Torturar, Ensinar, Beijar...



Se ele conhecesse a dimensão do seu poder, jamais teria aceitado a minha proposta, jamais se teria submetido à minha chantagem.


Com o tempo, aprendi a relembrar-me que ele ainda era Tom Riddle…desconhecia o poder que exercia sobre as pessoas, como as sabia manipular e cativar, como as sabia derrotar quando a ele se opunham…porque se ele já fosse Lord Voldemort em pleno, nunca se teria preocupado com o que eu dizia aos seus seguidores, ele saberia sempre convencê-los do contrário ou obriga-los a segui-lo mesmo contra a sua vontade.


No dia 7, ele deu-me um espelho e disse para eu vir ter com ele sempre que quisesse, desde que viesse duas vezes por semana (e eu vinha mais, muito mais, não havia dia que não fosse, quase) e sempre que chegasse à época dele o chamasse pelo espelho, ele teria outro e conseguiamos ver-nos e falar, ele viría, imediatamente, ter comigo. Usávamos a Sala das Necessidades e sim fui que eu que lhe revelei esse segredo do castelo…porque pensava que ele já o conhecia…o que não era verdade. Ficou surpreso e satisfeito com a minha proposta. Mais tarde, os espelhos que ele criou foram parar às mãos de Sirius Black e de James Potter…


Uns meses depois…Ele olhava-me com um meio-sorriso enigmático e o olhar carregado de astúcia. A varinha erguida na minha direcção.


- Legilimens. – Sibilou.


E eu sentia-o de novo na minha mente, passeando-se por entre os meus pensamentos e memórias, por entre as minhas emoções e sentimentos. Percebia o que Harry tinha sofrido com Snape no ano anterior. Era a privacidade exposta, invadida, toda a impotência do mundo sentida, era perdermos quem somos, separarmo-nos do que acreditamos …e ele era Lord Voldemort, procurando magoar-me, procurando dominar-me. E eu resistia com todas as minhas forças, lutava para a ele me igualar. Eu tinha de proteger as memórias do “futuro” que podiam comprometer o que ele sabia. Refugiava parte de mim em locais que ele não podia alcançar, mas uma outra parte desejava sempre lutar... “Quando fechares a tua mente, serás indiferente ao mundo que te rodeia…” era o que murmurava aos meus ouvidos, quase com carinho, enquanto se esforçava por destruir a minha mente.


Harry a espetar a sua varinha no nariz de um troll, enquanto eu gritava de medo e pânico. A minha mãe a dar-me um abraço, quando eu devia ter uns quatro anos. Sirius Black a voar no dorso de Buckbeak. Viktor Krum ajoelhado com uma rosa estendida na minha direcção. Foquei-me nesta última quando ganhei controlo e agitei a varinha sem mover os lábios. Desconcentrei-o por um leve segundo…


E o cenário mudou o chapéu seleccionador foi colocado sobre os canudos negros de um muito novo Tom Riddle e gritou Slytherin sem hesitar. Eu senti o orgulho dele, senti o seu prazer, o seu regozijo.


 Abrimos os olhos e fitámo-nos mutuamente, ele estava sempre próximo de mim quando me invadia, para me amparar quando eu caía, o que acontecera muito ao início e para me dar força quando tudo parecia perdido. Ele era o bem e o mal no mesmo instante, o inimigo e o aliado. “Estás a ficar boa nisto, Hermione” sussurrava com a voz rouca, graças à concentração que o combate mental exigia. E beijava-me. Beijava-me sempre e, tal como no segundo beijo, eu correspondia e lutávamos pelo controlo. Passávamos a vida a lutar, nenhum de nós submetia ao outro…


Desejávamos ambos dominar. Havia fogo entre nós. Uma incrível adrenalina quando as nossas línguas se juntavam e um toque das suas mãos geladas no meu corpo era pura electricidade.


Não sei quando foi que ele me transmitiu mais de si, se por entre beijos e abraços, se por entre as memórias que eu ia descobrindo, enquanto passeava pela sua mente. Mas eu comecei a compreende-lo. Harry perceberia parte dele, graças às memórias que Dumbledore lhe mostrava, mas nunca o compreenderia como eu, nunca viria a pessoa nele, mas apenas o ódio desumano que ali residia…se o percebesse jamais teria cometido o erro de achar que ele tinha prazer na matança…enquanto ele era apenas indiferente a esta…uma indiferença que me tentava ensinar a possuir.


No início, tortura-me. Eu tinha de resistir, devia evitar gritar e chorar, mas o mais importante era não responder…ele fazia-me perguntas, se eu respondesse a dor cessaria, mas estaria a falhar na minha tarefa – resistir. Eu tinha de me abster da dor física, retirar-me para o meu interior e lutar para não me ir abaixo, não perder a esperança…e criar barreiras em torno de mim, proteger-me, isolar-me, tornar-me indiferente à dor. Ele sabia quando parar, nunca iria ficar no estado dos Longbottom.


Depois, ensinou-me poções mais cruéis que a própria morte. Havia plantas e fungos cujo nome por si só era uma maldição e eu aprendi a reconhecê-los, não só pela imagem, mas também pelo cheiro e pelo tacto, poderia preparar as poções às cegas se ele entendesse. Nessas alturas ele gostava de me morder as orelhas e desconcentrar-me... “Se queres matar, tens de saber matar de todas as formas.”. Por vezes, ordenava que tomasse as poções que preparava ou consumisse um dado ingrediente. A dor tanto era física como psicológica, dependendo da poção. À física, eu já estava mais habituada, mas a psicológica tanto me dava alucinações de dor, criavam ilusões de momentos negros que nunca tinha existido ou obrigavam-me a relembrar os meus piores momentos, como me faziam ver apenas infelicidade, quase como se um Dementor ali estivesse, outras que me faziam magoar-me a mim própria…e havia mais, muito mais…


Aprendi a resistir aos efeitos, incluindo ao da poção da verdade…eu poderia sempre não responder, consoante ele me ensinou ou então ser vaga.


Ele deixava-me sozinha, a chorar e a tremer, a arranhar as paredes. Observava-me impiedoso, não sorria nem mostrava prazer, apenas observava. Umas vezes, abraçou-me por trás e acarinhava, dizia para eu me lembrar de quem era…afagava os meus cabelos com um carinho dedicado. E eu sentia o seu coração bater nas minhas costas e algum conforto independentemente da tortura. Nessas alturas, eu soube que ele tinha medo de me perder…


“Quando isto acabar, a morte parecer-te-á uma benevolência que podes dar a alguém em função daquilo que poderias fazer-lhe.”. E era verdade.


Toda a dor e tortura serviam para eu aprender a ser imune à dor. Assim, a dor de matar alguém não me poderia afectar. Eu aprendia a refugiar-me tanto no interior de mim própria que acabava por me tornar indiferente ao mundo. E quando eu conseguisse ser indiferente, eu conseguiria matar.


Eu sabia as palavras da morte e ele sabia que eu sabia. Nunca precisou de me ensinar isso…mas aprendi outros feitiços, aprendi a sugar o sangue com palavras, a criar ilusões de morte e dor, a convocar o medo e ódio, melhorei o meu cruciatus enquanto resistia ao dele e o mesmo para o Imperius. Magia antiga que não era ensinada em Hogwarts, magia das trevas que jamais sonhei aprender. Dominei o fogo e as suas chamas, a terra e as suas raízes, o ar e os seus ventos, a água e as suas gotas transparentes, controlava os elementos, controlava o ambiente em meu redor, criava um cenário propício à batalha, controlava os meus inimigos.


E eu tornava-me mais forte cada aula, cada momento. Sei que me tornava e Tom também o sabia.


Os únicos que pareciam mesmo não reparar eram Harry e Ron. O primeiro perdido entre Ginny e as aulas de Dumbledore, convencido que tinha de salvar o mundo e tinha de facto, não sejamos injustos. O segundo demasiado preocupado com o Quidditch, quase mais que o próprio capitão, mas Ron era mesmo assim e com Lavender, agora parecia querer livrar-se dela.


O único facto estranho entre mim e Tom era ele não ter recuado, quando descobrira que eu era filha de muggles…talvez porque ele mesmo também fosse meio sangue…


Eu odiava e amava no mesmo instante os meus beijos e os meus momentos com Tom Riddle. Em que me estava eu a tornar? Uma assassina? Era isso que eu desejava?


No final de cada aula, fosse o que fosse que fizéssemos, beijávamo-nos. Surgiu uma cama no meio da sala…rebolámos em cima dela ainda vestidos para ver quem conseguia ficar por cima, mas isso mudava a cada momento, era uma luta sobre a qual não falávamos, mas que ambos adorávamos, revelava o pior de mim e o melhor dele, como era possível isso não gerar um perfeito equilíbrio? Eu sentia o choque dos corpos por debaixo da roupa, as suas mãos a tocarem os meus seios e as minhas nádegas. Em três meses, o mais longe era eu ter acabado sem camisa. Eu gostava daquilo que nós tínhamos, sentia-me tão suja, nojenta e traidora com aquando o nosso primeiro beijo, mas o prazer aumentava…ele era bom…e eu esforçava-me para me igualar e creio que o fazia.


- Tom, porque é que me beijas? – Três meses tinham passado, eu sabia que em parte era para me manipular, mas ele tinha acesso à minha mente e modos mais eficazes de o fazer…não podia e não era essa a razão. E eu não conseguia desvendar qual era.


- Porque eu gosto de ti. – Eu mal acreditei nos meus ouvidos, mas via sinceridade em todo o seu rosto e acreditem que eu aprendera a ler aquele rosto frio e gelado, a decifrar o brilho nos seus olhos…aprendera a conhecê-lo. – Porque tu és um fogo que eu nunca tinha experimentado. Os meus amigos obedecem-me e concordam comigo, as raparigas babam-se e submetem-se aos meus desejos, tu lutas e resistes-me ao mesmo tempo que cedes inevitavelmente… mas porque tu também queres. És um enigma que quero desvendar, mas não sou capaz. És inteligente, corajosa e sexy…e admiro a tua coragem, sempre que te torturo e vejo-te sofrer indefinidamente sem nunca ceder percebo isso. Existe uma força dentro de ti, uma motivação que eu não compreendo, és um espirito livre que eu nunca conseguiria dominar completamente…e isso atrai-me, porque o facto de saber que não te consigo ter, faz com que te deseje. E apesar de me quereres matar, não posso deixar de te adorar.


Por um momento, pestanejei…depois sorri e beijei-o. Pela primeira vez fui eu a começar o beijo e não apenas a lutar depois da batalha iniciada. Juntei os nossos lábios num carinho quase romântico…e então juntei as nossas línguas e originei a paixão, aquele fogo que não é amor, não é carinho, não é romance…é paixão…luxúria no seu estado primitivo. Ele não me amava…era apenas atracção e isso era, simultaneamente, alívio e desilusão. Eu não o amava, também, mas não gostaria que ele me amasse? Que o Senhor das Travas sentisse amor?


- Quem diria que tu sabias ser querido, Tom. – Eu disse-lhe quando o beijo parou.


- Não foi querido. Foi o que foi, foi a verdade. – O tom começou por ser sério e sincero…- Porque é que me chamas Tom? – depois tornou-se completamente brincalhão.


- Porque é o teu nome se calhar? – Ele não era o único que sabia ser sarcástico.


- É o nome do pai que me abandonou. – Ele não pareceu feliz por o dizer, mas, também, não estava triste. Já há muito que tinha aceitado a realidade.


- E como é que querias que te chamasse? – Eu parei com o sarcasmo.


- Voldemort?


- Nem penses. – Afirmei sem hesitar.


- Marvolo?


- Não gosto.


- Estou aberto a sugestões…


- Se tivesses de escolher um nome “normal” – só para excluir Voldemort – como é que te chamarias?


- Não digo…


- Que mal tem?


- Irias achar um nome ridículo…


- Não ia nada.


- Não interessa. Não digo.


E eu fiz-lhe cócegas. Sabia exactamente o ponto fraco dele, mesmo entre as costelas e os seus abdominais bem definidos, ali e só ali ele tinha cócegas. Mordi-lhe a orelha com carinho, antes de sussurrar ao seu ouvido.


- Se não dizes, eu não paro.


Ele ria-se perdidamente. Era quase impossível imaginar que o mais negro dos feiticeiros seria tão sensível a cócegas. A sua gargalhada harmoniosa ecoava na sala e os canudos negros estavam despenteados de tanto de se mexer e, também, pelos meus dedos terem andado por lá, enquanto os nossos lábios se tocavam. Parecia que toda a austeridade era uma máscara a toda a vivacidade que eu tinha ali exposta à minha frente.


- Eu digo. Pára, que eu digo. – Disse ele quase sem conseguir respirar.


Eu beijei-o no pescoço e continuei a fazer-lhe cócegas.


- Prometes.


Ele ria-se.


- Sim, prometo.


Então eu parei. Parecia que se ia vingar, num momento toda a seriedade estava de volta e eu sabia que aquele era o verdadeiro Voldemort, digno e imponente, igual a ele mesmo. Adorava comtempla-lo, apercebi-me, também. Mas não se vingou, olhou para mim e disse.


- Se eu pudesse escolher um nome seria…


Parou tão longamente, por entre tanta hesitação que eu me ouvi obrigada a dizer…


- Sim?


- Hugo Slytherin.


Fiquei espantada…eu esperava um nome todo slytherin daqueles imponentes e finos da alta sociedade, do estilo Draco, Lucius, Sirius, Rodolfus, Hyperion. Hugo era quase vulgar, mas ao mesmo tempo tinha algo de giro.


- Posso saber porquê?


- Hugo é o nome do melhor Chaser do mundo. Sempre adorei Quidditch. Gosto mais de Voldemort muito mais, é quem eu sou, mas é um nome que eu tenho orgulho de ter baptizado a mim próprio. Não gostaria de ter sido baptizado Voldemort logo de nascença, gostei de me tornar Voldemort. Hugo é o nome que eu gostaria que os meus pais me tivessem dado…se pudesse não ser Tom. Tem qualquer coisa de que eu gosto. Slytherin é alguém de quem eu tenho orgulho em ser herdeiro…por isso faria disso o meu apelido.


- Então posso passar a chamar-te Hugo?


Ele acenou afirmativamente.


- Só se quando me tratas pelo apelido também usares Slytherin.


Ele referia-se às “aulas”. Eu concordei.


- Então, para ti serei Slytherin e ensinar-te-ei a matar.
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A quem comentou, muito obrigada. Por favor, comentem também este capitulo porque eu gostava de saber a vossa opinião mesmo que seja negativa.
A todos os que lêem, por favor, digam qualquer coisa...comenteeeeem que eu gostava mesmo de saber se estão ou não a gostar.  

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Comentários (1)

  • Ana Cecilia

    Comecei a ler a fic agora e estou gostando bastante, parabéns pela criatividade

    2011-12-04
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