Novo lar



Josh sentiu uma corrente elétrica atravessar o seu cérebro, e lhe provocar a sensação de um derrame com aneurisma, tamanho o seu choque. Seria possível? A garota estava supostamente morta...


-Hum...então...a Sônia ou o Viktor está aí? Eu posso ficar aqui então? – Selena comenta, e sem esperar convite, adentra o hall. – Se importa se eu deixar meus sapatos aqui? Eles estão me causando calos. – E se senta no chão, e começa a descalçar os tênis enlameados. Josh sacode a cabeça pra se livrar do atordoamento. Escuta-se passos no corredor.


-Josh, porque você está demorando...-Sônia interrompe o que estava dizendo. -...Tanto...Ai meu Deus.


-É, eu sei. – Josh responde. Sônia se abaixa, de forma a ficar no mesmo nível que a garota.


-Você é a Selena, não é? A filha da Sophia Saggioro?- Ela pergunta.


-Bom...A não ser que você conheça outra Sophia Saggioro que faça um fetuccine com molho de champignon horrível...- Selena termina de tirar os tênis e as meias, revelando pés muito machucados e cheios de bolhas – muitas delas já estouradas, deixando seus pés em carne viva. – Ela me pediu pra vir procurar a Sônia ou o Viktor Corvinus. Esse cara – ela aponta para Josh – deu algum nó na cabeça, eu acho, e não me responde nada. Você pode me dizer se eles moram aqui?


-Eu sou a Sônia.


O rosto da menina passa de cansado a irradiando felicidade.


-Você é a Sônia? Que bom, que bom, que bom. Isso significa que o Viktor também mora aqui, não é? – E sem esperar resposta, continua. – Isso significa que eu não vou precisar andar mais. Meus pés estão me matando. E meu estômago também. – A garota parece encabulada. – Eh...Já que eu vou ficar algum tempo por aqui mesmo...Teria como eu comer alguma coisa? A última coisa que eu comi foi o fetuccine nojento da mamãe há 4 dias atrás...


 


 


Meia hora depois, Selena encarapitada num dos sofás na sala de estar, devorando com animação uma grande tigela de sopa de letrinhas acompanhada de um copo grande de suco de laranja, sendo observada por Josh e Sônia.


-Não deveríamos leva-la para a enfermaria? – Josh pergunta em voz baixa, olhando para os pés machucados da garota.


-Não. As enfermarias ficam muito próximas das salas do conselho. E você mesmo comentou, os feitiços de blindagem não estão mais funcionando. E ela ainda é humana. Eu não vou arriscar apresentações como a da Amelie, é perigoso. – Sônia responde no mesmo tom. – Selena, eu sei que você deve estar cansada, mas eu tenho algumas perguntas para lhe fazer. Porque os seus pais lhe enviaram aqui? – Ela pergunta pra menina em tom normal.


Selena desvia os olhos da sopa de letrinhas, a boca cheia de macarrão. Ela dá uma grande engolida e responde:


-Mataram meus pais. Eu não sei quem foi, porque foi, mas deixaram ...fizeram uma coisa nojenta. Nojenta. – A menina faz uma careta, em profundo desgosto. - Minha mãe me trancou no armário, e me mandou pegar um envelopão grandão cheio de coisas que tinha no quarto dela. E ela e meu pai deixaram alguns mapas, umas passagens, e uma carta-testamento com o endereço daqui. Eu acho – Ela volta a sua atenção para a mochila suja , que ela largou na entrada da sala – que não deve ter molhado. Eu enrolei em uns dois sacos antes de sair do último trem. – E volta a comer avidamente.


Sônia apanha a mochila, e volta a se sentar junto de Josh, deixando um rastro de lama da porta até o meio do tapete.


-Você vai limpar isso, não vai? – Josh olha para o tapete.- Marcus disse...


-Sim, eu sei o que ele e meu pai disseram sobre a droga do tapete. – Sônia responde, revirando a mochila da menina, até encontrar o envelope.


Ela despeja o conteúdo do envelope no sofá e encontram uma profusão de objetos: documentos, passaporte, autorizações de viagens, comprovantes de vistos para menores, chaves de cofres e ordens de saque para qualquer banco Gringotes, diversos maços de notas de diferentes países, vários mapas, um caderno com vários endereços e uma carta grampeada ao caderno; e uma varinha. Sônia desdobra a carta e a lê:


 


 


Ao receptor,


Se estiver lendo isso, significa que estamos mortos. Desde o acidente com os Keller, e a bomba incendiária na casa dos Adlon, tomamos as providências necessárias para a sobrevivência de nossa filha, Selena Saggioro, procurar nossos familiares mais próximos, discretamente.


Selena está instruída, por informações anteriores, a se dirigir para a Mansão Corvinus, situada em Evelyn’s Place, a 110 km da Escola de Hogwarts. Ao receptor, favor encaminhá-la para Sônia Corvinus ou Viktor Corvinus.


Caso o endereço atual não seja seguro, por favor, embarque-a no avião para o próximo endereço, Mansão Volturi em Volterra, Itália, procurar Aro Volturi ou Jane Volturi. No caso de algo errado, embarque-a  para o primeiro voo para Nova Iorque, EUA, e encaminhe-a para Butch O’Neal na Divisão de Homicídios da Polícia de Nova Iorque.Em última instância, somente se todos os endereços estiverem comprometidos,  encaminhe-a para Lorenzo McKarr. Píer 13, Porto de Marselha, França.


Selena possui uma vaga reservada na Academia Beauxbatons e outra na Escola de Hogwarts. Não mande-a para Durmstrang. Suspeitamos que as pessoas ou coisas a qual nos fizeram isso esteja próximo aos arredores do instituto, ou nas fronteiras ao norte. Selena tem as chaves dos nossos cofres principais, onde você encontrará nossos testamentos, suprimentos financeiros trouxas, documentos e passaportes de vários países, a documentação escolar dela; além de quantidades razoáveis de galeões, que eu espero que sejam suficientes até a sua maioridade. Quanto a permanência dela em sua residência, proceda como desejar. Mude o sobrenome dela, se julgar ser mais seguro dessa maneira. Treine-a em armamento e defesa pesada – ela tem, ao momento, noções básicas de defesa mágica que proporcionará um pouco de segurança as suas viagens. Transforme-a, se for necessário, e se ela não for alérgica. Mas mantenha nossa filha a salvo. Não morremos para que depois ela seja atirada aos leões.


 


Sophia e Giovanni Saggioro.


 


- Uau. Isso explica muita coisa.- Sônia comenta, depois de reler a carta. - Selena, você conhece alguma dessas pessoas?


- Não. – Selena responde, com a boca cheia. – Minha mãe, há muito tempo atrás, quando fez o testamento, disse que eles eram “da família”. Todos vocês. Ela disse que eram lugares em que eu ficaria segura, se algo acontecesse a ela e meu pai. – E voltou a sua atenção para os restos do seu jantar.


-Sônia. Os pais dela, - Josh comenta, relendo a carta – eles autorizaram transformações.


-Sim, eu li isso. – Sônia responde em voz baixa, de forma que Selena não os escute. – Mas como vamos fazer isso? Ela pode ser alérgica. E eu não quero mais episódios iguais aos da Amelie.


-Mas não é prudente deixa-la desse jeito. A Amelie, nós sabemos o caso dela, mesmo que seja difícil, é extremamente necessário. Mas no momento, ela é mais outra humana numa casa cheia de...


-E como vamos testar qualquer coisa? –Sônia pergunta.- Metade dos equipamentos do laboratório foram destruídos na última reunião.


-Por falar nisso, nós temos que leva-la por quarto das meninas, enquanto ninguém sabe que ela está aqui. –Josh comenta.- E eu conheço alguém que pode nos ajudar.


-Ele não mexe com atividades envolvendo comercialização de substâncias ilegais, mexe?


-Não. Ele é desfazedor de feitiços no Gringotes.


-Hum, interessante. – Sônia percebe que Selena está enrolada em posição fetal no sofá, com o copo de suco meio cheio balançando perigosamente numa das mãos. – Hora de dormir pra você, não?


- Tudo bem. – A garota boceja sonoramente.


- Josh, tem como você marcar com esse seu amigo pra amanhã de manhã? Eu não quero correr riscos. – Josh faz uma careta. – Ah, vá te catar, você mesmo disse que era melhor a gente resolver logo isso.


- Tá.- Josh responde. – O problema é que ele não vai gostar de ser acordado. Leve ela pro quarto das garotas, eu vou ligar pra ele agora.


-Você aguenta andar assim, menina, ou prefere que eu te carregue? – Sônia pergunta apanhando a mochila da garota. – O quarto em que você vai ficar é no quinto andar.


-Você pode me carregar? Mesmo com a mochila?


-Claro que sim. Segure no meu pescoço.- Selena enrolou os braços firmemente no pescoço, enquanto Sônia a erguia com o outro braço.


-Depois que você tomar um banho, eu posso dar um jeito nos seus pés, pelo menos pra você aguentar até amanhã de noite. –Sônia comenta, enquanto vai subindo as escadas, próximo ao hall de entrada. – Eu poderia resolver agora de noite mesmo, mas não é seguro.


-Por que não é seguro? – A menina pergunta.


-Por que...O que sua mãe lhe explicou mais sobre a família?


- Mais nada, na realidade. –Selena admite. – Ela só disse que eram da família. Ela disse que eu estaria segura aqui.


-Bom. Sim, de certa forma nós somos da sua família sim. E vice-versa. Mas aqui moram pessoas perigosas também. –Sônia explica. – Não é algo proposital. Simplesmente é da nossa natureza. Mas em algumas circunstâncias...bom...não é seguro.


-Você é perigosa? – Selena pergunta.


-Só quando eu quero. – Sônia responde. Selena desvia o olhar do rosto da mulher e olha para o corredor, e o andar de baixo.


-Nossa, que casa grande. – Selena comenta, quando subiam a segunda escada.


-Temos ao todo seis andares, fora a garagem, a floresta, as minas e as salas subterrâneas.


- Nossa. –Selena comenta maravilhada. – As outras casas que meus pais colocaram na carta. Elas são grandes assim também?


-Provavelmente, querida, eu não sei.- Sônia responde. – Só tem uma residência das qual eu conheço. A outra, eu só falei com eles por telefone, são parentes muito distantes. E a última, eu nem sabia da existência. Deve ser alguém que seus pais conheciam intimamente.


-Sônia, quantas pessoas moram aqui?


- Uma média de 70 a 80 pessoas, e mais duas crianças. Provavelmente, sua mãe não lhe explicou isso, mas você tem uma família muito grande.


-Sônia. Você disse que tem crianças aqui? – Selena pergunta, enquanto subiam a terceira escada.


-Ah, sim, mais duas meninas. Eu acho que elas seriam como suas primas de 3º ou 4º grau, eu não tenho certeza.


-Elas são perigosas também?


-Não. Quero dizer – elas tem capacidade, mas...


- Sônia. – Selena pergunta, enquanto viravam um corredor.- Alguém aqui pode me matar? Ou ter matado meus pais?


Sônia para no meio do caminho.


-O que lhe faz dizer isso, criança?


- Eu não sei. Você disse que aqui mora pessoas perigosas.  E bom...- A menina fica com os olhos cheios d’água. – Você não viu como meus pais estavam. Foi horrível. Horrível. Eu não sei quem fez aquilo...aquela coisa...mas eu não quero saber que eu atravessei vários países sozinha por nada.


-Ei. Nunca mais diga uma coisa dessa, o.k? Você está segura aqui. – Sônia responde, enxugando as lágrimas da garota. – Somos perigosos porque...porque somos o que somos. Mas isso nos dá vantagens. Somos perigosos, mas sabemos lutar. Sabemos nos defender, proteger aos outros. E você também vai aprender isso. – Sônia retoma a caminhada, e começa a subir a quarta escada.- Vai aprender a lutar, vai aprender a se defender. A sobreviver. E você vai ter à nós, pra lhe ajudar sempre. Nós somos sua família agora. E nós precisamos ficar juntos, ficar unidos, ser leais e ajudar uns aos outros. Caso contrário, como sempre diz meu pai, não somos melhores que as bestas lá fora.


-Tá, tá certo, ok. – Selena responde, coçando os olhos com os nós dos dedos. – Só não pensei que seria tudo tão...


-...Confuso? – Sônia pergunta. – Não se preocupe. Agora é muito tarde pra você falar com elas, devem estar dormindo, mas amanhã você pode conversar com as garotas. Você está lidando com tudo até bem demais. Uma delas entrou em coma por duas semanas, e quando acordou, saiu destruindo tudo na enfermaria. Tudo. Parecia que ela estava possuída.


-Sônia, estamos chegando no quarto?


-Não, ainda falta mais um andar.


-Vocês já pensaram em construir um elevador? – Selena pergunta, enquanto iam subindo a quinta escada.


-Na realidade, nós temos um elevador. Mas, como eu lhe digo isso...Além de perigosos...temos pessoas que tem sérios problemas com o humor. Uma delas explodiu o elevador ao atirar com uma bazuca em outra pessoa.


-É por isso que estamos subindo esse monte de escadas? Pra evitar gente estressada?


-Basicamente. – Sônia responde, enquanto ia virando o corredor. – O meu quarto é do outro lado do corredor. E lembra do Josh?


- O cara que deu um nó na cabeça?


-Esse mesmo.- Sônia responde, rindo, parando a uma porta de mogno lustroso.- O quarto dele fica a duas portas à esquerda. – Ela aponta para uma porta dupla de madeira castanho-claro. – O seu quarto é esse aqui. – ela abre a porta de mogno e entra.


O local estava escuro, a não ser pela fraca luz noturna, que vinha de uma porta ao lado. Pela baixa luminosidade, percebia-se os contornos de duas escrivaninhas, duas camas, duas mesinhas de cabeceira, uma estante com livros perto de uma outra porta fechada e cortinas imensas, que escondiam o que parecia ser uma enorme janela.


- Acho que teremos que remodelar esse quarto. – Sônia comenta, enquanto caminhava sem fazer barulho, sua fala contrastando com a respiração lenta, pesada e ritmada que enchia o quarto, indicando que seus atuais ocupantes estavam dormindo. -O banheiro é onde está essa luzinha acesa. O closet é essa porta fechada ao lado. Consegue enxergar daqui?


-Consigo.


-Ok. Venha, você vai ficar com a Amelie. – Sônia se dirige a cama mais próxima a janela. – Me diga uma coisa, você trouxe roupas?


-Eu trouxe. Deve estar uma bagunça, só joguei tudo numa mala. –Selena responde, reprimindo um bocejo.- Eu encolhi a mala antes de sair de casa. Ia dar muito trabalho carrega-la por ai. Deve estar num bolso da mochila.


-Ok. – Sônia se senta na cama e começa a bater num grande monte de cobertas na cama.- Amelie? Amelie, querida, acorde. – O monte de cobertas começou a se mexer.- Tem alguém que você precisa conhecer.


Alguma coisa rosa e peluda saiu do monte de cobertas – uma cabeça com um gorrinho cor-de-rosa. O rosto pertencente a cabeça era arredondado, com um nariz pequeno e olhos sonolentos.


-Hum?


-Amelie, essa é a Selena. – Ela aponta para Selena. – Ela é sua...prima eu acho. Assim como a Kyka. Ela vai dormir na cama debaixo, ok? Tome cuidado para você não pisar a cabeça dela quando levantar amanhã.


-Hum. Ok. Mas Sônia, - a criança com o gorrinho cor-de-rosa começa a se sentar, coçando os olhos com as mãos. Caramba, como ela é pequenininha, pensou Selena. – minha cama está meio ruim de arrastar. Não seria melhor ela ficar na cama da Kyka?


-Não. Você sabe como a Kyka acorda de manhã cedo. E me faça um favor, - Sônia responde.- Não saiam do quarto amanhã de manhã. O resto do pessoal não sabe que ela está aqui.


- Tudo bem, então. – a garota, Amelie, se levanta do monte de cobertas. Caramba, ela é menor ainda do que eu pensei, pensou Selena. -Eu vou pegar uns lençóis, um travesseiro e uma colcha pra ela. O nariz da Kyka anda sangrando, o aquecedor retira a umidade todinha do quarto e ela desligou hoje.  – E adentra no closet.


- Acho melhor você tomar um banho antes de dormir, e aí eu posso passar alguma coisa nos seus pés, e enfaixa-los. – Sônia começa a revirar a mochila da garota, até que tira uma maletinha minúscula, quase do tamanho da sua mão. – Uau. Excelente feitiço redutor. Você mesma o fez?


-Sim. Eu tive que lançar umas quatro vezes pra ficar desse tamanho. Eu não sou muito boa ainda com feitiços.- Selena responde.- Sônia, você pode pegar minha escova de dente? Deve estar por aí por dentro.


Sônia revira a mochila por uns momentos, depois tira uma escova cor de rosa com o cabo em formato de gatinho.


-Tem um armário abaixo da pia, onde tem toalhas extras. E você pode colocar a sua roupa suja no cestão roxo que tem perto.


-Tudo bem. – Selena vai andando pro banheiro, mancando. – Sônia. Tem mais uma coisa que eu não contei. Tinha uma coisa pichada dentro de casa. Uma caveira verde neón, com uma língua de cobra. Eu...deveria estar mais preocupada com isso?...


...


-Sônia?


- Não se preocupe com isso agora, Selena. Isso não é algo para se preocupar no momento. Não se estresse com isso, então vá tomar seu banho, pr’eu poder enfaixar seus pés.


Amelie sai do closet na hora que a porta do banheiro bate, carregando um enorme monte de lençóis que lhe escondiam completamente, jogando tudo na sua cama.


- Quase não conseguia carregar tudo direito.- Ela responde, arfando levemente. – É um saco ser pequena, tudo fica praticamente me engolindo porque é do meu tamanho. Sônia, eu escutei direito, ou na casa dessa menina tinha a M...


- Cala a boca, Amelie, não diz isso não a essa hora da noite.- Sônia se levanta. – Me ajude a arrastar a cama.


-Mas Sônia, se ela viu aquilo, então quer dizer que o V...


-Amelie: Eu já disse pra esquecer isso.- Sônia responde, tentando puxar a cama inferior. – Não é nada...ou pelo menos eu espero que não seja nada.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.