poderia lhe dar alguma chance. Estaria quebrando as regras, mas ele realmente não se importava. Cedia ao álcool embora soubesse que fosse um mal. Porque não cederia as regras?


 


Avançou contra ela sentindo-se bem pouco intimidado pela postura firme que ela vestia. Somente a viu vacilar no momento em que tomou o copo que ela ainda segurava e o lançou longe. O som do vidro se espatifando o acompanhou quando ele segurou sua nuca passando o dedos pelos fios macios dos cabelos castanhos, colou seu corpo no dela e beijou sua boca. O físico havia sido o que os unira em primeiro lugar. Exatamente como quando se casaram, a resistência dos dois, o passado, o ódio, o rancor, os preconceitos não foram suficientes para mantê-los longe de uma cama. Draco sabia muito bem que sexo não era o responsável por ter feito com que o relacionamento deles crescesse, não dava crédito a ele, mas acreditava que ele havia sido uma ferramenta eficaz que abrira portas para outras oportunidades. Era o caminho do físico que ele usaria para atravessá-la.


 


A princípio, foi como beijar uma pedra, embora estivesse sentindo os lábios macios de sua mulher, os fios dos cabelos sedosos entre os dedos, o calor receptivo do corpo dela e seu cheiro que se tornara tão familiar, que o lembrava de casa. Era como se estivesse beijando uma versão muito distante de Hermione embora a sentisse ali em seus braços.


 


-       Draco. – ela encontrou uma forma de empurrar-se um pouco para conseguir se afastar. Pela primeira vez desde que ela entrara pela porta daquela sala, ele conseguira sentir algum tom de emoção na voz dela. – Não seja o fraco de nós dois. Não podemos bancar isso agora.


 


-       O que não posso bancar é vencer tudo que estamos enfrentando agora e perder você. É tão importante quanto conseguir Scorpius de volta. Tão importante quanto derrotar Voldemort.


 


Ela piscou várias vezes como se estivesse em uma batalha interna. Quanto mais Draco conseguia enxerga-la por trás de sua máscara, mais ele se sentia confortável tendo-a contra ele.


 


-       Eu não posso dar espaço a minha fragilidade, Draco. Eu perderia minha sanidade. – a voz dela veio baixa.


 


-       Eu sei. Portanto deixe que eu seja seu ponto de equilíbrio. Deixe que eu seja quem não te faça perder a cabeça. Deixe que eu seja quem irá cuidar de você. – ele segurou o rosto dela entre suas mãos. - Me deixe cuidar de você. – Ela não disse nada. Enquanto se encaravam Draco esperou pelos motivos que dava a ela o poder de contestá-lo. Mas ela não o contestou. Ele apenas inclinou-se para sentir a boca dela novamente. – Precisa permitir que eu seja. – e a beijou novamente. Ela o recebeu dessa vez,  apoiando-se calmamente na mesa as suas costas quando ele quis que seus corpos fundissem em um.


 


Os lábios macios contra os seus despertou nele a vontade de brincar com os dela. A vontade de sentir que ela o queria tanto quanto ele. Era incrível como toda vez que a beijava, embora fosse tão familiar, era único. Sempre parecia algo novo, algo com um significado diferente. Dessa vez, ele tentava alcançar a mulher que sorria para ele quando se encontravam no final do dia para voltarem para casa da Catedral. Tentava encontrar a mulher que dividia uma calma e romântica valsa sem música com ele no escuro da noite quando se sentiam vitoriosos por conseguirem fazer os filhos voltarem a dormir. A mulher que era forte, porem sensível, dócil, mas sempre armada. Ele seria paciente, porque aquela mulher valia a pena. Afastou-se minimamente outra vez para dar espaço a ela. Hermione não ousou abrir os olhos. Respirava como se lutasse contra algo. As sobrancelhas unidas indicavam para ele que tentava não encará-lo de volta. Talvez se fizesse mostraria que ele derrubara todas as muralhas de proteção dela.


 


Uma mão dela subiu incerta até que a ponta de seus dedos gelados tocassem um lado de seu maxilar. Ela puxava o ar todas as vezes como se estivesse pronta para dizer algo, mas nunca dizia. Ele precisava saber que ela estava ali. Hermione estava ali. Não a figura armada e intocável que fazia andar por aí.


 


-       Não temos tempo para isso, Draco. – a voz dela saiu num sussurro baixo, quase como se não quisesse ser ouvida.


 


Ela finalmente abriu os olhos e muito receosa, fez com que eles se unissem com os do marido. Foi naquele momento que Draco a viu. Viu Hermione. Naquele momento soube que ela não quis dizer aquilo e admitiu que sim, precisavam um do outro, precisavam daquilo, e não importava que não tivessem tempo para eles, que não fosse oportuno, que não era o momento. Precisavam do conforto um do outro.


 


Dessa vez ele avançou contra ela com fome. Com saudade. Com vontade. Precisava dela e sabia que ela precisava dele. Aquela Hermione, a que ele conhecia, precisava dele, precisava do ombro dele, do abraço dele, do cuidado dele. Por que ela havia sido criada em um mundo de afetos e ela precisava dele para se sentir segura, principalmente agora. Passou o braço por sua cintura para que ela não precisasse apoiar contra a mesa e trouxe seu corpo mais para si. Ela o aceitou deixando que ele invadisse sua boca enquanto fazia com que a mão contra o maxilar dele subisse até a nuca e entrasse pelo seu cabelo.


 


Ela se agarrou a ele provando que estava seca de afeto, toque, calor. Hermione estava permitindo que ele pudesse enxergar aquilo. Era doloroso. O partia por inteiro. Porque ela era obrigada a levantar da cama que não a fazia dormir todos os dias desde que fugira de Brampton Fort para mostrar ao mundo que o salto que tinha nos pés era para esmagar quem ousasse cruzar seu caminho. Conseguia entender perfeitamente porque sentia os músculos dela tão tensos. Sabia que ela também sentia os seus no mesmo nível. Eles nunca tinham feito aquilo no estado em que estavam, mas não havia infernos que pudesse o parar.


 


No momento em que a colocou sobre a mesa, suas bocas desgrudaram e eles pararam por um segundo sem abrirem os olhos sentindo a respiração ofegante deles bater um contra o outro. Tanto ela quanto ele poderiam dar mil justificativas do porque aquilo não era uma boa ideia. E realmente não era. Já tinha tanto em suas mãos naquele momento. Mas ainda assim, não havia infernos que fossem os parar porque ele conhecia quem tinha nas mãos. Foi com essa vontade que avançou com as mãos pela perna dela, subindo sua saia, sentindo a pele fria dela contra a palma de sua mão. Por alguma razão, não conseguia se lembrar de nenhum momento em que o corpo dela falhara em acender nele a vontade de tê-la inteira para si.


 


Hermione muito rapidamente alcançou o cinto de sua calça. Seus lábios não se tocavam embora estivessem muito próximos e isso fez com que rapidamente, pelo compasso da respiração dela, ele notasse que as mãos tentando desatar seu cinto tremiam. Foi até as mãos dela e as segurou, parando-a. Afastou-se para poder encará-la. Os olhos dela brilhavam contendo o que parecia um milhão de lágrimas. Doía nele ver aquilo. Queria dizer a ela que tudo estava bem. Que tudo bem. Eles fariam aquilo porque precisavam daquilo. Mas a verdade era que nada estava bem. Não mentia para ela. Nunca mentira. Nunca criara ilusões em Hermione. Não seria agora que ele criaria, mesmo que sentisse uma necessidade absurda de confortá-la.


 


-       Sou eu, Hermione. Somos nós. – sexo sempre havia sido algo libertador para eles, não seria diferente agora. Precisava lembra-la disso.


 


Os olhos dela brilharam. Era como se a cada segundo que os olhos dela ficaram travados sobre ele, estivesse reconhecendo cada milímetro de seu rosto como sendo o dele, seu marido, Draco Malfoy. Quando finalmente ela pareceu se permitir ver  que o homens a sua frente era aquele com o qual dividira os últimos anos de sua vida, ela avançou sobre ele beijando-o com tanta sede que Draco precisou dar aquele momento a ela. Apenas provou do sabor que tanto o acolhia, o aquecia e o incitava.


 


Ela puxou seus cabelos colando seu corpo no dele como se pudesse encontrar uma forma de conseguir que não existisse qualquer separação entre eles. Ela estava buscando escape. Aquilo já fora familiar entre eles. Draco sentiu o contato do corpo dela e aquilo acordou nele um desespero ao se lembrar de todas as outras vezes em que sentira calor inteiro da pele dela contra a sua. A superfície da pele dela contra a dele. O suor. A respiração. Os gemidos. Céus! Por que ele sentia que fazia anos que não a tocava? Quis arrancar aquele vestido dela e com aquele crescente sentimento dentro dele, suas mãos buscaram por uma forma de tirá-la de dentro daquela peça de roupa que a fazia parecer tão dominadora enquanto Hermione puxava sua camisa para fora do cós de sua calça.


 


De repente, ele se viu dividir seu desespero com Hermione enquanto ambos pareciam famintos desabotoando botões, abrindo zíperes, desatando cintos, desfazendo laços. Ele teve que tirá-la de cima da mesa para subir o vestido dela. Suas mãos apertaram bem as redondas e firmes nádegas de sua mulher quando, de pé, seus quadris conflitaram com os dela. Hermione gemeu abafado podendo sentir o quanto ele a queria. Aquilo quase o matou. Ela não perdeu tempo e avançou com a mão para poder senti-lo por cima da calça. Havia algo sobre tocá-lo daquela forma que a acendia. Hermione sempre gostava de medir com a mão o volume em sua calça. Ela nunca perdia a oportunidade e no momento em que a mão dela o massageou ele sentiu o ar prender em sua garganta. Grunhiu por baixo da respiração tendo que se afastar da boca dela para não perder a força.


 


Poucas vezes em sua vida ele se vira com muito pouco controle ao fazer sexo. Ele era o mestre do auto controle. Tivera anos de prática para conseguir se desenvolver ao ponto de ser aquele que conseguia virar a noite com uma mulher na cama implorando a ele por pelo menos uma pausa. Era a primeira vez em muito tempo que se sentia quase fora do controle ao fazer sexo. Não que ele houvesse se privado de Hermione por tanto tempo, embora muitas vezes ele se vira salivar por ela durante todo aquele inferno. Mas a verdade era que sentia os nervos correrem por debaixo de sua pele ansiosos, sentia os músculos travados, a tensão do peso que carregava o oprimindo. Vinha vivendo aquilo por tanto tempo que era quase como se seu corpo estivesse desesperado para sentir o mínimo de alívio que fosse.


 


Segurou-a pela cintura e a empurrou até a ter contra a parede. Ofegou enquanto sentia a mão dela o medir cheia de vontade. Desceu sua boca pelo pescoço alvo e cheiroso da mulher, sua mulher, até o ponto onde precisou parar para se concentrar. Sua respiração já o alertara vezes o suficiente para que tomasse alguma providência. Teve que segurar o pulso dela e o prende contra a parede acima de sua cabeça. Longe do volume em sua calça. Ele não sabia se conseguiria se segurar. Ela o cercou com as pernas deixando de usar o chão como apoio e abrindo espaço para que se encostassem num nível de intimidade muito maior. Pressionou seu quadril contra o dela, sentindo o quanto ela estava quente por baixo da saia do vestido mesmo que ainda estivesse com sua calça. Ela gemeu livremente, sem qualquer resguardo. Entrou com sua mão pelos botões que havia aberto em seu decote e a encheu com o seio dela, os seios que agora a obrigavam a tomar poções para se desfazer da dor de não estar mais alimentando os filhos. Ela arqueou rebolando seu quadril contra o dele fazendo com que ele buscasse ar. Seu nome saiu da boca dela com um tom de alerta por entre uma respiração muito curta.


 


Foi quando entendeu que ela estava no mesmo ponto que ele. Ela carregava tanta pressão, tensão e medo quanto ele. Havia se obrigado a não tocá-lo tantas vezes quanto ele fora. Não estavam sendo escravos apenas do desejo naquele momento. A beijou mais uma vez e mal acreditou quando os dedos dela amassaram sua blusa puxando-a com força, seus quadril forçou-se contra o dele, suas pernas o apertaram e sua voz saiu como um gemido longo por entre os dentes quando o corpo dela inteiro sofreu um espasmo por baixo do seu.


 


Ele afastou-se apenas o suficiente para poder encará-la. Ela ofegava. Seu peito subia e descia. Usou as duas mãos para segurar aquele rosto que nunca deixava de ser arrebatadoramente lindo. Houve um silêncio rápido entre eles. Uma lágrima pulou de um de seus olhos dourados e escorreu pela bochecha rosada. Ela não precisou dizer nada. Muito menos ele. Se entendiam. Ele entendia. Os dedos trêmulos dela passaram calmamente por seu ombro e desceram pelo seu braço tirando a blusa que ele ainda vestia. Draco afastou seus cabelos e acariciou seu rosto. Limpou o caminho da lágrima e selou seus lábios contra os dela pacientemente. Hermione desceu com as mãos pelo seu abdômen e com cuidado empurrou o cós de sua calça o suficiente para libertá-lo.


 


Eles se ajeitaram um contra o outro dando espaço para que ele pudesse deslizar para dentro dela. Inteiro. O ar escapou por entre os dentes dela batendo contra o rosto dele e Draco não conseguiu segurar o som que escapou por sua garganta ao sentir a satisfação de tê-la quente, úmida, o apertando. Uma urgência desesperadora o acelerou, mas ele encurtou a própria respiração para conseguir segurá-la. Afastou as mangas do vestido passando-o pelos braços dela para poder abaixá-lo até sua cintura. Hermione o segurou pelos cabelos enquanto ele fincava os dedos em suas coxas macias.


 


Tentou começar com calma. Tentava não se concentrar no fato de ter os seios dela apertados contra sua pele, tentava não se concentrar no fato de que ela estava absurdamente molhada, tentava não se concentrar nos sons que escapavam tanto da garganta dela quanto da dele. Tentava. Mas quem ele estava tentando enganar? Precisava dela. Precisava de tudo dela. De cada pedaço dela. Ele não queria ter que lutar contra o efeito que ela causava nele. Ele gostava daquilo. Enterrou o rosto contra o pescoço dela ainda lutando para não ter aquele momento deslizando de suas mãos com tanta rapidez. Inalou o cheiro dela. Reconheceu o calor. Aceitou o conforto da pele dela contra a dele. Sua mulher. Sua Hermione. A mãe de seus filhos. Sua cúmplice. Sua família. Deus sabia o tanto que ele duvidava se seria capaz de respirar um dia que fosse sem ela. Deus sabia o quanto ele temia e tentava não pensar que ela poderia encontrar uma forma de deixá-lo. De simplesmente desfazer a assinatura que a tornava praticamente sangue de seu sangue.


 


Já estava entrando e saindo dela com tanta vontade que mal conseguiu se lembrar em qual momento havia cedido toda a sua concentração. Os sons de sua garganta entregavam o quanto ele sentia que os nervos por baixo de sua pele gritavam para serem libertados, que a tensão em seus músculos imploravam para serem atendidos, que o calor em seu abdômen clamava por alivio. Ele se entregou sem qualquer pressão. Apenas apreciou o momento de êxtase que estava tendo ali. A oportunidade de conseguir esquecer, por mais rápido que fosse, o inferno que o cercava. Tinha Hermione em seus braços. Era Hermione ali. Hermione. Sua Hermione! Do que mais ele precisava? Quando escutou os gemidos dela se intensificando com as investidas dele, deliciou-se com a satisfação de saber que eles poderiam dividir aquele momento juntos, como já haviam feito tantas outras vezes. De que poderiam ir juntos até o fim do universo, beber de toda a energia dele, dividir a experiência e voltar para a infeliz realidade que viviam juntos.


 


Sentiu que seus dedos poderiam perfurar a pele dela com a urgência presa dentro dele. Os sons dela o atingiam com tanta violência que o colocava a beira do precipício. Ele sabia que a qualquer momento... A qualquer momento ele jorraria uma vida inteira de sexo dentro dela. Suas pernas quase fraquejaram. Hermione perdeu a respiração. Draco sabia que ela gritaria. Ela explodiria com força. Ele a conhecia. Quase que automaticamente sua mão moveu-se para tampar a boca dela. A pressa deles os impediram de lançar algum feitiço para enclausurar a acústica daquela sala e ele não arriscaria ter o grito dela ecoando pelas paredes de Azkaban.


 


Não achou que fosse possível mas ela veio antes dele. Não muito antes. Mas antes. O momento em que o grito dela foi abafado por sua mão, as paredes dela o apertaram de tal forma que ele pensou que fosse entrar em colapso. O corpo dela inteiro tremeu contra ele num espasmo tão forte que ele precisou se certificar de que conseguiria sustenta-la. Abafou seu rugido entre o pescoço e os cabelos dela e jorrou. Foi tanto que por um segundo ele pensou que não fosse parar e quando pensou que não pararia, finalmente, acabou.


 


Ficaram ali. Sem forças. Acabados. Os únicos músculos que ousou mover foram os que fizeram sua mão deixar a boca de Hermione para apoiar-se na parede. Ofegaram em silêncio. Havia sido rápido. Urgente. Pouco elaborado. Havia sido exatamente o que precisavam. Draco apreciou aquele momento em que seus músculos se encontravam completamente relaxados, longe da tensão que antes havia carregado e que logo voltaria a carregar novamente. Havia conseguido quebrar a armadura de Hermione. Ela estava ali em seus braços despida de todas as suas barreiras de proteção. Completamente exposta. Ele queria ver a fragilidade dela. Mesmo que isso fosse fazer doer cada pedaço de sua alma.


 


Foi quando ela chorou. Doeu nele. Sabia porque ela chorava. Sabia por quem ela chorava. Estava tão desarmada que nem mesmo tentar conter seus soluços ela parecia tentar. Draco finalmente teve a coragem de encará-la. Ela estava completamente destruída. Tocou seu rosto molhado pouco acreditando que eles estivessem chegado a aquele nível de sofrimento. Cada parte dela sofria. Ele queria ser capaz de unir todos os pedaços quebrados dela, mas agora via que eram muitos e estavam por toda parte. Ele era incapaz de colocar todos no lugar. Aquela era a pessoa que ela escondia por trás de sua postura indestrutível. O coração dele apertou e um nó se instalou em sua garganta ao vê-la naquele estado. Ela se forçava a engolir tudo aquilo a cada minuto para poder fazer o que tinha que fazer, cumprir o que tinha que cumprir, ir atrás do que tinha que ir. Seus olhos embaçaram e ele aproximou-se para beijar o caminho que as lágrimas dela faziam. Queria que ela soubesse que não estava sozinha. Que ela o tinha. Que estavam juntos. Hermione o entendeu. Passou os braços por seu tronco e o abraçou encolhendo-se contra ele, escondendo o rosto em seu ombro. As unhas dela cravaram-se em suas costas. Draco a recebeu.


 


-       O que estão fazendo com nosso filho, Draco? O que estão fazendo com meu bebê? – ela soluçou parecendo uma criança pedindo conforto. – Eu ao menos posso ser uma mãe para Hera quando ela mais precisa de mim. – as lágrimas dela molharam seu pescoço. - Eu quero matar Voldemort. Eu. Eu quero mata-lo. Por favor, deixe que eu o mate!


 


-       Você vai. Nós vamos. – tentou lembra-la enquanto as pernas dela desciam para fazer seus pés tocarem novamente o chão e Draco se ajeitava para não deixar que o corpo dela escapasse do abraço acolhedor que ela pedia.


 


-       Não. Eu quero usar minhas próprias mãos. – insistiu ela.


 


-       Hei. – ele a afastou. Limpou seu rosto com cuidado afastando os fios de cabelo e limpando as lágrimas. Os olhos dela sobre ele eram uma mistura de dor, raiva e confusão. – Vamos ser responsáveis por trazer justiça a ele. – disse embora não acreditasse em justiça.


 


Ela fechou os olhos fazendo as lágrimas pularem para fora dele e escorrerem por sua bochecha. Seus lábios apertaram e ela contorceu sua expressão em uma amarga e cheia de rancor.


 


-       Ele não merece a morte, Draco. – ela soltou.


 


-       Sim, ele merece. É o maior medo dele. A morte é o único fim irreversível para ele.


 


-       Não. – ela discordou e o encarou. No momento em que ela abriu os olhos novamente Draco conseguiu ver estampado nela todas faces do rancor. - A morte é muito simples. Muito rápida. Ele não me deu o prazer da morte quando eu esperei por ela. Ele merece o mesmo.


 


Ele ficou confuso pelo que ela havia dito. De alguma forma, aquilo o machucara.


 


-       Preferiria ter morrido, Hermione?


 


O brilho dos olhos dela mudaram ao reconhecer o erro que havia cometido.


 


-       Não. – ela respondeu quase que imediatamente. – Draco. – Tocou o rosto dele. – Não. Eu não trocaria o que construí com você pela morte. Nunca.


 


Pelo que trocaria então? Foi o que veio a sua mente imediatamente. Mas ele não ousaria compartilhar aquele pensamento com ela. Não porque sabia que ela receberia como uma ofensa, mas porque ele tentava acreditar que estava delirando em pensar que Hermione possuía um lado que ainda não conhecia.


 


-       Sei que esta com raiva. – optou por dizer. – Precisamos desse sentimento agora. Eu e você. – tirou a mão dela de seu rosto muito calmamente. Trouxe a mão dela para perto de sua boca e beijou o nó de seus dedos. – Tudo isso vai ter um fim. Vamos ter que viver apenas com as cicatrizes.


 


-       Por que eu sinto que não vai ter um fim? – mais uma lágrima escapou de um de seus olhos.


 


-       Porque Voldemort já te ameaçou e te fez sofrer vezes o suficiente para acreditar que nunca terá um fim. Mas eu e você...


 


-       Não. – Hermione o calou colocando a mão contra o peito dele, fechando os olhos com força e o empurrando cautelosamente para longe. – Você não entende. Não o culpo por isso. Mas... – ela soltou o ar e balançou a cabeça tentando colocar seus pensamentos em ordem. – Está me fazendo fraca. – Ela definitivamente afastou-se dele dessa vez abrindo os olhos e evitando coloca-lo em seu campo de visão. – Eu não posso me permitir ser fraca. Nem por um minuto que fosse. Eu não posso. Me levaria a loucura. – começou a colocar em ordem seu vestido.


 


-       Hermione... – tentou se aproximar novamente.


 


-       Não. – o ‘não’ dela foi bastante definitivo quando estendeu a mão pedindo para que ele mantivesse distância. Ele apenas a observou por alguns segundos enquanto a via reconstruir toda aquela barreira de proteção novamente em questão de segundos. – Eu deveria estar indo para Londres. Você já deveria estar na Austrália... – Ela engoliu as próprias palavras. Parou. Ergueu os olhos para ele. Ele a viu travar uma breve luta mental. – Posso tomar conta de mim mesma por agora, Draco. – pontuou ela muito decida. – Existe apenas uma coisa da qual podemos nos permitir se preocupar agora. Apenas uma.


 


Sabia que não havia mais volta ali. Ela já estava vestida em sua armadura e duvidava que qualquer surpresa ou ataque fosse fazer com que Hermione se desfizesse dela outra vez. Apenas assentiu e observou quando ela voltou a se colocar em ordem a apresentável. Ele calmamente trabalhou para atar o cinto de sua calça novamente. Quando estava colocando vestindo sua blusa, ela já havia se feito perfeita novamente. Vestida de sua postura intacta, sua roupa cara, seu salto alto e sua atitude Malfoy. Fez o caminho até a porta e parou antes de sair. Draco desejou que ela pudesse dar a ele uma pequena amostra de afeição, mesmo que estivesse naquele seu traje, usando aquela máscara. Mas sabia que ela não daria, mesmo parecendo que estivesse lutando para poder parada ali, encarando a porta. Teve certeza quando ela apenas disse:


 


-       Te vejo em casa. – e saiu.


 


Draco ficou no silêncio. Sozinho. Percebeu que a falta da presença dela o fizera sentir a frieza e o vazio das paredes de Azkaban novamente. Hermione estava completamente destruída. Tudo aquilo fazia tão mal a ela que continuava a destruí-la mais e mais. O que restaria dela quando tudo aquilo acabasse? Cada vez mais as feridas que ela carregavam ditava o que ela queria ver e como ela queria ver. Draco havia a conhecido completamente limpa quando fora jogada dentro da vida obscura de Brampton Fort. Doce e ingênua, perdida em seu mundo de afetos, com uma determinação de acreditar que até mesmo Voldemort poderia ser capaz de sentir algum tipo de compaixão. Draco a viu aprender as regras do jogo para sobreviver. Viu a primeira vez que ela ergueu a varinha para torturar um homem inocente. Viu quando ela cedeu a morte de Fred Weasley. Viu quando ela condenou seus antigos companheiros de guerra a morte um a um, dentro da perdida sede da Ordem da Fênix que ela havia tornado possível ser destruída. Viu quando ela se fez perfeitamente decidida a entregar Harry Potter nas mãos de Voldemort. Viu ela ser testada ao limite até não ter outra saída que não fosse a de se tornar egoísta. Agora ele entendia que quando ela chorava em silêncio ou passava mal por condenar alguém a morte ou por ser obrigada a assistir sessões inacabáveis de tortura, ela estava tendo seu momento de dizer adeus a uma parte sua que fora perdida sem qualquer chance de resgate. Ela havia aprendido a viver no meio das pedras. Na cidade das pedras. Havia se tornado um deles. Havia aprendido a jogar o jogo. Havia aceitado se corromper e sabia que a cada dia que se passava, a cada sacrifício que fazia, mais de sua alma perderia e mais rancor de si mesma sentiria por ter cedido, por ter aceitado, por ter sacrificado, por ter perdido sua essência. O que seria dela? O que ela se tornaria quando tudo acabasse?


 


Voldemort definitivamente fizera um trabalho impecável com ela.


 


 


Hermione Malfoy


 


 


Estava tão cansada. Mal percebeu quando seus olhos se fecharam e ela acabou caindo no sono quando não devia. Era sempre quando não devia, porque quando deitava na cama e se forçava a dormir, sua mente não conseguia parar.


 


Em seu sonho ela chacoalhava dentro da cabine silenciosa de sua carruagem. Era fim de dia e ela estava indo para casa depois de longas horas na Catedral, longe dos filhos. Ela se sentia mal de ter que deixá-los com Narcisa para poder conseguir terminar os trabalhos que tinha que terminar com a Comissão e ter certeza de que os seus planos com Draco caminhavam sobre o trilho certo. Conseguia fazer muito de casa, mas também precisava ser presente na Catedral. Sentia-se bem por conseguir conciliar seu novo papel de mãe com aquilo que julgava ser o seu papel profissional, mesmo que aquilo significasse ser obrigada a deixar os filhos, que ela tanto queria proteger em uma bolha, por algumas horas com a avó. Sabia que os dois davam trabalho. Narcisa não tinha a paciência que ela certamente teria.


 


Mas voltar para eles no fim do dia era algo que ela não conseguia achar palavras para explicar. Sempre colocava um sorriso em seu rosto, por mais estressante que seu dia tivesse sido, por mais pressão que tivesse sofrido, por mais receio que estivesse carregando.


 


-       Estou com fome. - Draco comentou casualmente ao seu lado e ela desviou o olhar para vê-lo ali, dividindo uma carruagem com ela. O que era algo que normalmente também não acontecia, mas que ela sempre ficava animada quando conseguiam ter a chance. Ele estava ocupado com um longo pergaminho e uma pasta, o que não era surpresa para ela. Ele sempre estava ocupado com algo. – Queria poder comer um de seus pratos hoje.


 


Aquilo a fez lembrar de que não cozinhava fazia muito tempo. Sentia falta.


 


-       Posso fazer o café da manhã de amanha. – Sugeriu.


 


Ele ergueu os olhos até ela. Hermione sabia o que estava sugerindo com aquilo. Domingo era o dia que Draco havia tirado de sua apertada agenda como general do exército para se dedicar a família e poder ser um pouco do pai que Voldemort não o deixava ser. Não era bem todo domingo, mas mesmo naqueles que ele não tinha outra escolha a não ser ir a Catedral, ele ainda se deixava cumprir o ritual de domingo de manhã. O ritual onde traziam as crianças para dividir a cama com eles até tarde, uma cama que se tornava sempre incrivelmente apertada com dois bebês bastante ativos ocupando o espaço, até finalmente decidirem descer para a cozinha. Hermione preparava a comida. Draco vestia sua personalidade descontraída. Ele sempre era irreconhecível. Hermione tinha a oportunidade de vê-lo vestido em seu humor livre pelos domingos de manhã. Ele a tocava sem receios, a abraçava, a beijava, brincava com ela. Brincava com os filhos sem medo de parecer bobo. Achava saudável que ele se permitisse ter tempo de ser livre mesmo que fosse apenas por algumas horas ou apenas um dia. Ele sempre era o pai preocupado em ensinar os filhos sobre disciplina e responsabilidade, mesmo sendo tão pequenos. Era sempre o homem vestido em sua farda carregando o peso da posição que ocupava. Era sempre o tão bem polido Malfoy que pouco cedia para um café da manhã de pijama na sala de jantar. Era bom para ele sair das regras, sorrir, ser livre. Hermione sempre aproveitava os domingos de manhã para fantasiar que eram normais. Que eram apenas mais uma família.


 


-       Não deveria me tentar dessa forma, Hermione. – ele soltou estreitando os olhos numa brincadeira sutil.


 


-       Sei que é meio de semana. Portanto pensei que talvez podíamos tentar fazer algo sem as crianças. – ela jogou e ele ergueu as sobrancelhas imediatamente. Sabia bem o que ela estava sugerindo.


 


-       Sem crianças? – ele quis ter certeza.


 


-       Sem crianças. – ela reafirmou.


 


Ele riu descontraído voltando para seus papéis.


 


-       Não posso dizer ‘não’ a essa proposta, Sra. Malfoy. – brincou ele. Ela riu em resposta. – Ainda acho difícil de acreditar que marcar hora e lugar para sexo se tornou algo tão comum para nós.


Foi a vez dela rir. Estendeu sua mão e segurou a dele.


 


-       Temos que trabalhar com o que temos agora, Sr. Malfoy. – brincou de volta. – Sabe que é temporário.


 


Ele suspirou.


 


-       Muito sobre nós parece sempre ser temporário. – comentou Draco não muito contente, mas segurou sua mão e a levou até a boca, onde beijou carinhosamente o nós de seus dedos. Ele gostava de fazer aquilo e ela gostava quando ele fazia. Era parte do modo sutil como ele a tocava e mostrava afeto durante os dias da semana que usava sua farda profissional e sua frieza Malfoy. – Conseguiu fazer tudo o que precisava hoje? – sondou ele.


 


Ela soltou o ar desviando o olhar.


 


-       Não tudo. – respondeu. - Tenho tentado encontrar formas de fazer a poção antídoto ser mais duradoura e não estou conseguindo ter muito sucesso. Sabe que se um dia dependermos dessa poção, por mais simples que seja, vamos precisar contar com uma produção em massa muito eficiente e se chegarmos a realmente depender dela um dia, não acredito que uma produção em massa, por mais eficiente que seja consiga ser algo que não nos cause dor de cabeça. Não posso rodar testes em pessoas reais já que tudo tem que ser feito tão as escondidas. Não posso contar muito com o bom grupo da Comissão que parece ser confiável. Tenho que ser muito cautelosa e tudo isso tem sido a receita perfeita para frustração.


 


-       Já tentou a poção em você mesma? – ele quis saber ainda concentrado em seus papéis.


 


-       Não posso testar a poção em mim mesma, Draco. Sabe disso. Ser descendente de uma criatura mágica não me coloca como parâmetro para teste. Além do mais, tenho receio de tomar a poção. Temo que ela não funcione em mim e não posso me focar nisso agora. Não agora. Tenho que me focar no que temos agora, e por mais que não seja cem por cento, é o que temos. Não temos tempo para nenhum projeto que comece do zero agora. – ela explicou. – Conseguimos distribuir frascos da poção por entre os nossos confiáveis pelas sombras e isso já é uma vitória para nós. Nos coloca dentro de uma porcentagem muito segura e isso me alivia. Mas ainda não é muito. Como você tem segurado Voldemort? – ela perguntou.


 


-       Ele ainda não tem me dado permissão para sair de Brampton Fort. – ele disse e aquilo era algo que Hermione já sabia. – Tenho outro discurso amanhã. – mostrou o pergaminho que segurava com as modificações que o precioso mestre queria que ele fizesse as palavras que tornaria pública no dia seguinte. – Estou fazendo o que posso. – e aquilo era sempre o máximo que eles teriam de comunicação.


 


Não se comunicavam. Havia dias em que Draco mal a alertava sobre o que estava acontecendo na Catedral. Era como se ele quisesse proteger e santificar o ambiente de sua casa. Mantê-la limpa da pressão que sofriam fora dela.


 


Quando passaram pelo portão da propriedade, Hermione puxou a cortina da janela imediatamente para observar a fachada de casa. Não demorou a notar o rostinho de sua filha pela janela da sala principal. A pequena batia a mãozinha no vidro parecendo muito animada de ver carruagem. Hermione não conseguiu evitar o enorme sorriso que abriu. Seus filhos a preenchiam de um modo inexplicável.


 


Saltou da cabine assim que a carruagem estacionou. Draco a acompanhou quanto ela avançou com pressa para subir todos os degraus da varanda até alcançar a porta principal. Sempre parecia um longo trajeto quando queria ter logo os filhos nos braços. Livrou-se rapidamente de sua capa e de seu salto no vestíbulo enquanto ouvia a animação dos filhos vindo do cômodo seguinte.


 


As vozes, a animação, os sorrisos, sempre eram poucos para momentos como aquele. Hera engatinhou com rapidez em sua direção assim que ela apareceu na sala. Hermione avançou com pressa e a pegou no colo tomando cuidado para não esmaga-la enquanto a enchia de beijos. Sua menina gargalhava com facilidade e Hermione adorava os sons que ela fazia. Não demorou e ela já estava se jogando para longe de seu colo. Claro que ela queria o pai. Não havia um momento em que Hera não mostrasse preferência por Draco. Hermione achava difícil resistir a conexão que os dois tinham.


 


Abaixou-se para receber Scorpius que equilibrava-se de pé, contendo toda a sua animação para simplesmente conseguir se manter ali. Como se estivesse basicamente tentando dizer aos pais: “Vejam só o que sei fazer”. Hermione começou a incentivá-lo a dar um passo. Draco se juntou a ela rapidamente com Hera nos braços. Ter a atenção dos dois pais ao mesmo tempo pareceu animação demais para que Scorpius conseguisse conter. Ele eventualmente lançou-se no chão e engatinhou até Hermione soltando seus gritinhos de excitação.


 


Seu menino! Hermione tinha tanto orgulho dele. Seu coração se encheu de alegria e dor no momento em que o segurou nos braços. O cheiro de seu filho era tão característico e ela não entendia o porque queria chorar, o porque não queria soltá-lo nunca mais.


 


Sentiu-se fora de seu próprio corpo. Não fazia sentido que quisesse tanto segurar Scorpius e ao mesmo tempo, mesmo sabendo que ele estava ali em seus braços, não parecia que realmente o tinha. Foi quando se viu vendo toda aquela cena se desenrolar diante de seus olhos, não mais sendo a Hermione que descera da carruagem com Draco. Tornou-se consciente de que aquilo era um sonhos. Não! Ela queria voltar a segurar seus filhos no colo! Ela queria ser aquela Hermione que sorria e recebia um beijo simples de Draco e o via seguir até Narcisa para agradecê-la por ter cuidado dos netos enquanto eles estiveram ausentes. Queria ser a Hermione segurando Scorpius. A Hermione que teria um jantar em família, que depois seguiria com o marido para cumprir passo a passo o ritual noturno das crianças, que depois tomaria uma taça de vinho com Draco em seu escritório. Ela queria aquela vida novamente. Por mais que fosse incerta e temporária, havia sido o máximo de família que ela, Draco e os filhos haviam vivido. Ela queria aquela casa novamente, o lar deles. Grande e pequeno ao mesmo tempo. Queria a cama com a qual deitara com Draco desde a primeira noite que tiveram juntos. Queria tudo de volta. Mesmo que fosse em Brampton Fort. Mesmo que fosse debaixo dos olhos de Voldemort.


 


Meu filho...


 


Chorou em seu sonho vendo a família sorridente que havia tido naquela casa em Brampton Fort desaparecer diante de seus olhos. Seguir seu caminho, suas vidas... Queria poder voltar no tempo e dizer para si mesma aproveitar cada segundo daqueles dias em que ela ainda podia fingir que tudo estava bem.


 


Uma enorme raiva lhe cresceu. Não era justo. Nada daquilo era justo. Não era ela quem possuía o sobrenatural sangue de uma fada humana? Não era ela quem conseguia dominar magias que ninguém mais conseguia? Não era ela quem conseguia ter o cérebro de juntar dois mais dois para criar feitiços que ninguém jamais havia pensado? Não era ela? Por que não conseguia segurar a maldita de sua varinha e derrubar Voldemort? Por que falhara no dia em que deveria ter protegido o seu filho? Por que não conseguira vencer o poder daquele terrível homem para conseguir seu filho de volta? Havia falhado com Scorpius quando ele mais havia precisado dela. Ela. A tão poderosa fada que todos pareciam querer especular sobre.


 


Morgana havia conquistado o mundo. Havia conseguido colocar debaixo de seus sapatos qualquer um que ousasse cruzar seu caminho. Se realmente fosse descendente dela, Morgana certamente teria vergonha do que sua linhagem havia produzido. Hermione mal conseguia falar uma palavra contra Voldemort.


 


Estava tudo escuro a sua volta quando notou um espelho a sua frente. O espelho de seu quarto. O quarto de sua infância, o quarto na casa de seus pais. Sua raiva aquietou-se por um segundo quando lembrou-se de que sonho era aquele. Aquele sonho a perseguira por quase sua vida inteira e aquele sonho sempre a deixava com medo. Mas com o número de informações que possuía sobre si mesma agora, a raiva conseguiu facilmente subir novamente por cima de seu medo.


 


Encarou-se naquele espelho e gritou. Chamou por Morgana e a xingou. Como ela ousava ter a amedrontado por tanto tempo? Como ela conseguira ter se escondido dentro dela por tanto tempo?


 


Mostre-se sua maldita bruxa...


 


O xingamento parou a meio caminho de sua quando Morgana definitivamente decidiu se mostrar. O reflexo no espelho transformou-se da mesma maneira como havia transformado em todos os seus outros sonhos. Era pavoroso saber que aquela era uma intrusa ali. Não mais uma de suas criações. As duas se encararam em silêncio. O medo em Hermione parecia crescer, mas ela não deixava que fosse muito além concentrando-se na raiva para manter-se naquele sonho e não acordar.


 


“Lembre-se de quem...”


 


“CALE-SE.” Hermione não deixaria que ela falasse. Não deixaria que ela incitasse qualquer tipo de intimidação. Não dessa vez.


 


Os lábios de Morgana esticaram-se num sorriso bastante satisfeito.


 


“Finalmente sabe quem é.”


 


“Sempre soube quem fui e não tem nada a ver com você.” Retrucou corajosamente.


 


“Engana-se.” A mulher sorriu. Era extremamente pavoroso para Hermione que estivesse conversando em seu sonho com uma figura lendária que parecia tão viva ali que quase era real. “Eu sempre estive viva dentro de você. Sempre fui uma parte muito significativa de quem é. Apenas nunca esteve consciente de que era eu.”


 


“Você está morta.” Precisava lembrar a ela e a si mesma de que não havia uma razão para que aquela mulher parecesse ser ela mesma ali em seu sonho.


 


A mulher riu. Saiu de dentro do espelho e Hermione quis cair diante dela ao perder as forças.


 


“Não estou morta. Eu vivo em você. Não faz ideia do quanto tem sido trabalhoso me manter viva por todos esses anos. Tive que me misturar, me sujar, me aceitar diferente. Tantos trouxas em uma linhagem só sempre me fez duvidar da capacidade do meu próprio sangue. Tantos descendentes vivendo as escondidas, oprimindo seus poderes, renegando o sangue, fugindo dos perseguidores. Mas ele, meu sangue, sempre se mostrou infalível. Tive muita certeza de que tudo acabaria com sua mãe, quando vi que ela foi incapaz de seduzir Lucio Malfoy quando ele a encontrou. Ela teve que fugir por muito tempo. A vida para ela acabou cedo em comparação aos que vieram antes dela, mas ela me escutou e conseguiu te salvar, te colocar em uma família trouxa. E você...” Aproximou-se. “Tão esperta. Tão curiosa. Tão inteligente. Tão bonita. De todos, foi você quem permitiu que eu mais florescesse. Não negue, Hermione. Desde criança procurou por mim. Quando fazia magia escondida em seu quarto, longe de seus pais, quando procurava conhecer mais sobre seus limites sozinha. De todos, você foi quem mais me procurou dentro de si e quem mais encontrou. Você me lembra tanto de mim mesma. Seu coração, sua lealdade, sua bravura, sua mente, sua racionalidade, sua ousadia, sua ambição, sua curiosidade. Eu deixei que você me encontrasse. Deixei que crescesse e descobrisse que podia ser mais do que seus coleguinhas em Hogwarts. Deixei que sua brilhante mente pudesse ser ainda mais forte. Você sempre quis mais. Sempre quis saber mais do que todos, sempre quis fazer mais do que todos, sempre quis conquistar mais do que todos. Me diga, Hermione, se não percebeu o quanto de mim não viu em si mesma? Me diga que não percebeu que quanto mais poder conseguia, mais de mim se tornava. Não seja cega. Em seu último ano em Hogwarts, quantos não pareciam a querer de alguma forma? Quantos professores não a admirava? Quanto respeito não conseguira? Quantos não a invejavam? Quanta fama não adquirira? Hermione Granger, a brilhante mente de Hogwarts. Linda, inteligente, poderosa, corajosa, ousada. Todos sabiam da sua existência de alguma forma. Você me buscou e eu te fiz. Eu-te-fiz. Você é minha obra prima. A prova de que meu sangue não tem limites. Você sou eu e eu sou você. Há tanto que ainda precisamos conquistar. Existe muito ainda para se fazer, Hermione. Existe muito mais além disso.”


 


Hermione se sentia fraca. Não acreditava naquilo. Não podia acreditar naquilo. Era tudo apenas um sonho.


 


“Você. Está. Morta!” Precisou repetir.


 


“Não tente se desfazer de mim agora. Não seja ingrata.” Morgana disse pacificamente. “Eu entendo que esteja ferida. Com raiva. Eu conheço tudo que está sentindo. Sofri o mesmo. Mas a dor nos faz mais fortes. Não concorda comigo? Eu sou a prova disso. Você também será a prova disso. A dor me fez saber colocar o mundo em minhas mãos e você vem pedindo pelo mesmo, vem procurando o mesmo, vem querendo o mesmo. Essa é a prova de que vivo em você. Existe muito mais sobre o nosso poder que eu pude dominar, você pode ir além do eu um dia consegui ir. Nós podemos ir além. Seu sangue se tornará mais forte a medida que permitir que ele se torne mais forte, a medida que buscar mais, que crescer mais, que se aprofundar mais. Deixe que eu viva em você. O mundo pode estar em nossas mãos novamente. Quando o tiver, ninguém irá poder feri-la, ninguém irá poder levantar contra você, ninguém irá poder te amedrontar, te dominar, te possuir. Me diga, Hermione, gostaria de ver seu filho? Posso te levar até Scorpius.”


 


Os olhos de Hermione se abriram.


 


“Sim.” Suplicou. “Agora!”


 


“Então vá. Sabe que pode ir encontrá-lo a hora que bem quiser.”


 


“Não sei como.”


 


“Saberá encontrar. Sou tão parte de você quanto é parte de mim. Se eu te levar até ele, nada mais será do que você mesma se levando até ele.”


 


Aquilo não fazia o menor sentido. Hermione fechou os olhos dentro de seu sonho. Sentia a presença daquela mulher muito fortemente. A amedrontava e a fazia fraca. Mas queria ver seu filho. Céus! Era o que ela mais queria! Queria poder tocá-lo, confortá-lo. Queria tê-lo de volta. Tentou pensar onde poderia estar. Sabia que era em Brampton Fort. Sabia que muito provavelmente na Catedral.


 


Conhecia bem aquele lugar. O piso frio e constante de pedra bem polida. Os vitrais sempre altos. A estrutura de madeira sempre muito aparente. Olhou ao redor construindo em volta de si mesma tudo e todos os detalhes que conseguia se lembrar. Não demorou e ela se viu cercada pela edificação que bem se tornara uma velha amiga para ela.


 


Seu filho só poderia estar em alguma torre próximo a de Voldemort. Fez seus pés avançarem enquanto construía os novos ambientes pelo qual passava. Conhecia o caminho que tinha que tomar, conhecia os detalhes. Assim que se fez chegar próximo a uma das passagens para a torre de Voldemort, algo pareceu lembra-la de não fazia sentido que ele estivesse com Voldemort. O temível bruxo não parecia querer tomar parte em nenhum dos cuidados que um bebê da idade de Scorpius exigiria. Bellatrix era quem havia sido nomeada como responsável por tal tarefa e Hermione sabia que ela estava morta agora.


 


Morgana estava ao seu lado a acompanhando em silêncio, lembrando-a constantemente que sua presença era difícil de não ser sentida. Parecia estar ali, de alguma forma guiando-a, embora tudo parecesse vir dela mesma. Mesmo que Morgana ali fosse uma intrusa. Uma completa intrusa.


 


Virou-se tomando a direção da área médica da Catedral com uma certeza de que encontraria o filho lá quase sobrenatural. Era óbvio que ele estivesse sob o cuidado de medibruxos. A equipe que cuidara de toda a sua gravidez e seu parto era a que mais era familiarizada com Scorpius. Assim que aquela certeza bateu nela, avançou sem receios e com pressa. Tudo foi se criando ao seu redor sem que ela nem mesmo prestasse atenção, sem que ela se atentasse aos detalhes. Era como se seu cérebro estivesse trabalhando tudo sozinho sem que dependesse de sua atenção e concentração. Era tudo tão real. Tão real!


 


Avançou pelo enorme corredor cheio de macas até uma escada privada ao final da ala. Desceu. Sabia exatamente que direção tomar. Como sabia? Merlin! Ela nunca havia estado ali. Era a área privada dos curandeiros. Muitos até mesmo moravam ali. Chegou a uma sala compartilhada. Havia uma lareira acesa. Um pesado tapete vermelho sobre o chão de pedra. Vitrais embutidos em seus respectivos nichos. Era real. Ela estava de volta na Catedral. Parou. Seu coração estava acelerado. Não era possível. Como aquilo era possível? Nunca havia estado ali antes e sabia que aquele espaço era tão real. Desde quando havia parado de sonhar? Quando havia deixado sua própria mente?


 


Pouco se importava com a presença de Morgana a essa altura. Pouco se importava com o intimidação que sentia, com o peso que ela colocava no ar. Escutou uma voz baixa cantar uma canção de ninar vindo de uma passagem. Avançou por ela e deparou-se com uma porta fechada. Embora simplesmente soubesse que não era notada ou vista, ainda tentava seguir as regras no mundo como o conhecia. Mas dessa vez, um instinto fez com que apenas decidisse passar por ela. Como se fosse algum tipo de fantasma, logo se viu do outro lado do cômodo. Era um berçário vazio.


 


A voz cantando a canção parecia mais alta agora. Hermione direcionou-se até encontrar a fonte e sem muitos problemas, a encontrou próximo a uma janela, sentada em uma poltrona, balançando o um berço de balanço enquanto cantava em uma voz bonita, uma canção que Hermione não conhecia. Aproximou-se sabendo que deitado dentro daquele berço estava Scorpius. Ela apenas sabia.


 


Seus olhos encheram-se d’água quando o viu de bruços, em silêncio, com os olhos aberto e vermelhos muito calmo ser balançado de um lado para o outro ao som daquela canção. Ele soluçava eventualmente, em sinal de que chorara por um bom tempo. Hermione abaixou-se sentindo cada parte de sua alma ser esmagada por estar vendo a dor do filho.


 


“Tudo bem. Eu estou aqui agora.” Sussurrou para ele.


 


Scorpius ergueu a cabeça quase que imediatamente em sinal de alerta. A curandeira parou com sua canção. Por um segundo o coração de Hermione travou com a esperança de acreditar que o filho podia vê-la. Mas ela sabia, simplesmente sabia, que ele não podia. Scorpius se ajeitou e conseguiu rolar até se sentar firmemente no colchão firme. A curandeira soltou o ar um tanto frustrada, mas pacientemente acariciou a cabeça de Scorpius.


 


“Vamos, pequeno Malfoy. Sei que está cansado.” A mulher disse amorosamente.


 


Hermione ergueu os olhos para ela. Ela havia estado em sua casa o dia que deu a luz aos filhos. Havia ensinado Hermione a amamentar. Ela era uma mulher doce e muito paciente. Provavelmente estava do lado Malfoy naquela nova guerra, mas certamente não estava disposta a arriscar sua posição no St. Mungus para poder abertamente desaprovar Voldemort. Hermione não duvidava que ela tinha escondido em algum lugar, um frasco da poção antídoto que eles haviam espalhado.


 


Scorpius reclamou quando a mulher tornou a deitá-lo com muito cuidado, mas como se estivesse cansado ao ponto de nem mesmo ter forças para chorar, ele apenas aceitou ficar ali, deitado, como havia sido colocado. O coração de Hermione estava partido de todas as formas possíveis ao ver o filho naquele estado. Esticou a mão por entre as barras do berço e tentou tocar seu corpinho. Sua mão, porém, atravessou-o exatamente como seu corpo havia atravessado a porta ao entrar naquele cômodo. Não foi sequer capaz de sentir o calor do filho. Aquilo doeu.


 


Seu pequeno guerreiro. Ele sempre lutara o sono quando as coisas não corriam conforme a rotina a qual era acostumado. Era como se ele soubesse que algo estava errado e que isso potencialmente poderia coloca-lo em risco. Seu pequeno observador. Havia muito de Draco na forma sutil com a qual Scorpius lidava com potencial perigo. Embora seu bebê soubesse tão pouco sobre o mundo, ele sempre se mostrara preocupado em ser cuidadoso. Desde sempre. Havia sempre um olhar suspeito vindo de Scorpius para qualquer coisa que fosse nova, qualquer mudança, qualquer evento que estivesse além de seu conhecimento. Muito diferente da irmã, que sempre estava disposta a explorar e se aventurar por qualquer coisa que lhe interessasse. Draco sempre culpava Hermione por ter passado muito de seu instinto Grifinório a Hera.


 


“Ele sabe que você está por perto.” Morgana fez-se ser ouvida.


 


“Sei disso.” Estranhamente, apenas sabia. “Scorpius também é seu descendente.” Acabou por dizer. “Vai atormenta-lo da mesma forma que sempre me atormentou?” ela se referiu aos sonhos que tinha com o reflexo de Morgana desde criança.


 


“Há uma parte minha nele. Em Hera Também. Os dois vão me encontrar eventualmente, mesmo sabendo que vão ter ambições muito diferentes. Será bem mais fácil para eles me encontrarem do que foi para você. Será natural para eles. O sangue deles é impecável. Eu ousaria dizer que muito bem preservado. Faz diferença estar em uma linhagem tão poderosa que soube se aperfeiçoar através dos anos e se manter tão pura. Sou muito mais forte neles. Mas a pergunta é: Porque quer me ver como um inimigo? Eu sou o seu lado mais forte. Sou o seu sangue. Eu torno viável a possibilidade de ser invencível. Já imaginou seus filhos se tornando absolutamente intocáveis? Eu nunca te atormentei, apenas fui a força dentro de você que sempre quis mais. Mais conhecimento, mais habilidade, mais aperfeiçoamento, simplesmente mais.”


 


“Nenhum poder como esse pode ser saudável.”


 


“Com base em que? Sou sua parte mais ambiciosa, embora você saiba me controlar muito bem com toda a boa moral que carrega no coração.”


 


Boa moral... Hermione podia rir daquilo.


 


“Perdi toda a minha boa moral.”


 


“Sofre mais do que deveria por isso.”


 


“Queria não poder sofrer. Mas se eu não me convencer de que moral é subjetiva, de que o bem e o mau consiste apenas em ponto de vista, vou viver debaixo da pesada condenação do meu egoísmo. Do custe o que custar para o meu próprio ganho.”


 


“Vejo que não foi muito longe ainda em se convencer totalmente.”


 


“Mas já percorri um caminho muito longo.”


 


“Ainda assim. Sofre por ter perdido quem um dia foi, embora queira se livrar completamente do que a prende ao seu ‘eu’ do passado. Quer se livrar da condenação da moral objetiva, mas teme pelo que pode acabar se tornando. Não está se permitindo ser livre.”


 


“O que quer dizer com ’livre’? Me abrir inteiramente ao poder que sei que tenho não me tornaria escrava da minha própria ambição?”


 


“Sabe que seria por uma boa causa.”


 


“Seria pela minha boa causa. Pela causa de ter o poder de pisar em quem for para proteger quem quero. Eu não sou Morgana. Não sou você.”


 


“Sim, você é. Toda a minha geração é um pedaço de mim. Percorreu um bom caminho desde que se tornou uma Malfoy para provar ao mundo e a si mesma de que sabe viver debaixo do discurso ambicioso e egoísta da família com um certo orgulho. Você veste bem a máscara Malfoy. Não negue.”


 


Sim. Ela vestia bem a capa Malfoy.


 


“Mas estamos em guerra.”


 


“Você sabe bem que isso vai muito além da guerra. É pessoal. É quem você é. Desde quando ainda se orgulhava de carregar a bandeira da ‘embaixadora da boa vontade’ sabia no fundo que havia mais em você do que só o seu mundinho de verdades. Você se encontrou sendo uma Malfoy. Aceite. Liberte-se do seu próprio julgamento, do seu próprio medo. A verdade pode ser subjetiva. A moral pode ser subjetiva. O bem e o mau pode ser apenas uma questão de ponto de vista. Não foi isso que aprendeu em sua jornada?”


 


“Então porque estou pagando pelas minhas escolhas cruéis?”


 


Ainda lhe pesava como uma dívida ver seu filho ali, longe dela. Marcado com a marca de Voldemort, que mesmo não podendo realmente ver, sabia que estava ali, no braço do seu filho, como havia estado no dela antes. E mesmo que isso fosse um enorme problema, ela se sentia anestesiada. Como se ainda não fosse capaz de realmente enxergar o que ter seu filho marcado com a Marca Negra significava.


 


“Hermione. Sabe bem que o mundo não funciona assim. A chuva da injustiça cai tanto para o justo quanto para o injusto.”


 


Ainda não concordava com aquele discurso, embora fosse verdade.


 


“Tem que haver um ponto de equilíbrio.”


 


“Não tem.” Negou a outra. “Não posso colocar o mundo em suas mãos enquanto não se livrar do medo, do receio, e das angustias que te prendem. Precisa ser livre.”


 


“Não consigo. Eu tento. Mas não consigo. Acha que eu queria não sofrer? Não é uma escolha.”


 


“Tem que ser uma escolha. Você não merece mais vestir a pele de cordeiro de antes. Já fez mau o suficiente para defender o bem.”


 


Sim. Sim. Aquela realidade a matava. Tinha que haver um jeito. Tinha que haver uma escolha ou um ponto de equilíbrio. Ela queria que não fosse uma escolha, porque sabia que viver sem culpa a faria conseguir seu filho de volta muito mais rápido, a faria ter o mundo em suas mãos, a faria ser capaz de proteger o que quer que bem quisesse. Procurar o equilíbrio parecia muito árduo e trabalhoso.


 


“Liberte-se”


 


Puxou o ar quase que num susto. Ergueu a cabeça e fixou seus olhos no mundo real. Não parecia tão real assim, quando em seu sonho tudo parecia tão incrivelmente real. Lutou alguns segundos para conseguir entender onde estava. Tudo parecia estranho e desconhecido ali. Aquelas paredes, aquela decoração...  foi só depois de algum tempo que finalmente entendeu que estava no subsolo de sua nova casa. Olhou os papéis, livros e amostras em sua mesa e o problema que vinha tentando solucionar com a poção antidoto. Tudo aquilo parecia irreal. Queria voltar para o seu sonho! Havia visto Scorpius. Tinha certeza que vira Scorpius.


 


Batidas na porta a tirou de sua confusão e lhe deu um foco. Voltou-se para porta a tempo de ver Arthur Weasley passar a cabeça pela brecha que deixara aberta. Ele pediu licença e entrou carregando alguns frascos de poção e um envelope. Dirigiu-se até ela e colocou sobre sua mesa o que trazia.


 


-       Nova formula e relatório de testes. – informou ele. – Seu pessoal parece ser bem treinado. Eles tem um sistema eficiente.


 


-       Dê crédito a eles. Apenas assumi a coordenação. – contrapôs ela puxando o envelope, ainda tentando recompor-se.


 


-       Eles tem sorte de ter você de qualquer jeito. Sem dúvida. – encorajou ele.


 


Aquilo a atingiu de forma negativa. Não pela intenção dele, mas por ter acabado de sair de um sonho onde questionara a culpa que carregava. Talvez ela estivesse deixando mostrar demais seu cansaço para receber aquelas palavras dele. Se estivesse no passado, talvez ficasse orgulhosa de receber o encorajamento dele, mas ali, agora, ela sentia que estava falhando em mostrar que não precisava. Refez sua postura calmamente, tentando encontrar dentro de si seu lado mais Malfoy enquanto puxava o relatório e o lia, sem tentar mostrar desapontamento com o resultado que claramente já conseguiu ver no topo do documento.


 


-       Bem. – dobrou o papel e o deixou de lado. – Vou continuar trabalhando em encontrar uma forma de fazê-la durar mais. Como anda a linha de produção?


 


-       A todo vapor. – ele sorriu apontando rapidamente para o ar como se estivesse tentando levá-la a reparar no som de caldeirões borbulhando de fundo que vinha de longe pela porta aberta. – Já conseguiram despachar toda a encomenda feita para a África, como pedido. Infelizmente o despache da América foi interceptado ao entrar no tal Forte e todas a encomenda acabou sendo perdida. Os comentários são de que isso irá atrasar as coisas.


 


-       Não irá. Draco e Devon estão trabalhando em cima disso. Tudo irá correr de acordo com o cronograma. – ela sabia daquela informação porque Draco havia quase perdido a postura ao receber aquela notícia horas mais cedo. Era muito, muito, mas muito importante que o cronograma não fosse alterado. Era a credibilidade deles e do trabalho deles para o mundo que o cronograma não fosse alterado, que nenhum plano B fosse preciso ser posto em prática, que nenhum atraso acontecesse. A excelência do movimento deles era o que fazia o mundo finalmente acreditar novamente em uma resistência contra o Império de Voldemort.


 


-       Então talvez eu deva espalhar essa notícia. – sugeriu Arthur.


 


-       Irá fazer bem. – concordou ela. Ao menos seus antigos conhecidos da Ordem pareciam querer se encaixar de alguma forma em toda a movimentação e trabalho daquela casa.


 


Ele então pediu licença e afastou-se, mas logo ela notou que ele parecia levar um tempo extra em seu caminho até a porta. Como se estivesse debatendo consigo mesmo se deveria ou não comentar algo.


 


-       Talvez você pudesse usar alguma propriedade de seu sangue na poção. – sugeriu ele finalmente. Hermione não se dirigiu a ele imediatamente com alguma reação e ele logo se sentiu na obrigação de justificar-se. – Por mais que tenhamos caldeirões e todos esses mestres de poções inteligentes por aqui, a demanda do produto supera a produção, Hermione. A cada dia que o Profeta Diário expõe mais sobre a organização e força do seu movimento com Draco Malfoy e o dito Diário do Imperador é incapaz de esconder as falhas da nova direção dos Fortes de Voldemort, mais gente decide querer vestir sua camisa. Eu não preciso expor o problema para você quando é a pessoa que mais tem se dedicado a tentar solucioná-lo. Sabe que o número de pessoas dependentes dessa poção está crescendo muito rápido. E talvez... – ele parou receoso. – Talvez...


 


-       Acredita que porque fui a única capaz de me livrar da marca sem nenhuma poção, meu sangue pode conter a solução para os problemas da fórmula da poção atual? – ela sabia exatamente o ponto que ele queria expor ali. – Quantas pessoas acha que já não tentaram me dizer isso? – levantou-se para começar a se ocupar em organizar a bagunça daquela mesa. – queria livrar-se dele logo simplesmente porque seu sonho ainda parecia muito vivo em sua cabeça. Era como se quisesse voltar para aquele universo. Sua conversa com “Morgana” não podia acabar daquela forma!


 


-       Ao menos tentou, Hermione? – Ele insistiu.


 


Ela parou sem paciência. Tinha raiva daquele tipo de insistência. Era invasivo! Não queria ter que tornar tão público as descobertas das propriedades de seu sangue! Era seu! Por que todo mundo parecia querer saber o que ela podia e não podia fazer? E sim, ela sabia que evitava aprofundar-se nos mistérios que haviam escondidos dentro dela porque não sabia se estava pronta para encontrar dentro dela mesma a mulher que um dia Morgana fora. E para falar a verdade, ela estava tentando fazer paz consigo mesma em achar que talvez, ser a mulher que Morgana foi não fosse tão ruim assim. Certamente se ela fosse, ninguém a veria frágil, como a maioria parecia querer vê-la agora, por mais que ela se provasse forte. Sempre seria a pobre mãe sem seu filho.


 


-       Todos parecem ter as melhores sugestões e especulações sobre o meu sangue, mas acho que ninguém ainda entendeu que ele é meu. Quando Voldemort cair, ninguém mais irá precisar dessa poção, e quando chegarmos nesse ponto não quero que meu sangue seja objeto de domínio público.


 


Arthur Weasley apertou os lábios num sorriso assentindo com a cabeça, recuando ao perceber que cruzara a linha sem permissão.


 


-       Entendo. Desculpe ter sido invasivo. – ele aproximou-se dela novamente com calma. – Sei que tudo isso tem sido difícil para você. É estranho te ver como quem é agora, os limites são diferentes do que costumavam ser. Mal posso imaginar pelo que precisou passar para chegar até aqui. E eu sei que tem sido estranho e incomodo nos ter por perto quando talvez possa achar que a julgamos uma traidora. Ou que estamos em constante julgamento do seu comportamento e atitudes. Podemos até estar. Posso dizer que eu mesmo estou. Mas... Filha... – ele colocou uma mão quente e carinhosa sobre seu braço. Hermione foi obrigada a voltar-se para ele sentindo os músculos debaixo de sua pele tencionarem com o afeto que antes fazia seu coração aquecer e agora a fazia querer fugir. – Sempre foi e sempre será uma guerreira e guerreiros carregam muitas cicatrizes. Não tenho título para poder julgar suas batalhas e vitórias. Eu não estava lá. Mas saiba que me orgulho tanto de você agora quanto me orgulhava antes.


 


Hermione encarou os olhos do homem a sua frente. A aparência idosa parecia cada vez mais visível. Ele já havia sofrido demais. Perdido demais. Dado demais de si. Aquele homem se levantou como um pai para ela no dia que soube que havia perdido o seu. Ele assumiu a posição com honra e orgulho e não havia um dia que Hermione se lembrava onde não havia sentido a liberdade de abraça-lo como uma filha. Seu coração apertou ainda mais. Sua garganta ardeu e ela rapidamente lutou contra tudo aquilo, sentindo o amargo que toda a doçura dele trazia para ela.


 


-       Você não tem. – retrucou ela duramente.


 


Ele reagiu confuso.


 


-       Como? Sim, Hermione, eu tenho. – reafirmou ele.


 


-       Não pode ter. – disse ela muito decidida.


 


-       Mas eu tenho. – ele se mostrou atacado. Claramente estranhou o comportamento dela. – Não sabia que seu orgulho podia chegar a esse ponto. – ele a julgou.


 


-       Não é orgulho. É consciência. – ela sentia seu coração apertar cada vez mais. Queria que aquele homem fosse embora dali. – Por favor, saia.


 


Arthur Weasley mostrou-se finalmente ferido.


 


-       O que esconde tanto, Hermione? Você tem se separado de nós mais do que nós temos nos separado de você. Estamos tentando nos infiltrar dentro de todo esse sistema que nos colocou, desse movimento que criou. Estamos confiando no trabalho que tem produzido e ainda assim, tem nos evitado como se não quisesse que estivéssemos aqui. Acabei de dizer que reconheço isso e que tento entender de onde vem, tento entender que não estive presente na sua jornada até aqui. E que apesar de não saber, apesar de se mostrar alguém tão distante, não consigo te ver como menos que uma filha. Tentei te tirar o peso que nos afasta, mas ainda assim você rejeita. – foi honesto como se estivesse livrando-se de um discurso que reprimira por um bom tempo.


 


-       Você não entende que o peso que eu carrego não pode ser tirado de mim. Nunca. – foi clara. Ele não entendia que não estava ajudando. – Saia. – repetiu.


 


Ele não saiu. Continuou onde estava. Hermione estava alcançando o limite de sua paciência.


 


-       Filha...


 


-       Não. – ela foi grossa, cortando-o antes que ele pudesse continuar. Quebrou o contanto com ele se afastando. – Não me chame de filha. Não é o meu pai. Não gostaria de ser meu pai. Saia.


 


-       Não pode fugir do fato de que somos sua família, Hermione! De que ao menos um dia fomos!


 


-       E eu os traí! Traí você e a Molly mais do que qualquer outro! – Era isso que ele queria ouvir? Ela o faria ouvir então. – Podemos começar com Fred se preferir deixar Gina por último. Quer escutar? Por que eu estava lá.


 


-       Não. – ele levantou a guarda quase que imediatamente. – E você não precisa se culpar...


 


-       Eu não me culpo. Eu lamento, apenas lamento, porque é o mais longe que posso chegar. Simplesmente porque sei que deixaria Fred morrer quantas vezes fosse preciso para ter a chance de ter os meus filhos vivos hoje. Eu deixaria Gina ser torturada e abusada mais um milhão de vezes se isso fosse me garantir um passe livre com Voldemort. Eu faria tudo novamente, em plena consciência das minhas escolhas. Como se sente agora? Acha que ainda pode me chamar de filha? Acha que ainda pode orgulhar-se de mim? Ou me julgaria um ser cruel? Egoísta? O problema que tenho com vocês e o que vocês tem comigo é o de acharem que de alguma forma, a Hermione que conhecem está atada dentro de mim em algum lugar, quando na realidade, eu apenas vivo uma filosofia diferente agora. Meu orgulho foi moldado para enxergar que posso me apaixonar um homem que sempre odiei, que posso carregar com honra um sobrenome que me condena, que a força para lutar por filhos que nunca esperei querer é algo que não posso controlar, que matar para sobreviver em uma guerra não é um conceito e sim uma realidade, que bravura pode ser logicamente justificado pela estupidez e que a ambição se alimenta da estratégia, que glória não vem sem poder, que influência e manipulação andam de mãos dadas, que trocar de ponto de vista é um processo doloroso e recompensador. – o figura estampada no rosto de Arthur Weasley era uma cheia de dor e surpresa ao mesmo tempo. Hermione sentiu seu coração ser esmagado por não estar conseguindo enxergar condenação em nenhum lugar. Por que? – Tudo que eu conhecia, como eu conhecia, virou de cabeça para baixo. Foi como ser forçada a aprender a respirar debaixo d’água. Eu nunca pensei que fosse me fazer mais forte. Nunca pensei que fosse me mostrar um outro caminho. Nunca pensei que fosse me dar um novo propósito.


 


Foi então que ela viu os olhos dele começarem a brilhar. Olhos cansados. Carregavam tristeza para onde olhavam, mas ali ela começou a ver a dor se manifestar. Isso. Era isso que Hermione queria. Ele tinha que chorar. Ele, Harry, Rony, Luna, Sra. Weasley. Todos eles tinham que chorar por ela. Chorar por saber que a Hermione que conheciam havia sido perdida. Não havia volta. A fato dela estar ali, presente, em sua figura bem aprumada, não era nenhuma esperança. Nenhum alívio de que Hermione Granger havia sobrevivido. Ela não era a pessoa que eles conheciam. Se eles chorassem a morte da antiga Hermione, talvez ela se sentisse livre da expectativa que sempre via neles quando ela estava por perto. Eles tinham que lamentar a perda dela e seguir em frente, porque ela não pretendia preencher o espaço da antiga Hermione na vida de nenhum deles.


 


-       Sabe... – ele afundou as mãos no bolso da calça mostrando a figura humilde e longe de formalidades que sempre fora. Tentava esconder a lágrima nos olhos e o tom amargo da voz. - Seu marido, Draco Malfoy, veio conversar comigo. Estranhei e exclusividade logo de inicio. Sou um Weasley. Ele ofereceu whisky. Caro. Mas talvez não saiba que existe whisky barato. Acredito que ele queria matar a formalidade que bem sabe que a figura superior dele impõe. Pegou muito do pai, obviamente. – Arthur parecia estar falando mais consigo mesmo do que com ela. - Estava vestido em roupas caras, o que é o usual. Imponente. Voz forte. Dominante. Ele se comporta como se estivesse andando por cima de tudo. Como se conhecesse tudo. Como se soubesse exatamente o que eu estava pensando, como se tivesse completo controle do que aconteceria daqui a cinco minutos. Ele encostou num móvel qualquer a minha frente, carregando seu copo cheio de um whisky que eu não compraria nem com uma vida inteira de trabalho e perguntou se eu gostava de xadrez. Eu sabia que ele queria chegar a um argumento com aquilo. Disse que a vida dele era como um jogo de xadrez. Tudo era sobre saber se proteger o suficiente para mover as peças certas, nas horas certas, para encurralar antes de ser encurralado. Jogadas eram a essência do dia-a-dia e vencer era sua única moral. Afirmou que sabia que eu o julgaria negativamente por isso, mas que esse era o ponto. Ele sendo um Malfoy e eu um Weasley, podíamos passar uma vida inteira identificando pontos a qual discordávamos, mas que tinha absoluta certeza que podíamos encontrar senso comum partindo da premissa que eu e ele carregamos o fardo e a benção de sermos dois pais temendo pela segurança de nossas respectivas famílias. Eu deveria ter previsto com antecedência que tudo que ele queria com aquela conversa era especular minhas motivações e intenções dentro da casa dele, tentar ver o meu papel dentro do sistema que nos convidou para fazer parte, e por fim, me convencer de ser algum tipo de força de incentivo para Harry dentro dos planos dele. Por mais humanizado que seu discurso fosse, era seco e objetivo. Obviamente que eu sou uma peça muito pequena dentro do jogo de xadrez do seu marido, mas ele certamente, como um bom estrategista, quer ter certeza de que tem inteiro controle sobre todas as suas peças para estar por cima em suas jogadas, por mais insignificantes que elas sejam. Tenho aversão a tudo o que Draco Malfoy representa, por mais que nossos objetivos estejam alinhados nesse péssimo presente momento, mas quando comparo a experiência que tive com ele e a que estou tendo com você, tudo que consigo concluir é que vejo mais coração nele do que em você, Hermione. O que me pergunto é a que ponto você o ensinou sobre humanidade e a que ponto ele a ensinou sobre poder? Temo que no relacionamento dos dois, tenham incorporado erroneamente a essência um do outro.


 


Ali estava. Finalmente. Ele a julgava. Cruel. Sem coração. Onde está sua humanidade, Hermione? Sim. Era isso que ela era e seria o que fosse se isso tivesse a chance de garantir que fosse intocável. Ela queria ser intocável. Passava medo o suficiente para ter certeza de que daria tudo, venderia tudo, sacrificaria tudo por essa desejável posição. Tudo. Inclusive seus princípios.


 


-       Saia. – foi tudo que conseguiu repetir. Era tudo que ela queria naquele momento.


 


Aquela era sua realidade, mas não deixava de ser dolorosa. Não se culpava por ter que sacrificar sua integridade, mas era impossível não lamentar, principalmente quando via a decepção estampada no rosto de alguém que honrara como pai por tanto tempo.


 


Arthur Weasley assentiu concordando com o pedido dela. Deu as costas e saiu. Hermione continuou parada onde estava, sentindo-se ser esmagada. Sem que ao menos percebesse, como se estivesse cansada demais para qualquer outra coisa, afundou-se naquele sentimento e deu-se conta do que estava fazendo apenas quando sentiu o calor de uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha. Rapidamente a secou e puxou o ar buscando estabilizar-se. Não tinha tempo. Não agora. Não até tudo aquilo acabar.


 


Verificou as horas no relógio sobre a mesa, juntou seus papéis e livros, pegou o que tinha que pegar e saiu direto para linha de produção que tomara o subsolo de sua casa. Entregou suas fórmulas e estudos recentes para quem estava direcionando aquele turno e verificou as remessas prontas para partirem para seus destinos finais e como estavam sendo transfiguradas em objetos comuns e colocadas debaixo do feitiço de distração para passarem as entradas dos fortes.


 


Deixou seu posto assim que teve a certeza de que tudo estava correndo conforme o programado e subiu, parando apenas quando os pelos de sua nuca arrepiaram ao passar pelo corredor que dava para a locação do Arco. O Arco que milagrosamente conseguiram transferir para aquela casa antes de todo o caos. Ela normalmente sempre parava quando passava por ali. Neville era o único autorizado a poder estudar o artefato. Hermione sabia que aquilo havia estado em segredo no Ministério por anos pelo óbvio motivo de ser misterioso e poderoso. Não era certo que agora se tornasse propriedade pública. A Ordem já havia feito estrago o suficiente tentando destrinchar os segredos daquela peça. Draco concordava com ela. E por mais que ela quisesse estar ali, passando seu dia em cima de todo aquele mistério, esse simplesmente não era sua prioridade naquele momento.


 


Seguiu seu caminho até uma das salas do primeiro andar onde sabia que Draco passara o dia com seus aliados mais próximos. Entrou sem formalidades. Tina acabara de sair. Sempre estava correndo de um lado para o outro. Do lado de dentro uma discussão parecia estar em seu ápice. Fox a beira de um sofá falava por cima do esposo de Tina do outro lado da sala, Devon parecia claramente discordar do que estava sendo dito. Denna soltava suas opiniões ríspidas de braços cruzados próximo a lareira e haviam mais outros e outras que se jogavam na discussão aleatoriamente.


 


Ninguém pareceu notar a chegada dela a não ser por Draco, que sentado em uma poltrona, assistia tudo com um dedo crítico apoiado contra a boca. Os olhos dele direcionaram-se para ela silenciosamente. Ela o encarou de volta conectando-se com o marido. Por um breve momento, se imaginou atravessar o mar daquela discussão, ignorando-a por completo, até ele. Imaginou ele levantando-se para recebe-la num abraço caloroso, um daqueles que ela recebia dele nas manhãs de domingo quando saiam da cama para a varanda. Imaginou a voz dele em seu ouvido, profunda e suave dizer qualquer coisa que tivesse pouco a ver com o caos que viviam e muito a ver com o cheiro de seus cabelos ou o calor de seu corpo. Imaginou seus lábios selarem um beijo calmo contra o pescoço dele e suas mãos descerem as costas dele, redesenhando seu formato masculino e tentador enquanto pedia para que ele continuasse ali por mais um tempo. Naquele breve momento a imagem dos dois na varanda da única casa que realmente havia sido só deles veio em sua memória. Aquele abraço longo e cheio de afeto que compartilhavam no início do dia. Ela não conseguia se lembrar do céu cinzento de fundo. Não conseguia se lembrar da brisa fria e seca dos Dementadores. Não conseguia se lembrar das pedras escuras e dos ornamentos pesados da construção que a cercava. A imagem em sua mente era quase a varanda de um castelo, com um dia ensolarado de fundo a figure dela se aconchegando nos braços do homem que a desafiava todos os dias, o homem que se tornara seu raio de sol quando não tinha nenhum, o pai de seus filhos, seu cúmplice. Foi tudo muito breve, naquela única troca de olhar. Como se fosse um escape de sua mente a realidade do caos daquela sala. Como se quisesse fugir dali. Mas então sua própria razão fez com que tudo aquilo fosse varrido para longe de sua imaginação. Draco apenas piscou e com calma desviou sua atenção de volta para a discussão, como se tivesse compartilhado com ela daquela bela imagem e agora era obrigado a voltar a realidade porque ela havia o obrigado a sair daquela conexão.


 


Ela o frustrava. Sabia disso. Sabia que estavam longe um do outro. Sabia que estava se distanciando dele porque as coisas em sua cabeça estavam indo a loucura e ela não conseguia encontrar nenhuma outra forma de se estabilizar que não fosse a frieza. Era sua única forma de se anestesiar. E quanto mais se afundava em sua frieza, mais se acomodava nela. Nada podia realmente machucá-la ou enlouquece-la ou acarretar qualquer tipo de sentimento se estivesse apenas anestesiada debaixo da frieza. Nada era duro demais, macio demais, triste demais, feliz demais, bom demais, ruim demais. Boas noticias vinham da mesma forma que más também. Uma atrás da outra. Hermione não queria mais sentir o impacto delas. Draco não parecia entender aquilo.


 


Deu a volta na sala para parar a lado da poltrona de Draco. Tentou encontrar alguma linha de lógica no meio daquela discussão e simplesmente não conseguiu entender o que estava acontecendo.


 


-       Não podemos esperar mais uma semana! – Denna jogou agressivamente como se não fosse óbvio.


 


-       Eles estão completamente perdidos. Nott não faz a menor ideia de como organizar um exército. Talvez não saiba nem o que a palavra estratégia significa. – Fox apoiou. – Os fortes tem suprimentos o suficiente da poção antidoto para aguentar uma ação.


 


-       Os aliados dentro dos fortes temem que isso pode dar muito errado. O suprimento deles não é suficiente engajarem em algo que na cabeça deles pode falhar. Seria fatal! – o marido de Tina impôs com propriedade.


 


-       Temos que agir enquanto eles estão fracos e tomando medidas extremas. Estão com medo. – Devon se apôs. - Não podemos dar mais tempo a eles. Quanto mais tempo dermos, mais eles tem para se reestruturar. Já esperamos o suficiente. Tomamos o tempo que precisávamos para estruturar essa jogada. Não podemos perder a ação.


 


-       Os outros fortes estão querendo recuar! Será que não faz sentido? Eles não tem suprimento e foram prometidos suprimentos! – continuou o marido de Tina.


 


Hermione bloqueou toda aquela conversa não conseguindo entender o argumento.


 


-       O que aconteceu? – perguntou a Draco.


 


Ele não se mexeu inquieto em sua cadeira como ela esperava que ele fosse. Normalmente ele sempre se mostrava desconfortável ao dar notícias ruins.


 


-       A Catedral lançou um decreto. Ainda não se sabe se é temporário. Entradas e saídas de todos os fortes foram seladas. Ninguém entra, ninguém saí. – ele respondeu.


 


Imediatamente ela ligou os pontos e soube que o problema estava agora com o enorme contrabando de poções antídotos dependente do constante fluxo de entrada e saída de Comensais pelos portões.


 


-       Podemos mandar as remessas de outra forma. – sugeriu ela.


 


-       Não podemos arriscar. Eles estão esperando essa jogada. – ele expôs.


 


-       Está pensando em agir? – ela estava pronta já fazia muito tempo. Draco ainda se vestia da segurança de suas estratégias, por mais que quisesse bombardear Brampton Fort naquele exato momento.


 


-       O número de problemas é grande, mas essa é a discussão. – concluiu ele.


 


E ela soube naquele momento que ele considerava. Olhou ao redor esperando que seu coração fosse acelerar. Nada aconteceu. A estabilidade da frieza quase a confortou.


 


-       Pode resolvê-los? – perguntou apenas para anestesiar-se mais.


 


- Vamos ter que conversar sobre isso. – foi tudo que ele respondeu. E então ela soube que ele pouco prestava atenção na discussão que se desenrolava a sua frente. Ele estava pensando. Estava em seu próprio mundo. Estava analisando a situação do seu tabuleiro de xadrez para fazer sua jogada. E iria precisar do cérebro dela para fazerem aquela jogada juntos, como os cúmplices que haviam acordado em ser.


 


Tentou se engajar novamente na lógica daquela discussão e acabou por achá-la sem futuro. Aquilo era uma perca de tempo. Soltou para Draco que simplesmente não podia ficar ali e saiu. Eles eram produtivos quando estavam sozinhos. Saiu para fugir para o único lugar silencioso daquela casa. A terceira ala.


 


Subiu até seu apartamento. A torre que guardava a suíte dela e de Draco. Evitou o caminho que a tentava a ir até o quarto da filha. Precisava da frieza para continuar a anestesiando e ver a filha seria uma dolorosa faca contra seu coração. Quando chegou ao seu quarto e foi recebida pela visão do pôr-do-sol sobre os jardins dos fundos de casa pelas enormes janelas descobertas, sua guarda caiu quando se lembrou que havia escolhido aquela casa por uma razão. A visão que havia tido daquela propriedade que a cativou parecia quase uma fantasia louca de sua cabeça agora. Tudo que ela sabia era que simplesmente detestava aquele lugar. Detestava o mundo de gente que abrigava naquele momento. Detestava o vazio da grandiosidade. Detestava o que estava passando enquanto aquelas paredes a abrigavam. Não era sua casa. Era um lugar completamente estranho, diferente, de outro mundo. Queria sua casa de volta. Seu quarto. Sua cama. Por mais que estivesse em Brampton Fort, ela queria aquele lar que havia construído lá. Haviam memórias por todo o lugar naquela casa, por mais tristes e lindas que fossem. Eram a história de sua família. Ela queria sua casa novamente.


 


Foi quando rapidamente notou que poderia desmoronar quando a frieza de sua alma pareceu esquentar, que ela precisou concentrar-se para encontra-la novamente. Foi difícil dessa vez. Ter a visão de algo que sempre amou a machucando era problemática demais para simplesmente ser ignorado. O sol sempre fora seu melhor amigo.


 


Deu as costas e seguiu para seu banheiro. Despiu-se e se colocou debaixo da água corrente de uma ducha fria. Tinha que ser fria. Usava do mesmo princípio que aprendera com Draco sobre usar a agonia e dor do frio para encontrar estabilidade. Essa era a ideia. Encontrar estabilidade no caos. Porque ela era absolutamente incapaz de fazer sua cabeça parar. Os pensamentos fluíam, iam e vinham, e ela não tinha o menor poder de para-los. Por isso precisava de momentos como aquele. Especialmente quando estava em conflito.


 


Céus! Como estava em conflito! Quando saiu do chuveiro, parou de frente ao espelho vestida em seu pesado roupão. A pele vermelha, a ponta dos dedos roxos, por ter se prestado aos longos minutos debaixo da ducha gelara. Scorpius não saia de sua cabeça. Morgana e seu convite ao invencível. Arthur Weasley e sua decepção. Draco e seus problemas. Tudo era uma loucura e ali estava ela, de pé, encarando-se naquele espelho, completamente anestesiada de qualquer sentimento, embora tudo aquilo estivesse lhe fazendo mal. Não era capaz de se reconhecer. Aquele reflexo se parecia muito com a mulher que não era mais.


 


Transfigurou o pente sobre a bancada da pia em uma tesoura usando sua maravilhosa habilidade de facilmente produzir mágica comum sem o uso de uma varinha. Quase que instantaneamente tornou-se consciente de que não carregava mais sua varinha fazia um bom tempo. Fechou os olhos e inalou ar com calma, soltando-o com mais calma ainda.


 


Liberte-se. Havia sido o que Morgana lhe dissera. Certo?


 


Puxou uma mexa de seu cabelo molhado e usou a tesoura para cortá-la. Não merecia ter o cabelo de Hermione Granger. Sabia que seu filho estava marcado e que ele não sobreviveria se fosse tirado de Brampton Fort com Voldemort vivo simplesmente porque não conseguiria fazer o mesmo caminho que ela havia feito para se livrar da marca, ele ainda não sabia manipular suas habilidades. Sabia disso e mesmo assim, não estava desabando no chão aos prantos. Ela não merecia o cabelo de Hermione, porque Hermione estaria aos prantos. Cortou outra mexa, apertando os dentes ao sentir a dor de seus dedos ainda quase congelados forçar contra tesoura não muito eficiente que transfigurara.


 


Sabia cortar cabelo. Havia sido a estilista de Harry desde os tempos de Hogwarts. Desenvolvera sua habilidade com a tesoura na prática. Mas ali, ela não se importava. Não se importava se estava fazendo certo ou não, não se importava se iria ficar bonito ou não. Ela queria se livrar daquela identidade. Queria se livrar daquilo que Lúcio Malfoy costumava chama-la antes: primavera. Ela não era mais aquela gloriosa flor que mal podia esperar pelo verão.


 


Enquanto se esforçava com os pedaços grossos de mexas que cortava, com os dedos doloridos, naquele sofrimento que ali parecia tão significativo, seus olhos embaçaram quando as lágrimas vieram. Seu estado de alerta buzinou forte dentro de sua mente por estar evitando-as. Mas ela não se importou dessa vez. Iria se permitir chorar. Mas não iria chorar por Scorpius, ou pelo caos que vivia. Ela iria lamentar pela perda da bonita flor que havia sido, a ingênua flor que contava as horas para brilhar em toda a sua glória num verão ensolarado e caloroso. Iria lamentar agora para nunca mais precisar. Se queria que seus antigos amigos chorassem e lamentassem pela morte da Hermione que haviam conhecido, ela também iria. Iria agora, pela ultima vez. E nunca mais. Nunca mais choraria, se julgaria ou lamentaria por ter perdido quem havia sido. Iria libertar-se.


 


Pelo reflexo do espelho ela viu Draco aparecer. Não se importou com ele. Aquilo não tinha absolutamente nada a ver com ele. Aquele era um momento dela. Não fazia diferença se ele estivesse ali para testemunhar ou não. Se ele intervisse, ela iria encontrar uma forma de expulsá-lo dali. Mas não tinha vergonha que ele estivesse ali independente do estado que estava ou que poderia ficar. Draco já a vira de todas as formas possíveis.


 


Ele não interrompeu, não se manifestou. Quase não se fez ser notado, embora não tivesse se escondido. Era claro para ela que ele tinha consciência de que ela sabia que ele estava ali. Hermione apenas continuou sua árdua tarefa. Os dentes apertados. Os dedos doloridos. As lágrimas escorrendo livremente. O alívio de estar se libertando daqueles longos cabelos de primavera.


 


Quando finalmente não havia mais nenhuma mexa cumprida para que ela cortasse, soltou a tesoura sobre a bancada com os dedos trêmulos e cansados do esforço a qual haviam sido colocados. O sangue brotava dos cortes nas áreas exatas onde o atrito da tesoura entrara em contato com sua pele no repetitivo e trabalhoso movimento de atravessar as largas mexas de cabelo molhado. Abriu a torneira e deixou a água corrente lavar seu sangue. Seu sangue nobre. O sangue que ela havia acreditado sua vida inteira que por sorte acabara carregando magia.


 


Fechou os olhos determinava curar os cortes que causara nela mesma. Não era mais difícil concentrar-se no funcionamento de seu próprio corpo agora. Já havia praticado tantas vezes desde que conseguira se livrar da Marca Negra que encontrar o ponto certo onde podia sentir e ditar o funcionamento de tudo nela já não lhe custava um universo infinito de concentração. Ela encontrava em seu sangue o elemento que conduzia magia por todo o seu corpo. Um elemento que ela era dona, que ela comandava. Era apenas uma questão de vontade. Ditava a ordem, como se estivesse proferindo um feitiço, e seus anticorpos, suas plaquetas assumiam posição, suas células se multiplicavam. No tempo que ela queria.


 


Parecia tão simples e tão pequeno, mas ela mais do que ninguém sabia o que aquilo implicava. O tamanho daquela magia. Quebrava todas as regras conhecidas do mundo mágico. Voltava para um tempo onde mitos e fábulas residiam. Ultrapassava o espaço e tempo. Hermione não conhecia, no mundo inteiro, um bruxo que pudesse conseguir fazer o que ela estava fazendo naquele exato momento sem nenhum elemento externo. Ela não tinha medo. Não tinha mais medo. Não importava se todo seu poder não tivesse limites. Não importava para onde ele a levaria ao se render a ele.


 


Abriu os olhos e encarou-se no espelho. Sua respiração estava pesada tentando sobreviver ao nó em sua garganta. Secou a mão em seu robe não sentindo nem mais um resquício de dor. Ela, porém, estava uma bagunça. Tudo estava errado com o seu cabelo. Mas ela concertaria. Ficaria a imagem perfeita de um tamanho, curto, objetivo, afiado. Essa era quem ela era. Não haveria mais os cachos de primavera. Agora ela apenas iria encarar o caos que ela colocaria no lugar. O caos que ela havia causado e o caos que ela usaria suas próprias mãos para por em ordem. Ela. Mais ninguém. Não dependia de ninguém. Tinha um poder que ninguém no mundo imaginou poder ter. Talvez nem mesmo Voldemort.


 


Draco finalmente aproximou-se e parou logo atrás dela. Seus olhos foram dela no espelho para ele. Sim, era responsável por estar fazendo ele ir a loucura, tentando entender o que estava acontecendo com ela. Mas ela não tinha o interesse de compartilhar. Era o passado do sangue dele que temia e silenciava o que o sangue dela era capaz. Ele agora carregava a responsabilidade desse passado. Ela tinha receio de alimentá-lo, dar a ele a prova que ele precisava  para entender o porque os antepassados dele haviam apagado os dela. Conhecia Draco. Conhecia o homem que a surpreendera ao se doar e se abrir tanto naquele ano em que eles foram desafiados como casal e como indivíduos de todas as formas possíveis, para acomodarem os filhos a vida deles. Mas também conhecia o Draco cabeça do legado Malfoy, O Draco que carregava consigo o enorme senso de responsabilidade pelo que viera antes dele, pelo título que havia nascido com o seu nome, pela sua representação na história. Ela não sabia a reação dele se caso o homem com quem criara uma família entrasse em conflito com o que carregava um legado.


 


Draco tocou sua cintura com muito calma. Cercou seu corpo para alcançar a mão que ela havia machucado. Hermione deixou que ele a visse limpa. Mesmo que houvesse sangue na tesoura, o que ele evidentemente percebera. Vinha deixando que ele presenciasse algum dos experimentos que ela vinha explorava, mesmo com receio. Ele precisou de um tempo para processar aquilo e Hermione sabia, que ele estava chegando a grandiosa conclusão que dava a ela um título que nenhum outro bruxo tinha. Ele era inteligente, mais do que o suficiente, para entender o que ser capaz de fazer o que ela tinha feito implicava. Aquilo fez com que o silêncio se estendesse por muito mais tempo. Bem mais do que ela previu. Ela começou a ficar ansiosa pelo que poderia sair da boca dele quando finalmente ele decidisse abri-la. E foi quando ela imaginou que aquela seria uma das vezes que ele decidiria afastar-se sem dizer qualquer palavra, ele finalmente soltou:


 


-       O que está acontecendo com você? – muito baixo. Muito pensativo.


Ela piscou muito devagar soltando o ar.


 


-       Não vamos conversar sobre mim. – foi o que ela respondeu.


 


Draco mostrou-se frustrado.


 


-       Eu sinto que tem fugido de mim. – soltou. - Não porque decidimos colocar uma pausa em nós para nos focarmos em solucionar o caos que está em nossas mãos. Mas porque, por alguma razão, algum motivo, tem medo. Receio. De mim.


 


Ela bem quis dizer a ele que ele sabia o porque. Porque ele realmente sabia. Talvez ela nunca tivesse tido receio se ele também nunca tivesse se afastado dela, se silenciado, se tornado distante, quando ele tão igualmente mostrara receios a respeito do passado dela e do que isso significava para ele.


 


-       Não vou mais fugir. – Decidiu falar. Ela estava se libertando. Não tinha mais medo do seu universo sem limite e para onde isso a levaria. – Não tenho mais medo. - Ela o encarou pelo espelho quando ele tornou a direcionar o olhar para ela. – Não existe mais receio. De ninguém. De você ou de mim mesma, ou do restante do mundo, ou do que isso pode me custar.


 


Esperou pela reação dele, porque sabia que ele entendia o que aquilo significava. Draco recuaria, porque sempre que a confrontava, por mais sutil que fosse, era colocando diante de fatos que não queria ver. E não foi muito diferente, por mais que ela quisesse que ele a confrontasse, ele recuou assentindo calmamente optando por não dizendo mais nada a respeito. Encostou-se na bancada ao lado dela, cruzando os braços.


 


-       Quero estar aqui para você. Mas sabe que não posso. Não agora. – disse.


 


-       Eu sei. – respondeu ela, fechando os olhos e secando suas bochechas. Quando tornou a se encarar no espelho, traçou uma rápida estratégia de por onde começaria para arrumar seu cabelo.


 


-       Convoquei todos para o hall de jantar em duas horas. – informou. - Você precisa estar lá.


 


Ela assentiu. Estaria.


 


-       Vamos agir? – perguntou.


 


Ele hesitou.


 


-       Temos alianças a cumprir. Elas estariam em risco. Prometi mais tempo.


 


-       Mas você quer agir. – sabia que ele queria.


 


-       Você também. Desde o dia em acordou na casa destruída dos Potter.


 


Ela soltou o ar sentindo seu cérebro entrar em modo ativo sem que ela conseguisse controlar. Ambos haviam acordado que a jogava perfeita consistia em encurralar Brampton Fort e os outros fortes precisavam cair para que isso acontecesse. Os nomes fortes que haviam escolhido para fazerem aliança, estavam agora recrutando a força perfeita para tomarem os fortes quando fossem o sinal fosse dado.


 


-       Eles não podem ter mais tempo. Nott tem notado o estranho movimento dos outros fortes. Ele sabe que nós os temos como alvo também. – ela expôs a lógica. – Nós temos a nossa parte do acordo intacta. Demos tempo o suficiente, enviamos suprimento da poção antidoto. Uma rebelião num forte é o suficiente para que Voldemort considere um lugar inseguro para se abrigar. Uma rebelião é o suficiente.


 


Draco concordou.


 


-       Precisava escutar isso para saber que nossas cabeças estão juntas no mesmo lugar. – ele disse.


 


-       Então temos nossa decisão?


 


-       Sim.


 


Perfeito. Ela estava pronta. Estava já fazia muito tempo. Ajeitou sua postura incorporando seu controle para por ordem no caos em sua cabeça. Trouxe a tesoura novamente para sua mão e partiu o cabelo preparando-o para nivelá-lo. Draco apenas a observou por alguns segundos trabalhar com calma e destreza, longe do estado em que ela estivera antes.


 


Ele estendeu a mãos e segurou uma mexa do cabelo dela, como se estivesse avaliando o fim das pontas de seus cabelos procurando por algo especial ali, ou talvez como se estivesse lamentando pela perda do longo comprimento que costumava ter. Draco gostava de seus cabelos longos. Ele já havia dito que adorava a forma como eles caiam sobre suas costas. Ela não se importava. Aquilo não era sobre ele. Era sobre ela. Mas ainda assim, queria muito saber o que se passava pela mente dele. Especialmente a respeito dela.


 


-       Você tem me matado por dentro. – ele soltou. Um comentário baixo. Quase despretensioso.


 


Ela desacelerou hesitando se deveria reagir a aquilo ou não.


 


-       Eu sei. – foi tudo o que disse. Realmente sabia. E não pretendia fazer nada a respeito.


 


Draco simplesmente soltou o ar com calma. Aproximou-se dela e lhe deu um beijo simples em sua têmpora antes de tomar seu caminho de volta para o quarto. Hermione o observou pelo espelho abaixando a tesoura e o pente. Sua língua coçou. Ela hesitou. Mas não conseguiu se calar.


 


-       Draco. – chamou antes que ele pudesse sumir. Draco parou. Ele não se virou, como se estivesse tentando decidir se havia fantasiado o nome dele saindo da boca dela ou se realmente acontecera. – Talvez acredite que não esteja, mas sabe que também tem fugido de mim.


 


Ele continuou ali por alguns segundos. Aos mãos no fundo do bolso da calça. Houve um breve silencio tenso entre eles antes de Draco responder:


 


-       Não quero lutar por uma família que eventualmente vou acabar sendo obrigado a destruir, Hermione.


 


Acabar sendo obrigado... Não havia nada mais direto do que aquele simples confronto. Ela não disse nada de volta, simplesmente porque não conseguiu. Ele foi embora.


 


 


**


 


 


Encarou-se no espelho sabendo que estava adiantada. Tomara seu tempo para arrumar seu novo cabelo, mas sua antiga política de usar o mínimo de magia possível para tarefas comuns não era mais parte de quem ela era. Estava explorando, e toda vez que conseguia produzir algo usando sua simples imaginação, por mais pequeno que fosse, era o suficiente entender mais do que era capaz e do que precisava para ativar suas habilidades especiais.


 


Estava usando preto. Era um luto pelo fim dos limites e barreiras que estava jogando fora. Mas também representava uma fase diferente. A joia de seu colar era pesada. O salto alto, como sempre. A fenda do vestido era elegante, o decote reto e bem horizontal deixava a mostra muito do colarinho, mas as mangas longas faziam o trabalho de trazer o clássico e excluir o vulgar. Definitivamente estava abaixo do seu peso ideal, mas ainda assim não deixava de ter suas curvas. Seus cachos já não existiam mais. Seu cabelo se limitava a um ondulado aberto na ponta com pouco volume, partido de lado, que descia não muito além da linha de seu queixo. Era muito diferente de qualquer corte que já tivera na vida. Ainda não sabia se o preferia partido de lado ou ao meio. Sabia apenas que não queria seu antigo cabelo de volta. A pedra escura de seus brincos era bem visível com o novo cabelo e a maquiagem dos olhos uma pouco mais marcante que o normal. Ver-se diferente no espelho lhe dava um ânimo diferente, uma identidade nova. Era quase um papel em branco. Sentia-se mais afiada, mais focada, mais decidida. E dessa vez, não esteva tentando vender uma imagem para a mídia.


 


Aprumou-se, alinhando a postura encarando aquele reflexo tão diferente no espelho uma última vez e deu as costas. Ela não era mais Granger, também não era Malfoy. Era apenas Hermione. Iria ser a Hermione que queria ser. Desceu novamente para a ala principal de sua casa indo em direção ao hall de jantar. Encontrou Tina no meio do caminho, que parecia estar a procurando, e a reação da mulher foi a primeira que deixou Hermione saber que sua mudança não havia sido pouca. Por algum motivo, Tina não soube o que fazer de inicio. Talvez estivesse impondo demais sua postura porque por um rápido segundo Hermione pensou que a mulher fosse fazer algum tipo de reverencia. Ou talvez estivesse apenas delirando. Não que não fosse se deliciar com a ideia de se ver superior a esse ponto, e não iria se condenar por isso.


 


-       Sra. Malfoy. – Tina limpou a garganta revirando a pilha de papeis e cartas que carregava. – Narcisa Malfoy lhe mandou uma carta por Isaac Bennett. – estendeu a ela um envelope simples e já aberto. Tina vinha tendo acesso a todas as correspondências, notificações, mensagens, comunicados que recebiam. Ela filtrava as que era importantes passar para ela ou Draco e as que podia resolver sozinha. – Sinto muito. – foi o que ela disse.


 


Retirou papel dobrado de dentro do envelope e ao abri-lo as palavras eram poucas, mas muito claras: Scorpius foi marcado. Hermione não reagiu de nenhuma forma. Sabia daquela informação. Ainda era louco saber que sabia, mas sabia que simplesmente sabia. Estava anestesiada a ela. Antes de preparar-se para colocar de volta o papel dentro do envelope e passa-lo para Tina, viu Fox virar o corredor.


 


Ele andava com pressa, como se estivesse carregando uma ordem, mas no momento em que o homem colocou os olhos sobre ela, ele desacelerou. Ele nunca havia escondido de ninguém seu interesse por ela, mas sempre se reportara a ela com extremo respeito. Quando ele parou a poucos metros dela, Hermione foi obrigada a presenciar a segunda reação a sua nova postura. Um estranho silêncio os percorreu por alguns bons segundos, como se Fox estivesse repensando mil vezes se deveria ou não cruzar a linha. Tina parecia esperar atenciosa pelo que estava por vir, da mesma forma que Hermione. Até que então ele soltou um riso forçado pelo nariz.


 


-       Sou leal ao seu marido e por causa disso eu jamais te tocaria ou tentaria qualquer coisa que desrespeitasse a posição que ele ocupa para mim. – ele disse e estreitou os olhos analisando-a cuidadosamente dessa vez. – Mas o que será que é com você que toda vez que o dia vira e eu a vejo algo em mim me convence que o encanto que tenho por você faz de mim seu servo? - ele não parecia contente. – Pode me fazer ser completamente fascinado por tudo o que é, mas não pode me fazer ajoelhar, Sra. Malfoy.


 


Hermione era extremamente grata pelo serviço e pela lealdade que ele tinha a Draco. Era extremamente grata pelo respeito com o qual ele sempre a tratara. Mas ali, tudo que ela quis enxergar foi a afronta dele. Ela entendia agora que havia algo nela que fascinava muitos. Talvez Pansy estivera certa quando a chamara de feiticeira. O tempo, proporcional a sua personalidade e aceitação, parecia trabalhar muito em prol do seu encanto. Ela não queria servos, não queria ninguém presa a ela por nenhum fascínio, mas sabia que podia ganhar quem quisesse como quisesse. Não sabia como, mas sabia que podia. E Fox estava afrontando aquilo.


 


-       Tem certeza de que não posso? – ela o confrontou de volta.


 


Aquilo pareceu fazer com que ele tivesse o desejo de provar que ela que não podia sair por aí colocando os outros debaixo de seu salto. Por um rápido segundo, ela não reconheceu Fox e duvidou que ele fosse manter toda a postura respeitosa que sempre tivera com ela. Por aquele segundo, pelo modo como ele fixou os olhos em sua boca, ela pensou que ele fosse avançar. Uma raiva e um encanto. Tudo ao mesmo tempo naquele olhar. Hermione sabia que o pararia. Ele nunca a teria, e se ele tentasse, ela o faria se ajoelhar e faria com que ele fosse o servo que não queria ser. Não se importava com o julgamento dele ou de ninguém.


 


-       Eu sei que isso não é só um corte de cabelo. – ele soltou. Quase mais para ele mesmo de que para ela. Desviou o olhar para Tina rapidamente, como se não se importasse que estivesse ali. Fixou novamente os olhos em Hermione. Ela viu claramente a raiva que ele tinha por deseja-la. Havia visto aquilo em Draco por muito tempo. – Não espere que o restante do mundo também não saiba. Ele quer te conhecer faz tempo. – findou e foi embora.


 


Hermione ficou por alguns segundos exatamente onde estava. Fazia tempo que o mundo queria saber o que ter o sangue que ela tinha realmente significava. Daria a eles o que queriam. Dobrou o recado, colocou-o de volta no envelope e o devolveu para Tina.


 


-       Acaso Draco sabe sobre Scorpius? – perguntou como se nada tivesse acontecido.


 


-       Ainda não, Sra. Malfoy. Ele tem estado ocupado para me dar qualquer atenção. Sei que isso muda tudo...


 


-       Isso não muda nada. – Hermione a cortou. – Eu o deixarei saber. Continue fazendo seu trabalho. – disse. Pausou e pensou. – Queime isso. – Referiu-se ao pequeno recado de Narciso. Tina pareceu não entender, mas assentiu concordando com a ordem. Hermione apenas avançou seu caminho em resposta.


 


Preparou-se para os olhares. Sabia que os receberia. E estava disposta a dar as boas vindas a todos os olhares que fossem. Essa era ela, nova, indestrutível. O mundo saberia. O mundo finalmente a conheceria e ela finalmente ficaria cara a cara com seus próprios limites.


 


Entrou no hall de jantar e não foi muito diferente do que imaginou. Assim que foi notada, realmente foi intensamente notada. Tomou a coroa da atenção e a vestiu com orgulho. Seu olhar alcançou Draco não muito longe. Ele estava dando ordens a Denna, mas os olhos estavam travados sobre ela. Sua saliva amargou. Não se importava com nenhum olhar ali, exceto o dele. Ele a julgava. Julgava seu vestido, seu cabelo, sua maquiagem, sua escolha de joias. Julgava tudo. Julgava o que representava. Ela bem sabia, e sentia-se incomodava por ter conhecimento do que aquilo significava para ela como descendente de Morgana, como sua amante, como mãe de seus filhos.


 


Foi até ele, que logo tratou de dispensar Denna sem tirar os olhos dela por um segundo que fosse. A outra fez uma pequeno sinal de respeito a Hermione antes de passar por ela e seguir seu caminho carregando a nova ordem, claramente a checando dos pés a cabeça em primeiro lugar.


 


Draco não era pegajoso, e se havia algo que o caracterizava era sua falta de demonstração de afeto em público. Mesmo quando vendiam a imagem do casal mais apaixonado do mundo bruxo, os toques feitos em públicos eram geralmente frios e simples. A mídia os interpretava exageradamente visto o modo como Malfoys costumavam se comportar com seus companheiros em público por décadas. Definitivamente foi surpreendida por ter o braço dele circulando sua cintura no meio de tanta gente, onde a atenção estava claramente voltada para eles. Draco tinha a mania de usar do toque quando sentia a necessidade de lembrar para quem quer que fosse que estivesse por perto, que ela, Hermione, era dele. Ele inclinou-se bem próximo de seu ouvido e lhe deu um beijo calmo, que foi seguido de um alerta:


 


-       Acaso deveria me sentir intimidado?


 


Ela puxou o ar pacientemente alisando o amassado no ombro dele.


 


-       Vá em frente e diga que torce para que eu esteja apenas perdendo a minha cabeça. Que torce para que meu comportamento seja somente a projeção do stress que estamos passando. De ter meu filho longe de mim. De me forçar a não ceder a tentação de me dedicar a Hera. De me obrigar a não sentir falta de você, do que tínhamos, do que nos dedicamos a fazer crescer. – afastou-se para encará-lo de perto. - Loucura talvez. É mais fácil de digerir se eu estiver apenas enlouquecendo, não? De que tudo vai voltar ao normal quando essa guerra acabar. Melhor do que acreditar que talvez tudo isso seja exatamente o que eu precisava para entender de onde vim e do que fui destinada a ser.


 


Hermione não gostou do brilho que apareceu nos olhos dele. Ela estava sendo direta, estava sendo muito direta. Estava revirando e cutucando o que ele já honestamente dissera a ela que o mantinha com um pé atrás quanto ao que ela era. Ele segurou seu queixo muito gentilmente.


 


-       Está forçando demais os seus limites de uma forma que não tem me agradado. – inclinou-se e depositou um beijo simples sobre seus lábios. – Não gosto que parece pouco se importar com o que tudo isso pode te custar.


 


Ele ainda não havia entendido. Não entendera que tudo aquilo era para assegurar tudo que mais importava para ela. Era para assegurar seu poder, seus filhos, sua família, seu nome e seu marido também. Mas ele ainda insistia na procedência do passado dela e do dever que ele tinha para com isso.


 


-       Não sou sua inimiga, Draco.


 


-       Sei que não é. – ele disse, puxou o ar e afastou-se dela. – Mas existem coisas que você não sabe.


 


Quase sentiu raiva quando ele se afastou. Sabia! Sabia que ele tinha conhecimentos sobre ela do qual desconhecia! Queria trazê-lo de volta, segurar seu colarinho e obriga-lo a falar tudo. Sabia que Narcisa havia lhe passado informações que o fazia olhá-la por outro angulo.


 


-       Você não tem o direito de me privar do meu passado. – tentou não parecer enfurecida, mas foi firme.


 


-       Sim, eu tenho. E não me faça justificar o porque, porque sei que vai achar que estou a desafiando, quando tudo o que realmente quero, é te manter segura dele. – ele disse. Disse como se estivesse em uma manhã qualquer tomando café da manha com ela ao lado. Como se não estivesse comentando sobre nada mais do que o clima do lado de fora.


 


O estomago dela revirou. Revirou ao digerir aquele senso de traição que quase a imobilizou. Sabia! Ela sabia! Sabia que ele escondia algo! Que ele sabia mais sobre ela do que deixava transparecer! A quanto tempo ela dividia a cama com o homem que escondia dela seu passado? Ela havia o confrontado antes a respeito disso e ele a fizera engolir que estava tentando encontrar problemas que não existiam. Quantas vezes ela se deitara ao lado dele sem saber se ele havia estado com outra mulher no início e não se vira no direito de se sentir traída como se via agora.


 


Isaac Bennett se aproximou e Hermione foi incapaz de dar atenção a ele. Não conseguia desgrudar os olhos de Draco, não podia acreditar que ele não estava dando importância ao que havia acabado de confessar. E por mais que ela quisesse explodir em cima dele, sem se importar com quem estivesse por perto, seu estado de insensibilidade a manteve estável enquanto sentia o amargo de tudo aquilo endurecer sua alma. O ódio subiu novamente como se nunca tivesse ido embora. De repente o homem com quem dividira tanto de sua vida, sua intimidade, seus sentimentos, seus frutos, parecia incrivelmente distante. Quase uma mentira. Pensava que já conseguira desvendar todas as máscaras dele, mas agora se via diante de uma que a repugnava.


 


Quis se ver como uma vitima. Quis jogar aquilo contra ele. Não conseguia digerir como ele havia guardado aquilo para ele enquanto dormia ao lado dela, enquanto a abraçava quando se encontrava com ela depois de um dia cansativo na Catedral, enquanto se oferecia para cuidar do café da manhã em alguma manhã de domingo. Ela simplesmente não conseguia entender o porque ele escolhera mantê-la debaixo das sombras, como se não importasse. Mas deixou que o sangue gelasse em suas veias. Por algum motivo, guardar aquele sentimento era como alimentar uma energia que ela precisava naquele momento. O sentimento de ódio, frustração, traição, dor, angústia. Era tudo que ela precisava, porque se não podia encontrar uma forma de ter nenhum outro sentimento, faria com que aqueles fossem suficientes para alimentá-la, independente do monstro que fosse surgir. Era o que ela tinha, era o que iria usar trabalhar.


 


Se Draco tratava com indiferença guardar o passado dela, dela mesma, ela o faria acreditar que ele realmente podia ter uma justificativa para tal. Novamente, aquela não era sua prioridade no momento. Mas ainda iria entender o porque ele decidira deixar com que ela soubesse que ele guardava aquele segredo dela naquela altura do campeonato.


 


Voltou-se para Isaac que apresentava aos dois, como havia preparado o Ministério para receber a queda de Voldemort. Tudo já estava pronto, ele havia feito o trabalho dele exatamente como Draco contara que ele fosse fazer. Mesmo com todos os medos e receios por sua família. Ele havia posto tudo em jogo. Não por uma boa causa, mas porque queria a recompensa que viria depois. Hermione escutava tudo aquilo com uma indiferença cruel. Guardava para si sua própria resolução. A presença de Draco a incomodou pela tensão que agora havia entre a pequena conversa interrompida, que para ele parecia ter tido um final.


 


Isaac e Draco entraram num debate sobre as últimas jogadas de Theodoro e sobre as intenções por trás das decisões que tomava. Isaac demonstrou mais de uma vez que esperou pela argumentação de Hermione e surpreendeu-se por vê-la calada. Hermione sabia que havia construído sua reputação. Ela havia se mostrado uma voz bem ativa e ganhara respeito. O mundo sabia que ela e Draco trabalhavam juntos, igualmente, cada um com o seu peso. Entendia que sua atitude silenciosa levantava surpresa. A verdade, era que nenhuma daquelas conversas fazia mais diferença para ela. Não agora. Não mais.


 


Seus olhos foram parar em Harry, não muito longe de onde ela estava. Os olhos dele estavam sobre ela. Não sabia a quanto tempo ele a encarava. Ele precisava fazer a barba. Alguém também precisava cortar seu cabelo. Se estivesse no passado, provavelmente estaria desejando tomar a atitude de coloca-lo em ordem. Agora, não se importava.


 


Ele estava sozinho naquela sala, esperando pelo anuncio que viria. O anúncio que o obrigaria a mergulhar num confronto que o colocaria de frente com Voldemort definitivamente. Hermione sabia que ele estava empenhado em estar pronto, mas ao mesmo tempo, também sabia que Draco separara gente para se certificar que ele ficasse vivo até o final, simplesmente porque duvidava que o marido acreditasse que Harry estava pronto. E a verdade era que ele realmente não estava. Nunca estaria. Por mais paixão que Harry tivesse em se vingar de tudo que Voldemort o privara, ele era o tipo corajoso que usava mais a emoção do que o cérebro.


 


Harry a encarava tentando lê-la. A dor em seus olhos nunca o abandonava. Ele queria Hermione Granger de volta e parecia que quanto mais os dias se passavam, mais ele se dava conta de que ela estava fora de alcance, embora a esperança parecia nunca abandoná-lo. Ela tinha raiva. Raiva de ver que ele não queria deixá-la ir. O que mais ela precisava provar para ele? Não cortara o cabelo curto o suficiente? Não se vestira diferente o suficiente?


 


Sabia que procurar exagerar para ele. Uma atitude estúpida, sem dúvida. Mas tinha a necessidade de provar para ele que estava completamente distante dele, de que muito já fora comprometido. A verdade, era que talvez assim, ele se libertasse dela, encontrasse um novo propósito. Ficasse bem. Porque por mais que não conseguisse olhá-lo sem desejar que ele sumisse, Harry Potter era seu príncipe. O homem que o universo havia moldado para ser seu par. Tudo com ele parecia se encaixar no lugar certo. Seu melhor amigo, seu amante. O futuro deles teria sido perfeito, porque mesmo que nunca tivessem acabado juntos, havia tido a plena convicção de que chegaria ao fim de sua vida em algum lugar ao lado dele.


 


-       Hermione? – Era Draco.


 


Notou que perdera a linha da conversa. Desviou o olhar imediatamente a Isaac que sabia estar expondo algum ponto.


 


-       Poderíamos a ter como cabeça dos tribunais no Ministério quando estivermos conduzindo os julgamentos e sentenças dos que se mantiveram leais a Voldemort até o fim. – ele repetiu. – Quero dizer, todos de Brampton Fort e de todos os outros fortes conhecem bem o trabalho que fez conduzindo as Casas de Justiça quando trabalhou para Nott.


 


-       Vamos chegar lá quando cruzarmos essa ponte. A longo prazo, acredito que Draco não tenha a intenção de colocar o nome Malfoy debaixo do poder de sentenciar a Azkaban ou a morte aqueles que não estiveram de acordo com o movimento que levantamos. Seria inquestionavelmente controverso para a história. – disse e percebeu o sutil olhar repreensivo de Draco quase que instantaneamente. Ele havia captado o tom irônico com o qual tratara o legado Malfoy. Ficou satisfeita com aquilo e pediu sua licença para afastar-se em toda a sua elegância e indiferença.


 


Passou por eles seguindo por entre os olhares até chegar a Harry. O homem que era seu passado perdido, sua vida perfeita, sua simples e descomplicada vida perfeita. Era difícil ignorar o constante olhar dele. Parou ao seu lado e logo notou que era extremamente desconfortável estar próximo a ele. Harry alisava os curativos em sua mão.


 


-       Vocês vão atacar, não vão? – ele tratou de indagar logo que ela deu um segundo para pensar no que deveria falar.


 


-       Está pronto? – precisou perguntar para ele. O anuncio do que iriam realmente fazer ficaria nas mãos de Draco.


 


-       Sabe que não estou. Nunca vou estar. – ele tratou de dizer. – Mas não isso não importa. Eu preciso de um fim. Não importa qual seja.


 


Ela nunca havia escutado aquilo do Harry que conhecia antes. Ele queria um fim, mas sempre temera por qual fosse esse fim.


 


-       Estamos bem próximo do fim. – disse aquilo porque ela desenharia aquele fim ela mesma. Independente de Harry, de Draco, de Voldemort, do exército que fosse. Ela faria aquele fim acontecer.


 


Harry não disse nada por um tempo. Não parecia estar concentrado em nada que fosse o fim.


 


-       Você está bem diferente. – ele finalmente comentou.


 


Sabia que ele estava se referindo talvez ao seu corte de cabelo.


 


-       Sei disso. - Essa era a intenção.


 


-       Me pergunto o porque precisa disso. – ele especulou.


 


Ela se viu curiosa.


 


-       O que você mais se pergunta sobre mim?


 


Ele puxou o ar e concentrou-se num pedaço de curativo solto.


 


-       Se você esqueceu. – respondeu. – Se esqueceu de tudo. Da nossa história. De quando ficávamos até tarde no salão comunal da Grifinória conversando enquanto os outros dormiam. De quando dividíamos a mesma garrafa de cerveja amanteigada no topo da torre de astronomia no intervalo das aulas. De quando sentava no chão do banheiro enquanto eu tomava banho para poder chorar sobre Rony. De quando demos o nosso primeiro beijo. De todas as noites que tivemos depois dele. De como parecia certo que finalmente havíamos nos encontrado. E de como era frustrante ter a profecia e a guerra nos separando. – ele soltou o ar frustrado. – Como esqueceu, Hermione?


 


Ela não queria sentir dor por ter perdido aquele passado. Mas de tudo que ela anulava sentir, adicionar mais um a lista não era difícil. Seu coração apertou, mas ela logo encontrou seu estado estável, seu modo anestesiado.


 


-       Não esqueci. – disse. Já havia lamentado demais pela história que perdera com ele havia muito tempo e lamentava por coisas muito maiores agora.


 


-       O que Malfoy fez? O que Draco Malfoy te deu?


 


Hermione encontrou o olhar do marido um tanto distante dela. O olhar dele era suspeito. Havia tanto entre eles que estava errado, havia tanto nela que o detestava e tanto que o desejava. E céus! Não queria o perder. Mas será que ele seria apenas mais um de seus sacrifícios? Ele era uma eterna aventura, uma constante missão. Crescia com ele.


 


O que Draco Malfoy havia dado a ela?


 


-       Asas. – respondeu.


 


 


Neville Longbottom


 


 


Tentava recuperar o fôlego enquanto cruzava os milhões de salões daquela casa para chegar a ala principal. Havia perdido a hora, como sempre. Era difícil não perder quando tudo que fazia se resumia a estudar o Arco. Aquele artefato tinha o poder de consumir quem quer que desse seu tempo a ele. Quando finalmente conseguiu chegar a salão de jantar, encontrou mais gente do que o esperado amontoado ali, escutando Draco Malfoy proferir que em dez minutos, a ordem para a tomada dos outros fortes seriada dada. A rebelião começaria e eles só iriam marchar contra Brampton Fort quando o sol nascesse.


 


Passou os olhos pelas pessoas. Algumas encostadas pela parede, outras acomodadas cadeiras que estavam aleatoriamente dispostas pela sala. Tudo parecia muito orgânico, muito intimo. Era como se Malfoy estivesse tentando manter aquele ar de que todos eles estavam no mesmo barco, lutando pelo mesmo propósito. Uma estratégia inteligente.


 


Encontrou Harry não muito distante encostado em um canto qualquer, apenas escutando. Encarando tudo bem focado. parecendo estar em um mundo muito distante. Aproximou-se dele para lhe fazer companhia por alguns minutos enquanto não encontrava Hermione.


 


-       Hei. – fez-se ser notado.


 


-       Hei. – Harry respondeu.


 


-       Pensei que fosse estar com o pessoal de Mason lá em cima. – comentou.


 


-       Mason me colocou debaixo das ordens de Denna. Ela me obrigou a ficar aqui enquanto não sabe o que fazer comigo. – ironizou ele.


 


-       E devo confessar que é impressionante te ver seguindo ordens. – brincou ele.


 


Harry suspirou levando tudo para um lado mais sério.


 


-       Fui impulsivo a vida inteira. Passei por cima de ordens, desafiei leis e me enfiei em situações que não me levaram a lugar algum. – disse. – Ao menos uma vez, preciso me certificar de que se eu conseguir me conter e seguir um programa mais inteligente do que meu instinto impulsivo, posso alcançar aquilo que sempre procurei em primeiro lugar.


 


Neville tinha que admitir que era algo completamente novo vindo de Harry Potter. A lei de esperar diferentes resultados repetindo as mesmas tentativas parecia finalmente ter feito sentido na cabeça do velho amigo.


 


-       Soa como uma decisão inteligente. – encorajou ele.


 


-       Tem me custado bastante. – Harry soltou.


 


Talvez ele estivesse se referindo a queda da Ordem. Todos sabiam que Harry quem havia decidido fazer com que as coisas acontecessem do modo horrível que aconteceram. Draco Malfoy tinha enfiado seu plano perfeito dentro da cabeço de Harry e ele havia comprado. Talvez no desespero. Neville não conseguia nem mesmo se lembrar de como a Ordem estava conseguindo sobreviver.


 


-       Bem. Malfoy tem muito mais do que a Ordem teve algum dia e ele conhece bem a estrutura do Império de Voldemort. Vamos ver como isso vai terminar. – concluiu ele. – Sabe onde posso encontrar Hermione?


 


Harry apontou com a cabeça em direção a ela.


 


-       Ao lado do marido. – ele respondeu com um certo desgosto pela palavra que usara para se referir a Malfoy.


 


Tentou procurar por ela no centro daquela sala, onde Draco Malfoy estava de pé e demorou a reconhecer que a figura sentada em uma poltrona logo ao lado dele, lendo um longo pergaminho, discutindo com Tina Miller sobre o conteúdo, era Hermione Malfoy. Teve que puxar o ar tentando trazer algum tipo de paz para seus pensamento ao ver o tanto que ela parecia uma versão bastante ousada e bem afiada de uma Hermione que jamais imaginara ver.


 


-       Oh. – teve que expressar. – Ela está diferente.


 


-       De fato. – comentou Harry. – Eu pensei que ela não poderia se modificar mais do que já nos obrigava a ver, mas isso... – ele seque chegou a concluir.


 


-       Me pergunto se ela não se sente perdida. Talvez. – defendeu Neville. – Veja só, a motivação dela é apenas conseguir o filho de volta. Não consigo imaginar o caos que ela deve estar passando, como mãe, ao saber que o filho está nas mãos de Voldemort.


 


-       Ela não parece perdida. Mas quem somos eu e você para especular quando a única pessoa que parece realmente entender e saber o que está acontecendo com ela é Draco Malfoy. Ela não se abre para ninguém mais.


 


Neville queria concordar, mas duvidava que ela estivesse se abrindo para o próprio marido. Não sabia nada sobre o relacionamento dos dois, mas a única coisa que conseguia ver era o modo robótico e extremamente profissional que tudo parecia acontecer dentro daquela casa, entre aquelas pessoas e especialmente entre Draco e Hermione. Podia estar errado, e queria estar errado, ninguém sabia o que Draco e Hermione eram realmente quando estavam sozinhos.


 


-       Bem, julgá-los não é exatamente nosso papel aqui, certo? – findou ele. – Preciso ir até ela.


 


Avançou por entre as pessoas até chegar no centro do salão onde o casal estava. Esperava não ser crucificado pelo momento tão inoportuno. Focou-se em Hermione discutindo com Tina o que precisava ser tirado e o que precisava ser acrescentado no texto que seria impresso nos jornais do dia seguinte. Sabia que era algo a respeito da agenda que vinham tentando espalhar pelo mundo bruxo. Talvez um texto se referindo a forma como o império estava interessado em escravos e não aliados, ou como os ideias absolutistas de Voldemort tinham interesse apenas em glorificar cada vez mais sua própria existência, ou como a Marca Negra era uma forma de aprisionamento e não proteção. Coisas que todo mundo já sabia, mas que estivera longe da boca do povo e dos jornais por muito tempo, facilitando a lavagem cerebral feita em prol das conquistas de Voldemort.


 


Esperou até que Tina Miller se levantasse e saísse acompanhada do jornalista responsável por assinar o nome no final do artigo. Percebeu que Hermione estava pronta para se levantar, mas continuou onde estava quando notou a presença dele esperando pelo momento certo. Ela fez um simples aceno com a cabeça, permitindo que ele se aproximasse.


 


Neville tratou de tirar seu caderno de anotações do bolso de trás antes de sentar na cadeira onde todas as pessoas importantes daquele movimento pareciam estar sentando. Estendeu seu pequeno caderno empenado para ela enquanto escutava Draco Malfoy de fundo dar um milhão de ordens a Devon ao mesmo tempo que recebia novas notícias de como as coisas estavam sendo preparadas e o que estava acontecendo pelo mundo. Hermione estava completamente alienada, como se não fizesse parte do que estavam preparando ali.


 


-       Consegui analisar boa parte das runas que apontou e dos feitiços que conseguiu tirar por alto. – ele explicou. – O padrão é o mesmo. A magia tem vida própria. Temo que se dissecarmos mais daquele arco, vamos dar vida a algo que ninguém vai ser capaz de controlar e eu não acho que o mundo está pronto para isso. Merlin definitivamente sabia o que estava fazendo guardando esse conhecimento num artefato tão difícil de decifrar.


 


-       Não é bem o que eu gostaria de ouvir. – ela foi direta.


 


Neville teve que engolir aquilo, tentando novamente encontrar paz em saber que ao menos havia feito um bom papel ao reforçar o aviso sobre o perigo daquele artefato. Estava escondido no Ministério, dentro de um departamento onde raramente alguém tinha acesso, representando algo que não condizia com o que realmente era, e tudo aquilo deveria ser por uma razão muito especifica.


 


-       Bem. – iria direto ao ponto que ela queria escutar. – Ainda é muito especulativo, mas o padrão em que as runas estão dispostas revelam mais do que alguns feitiços desconhecidos. Se prestar mais atenção... – ele apontou para os desenhos que havia refeito no caderno. - ...pode ser a leitura dos pilares de magia primitiva.


 


Hermione ajeitou sua postura.


 


-       Magia primitiva é um mito. – ela estava muito confiante do que falava. – Nunca existiu. Não é possível que tenha existido. Nós carregaríamos essa evidência como bruxos se realmente fosse real.


 


-       Sei disso. Todos sabemos disso. É difícil discordar, mas... – nem ele mesmo acreditava no que estava falando. – Faz todo o sentido. Se Merlin teve mesmo todo o conhecimento que a história diz que ele teve, esse com certeza seria um, e se ele soubesse mesmo o poder da magia primitiva, ele certamente esconderia isso em um artefato tão perigoso e tão complexo quanto o véu. Talvez ele tenha feito tão bem, que mesmo se passarmos uma vida inteira estudando o arco não vamos conseguir alcançar o que ele realmente quis esconder. – ousava até mesmo dizer que aquele arco fora estudado por séculos, mas acabara parando no Ministério por não terem conseguido chegar a lugar algum. – Talvez Merlin tenha sido o responsável por fazer com que magia primitiva virasse um mito.


 


-       Talvez. – Hermione não descartou, embora não parecesse se mostrar animada ou até mesmo surpresa. – A verdade é que temos todo esse poder não decifrado em nossas mãos e não podemos usá-lo. Não é bem uma prioridade no momento se não pode ser uma arma. – soltou o ar incomodada. - Odeio esse arco. Se ao menos pudesse ter tido o conhecimento prévio de que seria inútil, ninguém estaria aqui nesse momento. – devolveu o caderno a Neville. Obrigada pelo serviço. – levantou-se, pediu licença e se retirou.


 


Draco Malfoy fez sua breve observação ao vê-la ir embora. Os olhos dele caíram sobre Neville logo em seguida por um breve segundo apenas e então ele voltou sua atenção ao grupo de pessoas que o cercava como se nada daquilo importasse.


 


Neville sentiu-se frustrado. Nada do que fazia parecia realmente acrescentar em alguma coisa. O trabalho em cima daquele arco era sempre um intenso e frustrante. Nunca levava a nenhum caminho significativo. Era como se Merlin tivesse planejado isso quando o fez. Tudo o que podia pensar mesmo era que não gostava nem um pouco que aquele artefato agora estivesse na mão nos Malfoy. Fazia parte do tesouro deles agora e sabia que ele não seria devolvido se a guerra acabasse e os Malfoys saíssem vitoriosos.


 


Aquele arco na mão de Hermione...


 


Tentava não pensar nas ideias extremistas de Gina enquanto viva naquele lugar. Levantou-se e decidiu tomar seu caminho de volta já para o subsolo tendo a certeza de que não seria convocado para agir contra o forte de Voldemort quando a hora chegasse. Colocou seu caderno de volta no bolso e se enfiou novamente no labirinto daquela casa, torcendo para não ir parar na circulação de empregados, aqueles corredores sim eram um intenso labirinto.


 


Não foi muito longe quando Denna o abordou. Ela veio cheia de sua atitude convencional que irritava qualquer um que não a conhecesse de verdade. Aquela ali com certeza havia sido uma Sonserina. Daquelas que sua vó teria bastante orgulho.


 


-       Hei. Garoto. – ela o chamou fazendo com que ele fosse obrigado a parar para voltar-se para ela. Ele não era um garoto. Podia ter suas bochechas bem características, mas certamente beirava seus trinta anos. – Entre. – Ela bateu com a varinha duas vezes numa pedra da parede que logo se revelou ser uma entrada para alguma câmara.


 


-       “Entre, por favor.” Seria uma forma mais convincente de me fazer te obedecer. – implicou Neville, mesmo estando confuso pela estranha exigência feita sem motivo específico.


 


-       O general quer um tempo com você. – explicou ela irritada. – Entre. – exigiu novamente.


 


Neville estranhou. O general acaso era Draco? A maioria ali parecia se referir a ele por aquele status. O que Draco Malfoy iria querer com ele?


 


-       O que ‘o general’ quer comigo? Ele não está ocupado demais liderando um ação? – questionou.


 


-       Me pergunto o mesmo, garoto. Será que poderia, por favor, atender ao pedido. Tenho muito o que correr atrás e lidar com esse desperdício de tempo me irrita. Não faço o tipo babá. Já basta Potter. – ela se mostrou entediada.


 


Neville engoliu seu receio para dar espaço a curiosidade de saber o que Draco Malfoy iria querer com ele. Decidiu por obedecer a mulher, passando por ela ao entrar na sala. Denna não entrou com ele. Ela apenas informou que Malfoy apareceria logo e que ele deveria esperar. Bateu novamente com a varinha do vão da porta e ela se desfez dando lugar a uma parede concreta de pedras.


 


O receio lhe bateu logo em seguida, embora a câmara fosse muito acolhedora com suas velas baixas e enormes tapeçarias. Puxou a varinha com rapidez, avançou para a parede de pedra e bateu com sua varinha onde Denna havia batido. Um alivio passou pela sua mente quando viu a porta aparecer. Não que esperava que o círculo de Malfoy quisesse o confinar a algum lugar, mas tinha muita consciência de que só ele havia recebido autorização para estudar o arco, um artefato que parecia muito promissor.


 


Verificou se a porta estava trancada. Não estava. Bateu novamente na pedra com sua varinha para que ela sumisse e passou a analisar as tapeçarias antes de começar a escolher em qual poltrona ele acomodaria.


 


A câmara parecia algum tipo de escritório secreto. Não parecia estar sendo usado já que a mesa estava vazia, a arca de bebidas limpa, nenhuma cinza nos cinzeiros e o os relógios estavam todos atrasados. Depois de um tempo acabou por sentar-se na cadeira de frente a mesa de escritório. E apenas esperou.


 


Esperou por muito tempo. Chutou meia hora quando decidiu que já esperara o suficiente. Os relógios da sala estavam todos descoordenados, mas ele tinha uma boa noção de tempo e espaço para saber que aquilo já estava ficando ridículo. Levantou-se e no momento que o fez, a porta reapareceu na parede e escutou Draco Malfoy dando ordens do outro lado.


 


-       ...Espere a notícia chegar a Brampton Fort. Nott não irá ousar marchar contra Godric’s Hollow quando souber o que está acontecendo nos outros fortes. Já encontrou Hermione?


 


-       Ainda não, senhor. – uma voz masculina respondeu.


 


-       Pois trate de encontrá-la. Ela não tem o luxo de não se fazer presente agora! – ele parecia irritado.


 


 


Assim que recebeu uma resposta positiva de quem quer que estivesse com ele, entrou na câmara onde Neville estava. Entrou com pressa, e sequer voltou sua atenção para Neville. Sua curiosidade estava subindo pelas paredes enquanto via o homem avançar para o outro lado da mesa jogar-se contra a cadeira e passar as mãos pelo rosto pendendo a cabeça para trás como se estivesse vivendo um intenso nível de stress. Ele respirou fundo umas três ou quatro vezes como se estivesse tentando encontrar equilíbrio antes de apoiar os cotovelos na mesa e juntas as duas palmas unidas contra a boca fixando  o olhar em Neville.


 


O silêncio durou entre eles por um bom tempo. Neville não entendia porque ele parecia tão intenso e tão focado agora. Era estranho ter Draco Malfoy o encarando como se tivesse pensando em mil coisas ao mesmo tempo.


 


-       Honestamente, não sei como começar isso. – Draco soltou depois de um bom tempo.


 


Neville não soube o que dizer.


 


-       Veja bem... – começou ele. – Meu interesse com o arco não passa o de tentar entendê-lo para usá-lo contra Voldemort. Sempre foi, desde quando ele acabou indo parar nas mãos da Ordem. – se caso ele estivesse pensando que Neville fosse um traidor. – Nada mais. – certificou-se em dizer.


 


Draco Malfoy maneou a cabeça negativamente. Respirou fundo e dessa vez foi direto onde queria ir.


 


-       Você juntamente com Gina Weasley tiveram a chance de estudar o sangue de Hermione. Presumo que os dois tem o mesmo conhecimento sobre a natureza dela e preciso saber o porque chegaram a conclusões tão diferentes.


 


Oh. Neville podia dizer que estava totalmente surpreso agora.


 


-       Eu não tenho interesse em matar sua esposa. – Não como Gina tinha.


 


-       Não disse que tem. Meu questionamento é: Por que diferentes conclusões? – insistiu ele.


 


Neville sentiu que precisava usar da verdade de modo bastante inteligente, embora soubesse muito bem que falharia simplesmente por ser desajeitado como era.


 


-       Não chegamos a conclusões diferentes. – precisou dizer. – Ambos chegamos a conclusão de que ela é um eminente perigo adormecido. Mas você sabe disso melhor do que eu pela carga história que carrega contra a descendência dela. E mesmo assim decidiu se casar com Hermione


 


-       Não decidi me casar com Hermione. Fui forçado a me casar com ela para atender uma agenda que meu pai tinha com o futuro do meu sobrenome e uma que Voldemort tinha com o futuro de Império dele. Eu não sabia da procedência dela, não tinha consciência de sua natureza. Se está me dizendo que Hermione é um eminente perigo, preciso das provas que o levou a essa conclusão.


 


-       E por que precisaria delas? Afinal, foram os seus antepassados que eliminaram os dela. Por que eu deveria saber mais do que você? E qual é o propósito disso? Dessa conversa?  - confrontou Neville ficando surpreso consigo mesmo de estar fazendo algo tão fora de sua característica.


 


-       Meus antepassados vem eliminando qualquer vestígio da existência do DNA dela por séculos com base em um argumento feito pelos primeiros homens responsáveis por colocar esse fardo nas minhas costas! Um argumento que apresenta pouca prova de veracidade. E eu vou te fazer se sentir desconfortável se isso for me fazer ganhar qualquer tipo de prova que seja. – respondeu Malfoy.


 


Neville podia concordar mil vezes com a parte de se sentir extremamente desconfortável.


 


-       Por que está buscando por isso agora? Gina Weasley foi uma de suas prisioneiras e ela sabe tanto quanto eu sei sobre sua esposa. Você sabe que eu soube conduzir Hermione quando ela estava tentando se livrar da marca e desde então eu estive perambulando dentro de sua casa todo esse tempo, completamente disponível. Por que agora?


 


-       Será que nunca se passou pela sua cabeça que talvez eu não queria ouvir? Não queira saber? Hermione é mãe dos meus filhos, é a mulher que deita ao meu lado na cama todas as noites. É a única mulher pelo qual eu me vi capaz de me apaixonar. É a única que me tirou do estado miserável e sem propósito que mal eu sabia que vivia. Ela me deu algo pelo qual lutar e por mais que isso esteja acabando tanto comigo quanto com ela, não existe nenhuma parte de mim que gostaria de voltar de onde eu vim. Eu não quero perde-la. Mas não posso ignorar os fatos porque isso iria contra todo o meu senso de razão!


 


Mal conseguiu acreditar que estava sendo exposto a um Draco Malfoy vulnerável. Não entrava em sua lógica que um homem como ele, um chamado general, que andava por aí colocando todos ao seu redor debaixo de sua plena e perfeita autoridade estava permitindo mostrar para ele, logo para ele, que tinha suas fraquezas. Neville se viu divido. Pela primeira vez, se viu se exposto a uma gota que fosse do relacionamento íntimo de Draco e Hermione e por aquela razão se viu compadecido. Draco Malfoy não era só um líder, um general, um idealista. Ele também era um pai, um marido e Hermione fazia parte dessa identidade.


 


-       Bem... – relutou. – Eu o aconselharia a continuar nas sombras. Não acho que queira realmente saber o que eu sei. – torceu para que Draco tomasse aquilo como um bom conselho e decidisse abortar aquela conversa.


 


E Neville até mesmo pensou que ele iria, simplesmente pelo silêncio que se seguiu. E foi longo. Extremamente longo. Desconfortável era uma definição que chegava a passar longe do que aquilo realmente era. O homem a sua frente parecia estar travando uma incrível batalha consigo mesmo enquanto o encarava, processando o fato de saber que o que Neville sabia era ruim demais, pesado demais, intenso demais, para que ele escutasse. Porque Neville sabia que uma vez que ele soubesse, não poderia voltar atrás e decidir esquecer. Neville queria poder. Julgar Hermione como ele julgava não era fácil, principalmente quando era exposto ao comportamento que ela vinha desenvolvendo.


 


Malfoy levantou-se como se tivesse alcançado um ultimato dentro de sua cabeça. Deu a volta na mesa e foi em direção a porta, pronto para sair.


 


-       Você pode ir se quiser. – Draco o liberou.


 


Neville respirou aliviado. Escutou o homem abrir a porta atrás e si e quando pensou que ele tivesse ido embora, a porta se fechou novamente e não precisou se virar para saber que Draco Malfoy ainda estava ali.


 


-       Aghr... – murmurou para si mesmo ao saber que o homem mudara de ideia.


 


Voltou-se para ele e viu o dito general Malfoy o encarando com confiança


 


-       Eu quero saber. – ele disse.


 


Neville foi obrigado a respira fundo e soltar o ar com calma. Queria perguntar se ele tinha realmente certeza do que estava escolhendo, mas sabia que Malfoy já parecia ter passado por uma batalha interna ali para saber o que estava fazendo. Não podia negar que tinha um intenso senso de proteção com a informação que estava prestes a passar, mas sabia que aquilo era fruto de toda magia envolvida no que Hermione carregava.


 


Ajeitou-se em sua poltrona. Não sabia exatamente como começar.


 


-       O termo Horcrux é familiar para você? – perguntou.


 


Draco reagiu instantaneamente soltando o ar e fechando os olhos como se aquilo fosse a última coisa que quisesse escutar ali. Rapidamente ele pareceu envelhecer uns dez anos. Não sabia exatamente até onde o conhecimento de Draco ia, mas sabia que a família dele provavelmente tinha um extenso arquivo sobre os antepassados de Hermione, e se ele estava atrás de provas, era porque não as possuía, mas tinha uma vaga ideia no que consistiam. Ele moveu-se para uma poltrona próxima, sentou-se quase que derrotado. Passou as mãos pelo rosto e apoiou os cotovelos em cada joelho evitando encarar Neville.


 


-       Sim. – respondeu. – Voldemort tem tentado, sem sucesso, executar essa magia faz tempo. Ninguém jamais conseguiu produzi-la.


 


-       Bem, o DNA de Hermione prova o contrário. A magia está gravada nele. – teve que dizer. A reação de Draco continuou a mesma. Podia quase sentir pena. Queria dar a ele alguma esperança. – Veja bem, eu não sou nenhum especialista. Livros, experimentos e práticas foram o que me levaram a saber tudo que eu sei. Nós reviramos muito de todos os exemplares de sangue que Hermione conseguiu mandar por Luna procurando a ponte que a ligava a Voldemort e encontrar o que encontramos não foi muito agradável, especialmente quando conseguimos traça-lo de volta a linhagem das fadas humanas.


 


-       Mas esse não foi o pior de tudo. – concluiu Draco.


 


Neville soltou o ar.


 


-       Faz todo o sentido se você partir da premissa que Merlin sem dúvida foi o maior bruxo da história e que ele foi mentor de Morgana por um período muito longo antes de se tornarem inimigos mortais. Qualquer livro de história conta que Morgana gostava de se proclamar imortal durante sua pior fase e o DNA de Hermione prova que ela de fato conseguiu dividir sua alma para se fazer viver em todos os seus descendentes. Isso inclui Hermione. – quis parar por ali, mas não pode. - E também inclui seus filhos. – Draco continuou em silêncio, como se não conseguisse encontrar qualquer palavra que fosse para retrucar, ou qualquer comentário para acrescentar. – Mas veja, nosso conhecimento conseguiu ir apenas até um certo limite. Foi onde eu e Gina nos dividimos. Gina acredita que Morgana não merece qualquer chance de ainda existir, seja na forma que for, mesmo que isso custe a vida de Hermione, que ela considera praticamente ser a vida de Morgana em um corpo diferente, o que eu acabo por discordar visto o numero de elementos claramente adormecidos que Hermione carrega. Além do mais, Morgana não foi um pessoa horrível por maior parte da vida dela. Todos sabemos as coisas horríveis que ela teve que passar para se tornar tão rancorosa. E carregar uma parte da alma de Morgana não torna Hermione menos Hermione e mais Morgana. Ela é quem é, quem cresceu para ser, quem procurou ser e talvez, ser privada do conhecimento de sua descendência tenha a ajudado a adormecer mais ainda a parte do DNA que a torna uma Horcrux, sem contar que o sangue dela é completamente diluído com o de trouxas. Também não acho que tonar público a identidade dela da forma como tudo aconteceu tenha sido algo saudável para ela e para o psicológico dela.


 


O silêncio foi terrível. Neville podia apostas que a tomada dos outros fortes que ele estava regendo naquele momento era a última coisa se passando pela sua cabeça. Draco Malfoy engoliu em seco, um tanto desnorteado, e depois de um bom tempo disse:


 


-       Hermione passou por muita coisa. Há muito espaço nela para rancor, angústia, medo, e todas as coisas ruins que levaram Morgana a se tornar quem a história mais lembra que ela foi.


 


-       Não posso negar que a potencialidade é evidente. Hermione pode acabar dando muito espaço para um lado que ficou adormecido por muito tempo. E preciso enfatizar o quanto isso pode ser perigoso. E se pode ser perigoso para Hermione, que tem um sangue mais trouxa do que bruxo, mal posso imaginar para os seus filhos. Morgana foi conhecida pelo intenso encanto que conseguiu produzir nas pessoas que a cercavam no pico de sua história. Não é confirmado se isso foi por meio de feitiço ou devido a natureza que possuía, mas sem dúvida havia um forte senso de proteção não natural vindo daqueles que a apoiavam. Sem contar que se conhece o poder que Horcuxes tem em enfeitiçar aqueles que a protegem, concordaria comigo que não gostaria de ver todo esse potencial, com o intenso poder que tem, circulando por aí cheio de rancor e vingança. Mas, novamente, preciso dizer que não acredito que Hermione seja o que Gina acredita que ela é. Hermione cresceu sem ter consciência de tudo isso, fazer magia simples sem varinha já era algo extremamente novo. Talvez ela conseguisse se treinar para executar uma magia mais complicada sem um elemento condutor, mas isso era o máximo que ela sabia que podia conseguir. O que ela sempre pensou de si mesmo é a chave. Eu não sei a Hermione que você conheceu, mas a Hermione que fez parte de quase toda a minha vida é uma mulher simples. Ela pode ser orgulhosa e teimosa, mas ela não precisa de muito para ficar feliz, não precisa de gentileza para ser gentil, não precisa de títulos para ser fiel. Ela é leal. Não importa quantos genes ela possua de Morgana, não importa quantos pedaços de alma escondidos dentro dela, o chapéu a escolheu como uma Grifinória e é isso que eu acredito que ela seja.


 


-       Morgana foi uma boa pessoa maior parte da vida dela também. – Draco comentou passando a mão pelos cabelos outra vez. E mesmo ele dizendo aquilo, Neville não acreditava que ele não achasse que Hermione era Hermione e ela não era Morgana, mesmo que assumisse todo o potencial adormecido dentro dela, mesmo que desse espaço para tudo que havia de Morgana nela, ainda assim ela seria apenas uma outra versão de Hermione. - Horcruxes foram feitas para serem destruídas.


 


-       Sabe que está falando da sua esposa e dos seus filhos, não sabe?


 


-       Estou muito consciente disso. – soou quase irritado.


 


O silêncio veio novamente. Neville quase se sentiu atraído a entrar em termos técnicos de como havia dissecado o sangue dela e chegado a conclusão que chegara, mas a visão dele ali na sua frente era a prova de que a última coisa que Draco queria era uma aula sobre ciência da magia. Ele já escutara o suficiente e Neville não duvidava que ele já tinha uma boa carga histórica do que a família dele havia feito o que fizera com os antepassados dela, o porque e como isso se complementava a informação que passara a ele.


 


-       Está preocupado que ela dê espaço demais para o pior lado dela agora que está tão mergulhada nesse caos? – ele levantou.


 


-       O que você acha da imagem dela? A atitude, o cabelo, a forma como se veste, como trata as pessoas. – Draco argumentou.


 


-       Pensei que vocês dois tinham uma agenda com o público. Aparentar ser um casal forte. Invencível. – justificou Neville.


 


-       E temos. Mas eu e Hermione já passamos tempo o suficiente fingindo para a mídia para eu ter certeza de que ela pode muito bem não ser o que precisa mostrar. – soltou o ar e maneou a cabeça cansado. – Ela não sabe da cova que está cavando.


 


Neville irritou-se, mas conteve seu temperamento. Não era a melhor pessoa quando as coisas beiravam o confronto.


 


-       Você sabe do passado dela. Por que escondeu tudo que sabia dela?


 


-       Eu estou a protegendo! E eu não sabia de muito até pouco tempo, até minha mãe me mostrar um imenso depósito fantasma dentro dos cofres da minha família com uma enorme quantidade de informações que eu pouco imaginava que existiam! E você mesmo disse que mantê-la no escuro fez com que ela adormecesse a linhagem da qual veio!


 


-       Mas agora ela provavelmente acha que é uma mulher invencível, sendo movida muito provavelmente pelo sentimento de vingança! Acha que isso é bom para ela?


 


-       E acaso acha que ela poderia passar por tudo isso sem beirar um estado mental deplorável independente do que sabe sobre ela mesma ou não? Você não faz ideia do que Voldemort a fez passar. Você não é uma mãe que teve o filho tirado dos braços, que deve se conformar em ver os dias passar enquanto tenta encontrar uma forma inteligente de consegui-lo de volta. Hermione pode ser a pessoa mais forte que eu conheço, mas ela nunca vai deixar de ser sensível.


 


-       Ainda assim você poderia ter encontrado uma forma de ajuda-la a passar por isso. – insistiu Neville.


 


-       Acha mesmo que eu poderia ajuda-la a ir contra o fato de que é uma Horcrux? Estamos falando de magia negra!


 


-       Você não sabia disso até alguns minutos atrás.


 


-       Eu conhecia o argumento.


 


-       Ainda assim! – realmente insistiu embora soubesse que não tivesse base. – Você se importa com ela, não se importa?


 


-       Não acha que protegê-la é uma reação do que a natureza dela causa com aqueles que a cercam? – questionou Draco.


 


-       Talvez, mas essa é a única coisa que não se foi possível provar a respeito de Morgana. Fadas Humanas sempre chamaram atenção pela beleza extra que algumas podiam ter, mas nunca foram como uma Veela ou algo do tipo. Na verdade, Veelas pareciam ter algum tipo de aversão a fadas humanas pelo poder de conseguirem atrair atenção sem qualquer encantamento. O que está dizendo? Estamos falando de Hermione!


 


-       Estou tentando trazer algum tipo de razão para tudo isso. Não minta em acreditar que a personalidade de boa samaritana é capaz de anular tudo que ela carrega por trás?


 


-       Eu nunca... – engasgou quase incrédulo. – Tem noção de que está falando de sua mulher? A mãe dos seus filhos?


 


-       EU SEI! – ele soltou surpreendentemente alto e quase agressivo.


 


Neville teve que se calar diante da reação dele. Malfoy soltou o ar quase que procurando encontrar um estado mental estável. O silêncio percorreu entre eles. Finalmente Draco se levantou passando a mão por seus cabelos mais uma vez, talvez tentando se recompor. Neville pensou em talvez questioná-lo a respeito do que faria agora que sabia sobre a procedência mágica do DNA que Hermione carregava, mesmo sabendo que ele não fosse querer compartilhar aquilo. Mas foi naquele exato momento que alguém quase esmurrou a porta e abriu, mostrando a imagem de Devon ofegante.


 


-       Senhor. – o homem tentava recompor a respiração. – Ásia foi fácil. África está demorando mais do que imaginávamos. Autrália e América estão segurando o máximo que podem, talvez vamos ter que avançar contra Brampton Fort com a tomada dos dois pendendo. E... – ele travou parecendo um tanto receoso de dar a próxima informação. Mas mesmo assim avançou depois de tomar ar: - Sua mulher não pode ser encontrada em lugar nenhum.


 


Draco mostrou-se claramente confuso com aquilo.


 


-       O que quer dizer com ela não poder ser encontrada em lugar algum? – tratou de imediatamente perguntar.


 


-       Falamos com todos os seus elfos e todos eles afirmaram que não conseguiam alcança-la em nenhum lugar por toda a propriedade. – Devon parecia tão receoso quanto Draco. – Ela sumiu. – concluiu.


 


Uma incredulidade passou pelos rosto de Malfoy instantaneamente. Quando digeriu aquilo, apertou os olhos com força e soltou um palavrão alto antes de sumir pela porta com Devon lançando um milhão de ordens e chamando por mais um milhão de pessoas.


 


 


 


 









 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


N/A: Ufa, preciso confessar que esse foi um capítulo EXTREMAMENTE DIFÍCIL de escrever porque eu sei que talvez ele não tenha sido o mais agradável de se ler. Talvez o mais difícil de se escrever até agora. E tenho a suspeita de que o próximo será ainda mais difícil porque pretendo fazer com que ele seja o último ou o penúltimo. Mas só Deus sabe como as coisas vão acabar se materializando ao sair da minha cabeça, não é?


Enfim, eu estava pretendendo betar eu mesma o capítulo essa semana, mas como nada ocorre como o planejado, acabei ficando doente. A flu (virose?) pegou pesado esse ano aqui por onde eu moro e tive que tirar vários dias de trabalho para ficar de cama. Esse inverno tá bem pesado. Talvez o começo do capítulo esteja mais apresentável do que o meio pro final, já que eu procurava reler bastante do que escrevia lá pelo meio do ano passado. Não que o meio pro final não tenha sido cuidadosamente pensado, mas é que o meio pro fim eu já estava tentando me apressar pra terminar logo o capítulo e não deixar vocês esperando por muito mais tempo. Eu sei que esperaram bastante, mas preciso dizer isso mais uma vez: foi difícil escrever esse capítulo.


 


E preciso explicar o porque foi difícil escrever esse capítulo.


 


Eu espero que muitos de vocês tenham tido a chance de reler os capítulos anteriores enquanto eu postava no Wattpad. Tentei ser consistente com a rotina de postagem que montei na minha agenda, mas a vida e a correria nunca ajudam com nada. Mas acabei ficando feliz que o capítulo 42 foi pro Whattpad logo quando terminei o capítulo 43. Foi quase como se o universo quis fazer com que as coisas funcionassem de uma forma que eu não esperava. Hahaha. Enfim, pra vcs que conseguiram reler a história e a tem mais fresca na cabeça, eu espero que tenham notado como eu construí tudo bem cuidadosamente e de forma até sutil, para Draco e Hermione chegarem no impasse em que estão agora. Eu sei que essa última parte do capítulo foi muito pra digerir e que talvez até muitos de vocês não conseguem ver um fim para isso.


 


O Plano de Fundo


 


Eu entendo que talvez as coisas tenham caminhado para um lado bem desagradável. A personalidade da Hermione está sendo muito comprometida. Draco está agindo de modo bem defensivo. Mas eu preciso que entendam que os dois estão passando por tudo que estão passando com relação a Voldemort, aos filhos e ao que ser um Malfoy significa que eles não estão se empenhando ou estão tendo nenhum tempo para solucionarem o que está acontecendo entre eles, o que Hermione tem passado, o histórico dela e o que Draco pensa que tem a ver com isso.


 


O Castelo de Areia


 


Não sei se ficou claro o suficiente pelos capítulos anteriores e até mesmo por esse capítulo, que Draco e Hermione nunca realmente se entregaram um ao outro, por mais linda que tenha sido a relação, por mais bonito que o “castelo de areia” deles parecia ser, como citei nesse capítulo. A situação que eu quis criar e que espero que tenha ficado aparente, talvez até demais para alguns ou de menos para outros, é a de um casal que carregava um passado de preconceitos e guerras quando se uniram, ou seja, já não tinha muito pra dar certo. Eles foram capazes de se apaixonar e optaram por ignorar esse passado simplesmente ao tentar não mencioná-lo ou dar vida a ele. Quando se viram finalmente capazes de passarem por cima disso, Boom!, Hermione é descendente de Morgana. Draco pensa que pode passar por cima disso, mas então a mãe o apresenta a realidade da caçada da família Malfoy contra a “espécie” dela e talvez (sim ou não? Hein, hein, hein! hahaha) revelando as intenções de Lúcio em juntar os dois. Isso enquanto Hermione luta com a nova identidade, tentando se esconder dela por um tempo, tentando encontrar respostas aqui e ali por um tempo, tentando esquecer por um tempo e por fim se dando a liberdade de mergulhar e explorar o que tudo aquilo podia significar. E tudo isso eles viveram individualmente. Em nenhum momento os dois sentaram para resolverem isso sem serem hostis ou levantarem pressupostos que levantassem barreiras um contra o outro imediatamente, e a verdade é que mesmo se eles tivessem, nada seria resolvido, porque eles simplesmente estavam completos demais vivendo a fantasia da família perfeita que queriam tanto viver, ali com os filhos, criando a rotina que criaram e os laços, por mais imperfeitos que fossem, que criaram. Eles não queriam colocar aquela coisinha bonita a perder. Mas os dois estavam vivendo vidas paralelas. Enfrentando todo tipo de questionamento a respeito um do outro e de si mesmos que simplesmente evitavam trazer a superfície simplesmente porque não queriam desmoronar o “Castelo de Areia.” O argumento que estou tentando levantar é que paixão tem tudo a ver com sentimento e amor tem tudo a ver com razão e a razão dos dois nunca os permitiram ser inteiramente um do outro embora a paixão os forçaram a se entregarem para um relacionamento com estruturas frágeis.


 


A Horcrux (Conceito)


 


Talvez muitos de vocês tenham ficado extremamente confusos de eu ter trazido isso para a história como uma bomba. Eu nunca havia mencionado antes que Voldemort não possuí Horcrux nessa fanfic, mas a verdade é que eu nunca me baseei num ponto onde a História real de Harry Potter parava e a minha fanfic começava. De fato eu exclui muito do livro 6 e completamente tudo do livro 7, que por sinal é um livro que eu tenho uma relação de amor e ódio. Mas o ponto onde eu estou querendo chegar é que a minha intenção é fazer da profecia o que eu quiser fazer com ela, das Horcrux o que eu quiser, de Voldemort o Tom Riddle que eu quiser, de Morgana e Merlin o que eu quiser, de Draco e Hermione o que eu quiser, dos ideais e personalidades o que eu quiser. E a beleza de tudo isso é que você não está sendo forçado a ler se não quiser ou não gostar e tem todo o direito de deixar o comentário que quiser e ir embora. Sei que minha imaginação vai muito longe, o que pode ser estranho pra muitos, mas eu sei os ideais que estou propagando e pode acabar sendo polêmico, sim, e tenho consciência disso, e estou pronta para defender. Não que eu vá, porque provavelmente não vou ter tempo. Haha! Não que ninguém tenha reclamado nem nada, tudo que eu tenho recebido de você é super válido. Eu só me empolguei. Hahaha! Mas eu também  estou colocando essa parte aqui caso alguém se sentir confuso, porque eu acho que talvez eu poderia me sentir como leitora.


 


A Horcrux (Hermione)


 


Talvez muito tenha ficado muito por alto do que isso realmente significa tanto para Hermione, quanto para Draco, quanto para a relação dos dois e o futuro deles. Mas tudo isso faz parte de um final que ainda está para ser escrito. No entanto, acho justificável colocar aqui na mesa que nem tudo sobre Hermione pode ser perfeitamente explicável. Estamos falando de uma magia que foi feita há anos e que ninguém nunca antes havia conseguido reproduzir antes. Eu quis fazer com que o conceito de Horcrux na fanfic fosse tão novo para as personagens, tão complexo, e tão alienígena que tudo que eles podem fazer em cima do fato é especular e criar suas próprias teorias com base no que conseguirem estudar a respeito. O fato dela, Hermione, carregar isso também justifica muito da mudança de atitude que ela tem assumido nesses últimos capítulos quando exposta ao stress que está passando. Ela não faz ideia do que está acontecendo, ou porque, mas para ela, é natural. Analisem, Hermione está vulnerável desde o começo da história. Ela é colocada diante de todas essas situações horríveis e a gente vê ela tentando ser forte e aprender a lidar com todas elas. E por mais que ela tenha encontrado Draco no meio do caminho, isso não fez com que tudo fosse menos degradante, fez com que fosse talvez tolerável certas vezes, mas vamos combinar que ela está completamente desgastada. Viver o que ela está vivendo agora é o pico de tudo isso, de tudo que Voldemort está a fazendo passar e se entregar pra esse lado “maligno” que ela carrega é quase tentador demais.


 


O Arco do Véu


 


Vamos lá. Eu não quis falar disso por muito tempo porque eu achei que seria uma surpresa legal, mas eu simplesmente cheguei a conclusão de que não vai acontecer, portanto aí vai! A verdade é que o véu é apresentado nessa fanfic porque eu tinha todo um plano de criar um background pra fazer uma sequência de Cidade das Pedras onde os gêmeos Malfoy, sendo descendentes de Merlin e Morgana unidos conseguiriam desvendar os segredos do véu e fazer essa galerinha se enfiar em altas aventuras. Haha. Um projeto bem diferenciado mesmo. Longe do estilo fanfic dramione de ser. Mas eu já fiz paz comigo mesma de que isso não vai acontecer nem aqui nem na China. Eu já estou passando por altos apertos pra conseguir terminar Cidade das Pedras e de início eu não achava que ela fosse me levar tanto tempo para terminar, mesmo eu sabendo que seria uma long. E também queria muito conseguir Confidencial porque é uma ótima fanfic que eu me vejo desprovida de tempo para colocar no papel. Talvez num futuro beeeeem distante eu repense da possibilidade da sequência com os gêmeos, mas acho que até lá o meu interesse vai ter desaparecido. Portanto, talvez o véu acabe sendo um nó que não vai ser amarrado no final de Cidade das Pedras. Talvez eu faça um prólogo, mas não necessariamente a respeito do véu ou qualquer coisa do tipo. O que eu realmente quero quando eu finalizar essa fic é fazer uma grande revisão nela, eliminar os erros de digitação e os de percurso que não alteram a história, mas que acabam entrando em conflito com algo que foi colocado antes, mas nada de muito importante. Querendo ou não, eu tenho levado muito tempo para completar esses capítulos. As vezes leva um mês até eu ter tempo de sentar na frente do computador de novo pra colocar o que ta na cabeça pra fora. 


 


As Raízes


 


Certo. Talvez isso seja idiota, mas me sinto no dever de externar isso porque sei que apresentei diversos elementos no decorrer dessa fanfic. Quero deixar claro que essa é uma história sobre Draco e Hermione. É uma fanfic dramione. Portanto, por mais que existam todos esses elementos, toda essa ambientação e tudo mais, a raíz sempre será Draco e Hermione. O relacionamento dos dois, como se desenvolvem, suas dificuldades, seus problemas, tudo, sempre, e repito, SEMPRE, estarão em primeiro plano e sempre serão o plot (?) principal!


 


Esperança ou Não?


 


Talvez muitos de vocês estejam pensando agora o que pode ser desse casal. Talvez possam estar até desanimados. Bem, não posso entregar muito. Mas vocês só vão saber se continuarem esperando pela continuação. Talvez alguns de vocês tenham lido minhas outras fanfics e viram que eu tenho um padrão de terminar minhas fanfics de uma forma não muito convencional. Não é exatamente um felizes para sempre, mas também não acho que sejam decepcionantes. Não que eu pretenda acabar essa fanfic da forma como acabei todas as minhas outras. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas pretendo seguir o padrão de não fazer ser decepcionante. Vai valer a pena! Acredite em mim. Hahaha


 


 


 


E se você chegou ao fim dessa N/A, meus parabéns. Espero que tenham gostado desse capítulo, embora minhas esperanças não estejam lá no alto, porque sei que foi um capítulo difícil. Mas deem uma força, vai! Haha.


Queria poder prometer que o próximo capítulo vai sair rapidinho, que não vai demorar, que eu vou me esforçar, mas eu sei que se fizer isso, vai dar tudo errado. A única coisa que prometo é que vou me esforçar. Sério. Mas pressinto que capítulo que vem vai ser ainda mais difícil de colocar no papel do que esse. Entendam, eu tenho essa história da minha cabeça faz muito tempo. Não é fácil tirá-la do meu cérebro e coloca-la em palavras exatamente como eu quero que fique, sendo verdadeira ao que estava aqui dentro da minha cachola por todo esse tempo, principalmente aqui na reta final, onde tudo tem que se encaixar muito bem, acontecer na hora certa, concluir na forma correta. Por tanto me entendam. Eu não estou com a intenção de não terminar essa fic. Pode me demorar tempo, mas eu vou terminar! Me dê forças, Senhor! Hahaha


 


Vejo vocês na próxima. :)

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Comentários (4)

  • Landa MS

    Vamos por parte... Primeira vez que leio um cap dessa fic por partes kkkk. Primeiro Essa mudança admirável no visual da Hermione. Só achei que ela devia ter mudado a cor também. Fora isso tudo certo. Chega de ser a garota "primaveril" citada por Lúcio. Não que ela ainda esteja almejando o poder... Espere, acho que me equivoco aqui. E está SIM almejando o poder. Que pessoa fala com todas palavras que quer ser indestrutível e não está querendo alcançar o poder ( Imagine um ponto de interrogação aqui, porque a tecla do meu notebook não quer funcionar) Ela quer sim. Ser forte por dentro e por fora. Tomara que essa ganancia não manche o coração dela... Segundo: Que cena foi essa do Draco e Neville, hein ( outro ponto de interrogação). Muito bem escrita e desenvolvida. Clareou bastante sobre a origem da Mione. Queria muito ver a explicação sobre o passado dela. Arrebentou! E terceiro, mas não menos importante: Sobre o próximo cap ser o último ou penúltimo já vai me entristecendo, mas não me fazendo ser menos especulativa; Já estou até imaginando depois desse sumiço dela... O cap começa com ela narrando. Ela olhando os portões maciços de Brampton Fort exigindo ao comensal que guarda o mesmo falar com o mestre dele. Ele se espanta, fica confuso, apreensivo e através de um feitço " espalha para a cidade inteira que exije falar com o Lorde das Trevas... Isso causa um rebuliço na cidade que chega esantar até Voldemort kkkkk. Sei lá, só especulação mesmo, porque dessa su cabecinha genial só pode sair um tiro atrás do outro. kkk... Parabéns, capítulo absurdamente maravilhoso.

    2018-02-23
  • Landa MS

    Eu sei que eu deixei esse mesmo comentário lá no Nyah. É que eu estava lendo a fic lá por causa das letras maiores. Mas não se chateie. Aqui vai ser sempre meu site favorito. Agora sim, vamos começar: Cidade das Pedras - Capítulo 43 Oi, Bem vinda de volta. Antes de mais nada quero agradecer sua força de vontade por não desistir da fic (pelo menos até agora). E agora vamos falar do que aconteceu até agora: Nott é mesmo um otário se pensa que vai conseguir ser um segundo "casal Malfoy" cortejando Ginna Weasley e tentando fazer o mundo acreditar que são o par perfeito. Vão quebrar a cara mais cedo do que imaginam kkkk... E Hermione, mulher! Ele pensativa em frente a lareira daquele jeito me fez teme-la de uma maneira que nem sei explicar. Por hora sonhando com o momento em que ela colocará suas mãos em Voldemort. Vamos aguardar pra ver. Agora sobre o momento hot desse capítulo. Eu já imaginei Hermione e Draco trocando carícias em muitos lugares, mas jamais imaginei que eles fossem ter um momento íntimo em uma sala na prisão mais famosa do muno bruxo... E confesso: essa "troca" de papéis dos dois ficou muito f@!)ª . Draco tão apaixonado que chegou a admitir em pensamento que não conseguiria ficar, viver sem ela. E esse sonho que ela teve achei tão mimoso que consegui me transportar para aquele dia de domingo com a família. Li toda essa parte rindo. Bom, enquanto é só isso. Agora vou para o cap seguinte.

    2018-02-22
  • S.M.F.

    Que capítulo intenso. Impossível ler sem sentir toda a tensão envolvida. É demais pedir por um final com a Hermione usando totalmente suas asas e completamente livre? Independente do relacionamento dela, afinal ele pode ter sido só "mais uma fase" que ela precisava para ganhar mais conhecimento e se tornar mais forte. Kkkk Mais uma vez, parabéns pelo capítulo e pela excelente história. Aguardando ansiosamente pelo derradeiro final.

    2018-02-17
  • Sarah Malfoy

    aaaaaaaaaaaaaaaa meu Deus, o que foi esse capitulo? Eu tô no chão mulher, dilacerada e muito perdida em pensamentos do que vem pela frente e o futuro nosso casal. Agora o que resta é aguardar pelo que vem. Sei que seus finais são bem inusitados e sim bem inesperados, mas que esse seja um inesperado juntos e eles enfim se entregando um ao outros e dizendo o bendito 'euteamo'! HAHAHAHAA

    2018-02-16
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