VINTE E SETE DE ABRIL



O inverno foi embora suavemente, com a neve derretendo preguiçosa e a relva aparecendo sob ela, esticando-se atrás do sol. Dentro e fora de Hogwarts só se falava na festa de Dédalo Diggle, que aconteceria no dia 27 de abril seguinte. Sirius, porque tinha grande estima pelo velho bruxo, queria que a festa fosse inesquecível. O que ele não podia advinhar era quanto a festa seria lembrada depois de tudo.

Em Londres, Severo Snape teria alta de mais uma sessão de quimioterapia. Ele gostaria bastante que o tratamento fosse menos desagradável. Pelo menos a poção para o cabelo não cair funcionara, e impressionara bastante a sua médica, Annie. A verdade era que Annie mesmo sendo da irmandade, tinha real encanto por tudo que fosse relacionado à magia. Não se cansava de dizer o quanto ficava impressionada. Severo fingia entediar-se com isso, mas a verdade é que ele se divertia muito, na verdade. Ele até esquecia que o tratamento não estava rendendo tudo que os médicos esperavam, e que o câncer ainda estava lá, roendo de forma irremediável seus pulmões, provocando dores que ele não sentia sempre, mas que eram terríveis quando apareciam.
- O prognóstico vai melhorar - Annie dizia, tentando parecer otimimista.
- Não se preocupe. Se eu morrer você pode colocar a culpa nos curandeiros do St Mungos. - dizia Snape com sarcasmo.
- Você não vai morrer, Severo! - A verdade era que Annie dizia isso mais para si que para o paciente o que a fazia se maldizer bastante. Depois de cerca de vinte anos na medicina dizendo: "não se envolva, não se envolva...",  sentia-se totalmente cativada por aquele "velho, rabugento, seboso, narigudo, porque diabos é tão charmoso" paciente. Ele a encarou e disse:
- Pelo menos eu anda posso ir andando para a festa do Dédalo em Hogwarts... ia ser muito chato aparecer numa cadeira de rodas ou numa maca flutuante para os outros dizerem: "vejam se não é o Severo Snape, coitado, morrendo de câncer?!"
- Severo... já te disseram que seu senso de humor não é dos mais compreensíveis?
- Bah! Nem sei porque quero ir tanto nesta festa, mesmo que eu pudesse, nem gosto de dançar...
- Eu acho que é um perigo você ir sem supervisão a qualquer lugar...
- Doutora Van Helsing... se eu fosse um sujeito mais maldoso diria que a senhorita está se convidando para ir para a festa comigo... - aquilo pegou Annie de surpresa. Ela chegou a abrir a boca, mas foi Severo que falou: - Ok, eu ainda não estou morto, acho que posso convidar alguém para me acompanhar para uma festa... podemos fingir que você está me monitorando e eu estou mesmo às portas da morte.
- Severo - Annie estava vermelha. Há mais de seis anos não era convidada para sair.
- Ótimo. Escolha uma roupa bem bonita para ir a festa no dia 27... não se preocupe em usar nada discreto, você iria chamar atenção demais no meio de tanta gente espalhafatosa. E chame Sue, também.
- Ela recebeu um convite...
- Finja que estou mal mesmo e preciso de duas médicas por perto, do contrário acho pouco provável conseguir arrastá-la para um lugar onde Draco esteja.
Annie sorriu. Nunca imaginara Severo dando uma de cupido.

No dia da festa, Hogwarts abriu seus portões e de para em par, chegaram bruxos de todos os lugares, inclusive estrangeiros. Sirius posava de mestre de cerimônias ao lado do velho bruxo, que quase aos 200 anos não dispensava sua indumentária composta de casaco azul, capa da mesma cor e cartola roxa. Ele era uma versão mais baixa e magra de Alvo Dumbledore, só que de cabelos curtos e sem barba. Na verdade os dois eram parentes distantes e haviam sido companheiros em Hogwarts quando eram bem jovens (ou seja, uns 180 anos atrás) e era uma certa unanimidade que Dédalo Diggle era ligeiramente mais maluco que Dumbledore. Eventualmente ele virava-se para Sirius e dizia:
- Quem eram esses com quem eu falei agora?
- Diana Prallon, a ministra da magia da França e seu marido Raphael Rimbaud - sussurava Sirius tentando evitar um incidente diplomático.
- Aaaah...
Sirius aproveitara a festa para tentar juntar  Hope àquele que era considerado um dos melhores partidos do mundo bruxo britânico: Saul Bagman, filho do vice ministro Ludo Bagman. Era claro que ele sabia que a filha estava namorando Bernardo Fall, mas Sirius detestava a idéia de ver sua filhinha com um cara que na sua opinião era chato, velho e feio demais para sua bonequinha, com o agravante de ter sido responsável por boa parte dos pontos ganhos pela Corvinal nas sete vitórias consecutivas da casa sobre a Grifinória. Vocês estão certos: no fundo era realmente algo pessoal.
Sheeba chegou e aproximou-se do marido e sussurrando:
- Hope viu a lista de mesas e disse que não pretende sentar-se numa mesa com três homens, Sirius
- Ótimo - sussurou Sirius de volta - tire o chato do Fall de perto dela e coloque a Arabella Figg... assim ela pode ter uma boa influência.
- Sirius! Você não pode tirar Hope de perto do próprio namorado!
Em resposta Sirius resmungou algo ininteligível. Sheeba sustentou o olhar e disse:
- Largue de ser machista. Você lembra como era nossa relação quando nós tínhamos dezenove anos? Ela tem o direito de namorar quem ela quiser...
- Ok, ok, tire então o filho do Stoneheart da mesa.
- Sirius... ele praticamente só conhece a Hope aqui!
- Coloque-o numa mesa com uma garota bem bonita então, pelo que ouvi dele, ele não vai se incomodar nem um pouco.
Sheeba virou-se com uma nuvenzinha preta sobre a cabeça e afastou-se na direção da mesa com as listas de convidados, achando o marido o pior dos machistas.

- Onde está o Abel, Willy? - Harry perguntou para a esposa pela décima vez
- Sei lá, Harry, ele deve estar por aí, com seus coleguinhas, por favor, não pague o mico de ficar andando atrás do nosso filho, ele já tem onze anos...ele iria odiar ter o pai nos calcanhares.
- Não é isso...
- É o que então?
- Nada, deixa para lá.
Na verdade, Harry teve vergonha de responder que sentia uma intuição de auror de que algo não ia bem por ali. Estranhemente aquela festa lembrava a ele a noite da peça de teatro quando Willy fora seqüestrada. Sacudiu a cabeça ao ver Abel passar correndo atrás de Henry e da  filha de Draco. A filha de Draco???? Era uma versão bem estranha do velho trio, para ele.

Hope esticou a cabeça para ver se enxergava Stone em algum lugar. Porque diabos o pai tinha tirado ele da mesa e deixado o mala do Bagman? Stone era seu amigo, e aquele cara era apenas mais um chato. Arabella Figg era divertida, mas estava num papo animadíssimo com Bernardo e ela acabara excluída, talvez porque ao contrário da bruxa idosa ela não levasse o mínimo jeito com computadores, internet e outras coisas de trouxas. Suspirou e Bagman disse:
- Um sicle por seus pensamentos! - Hope olhou-o de cara azeda, mas ele pareceu não captar a mensagem.
"O problema desse cara " pensou ela "é ser extremamente inconveniente e não perceber isso... " de fato: Saul Bagman era um rapaz bonito, até, super inteligente, independente,  rico, e tinha assumido alguns negócios altamente rentáveis sozinho, antes mesmo de concluir o curso em Hogwarts. Por isso mesmo, era muito cotado na bolsa de bruxos solteiros. Mas Hope o conhecera ainda na escola, que ele acabara dois anos antes dela, e o achava irremediavelmente chato. E a quedinha que ele parecia ter por ela  piorava consideravelmente sua grande má vontade com o rapaz.
O jantar transcorreu no mesmo clima chato, piorando eventualmente quando Saul usava expressões de auto afirmação que ela ODIAVA, como "é claro que eu sou  completamente independente do meu pai... tanto que não quis para mim a mesma trajetória que ele, ele é do quadribol, eu sou dos negócios" ou ainda quando se fazia de coitado, soando extremanete patético: "Ah, a solidão é um problema, não adianta ser rico e dizerem que eu sou bonito... uma garota para me impressionar precisa ser... diferente, não necessariamente bonita, você sabe..."
O que mais irritava Hope era que Bernardo parecia não tomar conhecimento das investidas de Saul, preferindo falar de bytes e downloads com a interessada senhora Figg, que tinha até um website, seja lá o que isso queria dizer... www.arabellaponto alguma coisa . Quando a orquestra começou a tocar... aliás orquestra não, seu pai se superara: trouxera não uma orquestra, mas uma coleção de fantasmas do rock de todas as idades. Tinha um cara de topete, um tal de Bill, um sujeito que parecia louco com uma guitarra chamado Jimmy, um que se não fosse fantasma seria bem sexy (como era o nome? Algo com Morrinson) e uma cantora com uma voz fantástica. O nome dela era Jeanne ou Janice, Hope não lembrava direito. Sirius queria trazer também um tal de Elvis, mas os outros se recusavam a tocar com alguém que não tinha morrido.  
A música a distraiu. A voz da fantasma era muito agradável, embora forte... ela cantava: "Baby... baby baby..." e Hope sentia saudades de algo que ela não sabia o que podia ser, porque estar ali com Bernardo parecia extremamente como estar só. E foi de repente que ela viu. Stone chegou à pista de dança, ele estava surpreendentemente arrumado! Tinha até um cravo na lapela. E não estava sozinho.
A menina que estava com ele era muito bonita. E os dois chegaram rindo, ele segurando a mão dela com intimidade. Começaram a dançar e não paravam de conversar. De vez em quando a garota ria com vontade e ele ficava quieto com cara de cínico. Hope, que o conhecia bem, podia jurar que ele havia feito alguma piadinha infame, daquelas que faziam-na prender o riso nas aulas da escola de aurors. Subitamente, sentiu vontade de dançar. Era isso que faltava a ela e Bernardo: interatividade, cumplicidade, claro. Eles ficavam pouco tempo juntos, e quando ficavam, normalmente tinham pouca coisa para discutir. Era hora de mudar aquilo.
- Vamos dançar, Bernardo? - ela falou, caprichando na sua melhor voz de menininha.
- Hope, você sabe que tenho dois pés esquerdos - disse Bernardo rindo ainda do último comentário engraçado da senhora Figg. Ele não percebera ainda  Gilles na pista de dança, tão entretido que estava na conversa com a velhinha.
- Eu posso dançar com você - disse Saul e Hope quase gritou "de jeito nenhum!!!", mas não quis parecer mal educada, e tentou dar uma mensagem sutil para Bernardo:
- Eu não creio que o Bernardo vá gostar...
- De forma nenhuma, Hope - disse o namorado - eu quero que você se divirta... dance um pouco com ele... depois eu posso até tentar...
Humilhada, e porque não dizer, irritada, Hope segurou de má vontade a mão que Saul estendeu. No caminho da pista de dança ele não perdeu a excelente oportunidade de ser inconveniente:
- Todos dizem que tenho pés grandes, mas vou me esforçar para não pisar nos seus.- Hope teve vontade de gritar por socorro, mas seguiu impávida, até a pista,  onde deixou que Saul pusesse a mão na sua cintura, por mais que achasse o contato físico com ele tão desejável quanto abraçar uma lacraia de 1,87m.
Ela tentou ficar absolutamente calada, quem sabe se a experiência fosse extremamente desagradável Bagman não desistisse de tentar se aproximar dela? Foi quando percebeu que Stone a vira, e olhava para ela de forma absolutamente divertida. Ele fez um gesto de cabeça como quem perguntava quem era o sujeito com quem ela dançava e ela fez uma quase careta. Ele observou mais atentamente e ela viu que ele perguntava sem som "Saul Bagman"? Ela confirmou com a cabeça e ele fez uma cara tão engraçada, como se Saul fosse uma punição medonha, que ela não resistiu e riu.
- O que houve? - perguntou Saul assustado com a gargalhada dela
- Nada... eu vi uma coisa engraçada... Stone prosseguia o diálogo mudo com ela, até que a garota que estava com ele percebeu e virou-se para encarar Hope. Sem dúvida ela a conhecia de algum lugar... a diversão acabou porque Stone voltou a dar atenção à menina, que Hope passou a encarar como alguém provavelmente insuportável. Depois de seis minutos de tortura, a música acabou e Hope achou que era hora de voltar para a mesa. Ia dizer algo para Saul quando ouviu uma voz atrás dela.
- Hora de trocar, Bagman... - Hope virou-se e viu Stone, e até ela admitiria: trocando as vestes normalmente surradas que ele usava na academia alemã por outras de gala dum verde tão escuro que quase chegava a ser preto e tendo penteado de fato os cabelos rebeldes, ele se tornava extremamente atraente.
Ela interpretou a alegria estúpida que sentiu como alívio por poder livrar-se de Saul que tentava protestar quando Stone argumentou:
- Você devia me agradecer... duvido que você tenha todos os dias a oportunidade de dançar com duas garotas  bonitas na mesma festa...
- E o seu par? - perguntou Saul desconfiado olhando para a ruiva que parecia um pouco chateada ao lado de Stone.
- Ah, eu disse a Isabella o quanto você é um cara bem sucedido e inteligente... ela ficou bastante interessada em te conhecer. Além do mais, a quem queremos enganar? Black está comprometida com aquele buldogue que está lá conversando com a velha Figg e eu sou o tipo que ninguém realmente leva a sério. Vocês dois são solteiros, quero ser o padrinho... - ele disse arrastando Hope para longe. Ela se  controlara para não rir até o momento em que ele chamara seu namorado de buldogue.  Agora sentia uma raiva sincera de Stone.
- Com que direito você se refere desta forma a Bernardo? - perguntou ela num tom bem irritado, assim que eles começaram a dançar.
- Não reclame... eu ia chamá-lo de lesma... como alguém deixa a namorada ir para a pista com o sujeito mais chato da Inglaterra?
- Ele não gosta de dançar... - Stone segurou-se para não dizer: "ele não gosta é de você!" mas sem entender porque, achou que aquilo não acrescentaria nada de bom à conversa.
- E quem era a ruiva?
- Isabella Delacour Weasley. Linda e desmiolada como uma bela boneca de porcelana... - Hope sentiu-se feliz vendo-o falar assim da menina. Nem mesmo ela saberia dizer de onde viera tão súbita antipatia.   Ainda assim, sentiu-se tentada a perguntar:
- E por acaso ela não é seu novo interesse romântico? Assim, uma paixão à primeira vista? - Stone deu uma gargalhada tão espalhafatosa que Hope chegou a sentir-se envergonhada.
- Black ... você sem dúvida é incapaz de diferenciar os sintomas de uma verdadeira paixão quando os vê... não me adimira que ainda ache que aquele... - ele parou vendo a expressão no rosto dela. E, vez de prosseguir na mesma linha perigosa, preferiu dar um passo atrás e largando uma das mãos dela, girá-la  360 graus rindo: - Eu vejo que para uma festa você sabe se fantasiar de mulher!!
- Assim como você sabe se fantasiar de gente... pelo menos hoje sua casaca não parece um pano de chão... adorei o cravo na lapela.- Stone riu novamente e foi só então que viu a expressão no rosto de Bernardo Fall, que da mesa o olhava como se fossse despedaçá-lo. Riu para o outro de modo provocador e disse - aposto como seu trouxa nem notou o quanto você está... apresentável.
- Ele elogiou meu cabelo...
- Nenhuma menção sobre o decote até o umbigo? Acho ele bem mais interessante... - ele disse com um sorriso malicioso brincando-lhe nos lábios, embora o decote de Hope bem comportado e nada tão espalhafatoso como ele sugerira, ela corou intensamente. Novamente Gilles girou-a sobre os calcanhares e dessa vez ele ficou sério. Talvez porque tivesse percebido que ele não ia gostar nada nada quando Bernardo, que nesse momento se levantava da mesa, chegasse à pista de dança.
- Posso dançar com minha namorada? - ele perguntou, enfatizando essa última palavra. Stone o encarou com um riso zombeteiro e disse:
- Claro... fique à vontade, Mr Fall, ela é toda sua... vou interpretar isso como um elogio... algo como "Ei, você é menos inofensivo que o mala do Bagman..." - dizendo isso, ele saiu deixando Hope dançando eufórica com Bernardo. Antes de sair da pista de dança, ignorando completamente a garota loura que empertigou-se achando que ele a tiraria para dançar, ele ainda olhou para trás, fixando a expressão embevecida de Hope para o sujeito que dançava com ela mudo, sem dizer nada. "Ele nem deve ser divertido..." - pensou, fingindo que não percebia estar morto de ciúmes dela.
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- Você viu Draco por aí? - perguntou Snape para Sue, que parecia extremamente deslocada ao lado dele e de Mary. A mulher o encarou e disse:
- Não, Sr Snape... eu não o vi... e acho que é melhor assim.
- Hum... completou Annie. Eu acho que você vai poder dizer isso pessoalmente. Ele está vindo na sua direção.
Sue virou-se bem a tempo de encarar Draco, que a olhava com uma expressão inexplicável no rosto. Ele estendeu a mão e disse:
- Boa noite, Sue...
Por um minuto, pairou sobre eles o incômodo silêncio típico dos ex-casais. Então ela retribuiu o cumprimento:
- Boa noite, Draco - ela apertou a mão que ele estendia, era o primeiro contato físico desde a separação, já havia quase dois anos. Ela surpreendeu-se porque ainda assim, isso a abalava. O silêncio voltou até que ele disse:
- Espero que você se divirta... viu as crianças?
- Elas parecem muito felizes... - ela sorriu e os dois se pegaram rindo do mesmo jeito um para o outro. Draco ficou sério e deu uma desculpa, para sair pela lateral do salão. Enquanto ele se afastava, Sue sentia-se pior que antes dele aparecer. Annie e Severo se entreolharam. Por mais que aqueles dois negassem... alguém devia fazer algo por eles.
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Do outro lado da festa, bem no meio do jardim, Abel com seus amigos juntava os fogos de artifício que lançariam do jardim exatamente à meia-noite. Ele e Henry seguravam rojões de chama azul, importados da China, enquanto zombavam de Kayla, que segurava ridículas bombinhas do Dr. Filibusteiro. Outros garotos e garotas estavam por ali, prontos para o foguetório. Abel não achava nada engraçado quando seu pai aparecia à porta com uma expressão preocupada no rosto.
"Saco! Será que ele não percebe que eu já estou bem grandinho para precisar de babá? Ele acha realmente que vou me queimar com fogos de chama fria?"
Ele não sabia porque nem mesmo seu pai poderia dizer porque sentia-se tão angustiado. Ele voltou para a roda onde estavam Hermione, Rony, Willy e alguns dos colegas do seu tempo de Hogwarts. Lino Jordan naquele momento falava da inesquecível vitória da Grifnória sobre a Sonserina no terceiro ano de Harry, que Jordam apelidara de "a batalha da Firebolt" mas Harry nem notava. Sentia uma característica tensão... ele achava que toda vez que sentia aquilo algo acontecia. Viu o livreiro de Hogsmeade passar para o jardim, andando apressado, mas na verdade nem notou de quem se tratava. Estava com o pensamento fixo naquilo que não sabia precisar o que seria.
- Você ainda a tem, Harry? - seu nome na voz de Lino Jordan o despertou por um segundo.
- Hã?
- A firebolt, você ainda a tem? - Harry piscou e voltando à Terra disse:
- Ah, claro... se bem que Abel a chama de piaçava despenteada... - os outros gargalharam e Harry se esforçou para voltar à conversa.

Abel olhava para o rojão na sua mão quando um movimento num canto escuro chamou sua atenção. Ele olhou para a direção em que notara o movimento, e automaticamente, seus pés enrijeceram dentro dos sapatos,  e ele mesmo sentiu-se arrepiar. Um par de olhos dourados o encarava de dentro de uma sombra, imóvel. Ele chegou a abrir a boca, mas sem saber porque, não conseguiu falar nada. Poucas vezes depois dos oito anos, o filho de Harry realmente sentira medo de algo concreto. Talvez apenas quando Hagrid o levara para ver os dragões que Carlinhos trouxera de passagem por Hogwarts, a caminho de uma exposição, ou quando seu pai lhe falara sobre os dementadores... mas aquilo era diferente. Não era medo de algo que ele sabia que era grande, aterrador, medonho ou mau. Era medo de algo que ele nunca vira. Repentinamente sentiu que o ser na sombra sorria, mas ele continuava imóvel, petrificado.
Sua respiração deu um salto quando a criatura abandonou a sombra onde se escondia e, rápida e elástica, passou por ele, como uma jorro de fogo frio e escuro, locomovendo-se sempre através dos pontos escuros. Só ele percebeu antes de todos que a figura materializava-se no meio do salão iluminado, bem atrás  do Ministro da Magia, que conversava com outros três bruxos de importância internacional. Foi só então que Abel sentiu sua garganta destravar:
- PAI! - O menino gritou e Harry, ainda em estado de alerta olhou para ele,  vendo que ele apontava algo além, no centro do salão. Harry correu por entre os convidados, já tirando a varinha de dentro da roupa, pensando em como enfrentar a criatura de sombra quando ela agarrou Percy Weasley pela garganta, e numa voz firme e decidida disse:
- Pare, bruxo! Eu vim em paz e só quero negociar. Não me ataque, e deixo seu ministro em paz. Dê mais um passo, e eu o mato instantaneamente: Sou Vega Sherran, antiga princesa do povo sombra, antiga guardiã da velha fronteira. Tenho poder para fazer o coração dele parar de bater apenas com a minha vontade... e não tente me fazer provar isto... - Harry ergueu os braços e jogou fora a varinha. A festa congelou-se em volta dos três. Os olhos dourados da mulher sombra cintilaram perigosamente e Harry apenas perguntou, já imaginando uma estratégia alternativa:
- O que você quer, mulher-sombra?
- Apenas me escute... tenho certeza que chegaremos a um acordo.
O salão pareceu ficar ainda mais silencioso, e Vega Sherran começou a falar.

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