A FÁBRICA



CAPÍTULO 3


 


A FÁBRICA


 


 


 


 


 


 


 


 


No início da tarde, aproveitando que a neve caía com certa força, Tom e Harry utilizaram uma das passagens secretas e saíram um pouco ao norte dos limites de Hogsmeade. E para o norte os dois continuaram a seguir, pela orla da Floresta proibida. Os conjuntos de neve camuflavam-nos perfeitamente em meio à neve. Em certo ponto do caminho...


_Acho melhor entrarmos um pouco mais na floresta, Harry.


_De acordo, Tom. _ disse Harry _ Essa estrada parece ser utilizada por veículos pesados e onde há veículos...


_... Certamente há patrulhas. _ completou Tom _ Além disso, precisamos de um ponto que nos dê boa visibilidade do local. Creio que aquela colina servirá.


 


Os dois subiram até quase o topo da colina e montaram um pequeno abrigo entre as árvores. Com efeito, a visibilidade era bastante boa, eles conseguiam ver as instalações, sob pesada segurança, um complexo com alojamentos, refeitórios e três estruturas enormes, parecendo hangares, uma delas com chaminés e outra junto ao sopé da montanha, tudo ocupando um vale, ampliado por máquinas pesadas.


 


_Malditos. Estragaram a paisagem de um lugar praticamente sagrado e com que finalidade? Que tipo de armas estarão fabricando lá? _ perguntou Tom, observando o complexo com o binóculo Zeiss, capturado de um Nazista.


_Tentaremos descobrir quando anoitecer, Tom. Acho que poderemos entrar lá disfarçados de soldados Nazistas. Como você está com as memórias e poderes de Voldemort, acho que ficará fácil.


_Mas há um obstáculo, pelo que vejo. _ disse Tom _ Olhe para aquela antena giratória.


_Estou vendo. _ disse Harry, olhando pelo binóculo _ É alguma espécie de radar?


_Não. É um Sensor de Atividade Mágica.


_???


_Um aparelho que detecta a presença e o uso de varinhas não-autorizadas, dentro de um certo raio de alcance.


_E será que estamos dentro do alcance, Tom? Não sei de nada sobre isso, porque esses sensores não existem na minha realidade.


_Acho que teremos de arriscar. _ disse Tom, sacando a varinha e apontando-a para um galho caído no chão, fazendo-o levitar _ “Wingardium leviosa”. A antena está apontando para cá?


_Não, Tom. _ disse Harry _ Continua girando, normalmente.


_Ótimo. Poderemos realizar a Transfiguração com tranquilidade. Vamos descobrir o padrão das patrulhas e ver o melhor momento de entrar lá. _ disse Tom, retornando para o abrigo, abrindo uma barra de chocolate e dividindo-a com Harry _ Aliás, acho que é bom termos esse tempo para conversar, sem compromisso algum com Ordem da Fênix ou Ordem das Trevas, Harry Potter.


_É a sua Persona que está se manifestando, Voldemort? _ perguntou Harry.


_Sim. Como somos a mesma pessoa, basta pedir licença, quando quero me manifestar. Como eu dizia, há coisas que quero lhe perguntar. Você pretende me matar quando retornarmos à nossa realidade?


_Querendo ou não, acho que não terei outra alternativa, Voldemort. A profecia de Sibila Trelawney era clara, somente um de nós deverá sobreviver. A ideia de matar me repugna, mas o desfecho terá de ser esse. Além disso, você matou muita gente boa e outros nem tanto, mas que não mereciam morrer. Meus pais, Cedric, Wormtail, Burbage, Snape, Bathilda Bagshot, e muitos outros. Nunca pensou que poderia seguir outro caminho?


_Às vezes sim, Harry Potter. Mas quase sempre concluo que minha trilha teria de ser esta que abracei. Como você sabe, sou descendente direto de Salazar Slytherin, pelo lado materno, os Gaunt. Tomei para mim a missão de restabelecer a grandeza da Bruxidade, através das artes das Trevas, para que não precisássemos mais nos esconder dos trouxas, assumindo nosso lugar de direito, acima deles.


_Mas por que essa aversão aos trouxas?_ perguntou Harry.


_Sempre os considerei preconceituosos e decadentes, capazes de voltar a nos queimar em fogueiras, se soubessem que ainda há bruxos no mundo, a começar pelo meu pai. Bem, é certo que minha mãe, Merope Gaunt, forçou ao mantê-lo sob efeito de Amortentia, mas quando o efeito passou depois que ela parou de dá-la, ele deveria ter ao menos dado alguma satisfação a ela e não abandoná-la sem dizer nada. Com isso, eu a perdi, uma hora depois de ter nascido e vivi por anos naquele orfanato, até que fui entrevistado por Dumbledore.


_Você foi maltratado no orfanato, Voldemort? _ perguntou Harry.


_Não, Harry Potter. As preceptoras eram severas, mas não maltratavam ninguém. A Sra. Cole, nossa Diretora, era até bastante compreensiva, considerando que meu comportamento era meio... anti-social, às vezes.


_Como assim?


_Por vezes, eu acabava extravasando minha raiva através de algum surto de maldade, assustando colegas e fazendo-os sofrer. Mas depois eu me arrependia e acabava me retratando. Também havia Martha, a funcionária que cuidou de nós quando houve um surto de varicela. Acho que a raiva era devido à rejeição por parte de meu pai. Embora eu ache que alguém como você, que foi amado por seus pais, não conheceu essa mágoa.


_É aí que você se engana, Voldemort. _ disse Harry, com amargura _ Minhas lembranças de uma família feliz são poucas e vagas, resumindo-se a pouco mais de um ano, antes de você matar meus pais. Depois que fui deixado com os Dursley, vivi dez anos de inferno e houve momentos nos quais cheguei até a pensar que não valia a pena seguir em frente.


_E o que foi que fez com que você se mantivesse firme?


_Acho que no fundo eu sabia que algo de diferente ia acontecer comigo, só não sabia o que seria. Não odeio os Dursley, mas não morro de amores por eles. Me aceitaram, ainda que a contragosto e fazendo questão de deixar bem claro que eu não era bem-vindo. Pelo menos serviu para selar o Feitiço de Proteção.


_É, parece que me enganei. Você já teve sua parcela de sofrimento e ela não foi pequena.


_Mas depois que Hagrid apareceu e me levou para Hogwarts, tudo melhorou e os meses de férias em Little Whinging ficaram menos penosos, pois eu sabia que haveria um novo ano letivo junto à Bruxidade.


_Todos nós acabamos sofrendo perdas, Harry Potter. E eu também acabei perdendo pessoas importantes, inclusive no orfanato.


_Trouxas? Então você não os desprezava?


_Nem todos, Harry Potter, nem todos. Bem, eu sempre considerei os trouxas, em sua quase totalidade, criaturas preconceituosas e com mente fechada que, se soubessem que ainda existem bruxos de verdade no mundo, não pensariam duas vezes antes de reativar o Tribunal do Santo Ofício e nos mandar para as fogueiras, como eu já lhe disse. Mas sempre existiram exceções e grande parte delas era do orfanato. William Stubbs, por exemplo. Depois de uma discussão, acabei enforcando o coelho dele e deixando-o dependurado em uma viga. Ele nunca soube que fui eu, mas antes de vir para Hogwarts dei a ele um outro coelho branco e pedi desculpas por todas as brigas. Dennis Bishop e Amy Benson, eu os assustei seriamente, levando-os àquela caverna no litoral.


_Lá onde você escondeu a Horcrux do medalhão de Slytherin?


_Lá mesmo. Também pedi desculpas a eles por tudo pelo que os fiz passar. E Amy Benson era ainda mais especial. Acho que ela gostava de mim, sei lá. Eu gostava dela, mas nunca tive coragem para dizer. E depois que vim para Hogwarts foi ainda pior.


_Por quê? _ perguntou Harry, curioso.


_Ela morreu, quando eu estava no segundo ano. Difteria, foi o que ela teve, tanto na nossa realidade quanto nesta. Nunca pude dizer o quanto gostava dela e aquilo só aumentou meu desejo de me preservar da morte o mais que eu pudesse.


_Voldemort, minha pergunta pode ser meio indiscreta, mas de onde vem essa obsessão por imortalidade?


_É meio indiscreta, mas creio que seja importante demais para ficar sem uma resposta adequada. _ disse Voldemort _ Acho que, no fundo, sempre tive receio, para não dizer medo da morte, Harry Potter. Eu sempre a considerei algo indigno, desonroso, mesmo sabendo que ela é inevitável. Por isso sempre procurei por métodos para me preservar dela.


_As Horcruxes.


_Sim, Harry Potter. As Horcruxes, para me preservar da morte e a Varinha das Varinhas, para consolidar meu poder.


_Será que não foi porque a morte sempre se apresentou a você de forma abrupta e dolorosa, privando-o do convívio de pessoas que você estimava?


_Talvez, Harry Potter. Com as Horcruxes, consegui driblar a Dama da Foice até agora, mas vocês destruíram todas, inclusive Nagini. O jovem Neville Longbottom encarregou-se de cuidar disso.


_Falando em Neville, o perfil dele também se encaixava na profecia de Sibila Trelawney. Dumbledore chegou a me dizer a razão de você ter escolhido a mim em vez dele, mas o que você me diz?


_Digamos que eu me vi um pouco em você, Harry Potter, devido à nossa origem mestiça. O jovem Neville tem origem puro-sangue e, embora seus pais tenham sido excelentes Aurores e inimigos perigosos dos Death Eaters, julguei que o casal que eu deveria perseguir seriam os Potter. E vejo que não me enganei, o jovem Neville é um tipo mais tranqüilo e teórico, enquanto você sempre me pareceu ser uma pessoa de ação. Depois, comecei a concentrar meus esforços na busca da Varinha das Varinhas, a única das Relíquias da Morte que me interessava, até descobrir que ela estava em poder de Dumbledore.


_Então você tomou conhecimento do “Conto dos Três Irmãos”?


_Quem na Bruxidade não conheceu, em algum momento de sua vida, o livro dos “Contos de Beedle, o Bardo”? _ perguntou Voldemort _ Eu o li quando era aluno e, através de pesquisas, confirmei que as Relíquias da Morte eram reais. A Pedra da Ressurreição, a Capa de Invisibilidade Original e a Varinha das Varinhas. Das três, somente a última me interessava. Não queria contactar ninguém do outro lado, exceto talvez Amy Benson, para me despedir adequadamente e também Bellatrix, que foi morta por Molly Weasley, durante a batalha de Hogwarts. portanto a Pedra da Ressurreição não tinha utilidade para mim (“Alguma coisa me diz que havia algo bem profundo entre esses dois”, pensou Harry). Eu teria muito trabalho para localizar a Capa Original e não tinha muito tempo, além de que ela não teria grande utilidade para mim. Portanto, as Horcruxes me bastavam e eu só queria o poder da Varinha das Varinhas, que tirei das mãos do cadáver de Dumbledore.


_Então você nem se preocupou em procurar pelas outras. E se eu lhe disser que você teve uma delas nas mãos e fez uma Horcrux dela?


_Como é? _ Voldemort estava curioso _ Não me diga que...


_... A pedra de ônix do anel de seu avô. Ela era a Pedra da Ressurreição e custou a vida de Dumbledore.


_ Ele tentou utilizá-la ou destruí-la sem tomar precauções? _ perguntou Voldemort.


_Sim. E a maldição que você colocou na pedra acabou por atingi-lo. Snape bloqueou temporariamente a deterioração, mas disse que ele não resistiria por mais de cerca de um ano.


_Então ele morreria de qualquer forma, mesmo que Snape não o tivesse eliminado com a Avada Kedavra. _ disse Voldemort.


_Sim. Dumbledore já estava condenado. Não precisava matar Snape.


_Precisava sim, Harry Potter. _ disse Voldemort _ Era fundamental para que eu assumisse a Varinha das Varinhas. E quanto à Capa de Invisibilidade Original nunca mais se soube dela, parece que está perdida para sempre. E como você sabe da Pedra?


_Eu a utilizei, na noite em que você me atingiu com uma Avada Kedavra. Fiz contato com meus pais, Sirius e Lupin. Teria conversado também com Tonks, Cedric, Fred, Moody e outros, mas não havia tempo. A pedra ficou na Floresta Proibida, sei lá onde. E a Capa não está perdida para sempre, Voldemort. _ disse Harry _ As Relíquias da Morte, à exceção da Varinha das Varinhas, que sempre mudou de mãos de forma violenta, foram passando de pai para filho, até seus detentores atuais.


_Então você quer dizer que os três bruxos do conto eram...


_Antiochus, Cadmus e Ignotus Peverell. O sobrenome se perdeu quando começaram a nascer somente mulheres e elas, ao se casarem, assumiam o sobrenome dos maridos. A Capa de Invisibilidade Original também está nas mãos do último descendente de Ignotus Peverell.


_E você sabe quem é ele? _ perguntou Voldemort, curioso.


_Sim, sei. Eu sou o atual usuário da capa. Uma descendente de Ignotus Peverell casou-se com um Potter e ela ficou na família. Ele estudou o seu funcionamento e conseguiu reproduzir o encanto, quase com a mesma eficácia da original.


_Sim, a patente das melhores Capas de Invisibilidade está em sua família e isso é até meio irônico. _ disse Voldemort, dando uma pequena risada _ Acho que você já percebeu, não é?


_Percebi. Os Peverell têm parentesco com os Gaunt. _ disse Harry, também rindo um pouco _ Imagine, Lord Voldemort e Harry Potter, inimigos mortais e parentes distantes.


_As patrulhas passam em intervalos de 55 minutos. _ disse Voldemort, consultando seu relógio, após vigiar a estrada com o binóculo _ Creio que podemos nos transfigurar e ir para lá. “Vera verto militaria Germanica, duo”.


 


No instante seguinte, as figuras de Harry Potter e Tom/Voldemort deram lugar a dois jovens soldados da Wehrmacht, com uniformes de inverno e submetralhadoras MP-40 a tiracolo. Deixaram as varinhas guardadas no bivaque, pois elas poderiam ser detectadas pelo Sensor de Atividade Mágica e dirigiram-se à orla da floresta. Quando a patrulha alemã acabou de passar, juntaram-se a ela e adentraram o complexo fabril, passando pelas guaritas da entrada. Em um ponto do terreno, separaram-se do restante da patrulha e ocultaram-se nas sombras dos barracões.


_Qual dos galpões investigaremos primeiro? _ perguntou Harry.


_Creio que seria melhor irmos primeiro ao das chaminés, pois parece ser uma fábrica. _ disse Tom, enquanto um homem de jaleco branco entrava em um dos outros galpões, que parecia ser um laboratório.


_Viu quem eram aqueles caras? _ perguntou Harry, vendo outro homem entrar.


_Não, Harry. _ disse Tom, agora com sua própria Persona dominando.


_Eram Kurt Diebner e Otto Hahn, dois físicos alemães.


_Cientistas do Reich? _ perguntou Tom.


_Sim. Muitos cientistas se recusaram a participar dos projetos Nazistas e fugiram para os EUA, assim como Einstein, Bethe, Franck e outros, embora grande parte deles tenha trabalhado no projeto atômico americano. Mas outros trabalharam para o Reich, tais como aqueles dois e mais Heisenberg, Weizsäcker, von Laue, Wirtz e outros mais. Acho que o que está acontecendo por aqui é coisa muito grande, Tom. E a fábrica poderá nos dar muitas respostas.


_Como é que você sabe de tudo isso, Harry? _ perguntou Tom.


_Documentários do Discovery Channel, History Channel e National Geographic. Para mim isso é passado, embora nesta realidade esteja ocorrendo mais precocemente do que na minha. E isso me assusta, porque pode representar uma cartada secreta de Hitler, que poderia virar a maré novamente a favor dos Nazistas.


_Como assim? _ perguntou Tom.


_As peças desse quebra-cabeças estão se juntando e mostrando uma figura que não me agrada nem um pouco. Se eles estiverem adiantados nas pesquisas atômicas, os EUA e o mundo todo correm um grande perigo. Em minha realidade, os americanos chegaram na frente e o resultado foi devastador para o Japão.


_Armas carregadas com elementos radioativos? Os mesmos que Madame Curie pesquisava? _ perguntou Tom.


_Semelhantes e muito mais potentes. Bombas potentes e com resultados terríveis, tanto imediatos quanto a médio e longo prazo. Mais tarde lhe conto com detalhes, agora vamos entrar na fábrica.


 


Quando os dois saíram das sombras, uma voz ríspida em Alemão fez com que parassem e eles chegaram a pensar que tudo estava perdido.


 


_Achtung, ihr zwei! Was machst du da, durch Zufall? Komm sofort hierher (“Atenção, vocês dois! O que estão fazendo aí, à toa? Venham aqui, imediatamente”)!


_Jawohl, Herr Unteroffizer. Was willst du (“Sim senhor, Sargento. O que deseja”)? _ respondeu Tom, em um Alemão perfeito.


_Nicht nur dort stehen, stärkt die Wache am Werk (“Não fiquem aí parados, vão reforçar a guarda à fábrica”)! _ disse o Sargento, entregando abafadores de som aos dois.


 


Os dois jovens pegaram os abafadores e dirigiram-se ao galpão da fábrica.


 


_Era exatamente onde queríamos ir. _ comentou Harry.


_Um golpe de sorte, Harry. _ concordou Tom.


 


No interior da fábrica, que contava com Feitiços de Ampliação interna para ser maior do que parecia de fora, o barulho era intenso, realmente obrigando a usar os abafadores. Como nada era ouvido do lado de fora, os dois presumiram que as paredes provavelmente tinham um feitiço que proporcionava isolamento acústico. Uma linha de produção exibia chapas estampadas e em outra parte havia várias turbinas a jato.


_Turbinas a jato em escala industrial, já em 1943? _ perguntou Harry para si mesmo, em voz baixa.


_O quê? _ perguntou Tom.


_Os alemães começaram a pesquisar e desenvolver propulsão a jato para seus aviões desde o começo da guerra, mas o primeiro que chegou a entrar em ação foi o Messerschmitt ME-262 e ele só começou a voar em 1944 ou seja, no ano que vem desta realidade. Ainda assim há algo que não se encaixa.


_E eu acho que sei de algo, Harry Potter. _ a Persona de Voldemort voltou a tomar a frente _ Quando eu era estudante, protagonizei involuntariamente um episódio que, creio eu, deve ter contribuído para o esforço de guerra britânico.


_Vindo de você isso soa meio estranho, Voldemort. _ disse Harry.


_Já lhe disse que sou um bruxo das Trevas e assassino, mas sou um bruxo das Trevas e assassino inglês, Harry Potter. _ disse Voldemort, com um ar orgulhoso no rosto, olhando para Harry _ Gosto do meu país e qualquer coisa que eu pudesse fazer para atrapalhar os Nazistas seria um ato patriótico e também contribuiria para meus próprios planos de aumentar meu poder. Eu estava em Londres, durante as férias do quinto para o sexto ano e, na rua, um trouxa que parecia estar correndo de alguém, acabou trombando comigo e ambos caímos. Na hora não percebi que ele havia colocado algo no bolso do meu paletó, mas estranhei que ele foi interceptado por dois sujeitos em uma outra esquina e entrou com eles em um carro preto. No orfanato ao colocar a mão no bolso, senti um pequeno volume e vi que era uma caixinha. Eu ia jogá-la fora, mas vi que havia o símbolo do III Reich. Percebi que a tal caixinha devia ser algo que o trouxa havia roubado dos Nazistas e, para que não caísse nas mãos deles, deixou com o primeiro cidadão britânico que pôde.


_Interessante. E o que era? _ perguntou Harry, curioso.


_Abri a caixinha e vi que havia uma pequena bobina de celulóide, algo que eu já havia visto de relance, na Biblioteca Pública de Londres.


_Um microfilme? _ perguntou Harry.


_Isso mesmo. _ disse Voldemort _ E fui para lá, a fim de matar a curiosidade quanto ao seu conteúdo. Ao ver do que se tratava, concluí que era perigoso demais para ficar comigo e muito importante para ser simplesmente destruído ou jogado fora.


_E o que foi que você fez, Voldemort? _ perguntou Harry.


_O que qualquer súdito da Coroa Britânica faria. _ respondeu ele _ Entreguei o microfilme ao SIS. Mas eu precisava fazê-lo de modo que não pensassem que era alguma manobra de espionagem Nazista.


_Como foi que você conseguiu? _ Harry estava curioso com aquele lado de Voldemort, totalmente desconhecido da Bruxidade.


_Naquela época, eu já sabia como neutralizar temporariamente o Traço, então podia executar magia por um tempo limitado, mesmo sendo menor de idade. Me transfigurei e fiquei com a aparência de um Major do Exército. Forjei credenciais extremamente confiáveis e fui ao QG da MI6 que, na época, era no Nº 54 da Broadway.


_Perto da estação de metrô do St. James’s Park. _ disse Harry.


_Exatamente, Harry Potter. _ disse Voldemort _ Por sorte a Bruxidade como um todo resolveu ficar neutra, somente alguns se engajaram individualmente. Então as minhas credenciais forjadas com magia funcionaram perfeitamente e minha história de que o microfilme havia sido colocado no bolso de um garoto e ele me entregou foi convincente. Eles já estavam esperando por aquilo, o tal cara era um dissidente Nazista e o microfilme seria o preço de seu asilo e proteção. Só que a Gestapo havia chegado antes.


_Os tais caras do carro preto? _ perguntou Harry.


_Os próprios. Vi o conteúdo do microfilme com o pessoal do SIS. Tratava-se de propulsão a jato para novos tipos de aviões de caça e bombardeiros. Eles me agradeceram e afirmaram que aquilo seria bem útil, tanto que a Inglaterra teve caças a jato operacionais, que chegaram a cumprir missões no final da guerra.


_Os Gloster Meteor, eu sei. _ disse Harry.


_Já vi que você gosta de aviação militar, Harry Potter. Não é comum para bruxos.


_A gente tem de ter um passatempo para desviar as tensões, creio que você também deve ter algum.


_Pode ser. _ disse Voldemort _ Vamos manter isso entre nós, Harry Potter.


_Por mim tudo bem, Voldemort. Mas por que?


_Digamos que não pegaria bem para a reputação do Lorde das Trevas se soubessem que ele fez algo para ajudar trouxas.


_Eu acho que não tem nada de mais, Voldemort. Pelo que você me disse, mesmo os Death Eaters não iam com a cara dos Nazistas e, tecnicamente, naquela época você ainda não era o Lorde das Trevas. Mas, se você quiser, guardarei segredo.


_Obrigado, Harry Potter. Você disse que o primeiro caça a jato operacional da Luftwaffe foi o Messerschmitt ME-262, o “Andorinha”. Eu já vi fotos dele e percebi que embora essas turbinas que estão aqui não sejam diferentes das deles, a estamparia das chapas não confere com a sua fuselagem, parece ser para outro tipo de aeronave. Eu estou com um mau pressentimento.


_Eu também, Voldemort. Acho que seria bom darmos uma olhada nos outros dois galpões. Qual deles primeiro?


_Que tal aquele no sopé da montanha, Harry Potter? _ perguntou Voldemort.


_De acordo. _ respondeu Harry _ Ele se parece com um hangar, vamos ver que tipo de aeronave está sendo fabricada aqui.


 


Saíram da fábrica e entraram no outro galpão, que realmente era um hangar e também contava com Feitiços de Ampliação Interna. Havia um enorme portão de correr na parede que limitava com a encosta da montanha e o interior do hangar era ocupado por quatro aeronaves diferentes de qualquer avião convencional. Com uma envergadura de 17 metros e um comprimento de quase 7,5 metros, dava a impressão de que o engenheiro havia se esquecido de projetar a fuselagem, dedicando-se somente às asas. Eram assustadoramente belos e elegantes, com seus canhões e com os cabides prontos para receberem as devastadoras bombas. A aparência era a de quatro mariposas ou quatro arraias verdes lado a lado no imenso hangar.


 


_Isto não está certo, Voldemort. _ disse Harry _ Esses caças ainda não deveriam estar operacionais, pelo menos por mais um ou dois anos.


_Tem razão, Harry Potter. _ concordou Voldemort _ Ainda seria muito cedo para que isso fosse uma realidade, mas nossos sentidos não nos enganam. Os Nazistas têm uma carta na manga e é um Ás de Espadas, a carta da morte.

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